a citação do militar no ordenamento processual brasileiro

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Artigo acadêmico sobre a citação do militar no processo civil, penal e penal militar.

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    Este texto foi publicado no site Jus Navigandi no endereo http://jus.com.br/artigos/26105Para ver outras publicaes como esta, acesse http://jus.com.br

    Publicado em 12/2013. Elaborado em 12/2013.

    A citao do militar no ordenamentoprocessual brasileiro

    Luiz Rosado Costa

    Este estudo busca analisar as peculiaridades da citao do militar, que prevista de forma bastante diversa nos trs Cdigosde Processo atualmente vigentes no Brasil (Civil, Penal e Penal Militar).

    Introduo

    A citao o ato pelo qual se comunica ao ru, ou interessado nos procedimentos de jurisdio voluntria, que contra ele movido um processo a fim de que possa se defender.

    Este importante procedimento, fundamental ao exerccio das garantias constitucionais do contraditrio e da ampla defesa, previsto de forma bastante diversa nos trs cdigos de processo atualmente vigentes civil, penal e penal militar - quando ocitando militar, devido ao peculiar regime jurdico a que est submetido.

    Visa, assim, este estudo a analisar criticamente a citao do militar no ordenamento processual brasileiro, buscando meiosde conciliar as prescries legislativas com as peculiaridades das atividades castrenses para que no ocorra nulidade nacitao e o militar possa adequadamente exercer a ampla defesa e o contraditrio no processo em que venha a ser ru.

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    A citao no Cdigo de Processo Penal

    O art. 358, do Cdigo de Processo Penal estabelece que a citao do militar far-se- por intermdio do chefe do respectivoservio. O juiz, assim, remeter um ofcio ao chefe de servio requisitando que este execute o ato citatrio.

    Para que seja exercida a ampla defesa e o contraditrio, entendemos que a requisio do juiz dever conter todos oselementos previstos no art. 352 do CPP e devero os mesmos ser informados pelo superior hierrquico ao citando,especialmente o inciso V, para que o militar acusado na justia comum possa apresentar sua defesa escrita no prazo de 10dias.

    Sobre a citao do militar no Processo Penal, Eugnio Pacelli Oliveira (2011, p. 602) leciona que:

    Da perspectiva da ampla defesa, no h como se dispensar a comprovao de que a citao tenhaefetivamente chegado ao seu destino, embora no se possa exigir a certido do oficial de justia,uma vez que, em semelhante modalidade, no h a sua interveno. E como o ato do superiorhierrquico no goza de f pblica, como ocorre com aqueles praticados pelo oficial de justia, acomprovao da efetiva citao quando houver alegao de sua inexistncia poder ser feita portodos os meios de prova.

    Como a norma do CPP visa a possibilitar o planejamento pelo superior hierrquico da continuidade do servio providenciandoum eventual substituto e a preservao da disciplina militar, que ao lado da hierarquia base institucional das ForasArmadas e auxiliares (art. 142 e 42 da CF/88), ser nula a citao do militar procedida por meio de oficial justia . Se,todavia, a citao for feita nos moldes previstos no CPPM (conforme ser abordada no tpico seguinte) em que o comandanteou chefe apresenta o militar para que o oficial de justia proceda sua citao, entendemos que no haver nulidade, emateno ao princpio do ne pas de nullit sans grief , uma vez que o superior hierrquico ter tomado cincia da citao e doprocesso, assegurando-se, assim, a continuidade do servio e a disciplina militar e no ter havido prejuzo defesa noprocesso.

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    A citao no Cdigo de Processo Penal Militar

    A citao do militar na esfera processual penal militar ser feita, conforme prev o art. 280 do CPPM, mediante requisio autoridade sob cujo comando ou chefia estiver, a fim de que o citando se apresente para ouvir a leitura do mandado e recebera contraf.

    A leitura apressada do dispositivo pode levar o intrprete equvoco de que a citao no processo penal militar ocorreria damesma forma como prevista no CPP, todavia, o art. 280 do CPPM deve ser aplicado em conjunto com o art. 277, III, doCPPM, que prev que a citao do militar ser realizada pelo prprio oficial de justia .

    Sobre o local em que ser realizada a citao, precisa a lio de Clio Lobo (2009, p. 345):

    O Juiz requisitar o militar para comparecer Auditoria, onde ser citado pelo oficial de justia,mesmo que a unidade onde serve o citando esteja situada em lugar diverso da sede do Juzo Militar.No entanto, o Juiz poder determinar que o oficial de justia proceda citao na unidade militarsituada na mesma cidade da sede da Circunscrio Judiciria Militar.

    A requisio ao chefe do respectivo servio, no CPPM, no ser para que este realize a citao do militar, tal como prev oCPP, mas para que apresente o militar a ser citado a fim de que seja feita a leitura do mandado e recebida a contraf e aomesmo tempo tome cincia de que contra seu subordinado corre ao penal militar.

    mister ressaltar que as peculiaridades da citao do militar, previstas no CPP e no CPPM referem-se unicamente aosmilitares da ativa. O objetivo das normas, ao estabelecer procedimento diferenciado para a citao do militar foi atender continuidade do servio e a preservao da disciplina militar e no a criao de um suposto privilgio processual.

    Efeitos extraprocessuais da citao do militar

    Conforme abordado nos tpicos anteriores, as citaes feitas com base no Cdigo de Processo Penal (CPP) e Cdigo deProcesso Penal Militar (CPPM) devem ser realizadas na unidade em que serve o militar, ou o militar ser apresentado sededo Juzo, com a necessria e inerente cincia de seu comandante ou chefe. Tal ocorre porque o interesse no processo foge

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    da esfera apenas privada do militar que ru e passa a interessar tambm esfera disciplinar.

    A citao na esfera penal e penal militar alm de comunicar ao ru que contra ele corre um processo criminal, serve tambmpara dar cincia ao comando ao qual o citado est subordinado que contra ele h uma denncia. O militar ficar na condiode sub judice, ou seja, impedido de ingressar ou constar em Quadro de Acesso para promoo por se encontrar respondendoa processo criminal e, igualmente, impedido de passar para a reserva remunerada a pedido enquanto permanecer nestasituao .

    Em Minas Gerais, por exemplo, no concorrero a promoo nem sero promovidos os militares das instituies militares doEstado que estiverem sub judice, denunciados por algum dos crimes doloso previstos no art. 13, 2, IX, do Decreto/MG n44.557/2007, se for praa, e no art. 14, IX, do Decreto/MG n 44.556/2007, se for oficial.

    Para as Foras Armadas, o Decreto n 4.034 (Marinha), Decreto n 4.853/2003 (Exrcito), Decreto n 881/93 (Aeronutica) ea Lei 5.821/1972 possuem dispositivos semelhantes e tratam, respectivamente, os decretos e a lei, dos graduados e dosoficiais, estabelecendo regra mais severa que o Estado de Minas, permanecendo sub judice o militar que se encontrarrespondendo a qualquer processo criminal at o seu trnsito em julgado.

    A citao no Cdigo de Processo Civil

    No Cdigo de Processo Civil, a citao do militar prevista no art. 216, pargrafo nico, dispositivo com redao mantida noprojeto do novo CPC (art. 212, pargrafo nico):

    Art. 216. (...)Pargrafo nico. O militar, em servio ativo, ser citado na unidade em que estiver servindo se nofor conhecida a sua residncia ou nela no for encontrado.

    Observe-se que a regra do pargrafo nico que alude aos militares uma exceo ao previsto no caput do art. 216, segundoo qual a citao efetuar-se- em qualquer lugar em que se encontre o ru.

    Desta forma, apenas se no for o militar encontrado em sua residncia verificando-se tal fato atravs de certido negativaexpedida pelo oficial de justia ou se o autor desconhecer seu endereo que o militar poder ser procurado em suaunidade para ser citado. Conforme sintetiza Costa Machado: no legtimo, assim, perante a lei, que, por convenincia,

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    realize-se a citao no local do servio (2012, p. 192)

    Objetivou o legislador, acertadamente, evitar que o autor solicite a citao diretamente no quartel, pela facilidade de encontrarl o ru, assim expondo o militar citado perante seus companheiros de farda por estar respondendo a uma ao, que muitasvezes restringe-se sua esfera exclusivamente privada.

    Conclui-se, com base no art. 247 do CPC que a citao feita diretamente no quartel quando o autor conhea a residncia domilitar ou ele no tenha sido anteriormente l procurado causa a irregularidade da citao, sem prejuzo dos danos moraispelo eventual constrangimento e danos reputao do citado.

    A notificao na Lei 12.016/2009

    A notificao da autoridade coatora, prevista no art. 7, I, da Lei n 12.016, de 7 de agosto de 2009, que disciplina o mandadode segurana individual e coletivo, equivale citao, pois a partir dela correr o prazo para que autoridade preste asinformaes ao Juzo. A Lei, todavia, no prev nenhuma regra especfica para a notificao da autoridade militar quando estafigurar como coatora.

    Alcance da expresso militar nos Cdigos de Processo

    Conforme discorrido acima, nos trs Cdigos de Processo (CPC, CPP e CPPM), a expresso militar refere-se ao militar quese encontra na ativa no CPC por expressa disposio legal e no CPP e CPPM por interpretao teleolgica da norma.

    considerado militar, assim, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, esteja incorporado s Foras Armadas(art. 142, 3, da CF/88) e tambm os membros das Foras Auxiliares Polcias Militares e Bombeiros Militares dosEstados e Distrito Federal, conforme expressa disposio do art. 42 da Constituio Federal de 1988, no mais subsistindo oconceito restritivo de militar adotado pelo Cdigo Penal Militar em seu art. 22, que considerava militares apenas osintegrantes das Foras Armadas.

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    Concluso

    A citao do militar merece especial ateno em nosso ordenamento processual diante da falta de unidade na forma em queo militar deve ser citado nos trs cdigos de processo.

    Desta forma, este artigo objetivou contribuir para que a citao do militar seja realizada de forma correta, evitando-se aocorrncia de nulidade processual e possibilitando o pleno exerccio do contraditrio e da ampla defesa do militar citado, almde preservar a disciplina e a continuidade do servio, que so resguardadas pelas regras especiais de citao do militarprevistas nos trs cdigos de processo atualmente vigentes.

    Referncias bibliogrficas

    COSTA MACHADO, Antnio Cludio da. Cdigo de Processo Civil interpretado. 12 ed. Barueri: Manole, 2013.

    LOBO, Clio. Direito processual penal militar. So Paulo: Mtodo, 2009.

    OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 14 Edio. Rio de Janeiro: Lmen Juris, 2011.

    Notas

    Art. 352. O mandado de citao indicar: I - o nome do juiz; II - o nome do querelante nas aes iniciadas por queixa; III - onome do ru, ou, se for desconhecido, os seus sinais caractersticos; IV - a residncia do ru, se for conhecida; V - o fimpara que feita a citao; VI - o juzo e o lugar, o dia e a hora em que o ru dever comparecer; VII - a subscrio do escrivoe a rubrica do juiz

    Nesta linha, h um julgado no TJ/DF que anulou a citao do militar feita por oficial de justia: O CDIGO DEPROCESSO PENAL ESTABELECE QUE A CITAO DO MILITAR FAR-SE- POR INTERMDIO DO CHEFE DORESPECTIVO SERVIO (ART. 358). A NORMA VISA PRESERVAO DA DISCIPLINA MILITAR E S NECESSIDADESDO SERVIO. NULA, PORTANTO, A CITAO PESSOAL PROCEDIDA POR OFICIAL DE JUSTIA SE A R J ESTAVA

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    Veja todos os textos publicados pelo autor Fale com o autor

    Luiz Rosado Costa

    Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maring (UEM), especialista em DireitoConstitucional (UGF - 2013) e especialista em Aplicaes Complementares s Cincias Militares(EsFCEx - 2011). oficial de carreira do Quadro Complementar de Oficiais do Exrcito Brasileiro, reade Direito

    QUALIFICADA COMO MILITAR DESDE O INQURITO POLICIAL. 3. ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA DEOFCIO PARA ANULAR O PROCESSO A PARTIR DA CITAO INCLUSIVE. (TJ-DF - APR: 19980110802266 DF , Relator:GETULIO PINHEIRO, Data de Julgamento: 12/09/2002, 2 Turma Criminal, Data de Publicao: DJU 23/10/2002 Pg. : 79)

    Art. 277. A citao far-se- por oficial de justia: (...) III mediante requisio, nos casos dos arts. 280 e 282

    O STF e o STJ j se manifestaram no sentido de que no violam o princpio da presuno de inocncia os dispositivoslegais que impedem a promoo de militar que esteja respondendo a ao penal, desde que prevista a possibilidade posteriorde ressarcimento, conforme os seguintes precedentes: STJ - RMS 17.728/PB, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJ18/9/2006; RMS 16.796/PB, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ 1/7/2005; RMS 17.064/PB, Rel. Min. JOS ARNALDODAFONSECA, DJ 27/9/2004 e RMS 16.812/PB , Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ18/12/2003); STF - AgRg no RE n459.320/PI , Relator o Ministro EROS GRAU , DJU de 23/5/2008, RE n420.89111/AC, Relator o Ministro Carlos Brito, DJe de18/12/2009; RE n 598.194/PI, DJe de 28/9/2009 e AI n 749.004/DF, DJe de 31/8/2009, esses ltimos relatados pelaMinistra Crmem Lcia.

    Autor

    Informaes sobre o texto

    Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

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    COSTA, Luiz Rosado. A citao do militar no ordenamento processual brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3815,11 dez. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 3 maio 2014.