a crise no bes e o futuro incerto do besa

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1 A CRISE NO BES E O FUTURO INCERTO DO BESA 04/08/14 Jonísio C. Salomão 1 [email protected] A Economia Internacional tem vindo a registar sucessivas crises de Bancos Internacionais que obrigaram a intervenção dos Governos de muitos países para evitar o seu agravamento, desemprego e distorções na Economia. Tal facto ocorreu nos finais do ano de 2007 e início de 2008 com a marcante Crise Económica e Financeira Internacional que teve a sua origem nos Estados Unidos da América (EUA) que ficou conhecida como a “Crise do Subprime” uma das piores recessões que a Economia Internacional conheceu, motivada pela falência de um dos principais bancos de Investimentos Lehman Brothers, que originou um efeito em cascata para outras instituições financeiras, que acabaram também por quebrar ou falir. Depois de enormes esforços que vêm sendo implementados pelo Governo Português para recuperar da recessão que o País registou nos últimos anos, em que a taxa de desemprego conheceu scores nunca antes alcançados 15% tal conforme o Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE, 2014) 2 e uma taxa de Crescimento de 0,8% segundo as estimativas apontadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) 3 . Como se não bastasse as questões macroeconómicas como: Desemprego, desaceleração do consumo interno, e recuperação da recessão. 1 Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas. 2 Cf. Informação disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main 3 Cf. Informação disponível em: http://www.imf.org/external/ns/search.aspx.

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Economy & Finance


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O presente artigo visa efectuar uma explicação sobre as principais causas da crise do Banco Espirito Santo e as consequências da sua crise em Portugal, uma economia que se encontra a recuperar de uma recessão. A crise também estende -se para Angola tendo obrigado os dois Bancos Centrais de Portugal e Angola a intervir para não criar distorções na Economia.

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Page 1: A crise no BES e o futuro incerto do BESA

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A CRISE NO BES E O FUTURO INCERTO DO BESA    

04/08/14 Jonísio C. Salomão1

[email protected] A Economia Internacional tem vindo a registar sucessivas crises de Bancos

Internacionais que obrigaram a intervenção dos Governos de muitos países

para evitar o seu agravamento, desemprego e distorções na Economia.

Tal facto ocorreu nos finais do ano de 2007 e início de 2008 com a

marcante Crise Económica e Financeira Internacional que teve a sua origem

nos Estados Unidos da América (EUA) que ficou conhecida como a “Crise

do Subprime” uma das piores recessões que a Economia Internacional

conheceu, motivada pela falência de um dos principais bancos de

Investimentos Lehman Brothers, que originou um efeito em cascata para

outras instituições financeiras, que acabaram também por quebrar ou falir.

Depois de enormes esforços que vêm sendo implementados pelo Governo

Português para recuperar da recessão que o País registou nos últimos anos,

em que a taxa de desemprego conheceu scores nunca antes alcançados

15% tal conforme o Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE,

2014) 2 e uma taxa de Crescimento de 0,8% segundo as estimativas

apontadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)3. Como se não bastasse as questões macroeconómicas como: Desemprego,

desaceleração do consumo interno, e recuperação da recessão.

                                                                                                               1  Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas. 2  Cf. Informação disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main 3  Cf. Informação disponível em: http://www.imf.org/external/ns/search.aspx.  

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Recentemente eclodiu mais um grande batata quente, a segunda maior

Instituição financeira privada de Portugal, o Banco Espírito Santo (BES)

pertencente ao Grupo BES, presente em vários países como: EUA, Angola e

Reino Unido, Luxemburgo. Dubai, entre outros países, está a viver uma das

maiores crises nunca antes vista na história da Economia Portuguesa.

CAUSAS E O ESQUEMA DA CRISE NO BES

O Grupo Espírito Santo (GES) é uma holding com mais de 100 anos, é

detentora de várias empresas que se encontram a actuar em diversos

sectores da economia, como: Turismo, rede de hotéis Tivoli, Saúde, etc.

A crise no BES teve início nos finais do ano de 2008 e com grande realce

apenas no fim de 2013, quando a disputa pela liderança e sucessão do GES

punha em confronto Ricardo Espírito Santo Salgado que assumia o controlo

do Grupo e o seu primo José Maria Riccardi.

De recordar que no de ano de 2012, Ricardo Salgado (Presidente cessante

do BES), vinha tinha já algumas implicações judiciais pelo facto de não

declarar correctamente os seus rendimentos, depois de efectuar três

correcções a declaração de rendimentos referentes ao ano de 2011, o que o

obrigou a pagar um ónus de 4,3 milhões de euros, após ter beneficiado de

uma amnistia, o caso ficou conhecido como “Monte Branco” conforme

referenciou o Jornal Diário de Notícias4.

Durante o período de 2006 a 2012, um alegado esquema de ocultação da

origem dos fundos e a sua conversão em numerários, superiores a 30

milhões de Euros, que teve origem na Akoya, uma sociedade Suíça que

                                                                                                               4  Cf. informação disponível em: http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=4062112&page=-1

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incluía Álvaro Sobrinho (Ex-Presidente não Executivo do Banco Espírito

Santo de Angola), como um dos sócios e Michel Canals e Nicolas

Figueiredo, antigos quadros do banco suíço UBS e arguidos no caso BES,

fizeram com que as investigações fossem levadas mais afundo.

De acordo o Jornal o Globo5, no alto das holdings estava uma Empresa

denominada ES Control que tinha um controlo directo da família. A ES

Control possuía 56,5% mais da metade do Espírito Santo Internacional

(ESI) com sede em Luxemburgo. A ESI era a dona de 100% das acções da

Rio Forte, uma outra empresa que reunia os activos de diversos

segmentos do Grupo Espírito Santo (GES) como: fazendas, hotéis e

empresas de energia.

A Rio Forte, possuía o controlo de 49% da Espírito Santo Financial Group

(ESFG), que era uma das maioritária acionistas do Banco Espírito Santo

(BES) com 25% do capital. Segundo o Financial Times, estas empresas

emprestavam dinheiro uma para outra, acção que não era a mais correcta e

foi considerada como “terrivelmente incestuosa” (ibid.)

No entanto grande parte dos negócios do Grupo encontravam –se sobre a

égide de Ricardo Salgado (ex-presidente do BES).

No início do ano 2014, após orientação do Banco de Portugal (BdP), o BES

teve que separar os activos das empresas que não se encontravam ligadas

ao sector financeiro, medida esta que agudizou mais a situação e trouxe a

tona grande parte dos problemas que se encontravam escondidos.

A medida implementada pelo BdP, surge após a crise de 2008, em que

grande parte das organizações europeias e portuguesas tiveram que

aumentar as fiscalizações aos órgãos ou instituições financeiras.                                                                                                                5  Cf. informação disponível :http://oglobo.globo.com/economia/negocios/entenda-crise-do-grupo-espirito-santo-13222628  

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AS IRREGULARIDADES

Em Portugal: No final de 2013, o Banco de Portugal (BdP), solicita uma auditoria as

contas da Espírito Santo International (ESI), tendo sido registada fortes

irregularidades nas contas, o relatório concluiu que a sociedade

apresentava uma situação financeira grave. A auditoria Interna registou

também irregularidades materialmente relevantes nas contas da “holding”

que acabaram por aumentar as fortes suspeitas no BES, e os graves

problemas começam a tornarem –se públicos no fins do mês de Maio do

ano em Curso.

O jornal "Expresso" noticiou que o buraco nas contas da ESI eram avaliadas

em 2,5 bilhões de euros o que colocaria o Banco em falência técnica. Em

2012, diz o "Expresso" não foi declarado 1,2 bilhão de euros em dívidas de

juros. Mas os problemas começaram em 2008, quando estourou a crise

financeira global. Na ocasião, o grupo teria maquiado prejuízos de 180

milhões euros, lembram fontes.

Em Angola:

Segundo o Jornal “Expresso” a situação do Banco Espírito Santo Angola

(BESA) não é boa, pois segundo explicações de Rui Guerra o novo Director

Executivo (CEO), aos acionistas existe um buraco nas contas do Banco

avaliado em mais de 5 mil milhões de dólares cedido em forma de crédito a

clientes, representando cerca de 80% do total da carteira que, no entanto,

não se sabe quem foram os são os beneficiários económicos, nem para que

fins foi utilizado o dinheiro. Há muito poucas garantias reais e as que

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existem não estão avaliadas. O que quer dizer que não havendo garantias

reais o Banco não tem como reaver o dinheiro, no entanto são “Activos

tóxicos”

Nos EUA

De acordo o Diário de Notícias, o prospeto do aumento de capital do BES

referente ao alegado envolvimento do Banco da Florida (EUA) em

"actividades ilícitas" e alegadas violações da lei de branqueamento de

capitais, tendo o Banco sido multado em 1,2 milhões de euros e que

contestou.

Londres Somam-se-lhes a "necessidade de revisão de procedimentos" na prevenção

do branqueamento de capitais na sucursal do BES de Londres e as buscas

da Autoridade da Concorrência a vários bancos em Portugal para recolher

provas sobre troca de informação sensível.

No entanto existem fortes indícios de que grande parte desta

irregularidade tenha sido causada pelos Administradores e quadros do BES.

Conforme o Comunicado de 3 de Julho (2014) do BdP sobre a

irregularidade do BES, “Os resultados divulgados em 30 de julho refletem a

prática de actos de gestão gravemente prejudiciais aos interesses do Banco

Espírito Santo, S.A. e a violação de determinações do Banco de Portugal

que proibiam o aumento da exposição a outras entidades do Grupo Espírito

Santo. Estes factos tiveram lugar durante o mandato da anterior

administração do Banco Espírito Santo, S.A.. Actos praticados num

momento em que a substituição da anterior administração estava já

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anunciada traduziram-se num prejuízo adicional na ordem de 1,5 mil milhões

de euros”.

CONSEQUÊNCIAS De acordo do BdP6, esta situação criou as seguintes consequências:

• Colocou o Banco Espírito Santo, S.A. numa posição de incumprimento

dos rácios mínimos de solvabilidade em vigor (rácio Common Equity Tier 1

de 5 por cento, três pontos percentuais abaixo do mínimo regulamentar);

• Determinou uma decisão de suspensão do acesso pelo Banco Espírito

Santo, S.A. a operações de política monetária e, portanto, à liquidez do

Eurosistema;

• Gerou uma crescente pressão sobre a tesouraria do Banco Espírito Santo, S.A.; • Agravou a percepção pública do Banco Espírito Santo, S.A., como

evidenciado pelo desempenho fortemente negativo dos respetivos títulos,

situação prejudicial para a confiança dos depositantes. Esta percepção

pública negativa conduziu à suspensão das transações na tarde de sexta-

feira, 1 de agosto, com risco de contaminar a percepção relativamente às

restantes instituições do sistema bancário português;

• Agravou a incerteza relativamente ao balanço do Banco Espírito Santo,

S.A., inviabilizando uma solução de capitalização privada num curto espaço

de tempo.

Este cenário todo, colocou em risco problemas de continuidade da

actividade do Banco Espírito Santo, S.A.. Dada a relevância da instituição no

                                                                                                               6  Cf. informação disponível em: http://www.bportugal.pt/pt-PT/Paginas/inicio.aspx  

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conjunto do sistema bancário e no financiamento da economia, estes

problemas punham em causa a estabilidade do sistema de pagamentos e

do sistema financeiro nacional.

SOLUÇÃO DA CRISE

De acordo do BdP (2014), como uma medida de resolução da Crise o BdP

decidiu criar o “Novo Banco” ou seja um Banco limpo isento de

problemas, com um Capital Social, avaliado em 4 mil milhões de euros,

que estará sobre a égide do “Fundo de Resolução”, que será responsável

pela prossecução da actividade que vinha sendo desenvolvida pelo BES.

Como havia problemas de insolvência por parte do BES, o Governo

Português foi obrigado a ceder recursos ao Fundo de Resolução sobre a

forma de Empréstimo, sendo esta cedência temporária e substituível por

empréstimos de instituições de crédito.

Este Novo Banco ora criado, tem a missão de garantir também actividade

do BES e suas filias em Portugal e no Estrangeiro, garantindo a protecção

dos Clientes e dos depósitos efectuados, bem como manter actualizado o

valor e controle do crédito cedido ao clientes e as respectivas taxas de

Juro, mantendo a Infraestrutura existente, a marca e logótipo, bem como

os demais serviços de banca telefónica e online.

Esta nova instituição será presidida por Vítor Bento, que já havia

substituído o líder histórico Ricardo Salgado na liderança do BES.

E os considerados activos tóxicos ou problemáticos, chamado “bad bank”

(Banco mau), terá uma Administração Independente que estará sobre a

gestão de Luís Máximo dos Santos que já havia presidido a Comissão

Liquidatária do Banco Privado de Português, sem no entanto ter licença

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para exercer actividade bancária.

No entanto constam da lista dos activos tóxicos ou problemáticos a

participação maioritária no BES Angola.

E O BESA COMO FICA?

O Banco Espírito Santo de Angola, desempenha um papel fulcral na

Economia Angolana, é um dos principais parceiros do Governo Angolano na

execução das principais políticas monetárias e financeiras do Estado, como

é o caso: (i) Pagamento dos ordenados da Função Pública; (ii) Faz parte do

Programa Desenvolvido pelo BNA “Bankita”; (iii) Um dos Bancos eleitos

para através do Programa Angola Investe, ceder recursos e apoiar o

Desenvolvimento de Micro, Pequenas e Médias Empresas; (iv) Faz parte do

Plano de Desenvolvimento de Angola 2013 – 2017;

Razão que julgamos nós motivar o governo Angolano a injectar cerca de 5,7

mil milhões de dólares como Garantia Soberana, para não criar distorções a

Economia Angolana e cobrir o buraco existente motivado pelo crédito mal

parado, de formas a amenizar os problemas e garantir a estabilidade do

sistema de pagamentos do sistema financeiro nacional, numa fase em que o

País se recupera dos choques da crise.

Tendo nesta altura o BES problemas de insolvência e sendo um dos

acionista do BES Angola, qual será o futuro?

Com a injecção deste montante pelo Governo Angolano, grande do capital

poderá ser convertido em acções, passando o Governo Angolano a assumir

parte do capital social BESA?; Ou terá que o BESA reembolsar o montante

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cedido pelo Governo Angolano? Hipótese esta que julgamos ser difícil de

realizar em face aos problemas de insolvência que o BESA vive de

momento.

No entanto do Director do Banco Nacional de Angola, André Massano,

citou recentemente em uma conferência de Imprensa que o BESA não

entrará em liquidação, e como medidas cautelares, foi nomeado pelo BNA ,

Administradores Provisórios, quem compete tomar medidas extraordinárias

de Saneamento, garantir o normal e correcto funcionamento do Banco, com

uma vigência de um ano.

Foi também esclarecido que deste modo tendo o BNA assumido a tutela do

BES Angola, não existe a necessidade de existir a garantia soberana que

antes havia sido passado a favor do BESA pelo Tesouro Nacional, ou seja,

uma maneira de corrigir um passo que havia sido dado, sem antes serem

avaliadas contundentemente os factos, visto que o valor cedido deveria

antes ser submetido a apreciação da Assembleia Nacional.

Julgamos que em face a necessidade de capital poderá o BNA ter que

assumir este deficit nas contas do BESA e injectar capital de forma a servir

de uma almofada de ar para o BESA.

No entanto ainda existem factos por se esclarecer, pelo que iremos

aguardar por mais pronunciamentos futuros dos órgãos de tutela (BNA)

sobre o caso.

No entanto ficam ainda perguntas se esclarecer:

Aonde foram parar os valores cedidos pelo BESA sob forma de

créditos?

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Um dos critérios para a cedência de recursos por parte do

Banco são as garantias reais ou pessoais, como cedeu o Banco

recursos sem garantias?

Exigira o Novo Banco de Portugal o seu direito de participação

no Capital Social do BESA?

No entanto, tal conforme diz um velho adágio popular, “muita água ainda

irá correr por debaixo da ponte”.