a crise do séc. xiv

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A CRISE DO SÉC. XIV A CRISE DO SÉC. XIV

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Page 1: A Crise  do Séc. XIV

A CRISE DO SÉC. XIVA CRISE DO SÉC. XIV

Page 2: A Crise  do Séc. XIV

O séc. XIV foi um período marcado por sucessivas crises que, por toda a Europa, O séc. XIV foi um período marcado por sucessivas crises que, por toda a Europa,

semearam a fome, a doença, a guerra e a revolta. Mas foi também um período semearam a fome, a doença, a guerra e a revolta. Mas foi também um período prenunciador de grandes mudanças políticas, económicas e sociais. prenunciador de grandes mudanças políticas, económicas e sociais.

Em Portugal, esta crise manifestou-se principalmente a partir de finais de 1348 , ano Em Portugal, esta crise manifestou-se principalmente a partir de finais de 1348 , ano em que a Peste Negra atinge e devasta o reino, matando em menos de um ano mais de em que a Peste Negra atinge e devasta o reino, matando em menos de um ano mais de um terço da população portuguesa.um terço da população portuguesa.

Page 3: A Crise  do Séc. XIV

A Peste, doença contraída pelos Cruzados no cerco a Jerusalém, espalhou-se rapidamente por toda a Europa, matando aproximadamente um terço da sua população .A Peste negra transmitia-se pelas pulgas que infestavam o pelo dos ratos. Estes em contacto com os alimentos propagavam facilmente a doença entre os humanos.

O contágio das populações foi alastrando à medida que os soldados, gravemente doentes e em número cada vez maior, regressavam aos seus reinos de origem. As constantes viagens entre o mediterrâneo ocidental e oriental, feitas pelos mercadores venezianos agravou o problema.

Page 4: A Crise  do Séc. XIV

►A A primeira consequência, a nível económico, foi primeira consequência, a nível económico, foi uma diminuição acentuada da mão de obra uma diminuição acentuada da mão de obra disponível, que atingiu sobretudo e em primeiro disponível, que atingiu sobretudo e em primeiro lugar, a agricultura e os que dela viviam.lugar, a agricultura e os que dela viviam.

Page 5: A Crise  do Séc. XIV

Pouco antes da Peste atingir a Europa, secas e inundações sucessivas tinham arruinado, por vários anos, as colheitas de extensas regiões, diminuindo drasticamente os rendimentos da Nobreza e do Clero, e condenando à fome grande parte dos camponeses.

Page 6: A Crise  do Séc. XIV

► Assim, os campos, outrora férteis, estavam agora ao Assim, os campos, outrora férteis, estavam agora ao abandono, pois os que tinham sobrevivido à fome e à abandono, pois os que tinham sobrevivido à fome e à Peste eram poucos e exigiam melhores salários e Peste eram poucos e exigiam melhores salários e condições de arrendamento, para continuarem a trabalhar condições de arrendamento, para continuarem a trabalhar as terras da Nobreza e do Cleroas terras da Nobreza e do Clero

Page 7: A Crise  do Séc. XIV

Muitos foram, assim, os que fugindo à miséria abandonaram os campos, procurando nas cidades ocupação no comércio e nos ofícios.

Mas, apesar da prosperidade da cidade, nem todos o conseguiam. Ao excesso de oferta de mão de obra, somava-se a falta de experiência ou conhecimentos desta gente do campo para se adaptar a novas actividades como o comércio ou o artesanato.

Page 8: A Crise  do Séc. XIV

As As consequências consequências não demoraram não demoraram a fazer-se sentir a fazer-se sentir com o aumento com o aumento do desemprego, do desemprego, mendicidade e mendicidade e insegurança.insegurança.

Page 9: A Crise  do Séc. XIV

Esta fuga em massa do campo para a cidade, onde as condições de higiene eram muito más, contribuiu também para que a Peste se espalhasse aí de forma extremamente rápida.

Foi, de facto, nas cidades e junto dos mosteiros e abadias que a Peste fez mais vítimas. Assistiu-se então a um movimento no sentido contrário.

Agora eram os ricos, que fugiam da cidade e procuravam protecção nas suas propriedades rurais .

Mas a peste estava por todo o lado…

Page 10: A Crise  do Séc. XIV

A fé, o consolo dos familiares e a ajuda dos monges eram o único alívio dos que adoeciam vítimas da Peste. Quanto ao resto da população, protegia-se evitando o contacto com os infectados e marcando com uma cruz a morada destes.

Page 11: A Crise  do Séc. XIV

Desta forma, enquanto a cidade Desta forma, enquanto a cidade

crescia desordenadamente e a crescia desordenadamente e a burguesia se afirmava cada vez burguesia se afirmava cada vez mais, os campos desertificavam-se mais, os campos desertificavam-se e a produção agrícola diminuía.e a produção agrícola diminuía.

E assim diminuíam também os E assim diminuíam também os rendimentos, o poder e a influência rendimentos, o poder e a influência da Nobreza.da Nobreza.

Lentamente, o dinheiro ganhava Lentamente, o dinheiro ganhava terreno aos privilégios de terreno aos privilégios de nascimento, e o centro da riqueza nascimento, e o centro da riqueza deslocava-se das actividades deslocava-se das actividades tradicionais ligadas ao campo para tradicionais ligadas ao campo para as novas actividades mais ligadas às as novas actividades mais ligadas às cidades, como o comércio externo e cidades, como o comércio externo e

o artesanato.o artesanato.

Page 12: A Crise  do Séc. XIV

Sonhando com os tempos da Reconquista, da ocupação territorial e da pilhagem, a Nobreza assistia à queda lenta do seu mundo e dos seus valores.

Alguns nobres arruinados e mais realistas , os fidalgos - mercadores, tentavam adaptar-se aos novos tempos competindo com a Burguesia, em actividades que a tradição lhes vedava, como o comércio.

Page 13: A Crise  do Séc. XIV

► O Clero, entretanto, O Clero, entretanto, aumentava aumentava significativamente a sua significativamente a sua riqueza, beneficiando das riqueza, beneficiando das dádivas dos que atingidos dádivas dos que atingidos pela Peste, esperavam às pela Peste, esperavam às portas da morte, poder portas da morte, poder comprar com donativos à comprar com donativos à Igreja, a salvação das Igreja, a salvação das suas almas.suas almas.

E como as terras e outros E como as terras e outros bens do Clero não bens do Clero não pagavam impostos, com pagavam impostos, com estas “doações” estas “doações” diminuíam os diminuíam os rendimentos da Coroa e rendimentos da Coroa e dos Concelhos.dos Concelhos.

Page 14: A Crise  do Séc. XIV

► As catedrais que por esta altura se construíram por toda a Europa, As catedrais que por esta altura se construíram por toda a Europa, reflectindo o crescente poder da Igreja, foram em grande parte reflectindo o crescente poder da Igreja, foram em grande parte financiadas com o “comércio de Indulgências”. A venda de perdões.financiadas com o “comércio de Indulgências”. A venda de perdões.

► O Céu estava agora à disposição de quem o pudesse comprar.O Céu estava agora à disposição de quem o pudesse comprar.

BULA PAPAL DE INDULGÈNCIA

A construção das catedrais

Page 15: A Crise  do Séc. XIV

► O clima de paz que perdurou durante a primeira O clima de paz que perdurou durante a primeira metade do séc. XIV em Portugal permitiu um metade do séc. XIV em Portugal permitiu um desenvolvimento considerável a nível económico, desenvolvimento considerável a nível económico, sobretudo nas actividades ligadas à cidade.sobretudo nas actividades ligadas à cidade.

Page 16: A Crise  do Séc. XIV

► As cidades ou burgos As cidades ou burgos cresceram muito, graças à cresceram muito, graças à protecção e aos benefícios protecção e aos benefícios que, desde cedo, os reis que, desde cedo, os reis portugueses concederam portugueses concederam aos seus moradores e às aos seus moradores e às actividades que actividades que desenvolviam.desenvolviam.

► A crescente importância A crescente importância do comércio, tanto interno do comércio, tanto interno como externo, para a como externo, para a economia do país explica economia do país explica a generosidade dos a generosidade dos decretos reais neste decretos reais neste domínio.domínio.

Page 17: A Crise  do Séc. XIV

Assim:Assim: Feiras, mercados Feiras, mercados

continuaram a continuaram a espalhar-se por todo espalhar-se por todo o país, gozando de o país, gozando de protecção real.protecção real.

A construção de A construção de navios mercantes de navios mercantes de médio e grande porte médio e grande porte foi estimulada, foi estimulada, plantando-se pinhais, plantando-se pinhais, reduzindo-se o preço reduzindo-se o preço da madeira e os da madeira e os impostos.impostos.

Page 18: A Crise  do Séc. XIV

Os incentivos concedidos à criação de bolsas ( bancos ) de mercadores ( D. Dinis ), e seguros que cobriam os negócios de grande risco, tinham como objectivo não só aumentar as exportações portuguesas, mas também assegurar, pela importação, de forma mais duradoura, o acesso aos produtos de que o país mais precisava, principalmente os cereais.

Page 19: A Crise  do Séc. XIV

Foram-se , então, multiplicando os contactos dos mercadores Foram-se , então, multiplicando os contactos dos mercadores portugueses com o estrangeiro. A norte, através do Atlântico e portugueses com o estrangeiro. A norte, através do Atlântico e a sul cruzando o Mediterrâneo, tornou-se habitual a presença a sul cruzando o Mediterrâneo, tornou-se habitual a presença de negociantes portugueses nas grandes feiras internacionais.de negociantes portugueses nas grandes feiras internacionais.

Page 20: A Crise  do Séc. XIV

► Mas estas medidas de apoio à Mas estas medidas de apoio à Burguesia se, por um lado, Burguesia se, por um lado, respondiam a necessidades respondiam a necessidades reais de um país em reais de um país em desenvolvimento, tinham desenvolvimento, tinham também um outro objectivotambém um outro objectivo

► Fortalecer um grupo social - a Fortalecer um grupo social - a Burguesia, e por Burguesia, e por arrastamento o Povo - em que arrastamento o Povo - em que o rei se pudesse apoiar, para o rei se pudesse apoiar, para mais facilmente afirmar o seu mais facilmente afirmar o seu poder face à crescente poder face à crescente importância das principais importância das principais famílias nobres.famílias nobres.

Page 21: A Crise  do Séc. XIV

► Entretanto, nos campos Entretanto, nos campos durante os séculos XIII e durante os séculos XIII e XIV, a política dos reis XIV, a política dos reis portugueses tentou portugueses tentou promover e intensificar a promover e intensificar a produção de cereais, produção de cereais, aumentando a área aumentando a área cultivada, através de cultivada, através de arroteamentos e queimadas arroteamentos e queimadas de bosques e matas , de bosques e matas , secando pântanos, e secando pântanos, e publicando leis que puniam publicando leis que puniam o abandono ou o abandono ou subaproveitamento dos subaproveitamento dos

terrenos agrícolasterrenos agrícolas..

Page 22: A Crise  do Séc. XIV

► D. Fernando, para combater o D. Fernando, para combater o abandono dos campos que se abandono dos campos que se verificou durante o seu verificou durante o seu reinado, publicou em 1375, a reinado, publicou em 1375, a chamada “ Lei das Sesmarias” chamada “ Lei das Sesmarias” que, entre outras medidas, que, entre outras medidas, obrigava os camponeses a obrigava os camponeses a aceitar os salários fixados aceitar os salários fixados pelos Terratenentes e Homens-pelos Terratenentes e Homens-Bons da região. Bons da região.

► Pretendia-se, assim, impedir a Pretendia-se, assim, impedir a súbita subida dos salários súbita subida dos salários exigidos pelos camponeses que exigidos pelos camponeses que agora queriam ser pagos como agora queriam ser pagos como na cidade, em dinheiro e não na cidade, em dinheiro e não em géneros, lutando por em géneros, lutando por escolher livremente o seu escolher livremente o seu empregador, ofício ou tarefa. empregador, ofício ou tarefa.

Page 23: A Crise  do Séc. XIV

► A progressiva quebra dos laços A progressiva quebra dos laços feudais, assentes na servidão e na feudais, assentes na servidão e na dependência, acentua-se nesta dependência, acentua-se nesta altura e está na origem da criação altura e está na origem da criação de uma nova mão de obra de uma nova mão de obra livrelivre, , desenraizadadesenraizada e e não especializadanão especializada que trabalha à tarefa, conforme as que trabalha à tarefa, conforme as ofertas lhe vão ou não surgindo. ofertas lhe vão ou não surgindo.

► A estes trabalhadores podemos A estes trabalhadores podemos chamar os primeiros “proletários”.chamar os primeiros “proletários”.

► Serão os descendentes destes Serão os descendentes destes jornaleiros do campo e dos jornaleiros do campo e dos construtores das igrejas e catedrais construtores das igrejas e catedrais da época que, mais tarde, da época que, mais tarde, assegurarão o funcionamento das assegurarão o funcionamento das fábricas e máquinas durante a fábricas e máquinas durante a revolução industrial.revolução industrial.

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A ARTE GÓTICAA ARTE GÓTICA

Page 25: A Crise  do Séc. XIV

► O estilo Gótico, que se afirma na O estilo Gótico, que se afirma na Europa entre os séculos XII e XV, Europa entre os séculos XII e XV, marca uma evolução marca uma evolução significativa em termos do significativa em termos do domínio das formas e das domínio das formas e das técnicas por parte dos artistas técnicas por parte dos artistas da época face ao período da época face ao período românico.românico.

► No novo gosto tudo é diferente.No novo gosto tudo é diferente.

► Se a Arquitectura Românica com Se a Arquitectura Românica com o seu ar sólido e rústico, com as o seu ar sólido e rústico, com as suas figuras toscas e ingénuas suas figuras toscas e ingénuas tinha sido erguida à escala tinha sido erguida à escala humana, a Arquitectura Gótica humana, a Arquitectura Gótica pela sua altura, pela elegância pela sua altura, pela elegância das suas proporções e pela sua das suas proporções e pela sua verticalidade parecia querer verticalidade parecia querer atingir o céu e aproximar-se de atingir o céu e aproximar-se de Deus. Deus.

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► O interior das igrejas O interior das igrejas góticas, com as suas góticas, com as suas altas e elegantes naves altas e elegantes naves separadas por colunas e separadas por colunas e arcos em forma de ogiva, arcos em forma de ogiva, cobre-se de cúpulas e cobre-se de cúpulas e abóbadas de nervuras.abóbadas de nervuras.

► Pelas rosáceas e vitrais Pelas rosáceas e vitrais entram focos de luz que entram focos de luz que se cruzam e provocam a se cruzam e provocam a admiração dos presentes.admiração dos presentes.

Page 27: A Crise  do Séc. XIV

► No exterior, as esculturas do No exterior, as esculturas do pórtico afirmavam a supremacia pórtico afirmavam a supremacia de Deus perante os homens e os de Deus perante os homens e os demónios que com eles viviam.demónios que com eles viviam.

► Mas agora não se confinam ao Mas agora não se confinam ao tímpano e capiteis. A parte tímpano e capiteis. A parte esculpida distribui-se por toda a esculpida distribui-se por toda a fachada e, por vezes, nem os arcos fachada e, por vezes, nem os arcos nem as colunas escapavam a tanta nem as colunas escapavam a tanta liturgia.liturgia.

► Anjos, santos, homens, demónios, Anjos, santos, homens, demónios, as gárgulas que do alto espreitam e as gárgulas que do alto espreitam e o próprio Satanás parecem seres o próprio Satanás parecem seres animados pelo realismo e pela animados pelo realismo e pela perfeição das formas e efeitos de perfeição das formas e efeitos de luz e sombra.luz e sombra.

Page 28: A Crise  do Séc. XIV

► Os elegantes pináculos Os elegantes pináculos apontam o caminho dos céus, apontam o caminho dos céus, mas a sua altura sublinha mas a sua altura sublinha também a pequenez dos que também a pequenez dos que os observam.os observam.

► Este é de resto um dos Este é de resto um dos

objectivos das suas imponentes objectivos das suas imponentes fachadas e da exuberância dos fachadas e da exuberância dos seus elementos arquitectónicos seus elementos arquitectónicos e decorativos :e decorativos :

► Promover o pasmo e a Promover o pasmo e a consciência da sua consciência da sua insignificância nos homens, insignificância nos homens, assegurando a sua obediência assegurando a sua obediência e passividade.e passividade.

Page 29: A Crise  do Séc. XIV

► Mais do que locais de Mais do que locais de oração e recolhimento, as oração e recolhimento, as igrejas góticas foram igrejas góticas foram construídas para intimidar construídas para intimidar as populações face ao as populações face ao poder quer religioso quer poder quer religioso quer temporal.temporal.

► A grandiosidade e riqueza A grandiosidade e riqueza do estilo gótico assinalam do estilo gótico assinalam um tempo em que a igreja um tempo em que a igreja se afasta cada vez mais do se afasta cada vez mais do povo, exibindo pela povo, exibindo pela ostentação uma riqueza e ostentação uma riqueza e um poder que não parava um poder que não parava de crescer. de crescer.

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No entanto, a construção No entanto, a construção das catedrais góticas das catedrais góticas constituía para a igreja um constituía para a igreja um pesado encargo. E encargos, pesado encargo. E encargos, sobretudo económicos, eram sobretudo económicos, eram coisa a que o Clero não coisa a que o Clero não estava habituado.estava habituado.

Exibir o poder ficava caro Exibir o poder ficava caro e, quando se tratava de e, quando se tratava de construir catedrais significava construir catedrais significava pagar em dinheiro a pagar em dinheiro a trabalhadores livres que trabalhadores livres que através da suas organizações através da suas organizações ( as ( as GuildasGuildas ou corporações ) ou corporações ) ditavam o preço por tarefa e ditavam o preço por tarefa e dia de trabalho.dia de trabalho.

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Apesar de toda a influência, prestígio e poder de que a Igreja gozava, a construção destas catedrais só se tornou possível graças a uma generosa política de doações por parte dos reis e dos senhores feudais.

E, claro, a venda de indulgências a que então recorreu, ajudou muito.