a construção do argumento em creta de eudoro de souza

Upload: rafael-saldanha

Post on 24-Feb-2018

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    1/8

    desgnio 8

    87

    jan.2012

    Teodoro Renn Assuno*

    A CONSTRUO DO ARGUMENTO NOENSAIO DIONISO EM CRETA DE

    EUDORO DE SOUSA

    *Faculdade de Letras da UFMG

    Belo Horizonte Brasil.RESUMO:Este estudo breve visa apenas apresentar o modo

    de construo do ncleo do argumento do ensaio Dioniso em

    Creta de Eudoro de Souza, reservando-se ao faz-lo distn-

    cia suficiente para uma eventual crtica ou problematizao.

    PALAVRAS-CHAVE:construo, argumento, Dioniso em

    Creta, Eudoro de Souza.

    ABSTRACT:This brief study aims only at presenting the

    manner of construction of the nucleus of the argument ofEudoro de Souzas essay Dioniso em Creta, reserving in so

    doing enough distance to criticize or call it into question.

    KEY-WORDS:construction, argument, Dioniso em Creta,

    Eudoro de Souza.

    Apartir da proposio histrica bsica deMartin Persson Nilsson, no apenas da origem pr-

    -helnica da mitologia grega, mas tambm, e sobre-

    tudo, da origem pr-helnica isto : creto-micnica

    da religio grega, Eudoro de Souza se dispe a fazer

    um ousado estudo de caso: o do deus grego Dioniso

    em suas conexes com a cultura minica, ou seja,

    com a civilizao cretense do segundo milnio a.C.

    O argumento ou hiptese depender, por-

    tanto, da interpretao dos achados arqueolgicos

    em sua dimenso religiosa, isto , dos achados da

    primeira metade do sculo XX em Cnosso, Festo,

    Malia, Haghia Triada, Grnia, Palaikastro e Thera,

    achados que no incluem documentos escritos,

    constituindo assim, na expresso de M. P. Nilsson

    citada por Eudoro, um livro de imagens sem texto

    (SOUSA, 1973, p. 12).

    Eudoro de Souza comea lembrando os

    elementos mais caractersticos da vida religiosa

    cretense (ou minica), alm da estrutura dos pal-cios, tais como elencados em sua reconstituio por

    Martin P. Nilsson:

    1) a freqentssima figurao plstica de cenas

    culturais, em que intervm, com absoluto predomnio,

    uma divindade feminina; 2) a no menos freqente

    estilizao do bucrnio a que os ingleses chamam horus

    ASSUNO, T. R. (2012). A Construo do argumento no en-saio Dionisio em creta de Eudoro de Sousa. Archai n. 8,jan-jun 2012, pp. 87-94.

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    2/8

    88

    of consecration; 3) a lbrys ou bipene, machado de dois

    gumes, que, sem dvida, foi instrumento de sacrifcio

    do Touro Sagrado (...); e, finalmente, 4) os thloi ou

    sepulturas circulares, cobertas por falsa abbada, com

    acesso atravs de um drmos mais ou menos extenso.

    (idem, p. 13).

    Ora, como nota na sequncia Eudoro, s h

    notcia de uma cultura calcoltica [i.e.da transio

    do Neoltico para a Idade do Bronze] que parece

    reunir, na mesma rea, esses quatro elementos

    caractersticos: thlos, bucrnio, lbrys e dolos

    femininos, a de Half-Arpatchiah, na bacia do Eu-

    frates. (idem, p. 13). Esta cultura matriz, segundo

    a hiptese de 1944, de Heinz Mode (emAs primeiras

    culturas da ndia e suas relaes com o Ocidente),

    citada por Eudoro, teria se difundido em dois ramos:

    um para Oeste, dando origem s primeiras civiliza-es do Mar Egeu, e outro para leste, promovendo o

    surto das civilizaes pr-arianas do Vale do Indo,

    nomeadamente, Harappa e Mohenjo-Daro. (idem,

    p. 13). E tambm na cultura de Half- Arpatchiah

    que segundo Eudoro se presume haver nascido

    o culto da grande deusa egeo-anatlica, que to

    relevante papel desempenhou na religio, ou nas

    religies, da Grcia pr-helnica. (idem, p. 14).

    Mas, antes de ou para retomar a signifi-

    cao religiosa dos quatro elementos caractersticos

    j citados, Eudoro ir apresentar e interpretar a es-

    trutura arquitetnica comum dos palcios minicos

    cretenses: (...) na sua primeira fase, o palcio de

    Cnosso era constitudo por blocos isolados e (...) a

    nica relao entre aquelas insulae era o espao

    retangular que, ao fim e ao cabo, viria a formar o

    ptio central (idem, p. 14).

    (...) na sua forma definitiva, a concepo arquitet-

    nica que se singulariza em toda a regio egica , alm

    da mencionada assimetria do conjunto, a funo doptio central, designadamente, o papel que desempenha

    como centro, fixo e inaltervel, de um movente complexo

    perifrico. (idem, p. 14-15).

    Ora, esta funo no seria a meramente ar-

    quitetnica ou prtica de iluminao e arejamento,

    pois, segundo Eudoro,

    o ptio um dado prvio, um princpio dinmico,

    e no apenas o espao que se mantm de reserva, no

    meio de contnua ou intermitente edificao de blocos; o

    ptio [cuja forma e grandeza seria a mesma em Cnosso,

    Mlia e Festo] estaria para os edifcios circundantes em

    anloga relao em que o centro est para a circunfe-

    rncia descrita em torno dele. (idem, p. 15).

    Eudoro de Souza resume e cita ento em it-

    lico para aclarar esta funo a tese indita e

    surpreendente do arquelogo ingls J. W. Graham

    (American Journal of Archeology1957, p. 255 e ss.):

    no interior, precisamente no ptio central, e no

    em qualquer rea exterior, prxima ou distante dos

    palcios, que se realizavam as tauromaquias cele-

    brizadas por to elevado nmero de testemunhos figu-

    rados. (SOUSA, 1973, p. 15-16), aduzindo tambm

    a suspeita a partir de um comentrio de CharlesPicard (Rvue Archologique1958, p. 89-90) de

    que as corridas de touro cretenses ultrapassassem

    em muito, por sua importncia social nuclear, a mera

    dimenso profana de simples prazer de ulicos ou

    divertimento do povo. (SOUSA, 1973, p. 16).

    Ora, a soluo religiosa de Eudoro para a

    tauromaquia minica inovao ousada que no

    se encontra nem em J. W. Graham nem em Charles

    Picard ser simultaneamente uma soluo para um

    elemento patente (e que poderia constituir problema)

    da religio minica: o predomnio ou exclusividade da

    grande divindade feminina (que Eudoro chama ento

    de Magna Mater) e a ausncia nestes documentos

    arqueolgicos de uma divindade masculina, ausncia

    que segundo uma antecipao de Eudoro resulta-

    ria, mais provavelmente, de que sua presena per-

    manece oculta sob figuras simblicas. (idem, p. 16).

    Eudoro retoma ento dois dos citados quatro

    elementos caractersticos desta religio:

    Entre tais figuras, a lbrys e o bucrnio trazem emsi a irresistvel fora da evidncia. No fcil furtar-

    -nos suspeita de que a primeira fosse instrumento

    de sacrifcio, e recusar-nos a vermos na segunda a

    vtima sacrificada. As pinturas do famoso sarcfago de

    Haghia Triada e alguns exemplares da glptica minica

    so inequvocos testemunhos do sacrifcio do touro.

    (idem, p. 16).

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    3/8

    desgnio 8

    89

    jan.2012

    a ento que Eudoro sem explicitar as

    razes ou provas documentais do seu procedimen-

    to transferir ou estender a sacralidade do ato

    sacrificial (ou do seu destinatrio) para a vtima

    do sacrifcio (o touro), que por analogia com o

    exemplo de Cristo e o rito da comunho na missa

    ele identificar divindade:

    Consinta-se na impresso de intransponibilidade

    dos obstculos que se nos deparam, querendo abolir a

    diferena que aparta a vtima que se sacrifica a uma

    divindade, da prpria divindade em cuja devoo ela

    sacrificada. Do touro-oblato ao deus-touro, insupervel

    se nos afigura a distncia, embora a religio crist sobre

    bem mais fundo abismo tenha lanado a ponte que

    diariamente atravessamos, mal apercebidos do Mistrio.

    (idem, p. 16-17).

    O salto, no entanto, ser ainda maior e mais

    arriscado quando Eudoro tambm sem comprov-lo

    e sem que saibamos como fizer da tauromaquia

    nos ptios centrais dos palcios um grande rito de

    sacrifcio do touro-deus (e mesmo do rei) com uma

    presumvel funo bsica de renovao peridica da

    vida social e natural:

    Queremos (...) deixar claramente expressa a ideia

    de que o grande ptio dos palcios de Creta, encimados

    por enormes bucrnios e ornamentados com inmeras

    e vrias estilizaes da lbrys, teria de constituir o

    centro de todo o complexo arquitetnico, precisamente

    porque nele se representava o grande ato de um drama,

    mediante o qual, de tempos a tempos, se reinstitua na

    hierarquia social o princpio ou a potncia divina que

    lhe dera origem. Efetivamente, h motivos para crer

    que, pelo menos em Cnosso, Minos era ttulo do rei e

    nome do touro.(idem, p. 17).

    Infelizmente, nenhuma nota de Eudoroexplicita quais so estes motivos e dando por

    assentes suas hipteses ele passa de imediato

    seguinte questo: ser possvel atribuir algum

    nome grego, ou que uma vez grecizado se tenha

    tornado corrente entre os gregos, ao deus-touro,

    to celebrado no Mutus Liberda cultura minica?

    (idem, p. 17).

    Para chegar a Dioniso como resposta, Eudoro

    prope primeiro que se aceite, como no fantasiosa,

    a localizao cretense do ritual de Zagreus, que se

    nos depara em um discutido fragmento de Eurpides

    e numa no menos discutida pgina de Firmicus

    Maternus (idem, p. 17) ainda que, informados

    apenas assim, no fique claro porque, segundo Eu-doro, teramos, por evidente, que o touro tambm

    uma epifania de Dioniso , levando em conta tam-

    bm que a combinao do mito de Zeus Kretagnes

    com o de Europa resultaria em que o touro uma

    epifania crtica do Soberano do Olimpo (idem, p.

    17), o que porm no seria problema, uma vez que

    os rficos sabiam que Zeus-Cretense e Dioniso

    Zagreus podiam designar dois aspectos de uma mes-

    ma divindade que nasce, morre e ressuscita, e que

    ambos os aspectos coincidiam na mesma epifania

    tauromrfica. (idem, p. 18).Em segundo lugar, Eudoro mesmo admitindo,

    ao longo de sua bi-milenar histria, alguma absoro

    pelo dionisismo grego de traos mais pertinentes

    a divindades asiticas essencialmente afins (idem,

    p. 18) prope com razo uma reviso crtica da

    opinio comum (communis opinio) de que o culto de

    Dioniso na Grcia s admitiria uma origem histrica

    na Trcia ou na Frgia (idem, p. 18) [pois como

    sabemos hoje, e j Eudoro sabia em seu tempo, a

    decifrao do linear B por Michel Ventris mostrou

    que o deus j era conhecido na civilizao micnica],

    devendo-se tambm repensar, como sugere Eudoro,

    uma adeso imediata aos testemunhos da tradio

    literria, que, a partir de Homero, vm afirmando e

    reafirmando que na Grcia o deus um intruso e,

    em princpio, um indesejvel [ainda que sua ca-

    racterizao como estrangeiro possa fazer parte do

    seu modo mesmo de ser, podendo ele ser definido,

    segundo uma sugesto de Marcel Detienne, como

    um estrangeiro do interior (DETIENNE, 1986, p.

    21-27)], fazendo parte de sua tradio (em vriasestrias alm das de Licurgo, contada no canto VI

    daIlada, e de Penteu, contada nAs Bacantes) uma

    resistncia difuso do culto bquico, que, como

    sugere Eudoro citando Guthrie, poderia no ser mais

    que um protesto da razo derrotada pelos elementos

    de bestialityque ordinariamente dormem em cada

    ser humano. (SOUSA, 1973, p. 18).

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    4/8

    90

    Mas se para Eudoro nada obstaria a que ds-

    semos o nome de Dioniso ao Touro Divino da ilha de

    Creta, a questo decisiva outra: a de saber se,

    em Creta, ao aclito ou paredro da grande divindade

    feminina, cuja epifania o touro [hiptese que,

    como vimos, ainda necessitaria ser demonstrada],

    ns devemosatribuir o nome de Dioniso, com fun-damento na percepo de uma essencial identidade

    entre o deus cretense e o deus grego. (idem, p. 19).

    A chave para a positiva identificao do hi-

    pottico deus-touro cretense com o Dioniso grego

    est em uma (no estritamente filolgica) ideia de

    Kernyi (exposta do artigo Dionysos Le Crtois,

    Diogne 20, 1957, p. 2-27 e no livro Der frhe

    Dionysos, Oslo, 1961), que seria confirmada pelas

    interpretaes iconogrficas de conjunto da arte

    minica por Friedrich Matz (sobretudo Gttererschei-

    nung und Kultbild im minoischen Kreta, 1958) e H. A.Groenwegen-Frankfort (emArrest and Movement. An

    Essay on Space and Time in the representational Art

    of the ancient Near East, London, 1951), ideia que

    Eudoro entusiasticamente qualifica como a mais ori-

    ginal de quantas registra a Altertumswissenschaft,

    resumindo-a assim (com o destaque do itlico):

    a arte minica, a arte de Creta em conjunto, e no

    apenas em tal ou tal objeto, em uma ou outra das suas

    formas singulares, encontra-se toda ela impregnada

    de dionisaco, daquele mesmo esprito de ebriedade

    e loucura que transparece com to sombrio fulgor nos

    versos das Bacantes. (SOUSA, 1973, p. 19-20).

    Vemos, assim, nesta definio comparativa,

    o quo essencial para o dionisismo (e suas poss-

    veis origens cretenses) a interpretao dos dados

    apresentados em uma obra literria consagrada

    comoAs Bacantes. Ora, o esboo de interpretao

    deste esprito de ebriedade e loucura que Eudo-

    ro apresenta na sequncia demasiado sucinto(demandando, portanto, ulteriores explicitaes),

    quando no resvala na simples parfrase condensada.

    Primeiramente, segundo Eudoro, a tempestade emo-

    cional (...) em que o indivduo se distrai da prpria

    individualidade e da razo pragmtica que o insere

    na ordem social instituda, assim como o xtase,

    loucura e embriaguez da vida de uma natureza que

    no conhece o homem, e em que o homem no se

    reconhece(...); e, em segundo lugar, esta parte de

    sua definio de Dioniso:

    deus mainmenos, enlouquecido e enlouquecedor,

    que se compraz no tumultuoso tropel das Mnades e das

    Bacantes, deus das mulheres que, percorrendo desvai-radas uma terra toda ela convertida em seio ubrrimo,

    donde brotam o leite e o mel, cingidas de serpentes e

    coroadas de hera, amamentam as bestas feras, para logo

    as destroarem, por suas mos j esquecidas do gesto

    vivificante; (...). (idem, p. 20).1

    Mas apenas na imensa e decisiva nota 31

    que encontraremos uma descrio a partir dos j

    citados trabalhos de F. Matz e H. A. Groenwegen-

    -Frankfort das leis da sintaxe ornamental da

    arte minica que sugeriram a presena de Dionisoem Creta. Primeiramente, a definio do estilo

    voluminal (do latim volvere) pelas trs caracte-

    rsticas interconexas do movimento rodopiante,

    da torso e do rapportinfinito, que nos aspectos

    mais evidentes da pintura cermica e da figurao

    sigilogrfica tendem respectivamente a se represen-

    tar no esquema simples da dupla espiral, (...) na

    disposio dos motivos obliquamente em relao ao

    eixo do vaso (...) e a repetio simples de um s

    motivo, ou alternada, de dois ou mais motivos, em

    torno de toda a superfcie do vaso (...). (idem, p.

    51). E, em segundo lugar, o que sugere uma longa

    citao por Eudoro do penltimo captulo do livro

    de Groenwegen-Frankfort dedicado aos afrescos

    palaciais (e da qual faremos o seguinte recorte):

    Ludwig Curtius, numa bela e potica parfrase s

    cenas, caracterizou-as como berhaupt Leben, vida

    absoluta. A frase bem podia servir de mote para qualquer

    exposio sobre a arte cretense, pois o movimento mo-

    vimento orgnico parece ser a verdadeira essncia dela:movimento no animal ou no homem, nas flores agitadas

    pelo vento, com ptalas que se desprendem e caem, nos

    troncos de trepadeiras que se retorcem subindo fragas, as

    prprias rochas que parecem substncia mal solidificada.

    (...) Se tivermos de caracterizar o tipo de movimento

    fragmentariamente representado, o termo mobilidade

    absoluta o que naturalmente nos sugerido: reco-

    1. Para uma tentativa de

    interpretao do xtase dionisaco

    (para a qual aquaela do que

    sugerido pela peaAs Bacantes

    continua a ser essencial) ver o

    artigo recente de Renate Schlesier

    Lextase dionysiaque et lhistoire

    des religions (SCHLESIER, 2007).

    Obviamente esta indicao

    extrapola o objetivo primeirodeste nosso breve ensaio e

    no poderamos jamais exigir

    absurdamente de Eudoro de Sousa

    uma atualizao bibliogrfica

    que ultrapassasse o tempo em

    que o seu artigo foi escrito;

    mas imaginar, por outro lado, o

    quanto deve ter se modificado

    desde ento o saber arqueolgico

    (assim como o da histria das

    religies) e o que isso traria

    para uma avaliao de conjunto

    das suas proposies poderia

    nos lanar na oportuna vertigem

    da percepo do quanto so

    fatalmente datadas e circunscritas

    historicamente mesmo aquelastentativas mais ousadas e que

    pretendem transcender o seu

    tempo, acenando para um

    futuro indeterminado. Se nos

    voltssemos, enfim, rapidamente,

    para o tema maior em questo,

    o deus grego Dioniso, seria

    certamente inumervel a

    bibliografia aparecida desde o

    ano de publicao do ensaio

    de Eudoro de Sousa (que ento

    era certamente o que no

    nem um pouco desprezvel

    extremamente bem informado

    bibliograficamente), o que nos

    leva, portanto, a apenas quererlembrar de dois livros publicados

    mais recentemente: Dionysos de

    Richard Seaford (SEAFORD, 2006)

    e Dionysos und das Dionysische in

    der antiken und deutschen Literatur

    de M. L. Baeumer (BAEUMER,

    2006).

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    5/8

    desgnio 8

    91

    jan.2012

    nhecido paradoxo lgico que s poderia justificar-se,

    tratando-se de uma ameba e de moluscos movendo-se

    no meio sem resistncia dos mundos aquticos, ou (...)

    no caso de pssaros voando. (...) Nas cenas de Creta,

    o movimento parece no exigir esforo; a qualidade

    que se resume no galope volante (a mais cretense das

    invenes) e que se reconhece tambm nos danarinos

    flutuantes, cujos ps pendem vacilando, em vo, de tal

    maneira que as figuras balanam parecendo desligadas

    da terra (...). (...) O mais notvel ainda, o fato de os

    Cretenses muitas vezes pintarem os seus deuses expli-

    citamente como criaturas nascidas no ar, cuja epifania

    ocorre como a descida de um pssaro, com os cabelos

    tendendo para o alto e os ps apontando para o solo.

    (idem, p. 52-53).

    Aps a citao, Eudoro comenta que esta

    passagem introduz, no final, uma smula da tesede F. Matz de

    que em pocas ainda isentas de influxos culturais

    do continente europeu ou asitico, no existem figuras

    plsticas das divindades cultuadas, e que as represen-

    taes existentes so as de lugares consagrados pelas

    epifanias de deuses, cuja apariose d ao fim e ao

    cabo de uma preparao do xtase propiciatrio (pela

    dana?, pelo uso do pio e do vinho?, por ambos os

    meios simultaneamente?). (idem, p. 53).

    Ora, o que no explicitado por Eudoro que

    parece proceder por uma tcita analogia formal

    sugerida apenas pela mera justaposio de dados

    a conexo precisa entre o esprito de ebriedade

    e loucura que transparecenasBacantes (tambm

    definido algo rapidamente por Eudoro) e primei-

    ro o movimento rodopiante e a torso que

    caracterizam o estilo voluminal (perguntamo-nos:

    seria algo dos gestos, mais especificamente da dana

    executada pelas Mnades em transe? mas onde entonas Bacantesencontraramos uma indicao de ou

    aluso a um tal tipo de movimento precisamente?)

    e em segundo lugar a mobilidade absoluta (ou

    movimento orgnico) reconhecvel como padro

    formal para as cenas dos afrescos palaciais mini-

    cos (tambm nos perguntamos: seria a mobilidade

    constante e um certo desenraizamento de estran-

    geiro como sugere M. Detienne em Dionysos

    ciel ouvert(DETIENNE, 1986) uma caracterstica

    tanto de Dioniso quanto das Bacantes na pea que

    tem este ltimo nome?).

    Restaria, enfim, demonstrar o que tambm

    no nada bvio como podem ser aproximados ou

    identificados dois planos ou duas ordens de fenme-no bem distintos: o esprito de ebriedade e loucura

    marcadamente ritualstico das Bacantes na pea ho-

    mnima e a sintaxe ornamental da arte minica com

    padres formais como o movimento rodopiante e

    a torso, ou ainda a mobilidade absoluta em

    cenas que no necessariamente representam rituais

    religiosos afins a este deus. Tambm a afirmao de

    Kernyi, aduzida na sequncia, continua a demandar

    uma semelhante explicitao das conexes entre o

    conjunto da arte minica e o deus Dioniso:

    (...) a impresso de dionisaco que a arte minica

    nos comunica pode ser composta em elementos concre-

    tos que na Grcia s o culto de Dioniso rene de forma

    similar: (...) como deus do vinho, deus touro e deus

    das mulheres, deus, igualmente, das divindades de

    carter exttico, das quais a maior foi Ria, Me dos

    Deuses. (idem, p. 21).

    tambm de se suspeitar a demasiado ge-

    nrica associao entre o naturalismo minico

    como a arte de pintores e escultores fascinados

    pelo elemento lquido e o reino vegetal tal como

    definida por W. Schadewaldt em O mundo das ima-

    gens homricas e a arte creto-micnica (1943) e

    a seguinte definio do deus pelo prprio Eudoro:

    Deus do elemento lquido, que, perseguido por Licur-

    go, se lana no mar, depsito imenso e inesgotvel do

    princpio que, como seiva ou sangue ou smen, sustenta

    toda a vida vegetal e animal; deus da rvore, dendri-

    tes ou ndrendos, e deus phloios consubstanciado nasplantas verdes e nas flores das rvores frutferas (...).

    (SOUSA, 1973, p. 20).

    Alm da assimilao do mar (com que o deus

    est conectado em alguns episdios ou ritos) com

    o princpio que, como seiva ou sangue ou smen,

    sustenta toda a vida vegetal e animal, ou seja: um

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    6/8

    92

    mido vital tal como reconhecido por Walter F. Otto

    (OTTO, 1969, p.169-179) mas que dificilmente se

    confundiria com o lquido salgado e estril (cf. o

    epteto homrico atrgetos) do mar, tambm de se

    estranhar que o elemento lquido (sobretudo o ma-

    rtimo) e o reino vegetal que fascinaram os artistas

    minicos mas que podem tambm por sua amplidoestar presentes em vrias outras artes que no a

    creto-micnica sejam identificados precisamente

    como dionisacos, quando, por exemplo, o mar tam-

    bm poderia (dependendo da cena) ser associado ao

    deus Posseidon (a que, coincidentemente, tambm

    o touro era associado), assim como o reino vegetal

    (segundo o tipo da cena) a divindades como Demter

    ou rtemis. Ser, pois, necessariamente dionisaca,

    como o quer Eudoro, aquela indiscutvel presena

    da gua no afresco dos delfins ou num vaso pintado

    no exclusivo propsito de fixar os movimentos deum polvo em seu elemento natural (SOUSA, 1973,

    p. 22)? Ou, ainda, necessariamente dionisaca a,

    digamos assim, existncia vegetativa das flores (...)

    em afrescos como a colheita do aafro e o pssaro

    azul (idem, p. 22) ou mesmo a figura conhecida

    do Prncipe da Coroa de Penas pelo fato de que

    parea ondular ao vento, como o caule dos lrios

    em seu redor (idem, p. 22)?

    H, enfim, um ltimo e importante elemen-

    to a ser considerado por Eudoro neste complexo

    religioso minico-grego: o xtase como fenmeno

    cultural elemento que, por sua vez, lanar a

    questo conclusiva do ncleo do ensaio que a da

    relao de Dioniso (enquanto paredro) com a grande

    divindade feminina (a Magna Mater) recorrentemente

    atestada em Creta. Eudoro, comeando, diz assim:

    Fora do quadro, portanto, s resta o carter ext-

    tico, comum religio cretense e pr-helnica e

    religio grega e dionisaca. Que o xtase, natural

    ou provocado, , digamos, a prpria substncia de

    ambos os cultos, parece fato indiscutvel. (idem,p. 22). E ento corta abrupto: Mas, da por diante,

    cessa toda a analogia. (idem, p. 22). Mas, apesar da

    reserva presente no uso da negao, Eudoro como

    as longas e cuidadas notas 44 e 45 parecem tambm

    confirmar parece, na sequncia, estar considerando

    seriamente a possibilidade de um xtase provocado

    pelo pio nos cultos minicos:

    J no falamos, sendo o xtase provocado, em que

    as portas da percepo (44) se abrem sob a ao

    entorpecente do vinho, na Grcia, e do pio, em Creta

    (45). Com efeito, as cpsulas de Papaver Somniferum,

    daquela espcie de papoula que adorna a cabea do

    dolo de Gazi, ostentam o golpe efetuado para a extra-

    o do alcalide, e na expresso fisionmica do dolo

    reconhecem-se os traos caractersticos do opimano.

    Porm, repare-se, o dolo de Gazi feminino, como os

    demais dolos de Creta; por conseguinte representaria ou

    uma deusa farmacopica ou uma hipstase farmacopica

    da nica deusa de Creta. (idem, p. 22-23).

    A expresso com aspas portas da percepo

    mobiliza a nota 44, espao da nica discusso

    neste ensaio do efeito anmico da embriaguez (e,

    analogicamente, do xtase) provocado por drogas.2

    A expresso que de William Blake uma

    referncia ao ttulo do conhecido livro de Aldous

    Huxley sobre seus experimentos com a mescalina

    (que obviamente pode se distinguir muito, enquanto

    alucingeno, de drogas como o vinho e o pio).

    Mas o que Eudoro capta no ensaio de Huxley como

    operao anmica bsica desta droga pode mesmo

    se distinta da do vinho mas talvez nem tanto da

    do pio eventualmente se aproximar em algo da

    ruptura com o estabelecido implcita na entrega a

    uma divindade transgressora e desindividualizante

    como Dioniso.

    Em Huxley, segundo Eudoro, o entorpecen-

    te age (...) como eliminador da razo pragmtica.

    (idem, p. 53). E ele cita ento esta demonstrativa

    passagem do prprio Huxley: Embora o intelecto

    nada sofra e a percepo seja grandemente au-

    mentada (sob a ao do entorpecente) a vontade

    experimenta uma grande transformao para pior.

    O indivduo que ingere mescalina no v razo para

    fazer seja o que for, e considera profundamente

    injustificvel a maioria das causas que, em circuns-tncias normais, seriam suficientes para motiv-lo

    a agir. Elas no o preocuparo, pela simples razo

    de ter ele melhores coisas em que pensar. (idem,

    p. 54). E, associando-a tambm ao xtase ritual

    dionisaco, Eudoro lembra da descrio de Ludwig

    Klages (de preferncia de Bergson) do xtase

    provocado por entorpecentes:

    2. Talvez coubesse aqui uma

    breve nota sobre a importncia

    estrutural das notas (no caso,de fim de texto) no ensasmo

    de Eudoro de Souza, onde elas

    desempenham no s a funo

    bibliogrfica bsica de informao

    quanto s referncias, mas

    tambm aquela de suporte

    argumentao com a apresentao

    circunstanciada das hipteses

    por meio de citaes maiores

    dos autores convocados assim

    como da apreciao crtica

    destes. Diramos, pois, sem medo

    da banalidade, que a erudio

    de Eudoro jamais meramente

    ornamental ou recurso vazio e

    de aparato para a autorizaoacadmica cf. as irnicas

    consideraes sobre a assim

    chamada the Wilamowitz

    Footnote no lcido artigo de

    Steve Nimis Fussnoten: das

    Fundament der Wissenschaft

    (NIMIS, 1984, p. 114-130). Por

    vezes, temos mesmo a estranha

    impresso que inverte um pouco

    a perspectiva meramente utilitria

    no uso deste recurso de que

    algo de essencial ao argumento

    foi deslocado para as notas, que

    assim no poderiam de modo

    nenhum deixar de ser lidas. O

    desconcertante efeito retroativo

    de uma tal percepo seria figuraro prprio texto do artigo como

    uma imensa nota autnoma e

    prioritria em relao a um texto

    inexistente.

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    7/8

    desgnio 8

    93

    jan.2012

    Em todo o caso, afigura-se-nos que na obra de Klages

    a descrio do xtase, como libertao do composto, ou

    melhor, da complementaridade corpo-alma, das garras

    vampirescas do esprito (inteligncia e vontade pragm-

    ticas que deixam, em cada vivente humano, os sulcos

    indelveis a que chamamos personalidade), se avantaja

    enormemente outra, que constitui o xtase em liber-

    tao do esprito, do crcere corpreo. (idem, p. 54).

    Podemos duvidar, no entanto, de que os

    efeitos do vinho e do pio sejam anlogos e de

    que ambos poderiam provocar um mesmo tipo de

    xtase (chamado ento de dionisaco), pois se nos

    lembramos do que sugere comparativamente Baude-

    laire nos Paradis artificiels (BAUDELAIRE, 1973, p.

    377-398), enquanto o vinho socializante, excita

    a dramaticidade e opera uma abertura para o outro

    prpria festa, o haxixe (e, por extenso, o pio),apesar (ou pelo fato) de potenciar a acuidade sen-

    sorial e metafsica, enfraquece a vontade e indispe

    paranoicamente o indivduo para o contato social.

    Assim, pois, tanto pelos testemunhos do linear B

    [em que Dioniso (diwonisojo) j aparece associado

    ao vinho (wonowatisi senhor do vinho), segundo

    a revelao de J. W. Graham em The Palaces of Crete

    de 1962, citada por Eudoro na nota 45] quanto pe-

    los testemunhos literrios e etnolgicos da idade

    arcaica e clssica (cf., por exemplo, o fragmento

    120 W de Arquloco eAs Bacantes), no h porque

    duvidar da associao tradicional do deus ao vinho,

    mas estend-la ao pio que no entra no repertrio

    do deus grego nos parece um passo arriscado e

    indemonstrvel, sobretudo se o testemunho icono-

    grfico minico o opimano dolo de Gazi se

    apresenta isolado (e no em grupo) em uma cena

    que no necessariamente tem conotaes ritualsti-

    cas precisas e que, ademais, no se integra em uma

    srie maior de cenas do mesmo tipo.

    Restaria, enfim, apresentar rapidamente asoluo de Eudoro para o problema suscitado pelo

    carter feminino do opimano dolo de Gazi da pre-

    dominncia da deusa-me na Creta minica e da sua

    relao com o deus-paredro (no caso, Dioniso-Touro,

    segundo a hiptese de Eudoro). Pois, como Eudoro

    o formula, todos os monumentos nos inclinam a

    considerar a Grande-Deusa da Ilha de Minos como

    figura muito mais poderosa e importante que o Touro

    ou o Arbusto divinos, mesmo que lhe possamos ou

    devamos dar o nome de Dioniso. (SOUSA, 1973,

    p. 23). Mas considerada esta koincultural do II

    milnio a. C., que abrange todo o Egeu e o Oriente

    Prximo, e vai do Indo ao Adritico e do Helesponto

    ao Vale do Nilo, koin onde uma grande deusa sempre acompanhada de um deus menor o que

    mais impressiona Eudoro

    verificar que, por um lado, no ritual da paixo, morte

    e ressurreio do deus, cuja epifania uma planta, a

    Grande-Deusa no parece haver exercido papel condigno

    do tal poder e importncia que lhe atribuem; e que, por

    outro lado, s vezes ela mesma quem protagoniza o

    prprio drama da paixo o caso, por exemplo, de

    Demter-Persfone, na Grcia, e de Innana-Ishtar, na

    Macednia. (idem, p. 26).

    Ora, esta aparentemente insolvel contradio

    poderia ser resolvida pelo seguinte e desenvolto

    passo de Eudoro:

    proponhamos (...) que a maior importncia e o maior

    poder ou em conceituao menos vaga e menos abs-

    trata a imortalidade de Demter, Cibele, Anat, Astart,

    sis e Ishtar, diante da mortalidade de seus assessores

    e aclitos, traduz simplesmente um fenmeno de con-

    taminao. (...) Persfone, tis, Baal, Adnis, Osris,

    Tammuz e, talvez, Dioniso, mantendo a maior parte

    de suas originais caractersticas de divindades-dema,

    encontram-se, por fim, subordinados a uma deusa-me,

    na qualidade de filhos ou amantes; de qualquer modo,

    como aclitos ou paredros. (idem, p. 28).

    Nesta assimilao final que no consegue de

    modo algum, nos termos mesmos da formulao,

    apagar as ntidas diferenas entre dois tipos distin-

    tos de divindade, Eudoro tentar arrematar assim:

    (...) julgamos que no seja por demais audacioso

    asseverar que radical, ou seminal, no seria a diferena

    que separa a Grande Deusa minica do deus fitomrfico

    ou tauromrfico, ao qual conviria a o nome de Dioni-

    so. Por isso, sempre se poderia repartir entre as duas

    divindades, originariamente afins, o carter exttico

  • 7/25/2019 A construo do argumento em Creta de Eudoro de Souza

    8/8

    94

    que, em pocas mais recentes, continua aderindo ao

    culto da Ria-Cibele anatlica e do Dioniso helnico.

    (idem, p. 29).

    Enfim, para concluirmos esta breve apre-

    sentao da construo do ncleo do argumento

    de Dioniso em Creta (pensada, a princpio, parauma comunicao de no mximo meia hora, em

    um evento comemorativo acontecido em junho de

    2008), gostaramos apenas de lembrar que com ela

    rendemos uma justificada e modesta homenagem

    erudio imaginativa de Eudoro de Souza, atravs

    dos bsicos recortes e da montagem de vrias

    citaes que do prazerosamente voz a este autor

    cujo vasto repertrio de informaes (sobretudo as

    arqueolgicas) confessamos no estar em condies

    de avaliar criticamente, mas que tambm tentamos

    ao problematizar certas proposies e o modomesmo de construo das hipteses nos distanciar

    minimamente do autor para tentar pensar com algum

    recuo os seus procedimentos, o que certamente

    um modo de homenagem menos evidente e que, em

    sua radical liberdade (mais atenta ao discurso e a

    seu objeto do que sua autoria), sempre corre o

    incmodo risco do mal-entendido. Se, ento, como

    uma ltima palavra, nos fosse permitido ousar um

    rpido balano crtico desta tentativa de Eudoro de

    Souza, talvez o que primeiro questionaramos fosse

    a excessiva importncia atribuda origem como via

    privilegiada de acesso a um fenmeno (pressuposto

    metdico que no deixa de remeter, por exemplo,

    ao Nietzsche dA origem da tragdia ou s especu-

    laes etimolgicas do segundo Heidegger), quando

    o fenmeno enquanto tal, no caso o deus Dioniso,

    dado como compreendido em suas documentaes

    mais conhecidas comoAs Bacantesde Eurpides3

    restaria a mesmo ainda a ser pensado e discutido

    com mais calma e preciso.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BAEUMER, M. L. (2006). Dionysos und das Dionysische inder antiken und deutschen Literatur. Darmstadt: Wissen-schaftliche Buchgesellschaft.

    BAUDELAIRE, C. (1973). Du vin et du hachisch, comparscomme moyens de multiplication de lindividualit. In:Les paradis artificiels. In: uvres compltes I. Paris, Gal-limard, p. 377-398.

    BOLLACK, J. (2005). Dionysos et la tragdie: Le Dieu hommedans les Bacchantes dEuripide. Paris, Bayard.

    DE SOUZA, E. (1973). Dioniso em Creta. In: Dioniso emCreta e outros ensaios. So Paulo, Duas Cidades, p. 7-71.

    DETIENNE, M. (2000). Dionysos ciel ouvert. Paris: Ha-chette, 1986. FRANKLIN, D. Euripides, Bacchae. A NewTranslation and Commentary. Cambridge, CambridgeUniversity Press.

    NIMIS, S. (1984). Fussnoten: das Fundament der Wissen-schaft,Arethusa, Baltimore, vol. 17-2, p. 105-134.

    OTTO, W. F. (1969). Dionysos: le mythe et le culte (trad.Patrick Lvy). Paris, Mercure de France.

    SCHLESIER, R. (2007). Lextase dionysiaque et lhistoiredes religions, Savoirs et clinique, Paris, no 8, p. 181-188.

    SEAFORD, R. (2006). Dionysos. London/New York, Rout-ledge.

    SEGAL, C. (1982). Dionysiac Poetics and Euripides Bacchae.Princeton, Princeton University Press.

    Recebido em novembro de 2011.Aprovado em dezembro de 2011.

    De uma grande bibliografia sobre

    esta pea (e, particularmente,

    sobre o papel de Dioniso nela)

    gostaramos apenas de lembrar

    trs ttulos significativos

    publicados aps o ensaio de

    Eudoro de Souza: Dionysiac Poetics

    and Euripides Bacchaede Charles

    Segal (SEGAL, 1982), Euripides,

    Bacchae. A New Translation

    and Commentaryde D. Franklin

    (FRANKLIN, 2000) e Dionysos et la

    tragdie: Le Dieu homme dans les

    Bacchantes dEuripidede Jean

    Bollack (BOLLACK, 2005). Para a

    modesta funo informativa desta

    presente nota (que eventualmente

    a tornaria um justo alvo da j

    citada crtica de Steve Nimis), ver

    o que j foi dito na nota 1.