a arquitetura das casas-grandes remanescentes …livros01.livrosgratis.com.br/cp061212.pdf · são...
TRANSCRIPT
-
MARIA PAULA VAN BIENE
A ARQUITETURA DAS CASAS-GRANDES REMANESCENTES DOS ENGENHOS DE ACAR NO RIO DE JANEIRO SETECENTISTA
Dissertao de Mestrado em Histria e Teoria da Arte
Estudos da Histria e Crtica da Arte
Orientadora: Profa Dra Cybele Vidal Neto Fernandes
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Letras e Artes Escola de Belas Artes
Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais Rio de Janeiro
2007
-
Livros Grtis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grtis para download.
-
ii
BIENE, Maria Paula van.
A arquitetura das casas-grandes remanescentes dos engenhos de acar no Rio de Janeiro setecentista. Rio de Janeiro, UFRJ, EBA, 2007.
xx. 200 fs.
Dissertao: Mestre em Histria da Arte (Histria e Crtica da Arte)
1. Arquitetura 2. Contexto cultural 3. Casa-grande
4. Rio de Janeiro 5. Sculo XVIII
I. Universidade Federal do Rio de Janeiro
II. Ttulo
-
iii
MARIA PAULA VAN BIENE
A ARQUITETURA DAS CASAS-GRANDES REMANESCENTES DOS ENGENHOS DE ACAR NO RIO DE JANEIRO SETECENTISTA
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais/
Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em
Histria e Teoria da Arte.
_____________________________________________________
Profa Dra Cybele Vidal Neto Fernandes, Orientadora
Universidade Federal do Rio de Janeiro
_____________________________________________________
Profa Dra Snia Gomes Pereira
Universidade Federal do Rio de Janeiro
________________________________________________________
Profa Dra Denise Gonalves
Universidade Federal de Viosa
________________________________________________________
Profa Dra Ana Maria Tavares Cavalcanti
Universidade Federal do Rio de Janeiro
________________________________________________________
Profa Dra Lcia Maria S Antunes Costa
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro Maro de 2007
-
iv
Vendo aquelas casas, aquelas igrejas, de surpresa em surpresa, a gente como que se encontra, fica contente, feliz e se lembra de coisas esquecidas que a gente nunca soube, mas que estavam l dentro de ns.
Lcio Costa (1929)
-
v
A memria de Hlio Vianna,
cuja vida era o magistrio e que acreditava neste
trabalho.
-
vi
Agradecimentos
A Cybele Vidal Neto Fernandes, que me orientou nesta dissertao com especial ateno. A Snia Gomes Pereira, Denise Gonalves, Ana Maria Tavares Cavalcanti e Lcia Maria S Antunes Costa, pela participao na banca de defesa. Aos professores e professoras deste Curso de Ps-Graduao / Mestrado / EBA, que tanto contriburam para este trabalho e esta conquista. Aos colegas de turmas, e em especial a Tasa Soares de Carvalho, que disponibilizou sua monografia de graduao sobre a Casa de Fazenda da Taquara. Aos funcionrios do Arquivo Noronha Santos e da Biblioteca do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) s instituies e aos proprietrios e responsveis pelas casas, que me receberam nos trabalhos de levantamento. A todos os amigos e colegas do Museu Nacional, em especial a Carmen Solange Schieber Severo pelo apoio, e a Lia Ribeiro, pelo help no abstract. Ao meu ex-marido, Eduardo M. de Barros, pelo apoio, principalmente nas visitas s casas. minha famlia, por compreender as muitas horas e dias de ausncia, em que passei na frente do computador. minha av Ivette Bley Silveira, pelas doces palavras de confiana e incentivo. Aos meus queridos pais, Maria Elisabeth Silveira van Biene e Maurcio van Biene, pelo apoio e amor que sempre me deram e por me ensinarem a apreciar a arte e a arquitetura. Aos muitos colegas, amigos e familiares que no foram citados, mas que contriburam para a realizao deste trabalho.
-
vii
Resumo A arquitetura das casas-grandes remanescentes dos engenhos de
acar no Rio de Janeiro setecentista
O objetivo deste estudo realizar uma anlise da arquitetura das casas-
grandes, sedes dos antigos engenhos de acar do Rio de Janeiro
setecentista, identificando em seus contextos espaos-temporais, os
significados culturais constitutivos de suas caractersticas formais e
espaciais. Baseados na premissa de que uma arquitetura pode ser
entendida como uma criao histrica, em que pese o individuo como
sujeito e o tempo e o espao como elementos condicionantes,
entendemos que o significado e a importncia dessa arquitetura se
desvela na relao com o seu prprio contexto histrico-cultural e, para
tanto, adotamos uma leitura interdisciplinar, articulando os conceitos de
arquitetura e de cultura. A inexistncia de uma ampla e sistematizada
documentao, textual e iconogrfica, referente a essa arquitetura, fez da
possibilidade da anlise direta das casas a mais importante fonte de
pesquisa e informao. Portanto, escolhemos como objetos de estudo, as
casas da Fazenda do Viegas, em Senador Camara; da Fazenda do
Engenho Dgua, em Jacarepagu; da Fazenda da Taquara, tambm em
Jacarepagu; da Fazenda do Capo do Bispo, em Del Castilho e da
Fazenda de Coluband, no Municpio de So Gonalo, RJ. Essas casas
so exemplares remanescentes da arquitetura rural do sculo XVIII,
sedes dos antigos engenhos de acar na regio, tombadas pelo Instituto
do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) e que ainda
preservam muitas de suas caractersticas originais.
Palavras-chaves: Arquitetura residencial Contexto cultural Casa-
grande Rio de Janeiro Sculo XVIII
-
viii
Abstract
The architecture of the great-houses remaining from the sugar culture in Rio de Janeiro of the XVIII century.
The objective of this study is to analyse the architecture of the great-
houses, headquarters of the old sugar farms of the XVIII century Rio de
Janeiro, identifying, in its space-time contexts, the cultural meanings that
constitute its formal and space characteristics. Based on the premise that
an architecture can be understood as a historical creation, where the
individual acts as subject, and the time and the space as condictioning
elements, we understand that the meaning and the importance of this
architecture is revealed in the relation with its own historical-cultural
context; in order to do so, we adopt an interdisciplinar approach,
articulating the concepts of culture and architecture.
The nonexistence of a huge and systematized documentation, both literal
and iconographic, referring to this architecture, turned the possibility of
direct analysis of the houses into the most important source of research
and information. Therefore, we choose as objects of study the houses of
the following farms: Fazenda do Viegas, in Senador Camara; Fazenda do
Engenho Dgua, in Jacarepagu; Fazenda da Taquara, in Jacarepagu
too; Fazenda do Capo do Bispo, in Del Castilho, and Fazenda de
Coluband, in So Gonalo, State of Rio de Janeiro. These houses are
remainders of the country architecture of XVIII century, headquarters of
the old farms of sugar culture in the region, tumbled by the Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) and that still preserve
many of its original characteristics.
Keywords: Residential architecture - cultural context great-house - Rio de Janeiro XVIII Century.
-
ix
Lista de ilustraes
Captulo 2 2.1 As casas escolhidas: composio formal Il.01. Fazenda So Bento, fachada lateral FONTE: acervo Inst. Pesquisas Histricas e Anlises Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB
RJ).
Il.02. Fazenda So Bento, alpendre FONTE: acervo Inst. Pesquisas Histricas e Anlises Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB
RJ).
Il.03 Fazenda So Bento, coluna detalhe FONTE: acervo particular da autora
Il.04 Claustro Convento So Francisco Salvador FONTE: Ana Gonalves(autora); www.manualdoturista.com.br
Il.05 Claustro Convento So Francisco Salvador FONTE: www.colonialvoyage.com
Il.06. Fazenda Engenho dgua, implantao sobre colina FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. p.177
Il.07. Fazenda Capo do Bispo, implantao sobre colina
FONTE: acervo particular da autora
Il.08. Fazenda do Viegas, implantao sobre colina
FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. p.175
Il.09. Fazenda Coluband, implantao sobre colina
FONTE: acervo particular da autora
Il.10. Fazenda da Taquara, implantao sobre colina
FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.11. Fazenda do Capo do Bispo, fachada frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.12. Fazenda do capo do Bispo, varanda frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.13. Fazenda Coluband, fachada frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.14. Fazenda Coluband, varanda frontal
http://www.colonialvoyage.com/ -
xFONTE: acervo particular da autora
Il.15. Fazenda do Viegas, fachada frontal
FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.175)
Il.16. Fazenda do Viegas,varanda frontal FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.17. Fazenda da Taquara, lado esquerdo da fachada frontal FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.18. Fazenda da Taquara, lado direito da fachada frontal FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.19. Fazenda Engenho dgua, varanda frontal FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.20. Fazenda Engenho dgua, varanda posterior FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.21. Fazenda do Capo do Bispo, ptio interno central FONTE: acervo particular da autora
Il.22. Fazenda da Taquara, ptio interno central FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.23. Fazenda Coluband, ptio interno central FONTE: acervo particular da autora
Il.24 Fazenda do Engenho dgua, ptio interno posterior FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.25. Capo do Bispo escada externa
FONTE: acervo particular da autora
Il.26. Taquara escada externa FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.27. Coluband escada externa FONTE: acervo particular da autora
Il.28. Viegas - rampa lateral
FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.175)
Il.29. Coluband coluna - varanda lateral FONTE: acervo particular da autora
Il.30. Coluband coluna - quina varanda frontal e lateral FONTE: acervo particular da autora
Il.31. Coluband coluna - varanda frontal banco entre colunas FONTE: acervo particular da autora
Il.32. Coluband coluna - ptio interno FONTE: acervo particular da autora
-
xi
Il.33. Coluband /Capela coluna - copiar/alpendre FONTE: acervo particular da autora
Il.34. Tijolos
FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.34)
Il.35. Capo do Bispo coluna varanda frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.36. Capo do Bispo coluna ptio interno FONTE: acervo particular da autora
Il.37. Engenho dgua coluna varanda FONTE: acervo particular da autora
Il.38. Taquara coluna varanda FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.39. Viegas - varanda FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.40. Fazenda do Capo do Bispo, vista geral FONTE: acervo particular da autora
Il.41. Fazenda do Capo do Bispo, escada externa FONTE: acervo particular da autora
Il.42. Fazenda do Capo do Bispo, planta-baixa FONTE: desenho da autora Il.43. Fazenda do Capo do Bispo, ptio interno central FONTE: acervo particular da autora
Il.44. Fazenda do Capo do Bispo, varanda frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.45. Fazenda Coluband, vista geral FONTE: acervo particular da autora
Il.46. Fazenda Coluband, escada externa FONTE: acervo particular da autora
Il.47. Fazenda Coluband, planta-baixa FONTE: desenho da autora Il.48. Fazenda Coluband, ptio interno central FONTE: acervo particular da autora
Il.49. Fazenda Coluband, varanda frontal FONTE: acervo particular da autora
Il.50. Fazenda do Engenho dgua, vista geral FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.177) Il.51. Fazenda do Engenho dgua, planta-baixa FONTE: desenho da autora
-
xii
Il.52. Fazenda do Engenho dgua, varanda posterior FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.53. Fazenda do Engenho dgua, varanda frontal FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.54. Fazenda do Engenho dgua, fachada principal FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.55. Fazenda do Viegas, vista geral FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.177) Il.56. Fazenda do Viegas, planta-baixa FONTE: desenho da autora Il.57. Fazenda da Viegas, varanda frontal FONTE: acervo particular de Hlio Vianna
Il.58. Fazenda do Viegas, rampa externa lateral
FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.175) Il.59. Fazenda da Taquara, vista geral FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.178) Il.60. Fazenda da Taquara, ptio interno central FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.61. Fazenda da Taquara, planta-baixa FONTE: desenho da autora Il.62. Fazenda da Taquara, escada externa FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.63. Fazenda da Taquara, varanda frontal esquerda FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Il.64. Fazenda da Taquara, varanda frontal direita FONTE: acervo Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Captulo 3 3.1 A arquitetura rural no processo de colonizao
Il.01. A construo da cabana primitiva, segundo Cesare Cesariano. De
Lucio Vitruvio Pollione de Architectura; 1521.
FONTE: RYKWERT, Joseph. A casa de Ado no paraso. A idia da cabana primitiva na histria
da arquitetura. SP: Editora Perspectiva; 2003. (p.114)
-
xiii
Il.02. A personificao da arquitetura e a cabana primitiva, segundo
Laugier. Litografia de Eisen, na folha de rosto da 2 edio do Essai sur l
Architecture, de Marc-Antoine Laugier; 1753.
FONTE: RYKWERT, Joseph. A casa de Ado no paraso. A idia da cabana primitiva na histria
da arquitetura. SP: Editora Perspectiva; 2003. (p.42)
Il.03. Ado e Eva. Albrecht Drer. FONTE: PEIXOTO, Gustavo da Rocha. Reflexos das luzes na terra do sol. SP: ProEditores; 2000.
(p.231)
Il.04. Uma viso do Paraso. Gustave Dor, ilustraes dos poemas de
John Milton (Paradise lost and other poems, Inglaterra; 1866)
FONTE: PEIXOTO, Gustavo da Rocha. Reflexos das luzes na terra do sol. SP: ProEditores; 2000.
(p.232)
Il.05. Aldeia indgena, sc. XVI. Ilustrao da obra Amrica Tertia Pars,
editada por Theodor de Bry, sobre os relatos das viagens de Hans Staden
ao Brasil, entre 1548 e 1551.
FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.027)
Il.06. Aldeia Bororo FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.039)
Il.07. Aldeia Xavante tradicional FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.039)
Il.08. Aldeia indgena, sc. XVI. Ilustraes do relato das viagens Hans
Staden ao Brasil entre 1548 e 1551, editadas por Theodor de Bry em
Amrica Tertia Pars. FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.027)
Il.09. Aldeia Karaj FONTE: COSTA, Maria Helosa Fnelon & MALHANO, Hamilton Botelho. Habitao indgena
brasileira. In: RIBEIRO, Berta (Org.). Suma Etnolgica Brasileira. Vol.2 Tecnologia indgena.
RJ:Finep/Ed.Vozes; 1986. (p.033)
Il.10. Interior de uma casa-aldeia Yanomamo, exemplo da vida coletiva. FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.044)
Il.11. Maloca dos ndios Curutus FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFP; 2002. (p.033)
Il.12. Casas de habitao puramente indgena FONTE: FARIA, Luis de Castro. Origens culturais da habitao popular do Brasil. In: Boletim do
Museu Nacional; Srie Antropologia, n.12, RJ:MN/UFRJ; out.1951. (p.43)
Il.13. Casas de habitao indgena, resultantes de influncias diversas. FONTE: FARIA, Luis de Castro. Origens culturais da habitao popular do Brasil. In: Boletim do
Museu Nacional; Srie Antropologia, n.12, RJ:MN/UFRJ; out.1951. (p.44)
-
xiv
3.2 A influncia da tradio arquitetnica portuguesa
Il.01. Casa da Barrosa, Vila Franca, Viana do Castelo
FONTE: Casas portuguesas e brasileiras. Lisboa: Edies Inapa. (p.28)
Il.02. Casa do Sabado, Arcozelo, Ponte de Lima FONTE: www.fundaj.gov.br
Il.03. Casa do Pomarcho, Arcozelo, Ponte de Lima FONTE: Casas portuguesas e brasileiras. Lisboa: Edies Inapa. (p.24)
Il.04. Casa do Pomarcho, Arcozelo, Ponte de Lima FONTE: SANTOS, Paulo. Constante de sensibilidade na arquitetura do Brasil. In: Arquitetura
Revista n4; RJ: FAU/UFRJ; 1988. (p.64)
Il.05. Palcio Cadaval, Muge FONTE: GIL, Jlio & CALVET, Nuno (fot.).Os mais belos palcios de Portugal. Lisboa/SP:
Ed.Verbo;1998. (p.95)
Il.06. Palcio dos Olivais, Moscavide
FONTE: GIL, Jlio & CALVET, Nuno (fot.). Os mais belos palcios de Portugal. Lisboa/SP: Ed.
Verbo; 1998 (p.110)
Il.07. Palacio Real de S. Francisco, vora FONTE: GIL, Jlio & CALVET, Nuno (fot.). Os mais belos palcios de Portugal. Lisboa/SP: Ed.
Verbo; 1998. (p.234)
Il.08. Palcio dos Condes de Basto, vora FONTE: GIL, Jlio & CALVET, Nuno (fot.). Os mais belos palcios de Portugal. Lisboa/SP: Ed.
Verbo; 1998. (p.238)
Il.09. Quinta do Rossio, Alentejo, sul FONTE: web/casas portuguesas
Il.10. Monte do Horta, sul FONTE: web/casas portuguesas
3.3 Arquitetura rural no Brasil Il.01. atual Museu casa Guignard, Ouro Preto ptio interno FONTE: acervo particular da autora
Il.02. Casa dos Contos, Ouro Preto ptio interno FONTE: acervo particular da autora
Il.03. Casa de Thomaz Antnio Gonzaga, Ouro Preto ptio interno
posterior FONTE: acervo particular da autora
Il.04. Engenho dgua, Ilha Bela, Ilha de So Sebastio FONTE: Arte no Brasil. SP: Nova Cultural; 1986. (p.90)
Il.05. Stio do Padre Incio, Cotia. Casa bandeirante.
http://www.fundaj.gov.br/ -
xvFONTE: Arte no Brasil. SP: Nova Cultural; 1986. (p.90)
Il.06. A casa Mato de Pipa, em Quissam, no Rio de Janeiro,
FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.) Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: Universidade Federal
de Pernambuco; 2002. (p.142)
Il.07. Fazenda da Vargem, Minas Gerais
FONTE: folheto
Il.08. Casa de Fazenda dos Martins, Brumadinho, Minas Gerais
FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. (p.94)
Il.09. Casa de Fazenda de So Nicolau, Nova Era, Minas Gerais
FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. (p.94)
Il.10. Engenho da Serra, Minas Gerais
FONTE: folheto
Il.11. Solar Monjardim, Vitria, Esprito Santo
FONTE: acervo particular da autora
Il.12. Solar Monjardim, Vitria, Esprito Santo .Vista lateral
FONTE: acervo particular da autora
Il.13. Engenho Vicncia, Poo Comprido, Pernambuco FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.53)
Il.14. Engenho Monjope, Igarassu, Pernambuco FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.51)
Il.15. Engenho Gaiap, Ipojuca, Pernambuco FONTE: MONTEZUMA, Roberto (Org.) Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: Universidade Federal
de Pernambuco; 2002. (p.083)
Il.16. Casa da Torre de Garcia, Bahia FONTE: web/casadatorredegarcia
Il.017. Fazenda Freguesia, Candeias, Bahia FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.96)
Il.18. So Sebastio do Passe, Pimentel, Bahia FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.113)
-
xvi
Il.19. So Sebastio do Passe, Lagoa, Bahia FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.107)
Il.20. So Jos do Rio Preto, Petrpolis, Rio de Janeiro FONTE: CZAIJOWSKI, Jorge & MIRANDA, Alcides da Rocha. Fazendas. Solares da regio
cafeeira do Brasil Imperial. RJ: Editora Nova Fronteira; s/d. (p.64)
Il.21. Fazenda Pau dAlho, So Jos do Barreiro, Vale do Paraba FONTE: TELLES, Augusto da Silva. O Vale do Paraba e a arquitetura do caf. RJ: Ed. Capivara;
2006, p. 42.
CZAIJOWSKI, Jorge & MIRANDA, Alcides da Rocha. Fazendas. Solares da regio cafeeira do
Brasil Imperial. RJ: Editora Nova Fronteira; s/d. (p.130)
Il.22. Fazenda Santa Justa, Rio das Flores, Rio de Janeiro FONTE: CZAIJOWSKI, Jorge. & MIRANDA, Alcides da Rocha.Fazendas. Solares da regio
cafeeira do Brasil Imperial. RJ: Editora Nova Fronteira; s/d. (p.100)
Il.23. Fazenda Coluband, So Gonalo, Rio de Janeiro FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. (p.169)
Il.24. Fazenda do Castelo, Resende, Rio de Janeiro FONTE: carto postal
Il.25. Casa Jurujuba, Niteri, Rio de Janeiro FONTE: Arte no Brasil. SP: Nova Cultural; 1986. (p.80)
3.4 O Rio de Janeiro setecentista Il.01 Geometria Prtica. Estampa FONTE: FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro. A talha neoclssica na Bahia. RJ: Rival; 2006. p.75
Il.02 Trigonometria. Estampa FONTE: FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro. A talha neoclssica na Bahia. RJ: Rival; 2006. p.75
Il.03 Primeira estampa de Arquitetura Civil - Ordem Toscana. FONTE: FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro. A talha neoclssica na Bahia. RJ: Rival; 2006. p.76
Il.04. casario urbano. Ouro Preto, MG FONTE: acervo particular da autora
Il.05. casario urbano. Tiradentes, MG FONTE: acervo particular da autora
Il.06. casario urbano. Parati, RJ FONTE: acervo particular da autora
Il.07. casario na antiga Rua do Piolho, atual Rua da Carioca, Rio de
Janeiro. Aquarela de Thomas Ender; c. 1817 FONTE: BANDEIRA, Jlio & WAGNER, Robert. Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender
1817-1818. 2 Vols. Petrpolis: Kapa Editoial; 2000. p.369
Il.08. Croquis tipos de casas urbanas FONTE: REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. SP: Ed. Perspectiva, 2002
-
xvii
Il.09. Casa do Conde da Barca, Rio de Janeiro FONTE: Arte no Brasil. SP: Nova Cultural; 1986. (p.81)
Il.10. Casa do Bispo do Desterro, Rio Comprido FONTE: Arte no Brasil. SP: Nova Cultural; 1986. (p.81)
Il.11. Plantas e elevaes de duas pequenas casas brasileiras, de cidade
e de campo. FONTE: DEBRET, Jean Baptista. Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha 42
Il.12. casa romana. FONTE: WEIMER, Gunter. Arquitetura popular brasileira. SP: Ed. Martins Fontes; 2005; p.81 Il.13. Plantas de duas grandes casas, de cidade e de campo. FONTE: DEBRET, Jean Baptista. Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha 43
Captulo 4 4.1 A casa-grande: configuraes espaciais Il.01. A sesta Passatempo dos ricos depois do jantar. FONTE: Jean Baptiste Debret - Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha VIII Tomo II
Il.02. Um jantar no Brasil FONTE: Jean Baptiste Debret - Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha VII Tomo II
Il.03. Uma senhora brasileira em seu lar FONTE: Jean Baptiste Debret - Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha VI Tomo II
Il.04. Visita a uma fazenda
FONTE: Jean Baptiste Debret - Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. Prancha X Tomo II
Il.05. Fiel retrato do interior de uma casa brasileira FONTE: Joaquim Candido Guillobel (c.1814-1816). In: FERREZ, Gilberto. Iconografica do Rio de Janeiro :1530-1890. RJ: Casa Jorge Editorial, 2000; p. 57.
4.2 As relaes espaciais da casa-grande no complexo arquitetnico
dos Engenhos de Acar
4.2.1 A casa-grande e sua relao com o entorno Il.01. Assentamento ordenado em quadra. Engenho Noruega. Ilustrao
de Ccero Dias FONTE: FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Capa
Il.02. Assentamento ordenado em quadra. Mapa de um engenho. Louis L.
Vauthier. FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil p.35
-
xviii
Il.03. Assentamento edificaes dispersas. Engenho. Frans Post. FONTE: Catlogo da Exposio Frans Post e o Brasil Holands na Coleo do Instituto Ricardo Brennand. Recife: 2003. p. 40
Il.04. Assentamento edificaes dispersas. detalhe do Mapa de Barleus.
Ilustrao de Frans Post.(Pernambuco; sc. XVII) FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil p. 17
4.2.2 O engenho e os espaos de produo Il.01. Pequena moenda a fora manual/humana (engenhoca). Jean
Baptista Debret. FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no Brasil p. 16 Il.02. Engenho. Moenda movida roda dgua. Ilustrao de Frans Post. FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil p. 17 Il.03. Engenho. Moenda movida a roda dgua e trao animal. Rugendas FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no Brasil p. 17 Il.04. Engenho. Moenda movida vapor. FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no Brasil p. 32 Il.05. Usina Central. Quissam, RJ. FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de acar no
Brasil p. 25 4.2.3 A senzala e outros espaos de morar Il.01. Senzala ou casebre FONTE: RIBEYROLLES, Charles. Brazil pittoresco: lbum de vistas, panoramas,paisagens,
monumentos, costumes, etc. Paris : Lemercier; p.48.
Il.02. Engenho Urua, Pernambuco planta da senzala sem varanda FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. p.44 Il.03. Engenho Urua. Pernambuco senzala FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990.p.45 Il.04. Engenho Matas, Pernambuco planta da senzala com varanda FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. p.44
-
xix
Il.05. Engenho Matas, Pernambuco senzala FONTE: GOMES, Geraldo Engenho e arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos
de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. p.45 4.2.4 A capela e o espao da religiosidade Il.01.Fazenda de Capo do Bispo. Capela inserida no corpo da casa FONTE: acervo particular da autora Il.02.Fazenda do Engenho dgua Capela inserida no corpo da casa. FONTE: FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de
acar no Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. p.177
Il.03.Fazenda do Viegas. Capela adjacente ao corpo da casa. FONTE: FONTE: GOMES, Geraldo & PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigos engenhos de
acar no Brasil. RJ: Editora Nova Fronteira; 1994. p.177
Il.04.Fazenda de Coluband. Capela em prdio independente da casa FONTE: acervo particular da autora Il.05.Fazenda da Taquara. Capela em prdio independente da casa FONTE: acervo do IPHAN Il.06. Engenho. Frans Post.- Alpendre nas capelas brasileiras. FONTE: Catlogo da Exposio Frans Post e o Brasil Holands na Coleo do Instituto Ricardo Brennand. Recife: 2003. p. 40 Il.07. Aldeia e capela com prtico. Frans Post. - Alpendre nas capelas
brasileiras FONTE: Catlogo da Exposio Frans Post e o Brasil Holands na Coleo do Instituto Ricardo Brennand. Recife: 2003. p. 44 Il.08. Capela de N. Sra. da Cabea. Jardim Botnico, Rio de Janeiro. -
Alpendre nas capelas brasileiras FONTE: CEZAR, Paulo Bastos. Capela Nossa Senhora da Cabea. Pequena jia da arquitetura
colonial do Rio de Janeiro (capa) e foto do acervo particular da autora
Il.09. Capela de SantAna. Fazenda de Coluband, So Gonalo. -
Alpendre nas capelas brasileiras FONTE: acervo particular da autora Il.10. Capela da Luz, So Gonalo. - Alpendre nas capelas brasileiras FONTE: web/ so gonalo
-
xx
Sumrio
1. Introduo............................................................................................01 2. A Arquitetura das casas-grandes rurais remanescentes dos engenhos de acar do Rio de Janeiro ................................................09 2.1 As casas escolhidas: composies formais ......................................09
3. A Arquitetura das casas-grandes dos Engenhos de Acar no espao luso-brasileiro ...........................................................................40 3.1 A arquitetura rural no processo de colonizao ................................ 40
3.2 A influncia da tradio arquitetnica portuguesa ..............................64
3.3 As casas rurais no Brasil ....................................................................76
3.4 O Rio de Janeiro setecentista ..........................................................103
4. A arquitetura e as relaes espaciais da casa-grande no complexo arquitetnico dos Engenhos de Acar .............................................123 4.1 A casa-grande: configuraes espaciais ..........................................123
4.2 As relaes espaciais da casa-grande no complexo arquitetnico dos
Engenhos de Acar...............................................................................145
4.2.1 A casa-grande e sua relao com o entorno..................................145
4.2.2 O engenho e os espaos de produo ..........................................152
4.2.3 A senzala e outros espaos de morar............................... ............157
4.2.4 A capela e o espao da religiosidade ............................................162
4.2.4.1 Casa-capela: composies formais ............................................162
4.2.4.3 Casa-capela: configuraes espaciais .......................................171
5. Concluso .........................................................................................180 6. Referncias bibliogrficas e fontes consultadas ..........................186
-
1. Introduo
Os engenhos de acar foram os primeiros assentamentos
coloniais no espao rural do Brasil. No mapa econmico do ciclo do
acar, que se estendeu do sculo XVI ao sculo XVIII, o Rio de Janeiro
foi o principal produtor na regio meridional do Brasil, chegando, no
sculo XVIII, a ser o terceiro maior produtor de acar. Nesse perodo, a
Bahia produzia 14 mil toneladas, Pernambuco, 12 mil, e o Rio de Janeiro,
10,5 mil toneladas de acar destinado ao abastecimento do mercado
europeu, principalmente o portugus. Nessa poca, esto em produo
mais de 600 engenhos no Rio.
Foi de tal monta a importncia do ciclo do acar no Rio de Janeiro
durante o sculo XVIII, que ainda hoje possvel mapear sua presena.
As reas dos antigos engenhos encontram-se hoje incorporadas malha
urbana; de muitos j no existem vestgios de suas construes, mas
alguns legaram aos seus lugares os nomes que configuram os atuais
bairros cariocas, como Engenho Novo, Engenho Velho e Engenho de
Dentro.
Os engenhos de acar caracterizavam-se por uma complexa
estrutura organizacional agrria e arquitetnica constituda
-
2
sistematicamente pela casa-grande, pela capela, pelo engenho em si e
pela senzala. A casa-grande era, nesse complexo, o ponto central, de
onde e para onde tudo emanava, reflexo do status e do poder dos
senhores-de-engenho, espao de formao de uma sociedade patriarcal
e escravocrata, e da vida cotidiana no seu tempo colonial, e no seu
espao rural.
A escolha do tema deste trabalho a arquitetura das casas-
grandes dos antigos engenhos de acar no Rio de Janeiro setecentista
surgiu a partir de um encantamento pessoal pelas casas de fazendas do
interior do Rio de Janeiro. O tema foi definido quando tomei conhecimento
de que ainda existiam exemplares remanescentes da arquitetura rural do
sculo XVIII, casas sedes dos antigos engenhos de acar na regio.
Essas poucas casas hoje se encontram includas na malha urbana da
cidade, e sua presena quase imperceptvel em meio a construes que
oprimem a sua dignidade arquitetnica.
Assim, escolhemos como objeto de estudo um grupo de casas
tombadas pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
(IPHAN) que, embora tenham sofrido alteraes no decorrer dos dois
ltimos sculos, ainda preservam muitas de suas caractersticas
arquitetnicas originais. So elas as casas da Fazenda do Viegas, em
Senador Camar; da Fazenda do Engenho dgua, em Jacarepagu; da
Fazenda da Taquara, tambm em Jacarepagu; da Fazenda do Capo do
Bispo, em Del Castilho e da Fazenda de Coluband, no Municpio de So
Gonalo, RJ. Essas casas so reconhecidas como as mais significativas
expresses da arquitetura civil do perodo Colonial no Rio de Janeiro e
esto entre as poucas que conseguiram subsistir ao do tempo, s
-
3
intervenes inadequadas, ao crescimento desordenado da cidade e ao
descaso em relao ao nosso patrimnio histrico e artstico.
A inexistncia de documentao ampla e sistematizada, textual e
iconogrfica, referente a essa arquitetura, fez da anlise direta das casas
a mais importante fonte de informao, o que corroborou para a definio
dessas cinco obras como objetos de nosso estudo.
Embora tenha-se presenciado um aumento ainda que insuficiente
em relao produo do pensamento sobre as artes e a arquitetura no
Brasil, patente o descompasso entre o valor da nossa arquitetura e a
quantidade de estudos e escritos sobre a mesma. Esse panorama se
agrava ainda mais em relao arquitetura civil, em especial residncia
rural, do perodo colonial no Rio de Janeiro, sendo este outro fator que
nos levou a definir e delimitar nosso tema.
Os engenhos de acar, sua arquitetura e a vida rural j foram
objeto de ateno, estudo e anlise de relevantes nomes da nossa
literatura e da nossa histria, como Jos Lins do Rego, com Menino de
engenho e Wanderley Pinho, com Histria de um engenho do Recncavo.
Nas Cincias Sociais, Gilberto Freyre, com Casa-grande e senzala
estabelece, de forma determinante, a relevncia dos engenhos de acar
e da casa do senhor no processo de formao cultural brasileiro. A
arquitetura do acar teve seu valor reconhecido e registrado graas
presena de artistas estrangeiros, como o pintor holands Frans Post, que
nos legou raros registros pictricos da regio de Pernambuco, e
descrio minuciosa das cartas do Dirio ntimo do engenheiro Louis
Vauthier. Importante tambm so os estudos teses como Engenho e
Arquitetura, elaborado por Geraldo Gomes, sobre os engenhos de
-
4
Pernambuco, e Arquitetura do Acar, de autoria de Esterzilda Berenstein
de Azevedo, sobre os engenhos da regio do Recncavo Baiano. Todas
essas referncias, no entanto, dedicam-se s regies de Pernambuco e
da Bahia, claramente justificadas pela importncia histrica do ciclo do
acar no nordeste brasileiro.
Na dcada de 1930, com a criao do Servio de Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional (SPHAN, 1937), atual Instituto do Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), reuniram-se os mais importantes
nomes da cultura brasileira da poca em defesa do nosso patrimnio.
Nomes relevantes para a histria da arquitetura no Brasil, como Rodrigo
Mello Franco de Andrade, Lcio Costa e Paulo Santos, s para citar
alguns, referem-se a essas casas como uma tipologia que caracteriza a
arquitetura do perodo colonial do sculo XVIII no Rio de Janeiro. Na
historiografia sobre as casas rurais fluminenses, traada desse perodo
em diante, predominaram as descries sempre elogiosas de carter
tipolgico, a partir de suas composies formais.
Ousamos tentar ir um pouco alm de uma leitura tipolgica, sem,
entretanto, abdicar de seu uso e desconsiderar a sua importncia para a
formulao deste trabalho. Nosso objetivo realizar uma anlise da
arquitetura das casas-grandes, sedes dos antigos engenhos de acar do
Rio de Janeiro setecentista, identificando nos seus contextos espaos-
temporais os significados culturais constitutivos das suas caractersticas
formais e espaciais.
Tomamos como pressuposto inicial que uma arquitetura pode ser
entendida como uma criao histrico-ideolgica, em que pesem o
indivduo como sujeito, e o tempo e o espao como elementos
-
5
condicionantes. Nesse sentido, o entendimento do significado e da
importncia dessa arquitetura se desvela na relao com o seu prprio
contexto histrico-cultural. Compreendendo como e porque o homem
concebe e ordena plasticamente seu espao, compreenderemos o
pensamento humano, como o homem se relaciona e como concebe o
mundo que o rodeia. Desse modo, a arquitetura no s representa, mas
tambm detm valores inerentes ao homem, sua cultura e sua
histria; no apenas reflete, mas se insere numa concepo de mundo.
Giulio Carlo Argan nos fornece as bases desse pensamento.
Segundo Argan, uma obra a traduo de conceitos abstratos em formas
visveis; possui, sob sua forma e aparncia um determinado contedo
ideolgico, contedo que se afirma no seu prprio tempo e espao e que
conserva a memria dos fatos artsticos para alm do seu contexto
originrio. Assim, historicizar uma obra de arte, ou mesmo um fenmeno
artstico, o modo de objetiv-lo e explic-lo1, uma possvel forma de
conhec-lo; por intermdio dele podemos reconhecer a cultura que o
constituiu. Sendo a arte um dos grandes tipos de estrutura cultural, a
anlise da obra de arte deve dizer respeito, de um lado, matria
estruturada, de outro, ao processo de estruturao. Traando um paralelo
com a citao de Argan, podemos relacionar matria estruturada
arquitetura em si, e processo de estruturao idia de contexto
cultural.
Dessa forma, para o entendimento da relao proposta entre a
arquitetura e o seu contexto cultural, fundamental a compreenso de
como e de quais so os elementos que estruturam a arquitetura e, ao
mesmo tempo, de como e de quais so os valores que constituem uma 1 ARGAN, Giulio Carlo. Histria da arte como histria da cidade. SP: Martins Fontes; 2005. (p.14)
-
6
cultura e um contexto cultural. Para tanto, adotamos como referncia os
textos de Argan: A histria da arte como a histria da cidade e Clssico e
anticlssico.
A abordagem sobre o conceito de contexto cultural exige a
interdisciplinaridade, outras leituras. Buscamos, assim, o conceito
antropolgico de cultura definido por Clifford Geertz em A interpretao
das culturas e O saber local, nos quais Geertz define a arte e, portanto, a
arquitetura, como um sistema cultural, e cultura, como uma teia de
relaes em que todos os sistemas (religiosos, polticos etc) que a
estruturam relacionam-se entre si e com o todo.
A relao arquitetura-cultura , dessa forma, o fio condutor do
trabalho para a anlise da arquitetura das casas-grandes dos antigos
engenhos de acar no Rio de Janeiro setecentista. No entanto, no
decorrer dos captulos, outros conceitos e tericos, no menos
importantes, sero utilizados, a fim de complementar a anlise aqui
proposta.
Para pensarmos a arquitetura em tal contexto, embasamo-nos na
definio de Lcio Costa, que a conceitua como construo concebida
com o propsito de organizar e ordenar plasticamente o espao e os
volumes decorrentes, em funo de uma determinada poca, de um
determinado meio, de uma determinada tcnica, de um determinado
programa e de uma determinada inteno2, e que entende a ordenao
plstica como a inteno plstica precisamente o que distingue a
arquitetura da simples construo3.
2 COSTA, Lcio. Arquitetura RJ: Editora Jos Olympio; 2002. (p.21) 3 Id.Ibid. (p.20)
-
7
Nesse sentido, tomamos como fundamento metodolgico do nosso
trabalho, a anlise do partido arquitetnico das casas escolhidas como
objetos de estudo, entendendo como partido a resposta formal a um
determinado programa e sob determinadas condicionantes, entre as
quais, o contexto espao-temporal e os valores culturais daqueles que
concebem, constroem e habitam uma casa.
Estruturamos este trabalho como segue:
No primeiro captulo, A arquitetura das casas remanescentes.
As casas escolhidas: composies formais, buscamos identificar os
elementos arquitetnicos que caracterizam o conjunto de seus partidos.
Para tanto, trabalhamos com a classificao tipolgica das casas rurais no
Rio de Janeiro, com base no artigo Um certo tipo de casa rural do Distrito
Federal e Estado do Rio de Janeiro, de Joaquim Cardoso, e utilizamos o
conceito de tipo arquitetnico de Argan em Projeto e destino e El
concepto del espacio arquitectnico.
No segundo captulo, buscamos compreender o processo de
formao do contexto cultural no perodo colonial, que poderia ser
traduzido em um contexto histrico, identificando os valores culturais
constitutivos da arquitetura das casas rurais no Brasil, em especial no Rio
de Janeiro. No subcaptulo A arquitetura rural no processo de
colonizao, buscamos entender como se deu o processo de adaptao
do colono portugus natureza tropical e s culturas indgenas
encontradas no Brasil. No subcaptulo A influncia da tradio
arquitetnica portuguesa, buscamos identificar as caractersticas dessa
arquitetura que permaneceram como referncia para a arquitetura luso-
brasileira. No subcaptulo A arquitetura rural no Brasil, buscamos
-
8
identificar as caractersticas que se articulam com os contextos regionais
brasileiros. No subcaptulo O Rio de Janeiro setecentista, buscamos
entender o panorama cultural da poca e as articulaes entre a
arquitetura das casas urbanas, semi-rurais e rurais.
No terceiro captulo, trabalhamos num contexto mais restrito e
imediato, buscando identificar os valores culturais pertinentes ao modo de
vida e ao cotidiano de ento. Para tanto, foram fundamentais os valiosos
textos de Histria da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na
Amrica portuguesa, organizados por Fernando A. Novais e Laura de
Mello e Souza. No subcapitulo Casa-grande: configuraes espaciais,
buscamos entender a relao entre os valores culturais e o modo de vida
daqueles que a habitavam, e o modo como se organizavam e
compunham os espaos da casa em si. No subcaptulo A casa-grande
no complexo arquitetnico dos engenhos de acar, buscamos as
associaes entre a casa-grande e os demais espaos a ela
relacionadas, com o seu meio natural, com o stio, com os espaos de
produo, com o engenho propriamente dito, com outros espaos de
moradias, as senzalas e outras casas e com o espao da religiosidade, as
capelas.
Com o intuito de melhor ilustrar os textos, optamos por finalizar os
captulos e subcaptulos com as ilustraes a eles referentes.
Cabe-nos, ainda, esclarecer que o enfoque proposto neste trabalho
visa contribuir com uma leitura sobre essa arquitetura, apresentando
interpretaes que julgamos possveis, sem a pretenso de esgot-la.
-
2. A Arquitetura das casas-grandes rurais remanescentes dos
engenhos de acar do Rio de Janeiro
2.1 As casas escolhidas: composies formais
...no se trata de um casaro sem arquitetura.
Rodrigo Melo Franco de Andrade
Na historiografia levantada neste trabalho sobre a arquitetura das
casas-grandes dos engenhos de acar no Rio de Janeiro setecentista,
prevalecem as descries, sempre elogiosas, de carter tipolgico das
mesmas. Sua tipologia definida, principalmente, pela presena, em
todos os exemplares, da varanda frontal alpendrada, com colunas de
fuste de seo circular, em alvenaria, com inspirao na ordem toscana;
dos ptios internos, tambm alpendrados, da escada externa e da capela.
Essas caractersticas agrupam os cinco exemplares escolhidos como
objetos de estudo: a casa do Engenho dgua, em Jacarepagu; a casa
da fazenda da Taquara, tambm em Jacarepagu; a casa da fazenda do
Viegas, em Senador Camar; a casa do Capo do Bispo, em Del Castilho
e a casa de Coluband, no Municpio de So Gonalo, RJ.
Tais descries fazem eco ao arquiteto, urbanista, engenheiro e
poeta Joaquim Cardoso (Recife, 1897 / Olinda, 1978), que publicou na
Revista do Patrimnio, em 1943, o primeiro artigo sobre a arquitetura rural
-
10
no Rio de Janeiro, intitulado Um certo tipo de casa rural do Distrito
Federal e Estado do Rio de Janeiro. Nesse artigo, Joaquim Cardoso
realiza um inventrio, baseado nas suas prprias experincias de viagens
pela regio, em que identifica e define quatro classes distintas de tipos de
casas rurais. Constam do quarto grupo as cinco casas que so objetos de
estudo de nosso trabalho. Essa classificao se estrutura numa leitura
morfolgica, ou ainda tipolgica, da arquitetura, atravs, principalmente,
da anlise das composies e elementos das suas fachadas, sem a
preocupao de classific-las por suas regies ou datas. Seu trabalho
pioneiro uma valiosa contribuio, invariavelmente adotado como
referncia para os trabalhos sobre a arquitetura rural que se seguiram.
Dada a sua importncia, no nos excluiremos da lista dos seus
seguidores. Joaquim Cardoso nos fornece a orientao, e aqui
adotado como base fundamental para a identificao e a anlise das
caractersticas arquitetnicas das casas rurais setecentistas no Rio de
Janeiro.
A composio formal das fachadas, da planta e da volumetria do
corpo das casas-grandes setecentistas no Rio de Janeiro alinham-se pela
austeridade e simplicidade das suas formas, inscritas e compartimentadas
a partir de figuras geomtricas quadrangulares, do quadrado ou do
retngulo.
A volumetria do corpo das casas segue esse padro. As casas se
assentam pesadamente sobre a terra, desenhando um espao prismtico
e de forte sentido horizontal, que compem uma volumetria slida e de
carter esttico. A horizontalidade das suas composies formais ainda
acentuada pelos telhados em quatro guas, que se apiam no permetro
-
11
da casa, com cumeeiras paralelas s fachadas. As casas de Capo do
Bispo, Coluband, Taquara e Viegas apresentam essa conformao
volumtrica retangular e horizontal. A Casa do Engenho dgua, no
entanto, apresenta uma variao dessa dinmica, com um segundo
pavimento se destacando no centro da sua composio volumtrica; alm
disso, a volumetria retangular quebrada, com uma camarinha no
segundo pavimento que se sobressai no centro da composio do corpo
da casa.
As casas das fazendas do Capo do Bispo, de Coluband e da
fazenda do Viegas se assentam sobre terrenos de meia encosta, em
aclive, aproveitando a parte frontal da casa, no nvel trreo, para a
instalao de meio-pores, usados como depsitos, fechados em
alvenaria com portas independentes do resto da casa. Esse
aproveitamento possibilitou o nivelamento da residncia em um pavimento
elevado e plano, sem desnveis nos cmodos internos da moradia. Esse
tipo de assentamento e aproveitamento desenha uma composio em
dois pavimentos na fachada frontal, enquanto nas fachadas laterais e
posterior apresenta um pavimento nico.
As fachadas acompanham a mesma linguagem de simplicidade,
horizontalidade, esttica e peso, com o predomnio das superfcies cheias
sobre os elementos vazados de portas e janelas com folhas de madeira
tabuada1 e das paredes caiadas em branco, contrastando com as
esquadrias coloridas2. A fachada principal recebia um tratamento mais
complexo e requintado, com a presena das escadas externas e da 1 Algumas esquadrias, em especial as janelas, podiam ser em trelias de madeira. Mais comuns nas casas urbanas, no se encontram nos exemplares das casas rurais aqui estudadas. 2 As paredes caiadas em branco contrastando com as esquadrias coloridas foi um padro esttico comum no perodo colonial, tanto nas casas urbanas como nas casas rurais. A caiao era uma forma eficiente, na poca, de manuteno das alvenarias, em geral construdas em tijolos de adobe, em taipa, ou mesmo nas paredes em pedra.
-
12
varanda alpendrada com colunata. Essas fachadas frontais, vazadas por
extensas e profundas varandas alpendradas, do certa leveza
construo, compondo uma equilibrada trama vertical e alternando de
forma eqidistante colunas e vos, que suavizam o peso e a
horizontalidade da sua composio.
A escada ou rampa externa que, invariavelmente, dava acesso
direto s varandas um elemento de grande importncia na composio
formal das fachadas frontais dessa tipologia de casa rural no Rio de
Janeiro do sculo XVIII. As escadas externas eram construdas em
alvenaria, assentadas pesadamente sobre a prpria terra acumulada, s
vezes vencendo terrenos em aclive, o que conferia ao conjunto do
edifcio uma impresso de integridade, de importncia primria e de
resistncia3. Em poucas variaes essas escadas se localizavam no
centro da fachada frontal, como na Fazenda do Engenho dgua, ou
numa das suas extremidades, como nas Fazendas do Capo do Bispo e
do Coluband.
As escadas da Fazenda de Coluband e do Capo do Bispo
vencem a altura dos pores, dando acesso s varandas e apresentando
certo requinte construtivo, nos espessos guarda-corpos e na composio
em dois lances. Paulo Santos atribuiu a essas escadas um carter de
monumentalidade4. J nas casas da Fazenda da Taquara e do Engenho
dgua, a escada se compe em poucos degraus, que elevam o nvel da
varanda. Na casa do Engenho dgua, os espelhos dos degraus so
decorados em azulejos de boa fatura. A Fazenda do Viegas apresenta
3 CARDOSO, Joaquim. Um certo tipo de casa rural do Distrito Federal e estado do Rio de Janeiro. In: Arquitetura Civil II (Vol. II). Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. SP: FAU-USP e MEC-IPHAN; 1975. p.21. 4 SANTOS, Paulo. Quatro sculos de arquitetura na cidade do Rio de Janeiro. RJ: Univ. do Brasil; 1966. p.75.
-
13
uma soluo menos comum s construes setecentistas no Rio de
Janeiro. Possui uma escada com poucos degraus, semi-circulares na
base, seguida de uma rampa que acompanha a inclinao do terreno at
uma das extremidades da varanda.
A varanda alpendrada um dos elementos arquitetnicos citados
por todos os autores que descrevem as casas-grandes do Rio de Janeiro
setecentista. Paulo Santos salienta que a parte mais caracterstica
dessas casas era a varanda, com o seu telhado de telha v; a sanca e o
beiral com os caibros aparentes; as delicadas colunetas de base e capitel
pseudo-toscanos5. Arajo Viana, em uma das suas crnicas, descreve
as Varandas tradicionais:
Na histria da habitao brasileira, em particular a do Rio
de Janeiro, [...] encontra-se uma fase em que as varandas
predominavam na frente de quase todas as casas de
campo, e formavam, por assim dizer, sistema: eram partes
integrantes da construo e no apndices ou acessrios
[...] faziam parte integrante da construo da casa: o
madeiramento no era independente e o respectivo tecto,
em algumas, acompanhava a inclinao da aba da
cobertura, como se pode verificar em prdios existentes6.
O termo alpendre se refere a um elemento de composio
arquitetnica, o prolongamento do telhado para alm da parede mestre
da casa e se apia em colunas, assim definindo o espao a que
chamamos de varanda.
O alpendre, na arquitetura civil residencial rural, foi uma soluo
comum por sua adequao ao clima tropical. As varandas no eram
exclusivamente decorativas, visavam tambm o conforto e higiene da 5 SANTOS, Paulo. Op.cit.,p.74. 6 VIANA, Arajo. Varandas tradicionais In: ANDRADE, Rodrigo M. F. de. Rodrigo e seus tempos.RJ: MEC/IPHAN: 1986.p. 93
-
14
moradia, evitavam os efeitos da ao solar direta ou refletida7. Essas
varandas funcionavam como vestbulos abertos; evitavam, tambm, que
as fortes chuvas cassem diretamente sobre a fachada principal,
preservando as numerosas portas, em madeira, que a caracterizava.
Segundo Lcio Costa:
Diz-se [...] que os beirais das nossas velhas casas tinham
por funo proteger da do sol, quando a verdade no
entanto bem outra. Um simples corte faz compreender
como, na maioria dos casos, teria sido ineficiente tal
proteo; e os bons mestres jamais pensariam nisso, mas
na chuva, isto , afastar das paredes a cortina de gua
derramada no telhado8.
Os motivos que justificariam a presena constante do alpendre nas
fachadas frontais poderiam ser vrios, ou talvez todos ao mesmo tempo.
Temos como certo, no entanto, que tais varandas so uma resposta
adequada aos nossos fatores climticos.
As varandas foram adotadas nas casas rurais em todas as regies
brasileiras, com variaes, principalmente em relao sua extenso, ora
ocupando parte, ora ocupando toda uma fachada. Nas casas aqui
estudadas, esses alpendres ocupam toda a fachada principal e se
caracterizam por sustentar os telhados com colunas de alvenaria, de
seo circular, inspiradas na ordem toscana. Suas variaes se
encontram nas suas extenses em relao s fachadas laterais. Nas
casas de Viegas e do Capo do Bispo, os alpendres se estendem pela
fachada principal. Na casa do Engenho dgua, o alpendre, que tambm
ocupava toda a fachada principal, foi reduzido na sua extenso, com a
7 CARDOSO, Joaquim. Op.cit.,p.93. 8 COSTA, Lcio. Documentao necessria. In: Arquitetura Civil II (Vol. II). Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. SP: FAU-USP e MEC-IPHAN; 1975. p.95.
-
15
construo da capela. Sua fachada posterior, no entanto, preserva o
alpendre em toda a sua extenso. Nas casas de Coluband e da Taquara
aparecem os alpendres em forma de U, que se estendem por toda a
fachada principal e parte das fachadas laterais. A casa da fazenda da
Taquara foi ampliada no sculo XIX, com o acrscimo de um corpo
central, formando no centro da fachada uma destacada varanda, formada
em arcada, em arcos plenos.
O tipo de alpendre que se estende por toda a fachada principal no
foi uma soluo comum na arquitetura residencial portuguesa. Na Europa,
as extensas varandas frontais, aparecem em algumas construes
religiosas. Em geral, so formadas por arcadas, supostamente derivadas
das antigas galils das baslicas romanas, transformadas em templos
cristos. Em Portugal, freqentemente encontramos na arquitetura das
casas rurais uma varanda parcial, que ocupa parte da fachada principal e,
geralmente, se localiza numa das extremidades da casa. Apresentam, no
entanto, caractersticas similares s casas do Rio de Janeiro, como as
robustas escadas externas e, em algumas casas, os alpendres apoiados
em colunas de inspirao toscana.
Segundo Geraldo Gomes9, a presena desses alpendres pode ter
sido originada graas expanso portuguesa ao Oriente, supostamente
por influncia dos bangals, tpicos da regio da ndia, trazidos pelos
portugueses, que possivelmente teriam percebido sua adequao como
soluo de conforto ambiental ao clima tropical.
A fachada, a escada e o alpendre eram o foco de maior ateno e
requinte. O alpendre, com colunata de inspirao toscana, um dos
9 GOMES, Geraldo. Engenho e Arquitetura: morfologia dos edifcios dos antigos engenhos de acar pernambucanos. FAU/USP: Tese de Doutorado; 1990. .
-
16
elementos que caracterizam a tipologia das casas-grandes do sculo
XVIII no Rio de Janeiro. Joaquim Cardoso assim descreve o gosto pelas
varandas alpendradas no Rio de Janeiro:
Nota-se [...] que houve em determinada poca, entre os
fazendeiros e proprietrios agrcolas das proximidades da
capital do pas, uma predileo acentuada pelos alpendres
de colunas de alvenaria, ornadas de capitis toscanos [...]
Essa predileo, esse ritmo de apreciao esttica que
dominou a coletividade agrcola dessa regio, um
exemplo de arquitetura civil encarada como arquitetura de
um grupo fixado no espao e no tempo, fazendo parte de
uma famlia ou campo mais geral que poder envolver
toda a atividade colonial brasileira10.
O esmerado tratamento e a freqncia com que essas colunas
aparecem nas casas-grandes revelam a existncia de um senso esttico,
domnio tcnico e at mesmo a possibilidade de planejamento e de um
projeto arquitetnico. As colunas da casa de Coluband apresentam um
esmerado tratamento. Na fachada lateral encontramos uma complexa
coluna que compem visualmente um conjunto quase escultrico de
colunas que e interpenetram (il.29). Essas colunas eram construdas com
tijolos adequados, com seo circular, e denotam certo domnio tcnico e
de linguagem, como a ordenao eqidistante das distncias entre as
colunas, que dota a fachada de aspecto harmonioso. A variao dos
elementos que compem as colunas e capitis toscanos nas casas-
grandes revela um desprendimento em relao ao rigor do seu modelo
clssico, da ordem clssica toscana, uma caracterstica que se
apresentava j nas casas rurais portuguesas.
10 CARDOSO, Joaquim. Op.cit.,p.39-40.
-
17
Alm da influncia das casas rurais portuguesas, Joaquim Cardoso
levanta a hiptese de que essas colunas, nas casas do Rio de Janeiro,
tenham influncias das colunatas dos claustros conventuais, que para
isto teria infludo a instalao agrcola dos beneditinos na Baixada
Fluminense [Fazenda de So Bento, em Duque de Caxias], influncia
[que por sua vez] no deveria ter sido alheia ao processo construtivo
usado nos claustros franciscanos11.
Il.01. So Bento, RJ - fachada lateral
Il.02. So Bento, RJ - alpendre Il.03. So Bento, RJ - coluna
Tal suposio pertinente, j que essas colunas aparecem tanto
nos alpendres frontais como nos que circundam os ptios internos das
casas rurais, e muito se assemelham aos claustros das edificaes
religiosas. O histrico sobre a Fazenda de So Bento, levantado por
D.Clemente Maria da Silva-Nigra, atribui sua construo ao perodo entre
1754 e 1760 e, como provvel que este tipo de casa de alpendres no
11 CARDOSO, Joaquim. Op.cit.,p.39
-
18
date de poca anterior a 1750, bem possvel que a casa de Iguau
tenha sido o seu primeiro modelo12. Continuando sua teoria, Joaquim
Cardoso, acrescenta que:
No h a menor dvida de que esses alpendres receberam
influncia dos claustros franciscanos: basta compar-los
com o do Convento da Bahia [...] so as mesmas colunas
[do pavimento superior], os mesmos caibros serrados, as
prprias dimenses so quase idnticas. Alis, a origem
desses alpendres est muito distante no tempo. J no
sculo XV, no Palcio Strozzi, ele existia sobre colunas de
capitis corntios e repousando sobre meias-tesouras13.
Il.04. e Il.05 Claustro Convento So Francisco - Salvador
O ptio interno um dos elementos que, assim como o alpendre da
fachada, caracteriza a tipologia dessas casas. Esses ptios foram
solues que propiciaram aos cmodos internos iluminao natural,
aerao e ventilao, formando um ambiente climtico agradvel.
Os alpendres desses ptios tinham a mesma ateno despendida
ao alpendre da fachada frontal da casa, com colunas de inspirao
toscana. Os ptios internos aparecem como uma soluo arquitetnica,
amplamente adotada na arquitetura religiosa, civil e militar em quase
todas as pocas e culturas. Aparecem como claustros dos conventos,
jardins nas casas das quintas, solares e palcios portugueses e europeus, 12 CARDOSO, Joaquim. Op.cit.,p.17 e p.21 13 Id. Op.cit., p.23
-
19
em geral. Os ptios se consolidaram como padro nas residncias com o
impluvium romano. Aparecem nas casas orientais e tm seu esplendor
nas casas muulmanas. Aparecem tambm nas composies das aldeias
indgenas brasileiras. Todas essas ocorrncias, de forma direta ou
indireta, podem ser tomadas como referncia ao agradvel e funcional
ambiente que os ptios internos propiciam.
O ptio interno, alpendrado, funcionava como circulao, dando
acesso aos cmodos internos da casa, distribudos ao seu redor. Essa
distribuio define um partido centrado, voltado para um ncleo central da
casa. O corpo da casa, em forma de U ou O, delimitava-se em torno do
ptio interno alpendrado. No tipo de composio em O, o ptio central
circundado pelos cmodos da casa. No tipo em forma de U, o ptio
possui um dos seus lados abertos para a parte posterior da casa. A casa
da Fazenda do Viegas e a planta original de Coluband, j modificada,
so composies em forma de U. A casa de Coluband, no entanto,
hoje apresenta a formatao em O, assim como as casas da Fazenda
do Capo do Bispo e do Engenho da Taquara. A casa do Engenho
dgua apresenta um ptio interno situado na parte posterior do corpo da
casa, ligado a uma varanda e fechado por muros.
Em comparao com o tratamento dado aos alpendres das
varandas da fachada e do ptio interno, o corpo da casa apresentava um
tratamento mais austero, em geral com maior simplicidade construtiva,
chegando mesmo a uma certa rusticidade, com esquadrias sbrias e
ausncia de revestimento de materiais mais nobres. Os cmodos internos
possuam tetos em forro de madeira, paredes caiadas e piso em tbuas
de madeira ou lajotas. No aparecem nas casas remanescentes indcios
-
20
de decoraes mais elaboradas, como sancas trabalhadas ou pinturas
artsticas nas paredes e forros. Tal simplicidade, embora chegue
rusticidade, pode estar mais vinculada a um sentido de austeridade e a
um carter funcional do que idia de precariedade, uma vez que diferem
do esmero dado aos seus alpendres.
A estrutura compositiva, geomtrica e quadrangular, revela-se no
s na volumetria da casa e na sua fachada, mas tambm no partido
arquitetnico de plantas, no seu conjunto e na compartimentao dos
seus espaos internos.
A residncia, ou seja, a moradia em si, nessas casas, apresenta-se
num mesmo plano, exceo da casa do Engenho dgua, que possui
um cmodo em um segundo pavimento, uma camarinha. Nas casas do
Capo do Bispo, de Coluband e do Viegas, o pavimento trreo, em
pores parciais, era utilizado como depsito. Na parte frontal da casa,
sucedem-se varanda, cmodos do tipo alcova, destinados a hspedes,
e capelas, quando incorporadas ao corpo da casa. A distribuio interna
observada, na maioria dos casos, possui um eixo de simetria em relao
sala central, contgua ao alpendre.
A arquitetura dessas casas espelha seus valores formais
geometrizao, horizontalidade, austeridade e solidez o carter
pragmtico e funcional do homem de ento diante do espao colonial. Tal
carter, no entanto, no desprovido de requinte e valor esttico.
Na historiografia sobre as casas de fazenda de engenho no Rio de
Janeiro setecentista, predominam as descries de carter formal, que
definem uma tipologia caracterstica. Tais descries, no entanto, so
constantemente acompanhadas de citaes elogiosas, que se referem
-
21
inteno e fruio esttica presente nessa arquitetura, apesar das
restries tcnicas e materiais do seu contexto.14 Essa inteno plstica
indica tambm que na tipologia dessas casas foi adotado um padro
esttico. perceptvel nas suas composies formais e nos seus
elementos arquitetnicos, como na adoo das colunas de inspirao
toscana (uma das cinco ordens citadas no Tratado publicado no sculo
XVI, de Giaccomo Barrozzi da Vignola ordens toscana, drica, jnica,
corntia e compsita), bem como nos seus eqidistantes espaamentos,
uma tendncia a uma linguagem clssica, ou sob a influncia de um
repertrio formal de inspirao clssica.
Joaquim Cardoso cita a existncia de tal inteno na casa-grande
e na capela, que recebiam, quase na totalidade, um tratamento mais
cuidadoso, chegando mesmo a certo grau de apuro esttico, em que pese
a simplicidade dos meios construtivos15. Encontramos com Jorge
Czajkowski as mesmas observaes: as casas de fazenda, destacam-se
pelo seu tratamento arquitetnico mais cuidadoso em relao ao restante
do conjunto construdo dos engenhos, denotando, a despeito das
restries tcnicas, alguma inteno esttica em seus projetos16.
Lcio Costa conceitua Arquitetura como:
[...] construo concebida com o propsito de organizar e
ordenar plasticamente o espao e os volumes decorrentes,
em funo de uma determinada poca, de um determinado
meio, de uma determinada tcnica, de um determinado
programa e de uma determinada inteno17 e que a
14 Citamos os comentrios somente de dois autores com o intuito de tornar o texto repetitivo. No entanto, completam esse coro autores como Paulo Santos, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Augusto da Silva Telles e Lcio Costa, entre outros. 15 CARDOSO, Joaquim. Op.cit., p.10 16 CZAJKOWSKI, Jorge. Guia da arquitetura colonial, neoclssica e romntica no Rio de Janeiro. RJ: Editora Casa da Palavra; 2000. p.21. 17 COSTA, Lcio. Arquitetura. RJ: Editora Jos Olympio; 2002. p.21
-
22
ordenao plstica, a inteno plstica precisamente o
que distingue a arquitetura da simples construo18.
Ainda na sua conceituao, Lcio Costa afirma que tal inteno
plstica deve ser parte do processo de concepo da obra popular ou
erudita. Tal processo, que articula o seu programa e o seu partido
inteno plstica, pode ser percebido na arquitetura das casas-grandes
aqui estudadas. Os elementos arquitetnicos e suas composies
formais, que dotam essa arquitetura de um certo requinte e apuro
esttico, colocam-se como parte integrante da sua prpria composio
estrutural. No queremos colocar, com isso, a questo do valor da
ornamentao na arquitetura19. O que salientamos a existncia de uma
perceptvel escolha plstica no ato da concepo e da construo dessas
obras, e que, considerando a definio de Lcio Costa, essas casas so
obra de Arquitetura e no mera construo.
18 COSTA, Lcio, p.20 19 A ornamentao na arquitetura foi focalmente colocada em questo no final do sculo XIX e teve ampla repercusso na Arquitetura Moderna. Temos como expoentes desse questionamento Louis Sullivan e Adolf Loos. Sullivan, com o seu slogan a forma segue a funo em O ornamento na arquitetura (Chicago,1892), coloca a questo estrutura-superfcie, o ornamento como construo e, no como aplique, e preconiza que a ornamentao deve ser parte intrnseca do objeto, revelando significado e sendo, portanto, produo do fazer. essa linha de pensamento que encontramos na conceituao de Arquitetura de Lcio Costa. J Adolf Loos, em Ornamento e crime (Viena, 1908), condena a ornamentao, considerando-a, alm de perda de tempo de trabalho e material, um elemento elitista, injusto e ilegtimo, preconizando sua supresso.
-
23
Implantao sobre colina
Il.06. Fazenda Engenho dgua Il.07.Fazenda Capo do Bispo
Il.08. Fazenda do Viegas Il.09. Fazenda Coluband
Il.10. Fazenda da Taquara
A asadehabitao chamadapelos pretos casagrande, vasto ecustoso edifcio estava assentadanocimodaformosacolina,dondesedescortinava um soberbohorizonte. (Alencar, Jos de. Otroncodoip.P..7)
c
-
24
Varanda alpendre
Na Fazenda do Capo do Bispo, a varanda se estend capela (cmodo inserido no interior da casa) e ao sal
Na Fazenda de Coluband, a varanda se estende poNa fachada lateral esquerda, ela se integra ao ptio e prxima da casa-grande.
Il.15. Fazenda do Viegas - fachada frontal
Il.16. Fazenda do Viegas varanda frontal
Na Fazenda do Viegas, a varanda se estende por toda a fachada principal, d acesso ao salo central, alcova (quarto sem janelas) de hospedes, sem acesso ao interior da casa, e ao coro que servia de acesso exclusivo da famlia capela construda em prdio adjacente casa-grande
Il.11. Fazenda Capo do Bispo - fachada frontal Il.12. Fazenda Capo do Bispo varanda frontal
e por toda a fachada principal e d acesso antigao central.
Il.13.Fazenda Coluband - fachada frontal IL.14. Fazenda Coluband varanda frontal
r toda a fachada principal e pelas fachadas laterais. capela, construda em prdio independente, porm
-
25
Il.17. Fazenda da Taquara lado esquerdo da fachada frontal
Il.18. Fazenda da Taquara lado direito da fachada frontal
Na Fazenda da Taquara, a parte central da casa foi construda (acrescida) no sculo XIX, cortando a varanda original , que se estendia por toda a fachada principal.
Il.19. Fazenda Engenho dgua l
ua varanda posterior
rdo da casa) foi acrescida posteriormente o original, prolongando-se e fechando parte da varanda.
varanda frontaIl.20. Fazenda Engenho dg
Na Fazenda do Engenho dgua, a capela (do lado esqueconstru
-
26
Ptio interno Ptio interno - central
Il.21. Fazenda Capo
Na Fazenda do Capo do Bispo, o ptio interno mantm um agradvel ambiente
que nos remete aos claustros franciscanos,como refere
Joaquim Cardoso20.
do Bispo
Na Fazenda da Taquara, o ptio interno(central) mantm a varanda ao seu redorNo entanto, e diferentemente das demais
o tratamento dado s colunas no seassemelha ao da varanda da fachada. As
colunas so mais rsticas e de seoquadrada
. ,
. Il.22. Fazenda da Taquara
Il.23. Fazenda de Coluband
Na Fazenda de Coluband ainda sepercebe o antigo sistema de captao de
Ptio interno posterior
gua das chuvas no centro do ptiointerno, o que nos remete ao impluvium
das antigas casas romanas.
Il.24. Fazenda Engenho dgua -
Na Fazenda do Engenho dgua, o ptiono e
Varanda posterior
st inserido no corpo da casa, mas se
integra a mesma atravs da varanda posterior, como um quintal murado.
20 CARDOSO, Joaquim. Um certo tipo de casa rural do Distrito Federal e Estado do Rio de Janeiro.
-
27
Escadas externas
Il.25. Capo do Bispo
Il.26. Taquara Il.27. Coluband
Il.28. Viegas rampa lateral
-
28
Colunas
Inspirao ordem toscana
Il.31. varanda frontal banco entre colunas Il.32. ptio interno
Il.33. Capela copiar/alpendre
Il.34. Tijolos
luband Fazenda de Co
andas Il.29. varanda lateral Il.30. quina varfrontal e lateral
-
29
Capo do Bispo
Il.35. Varanda frontal Il.36. patio interno
Il.37. Fazenda do Engenho dgua - varanda
Il.38. Fazenda da Taquara - varanda
- varanda
a do ViegasIl.39. Fazend
-
30
Fazenda Capo do Bispo (Del Castilho)
cozinha suja
cozinha limpa
3 51
0 42 10
salo
capela
"vestbulo"
centralalpe
ndre
CAPO DO BISPO
ptio ternoin
alpe
ndre
escada externa
Il.40. Vista geral
Il.41. escada externa
Il.42. planta-baixa
Il.43. Ptio interno central
Il.44. Varanda frontal
-
31
Fazenda do Capo do Bispo: casa (Rio de Janeiro, RJ) Endereo: Avenida Suburbana, 4616, Del Castilho - Rio de Janeiro RJ Uso Atual:Centro Brasileiro de Estudos Arqueolgicos Propriedade: Governo do Estado do Rio de Janeiro Tombamento: Processo n0' 367-T, Inscrio n0 311, Livro das Belas-Artes, fl. 65 a 30 de agosto de 1947. Descrio: Casa de fazenda com as caractersticas das edificaes rurais setecentistas da rea em torno da Baa de Guanabara, isto , com larga varanda na fachada e ptio central, ambos providos de colunas toscanas de alvenaria de tijolos suportando o telhado em telha v, e o acesso por meio de escada no lado esquerdo da fachada. A escada lateral comunica ao conjunto im ade. Edifcio de grande simplicidade, com esquadrias de vergas arqueadas, revestimento liso e forro de acabamento simples. No
terior, capela com teto abobadado e balaustrada de madeira nas janelas, presentando um vo de trelia que a une ao vestbulo. A capela se localiza o corpo da casa com acessos para o seu interior e para a varanda.
istrico: A fazenda pertenceu a D. Jos Joaquim Justiniano Mascarenhas astelo Branco (1713-1805 Rio de Janeiro), o primeiro bispo do Rio de Janeiro
e foi edificado no final do sculo XVIII. Era sede de imensa propriedade rural foi um dos principais ncleos disseminadores de mudas de caf rumo ao interior, cujas plantaes representariam a base da economia na regio do Vale do Paraba durante o sculo XIX. Aps a morte do bispo, a propriedade transferida para seus herdeiros e com o passar dos anos parte de sua rea foi
a, ento abandonada, foi ocupada por vrias famlias de baixa renda e transformada em cortio. Na dcada de 1970 a casa, ento em pssimo estado de conservao e ameaada de
Administrao Estadual e em 1974, instalao do Centro de Estudos
Capo do Bispo. 1947. IPHAN tnico arquitetura civil e militar
1983. Centro de Estudos Arqueolgicos, uto de Arqueologia do Brasil, Rio de
ral do Distrito Federal e Estado do
da Casa da Fazenda do Capo do
na Antiga Fazenda do CapoFicha descritiva datilogra ada, junho de 1947. SPHAN.
SILVA, Andra Corra da. do Capo do Bispo: um legado aosabor do tempo. Dissertao Mestrado. RJ: ProArq/FAU/UFRJ; 2000. TELLES, Augusto Carlos da Silva. MonumNascimento et alii. Rio de Janeirodesenvolvimento da cidade. Rio de Janeiro.____________________________. tlas dos monumentos histricos e artsticos do Brasil. RJ: FENAME; 1975.
presso de integrid
inan HC
do sc.XX, a casloteada. Em meados
desmoronamento, foi desapropriada pelainiciada a sua restaurao para a Arqueolgicos do Rio de Janeiro. Autor do projeto: sem registro Fontes consultadas: Arquivo Noronha Santos. Fazenda ALVIM, Sandra P. de Faria. Inventrio arquite sculo XVIII. Municpio RJ. RJ: FAU/UFRJ; Catlogo da Exposio Arqueolgica, Governo do Estado da Guanabara, InstitJaneiro, s/d. CARDOZO, Joaquim. "Um Tipo de Casa RuRio", in Rev. da SPHAN, n." 7. COSTA, Lcio. Proposta de tombamentoBispo, 15 de maio de 1947. Arquivo do SPHAN. SANTOS, Noronha. Casa de Arquitetura Colonial do Bispo. f
Casa de Fazenda
entos tombados. In: Silva, Fernando em seus quatrocentos anos; formao e
1965. A
-
32
Fazenda Coluband (So Gonalo)
Il.45. Vista geral
capela
escadaexterna
COLUBAND1 53
0 2 4 10
ptiointerno
salocentral
alpendre
alcova alcova
Il.46. escada externa
Il.48. Ptio interno central
Il.49. Varanda frontal
-
33
Fazenda do Coluband: casa e Capela de Santana (So G ndereo: Av. Amaral Peixoto km 9,2 - Coluband, So Gonalo Rouco acima da Patrulha Rodoviria de Tribob, na estrada de Itabora. so atual: Sede do Batalho de Polcia Florestal e Meio Ambiente
Tombamento: Processo n021maro de 1940. Descrio: uma das mai Localizada sobre uma pequena estrada, a casa forma conjsepara as duas edificaes. Casa: Traada em tomo a quadra posterior foi demolida. Amplo avarandado na fre intercolnios, bancos e alegretes dispostos altern o radas. Destaca-se uma escada externa, de alvenaria. No interior da antiga residncia existe um poo de grande profundidade, que servia a seus moradores atravs d um sistema de canalizao surpreendente, avanado para a poca. Tetos apainela algumas dependncias. Corredores estreitos nos subterrneos, terminando em forma de abbada. Foram substitudas, com o passar do tempo, as grades dla do revestimento das varandas. No conjunto arquitetnico ainda existe a masmorra onde e gados. Capela: A capela ceiro perodo, com a imagem da padroeira no trono e as m nas ilhargas. Construda pelos jesutas, a capela guar actersticas originais. Possui, no frontispcio, duas janela olaterais porta de entrada. Nave em grade do arco cruzei dos. Altar-mor em talha dourada, paredes internas totalm portugueses, historiando as vidas de Sant'Ana e Santa Isabel ta de comunicao com a sacristia so de trelias. Ai enterrado Antnio de Souza Rezo, um dos vigri Histrico: A casa uma meados do sc. XVIII. A histria da fazenda incerta. Alguns nicialmente pelos jesutas que teriam construdo a cape primeiro proprietrio teria sido um cristo-novo, que conver mo em 1617 e que acabou preso pela inquisio em 1709. O nome oficial da propriedade era Fazenda Nossa Senhora de Monte Serrat, mas todos se referiam s terras como Fazenda Golan-Band,o que teria originado o nome atual Coluband. Para agradar Igreja, alm de se converter, o proprietrio ergueu a Capela de SantAna, inicialmente dedicada a N. Sra. de Monserrat, com altar folheado a ouro, azulejos portugueses. Sabe-se que a propriedade pertenceu ao Coronel Belarmino Siqueira, o Baro de So Gonalo e seus
propriada. Serviu posteriormente para di Gonalo e quartel da
ocupao. Aps a desapropriao a casa foi izadas pelo antigo proprietrio em
to foi restaurada em 1974/1975.
ALCNTARA, Dora M. S. Anais do Colquio luso-brasileiro de histriCARDOZO, Joaquim. "Um Tipo de Casa RevCARRAZZONI, Maria Elisa (org.) Guia dos bens tombados. RJ: Expresso e Cultura; 987. ELLES, Augusto Carlos da Silva. Monumentos tombados. In: Silva, Fernando ascimento et al m seus quatrocentos anos; formao e
desenvolvimento da cidade. Rio de Janeiro.1965. ____________________________. Atlas dos monumentos histricos e artsticos do Brasil. RJ: FENAME; 1975.
onalo, RJ)
Ep
.J. Localiza-se um
UPropriedade: Estado do Rio de Janeiro
2-T, Inscrio n0 285, Livro Belas-Artes, fl.49, a 23 de
s caractersticas e elogiadas casas do sculo XVIII.elevao do terreno, afastada cerca de 100 m da
unto com a capela anexa, do lado direito. Um ptio murado
de um ptio central, alpendrado, cujnte e nas laterais, com
adamente. Sobreleva-se um telhado c m sancas e bei
edos em
as janelas e as jotas de barro cozido
scravos e inimigos eram castiprovida de retbulo do ter
de So Jos e So Joaquida, at hoje, suas car
s do coro e duas janelas cro de balastres tornea
ente revestidas de azulejos . As janelas altas e a por
nda se encontra a sepultura onde foios da capela.
tpica edificao rural de autores citam a sua ocupao ila. Supostamente o seu teu-se ao catolicis
descendentes at 1968, quando foi desaversos fins, inclusive como sede do Country Clube de So
Polcia Rodovirio, at a sua atualrestaurada, revertendo algumas intervenes real1940 e a capela, at ento, usada como depsi
Autor do projeto: sem registro
Fontes consultadas: Arquivo Noronha Santos. Coluband. 1940. IPHAN
A Fazenda de Coluband em So Gonalo e seus azulejos. In: a da arte. Vol.I; RJ: 2004.
Rural do Distrito Federal e Estado do Rio", in. da SPHAN, n." 7.
1TN ii. Rio de Janeiro e
-
34
Engenho dgua
(Jacarepagu)
Il.53. Varanda frontal Il.54. Fachada principal
4
31
0 2
5
10
5
40 2
1 3
10
Il.52. Varanda posterior
Il.51. planta-baixa
Il.50.Vista geral
-
35
Fazenda do Engenho d' gua: casa (Rio de Janeiro, RJ Endereo: Estrada do 9, Jacarepagu - Rio de Janeiro RJ Propriedade: particu Tombamento: SPHA o do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, atual Instituto (IPHAN : Processo n0 85-T, Inscrio n0 95, Livro histrico fl. 17 e Inscrio n0 198, Livro das Belas Artes, fl.34 a 30 de julho de 1838. Descrio: Casa de XVIII, constituda de construo trrea, com sobrado parcial formando mirante. Possui avarandados na fachada frontal, com escada ao centro e colunas cilndricas com capitis de forma quadrangular, cobertura em telha v e na dos fundos;
da casa j descaracterizada no seu esquadrias originais. Muitos do tijoles da
sentam a marca antiga "Engenho dgua", e nos acesso a este avarandado existem azulejos azuis e
um castelo.
roa portuguesa, com o intuito de incentivar a o do acar no Bra entava os senhores de engenhos do
pagamento de tributos, o que contribuiu para a ocupao da regio de Jacarepagu, que c
nho dgua. egundo o Santurio Mariano de Frei Agostinho de Santa Maria, j existia a
priedade, com ermida dedicada a Nossa Senhora da Cabea, cujo fundador sido Rodrigo da Veyga. Aps a morte deste, a propriedade foi vendida a dor Correa de S e Benevides, governador do Rio de Janeiro em 1637.
m meados do sculo XVIII o corpo da casa construdo por Jos Roiz de rago, quando este aforou a fazenda. m 1779, a fazenda, ento em nome do quarto Visconde de Asseca descendente de Salvador de Correia de S e Benevides), possua 30 escravos produzia, segundo o relatrio anual, 18 caixas de acar e 14 pipas de guardente. inda no sculo nha grande influncia no Rio de Janeiro e ossuam tambm as fazendas de Camorim, antigo engenho, e as da Vargem
m Grande. m meados de sculo a rea da casa da fazenda, ento desmembrada, assou a pertencer ao Comendador Francisco Pinto da Fonseca, proprietrio mbm das fazendas da Taquara, dos Engenhos de Fora, Pau Fome e Unio,
Francisco Pinto da Fonseca Telles, o Baro da Taquara.
utor do projeto: sem registro
Fontes consultadas: Arquivo Noronha Santos. Fazenda de 1945, IPHAN. ALVIM, Sandra P. de Faria. Invent sculo XVIII. Municpio RJ. RJ: FABARRETO, Paulo Thedim. Ficha deCARDOSO, Joaquim. Um Tipo de Rio. In: Revista da SPHAN n.7. TELLES, Augusto Carlos da Silva. Monumentos tombados. In: Silva, Fernando Nascimento et alii. Rio de Janeiro em seus quatrocentos anos; formao e desenvolvimento da cidade. Rio de Janeiro.1965
ricos e artsticos do Brasil. RJ: FENAME; 1975
)
Capo, 347lar
N (Servi))
engenho de acar do sculo
a capela domstica fica esquerda interior, conservando apenas as varanda principal apreespelhos dos degraus debrancos, com a representao de Histrico: No sculo XVII, a Co
sil, isprodu
hegou a ser conhecida como regio dos onze engenhos, entre os quais o EngeSprohaviaalvaS
EAE(eaA XIX, a famlia S tipPequena e VargeEptaherdadas por seu filho A
do Engenho d'gua, cpia datilog. datada
rio arquitetnico arquitetura civil e militar U/UFRJ; 1983.
scritiva datilog., datada de 1938, SPHAN. Casa Rural do Distrito Federal e Estado do
,
____________________________. Atlas dos monumentos hist
-
36
Fazenda do Viegas (Senador Camar)
31
0 2
5
4 10
Il.58. Rampa externa lateral
Il.55. Vista geral
Il.57. Varanda frontal
Il.56. planta-baixa
-
37
Fazenda do Viegas: casa e capela (Rio de Janeiro, R Endereo: Rua Marmiari, 221, Senador Camara - Rio de JEstrada Rio So Paulo, na alt ra de Santssimo. Propriedade: Prefeitura Municipal Tombamento: Processo n0
22; a 14 de junho de 1938. Descrio: Pertence Guanabara, onde a caracterstica toscanas de alvenaria. coro, existe a capela, com acesso j muito descaracterizada. Se de
m para as varandas. uma "das expresses mais
Brasil colnia. Forma com o d'gua e o da Taquara as trs casas-grandes com capela que nos restam da poca colonial". Planta tpica de habitao rural brasileira do fim da poca colonial, ampla, de um s pavimento, coberta por um telhado com quatro guas, das quais duas se prolongam lateralmente para cobrir as dependncias do ptio dos fundos. A pequena varandportuguesa, e a capela agregada a um dos ngulos da construo quebram a simplicidade do casaro. Apresenta disposio simtrica. Histrico: A poca provvel da construo da casa data de meados do sculo XVIII, embora a propriedade seja citada em documentos desde o incio do mesmo sculo. Segundo Augusto da Silva Viegas no est vinculada a nenhum fato histrico memorvel, nem pertenceu a figura que tenha-se destacado na poltica, economia ou em qualquer outra rea de atividade. Em 1940/1941 a casa foi restaurada pelo SPHAN (atual IPHAN). Autor do projeto: sem registro Fontes consultadas: Arquivo Noronha. Casa da Fazenda do Viegas, 13 jun. 1938. IPHAN. ALVIM, Sandra P. de Faria. Inventrio arquitetnico arquitetura civil e militar sculo XVIII. Municpio RJ. RJ: FAU/UFRJ; 1983. BARRETO, Paulo Thedim. Ficha descritiva datilografada, 1938. Arquivo Noronha Santos do S