a atuaÇÃo da equipe de enfermagem no...
TRANSCRIPT
1
A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO TRANSPORTE DE DOENTES
CRÍTICOS
1. Estelita Norma Cruz Silva*
2. Fernando Reis (Orientador)
RESUMO
Este estudo trata da importância da equipe de enfermagem durante o transporte intra hospitalar do paciente critico e tem como objetivo geral descrever como a enfermagem pode atuar de forma segura, minimizando possíveis complicações e garantindo a estabilidade durante tal transporte. Foi utilizado como fonte de dados uma pesquisa bibliográfica, explorativa descritiva: tendo com base livros, consulta de artigos em base de dados lilacs, pub, medline e scielo na busca de publicações dos últimos cinco anos. Evidenciando-se que a Enfermagem é de fundamental importância durante tal transporte já que um dos objetivos da enfermagem é promover e garantir o equilíbrio fisiológico e emocional do paciente. Com o avanço tecnológico e o desenvolvimento da medicina no tratamento do paciente critico o transporte intra hospitalar se faz necessário seja para o centro cirúrgico ou centro de diagnostico por imagem. O tempo do transporte pode ser prolongar. Sendo assim este transporte deve ser uma extensão da unidade de origem.
Palavras chave: Paciente critico, cuidados intensivos, assistência de enfermagem
1. Graduada em Enfermagem 2. Dr. em Educação PUC/SP – Prof. Adjunto da UFBA
2
1 INTRODUÇÃO
É grande o numero de pacientes que são classificados como críticos e necessitam
de cuidados intensivos o qual às vezes não estão restritos nas unidades intensivas
mais em emergências, centros cirúrgicos unidade de internação.
É considerado paciente critico aquele que apresenta sinais de ameaça á sua vida e
ou seu bem estar e apresenta falência profunda de um ou mais órgãos, a sua
sobrevivência depende de meios avançados de monitorização e terapêutica. O
enfermeiro que cuida do paciente crítico vê a unidade como um ambiente de
cuidados críticos como um sinal de morte iminente. O transporte do paciente crítico é
a extensão da unidade de origem, portanto deve ser feito de forma segura, evitando
assim o agravamento do estado clinico.
Transportar um paciente crítico quase sempre abrange vários riscos, a falha nas
funções cardiovasculares, respiratórias, resultando em instabilidade fisiológica
causando falta de oxigenação tecidual podendo trazer serias conseqüências. Pode
ainda causar hipotensão grave, arritmias cardíacas, obstrução de vias aéreas.
Neste contexto, as ações de enfermagem determinam muitas vezes a recuperação
e/ou agravamento clínico dos pacientes. O cuidado de enfermagem é o instrumento
das ações que norteados por regras, rotinas ou normas propõem uma observação
relevante e disciplinada. É importante prevenir agravos à saúde através das ações
de enfermagem direcionadas. O papel do enfermeiro nessas ações de transporte do
doente crítico é interdisciplinar e integralizado quando se orienta na necessidade da
saúde do paciente.
É importante destacar que a enfermagem vem acompanhando o aumento de
tecnologias novas na área hospitalar e com isso vem aprimorando seus
conhecimentos para efetuar seus cuidados junto à população hospitalizada. Todavia,
faz-se ainda necessário aprimorar os cuidados de forma ampla, tendo em vista à o
controle do risco durante o transporte de doentes, reduzindo os agravos à saúde da
população hospitalizada.
3
Através de um cuidado profissional voltado para a redução do tempo de internação,
favorecimento da recuperação física do paciente, as ações de enfermagem podem
minimizar os riscos do paciente durante o transporte, bem como favorecer a eficácia
do processo.
Pelo exposto, diante da complexidade do transporte do doente crítico, considera-se
como objetivo geral do estudo, evidenciar como a enfermagem pode atuar de forma
segura, minimizando possíveis complicações e garantindo a estabilidade durante o
transporte do paciente crítico.
Em termos específicos, o estudo buscou: apresentar uma breve consideração sobre
o transporte de doente crítico, apontando suas motivações, tipos e fases; apresentar
o enquadramento legal do tema abordado e, sobretudo no Brasil; caracterizar as
ações de enfermagem durante o processo e discutir as ações de enfermagem frente
às recomendações das legislações vigentes relativos ao transporte de doentes
críticos.
A questão que norteou esta pesquisa foi: de que forma a enfermagem pode autuar
para minimizar os riscos durante o transporte intra hospitalar do paciente critico?
O objetivo deste trabalho é descrever como a enfermagem pode atuar de forma
segura, minimizando possíveis complicações e garantindo a estabilidade durante o
transporte do paciente critico.
A relevância do estudo se dá pela importância do aprofundamento sobre a questão
do transporte do doente crítico junto aos pacientes internados em Unidade de
Terapia Intensiva.
O estudo trata-se de um estudo bibliográfico baseado em trabalhos científicos
relacionado às medidas de prevenção adotadas pela equipe de enfermagem para
evitar riscos durante o transporte de doentes críticos.
A metodologia consistiu em uma revisão literária, que visa contribuir e especificar
teoricamente sobre o assunto através da leitura, análise e interpretação de fontes.
4
Deste modo, realizou-se uma busca bibliográfica cujo aporte teórico foi obtido por
meio de consulta em livros, cujos autores foram citados no decorrer do texto e
referenciados posteriormente, em artigos científicos eletrônicos e manuais.
A presente pesquisa se enquadra ainda na pesquisa exploratória e descritiva, sendo
exploratória por envolver a pesquisa bibliográfica na busca de ampliar e aprofundar
os conhecimentos, que segundo Lakatos e Marconi (1996, p. 77), são investigações
de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema
com tripla finalidade, desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do
pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para realização de uma pesquisa
futura mais precisa ou modificar e clarificar os conceitos.
Levando em consideração os autores, a futura pesquisa consistirá em apresentar e
comentar o que já foi escrito em fontes específicas na área, considerando-as
fidedignas e relevantes, enfatizando as diferenças ou semelhanças que existam
sobre o assunto.
2 TRANSPORTE DE DOENTES CRÍTICOS
Na área de saúde, o doente crítico é definido como aquele cuja sobrevivência
depende de meios avançados de monitorização e terapêutica, aja vista a disfunção
ou falência profunda de um ou mais dos seus órgãos ou sistemas.
Entende-se ainda o doente crítico1 como aquele que “[...] possui um quadro clínico
complexo, acompanhado nos casos mais graves, de falência respiratória, cardíaca e
cerebral e cuja sobrevivência depende dos meios avançados de monitorização e
terapêutica” (CUNHA, 2000, p.42-43).
Estes indivíduos, segundo a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos
2(S.P.C.I) e a Ordem dos Médicos (O.M) (2008), têm risco de apresentar falência
múltipla de órgãos. Sua capacidade de adaptação ou reserva fisiológica para
1 Torres (1997 apud SILVA, 2008, p.19) cita como exemplos de doentes críticos: traumatismo craneoencefálico
moderado a grave; traumatismo vertebromedular; politraumatizados graves; hemorragias; tumores e abcessos cerebrais com deterioração do nível de consciência; angina instável; enfarte agudo do miocárdio; dissecção aórtica; e queimaduras graves.
2 A Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos foi a primeira instituição, em Portugal, a estabelecer linhas
orientadoras para o transporte de doentes críticos.
5
alterações súbitas é quase nula, o que faz com que qualquer alteração gere
instabilidade, podendo agravar a situação clínica do doente.
O estado em que se encontra o doente crítico exige uma assistência eficaz e
permanente por parte da equipe médica e de enfermagem, devendo esta equipe ser
multidisciplinar, especializada, treinada e disponha de condições apropriadas para
atende o doente crítico.
De acordo com Nunes (2009), a depender do local de origem e chegada, o
transporte de doentes críticos possui três designações: primária, na qual o doente é
transportado dentro do local onde foi acidentado e uma unidade de saúde; e
secundário ou inter-hospitalar, que ocorre quando o transporte é realizado entre
duas unidades de saúde ou departamentos dentro da própria unidade de saúde; ou
intra-hospitalar que ocorre quando o transporte acontece entre serviços dentro da
mesma unidade hospitalar.
O transporte destes indivíduos, seja no âmbito intra-hospitalar (dentro de um mesmo
hospital ou unidade de saúde), seja no âmbito inter-hospitalar (entre diferentes
hospitais ou unidades de saúde) constitui-se, segundo Machado (2010), numa área
essencial para a melhoria do estado clínico e determinante para a sobrevivência e
qualidade de vidas dos doentes críticos.
Em razão do seu estado, o transporte de doentes críticos entre hospitais e/ou
serviços dentro de um mesmo hospital para realização de exames ou necessidade
assistencial não possíveis de ser efetuadas no local ou instituição no qual o paciente
encontra-se internado, envolve riscos e, portanto, deve ser considerada os seus
benefícios.
Convém lembrar que o período de transporte é caracterizado pela instabilidade, o
que pode agravar o estado clínico do doente e originar complicações que devem ser
previstas, mas ainda assim ele é justificável quando o doente crítico necessita de
uma assistência superior, para realizar exames complementares não possíveis de
ser realizadas na instituição onde o doente está internado.
6
Assim, a S.P.C.I (2008, p.7) afirma que o transporte de doentes pode ser realizado
pelas seguintes razões:
[...] inexistência de recursos, tratar ou dar continuidade ao tratamento iniciado [...], mas, principalmente, para a acessibilidade a cuidados de saúde diferenciados ou não, a realização de exames complementares de diagnóstico ou a realização de tratamentos frequentes, ou para o simples regresso à residência.
Pereira Júnior et al (2001, p.144) cita como principais riscos ao paciente durante o
transporte intra e/ou inter hospitalar: “[...] falha no controle das funções
cardiorrespiratórias, o que pode resultar em instabilidade fisiológica, com prejuízo da
oxigenação tecidual [...], hipertensão severa, arritmias, obstrução aérea, entre várias
outras”.
Ainda segundo o autor acima citado, alguns riscos inerentes ao transporte
independe do tempo ou da distância a ser percorrida e as causas das alterações
normalmente não são fáceis de ser explicadas, uma vez que algumas delas muitas
vezes não são detectadas na ausência de monitorização adequada.
Pelo exposto, Nunes (2009, p.01) ressalta que na decisão do transporte de doente
critico deve ser considerada: “[...] a necessidade de transferir um doente por falta da
valência médico-cirúrgica ou necessidade de recursos técnicos indispensáveis à
continuidade dos cuidados e definição diagnóstica e terapêutica e/ou gravidade
clínica do doente”. Essas necessidades devem ser observadas, segundo o autor,
pois entre os doentes críticos, os riscos de morbilidade e mortalidade são
aumentados durante o transporte.
De acordo com a S.P.C.I e a OM (2008), os riscos no transporte destes indivíduos
podem ser minimizados quando for feito um planejamento cuidadoso, o que envolve:
uma equipe preparada, meios de transportes adequados e disponibilidade de meios
de monitorização e eventuais procedimentos de emergência necessários (terrestres
e/ou aéreos). Quanto mais qualificado e preparado for o transporte, menor o risco.
7
E ressalta: “[...] os problemas econômicos não devem constituir, em qualquer
circunstância, um impedimento para a transferência do doente crítico para um local,
onde lhe possa ser prestado um melhor nível de cuidados” (S.P.C.I, 2008, p.08).
Machado (2010) ressalta que não existe nenhum normativo legal específico e
entidade que assuma e se responsabilize pelo seu transporte do doente crítico,
cabendo as instituições de saúde organizarem e agilizarem todos os procedimentos.
E complementa, afirmando que todos doentes, independente de sua condição
econômica, têm o direito de serem transportados de forma segura. Para o autor: “[...]
o nível e a qualidade dos cuidados prestados durante o transporte, não deverão ser
inferiores aos cuidados na unidade de origem”.
O transporte do doente crítico pode ser realizado por via aérea ou terrestre, sua
escolha deve levar em conta diversos fatores, entre eles, a mobilidade do doente; a
sua situação clínica; tempo; condições meteorológicas, terreno, equipamento,
pessoal, entre outros.
Neste processo, a equipe de enfermagem tem papel importante, podendo a sua
vivência influenciar positiva ou negativamente na qualidade do transporte, bem como
na segurança e cuidados com o doente durante o seu transporte.
Pelo exposto, questões como a qualificação da equipe técnica e a qualidade do
serviço prestado devem ser levados em consideração no processo de transporte do
doente crítico, bem como o acompanhamento médico adequado, a experiência do
enfermeiro e a segurança emocional constituem-se em fatores positivos que
influenciam o aspecto positivo do transporte do doente crítico.
A qualificação da equipe médica envolve formação e experiência clínica dos
profissionais envolvidos no processo de transporte é um dos aspectos mais
importantes, uma vez que ela tem efeito direto na segurança do paciente durante a
saída e regresso no serviço ou instituição de destino.
A S.P.C.I (2008, p.11) salienta que todos os profissionais que tratam de doentes
críticos devem ser treinados para tal, bem como devem ter formação específica em
8
transporte, devendo, no mínimo, estarem preparadas para o suporte avançado de
vida e, desejavelmente, o suporte avançado de trauma.
Chama a atenção ainda para o transporte aéreo dos doentes críticos. Nestes casos,
apenas devem fazer o acompanhamento os profissionais habilitados em suporte
avançado de vida e que se encontram, especificamente, treinados para este tipo de
transporte, com formação em fisiologia de voo, nas regras de segurança durante o
helitransporte e nos heliportos.
No que se refere ao controle da qualidade do transporte, a S.P.C.I (2008)
recomenda a a existência de um sistema de acompanhamento e de auditoria local
(nas instituições) e regional (por área regional ou de hospital central e polivalente),
uma vez que é necessária a existência de dados objetivos, com a utilização de
escalas de pontuação para a definição das necessidades logísticas do
acompanhamento durante o transporte, assim como a consignação de metodologias
tipificadas para os registros clínicos, permitirão a avaliação do nível de desempenho
e do rigor assistencial.
Os auditores devem utilizar instrumentos de avaliação apropriados (baseados nas
tabelas e nos formulários de registro preconizados), para a análise do respeito pelas
boas práticas das presentes recomendações e implementação de medidas corretiva.
2.2 FASES DO TRANSPORTE DO DOENTE CRÍTICO O guia da S.P.C.I (2008, p.09) identifica três fases do transporte de doentes críticos,
a saber: decisão, planejamento e efetivação.
2.2.1 Decisão
Esta fase constitui-se em um ato médico e sua responsabilidade é do médico que
assiste o doente, do chefe da equipe e do diretor de serviço. É nesta fase que os
riscos inerentes ao doente e ao transporte devem ser equacionados, sobretudo nas
situações em que o deslocamento possa contribuir direta e indiretamente para o
agravamento da situação clínica do doente. Durante esta fase, a equipe de
enfermagem tem o papel de aconselhar o transporte.
9
Nunes (2009) salienta que a decisão em transportar o doente crítico requer um
parecer técnico baseado em dados clínicos objetivos através dos quais é possível
sistematizar a generalidade das decisões.
Com o objetivo de ter um parecer mais adequado, a Etxebarria e colegas proporam
o score de risco de transporte (quadro 1). O referido quadro foi publicado no
European Journal Emergence Medicine em 1998 e permite, através de parâmetros
fisiológicos e terapêuticos, decidir a necessidade de acompanhamento do doente
por enfermeiro, por enfermeiro e médico e ou mesmo qual o tipo de transporte que
deverá ser utilizado (quadro 2).
Quadro 1 – Resumo do sistema proposto para a avaliação dos doentes para
transporte
Fonte: Nunes (2009, p.23). Adaptado de Etxebarria e colegas, publicado no European Journal Emergence Medice em 1998. Serviço de Urgência - Recomendações para a Organização dos Cuidados Urgentes e Emergentes - Grupo de Trabalho de Urgências, 2006.
10
Nunes (2009) salienta que o score deverá estar preenchido, salvaguardando de
igual modo a decisão tomada em relação ao acompanhamento do doente, que é da
responsabilidade do médico.
Quadro 2 – Tipo de ambulância e acompanhamento segundo score
Fonte: Nunes (2009, p.23). Serviço de Urgência - Recomendações para a Organização dos Cuidados Urgentes e Emergentes - Grupo de Trabalho de Urgências, 2006.
2.2.2 Planejamento
É a fase mais importante no processo de transporte do doente crítico. Constitui-se
numa ação feita pela equipe médica e de enfermagem da unidade na qual o doente
está internado. É nesta fase que os problemas como coordenação, comunicação,
estabilização, equipe, equipamento, transporte e documentação devem ser
consideradas.
Ainda nesta fase, segundo a S.P.C.I (2008, p.09-10) os seguintes itens deverão ser
observados:
Escolha e contato com o serviço de destino, avaliando a distância a percorrer e o respectivo tempo de trajeto estimado; escolha da equipe de transporte (de acordo com as disponibilidades da unidade referente e as características do doente a transportar, com proteção individual e assegurada – seguro/cobertura em caso de acidente, escolha do meio de transporte; seleção dos meios adequados de monitorização; recomendações de objetivos fisiológicos a manter durante o transporte; seleção adequada de equipamentos e terapêutica; e previsão das complicações possíveis.
11
A S.P.C.I lembra que é na fase de planejamento que os possíveis acidentes durante
o transporte do doente críticos devem ser equacionados, sobretudo nas fases de
maior risco: os 05 (cinco) primeiros minutos, a passagem do doente e transporte
prolongado (aqueles superiores a 30 minutos). Ressalta ainda a necessidade de
estar atento para itens como: perdas de acessos venosos, reservas inadequadas de
oxigênio, avaria de ventilador de transporte, falta de bateria/carga elétrica de
equipamentos, entre outros.
Durante esta fase, os profissionais de enfermagem prestam os cuidados necessários
aos doentes, cuidados estes que são competências inerentes à sua formação, com
o objetivo de estabilizá-lo.
2.2.3 Efetivação É de responsabilidade da equipe de transporte. Seu término ocorre quando o doente
é entregue ao médico da unidade para qual é transferido (quando o transporte é
inter hospitalar) ou regresso a unidade de origem após realização de exames
complementares (quando o transporte é intra hospitalar). O enfermeiro, durante esta
fase, tem o papel de assistir o paciente, de forma que durante o transporte não haja
intercorrências.
2.3 TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR DE DOENTES CRÍTICOS OU PRIMÁRIO
O transporte intra-hospitalar é aquele realizado dentro do hospital. Acontece quando
o paciente necessita realizar testes diagnósticos não portáteis (tomografias
computadorizadas, ressonância magnética, angiografias, entre outras), intervenções
terapêuticas ou internação em Unidades de Terapia Intensiva.
Sua duração é indeterminada e pode gerar uma instabilidade para o doente,
podendo, inclusive, agravar o seu estado clínico e gerar complicações, mas de
qualquer forma é caracterizada pela saída do paciente de um ambiente no qual está
protegido (de cuidados intensivos, normalmente, um Centro Cirúrgico ou uma
Unidade de Terapia Intensiva) para uma outra área do hospital. A S.P.C.I (2008)
alerta que se o transporte constituir um risco significativo, sua realização deve ser
reavaliada e adiada.
12
A S.P.C.I (2008) recomenda que durante o transporte intra-hospitalar, o doente
crítico seja acompanhado, pelo menos, por um enfermeiro com experiência em
reanimação e treinado em transporte de doente crítico. Juntamente com o médico, o
enfermeiro devem está preparados para uma intervenção emergente ou urgente,
bem como devem permanecer com o doente até o fim do procedimento.
2.4 TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR DE DOENTES CRÍTICOS
O transporte inter-hospitalar é aquele sempre que o paciente necessite sair da
unidade de saúde na qual está para outra em razão, principalmente, da inexistência
de recursos humanos e técnicos no hospital de origem para tratar ou dar
continuidade ao tratamento iniciado (S.P.C.I, 2008).
Ela deve ocorrer quando o indivíduo necessita de cuidados que não existam na
unidade onde está (recursos humanos, diagnósticos e terapêuticos), ou seja quando
os benefícios para o paciente crítico sejam superiores ao riscos inerentes ao
transporte, sendo estes cuidados de responsabilidade do médico que o está
atendendo.
Pelo exposto, ao decidir pela transferência do doente, deve ter havido uma avaliação
prévia dos benefícios e riscos do transporte, sendo que neste último, segundo a
S.P.C.I (2008, p.16) dois componentes devem ser levados em consideração, a
saber:
[...] o risco clínico, que depende dos fatores que a afetam a fisiologia cárdio-respiratória e a fiabilidade da monitorização – efeitos das vibrações e das possíveis mudanças de temperatura – e o risco de deslocação (aceleração, risco de colisão, todos eles elevando-se, significativamente, com a velocidade).
A S.P.C.I (2008) ressalta ainda que medidas devem ser tomadas para mitigar os
riscos do transporte inter-hospitalar do doente crítico, entre eles, o doente deve ser
estabilizado no hospital de origem, as intervenções diagnósticas e terapêuticas
necessárias durante o transporte, a exemplo de drenagens torácicas, entubações,
entre outras, devem ser antecipadas e efetuadas.
13
Recomenda-se ainda que a equipe que acompanhará o doente crítico durante o
transporte inter-hospitalar seja constituída pela equipe habitual da ambulância e
mais dois elementos: um médico e um enfermeiro, ambos com experiência em
reanimação, manuseamento e manutenção do equipamentos (S.P.C.I, 2008).
2.5 ENQUADRAMENTO LEGAL DO TRANSPORTE DO DOENTE CRÍTICO
Conforme ressalta Nunes (2009), a legislação que reporta ao doente crítico só veio
ter legislação própria a partir do ano de 2001, constituindo um Regulamento do
Transporte de Doentes: Portaria nº 1301-A/2002 de 28 de Setembro de 2002 - DR
225 - SÉRIE I-B 1º SUPLEMENTO Emitido Por Ministérios da Administração Interna
e da Saúde.
Antes de 2001, havia apenas normas para o enquadramento da atividade de
transporte de doentes. Em 1992, a Sociedade Americana de Cuidados Intensivos,
publicou o Decreto-Lei nº 38/92 de 28 de março, definindo normas de boa prática
para o doente secundário e constituindo-se nas primeiras normas de boa prática
para o transporte secundário de doentes.
Em 1997, a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos (S.P.C.I), publicou o
Guia de Transportes de Doentes Críticos. Este documento, após avaliação em
consonância com a Ordem dos Médicos, foi revisto e, em 2008, um novo documento
foi publicado.
Em 2001, a ARS Norte divulga, através da Portaria nº 1147/2001 de 28 de setembro,
as Normas de Transporte Secundário de Doentes secundarizado pelo Grupo de
Trabalho de Urgências. Esse documento foi alterado pela Portaria nº 1301-A/2002
de 28 de setembro e mais recentemente pela Portaria nº 402/2007 de 10 de abril.
Entre os principais aspectos citados na Portaria nº 1147/2001, Nunes (2009, p.22-
23) cita: O capítulo II, seção I que define os tipos de ambulância e na seção IV, os
equipamentos. Segundo este documento: “[...] a ambulância é todo o veículo que
pela suas características, equipamento e tripulação, permite a estabilização e ou
14
transporte de doentes”. Ainda segundo o regulamento citado, as ambulâncias podem
ser:
do Tipo A (A1 e A2) – ambulâncias de transporte, que são veículos devidamente identificados, equipados para o transporte de doentes que dele necessitem por causas medicamente justificadas e cuja situação clínica não faça prever a necessidade de assistência durante o transporte. É subdividida em tipo A1 – que são transporte individual, destinadas ao transporte de um ou dois doentes em marca ou maca e cadeira de transporte; e do tipo A2 – que são àquelas de transporte múltiplo, destinada ao transporte de até sete doentes em cadeiras de transporte ou em cadeiras de rodas; do tipo B – são ambulâncias identificadas como de socorro e cuja tripulação e equipamento permitem a aplicação de medidas de suporte básico de vida destinadas à estabilização e transporte de doentes que necessitem de assistência durante o transporte. Em caso de eventualidade, as ambulâncias deste tipo podem atuar como ambulâncias de cuidados intensivos, desde que estejam munidas dos meios humanos e recursos técnicos estabelecidos para as ambulâncias do tipo C do tipo C – são ambulâncias de cuidados intensivos e cuja tripulação e equipamentos permitem a aplicação de medidas de suporte avançado de vida destinadas à estabilização e transporte de doentes que necessitem de assistência durante o transporte.
O capítulo III, por sua vez, define a tripulação e formação das ambulâncias. Neste
capítulo, na seção III, ressalta que nas ambulâncias do tipo C, “[...] o terceiro
elemento da tripulação pode ser um enfermeiro ou um indivíduo habilitado com o
curso de tripulante de ambulância de socorro”.
No capítulo III, seção II da Portaria 1301-A/2002 e capítulo III, seção II da Portaria
1147/2001, Nunes (2009) chama a atenção para o curso TAT e TAS, cursos teórico-
prático com duração mínima de 35 e 210 horas, respectivamente.
Sobre o papel do enfermeiro no transporte do doente crítico, Nunes (2009) salienta
que não há legislação específica ou não é especificado nas normas e legislações
referentes ao tema, a necessidade de um enfermeiro para a efetivação do
transporte.
O referido autor destaca:
[...] apesar da referência à presença do enfermeiro segundo os princípios anunciados pela bibliografia que o suporta, não foca a importância da sua formação [...] Sublinhe-se ainda que no enquadramento legal, nomeadamente no Capítulo III, tanto da Portaria 1147/2001 como 1301-
15
A/2002, referindo-se à formação dos tripulantes da Ambulância tipo C, um dos tripulantes deve ser médico com formação em SAV. O documento da Unidade de Missão acrescenta a este propósito que o médico acompanhante deve possuir determinada formação e competência, mas mais uma vez não se faz referência à formação do enfermeiro (NUNES, 2009, p.25).
Ainda no que se refere ao enquadramento, em 2006 foi elaborado pelo Grupo de
Trabalho de Urgências nomeado pela Unidade de Missão, o Livro de Urgências que
tem por objetivo principal apresentar recomendações para a Organização dos
Cuidados Urgentes e Emergentes em diversas áreas de intervenção. O livro,
segundo Nunes (2009), reúne informação sobre o transporte inter-hospitalar do
doente crítico e apresenta normas e procedimentos para a efetivação do transporte
secundário.
2.6 O PAPEL DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO TRANSPORTE DO DOENTE
CRÍTICO
Conforme já ressaltado, não existe no enquadramento legal para o transporte de
doente crítico nenhuma menção à necessidade do enfermeiro durante o processo.
Todavia, é importante ressaltar que a atuação da equipe de enfermagem dentro dos
hospitais determinam muitas vezes a recuperação e/ou agravamento clínico dos
pacientes.
O cuidado de enfermagem é o instrumento das ações que norteados por regras,
rotinas ou normas propõem uma observação relevante e disciplinada. É importante
prevenir agravos à saúde através das ações de enfermagem direcionadas. O papel
do enfermeiro nas ações hospitalares é interdisciplinar e integralizado quando se
orienta na necessidade da saúde do paciente.
No transporte do doente crítico, por exemplo, o enfermeiro pode atuar na fase
decisão, aconselhando ou não o transporte do doente. Na fase de planejamento,
prestando os cuidados inerentes a sua profissão, tendo em vista a estabilização do
doente. E, na fase de efetivação, vigiando o transporte para que não ocorra
intercorrências.
16
É importante destacar que a enfermagem vem acompanhando o aumento de
tecnologias novas na área hospitalar e com isso vem aprimorando seus
conhecimentos para efetuar seus cuidados junto à população hospitalizada. Todavia,
faz-se ainda necessário aprimorar os cuidados de forma ampla no que se refere ao
transporte de doente crítico, reduzindo os agravos à saúde da população durante
este processo.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em razão da variabilidade da área de intervenções e fatores que interferem e, em
alguns casos, limitam as intervenções, o transporte do doente crítico é uma situação
complexa que envolve aspectos relevantes, sobretudo no que se refere à atuação
dos profissionais durante o seu processo.
Para o transporte do doente crítico é necessário que seja seguido uma série de
passos. Sua realização deve ser feita de modo consistente e científico, assim como
devem ser utilizados conhecimentos teóricos e práticos e incorporados as novas
tecnologias da medicina. O planejamento deve ser adequado de forma que os erros
sejam antecipados e o transporte seja o mais eficiente.
Foi possível observar durante o estudo que o transporte do doente crítico inter ou
intra-hospitalar e organização dos procedimentos referentes ao processo é de
competência das instituições nas quais o doente está hospitalizado, visto que não
existe nenhuma legislação específica para área de transporte de doentes críticos,
assim como uma entidade que se responsabilize e assuma o processo.
Todavia, é importante ressaltar que o enfermeiro envolve-se tanto em funções
administrativas quanto em assistenciais. Compete ao profissional, dentre outras
funções, gerenciar a sua equipe, avaliar a execução do trabalho, contribuindo para
uma assistência de qualidade, adequada ao cliente e sua família.
A equipe de enfermagem atua no transporte do doente crítico compondo a equipe
multidisciplinar e atuando na fase de decisão, como aconselhador; na fase de
planejamento, como acompanhante, garantindo a estabilização do doente, aja vista
17
o domínio da proteção de cuidados; e, finalmente, na fase de efetivação, como vigia,
garantindo que não aja complicações durante o transporte do paciente.
Conclui-se assim que a vivência dos enfermeiros nos serviços de urgência, principal
porte de entrada para os doentes que se encontram em situação clínica crítica e
com maior necessidade de ser transportado para áreas com melhores condições e
onde possa ser realizados exames, influenciam positivamente para a atuação destes
profissionais durante o processo de transporte, podendo, principalmente, interferir na
qualidade da assistência e cuidados.
18
THE NURSING TEAM’S ROLE IN THE TRANSPORT OF
CRITICAL CARE PATIENTS
Estelita Norma Cruz Silva
She graduated in nursing from the Catholic University of Salvador, graduate student in intensive care nursing at the Faculty Atualiza. Nurse. E-mail: [email protected].
Advisor:
Fernando Reis do Espírito Santo
Ph.D. in education.
ABSTRACT
This study it deals with the importance of the nursing team during the hospital transport intra of the patient I criticize and has as objective generality to describe as the nursing can act of safe form, minimizing possible complications and guaranteeing the stability during such transport. A bibliographical research was used as source of data, explorativa descriptive: having with base books, consultation of articles in lilacas database, pub, medline and scielo in the publication search of last the five years. Proving itself that the Nursing is of basic importance during such transport since one of the objectives of the nursing is to promote and to guarantee the physiological and emotional balance of the patient. With the technological advance and the development of the medicine in the treatment of the patient I criticize the hospital transport intra if it makes necessary either for the surgical center or center of I diagnosis for image. The time of the transport can be to draw out. Being thus this transport it must be an extension of the unit of origin. Words key: Patient I criticize, intensive cares, assistance of nursing.
19
REFERÊNCIA
MACHADO, Pedro Miguel Fernandes. Transporte de doentes críticos: vivências dos enfermeiros do serviço de urgência. 2010, 108 p. Dissertação (Conclusão do curso de licenciatura em enfermagem). Universidade Fernando Pessoa. Faculdade de Ciências da Saúde. Ponte de Lima, 2010. NUNES, Fernando Manuel Ferreira. Tomada de decisão do enfermeiro no transporte do doente crítico. Revista Nursing. N. 246, pp.22-26, jul.2009. PEREIRA JÚNIOR, Gerson Alves, NUNES, Taciana Leonel e BASILE-FILHO, Aníbal. Transporte de paciente crítico. Revista Medicina. Ribeirão Preto – SP: n. 34, p.143-153, abr./jun.2001. SILVA, Isabel Faia Rubina. Dificuldades sentidas pelos enfermeiros dos SU periféricos no transporte do doente crítico para o SU hospitalar. 2008, 108 p. Dissertação (Conclusão do curso de pós-graduação em Urgência e emergência hospitalar Região Autónoma de Madeira). Universidade Atlântica – Colégio de pós-graduações. Funchal, 2008. SOCIEDADE PORTUGUESA DE CUIDADOS INTENSIVOS (S.P.C.I) E A ORDEM DOS MÉDICOS. Transporte de doentes críticos. Recomendações. 2008. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/23680927/SPCI-OM-Transporte-Doente-Critico-2008>. Acesso em: 01 mar. 2011.