a atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais
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FÁBIO AUGUSTO SCARPIM
“A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais dos imigrantes italianos e descendentes em Campo Largo, Paraná;
(1899-1920)”
CURITIBA
2004
FÁBIO AUGUSTO SCARPIM
“A atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais dos imigrantes italianos e descendentes em Campo Largo, Paraná;
(1899-1920)”
CURITIBA 2004
Monografia de bacharelado, apresentado ao departamento de História, Setor de Cências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof.° Dr.° Sérgio Odilon Nadalin
“Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz”
(Rousseau)
AGRADECIMENTOS
- Ao professor Sérgio Odilon Nadalin, pelo apoio e orientação;
- A casa paroquial de São Sebastião, em especial a Silmara e ao padre Sextílio, pela colaboração para com as fontes;
- Aos meus familiares e amigos, que de alguma forma, colaboraram para
a realização desse trabalho;
SUMÁRIO
Introdução:............................................................................................................................1
1. Fontes e métodos...............................................................................................................3
1.1 As fontes: os registros de batismo e os registros de casamento........................................3
1.2 O acervo da paróquia de São Sebastião............................................................................5
1.3 O problema........................................................................................................................7
1.4 Métodos e técnicas............................................................................................................9
2. Da Itália ao Paraná: a trajetória dos imigrantes rumo a Campo Largo
2.1 O Brasil no contexto das grandes migrações..................................................................14
2.2 A Itália emissora.............................................................................................................17
2.3 Imigrantes italianos no Paraná........................................................................................20
2.4 O município de Campo Largo e as colônias de imigração italiana.................................26
2.4.1 As colônias...................................................................................................................28
2.5 A capelania Curada e a criação da paróquia de São Sebastião.......................................29
3. Atribuição de nomes de batismo
3.1 O nome enquanto signo de identidade étnica..................................................................33
3.2 Categorias de influências nos prenomes dos imigrantes italianos de Campo Largo......34
3.3 Os prenomes mais freqüentes.........................................................................................44
Conclusão............................................................................................................................50
Referências.........................................................................................................................52
RELAÇÃO DE ANEXOS
1. Limites territoriais da Paróquia de São Sebastião
2. Relação completa da frequência dos prenomes masculinos
3. Relação completa da frequência dos prenomes femininos
4. Relação completa da frequência dos prenomes masculinos combinados
5. Relação completa da frequência dos prenomes femininos combinados
RESUMO
A presente monografia teve por objetivo, analisar como um grupo de imigrantes italianos atribuíam nomes de batismo aos seus filhos. Assim, nosso espaço de investigação é constituído pelas colônias italianas de Campo Largo, Paraná, num recorte temporal abrangido pelos anos de 1899 a 1920. As fontes que possibilitaram tal análise foram os registros paroquiais (atas de batismo e casamento) do acervo da Paróquia de São Sebastião (Campo Largo, PR). A documentação, depois de arrolada, foi sistematizada segundo a metodologia de reconstituição de famílias (Louis Henry). Num primeiro momento foi montada a metodologia para trabalhar com os dados. Posteriormente, no segundo capítulo contextualizamos a trajetória dos imigrantes da Itália a Campo Largo. Finalmente, com a sistematização das fontes, analisamos a freqüência dos prenomes, assim como as possíveis influências na atribuição dos mesmos no momento do batismo. As análises foram feitas distinguindo meninos e meninas, diferenciando de modo igual dois períodos (1899-1910; 1911-1920). Tendo em vista a ocorrência significativa de associações de prenomes, a primeira estratégia utilizada foi trabalhar as variáveis de modo independente, embora também tenham sido realizados alguns ensaios no sentido de analisar as combinações. Quanto às categorias de influências, tanto para os prenomes únicos como combinados, os resultados obtidos mostram os principais valores da vida social desses imigrantes, relacionados à família e ao sentimento religioso. Após a elaboração das categorias de influências, foram distribuídos os batismos conforme a categoria em que se enquadrava cada prenome. Como resultado, utilizando principalmente as fichas de famílias abertas como a ata de casamento, verificamos que na maioria dos casos, enquadramos as crianças em uma das influências. Tanto para os prenomes femininos como masculinos, verificamos que a homenagem aos avós (paterno e materno) foi a mais recorrente. Para os nomes de batismo combinados, para ambos os sexos, também percebemos que a influência dos avós (combinações dos prenomes dos dois avós), foi predominante. Quanto a freqüência dos prenomes, verificamos que a maioria utilizada no batismo, tanto para os meninos quanto para as meninas, são emprestados de um mesmo estoque cultural. Muitos prenomes que estão entre os mais recorrentes podem ser diretamente associados ao sentimento religioso (referência aos santos). Concluindo, percebemos que, através da nominação no batismo, os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo deixam implícito a manutenção de valores étnicos e culturais oriundos do seu local de emigração.
INTRODUÇÃO
A presente monografia teve por objeto de análise um grupo de imigrantes italianos.
O tema da imigração que motivou nosso estudo, apesar de bastante explorado pela
historiografia, e estudado sob vários enfoques, ainda pode gerar muitas análises pertinentes
no que se refere a questões políticas, econômicas, sociais, demográficas, étnicas e culturais.
O nosso enfoque está pautado em questões culturais e étnicas, ou seja, como
determinados valores dessa população imigrante se comportam frente à sociedade
receptora. Dessa forma, é a questão dos contatos culturais que inspirou a realização da
pesquisa que está sendo relatada nesta Monografia. O signo que se constituiu como objeto
de análise, para verificarmos essa relação entre a cultura imigrante e a cultura local, são os
prenomes. Ou melhor, o que serviu como definição da problemática da pesquisa refere-se a
uma questão: como os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo atribuíam
nomes de batismo aos seus filhos, e como esse caráter cultural manifestava-se no grupo
recém-instalado.
Buscamos realizar nossas análises por meio dos registros paroquiais de casamento e
batismo, obtidos na Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo, Paraná; e do
uso parcial da metodologia de reconstituição de famílias proposta por Louis Henry e
adaptada pelo Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Assim, o
presente trabalho pretendeu apresentar resultados referentes à verificação de questões
étnicas e culturais implícitas na transmissão do nome ao longo das gerações. Tais questões
apresentam-se travestidas de múltiplos significados, que revelam importantes reflexões
acerca das permanências culturais, do choque entre a cultura migrante e a local, assim como
o processo de assimilação e o estabelecimento de novas fronteiras.
O espaço que delimitamos nossa pesquisa é o constituído pelas colônias de
imigrantes italianos de Campo Largo (Antônio Rebouças, Rondinha, Mariana, Balbino
Cunha e Timbotuva). Tais colônias começam a se formar no final da década de 1870.
Com um número significativo de indivíduos, vão contribuir de forma considerável na
composição étnica do município. Nesse sentido, contextualizamos a imigração num espaço
mais amplo, o de sua trajetória da Itália até o Paraná.
Estabelecidos no município, esses imigrantes constituíram famílias com muitos
filhos, e em curto espaço de tempo a presença italiana já era bastante expressiva. Nessa
direção, organizaram-se religiosamente, construindo suas capelas, e em poucos anos é
criada a paróquia de São Sebastião na colônia de Rondinha.
A escolha por esse espaço também reflete a idéia de buscar as mudanças de uma
cultura local ,de pensar como muitos aspectos dessa herança italiana se mantém, o que
mudou, e como mudou. Além disso, a idéia de tentar ver o processo de inserção desses
imigrantes na sociedade local, enquanto parte de um processo de mudanças da sociedade
brasileira.
O recorte temporal abarcado em nosso estudo está diretamente ligado à
disponibilidade das fontes. A baliza inicial está relacionada a primeira ata de casamento
disponível no acervo da paróquia, ou seja, 1899. Nesse sentido, o levantamento dos
registros, tanto de batismos como de casamentos, tomaram como ponto de partida essa data.
Estabelecemos como marco final 1920, ou seja, adotamos como critério o período de duas
décadas. Tomamos tal decisão, visto que a quantidade de registros a ser levantada seria
bastante expressiva se prolongássemos em mais uma década nosso recorte, não havendo
tempo suficiente para levantamento e análise de toda essa documentação. O ano que temos
como referência inicial de arrolamento das fontes (1899), a população das colônias já se
encontra praticamente estabelecida, ou seja, está estagnando a chegada de imigrantes
italianos nessa região.
Após o arrolamento dos registros paroquiais, a documentação foi disposta em fichas
de famílias e, na seqüência, foram sistematizados os resultados em função dos objetivos de
investigação. Elaborada essa metodologia, procuramos estabelecer uma linha explicativa
para as possíveis formas de nomeação, assim como para os resultados encontrados. Por esse
meio, objetivamos buscar elementos que demonstrem a permanência de um patrimônio
cultural e familiar que acompanha o movimento migratório desses italianos.
CAPÍTULO I
Fontes e Metodologia
1.1 As fontes: os registros de casamento e os registros de batismo.
Em 24 de setembro de 1904 casaram-se, na então capela de São Sebastião, colônia de
Rondinha, Angelo Mason e Assunta Maria Rinaldin. Ele, morador da mesma colônia,
solteiro, filho do falecido João Baptista Mason e de Mariana Gerardi, nascido na diocese de
Treviso no dia 18 de julho de 1882, então com 22 anos. Ela, moradora da colônia do Rio
Verde, solteira, filha do falecido Antônio Rinaldin e de Daniela Fregroso, nascida também
na Diocese de Treviso em 28 de agosto de 1886, então com 18 anos. Foram testemunhas do
casamento Bortolo Berton e Luigi Ceccato.
Cerca de 10 meses depois (em 29 de junho de 1905), Angelo e Assunta batizaram
seu primeiro filho (Mariana Daniela), na capela de N. Sra da Anunciação, colônia Rio
Verde,1 provável local onde moravam. No decorrer da década de 1900 nascem mais três
filhos do referido casal: Teresa (18/06/1906), João (19/09/1907) e Antônio (29/04/1910).
Na década seguinte eram batizadas mais quatro crianças: Maria (10/07/1913), Daniela
(02/07/1915), Carmela (16/07/1917) e Rosa (14/08/1919).2
Se prosseguíssemos mais adiante no tempo, encontraríamos, talvez, o casal
batizando outros filhos, assim como seus filhos batizando seus netos. Usamos esse caso
como exemplo para mostrar as informações que podemos obter a partir dos registros
paroquiais, pois, a partir deles, podemos reconstituir famílias inteiras. Além disso, essa
fonte é de suma importância para resgatarmos informações sobre a vida social da gente
comum, já que é através do batismo que o indivíduo tem seu primeiro registro enquanto
sujeito pertencente aquela comunidade.
Para ilustrar o que dissemos, vejamos a transcrição de uma ata de casamento:
1 O nome Rio Verde, é o nome que mais aparece nos registros para a colônia. Mas tanto nos documentos eclesiásticos como em documentos oficiais da época aparece o nome Colônia Mariana, que é o nome da região. 2 A data colocada ao lado do nome de cada filho(exceto Mariana Daniela) refer-se a data de nascimento e não a data de batismo.
ATA DE CASAMENTO
“ No dia vinte e quatro de septembro de mil novecentos e quatro, eu padre João Baptista Borgia na Igreja de Rondinha, uni em matrimônio Mason Angelo, filho do defunto João Baptista Mason e da vivente Gerardi Marianna, nascido no 1882 aos 18 de julho em Torrecelli, Diocese dde Treviso, agora residente na colonia de Rio Verde
com Assunta Maria, filha do defunto Antonio Rinaldin e da vivente Daniela Fregonese em Zenson de Pione, diocese de Treviso no anno de 1886 aos 28 de agosto, agora residente na colônia de Rondinha.
Padrinhos: Bortolo Berton e Luigi Ceccato. Paroco João Baptista Borgia”
Nas atas de casamento dos imigrantes italianos obtemos os seguintes dados:
Para 1° casamento
• Nome do noivo; • Nome da noiva; • Nome dos pais do noivo; • Nome dos pais da noiva; • Nome das testemunhas ou padrinhos; • Localidade que moravam os conjuges; • Local onde nasceram os conjuges; • Data de nascimento ou idade dos conjuges; • Local de celebração do matrimônio; • A hora da celebração (em alguns casos); • Data do casamento (dia, mês e ano);
Para casamentos em que um dos cônjuges era viúvo, temos as mesmas informações acima,
acrescidas do nome do conjuge anterior; em alguns casos, quando se tratava de pessoas
mais velhas, não aparecia o nomes dos pais do nubente que era víuvo.
Os registros de batismo, geralmente, trazem menos informações que o casamento. Vejamos
a transcrição de uma ata de batismo, para visualizar seu conteúdo:
ATA DE BATISMO
“ No dia vinte de junho do anno de mil novecentos e cinco na Egreja do Rio Verde batptizei e pus os santos oleos a inocente Mariana Daniela, nascida no dia onse de junho do corrente anno, filha legitima de Angelo Mason e Assunta Rinaldin foram padrinhos Luiz Ceccato e Maria Zampieri.
Padre João Borgia vigario”
Para os registros de batismo, as informações obtidas são:3
• nome do batizado; • nome dos pais; • nome dos avós da criança (somente em alguns casos); • nome do padrinho e da madrinha; • se é filho legítimo ou filho natural; • data de nascimento; • data de batismo; • local do batizado; • nome do padre.
Tomando por base as informações encontradas nos registros de casamento e batismo, é
possível responder a uma série de questões culturais e sociais sobre a população que
estamos estudando. Entretanto, nos deteremos no aspecto que constituiu o eixo de nossa
análise, ou seja, a nominação no batismo.
Pelos registros de casamento e de batismo, para o período estudado, utilizando a
metodologia de reconstituição de famílias, obtivemos os prenomes de indivíduos de três
gerações. Como nos exemplos acima, pelo casamento, identificamos os nomes da
“primeira geração”, ou seja os pais dos noivos (os avós): João Baptista e Mariana, Antonio
e Daniela , e a “segunda geração”, ou seja, os noivos (pais): Angelo e Assunta Maria. Com
os registros de batismo obtemos a “terceira geração” ,ou seja, os filhos dos noivos (netos),
como Mariana Daniela e outros.
1.2 O acervo da Paróquia de São Sebastião
Para o recorte estabelecido (1899-1920), foram utilizados documentos obtidos de
dois livros de casamento e três livros de batismo. Todos os livros estão bem conservados,
são manuscritos e legíveis (salvo algumas exceções). Geralmente os registros estão em
ordem cronológica e sem variação de conteúdo. Os livros utilizados, levam termo de
abertura no início , e termo de encerramento no final do mesmo.
Para o período estudado, estão assim distribuídos:
3 Para os registros arrolados, consideramos aqueles em que pelo menos o pai ou a mãe era descendente de italiano. Portanto , foi encontrado apenas um registro de filho não legítimo, ou seja, filho natural.
Tabela 1 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo.
Livros de Batismos levantados e arrolados, 1899-1920.
Número do Livro Período Número de Registros Atas arroladas*
3 1899-1903 340 295
4 1903-1907 330 260
5 1907-1924 1632** 1250**
Total 1899-1920 2302 1805
* Atas nas quais consta pelo menos o nome de um pai ou de mãe descendente de italianos ** Até 1920
Tabela 2 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo.
Livros de Casamentos levantados e arrolados, 1899-1920.
Número do Livro Período Número de Registros Atas arroladas*
1 1899-1914 201 180
2 1914-1936 138** 113**
Total 1899-1920 339 293
* Atas nas quais consta pelo menos o nome de um pai ou de mãe descendente de italianos ** Até 1920
1.3 O problema
Em setembro de 18904 desembarcam no porto de Paranaguá mais uma família
imigrante, dentre as dezenas que haviam chegado ao Paraná. Pietro Scapin e Rosa Sartori,
juntamente com seus filhos Cesare, Giovanni, Vittore, Mellania, Catherina e Clarinda são
oriundos da Comune di Torrebelvicino, província de Vicenza, norte da Itália. Tendo em
vista o panorama pela qual passava o referido país, sua origem provável remete aos muitos
pequenos proprietários que estavam enfrentando uma difícil situação econômica, provocada
pelas transformações do sistema capitalista do final do século XIX. Tal situação, os obrigou
a buscarem novas alternativas de vida, sendo a América seu destino. Chegados ao Paraná,
foram instalados na colônia Mendes de Sá,5 no município de Campo Largo. A colônia onde
foram instalados, criada desde 1885, por iniciativa do Comendador João Mendes de Sá, era
a maior e de localização mais central do município.
Ainda na década de 1890 o casal teve mais quatro crianças, nascidas em Campo
Largo; Adelaide (1891), Maria (1894), Margheritta (1895) e Anna (1898). Seus primeiros
netos começaram a nascer antes do final da década de 1890, um ano após o nascimento da
última filha. Na década de 1900 são contabilizados 12 batizados de netos do casal,6 sendo
sete meninos e cinco meninas; dois dos sete meninos receberam o nome do avô (Pietro),7 e
duas das cinco meninas receberam o nome da avó (Rosa ).
Para o período de 1911 a 1920 foram computados 33 netos, dos quais 16 são
meninos e 14 meninas. De acordo com os registros paroquiais, dos batizados do sexo
masculino, três receberam o nome do avô (Pedro na versão “aportuguesada”) e um recebeu
o nome Pietro (na versão italiana). Das meninas, quatro receberam o prenome da avó
(Rosa) e uma o prenome “Pierina”, que se relaciona ao nome do avô Pietro. Percebe-se,
nesse exemplo, a influência dos nomes do casal pioneiro enquanto avós paternos e
maternos. Nos demais prenomes dos netos de Pietro e Rosa, tanto da primeira década
quanto da segunda, verifica-se a homenagem a todos os avós:8 (Bernardo, Maria, José,
Magdalena, Francisco, Ermenegilda, João, Elia, Jacomo, Antônio, Geovanna). Além disso,
4 Arquivo Público do Paraná, Registro de desembarque de imigrantes italianos. Livro Tombo 428 e 455. 5 Devo salientar que o nome Mendes de Sá, é a referência mais recorrente que aparece nas fontes O nome atual é Rondinha. 6 O número de doze, está incluído um neto do casal nascido em 1899. 7 Nas fontes encontramos o nome Pietro na versão aportuguesada (Pedro). 8 Quando falamos de todos os avós, estamos nos referindo aos pais dos conjuges dos filhos de Pietro e Rosa.
encontram-se crianças batizadas com nome dos padrinhos, dos tios9 e dos santos de
preferência dos imigrantes italianos.
Dessa forma, estão presente muitos nomes de batismo oriundos de um mesmo
estoque cultural de prenomes, seja na sua versão original (italiana) como Antônio, Carlo,
Magdalena, Rosa, Pietro, Jacomo ou na forma “aportuguesada”, tais como João ,José,
Francisco, Madalena, Teresa. Através desse caso singular, assim como outros analisados
nas fontes, percebeu-se na linhagem em questão uma forte preocupação em se atribuir aos
primeiros netos, os prenomes do avô e da avó.10 Nessa direção observa-se, que a reação
cultural desse grupo imigrante, nos primeiros tempos de sua vida no Brasil, foi
principalmente, no sentido de preservação de sua identidade étnica.
Prosseguindo com a linhagem em questão, observemos agora a descendência de um
dos filhos de Pietro e Rosa. Cesare Scapin, como foi mencionado, nasceu na Itália em
07/02/1882, chegando ao Brasil com 8 anos de idade em 30/07/1910. Com 28 anos de idade
casou-se com Angela Carlesso, filha de Bernardo Carlesso e Maria Zanin. O primeiro filho:
Pedro, nascido 10 meses após o matrimônio, recebeu o prenome do avô paterno. No
decorrer da década de 1910 a 1930, nasceram mais oito filhos: Bernardo, Carlo, Rosa,
Maria, Augusto, Antônio, Albino e Domingos. Nesse conjunto de nove nomes de batismo
está presente a memória ou a lembrança de todos os avós (Pedro e Rosa: ascendência
paterna) e (Bernardo e Maria: ascendência materna). A partir da década de 40, esses
indivíduos estarão casando e batizando seus filhos.11 Dentre os netos de Cesare, são
contados 37, cujo nascimento estão espalhados pelas décadas de 30 a 60. Como esse
período não faz parte de nossa pesquisa, não analisamos os prenomes dessa geração. Mas
percebe-se que se configurou, na mesma, uma diversificação do conjunto de prenomes,
apesar de ainda aparecer a influência familiar (avós,tios e padrinhos), além da ligação com
o sentimento religioso (nome de santos). Tais mudanças podem estar diretamente ligadas ao
contexto vivido, ao crescimento populacional e urbano do município, ao surgimento dos
meios de comunicação nos domicílios familiares (rádio), e a dispersão desses descendentes
por várias outras regiões de Campo Largo, além de uma maior integração cultural,
9 A presença do nome dos tios atribuído aos batizados é possível de se verificar em certos casos,porém para trabalhar essa variável de forma mais concreta dependeríamos de outras fontes, que no momento não estão ao nosso alcance, porisso essa opção talvez não seja abordada. 10 A análise das fichas de famílias para o período estudado, tanto para os meninos como para as meninas, percebeu um certo equílibrio entre a presença dos prenomes dos avós maternos e dos avós paternos atribuídos aos netos. 11 Destaca-se aqui que a descendência de Pietro e Rosa não está totalmente concentrada dentro da área territorial da paróquia, muitos se mudaram para regiões vizinhas e até mesmo outras cidades.
aumentando assim os contatos étnicos. Esse processo se intensifica na geração
seguinte, em virtude dessas mudanças.
Tudo indica, portanto, que o nome pode ser um elemento de identidade, ou mesmo,
de diferença. No caso dos imigrantes italianos, pode revelar-se como um caráter de
distinção, uma forma de restituir os laços culturais da sociedade emissora .
“Um indivíduo, ao imigrar, reconstrói suas relações com a sociedade que ele
deixou para trás, em função da natureza dos contatos que estabelece com a sociedade
receptora; em função, de modo igual, do confronto com as novas oportunidades geradas
por um ambiente diferente”.12 São esses elementos, de conservação e de integração
cultural, que essa pesquisa pretendeu analisar, refletindo através da nomeação no momento
do batismo.
1.4 Métodos e técnicas.
Para a elaboração desse trabalho, como foi dito acima, foram arrolados
exaustivamente os registros de casamento e batismo de um período que vai de 1899 a 1920,
considerando-se todos os registros em que pelo menos um dos indivíduos envolvidos tenha
ascendência italiana. Nesse sentido foram arroladas 1805 atas de batismos e 293 de
casamento, perfazendo um total de 2098 registros. Os registros de casamento foram
lançados diretamente em fichas de famílias, onde obtivemos os prenomes referentes a duas
gerações (os pais dos noivos, que em sua maioria tinham nascido na Itália, e os noivos,
alguns nascidos na Itália e outros filhos de imigrantes).
Para os batismos, foram elaborados dois grupos de fichas: o primeiro refere-se aos
filhos dos casais que obtivemos a ata de casamento13, em que temos: os pais dos noivos e
os noivos, informados pelo registro de matrimônio, e seus filhos batizados até 1920,
informados pelo registro de batismo e arrolados conforme ordem cronológica, além do
nome dos padrinhos de cada criança. Essas fichas são chamadas: fichas “M”
O segundo grupo arrola os filhos de casais cujo casamento ocorreu antes do ano
estabelecido como marco inicial da pesquisa, ou que não celebraram seu matrimônio na
12 NADALIN, Sérgio & BIDEAU, Alain. 2001: p.5 13 Para algumas fichas de casamento não obtivemos batizados, provavelmente pelo fato desses casais terem mudado de paróquia após o matrimônio.
paróquia. Para cada registro de batismo em que não tínhamos a ficha aberta pela ata
de casamento, foi aberta outra, iniciando pelo registro mais antigo e acrescentado os irmãos
em ordem cronológica, conforme apareciam na documentação. Para esse grupo, temos
somente os nomes dos batizandos e seus pais, além do nome dos padrinhos de cada criança,
ou seja, informações a respeito de duas gerações. Essas fichas são chamadas: fichas “E”
Analisando principalmente os batizados do primeiro grupo, foi possível elaborar
uma listagem das possíveis influências na atribuição dos nomes. Num primeiro momento,
analisamos cada prenome separadamente, pois, um segundo momento, separamos os casos
de prenomes combinados, para qual elaboramos outra relação. As listagens abaixo
sintetizam essa idéia.14
A - Origem provável do nome da criança – prenome único
1. Nome dos pais
1.1 nome do pai (ou, sua versão feminina);
1.2 nome da mãe (ou, sua versão masculina);
2. Nome dos avós
2.1 nome do avô paterno (ou, sua versão feminina);
2.2 nome do avô materno (ou, sua versão feminina);
2.3 nome da avó paterna (ou, sua versão masculina);
2.4 nome da avó materna (ou, sua versão masculina);
3. Nome dos padrinhos
3.1 nome do padrinho (ou, sua versão feminina);
3.2 nome da madrinha (ou, sua versão masculina);
4. Nomes de devoção
4.1 Santos/Santas próximo do dia de batismo ou nascimento;
4.2 Santos/santas padroeiros da paróquia e capelas das colônias;
5. Outra origem
B - Origem provável do nome da criança – prenomes combinados
1. Combinação do nome dos pais e avós:
14 É importante ressaltar, que a listagem refere-se a todas as possíveis influências na atribuição dos nomes, não qurendo dizer que necessariamente apareceram todas as categorias, quando forem estas forem contabilizadas
1.2 Pai e avô materno;
1.3 Mãe e avó paterna;
1.4 Mãe e avó materna;
2 Combinação do nome dos avós;
3 Combinação do nome dos pais e padrinhos;
4 Combinação dos avós e padrinhos;
5 Combinação do nome dos pais e nome devocional;
6 Combinação do nome dos avós e nome devocional;
7 Combinação do nome dos padrinhos e nome devocional;
8 Combinação do nome dos pais e outro nome;
9 Combinação do nome dos avós e outro nome;
10 Combinação do nome dos padrinhos e outro nome;
11 Combinação do nome devocional e outro nome;
Para sistematização dos resultados obtidos, e tendo em vista as possibilidades acima,
elaboramos tabelas para organizar grupos de influências. Tais grupos, procuraram
responder de que forma os indivíduos em questão mantém ou não uma prática cultural que
se expressa no nome. Para visualisar se houve mudanças, dividimos o período estudado em
duas fases . A primeira corresponde aos anos de 1899-1910, e a segunda aos anos 1911-
1920. A análise dos resultados se pautará pela frequência dos prenomes, e a disposição dos
mesmos, segundo grupos definidos a partir dos resultados obtidos dessa listagem.15 Tais
idéias podem ser melhor visualisadas nas tabelas que se seguem.
15 No capítulo refrente a análise dos resultados, todas as tabelas sobre influências na atribuição e frequência dos prenomes, serão separados os meninos das meninas, assim como 1° período, 2° período e contagem total.
Tabela 3 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo; grupos de influências na atribuição dos prenomes únicos.
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4
Influência Paterna
Influência Materna
Influência cultural
e/ou religiosa
Outros
1.1 Nome do Avô paterno
2.1 Nome do Avô Materno
3.1 Nome do santo próximo do dia de nascimento ou batismo, ou padroeiros das colônias
1.2 Nome da Avó paterna
2.2 Nome da Avó materna
3.2 Nome do padrinho
1.3 Nome do pai 2.3 Nome da mãe 3.3 Nome da madrinha
1.4 Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó paterna
2.4 Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna
1.5 Neta c/ nome na versão feminina do nome do avô paterno
2.5 Neta c/ nome na versão feminina do nome do avô materno
Com essa sistematização pudemos fazer algumas considerações a respeito dos
resultados obtidos, tais como: a ascendência paterna tem maior influência que a materna na
nomeação? Ou elas se equilibram? Existem variações entre os dois períodos? Qual dos
grupos tem maior predominância nos nomes? Os nomes de batismo que não se enquadram
em nenhum dos três grupos são comuns a um mesmo “estoque cultural” de prenomes, ou
surgem novos? Essas questões, assim como outras, podem ser levantadas a partir das
observações fornecidas pelas fichas, convenientemente tratadas. Para as combinações
podemos utilizar uma metodologia parecida, acrescentando um grupo em que há influência
paterna e materna, conjuntamente
Tabela 4 - Paróquia de São Sebastião, município de Campo Largo; grupos de influências na atribuição dos prenomes combinados.
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5
Influência Paterna
Influência Materna
Influência cultural
e/ou religiosa
Combinação de
Influência paterna e materna
Outros
1.1 Avô paterno + nome do pai
2.1 Avô materno + nome do pai
3.1 Combinação do nome do padrinho + nome de santo
4.1 Avô materno+Avô paterno (ou vice-versa)
1.2 Avó paterna + nome da mãe
2.2 Avó materna + nome da mãe
3.2 Combinação do nome da madrinha + nome de santo
4.2 Avó materna+Avó paterna (ou vice-versa)
1.3 Nome do avô paterno + nome de santo
2.3 Nome do avô materno + nome de santo
1.4 Nome da avó paterno + nome de santa
2.4 Nome da avó materno + nome de santa
1.5 Nome do avô paterno + outro
2.5 Nome do avô materno
1.6 Nome da avó paterna + outro nome
2.6 Nome da avó materna + outro nome
1.7 Nome do pai + nome do santo
2.7 Nome da mãe + nome da santa
Essas tabelas foram elaboradas a partir da relação entre os prenomes, considerando
seu significado. Não diferenciamos a forma de grafá-los, seja no português ou no italiano,
pelo fato das fontes não serem suficientemente seguras para verificarmos tal diferença. Tal
idéia pode ser constatada nos registros de casamento, pois certos conjuges nascidos na
Itália, foram registrados com seu prenome na versão portuguesa. Portanto, estamos
considerando se o nome atribuido a criança é ou não, oriundo de um mesmo conjunto de
prenomes trazidos na bagagem dos imigrantes.
CAPÍTULO II Da Itália ao Paraná: a trajetória dos imigrantes italianos rumo a Campo Largo 2.1 O Brasil no contexto das grandes migrações.
Ao verificar alguns estudos de historiadores sobre a imigração e colonização
espontânea16 de estrangeiros no Brasil, foi possível estabelecer uma periodização. Os
primeiros incentivos à imigração estrangeira, com objetivo de ocupar os chamados “vazios
demográficos”, é contemporâneo ao período em que D. João VI autoriza a abertura dos
portos às nações amigas . Entretanto, é por volta de 1850, até mais ou menos 1930, que se
consolida um período de grande fluxo imigratório . Em termos históricos, esse período se
inicia com a cessação do tráfico de escravos na metade do oitocentos, até a grande crise do
café, em conseqüência a crise de 1929.17
Essa periodização está fundamentada num elemento central: o latifúndio. O Brasil
possuía seu sistema de produção baseado na grande propriedade – na qual uma pequena
elite detinha o poder –, no trabalho escravo e na agricultura voltada para a exportação.
Dessa forma, a economia nacional era apoiada na estabilidade desses elementos. A partir
do momento que cessa o tráfico de escravos em 1850, o sistema entra em contradição, pois
se ampliava a demanda mundial do café, com conseqüentes exigências no nível da
produção. A busca de imigrantes estrangeiros foi à solução ideal encontrada, pois, além de
tentar resolver o problema da crise de mão-de-obra provocada pelo fim do tráfico de
escravos, outros pressupostos estavam presentes nos discursos políticos, como a idéia de
construir uma nova nação baseada no trabalho livre.
A imigração e a colonização européia no Brasil passaram para a rotina dos debates
parlamentares, quando da percepção da irreversibilidade do processo de abolição da
escravatura. O Brasil, num quadro mais amplo, defrontava-se com dois tipos de problemas:
de um lado prover a mão-de-obra que se fazia necessária para substituir a escrava na
lavoura de café, de outro lado, a urgência de uma colonização eficaz para o povoamento
de diversas áreas, bem como o incentivo à agricultura em regiões que se encontravam
improdutivas. Para ambas, via-se no imigrante europeu a solução. Essa idéia de que o
16 Como imigração espontânea não se entende a vinda de escravos africanos. 17 BALHANA, 2002: pag. 237.
imigrante traria progresso era muito enfatizada na época, principalmente, pelos
indivíduos ligados às sociedades de imigração, como exemplifica esse trecho:
Tenhamos, porém fé viva no futuro. Custa muito desenraizar maus hábitos tradicionais, mas aqui há também trabalho nacional bem sensível e do cruzamento das raças europeas com os nacionaes, produzir-se-há a nacionalidade que saberá levantar o Brazil a posição que merece. E uma vez alcançado o ponto de partida para imenso desenvolvimento, este será relativamente rápido.18
De maneira geral, a idéia que estava em discussão era a renovação do trabalho, que
se considerava manchado pela escravidão.19 Dessa forma, foi incentivado, principalmente,
a vinda de imigrantes de origem rural, com objetivo de introduzir novas e produtivas
técnicas agrícolas, ensinando-as aos habitantes locais.20
Tendo em vista esse panorama, a política imigratória adotada no Brasil na segunda
metade do século XIX, se deu sob duas formas. O sistema de parceria, num primeiro
momento, foi à estratégia utilizada principalmente nas áreas produtoras de café, como em
São Paulo.21 A maior preocupação dos cafeicultores residia numa política imigratória clara,
pautada pela busca de mão-de-obra farta e barata para as plantações de café, sobretudo a
partir de 1884. Nesse sentido, desejosos por essa mão-de-obra farta e barata, foi montada
uma grande infra-estrutura envolvendo – entre outros estímulos –, concessão de passagens
gratuitas, arregimentadores espalhados por toda a Europa, colocação de colonos nas
fazendas e a construção de hospedarias para abrigar os recém chegados.22 Todo esse
aparato servia para que cada vez mais imigrantes se sentissem motivados a emigrar, mas, o
sonho de adquirir um pedaço de terra, logo se transformava em decepção, frente à série de
obrigações que lhes eram impostas.
Na região sul do Brasil, a preocupação foi no sentido de incentivar a imigração para
resolver o problema alimentar das províncias, estabelecendo imigrantes em pequenas
propriedades voltadas a produção de gêneros alimentícios.23 A escassez de plantações de
produtos agrícolas decorria em grande parte, do comércio interno de escravos, provocado
pelo impacto das leis abolicionistas. Os escravos que antes se dedicavam à produção de
18 Curitiba, Gazeta Paranaense: 14 de Outubro de 1885. 19 NADALIN, 2002: p.67. 20 Op. cit. p. 65. 21 O sistema de pareceria foi utilizado num primeiro momento, mas não perdurou por não ter dado certo. 22 ALVIM, p. 250. 23NADALIN, Op. cit. p. 69.
gêneros de subsistência, tinham sido remanejados, em grande parte, para as plantações
de café, em São Paulo.24 No caso do Paraná, tal propósito se fazia necessário, pelo fato da
economia não ser especializada, uma vez que se concentrava sobretudo na pecuária e na
exploração do mate e da madeira. Além disso, o desenvolvimento da urbanização, com o
conseqüente aumento de consumidores, fazia crescer ainda mais a demanda não só por
gêneros alimentícios, mas também por outros artigos, que até aquele momento eram
importados do exterior e de outras províncias. Nessa direção, a introdução de colonos
passou a ser encarada como um elemento de suma importância tanto para a economia,
quanto para a alteração da composição étnica.
As sociedades ou companhias de colonização também tiveram papel importante na
vinda de imigrantes. Estas surgiram da ação combinada dos governos provincial e Imperial
com particulares, promovidas e muitas vezes subsidiadas pelas diversas instâncias do
Estado. No Rio de Janeiro nascem inúmeras, merecendo ser destacada a Sociedade Central
de Imigração. Sua finalidade era promover por todos os meios o aumento da imigração,
patrocinar as reformas legislativas, visando ao bem-estar do imigrante, e fazer propaganda
na Europa no sentido de destruir idéias falsas sobre o Brasil.25
Com a fundação da mencionada entidade, ficou evidente a existência das duas
correntes favoráveis à imigração no Brasil. Uma, defendia o incremento da colonização,
por meio da pequena propriedade e, outra, se esforçando na obtenção de mão-de-obra para
a lavoura de café – insistindo, portanto, na necessidade de fomentação da imigração em
massa.26 Diante das notícias não satisfatórias das condições em que se encontravam muitos
imigrantes italianos nas fazendas de café, em 1902 O Commisariato dell’ Emigrazione da
Itália enviou um representante às fazendas paulistas para examinar a situação dos italianos
emigrados. Depois de tomar conhecimento das precárias condições que se encontravam, o
governo da Itália baixou um decreto proibindo a emigração gratuita para o Brasil: era livre
apenas a saída de cidadãos que tivessem meios suficientes para se disporem a emigrar.
Verificando esse panorama de implementação de uma política voltada para a atração
de imigrantes no Brasil da segunda metade do século XIX, percebe-se que outros fatores,
externos, contribuíram para que um grande contingente de estrangeiros entrassem no país
nesse período. Tais fatores remetem principalmente a situação que passava o continente
europeu, a exemplo da Itália, por ocasião das transformações do sistema capitalista. Essas 24NADALIN, Op. cit. p. 68. 25 HOLANDA, Sérgio Buarque. p. 280 26 HUTTER, Lucy Maffei. 1996: p. 77
transformações, de maneira geral, obrigaram milhões de pessoas a buscarem outras
alternativas de sobrevivência.
2.2 A Itália emissora
De acordo com Eric Hobsbawn, a partir da segunda metade do século XIX até as
primeiras décadas do século XX, a Europa passou por um intenso processo de
disponibilização de mão-de-obra. Vários fatores fizeram com que milhares de pessoas
(especialmente camponeses) abandonassem sua terra natal e fossem em busca de melhores
condições de vida, alimentando inclusive o sonho do enriquecimento. A passagem do
sistema de produção herdada do feudalismo, - uma vez que este já havia acabado -, para o
de produção capitalista seguiu linhas básicas nos países que se industrializaram; porém, o
que variou foi à época que isso aconteceu.27 A progressiva concentração de terras nas mãos
de poucos, o grande crescimento populacional verificado em toda a Europa nesse período, a
industrialização e a melhoria nos transportes - que permitiu um maior deslocamento das
populações-, podem ser apontados como os principais motivos que levaram às grandes
migrações.
O grande exército de trabalhadores gerado pela própria expansão do capital trouxe
a tona milhares de desempregados . A miséria e a incapacidade do novo sistema de
absorver essa mão-de-obra levaram a adoção de medidas imediatas, tanto por parte da
população que procurou outros territórios, quanto por parte do Estado que se preocupava
com o rumo que a situação poderia tomar, incentivando, assim, a emigração. Emigrar,
portanto, foi a solução ideal encontrada, uma vez que esse panorama geral harmonizava-se
perfeitamente com as necessidades dos novos países – Estados Unidos, Argentina e Brasil ,
que por motivos variados iniciaram um grande movimento de atração de imigrantes para
suas terras.28
Mais de 50 milhões de europeus deixaram o continente entre 1830 e 1930; destes,
11 milhões vieram para a América Latina, dos quais 38% eram italianos, 28% espanhóis,
11% portugueses, 3% franceses e alemães. Do ponto de vista do local de destino, esses 11
milhões dividiram-se da seguinte forma: 46% para a Argentina, 33% para o Brasil, 14%
para Cuba e o restante dividiu-se entre Uruguai, Chile e México.29
27 ALVIM, Zuleika. 1999: p. 219 28 ibid. pag. 220 29 ibid.
Apesar desses números mostrarem momentos e países diferentes nessa
diáspora, é um quadro comum que explica as cifras citadas. Sem dúvida a causa
preponderante foi a fome e a miséria pela qual passava um grande número de camponeses.
Ao analisar as causas da expulsão do Vêneto que cooperou com cerca de 30% do total dos
imigrantes italianos vindos para o Brasil, Emilio Franzina, através de observadores da
época, destaca o quanto o problema da alimentação era grave.“No Vêneto podia-se morrer
de inanição e que a única alimentação da classe rural não passava de polenta, uma vez que a
carne de vaca era um mito e o pão de farinha de trigo inacessível pelo seu alto preço”.30
No caso italiano, a produção pela qual os trabalhadores rurais pautavam sua
sobrevivência, vinha da terra, apoiada no trabalho familiar e codificado por vários contratos
que conferiam ao camponês a posição de trabalhador rural. Entretanto, sobretudo a partir de
1870, a disputa pelo mercado consumidor se acirrou, multiplicando a concentração da terra.
Dessa forma, enormes contingentes de trabalhadores deixavam de ter o título de pequenos
proprietários para se tornarem trabalhadores braçais nas grandes propriedades rurais. A
mudança de uma estrutura agrária, de forma semi-feudal, para uma estrutura industrial,
ocorreu num curto espaço de tempo. Conjuntamente a esse fenômeno, a Itália estava
passando nesse período por um processo de explosão demográfica. Como o mercado
consumidor de mão-de-obra não comportava todo aquele contingente populacional,
milhares de camponeses se viram obrigados a procurar novas fontes de trabalho.
Portanto, essa nação transformou-se em um dos países europeus mais aptos a liberar
mão-de-obra, dadas suas condições econômicas e sociais. O excesso de população e a falta
de terras cultiváveis provocavam uma distorção na oferta e procura de mão-de-obra.31 As
condições particulares em que a Itália se insere no quadro de transformação do capitalismo
induziu o país a se desfazer, seja entre emigrantes temporários ou permanentes. Entre 1861
e 1940, cerca de vinte milhões de pessoas deixaram a Itália.32 Tais cifras são resultado de
um processo em que o desenvolvimento industrial foi lento ou insuficiente; de modo que,
incapaz de absorver todo o contingente populacional no sistema, a conseqüência foi o
prolongamento da emigração.
Entre os italianos, um outro motivo levou a saída de muitos jovens; refiro-me à
obrigatoriedade do serviço militar. Dessa forma, partiam para o exterior evitando assim
serem convocados. Mas, sem dúvida, e como foi mencionado acima, uma idéia bastante 30 ibid. p. 222 31 HUTTER, Lucy Maffei. 1996: p. 74 32 ALVIM, 1986: p. 24
presente na mente de muitos imigrantes era a possibilidade do enriquecimento fácil.
As grandes dificuldades de sobrevivência enfrentada por muitas pessoas, a propaganda que
se fazia na Europa (afirmando que a América era o lugar mais adequado para a
concretização do sonho de uma vida melhor) e o incentivo para a vinda de imigrantes por
parte do governo brasileiro, se constituíram no “fio condutor” do movimento imigratório
italiano para o Brasil. Tal idéia pode ser visualizada nos versos da canção, que segue:
“ Itália bela, mostre-se gentil e os filhos seus não a abandonarão, senão, vão todos para o Brasil, e não se lembrarão de retornar. Aqui mesmo ter-se-ia no que trabalhar Sem ser preciso para a América emigrar. O século presente já nos deixa, o mil e novecentos se aproxima. A fome está estampada em nossa cara E para curá-la remédio não há. A todo momento se houve dizer: Eu vou lá, onde existe a colheita do café.”
Tal fragmento ilustra bem a idéia de que muitos italianos estavam dispostos a
emigrar para reconstruir uma nova vida na América. Extraído da canção Italia bella,
mostrati gentile – provavelmente datada de 1899 –, foi encontrada em Porciano,
cidadezinha da província de Arezzo, na Toscana, região “emissora” de emigrantes.33 O
texto também denuncia que, dentre os imigrantes italianos chegados no Brasil, grande parte
foi proveniente do norte da Itália, local onde a situação era mais crítica. Em decorrência da
unificação política, essa região estava passando por um período de transformação na
agricultura. Como esta passou a ser praticada em moldes capitalistas, grande parte dos
camponeses foram transformados em proletários do campo,34 enquanto outros
definitivamente foram transformados em operários.
Foi do Vêneto que partiu a maior parte dos imigrantes italianos que vieram para o
Brasil. Dessa forma, aqueles que chegaram ao Paraná e, conseqüentemente, a Campo
Largo, em sua grande maioria eram oriundos dessa região. Sendo predominantemente
camponeses, cujo trabalho se apoiava na mão-de-obra familiar, os imigrantes, provinham
33 ALVIM, Op. Cit: p. 17 34 Usamos essa expressão para designar aqueles camponeses que trabalhavam para um fazendeiro em regime de trabalhadores contratados , conforme as necessidades das atividades agrícolas (principalmente na colheita).
de dois tipos de mão-de-obra: os que trabalhavam por conta própria, ou seja, os
pequenos proprietários e arrendatários, e aqueles que trabalhavam como assalariados.35
Por ser uma região dividida entre áreas com muitas colinas e montanhas, e áreas de
planície, o campo era dividido em pequenos lotes e traçado por um sistema de produção,
praticamente imposto pelas condições sociais da região.36 Ou seja, a terra, seja em sua
produtividade como quantidade era insuficiente para auto-sustentar as famílias que
contavam com até doze a quinze membros.
Nessa região, portanto, tanto para os pequenos proprietários como para os braciantis,37
a situação era de grande pobreza. A região já não oferecia mais recursos, e as condições de
sobrevivência eram cada vez mais difíceis. Em resumo, é esse o quadro que explica a vinda
dos primeiros imigrantes italianos ao Paraná, a partir da década de 1870.
2.3 Os Imigrantes italianos no Paraná
O segundo maior contingente de emigrados vindos para o Brasil durante o período
da imigração moderna foi de italianos, com cerca de 1.513.000 indivíduos,38 sendo que, em
seu conjunto, eram essencialmente rurais. As regiões italianas que forneceram as maiores
quotas de imigrantes foram aquelas de economia agrícola: Vêneto, Piemonte, Abuzzo,
Liguria e Campania, principalmente.39 Como a grande demanda demão-de-obra era para os
cafezais, foi para São Paulo que se dirigiu à maioria dos imigrantes italianos. Entretanto,
uma parcela significativa se dirigiu para a região sul do Brasil, inclusive para a província do
Paraná.
Ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração se destinava a suprir a
carência de mão-de-obra na grande lavoura de exportação, no Paraná, a não ser a eventual
introdução de trabalhadores para as obras públicas, sobretudo construção de estradas, o
problema imigratório foi desde logo colocado no sentido de criar-se uma agricultura de
abastecimento.40 A preocupação com essa situação já era colocada nos primeiros anos da
35 ibid. p. 29 36 ibid 37 bracianti : termo em italiano que se refere aos trabalhadores braçais. 38 BALHANA, Altiva Pilatti.1958: p. 22 39 ibid p. 22 40 BALHANA, Altiva Pilatti. 1969: p. 162
Província, quando em 1858 o Presidente Francisco Liberato de Mattos sugeria a
instalação de colonos livres para povoar as terras paranaenses e se dedicarem ao plantio.
“É para lamentar que essa província , cujos terrenos produzem com abundância a mandioca , o arroz, o café, a cana, o fumo, o milho, o centeio, a cevada, o trigo e todos os gêneros alimentícios, compensando tão prodigiosamente os trabalhos do agricultor, receba da marinha e por preços tão exagerados a mor parte daqueles gêneros. Este estado de coisas temo continuará, e que só quando colonos morigerados e laboriosos vierem povoar vossas terras vastas e fecundas, asparecerá a abastança dos gêneros alimentícios e abundantes sobras do consumo irão dar nova vida ao comércio de exportação dos produtos agrícolas”.41
Essa preocupação veio a tomar corpo principalmente a partir da década de 1870,
quando da instalação de diversas colônias de imigrantes. O programa foi dinamizado,
principalmente na administração de Adolpho Lamenha Lins, quando foram estabelecidos
diversos núcleos coloniais nos arredores de Curitiba. A intensa atividade colonizadora na
mencionada década é assinalada pelo estabelecimento de 26 novos núcleos coloniais, a
maioria das quais na região de Curitiba, a distâncias que variam de dois, três, quatro, cinco,
seis e sete quilômetros até cerca de trinta quilômetros do centro urbano da capital
paranaense.42
A presença de imigrantes estrangeiros na conjuntura da grande imigração pode ser
melhor visualizada na tabela baixo.
41 Relatório do Presidente Francisco Liberato de Mattos, apresentado na abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 07 de janeiro de 1858.p. 35 42 BALHANA, Altiva Pilatti. 1978A: p. 35
Tabela 5- Grupos estrangeiros emigrados para o Paraná.
Grupos N° %
ESLAVOS 63.104 63,1 Poloneses 49.032 Ucranianos 14.072
ALEMÃES 19.061 19,1 Alemães 13.319 Russo-Alemães 4.183 Austríacos 1.559
ITALIANOS 8.908 8,9
OUTROS 2.469 Franceses 1.200 Espanhóis 5.200
Total 99.942 100,0
FONTE: BALHANA, Altiva Pilatti: Demografia e Economia: O empresariado paranaense (1829/1929) . In:___________Un Mazolino di fiori. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná : 2002, p. 409
Os imigrantes italianos começaram a chegar ao Paraná em grande número,
sobretudo a partir de 1875; antes já se podiam contar alguns, poucos e dispersos, como os
que integraram a colônia do Assungui, fundada em 1860, junto a franceses, ingleses,
alemães e suíços. O rush italiano, no Paraná, ocorreu entre os anos de 1875 e 1878, quando
entraram na província 4.350 pessoas, através da concessão a Sabino Tripoti.43 Pelo contrato
imperial de 1871, ficou autorizado o referido empresário a transportar imigrantes italianos
ao Paraná. Nesse contrato havia uma cláusula que dizia que deveriam ser instalados de 500
a 2500 colonos alemães e italianos no prazo de seis anos, que fossem agricultores de boa
moralidade e saúde. As despesas correriam por conta do empresário, enquanto o governo
forneceria as terras devolutas escolhidas pelo empreendedor, e que deveriam ser pagas em
seis anos.44
Em fevereiro de 1875 Tripotti chegou a Paranaguá com 50 famílias italianas e
fundou a primeira colônia italiana do Paraná, (Alexandra). As condições escolhidas foram
43 MARTINS, Romário, 1941: p. 75 44 FEDALTO, 1978: p.16-17
solo fértil, com muita água, proximidade com o porto e com centros consumidores
(Paranaguá, Antonina e Morretes). A colônia fracassou devido a várias causas. Entre elas,
aponta-se a insalubridade do clima, a falta de conhecimento e orientação para superar as
moléstias tropicais e as pragas – como endemias, formigas, mosquitos, bichos-de-pé –que
muito molestaram os imigrantes e suas plantações.45 Além disso, os imigrantes foram
instalados sem a mínima assistência para que progredissem, tanto por parte do governo,
quanto do empresário. Este é acusado por nunca ter tido realmente interesse na colonização,
recebendo muito mais do governo (500 liras, em moeda italiana) do que gastava com cada
imigrante (100 liras). Além disso, para atrair imigrantes o empresário mandou distribuir
milhares de panfletos por toda a Itália, dirigida de modo apelativo ao “Amico colono” e
datada de 19 de julho de 1873: foi distribuído aos milhares na Itália, onde foi reimpressa, e
na qual anunciava de modo exagerado as vantagens que aguardavam os colonos do Brasil.46
Diante da situação desastrosa, os imigrantes manifestaram sua revolta, exigindo que
fossem realocados. O governo do Presidente Adolpho Lamenha Lins, percebendo o rumo
que as coisas iam tomando, rescindiu o contrato com Sabino Tripotti, chegando mesmo a
confiscar seus bens, em função do enorme prejuízo contabilizado com a má administração
do empreendimento. O governo provincial, a fim de acomodar não somente aqueles que
não mais desejavam permanecer em Alexandra, bem como a outros que continuavam a
chegar em grande número, criou, em 1877, a colônia Nova Itália, com sede em Morretes,
abrangendo doze núcleos coloniais em uma vasta área que se estendia pelos municípios de
Morretes, Antonina e Porto de Cima.
Os núcleos da colônia Nova Itália não chegaram a alcançar real prosperidade. Além
da repercussão negativa relacionada ao fracasso da primeira colônia,47 debitava-se a falta
de orientação técnica sobre as condições locais, sobre o cultivo e aproveitamento das
plantas tropicais e a impraticabilidade das culturas européias, fatores todos que
contribuíram para o fraco desenvolvimento dos núcleos coloniais litorâneos.48
Relativamente ao número de imigrantes entrados no período do maior afluxo da
imigração italiana no Paraná, 1875 a 1878, foi bem pequeno o contingente que se fixou em
definitivo na região litorânea. Os que ali permaneceram dedicaram-se às plantações de
cana para o fabrico de açúcar e aguardente, que constituíram as atividades industriais do
45 BALHANA, Altiva Pilati. 1978B, pag. 125. 46 FEDALTO, Pedro. 1978 pag. 16 e BALHANA, Altiva Pilatti. 1978: p. 36. 47 BALHANA Op. Cit: p. 126. 48 BALHANA et al., 1969: p.169.
local e, em menor escala, ao cultivo de milho, feijão e café. Os demais, por iniciativa
própria, ou com o auxílio governamental, transferiram-se para o planalto curitibano. Alguns
se fixaram em colônias já existentes, onde se instalaram ao lado de imigrantes de outras
nacionalidades, como nas colônias Argelina, Pilarzinho, Muricy, Orleans, Inspector
Carvalho, Antônio Rebouças, Presidente Faria, Maria José, Antônio Prado (As duas
primeiras hoje se encontram dentro do quadro urbano da Capital). Outros colonos foram
localizados em colônias criadas para tal finalidade, tal como Alfredo Chaves, atual
município de Colombo, Santa Gabriela e Novo Tirol (Piraquara). Muitos deles adquiriram
terrenos da municipalidade de Curitiba , constituindo a colônia Dantas, hoje absorvida pelo
quadro urbano da cidade, sendo mesmo um dos seus bairros mais prósperos (Água Verde);
outros adquiriram terrenos de particulares, como em Santa Felicidade (Curitiba), Ferraria,
Campo Magro, Bateias, (ambas em Campo Largo) e outras. Finalmente, muitos foram os
italianos que se fixaram na própria cidade de Curitiba.49
Segundo Romário Martins, a entrada de imigrantes italianos conforme ano e
localização, do período 1874 a 1926 pode ser assim descrito:
49 BALHANA, Altiva Pilatti. 1978A: p. 38
Tabela 6- Localização dos imgrantes italianos no Paraná
ANOS ENTRADAS LOCALIZAÇÕES
1874 70 Assunguí.
1875 494 Alexandra, 292; Assunguí, 202.
1876 307 Alexandra (Paranaguá).
1877 2.300 Nova Itália (Morretes).
1878 1.249 (Transferidos neste ano, 1.330 colonos de Alexandra e Nova Itália para as colônias Alfredo Chaves (Colombo) 160, Santa Felicidade, 187, Senador Dantas (Àgua Verde) 248, Novo Tirol (Piraquara) 306, Murici, Zacarias, Orlenas, Argelina 273, Rebouças 153 (Total 1.330)
1879 315 Entraram 752, retiraram-se 437.
1884 131
1886 250
1887 228 Colônias de Campo Largo
1888 160 Colônia Silveira da Mota (São José dos Pinhais)
1891-1892 2.240 Colônias Eufrásio Correia (Arraial Queimado), Presidente Faria e Maria José (Colombo), Santa Bárbara (Palmeira)
1875 1876
1897-1914 1920-1925 1926-1934
63 805 110
61 15
Local: fonte não menciona...
TOTAL 8.798
FONTE: MARTINS, Romário: Quanto somos e quem somos, 1941, pag. 71-72
Muitos dos imigrantes que se deslocaram do litoral – dada à mencionada
insatisfação principalmente pelas condições de clima –, apesar da insistência do governo
para que ficassem, chegaram ao planalto sem ter onde se estabelecer. Assim o jeito
arranjado foi recolher os grupos de famílias em barracões, destinados a alojá-los
provisoriamente até que fosse encontrada uma solução definitiva. A espera até que se
encontrasse um local próprio para seu estabelecimento chegava a durar mais de seis meses.
Segundo os relatos do padre Pietro Colbachini, mal alojados nos aludidos galpões, e até
mesmo sem o necessário para sobreviver, muitos tiveram de recorrer até a esmola50
50 BRAIDO, 1978: p. 31
Os imigrantes italianos que fundaram a Colônia Antônio Rebouças em Campo
Largo, passaram por muitas das dificuldades mencionadas pelo padre Pietro Cobalchini. Os
citados imigrantes partiram de Gênova no fim de 1877. A viagem durou cerca de dois
meses até chegarem em seu primeiro destino (a colônia Nova Itália em Morretes). Não se
adaptando ao clima da região, permaneceram poucos meses no litoral, chegando a Curitiba
no dia 06 de abril de 1878, onde permaneceram cerca de 05 meses alojados nos galpões do
governo, até finalmente serem assentados. Nas colônias governamentais, como o caso de
Antônio Rebouças, o governo mediu os lotes, estipulando-lhes o preço, construiu casas, de
modo que os colonos deveriam pagar ao final de nove anos.51 Na década de 1880 outras
colônias de imigrantes italianos foram fundadas no município.
2.4 O município de Campo Largo e as colônias de imigrantes italianos.
A vila de Campo Largo, situada no planalto de Curitiba, a 860 m acima do nível do
mar52, e distante cerca de 20 Km da capital, surgiu no início do século XIX, em função da
rota de tropeiros que vinham do sul (o antigo caminho do Viamão) com destino a Sorocaba.
O crescimento da vila deve-se em grande parte a uma das atividades econômicas
predominantes desse período – o tropeirismo – , assim como ao comércio e a lavoura de
subsistência.53 Como parte do crescimento populacional e econômico desenvolveu-se na
região a erva mate.
Em 1821 é iniciada a construção da igreja da vila de Campo Largo, devido à
alegação dos moradores de que era muito grande à distância para com a mais próxima,
situada em Curitiba.54 A igreja ficou pronta em 1826, e foi elevada a categoria de Capela
Curada em 1828, e de freguesia em 1841.55
Nas últimas décadas do século XIX, a população do município aumentou
significativamente com a chegada dos imigrantes europeus, sendo italianos e poloneses os
principais grupos. Nesse período, foram criadas as colônias Alice, Cristina, Dom Pedro II,
51 FEDALTO, Pedro. 1978: p. 21-23 52 BARCIcK. 1992: p.7 53 ibid 54 Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo. 1836-1895, Livro I, p. 48 55 BARCICK, Op. Cit: p.8
Antônio Rebouças, Balbino Cunha, Dona Mariana e Mendes de Sá, sendo as três
primeiras de predominância polonesa e as últimas, italiana.
O aumento populacional do município pode ser avaliado, a partir da tabela que segue:
Tabela 7- População de Campo Largo (1872-1920)
1872A 1890B 1900C 1920D
6.338 12.539 10.690 17.766
FONTE: MARTINS, Romário: Quanto somos e Quem Somos. pag. 94-99
Com base nos dados acima, verifica-se que, entre o primeiro recenseamento do
Império (1872) e o primeiro recenseamento da República (1890), a população do município
praticamente dobrou, demonstrando a significativa participação dos imigrantes nesse
processo.
Conforme tabela que organiza todas as colônias de imigrantes instaladas no Paraná,
foi construída uma tabela menor, a seguir, apresentando dados referentes somente as
colônias de imigrantes italianos de Campo Largo.
Tabela 8- Dados das Colônias italianas de Campo Largo
ANO
Colônia
Distanc. da
sede munic.
Àrea em
hectares
Número
de Lotes
N°de
imigrantes
Grupos étnicos
1878 Antônio
Rebouças
14 km 350,9 34 244 Italianos e poloneses
1885 Mendes de Sá 4 km 2.000,0 180 148 Italianos e poloneses
1889 Balbino Cunha 8km 225,9 25 122 Italianos
1889 Dona Mariana 8 km 315,3 33 170 italianos
Fonte: BALHANA et al., Curitiba: Grafipar : 1969, p. 164-167.
A Primeiro Recenseamento do Império: MARTINS, Romário. 1941. p..94 B Primeiro Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 95 C Segundo Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 96 D Terceiro Recenseamento da República: MARTINS, Romário Op. Cit. p. 97-98
2.4.1 As colônias.
• Antônio Rebouças.
A colônia Antônio Rebouças, é considerada a mais antiga dentre aquelas
constituídas por italianos, no município de Campo Largo. Fundada a 11 de setembro de
1878, foi contemporânea das colônias de Santa Felicidade, Alfredo Chaves e Santa Maria
do Novo Tirol.
Situada no local denominado Timbituva, a margem da estrada Mato Grosso, e a distância de 19 km de Curitiba, foi estabelecida em 1878. Acha-se dividida em 34 lotes, habitada por 154 colonos, possue 6234 metros de estrada e terrenos férteis que são bem cultivados. Existe n’esta collonia uma fabrica de tijolos de propriedade dos collonos Baroni Antônio e outros, necessita de igreja e escola.56
O nome da colônia foi uma homenagem ao engenheiro Antônio Pereira Rebouças
Filho, que juntamente com seu irmão teve participação fundamental na construção da
ferrovia Paranaguá-Curitiba.57 Entretanto, muitos documentos referem-se à colônia com o
nome de Timbituva58, que atualmente é o nome de uma colônia localizada próximo de
Antônio Rebouças, na estrada de Mato Grosso.59
• Mendes de Sá.
Fundada às margens da estrada Mato Grosso, em 1885 e com uma área inicial de
280 lotes, a colônia progrediu bastante, se tornando a maior das colônias italianas de
Campo Largo. Sua fundação se deve a iniciativa particular dos irmãos Comendador Cel.
José Olyntho de Sá. (O “Coronel Jugica”, como conhecido, era grande proprietário de
terras da região) e Cap. João Mendes de Sá. Os lotes da colônia foram adquiridos, na sua
maior parte, por italianos, secundados por alguns poloneses e brasileiros. A área abrangida
pela colônia compreendia as localidades de Rondinha, Sereia, Caratuva e Rio Verde
acima.
56 Relatório do Presidente de Província. 1880: p. 55 57 FEDALTO, Pedro. Op. Cit. 21-22 58 Encontramos em muitos documentos, inclusive nos registros paroquiais a referência Timbituva para a colônia Antônio Rebouças, enquanto para o Timbituva atual, encontrou-se a referência Caratuva . 59 Em relação a colônia Timbotuva de hoje, que era chamada Caratuva no passado, a menção se faz nos registros paroquiais. Na tabela 8, esta aparece englobada pela Colônia Mendes de Sá.
• Dona Mariana.
Foi fundada em 1888, com 33 lotes, na administração provincial do Dr. Balbino
Cândido da Cunha, e ocupada em maior parte por imigrantes italianos, alguns poloneses e
brasileiros. A colônia também era chamada de Rio Verde, por estar localizada próxima a
um rio que leva esse nome . Conforme algumas fontes, a designação da colônia resultou de
uma homenagem a D.ª Maria José Correia , esposa do deputado provincial Ildefonso
Pereira Correia (o Barão do Serro Azul), vice-presidente da província na época. A área
onde foi construída a Igreja, segundo alguns documentos, foi doação do Imperador D.
Pedro II.
• Balbino Cunha.
A colônia, também chamada Campina – como aparece nos registros paroquiais –,
foi fundada em 1888, na administração de Balbino Cândido da Cunha. Destinada a
acomodar imigrantes italianos, também estava localizada próxima ao Rio Verde, e dos
municípios de Araucária e Balsa Nova. Com inicialmente 25 lotes e 122 habitantes, este
grupo estava mais afastado da região de predominância italiana de Campo Largo, uma vez
que as demais colônias não estavam muito distantes umas das outras. Campina, por outro
lado, ficava distante cerca de 12 km de Rondinha, que era a colônia mais central.
2.5 A capelania Curada Italiana e a criação da Paróquia de São Sebastião
As colônias de imigrantes estabelecidas no sul do Brasil obedeceram, em geral, a um tipo
de povoamento disperso, em grupos de lotes rurais e isolados uns dos outros, dessa forma,
levando os colonos, entre outras dificuldades, a falta de assistência religiosa direta e
permanente.60 Segundo Ari Pedro Oro, os imigrantes italianos eram, em sua maioria,
portadores de uma cosmovisão sacral concebendo a religião como a instância justificadora
e legitimadora da vida social e quotidiana.61 Portanto, a presença de um sacerdote que
dominasse o dialeto vêneto, e prestasse a assistência religiosa necessária, foi desde cedo,
colocada como fundamental pelos imigrantes italianos de Campo Largo.
60 BALHANA, Altiva. 2002: p. 205 61 ORO, Ari Pedro. 1996. v. 3. p. 617
Os moradores de Antônio Rebouças, assim como muitos outros colonos italianos de
Curitiba e arredores, reivindicaram à Vigaria Geral Forense a presença de um sacerdote
italiano para os atender. Frente a essa situação, o Bispo Diocesano de São Paulo, Dom Lino
Deodato Rodrigues, encaminhou o padre italiano Pietro Colbachini para prestar assistência
religiosa aos imigrantes italianos do Paraná.62 Tendo em vista as dificuldades da
comunidade italiana, o referido padre, em carta de 25 de novembro de 1887 e dirigida ao
bispo de São Paulo, escreveu sobre a situação encontrada. Solicitava, principalmente,
medidas para harmonizar e regularizar o atendimento religioso das colônias.63
A solução encontrada para resolver a situação foi à instituição de uma Capelania Curada,
semelhante à experiência anterior realizada em 1875 com os imigrantes poloneses no
Paraná. Pelo decreto de 14 de fevereiro de 1888, estabeleceu-se a constituição da
Capelania, como segue:
Catholicos imigrados da Itália e seus filhos domiciliados nos ex-núcleos coloniais ora emancipados que são os seguintes: Dantas ou Água Verde, Santa Felicidade, Campo Comprido e Alfredo Chaves da Parochia de Nossa Senhora da Luz de Corytiba, Antonio Rebouças ou Timbutuva e Jugica Mendes da Parochia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo; Santa Maria do Novo Tyrol, Murici e Zacharias da Parochia do Patrocínio de São José dos Pinhais da sobredita comarca eclesiastica de Corytiba da Província do Paraná, dêste Bispado, que de sua livre e expontânea vontade, se quiserem inscrever como applicados ou jurisdicionados nesta Capellania.64
Foi uma instituição sui generis,65 frente às dificuldades de se estabelecer à circunscrição
territorial da Capelania, pois os núcleos coloniais ficavam dispersos e distantes vários
quilômetros, uns dos outros, além de algumas colônias serem mistas (poloneses e
italianos).66
Ao tomar conhecimento da criação da organização, o padre Pietro Cobalchini
solicitou ao Instituto Missionário de São Carlos que fossem enviados sacerdotes italianos
ao Paraná. Os padres destinados à Província foram Domenico Mantese, que permaneceu
apenas um ano e Giuseppe Molinari, que durante alguns anos prestou seus serviços a
62 BALHANA, Altiva. 2002. p. 206-207 e FEDALTO, Pedro, 1978, p: 38-39 63 ibid. 64 CÓPIA da Portatria de 14 de fevereiro de 1888, referente a Capelania Italiana, transcrita no livro 2 da Vigaria Geral Forense, p. 118 a 123. Curitiba, 1888, Arquivo da Cúria Metropolitana de Curitiba. In BALHANA, Altiva Pillatti. O papel da Igreja na integração de imigrantes no Brasil Meridional, v. III, p. 207 65 BALHANA, 2002A : p. 209 66 ibid.
comunidade imigrante.67 Cobalchini, ficou na direção da Capelania até 1894, residindo
em Santa Felicidade. Paralelamente, em Antônio Rebouças, com a criação dessa
organização – e mediante os insistentes pedidos dos moradores para que um sacerdote
italiano exercesse o seu ministério na colônia – chega, em 1888, o padre Francesco Bonato
que ficaria encarregado de atender todas as colônias italianas de Campo Largo. Em
conseqüência, com a chegada do padre é apressada a construção da casa canônica e a
finalização da igreja.68
Com a saída de Pietro Cobalchini, em 1894, o padre Francesco Bonato teve que
atender todas as colônias italianas da capelania durante um ano. Em 1895, chegavam ao
Paraná os dois missionários de S. Carlos, enviados a pedido do mencionado, voltando
Francisco Bonato a cuidar apenas das colônias de Campo Largo.69 Entretanto, poucos
meses depois e a pedido do bispo de Curitiba, o referido missionário foi transferido para o
recém criado Curato de Colombo.70
Os moradores dos núcleos coloniais de Campo largo ficaram insatisfeitos com a
saída de Francisco Bonato, pois voltaram para a jurisdição de Santa Felicidade, em 1895.
Reivindicam, pois, um curato em Antônio Rebouças. Em 23 de junho de 1899, o bispo de
Curitiba, D. José de Camargo Barros, autoriza o padre Pietro Nosadini para atender as
colônias de Rondinha, Antônio Rebouças, Campina e Mariana, com residência em
Rondinha. Conforme relatório do mesmo sacerdote, as colônias tinham ficado quase
abandonadas com a saída do Padre Bonato. Além disso, os moradores de Antônio
Rebouças continuaram insatisfeitos com a decisão dioceana, pois queriam ser sede do
curato, alegando que a colônia de Rondinha não tinha condições estruturais para tanto.71
Em março de 1901, o padre Pietro Nosadini sai do Curato, e as colônias voltam a
pertencer a Santa Felicidade. Novas reinvidicações eram feitas, principalmente do referido
missionário contra o padre Francesco Bresciani, que não estava atendendo bem as colônias.
Em setembro de 1903, foi enviado o recém chegado missionário João Baptista
Bérgia para atender os núcleos coloniais italianos de Campo Largo. Este último ficou pouco
tempo, pois logo morreu. Somente, em setembro de 1905, é que chega o padre André
Garau, que passa a residir em Rondinha. 72
67 BALHANA. 2002A: p. 301 68 FEDALTO. 1978: p. 41 69 ibid 70 ibid. 71 ibid. p.79-81 72 ibid .
“Il sottoscreto fu destinado dal superiore provinciano Ver. Padre Faustino Consoni alla cura dalle colonia Mendes de Sá, Antônio Rebouças, Campina e Dona Mariana nel giorno de febracio del 1906.”73
A igreja de Rondinha começou a ser construída em 1903, e em pouco tempo foi
construida também a casa paroquial. Em 07 de outubro de 1906, é inaugurada a igreja, e a
sede do curato passa definitavamente a Rondinha. Antônio Rebouças já tinha iniciado a
construção do templo em 1884 sendo inaugurada em 1888, e durante muitos anos
reivindicava o direito de ser a sede do curato italiano. A colônia Mariana inaugura sua
capela em 1907, mandada construir pelo padre Andre Garau e a colônia Campina constrói
sua nova igreja em 1908, também sob a jurisdição do referido pároco.
“Nel giorno 10 di ottobre dell’anno 1908 e stato beneditta dal sotoscretto di nnova campanile nella colonia Balbino Cunha. Il campanile há uma campana, recentemente venuta dalla panderia Angelo Angini in S. Paolo, del peso di kg 11o, Il Revmo. P. Tennistocle rovere promenezio il descorso di circosntanza”74
A paróquia de São Sebastião de Rondinha é criada jurisdicionalmente em 1937,75
juntamente com a paróquia de Santa Felicidade. Entretanto, frente a questões territoriais
impostas, a paróquia perdeu muito do seu território original, sendo restituído somente em
1973 com uma outra divisão.
Sobre essas colônias, é que detivemos nosso estudo. Através dos registros
paroquiais de casamento e batismo desses imigrantes, serão analisados como esses
indivíduos atribuíam nomes de batismo aos seus filhos. Nesse sentido pensamos a questão
da nomeação enquanto uma prática social largamente reconhecida, em que o nome é o
signo de reconhecimento e pertencimento76. Através da sistematização das fontes,
verificaremos como esses imigrantes mantém ou não, uma determinada tradição familiar.
73 “Eu, sacerdote fui destinado pelo superior provincial Ver. Padre Faustino Consoni como cura das colônias M:endes de Sá, Antonio Rebouças, Campina e Mariana no dia 25 de fevereiro de 1906” Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) 74 “ No dia 10 de outubro do ano de 1908 foi benzida pelo sacerdote a nova capela na colônia Balbino Cunha. A capela tem um (sino) recentemente vendida pela “fábrica” Angelo Angili de São Paulo, de peso de 110 kg. O Revmo. Padre Temistocles realizou um discurso nessa circunstância” Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) 75 Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) .O documento de criação da paróquia está como anexo. 76 NADALIN & BIDEAU, Alain. 2002: p.8
Capítulo 3
Atribuição de Nomes no Batismo
3.1 O nome como signo de identidade étnica.
Ao realizar nosso estudo sobre como os imigrantes italianos identificavam seus
filhos no momento do batismo, pensamos no nome enquanto signo de pertencimento a um
determinado grupo. De acordo com Pedro Oro,
“a identidade étnica constitui um modo particular de identidade social. Construída no contexto da situação interétnica, a identidade expressa-se em um conjunto de representações que um grupo social se faz delimitando suas fronteiras e marcando suas diferenças aos outros grupos com os quais está em contato.” 77
Para Barth, uma idéia fundamental dos grupos étnicos é que estes são categorias de
atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores e, assim, têm a característica de
organizar a interação entre pessoas.78 Seguindo essa noção, e verificando outros estudos
sobre identidade étnica e desenvolvimento cultural de imigrantes italianos, foi possível
eleger alguns dos principais elementos que configuravam a vida social desses indivíduos.
Oro, em seu estudo sobre considerações da identidade étnica dos descendentes de italianos
do Rio Grande do Sul, tratou de diversos valores que são elevados a condição de sinais
diacríticos da identificação étnica,79 tais como: a língua e a música, a família e a culinária, a
fé e a catolicidade, o trabalho e o progresso. É claro que, no nosso caso, não podemos ir
muito longe em todos esses itens, e por isso devermos nos ater aos elementos que podem
ser identificados na atribuição dos prenomes.
Analisando o conteúdo das fichas de famílias, traduzidos na obtenção de
informações das atas de casamento e atas de batismo, foi possível observar nos prenomes
dos batizados basicamente dois tipos de influência: familiar80 e religiosa.
77 ORO, Ari Pedro. 1996 : p.611-12 78 BARTH, 1997 : p. 189 79 ORO, op. cit. : p.614 80 Para a influência familiar, estamos nos referindo também no que concerne a família espiritual, ou seja, os padrinhos e madrinhas.
Na concepção de família dos imigrantes e descendentes de italianos, faz parte a
manutenção dos vínculos entre as gerações, com destaque para os laços afetivos entre os
nonnos e os netos, para o cultivo das relações parentais e vicinais, a preservação da
memória e da própria história familiar, bem como manter contato entre seus membros,
apesar da distância espacial que às vezes os separam. Dessa forma, a família é reproduzida
como um valor que contribui para fortalecer a identidade étnica.81 Outra característica
peculiar dos imigrantes italianos, apontada por Hohlfeldt, é a manutenção de um sentimento
de sociabilidade familiar e entre os componentes do grupo. Segundo ele, entre os italianos,
predominava um sentimento de igualdade que caminhava junto com ao sentimento de
religiosidade.82
Em relação à religião, os imigrantes italianos eram, em sua maioria, de intenso
apego aos ritos e celebrações de fé. A capela, além de ser o local de culto que reúne todos
os moradores para a celebração dos rituais religiosos, é também um centro de convívio e
apoio mútuo, funcionando sob o aspecto sociológico como vizinhanças rurais.83 Nas
regiões de imigração italiana, a capela geralmente ocupava o centro da colônia, sendo seu
ponto de referência. A vida religiosa dos imigrantes era pautada por um forte apego às
prescrições da Igreja, sendo costume amplamente difundido a escolha de um ou mais santos
como padroeiro.
Nesse contexto, com tendência a limitação social de suas relações e vendo na
família e na Igreja o traço básico de sociabilidade, verificamos que o imigrante italiano
tendia a um certo isolamento; isolamento esse que, num primeiro momento preservou-lhe a
unidade cultural.84 Dessa forma, o nome de batismo indicaria um traço da preservação
dessa identidade.
3.2 Categorias de influências nos prenomes dos imigrantes italianos de Campo Largo
Para verificarmos como são atribuídos os nomes de batismo nos imigrantes das
colônias italianas de Campo Largo, no período de 1899 a 1920, construímos diversas
tabelas, quantificando separadamente prenomes masculinos e femininos. Tal escolha foi
realizada para verificar se alguma influência é predominante em determinado grupo.
81 ORO, Op. cit. p. 616-17 82 HOHLFELDT, Antônio. 1979.p. 212 83 BALHANA, 2002C: p.206 84 HOHLFELDT, Op. cit: p.212-14
Também separamos em dois períodos os dados (1899-1910) e (1911-1920), com o
objetivo de visualizar se há ou não mudanças na história da comunidade imigrante.
As tabelas 9 e 13 foram elaboradas tomando como base as fichas tipo “M”, nas
quais constam as informações relacionadas à data de casamento. Dessa forma, obtivemos
três gerações, referentes aos noivos, aos pais dos noivos – obtidos na ata de casamento –, e
os filhos arrolados nos registros de batismo. As tabelas 10 e 14 foram construídas tomando
por base as fichas tipo “E”, cujo casamento foi provavelmente realizado antes do período
estabelecido como baliza inicial, ou em outra paróquia. Nesses casos, obtivemos apenas o
conjunto de filhos batizados durante o período estudado juntamente com os pais, ou seja,
informações a respeito de duas gerações.
Tabela 9 – Paróquia de São Sebastião, Município de Campo Largo, Paraná Origem provável dos prenomes masculinos - Fichas “M”
Quantidades Categorias 1899-1910 1911-1920 Total
# % # % # % Avô Paterno
46
29,8
42
17,0
88
22,0
Avô Materno
34
22,0
47
19,0
81
20,1
Nome do Pai:
10
6,5
15
6,1
25
6,2
Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó paterna
1
0,7
6
2,4
7
1,8
Neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna
2
1,3
2
0,8
4
1,0
Nome do Santo** e nomes devocionais
18
11,7
25
10,1
43
10,7
Nome do padrinho de batismo:
5
3,3
8
3,2
13
3,2
Nome do padrinho de casamento
0
0
8
3,2
8
2,0
Outros
38
24,7
94
38,1
132
32,9
Total 154 100,00 247 100,00 401 100,00 Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
* Estamos considerando o santo, cujo dia de batismo ou nascimento foi próximo, e padroeiros das capelas.
Observando os dados da tabela 9, percebe-se que, enquadramos a maioria dos
batizados em uma das categorias. Entretanto, salientamos que nossa análise pautou-se na
observação de cada ficha individualmente, relacionando o prenome do batizado e os nomes
dos demais presentes na ficha (avós, pais, padrinhos, etc.). Se fossemos fazer um estudo
mais amplo, encontraríamos outras prováveis origens, decorrentes das relações de
parentesco. Mas nós não tivemos condições de articular genealogicamente as fichas de
diferentes famílias, pois faltava-nos informações para tanto.
Para o primeiro período (1899-1910), observa-se que a categoria mais recorrente de
nomeação, foi a homenagem ao avô paterno. Temos, nesse caso, o predomínio da exaltação
da linhagem “masculina”. Se compararmos com o segundo período, desconsiderando a
categoria “outros prenomes”, verificamos que a influência do avô materno suplantou a
categoria avô paterno. A pequena diferença notada deve-se, ao fato que, em muitos casos, o
filho primogênito recebia o prenome do avô paterno. Como separamos o recorte temporal
em dois períodos, essa influência foi a mais votada . Na contagem total, observamos que a
diferença entre uma e outra categoria é pequena, mostrando que não há grande predomínio
de um em relação ao outro. Ou seja, ao longo dos dois períodos, desconsiderando a ordem
dos nascimentos, na contagem total as duas categorias praticamente se equilibram.
A categoria “outros” é mais expressiva no segundo período, provavelmente em
função do fato de muitas famílias terem tido filhos ao longo das duas décadas que estamos
estudando. Nessa direção, os primeiros batizandos foram nomeados a partir de muitas das
categorias da tabela acima, e aos últimos foram atribuídos outros prenomes não
relacionados a nenhuma das influências, e, portanto enquadrados no grupo “outros
prenomes”.
Em relação às demais categorias (nome do pai, neto c/ o nome na versão masculina
do nome da avó paterna, neto c/ o nome na versão masculina do nome da avó materna,
nome do santo e nomes devocionais, nome do padrinho de batismo, nome do padrinho de
casamento) percebe-se que, praticamente, não há variação de um período para outro.
Depois das categorias avô paterno e materno, as influências que aparecem na
seqüência como mais freqüentes é a influência do pai e os nomes relacionados ao
sentimento religioso. Para os prenomes devocionais, considerando o intenso sentimento de
religiosidade dos imigrantes italianos, adotamos os seguintes critérios :
• a data de nascimento ou batismo devia estar próxima pelo menos dez dias da
data em que o santo é festejado;
• haver relação entre o nome da criança e o santo padroeiro da colônia;
• haver relação entre a data de nascimento ou batismo e o prenome da criança
(exemplo uma criança nascida em 25 de dezembro e o prenome de Salvador).
Tabela 10- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo Largo, Paraná. Origens Prováveis dos prenomes masculinos
Fichas “E” Quantidades
1899-1910 1911-1920 Total
Categorias # % # % # %
Pai 15 6,9 3 2,9 18 5,4 Padrinho de batismo 31 14,3 7 6,7 38 11,5 Nomes devocionais 14 6,5 12 11,5 26 7,9 Outros 157 72,3 82 78,9 239 75,2 Total 217 100,00 104 100,00 331 100,00 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
Para a tabela 10, como não temos as influências dos avós, contabilizamos somente
as categorias “nome do pai, do padrinho e nomes devocionais”. Por termos menos dados
não podemos tirar grandes conclusões. O que podemos visualizar é que, a exceção da
categoria “padrinhos de batismo”, cujo número é mais expressivo que os da tabela 9, as
outras duas influências apresentam valores semelhantes.
Para relacionar os nomes devocionais presentes nas tabelas 9 e 10, elaboramos as
tabelas 11 e 12 a respeito dessa influência:
A tabela 11, traz os padroeiros das capelas das colônias italianas de Campo Largo.
Formatamos tal tabela, visto que, encontramos batizados, em que foi possível relacionar o
prenome da criança e os santos padroeiros da sua colônia de residência .
Tabela 11- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Padroeiros das Colônias italianas de Campo Largo.
Colônia Padroeiro principal Outros Padroeiros das colônias
Rondinha São Sebastião S. Cristóvão e Nª. Sra. das Dores Rebouças Nª. Sra do Carmo Nª. Sra do Monte Bérico e São Marcos Mariana Nª. Sra da
Anunciação São Carlos, São Pedro e São Paulo
Campina São João Baptista N. Srª da Saúde Timbotuva Sr. Bom Jesus São Valentin e São José
Fonte: paróquia de São Sebastião.
A tabela 12, a seguir, apresenta a freqüência de prenomes que honravam santos de
devoção.
Tabela 12- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Freqüência dos nomes devocionais masculinos.
Influência Freqüência
São João Baptista 15 Santo Antônio 14 Santo 7 São José 7 São Sebastião 5 São Pedro 3 São Francisco 3 Salvador 2 São Paulo 1 São Marcos 2 São Luiz 1 São Carlos 2 São Brás 1 São Mateus 1 São Roque 1 São Domingo 1 Natal 1 Santo Agostinho 2 Total 69 Fonte: livros de batismo
De acordo com a tabela acima vemos que a referência a Santo Antônio e São João
Baptista foram as mais recorrentes. Destaca-se que ambos são festejados nos mês de junho,
os chamados santos “juninos” bastante freqüentes como padroeiros de capelas de influência
italiana.
Como foi mencionado, separamos em tabelas as influências de atribuições dos
prenomes masculinos de femininos, utilizando basicamente as mesmas para as meninas –
com algumas modificações decorrentes de influências que não aparecem na tabela de
prenomes masculinos, e vice-versa. Assim, na tabela 13, não temos a categoria “padrinhos
de casamento”, uma vez que em todos os registros de casamento encontramos somente
homens como padrinhos, ou testemunhas, como informavam a maioria dos registros.
Também, tanto na tabela 13 como na 14 encontramos outra categoria que não aparece
para os meninos, ou seja, a “filha com o nome na versão feminina do nome do pai”.
Assim como a tabela das prováveis origens dos prenomes masculinos, a dos
prenomes femininos ficaram assim distribuídas:
Tabela 13- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes femininos
Fichas “M”
Quantidades Categorias 1899-1910 1911-1920 Total
# % # % # % Avó Paterna
25
24,8
43
19,1
68
20,9
Avó Materna
26
25,7
50
22,2
76
23,3
Nome do Mãe:
6
5,9
7
3,1
13
4,00
Neta c/ o nome na versão feminina do nome do avô paterno
1
1,0
5
2,2
6
1,8
Neta c/ o nome na versão feminina do nome da avô materno
1
1,0
3
1,3
4
1,2
Filha com o nome na versão feminina do nome do pai
0
0
6
2,7
6
1,8
Nome da Santa** e nomes devocionais
3
3,0
5
2,2
8
2,5
Nome da madrinha de batismo
3
3,0
17
7,6
20
6,1
Outros
36
35,6
89
39,6
125
38,3
Total
101
100,0
225
100,0
326
100,0
Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
* Estamos considerando o santo, cujo dia de batismo ou nascimento foi próximo, e padroeiros das capelas.
Tabela 14- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes femininos-
Fichas “E”
Quantidades 1899-1910 1911-1920 Total
Categorias
# % # % # % Mãe 5 2,3 7 5,0 12 3,3 Madrinha de batismo 20 9,4 18 12,9 38 10,4 Nomes devocionais 8 3,7 5 3,6 13 3,6 Versão feminina do nome do pai
2 0,9 2 1,4 4 1,1
Outros 179 83,6 108 77,1 287 78,9 Total 214 100,00 150 100,00 364 100,00 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
Na tabela dos prenomes femininos (13), na contagem total, ao comparar com a dos
prenomes masculinos (9), verificamos que houve uma inversão no que se refere a influência
dos avós. Enquanto que na primeira foi privilegiada a linhagem do pai, na segunda é a
influência da avó materna que se sobressai para os dois períodos, embora seja pequena a
diferença entre as duas categorias. Dessa forma, percebe-se que, no caso dos meninos, de
todas as categorias foi mais recorrente a influência do avô paterno, enquanto nas meninas é
da avó materna. Assim, parece-nos que há um certo equilíbrio, traduzido na busca da
preservação da memória da geração de ambos os cônjuges.
É de se destacar o fato de que, na última tabela, aparece com maior recorrência,
depois da influência dos avós, a relação do nome da batizanda com o da madrinha. Tal
fenômeno pode ser associado à idéia de que o papel da madrinha era de relativa
importância, pois esta era considerada como a “segunda mãe”. É do senso comum a idéia
de que, em especial nas famílias numerosas, a madrinha contribuiria na criação e educação
das crianças, quando da ausência da mãe.
No que diz respeito aos nomes devocionais, relacionamos menos casos e menor diversidade
do que para os meninos, uma vez que as santas padroeiras são, geralmente, oriundas de
formas diferentes da devoção de Nossa Senhora. Assim, como esse é um prenome bastante
recorrente, adotamos como critério as meninas nascidas ou batizadas próximas dos dias de
devoções das santas conforme os seguintes exemplos : em março, N.ª Srª da Anunciação;
em maio, N.ª. Srª de Fátima; em julho, N.ª Srª do Carmo; em Agosto,
N.ª Srª dasNeves; outubro, N.ª Srª. Do Rosário; entre outras. Também encontramos outros
casos, referidos à Santa Anna, Santa Terezinha e Santa Catharina.
Quanto às outras influências (“nome do mãe”, “versão feminina do nome do avô
paterno ou materno”, “versão feminina do nome do pai”), assim como no caso dos
meninos, sua freqüência é relativamente pequena. Constatamos, tais influências,
especialmente em famílias numerosas85 e em prenomes combinados.
As tabelas sobre as influências na nomeação foram pensadas para cada nome de
batismo, arrolado separadamente. Entretanto, como tivemos uma quantidade significativa
de combinações, montamos mais duas tabelas (uma para os meninos e outra para as
meninas) colocando as combinações encontradas. Destaca-se que estas foram elaboradas
tendo por base as fichas “M”, uma vez que, paras as fichas “E”, estabelecemos poucas
relações .
As tabelas para as combinações de prenomes, tanto dos meninos como das meninas,
apresentam-se a seguir:
85 Em algumas famílias numerosas, tais categoras eram utilizadas, principalmente, quando já se tinha utilizado os nomes dos avós em outros filhos.
Tabela 15- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Origens prováveis dos prenomes masculinos combinados
Quantidades
1899-1910 1911-1920 Total
Categorias
# % # % # % Avô materno + nome do pai
1
3,1
1
3,6
2
3,3
Avô materno + nome de santo
3
9,4
1
3,6
4
6,7
Avô materno + outro nome*
3
9,4
5
17,9
8
13,3
Avô materno + Avô paterno
9
28,1
4
14,3
13
21,7
Avô paterno + nome do pai
2
6,3
2
7,1
4
6,7
Nome do avô paterno + nome de santo
2
6,3
1
3,6
3
5,0
Nome do avô paterno + outro nome*
3
9,4
4
15,0
7
11,7
Nome do pai + nome do santo
1
3,1
1
3,6
2
3,3
Padrinho + nome de santo
1
3,1
3
10,7
4
6,7
Outros
7
21,9
6
21,4
13
21,7
Total
32
100,00
28
100,00
60
100,00
Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR *Origem não relacionada com os outro nomes presente naquela ficha
Tabela 16- Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.
Prováveis origens dos prenomes femininos combinados
Quantidades 1899-1910 1911-1920 Total
Categorias
# % # % # % Avó materna + nome do mãe
1
3,2
2
6,5
3
4,8
Avó materna + nome de santa
2
6,5
2
6,5
4
6,5
Avó materna + outro nome*
2
6,45
7
22,6
9
14,5
Avó materna + Avó paterna
7
22,6
8
25,8
15
24,2
Avó paterna + nome do mãe
2
6,5
1
3,2
3
4,8
Nome da avó paterna + nome de santa
2
6,5
2
6,5
4
6,5
Nome da avó paterna + outro nome*
4
12,9
1
3,2
5
8,1
Nome da mãe + nome da santa
2
6,5
1
3,2
3
4,8
Madrinha + outro nome
3
9,7
1
3,2
4
6,5
Outros
6
19,4
6
19,4
12
19,4
Total
31
100,00
31
100,00
62
100,00
Fonte: Livros de batismo e de casamento, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR. *Nome não relacionado com os demais nomes presentes naquela ficha.
Nas combinações, assim como nos prenomes únicos, enquadramos a maioria
dos batizandos em uma das influências. Tanto na tabela dos prenomes combinados
masculino, como nas combinações femininas, na contagem final e desconsiderando a
categoria “Outros” a predominância da influência dos avós se repete. Essa ocorrência foi
notada, em certos casos, quando se tratava do primeiro filho do casal, ou quando ainda não
se tinha atribuído os nomes dos avós a nenhum outro filho. Essa decisão do casal,
provavelmente resultou da vontade de honrar as duas linhagens ao mesmo tempo.
Depois das combinações dos prenomes dos avós, tanto para a tabela dos meninos
quanta das meninas, a influência “nome do avô(ó) paterno(a) + outro prenome” e “nome
do avô(ó) materno(a) + outro prenome” foram as mais utilizadas , o que também é coerente,
pois os avós sempre estão presentes. Se compararmos com a tabela de prenomes únicos,
vemos que se repete a influência dos avós, como sendo a mais recorrente.
Quanto às demais combinações, nota-se que são casos pontuais, provavelmente
decorrentes de questões particulares, em que o casal atribuiu o nome a criança querendo
homenagear duas pessoas ao mesmo tempo.
3.3 Os prenomes mais freqüentes
Analisando a nomeação das crianças batizadas durante o período estudado,
percebemos que os mesmos, em grande parte, são emprestados de um mesmo estoque
cultural de prenomes. Tal fenômeno decorre das influências descritas acima, pois, se
conseguimos visualizar na maioria dos casos como as crianças foram nomeadas, é plausível
que constatemos que grande parte desses prenomes sejam oriundos de uma mesma origem,
da qual são oriundos os prenomes de seus pais e avós. Entretanto, não foi possível verificar
quantos prenomes das crianças batizadas foram registrados em sua versão italiana, e
quantos em sua versão portuguesa. Tal problema metodológico decorre do fato das fontes
não nos informarem com segurança essa relação, pois em vários casos, encontramos nomes
de indivíduos vindos da Itália, registrados na versão portuguesa.
Para visualizar quais prenomes de batismo eram mais freqüentes, elaboramos
algumas tabelas, separando-os por sexo e período. A contagem foi feita observando cada
prenome separadamente, independente de combinações. Para as combinações, estamos
trazendo somente os que apareceram mais de uma vez, pois a diversidade encontrada foi
imensa.
Tabela 17 – Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.
Freqüência dos prenomes masculinos por período.
1899-1910 1911-1920 Total Antônio 142 Antônio 59 Antônio 142 João ou Giovanni 69 João ou Giovanni 52 João ou Giovanni 121 José ou Giuseppe 54 José ou Giuseppe 47 José ou Giuseppe 101 Luiz ou Luigi 30 Luiz ou Luigi 21 Luiz ou Luigi 51 Angelo 26 Angelo 18 Angelo 44 Baptista 23 Francisco 19 Pedro ou Pietro 42 Pedro ou Pietro 23 Pedro ou Pietro 19 Francisco 39 Francisco 20 Carlo ou Carlos 18 Baptista 34 Domingo 15 Baptista 11 Carlo ou Carlos 26 Jacob 9 Augusto 9 Domingo 22 Carlo ou Carlos 8 Domingo 7 Augusto 16 Vitório ou Vittore 8 Bernardo 6 Vitório ou Vittore 14 Augusto 7 Sebastião 6 Bernardo 13 Bernardo 7 Vitório ou Vittore 6 Sebastião 12 Federico 7 Santo 6 Santo 12 Paulo 6 Federico 2 Jacob 10 Santo 6 Paulo 3 Federico 9 Sebastião 6 Jacob 1 Paulo 9 Outros 169 Outros 136 Outros 305 Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
Observando-se a tabela acima, quanto à freqüência dos prenomes, notamos que
praticamente não há variação de uma década para outra. Os nomes de batismos mais
freqüentes, do primeiro período para o segundo, mantém-se quase inalterados em sua
ordem. O que podemos destacar na comparação entre os dois períodos é que o número de
“Antônios” cai para menos da metade, do primeiro para o segundo período, embora este
prenome se mantenha entre o mais votado. Com relação a esse caso, o que podemos
relacionar é o fato de que este prenome também aparece como o mais recorrente entre os
homens vindos da Itália. Dessa forma, muitos meninos, enquadrados no primeiro período,
por terem sido o primeiro filho de um casal, eram nomeados homenageando os avôs. Além
disso, Antônio era um prenome freqüentemente associado em combinações.
Relacionando a análise feita anteriormente com a observação dos nomes
devocionais, vemos que, assim como os dois santos que mais tiveram influência foram
Santo Antônio e São João Baptista, nessa tabela nota-se que os dois nomes mais recorrentes
foram Antônio e João (ou Giovanni). Além disso, destaca-se que o prenome Baptista,
que em muitas vezes apareceu combinado com João, também está entre os mais freqüentes.
Ou seja, em parte muitos dos prenomes masculinos mais votados estão diretamente ligados
a referência aos santos.
Para os prenomes combinados, como a diversidade foi grande, optamos por
construir apenas uma tabela com as combinações mais recorrentes, sem considerar os dois
períodos.86
Tabela 18– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná.
Freqüência das combinações de prenomes masculinos (1899-1920)
Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR Pela tabela acima, nota-se que as combinações trazem somente aqueles prenomes
presentes na tabela 17. Destaca-se que a combinação mais votada (João Baptista)
demonstra a influência dos nomes devocionais.
Para os prenomes femininos, a metodologia foi a mesma, com destaque a dois
períodos e selecionando os mais recorrentes.
86 A relação de todas as combinações masculinas encontra-se no anexo
Prenomes Frequência João Baptista 21 Angelo Antônio 6 Antônio Luiz 6 Francisco José 5 Santo Antônio 3 José Luiz 2
Tabela 19– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Frequência dos prenomes femininos por período
1899-1910 1911-1920 Total Maria 81 Maria 85 Maria 166 Angela 33 Rosa 33 Rosa 59 Catharina ou Catherina 29 Antonia 33 Angela 51 Rosa 26 Luiza ou Luigia 26 Antonia 48 Teresa 19 Teresa 24 Catharina ou
Catherina 46
Ana 18 Joanna 19 Teresa 43 Elisabeth ou Elizzabetta 17 Angela 18 Luiza ou Luigia 39 Antonia 15 Catharina ou Catherina 17 Joanna 27 Luiza ou Luigia 13 Elena 14 Ana 25 Dominga 9 Amabile 10 Elisabeth ou
Elizzabetta 23
Magdalena 9 Dominga 9 Dominga 18 Joanna 8 Magdalena 8 Magdalena 17 Emília 7 Regina 8 Elena 17 Vírginia 6 Ana 7 Regina 14 Regina 6 Emília 7 Amabile 14 Amabile 3 Elisabeth ou Elizzabetta 6 Emília 14 Elena 4 Vírginia 1 Vírginia 7 Outros 137 Outros 129 Outros 266 Fonte: Livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR
Dentre os prenomes femininos mais recorrentes, a situação foi diferente do que os
masculinos. Maria, como era de se esperar, aparece como predominante para os dois
períodos, tanto pelo fato de ser um prenome comum, como por estar ligado ao sentimento
devocional, além de ser bastante utilizado em combinações. Alguns nomes de batismo
dobram seu número de um período a outro (como Luiza ou Luigia, Antonia e Joanna),
outros caem pela metade (como Angela, Anna e Catherina). No segundo período aparecem
outros prenomes entre a lista dos mais escolhidos, ausentes no primeiro. Entretanto, por ser
pequena as diferenças, não podemos dizer que mostrem grandes mudanças na nomeação.
Quanto à variação na freqüência de um período a outro, acreditamos que estão
diretamente ligados as influências na atribuição dos prenomes. Nesse grupo de imigrantes
um certo prenome pode ser mais, ou, menos recorrente, se os pais optarem ou não por
nomear seus filhos pensando em homenagens aos pais, padrinhos, avós ou santos de
preferência. Como exemplo podemos citar uma linhagem qualquer em que um homem
imigrante se chamasse Matteo. Se ele tiver uma família numerosa, e por sua vez, cada filho
constituir família e homenagear o avô, o prenome do imigrante pioneiro se multiplicará.
Para os prenomes femininos combinados, assim como para os masculinos, como a
diversidade foi grande, optamos por fazer apenas uma tabela com as combinações mais
freqüentes, sem separar por período.87
Tabela 19– Paróquia de São Sebastião, Município de Campo largo, Paraná. Frequência das combinações de prenomes masculinos (1899-1920)
Fonte: livros de batismo, Acervo da paróquia de São Sebastião, Campo Largo : PR Como podemos observar, as combinações – exceto para alguns casos –, reuniam os
prenomes mais comuns. Na tabela dos prenomes únicos, Maria foi o mais recorrente; para
as combinações não ocorre o contrário, pois mais da metade das associações visualizadas
na tabela acima trazem este nome. Comparando com as combinações masculinas, nessa
tabela temos mais combinações que se repetem.
87 A lista completa de todas combinações de prenomes masculinose femininos encontrados está em anexo.
Prenomes Frequência Maria Rosa 7 Maria Antonia 5 Maria Luiza 5 Maria Madalena 4 Teresa Maria 4 Ana Catharina 2 Antonia Angela 2 Antonia Margherita 2 Catharia Maria 2 Dominga Angela 2 Elena Maria 2 Josepha Joanna 2 Luiza Antônia 2 Maria Joana 2 Rosa Jacoba 2
Conclusão
Os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo, no período inicial da
colonização, procuraram dar continuidade aos valores etno-culturais relacionados à sua
origem, no que toca a forma de nomear. Isso reflete parcialmente uma reação a um mundo,
até aquele momento, estranho e diverso para eles. Essa constatação é feita com base nos
resultados obtidos, pois a maioria dos prenomes atribuídos aos batizandos do período
estudado, é emprestada de um mesmo estoque cultural. Além disso, muitos dos nomes de
batismo mais recorrentes na geração das crianças batizadas são os mesmos de gerações
nascidas na Itália (pais e avós).
Não foi possível ir muito longe nessas análises, na medida em que as informações
sobre as formas de grafar os prenomes não estavam suficientemente distintas na
documentação. Ou seja, tendo em vista a forma italiana e portuguesa de grafar os nomes de
batismo, foi impossível verificar qual sua recorrência, o que permitiria utilizar mais
indicadores para o estudo da preservação da identidade cultural.
Ainda em relação ao conjunto de nomes de batismo arrolados, notamos que houve
uma forte ligação entre os prenomes mais freqüentes e a referência aos santos.
Exemplificando, constatou-se que Antônio, João ou Giovanni, José ou Giuseppe foram os
nomes mais recorrentes para os meninos, o que é coerente com o fato de que Santo
Antônio, São João Baptista e São José, são devoções bastante comuns no âmbito religioso
dos italianos. Situação parecida pode ser apontada para as meninas, embora restrito a um
prenome de larga utilização, Maria.
Nesse sentido, o costume de nomear um filho utilizando referências devocionais
pode estar ligado a crença de que a criança, ao ser consagrada desta forma no momento do
batismo, adquiriria a proteção de tal santo, ou virtudes que o levariam a uma boa conduta
moral e religiosa em sua vida. Não é possível descartar essa hipótese para complementar a
explicação relacionada à escolha de prenomes de pais, avós e padrinhos, uma vez que
também é possível aventar que se gostaria de perenizar suas virtudes na vida da batizanda.
Portanto, a tabulação dos dados, para a maioria dos casos, mostrou uma provável
influência na nomeação que remete principalmente às relações familiares e ao sentimento
religioso. Entretanto, acreditamos que houveram outras influências – embora em número
menos significativo –, que foram incluídas na categoria “outros” nas tabelas referentes às
origens prováveis dos prenomes únicos e combinados. Apesar de, em alguns casos, ter sido
percebido outras influências oriundas de relações de parentesco, estas não foram
analisadas, pois não tivemos condições de reconstituir genealogicamente todas as famílias.
Nessa direção, podemos apontar a presença dos tios, primos ou mesmo de parentes que
tinham ficado na Itália. Além do âmbito familiar, alguns prenomes podem ser relacionados
a adjetivos, lugares e sentimentos, tais como Amabile (Amável), Benavento (Bemvindo),
Itália e Vicenza (referência à sociedade emissora), Libera (Liberdade), Vittore (Vitória),
entre outros.
Em relação aos nomes de batismo menos comuns, é interessante notar a presença de
muitos casos que remetem a uma relação de prenomes tipicamente italianos, como
Pazienza, Pasqua, Torana, Natalina, Massimiliano, Melchiore, Leonida, Jovino, Idalina,
Giocondo, Fedele, Fioravante, entre outros.
Concluindo, percebemos que, para o período estudado, a herança italiana da
atribuição de nomes de batismo se mantém. Entretanto, cabe terminar este texto com uma
questão, relacionada ao futuro das gerações estudadas. Ou seja, se é verdade que o grupo
manifestou um determinado comportamento, revelado na atribuição dos nomes de batismo,
é de se perguntar se, nas gerações seguintes, as práticas culturais em evidência não seriam
modificadas em função das influências da sociedade local a partir das relações sociais
desenvolvidas. Evidentemente é uma pergunta, por enquanto, sem resposta.
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RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. Candido da Cunha. 1888. disponível
em <www.pr.gov.br > acesso em 29/10/2004.
ANEXO 1
Limites territoriais da Paróquia “No dia 5 de abril de 1937 Rvmo. Arcebispo Dom Attico Ensilio da Rocha emanou o seguinte decreto: Pela presente, attendendo a necessidade de uma junção parochial regular, e seguindo as preocupações canonicas, depois de ouvido o parecer dos Revmos. Consultores archidiciocesanos e usando de nossa jurisdição ordinaria, havemos por bem elevar a cathegoria de Parochias amaviveis (can. 454 § 3) as obras capellas curadas de São sebastião de Rondinha e S. José de Santa Felicidade, cujos limites confirmamos e ratificamos conforme se descreve em seguinte: A parochia de São Sebastião de Rondinha assim se limita: Pela estrada que partindo da estrada macadamizada vae ao passo de Fabiamos, no arraio das Costas, dahi por este arraio abaixo até o pequeno rio Rinção; por este Rio abaixo ate o Rio Verde, dahi pelo Rio Verde acima ate encontrar os limites da parochia de Orleans, até o Rio Passauna, dahi pelo Rio Passauna abaixo, ate encontrar os limites da freguesia de Thomas Coelho; por estes limites em direção de Campo Largo, ate encontra o corrego dos Fedaltos; por este corrego abaixo ate a estrada do Rio Verde, seguindo esta estrada ate a ponte do mesmo Rio Verde, dahi pelo Rio Verde abaixo ate o corrego que vindo da Colonia Mariana, vai ate o rio Amocafe; dahi por este rio acima ate onde desagua um arraia que vem da propriedade do Sr. Otto Vaz Chem; dahi por este arraia acima, continuando pelos limites da referida propriedade e pela estrada do Rio Verde, ate o ponto de partida na estrada macadamizada. Dado e passado nesta cidade archipiscopal de Curityba sob o nosso igual e o sello Nossas ... aos 2 de Abril de 1937.’’ “Com este decreto a Egreja de Rondinha esta elevada a Parochia, mas vem a perder cinco capellas: S. João Baptista de Campina, S. Benedito de Salgadinho, S. Antonio e S. João do Capão, e S. Anna de Figueredo. Ficam tambem escluidas da nova parochia 120 familias, que estão registradas no livro de batismo deste archivo, assim divididas, 38 familias da colonia de Campina, 55 familias italianas do centro de Rondinha, 30 familias brasileiras de Rondinha, mais algumas familias de Mariana e Rebouças. Os excluidos ficaram muito malcontentes e repetidas vezes foram do Sr. Arcebispo a se queixar, mas debalde. Os padres de S. Carlos não puderam fazer nada, porque não foram convidados a presentar as divisas e proprio ponto de vista, nem tampouco consultados, mas foram aceitadas as divisas como foram apresentadas pelo P. de Campo Largo, P. Aloisio Domanski. Resentemente a parochia é em forma de retangulo com o comprimento de 18km por 5 km e compreende as capellas de Mariana, Timbituba, Rebouças e Ferraria.”
Anexo 2 - Relação completa da frequência dos prenomes masculinos Achiles 2 Elia 5 Marcelino 1 Adamo 3 Emanuel 1 Marcelo 1 Adelio 1 Emilio 1 Marco 6 Adolfo 2 Enrique 1 Mario 1 Affonso 8 Epaminondas 1 Massimiliano 1 Agostinho 5 Ermenegildo 1 Matteo 1 Alberto 5 Ermínio 1 Melchiore 1 Albino 2 Ernesto 3 Miguel 7 Alessio 4 Estevão 1 Miro 1 Amadeo 2 Eugenio 8 Natal 5 Amante 1 Eurico 1 Nicolao 1 Ambrosio 4 Evangelista 6 Olimpio 1 Andrea 1 Faustino 1 Olinto 1 Angelo 44 Fausto 2 Olivo 3 Anibal 1 Fedele 1 Orestes 1 Antônio 142 Fedinando 5 Orlando 1 Arcangelo 1 Federico 9 Orsolo 1 Armando 1 Fernandes 2 Ovídio 1 Arnaldo 1 Filides 1 Paulo 9 Arturo 2 Fioravante 6 Pedro ou Pietro 42 Attilio 1 Fiorindo 4 Pierino 1 Augusto 16 Florenço 1 Placido 7 Bartolomeo 2 Florin 1 Primo 6 Baptista 34 Francisco 39 Prodocimo 2 Basílio 2 Gaetano 3 Rafaelle 1 Bemianino 1 Gaspar 1 Raimundo 2 Benavento 1 Germano 1 Riccardo 8 Bernardo 13 Giacinto 1 Rodolfo 2 Bernardino 3 Giacomo 1 Romano 1 Blasio 1 Girolamo 3 Sante 2 Bortolo 2 Giulio 1 Santo 12 Bruno 1 Godofredo 2 Santino 1 Candido 2 Guido 1 Sebastião 12 Camillo 5 Gulielmo 2 Silvano 1 Cesare 1 Honesto 1 Silvio 1 Carlo 26 Ignácio 2 Simão 1 Cipriano 7 Iridio 1 Stefano 3 Clarindo 1 Isidoro 5 Thomas 2 Claudino 2 Jacob 10 Ubaldino 1 Clementino 1 Jeronimo 3 Umberto 1 Constantino 5 Joaquim 4 Ursolino 2 Contante 3 João ou Giovanni 121 Valentin 1 Cristiano 1 José ou Giuseppe 101 Valentino 5 Dall’elmo 1 Jorge 1 Vascolo 1 Daniel 3 Jovino 1 Victor 1 David 3 Julio 1 Virgínio 1 Desidério 1 Laurindo 2 Virgolino 1 Diogo 1 Lauro 1 Vittore ou Vitório 14 Domingo 22 Leão 1 Dionísio 1 Leone 1 Domenico 1 Ludovico 1 Egidio 1 Luiz ou Luigi 51
Anexo 3 - Relação Completa da frequência dos prenomes femininos
Ada 1 Dominga 18 Leonida 1 Adelaide 2 Doratea 2 Lia 1 Adelia 1 Dussolina 4 Libera 1 Adelina 3 Elena 17 Lidia 2 Agata 2 Elisa 6 Luigia ou Luiza 39 Agnes 2 Elvira 4 Lucia 8 Alba 1 Elizabetta ou Elisabette 23 Margarida ou Margherita 9 Albertina 1 Emma 1 Maria 166 Albina 6 Emília 14 Mariana 5 Aldesira 1 Ermede 1 Marina 1 Amabile 14 Ermenegilda 1 Matilde 1 Amalia 6 Ermínia 8 Narcisa 5 Amantina 1 Ernesta 2 Natalia 2 Ambrosina 1 Escolastica 3 Natalina 1 Amorina 1 Eugenia 3 Nuncia 1 Anna 25 Faustina 1 Oliva 6 Angela 51 Filomena 3 Orsola 3 Angelina 1 Fiorinda 1 Orsolina 3 Anunziata 6 Floria 1 Paolina 2 Arminda 1 Francisca 1 Pasqua 1 Antonia 48 Gaetana 1 Pazienza 1 Arzira 1 Gemma 1 Pedrinha 1 Assidia 2 Genovepha 8 Pierina 1 Assunta 1 Giacoma 1 Regina 14 Attilia 1 Giuditta 1 Rosa 59 Augusta 1 Giuseppina 1 Rosalina 2 Aurelia 1 Grazioza 3 Rosaria 3 Aurora 1 Guistina 1 Sabrina 1 Beatrice 1 Ida 2 Santina 1 Benedita 1 Idalina 5 Silia 4 Brigida 1 Ignes 1 Tania 1 Carla 1 Iolanda 1 Teresa 43 Carlotta 3 Iolina 1 Torana 1 Carlotta 4 Iracema 3 Uttilia 1 Carmelita 1 Irda 1 Veronica 1 Carmella 4 Irene 2 Vicenza 1 Carola 1 Isabel 2 Victoria 3 Carolina 6 Isolina 2 Virginea 7 Carona 3 Itália 4 Catherina ou Catharina 46 Jacoba 2 Cecília 2 Jacomina 5 Celeste 2 Jole 1 Celestina 1 Josepha 3 Clara 2 Joanna 27 Cristina 2 Juditta 2 Daniele 3 Justina 3 Diomira 2 Laura 1 Dionisia 1 Laurita 1 Domenica 1
Anexo 4 -Relação completa prenomes masculinos combinados
Achiles Francisco 1 João Baptista 21 Achille Constantino 1 João Cipriano 1 Afonso Francisco 1 João Claudino 1 Ambrosio João 1 João Florindo 1 Angelo Antônio 6 João Joaquim 1 Angelo Inácio 1 João Natal 1 Angelo Miguel 1 João Santo 1 Angelo Prodocimo 1 João Sebastião 1 Antônio Claudino 1 José Angelo 1 Antônio Clementino 1 José Armando 1 Antônio Ferdinando 1 José Bortolo 1 Antônio Fioravante 1 José Caetano 1 Antônio Gaetano 1 José Camillo 1 Antônio José 1 José Federico 1 Antônio Luiz 6 José João 1 Antônio Prodocimo 1 José Luiz 2 Antônio Valentino 1 José Matteo 1 Augusto Sebastião 1 José Primo 1 Bernardino Domingo 1 José Sebastião 1 Bernardo Carlo 1 Ludovico Jerônimo 1 Bernardo Domingo 1 Luiz Agostinho 1 Bruno Domingo 1 Luiz Cipriano 1 Cesare Augusto 1 Luiz Jacob 1 Constante Antonio 1 Luiz Santo 1 Constante Francisco 1 Marcelino Fortunato 1 Constante José 1 Miro Laurindo 1 Constantino Antônio 1 Natal Diogo 1 Cristiano Antônio 1 Orlando Raimundo 1 Daniel Angelo 1 Paolo Carlo 1 Desiderio João 1 Pedro Alberto 1 Domingo Baptista 1 Pedro Francisco 1 Domingo João 1 Pedro Luiz 1 Domingo Primo 1 Pedro Matteo 1 Ernesto Antônio 1 Pedro Paulo 1 Eugênio Pedro 1 Primo Attilio 1 Federico Bernardo 1 Primo Pedro 1 Felisberto Ubaldino 1 Ricardo Assidio 1 Ferdinando Rafaelle 1 Ricardo Eugênio 1 Florenço Augusto 1 Sante Francisco 1 Florindo Carlo 1 Sante José 1 Florindo José 1 Santo Antônio 3 Francisco Andrea 1 Santo Cipriano 1 Francisco Cipriano 1 Santo Emilio 1 Francisco José 5 Santo Florindo 1 Jacob Vittorio 1 Valentino Fortunato 1 João Angelo 1 Vascolo Godofredo 1 João Antônio 1 Victor Emanuel 1 João Atillio 1 Virgolino Antônio 1
Anexo 5 - Relação Completa prenomes femininos
Albina Carolina 1 Josepha Joanna 2 Albina Regina 1 Judith Santa 1 Amabile Doratea 1 Luiza Antônia 2 Amabile Maria 1 Mariana Daniela 1 Ana Carolina 1 Maria Antonia 5 Ana Catharina 2 Maria Anunziata 1 Ana Eugenia 1 Maria Carolina 1 Ana Maria 1 Maria Dominga 1 Ana Rosa 1 Maria Dossolina 1 Angela Amabile 1 Maria Joana 2 Angela Catherina 1 Maria Luiza 5 Angela Celeste 1 Maria Madalena 4 Angela Erminia 1 Maria Margarida 1 Antonia Angela 2 Maria Mariana 1 Antonia Catherina 1 Maria Oliva 1 Antonia Joana 1 Maria Paolina 1
Antonia Margherita 2 Maria Pierina 1 Carlota Judith 1 Maria Rosa 7 Carmela Juditta 1 Matilde Catherina 1 Catharia Maria 2 Natalia Maria 1 Clara Amelia 1 Nuncia Maria 1 Catharina Amabile 1 Pasqua Joseppina 1 Dominga Angela 2 Pazienza Eugenia 1 Dominga Verônica 1 Regina Maria 1 Elena Delaide 1 Rosa Catherina 1 Elena Luiza 1 Rosa Elisabetta 1 Elena Maria 2 Rosa Jacoba 2 Elisabetta Joana 1 Rosa Madalena 1 Elvira Grazioza 1 Santa Antonia 1 Emilia Fiorinda 1 Santa Catherina 1 Ernesta Antonia 1 Teresa Emilia 1 Filomena Maria 1 Teresa Floria 1 Giacoma Joana 1 Teresa Luiza 1 Grazioza Maria 1 Teresa Maria 4 Izabel Rosa 1 VirgíniaMadalena 1 Joana Ana 1