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XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CO!E SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil
A DIME!SÃO ESTÉTICA !A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTES
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA !O SUDOESTE DO PARA!Á
CARRARA, Rosangela Martins105
Faculdade de Ampére-Brasil [email protected]
Resumo
Este trabalho apresenta uma discussão parcial sobre a dimensão estética na formação do
professor de artes, em um grupo de acadêmicos/as que estejam atuando como
professores na educação básica no sudoeste do Paraná. Esse estudo esta sendo
desenvolvido com aproximadamente noventa acadêmicos/a do curso de licenciatura em
artes desde 2008, com prazo final em 2012, ano de formação destes acadêmicos.
Buscamos, na primeira etapa deste estudo, desvelar a importância da dimensão estética
na formação do professor. Nesta etapa nos concentramos no resgate da memória e nos
saberes construídos sobre a questão da estética dos acadêmicos envolvidos na pesquisa.
Desvelamos nesta etapa a importância do desenvolvimento da imaginação, da percepção
e dos sentidos para o processo de criação, na formação destes acadêmicos. Na segunda
etapa da pesquisa, os acadêmicos são orientados a empreender práticas artísticas em que
utilizam das várias técnicas aprendidas no curso de formação para aplicação na escola
de educação básica. Utilizamos como forma de registro do processo de construção do
saber artístico nas disciplinas denominadas atelieres, Projetos em Artes e Pesquisa em
Artes o portfólio, e o relatório no projeto de intervenção nas escolas de educação básica.
Buscamos com esta pesquisa apontar para a necessidade de aprofundar a importância da
dimensão estética na formação do professor de artes. A orientação teórica desta
pesquisa se fundamenta na abordagem sócio-histórica e dialética, com teóricos como
Pereira (2002), Rios (2002), Vigotski (1990, 1999), Zanata (2006), entre outros
Palavras-chave: Formação de professores. Dimensão estética. Prática pedagógica.
105 Mestre em Educação pela UFRGS. Coordenadora Curso de Artes da Famper – Faculdade de Ampére/PR. [email protected]
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Neste estudo apresentamos a discussão sobre a dimensão estética na formação
do professor de artes para a educação básica no sudoeste do Paraná. Concentramos-nos,
nesta etapa, no resgate da memória e nos saberes construídos sobre a questão da estética
dos acadêmicos envolvidos na pesquisa. Desvelamos a importância do desenvolvimento
da imaginação, da percepção e dos sentidos para o processo de criação, na formação
destes acadêmicos. Para isso contamos com um grupo de professores em situação de
formação em artes para atuarem na educação básica (ensino fundamental e ensino
médio).
Para discutir a dimensão estética na formação de professores/as implica também
refletir sobre como constituem sua subjetividade profissional, ou seja, como
internalizam dimensões teóricas-práticas relativas à profissão, considerado seu contexto
histórico-cultural. Se, de acordo com estudiosos como Vigotski (1987, 1990, 1991,
1992, 1995, 1999, 2004), Marx(1978), Pereira (2002) entre outros, nossas identidades
são culturalmente constituídas na relação dialética do homem com e no mundo,
buscamos com essa pesquisa investigar a formação estética com professores de artes em
formação no curso de licenciatura, envolvidos com a educação básica nas escolas da
rede pública e privada da região sudoeste do Paraná, com práticas pedagógicas
desenvolvidas em horário contra-turno na educação formal e não-formal,
implementando na formação destes professores uma formação estético-artística que
contemple experiências estéticas nas áreas de artes visuais, música, teatro, folclore e
literatura, através de atelieres e pesquisa e projeto em artes, desenvolvendo atividades
de percepção, imaginação e criação. Buscamos então avaliar se a atividade
desenvolvida na formação estético-artística do professor se desvela na sua prática
pedagógica. Para isso nos utilizamos dos registros feitos como fonte de informação.
Considerando que a educação esta ligada à cultura e que a relação dialética
estabelecida nas experiências culturais da vida cotidiana dos professores contribuem
para a sua formação profissional promovendo sua aprendizagem, e que como afirma
Fontana [2000], os modelos internalizados de ação ― nem sempre conscientes ― são
construídos por meio de experiências pelas quais os professores passam ao longo de sua
formação profissional e, posteriormente, já no exercício da profissão, por meio do
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contato com colegas, e em vivências estéticas como a semana acadêmica, o seminário
de apresentação de trabalhos e a prática pedagógica como uma complementação
curricular, organizada e planejada em forma de Projetos de Trabalhos, em que os/as
acadêmicos/as em formação, buscam nas comunidades em que vivem, oferecer em
horário contra-turno oficinas de teatro, dança, musica, artes visuais, folclore, para
alunos da educação básica da rede pública/privada, para as APAE’s, o EJA, num
exercício constante de sua prática docente necessária a sua formação.
Partilhamos do que Tardif (2002) coloca que, dentre os saberes docentes,
muitos são construídos nos processos de formação profissional e muitos no ambiente
de trabalho, tendo origem social, provêm da família do professor e de sua cultura
pessoal, ou seja, além das experiências vividas em formação (nas atividades
complementares a sua formação com os seminários, eventos culturais, semanas
acadêmicas) as demais experiências de vida nos mais diferentes espaços sociais
contribuem para a formação profissional do professor. Tais experiências constituem um
repertório que se ancora em práticas histórico – culturais e estéticas diversas: práticas
de leitura, o hábito de freqüentar museus, salas de concerto e de cinema, teatro, dança,
cultura visual, visitas a Bienais, etc.
Assim, a formação do professor não se dá apenas no espaço institucional e pelas
trocas ocorridas no ambiente profissional, mas também por outras formas de expressão
das culturas, que contribuem para a constituição de um repertório estético e cultural,
através do desenvolvimento de atividades de percepção, imaginação e criação dos
professores, refletindo em sua prática pedagógica e artística, uma vez que a dimensão
estética não pode ser desprezada nos processos de constituição do ser humano.
(FISCHER, 1997)
O conteúdo desenvolvido no curso de formação possibilita o desenvolvimento
de práticas artísticos-pedagógicas nos espaços tanto formal como não-formais,
contribuindo para a formação profissional do professor de arte com suas semelhanças e
suas diferenças, no qual o reflexo da diferença é o conteúdo específico do particular e
do singular e o reflexo da semelhança esta no conteúdo do geral e da identidade.
(CHEPTULIN, 1982, p. 205).
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Sánchez Vázques nos ajuda a pensar sobre a importância da dimensão criadora
do ser humano em contextos de formação de professores, ele afirma que a experiência
de relação estética é a experiência do sujeito com um outro, consigo mesmo e com o
mundo, semioticamente mediada, em uma postura que vai à contramão das relações
baseadas no nexo utilitário com o mundo circundante. Por sua vez, “...o estético só se
dá na dialética do sujeito e do objeto e que, portanto, não pode ser deduzido das
propriedades da consciência humana, de certa estrutura dela, da psique ou de
determinada constituição biológica do sujeito. A consciência estética, o sentido estético,
não é algo dado, inato ou biológico, mas surge histórica e socialmente, sobre a base da
atividade prática material que é o trabalho, numa relação peculiar na qual o sujeito só
existe para o objeto e este para o sujeito” (1978, p.97).
Zanella, Ros, Reis & França, apontam que as vivências que retomam as
experiências estéticas da vida de professores tornam-se, assim, objeto de reflexão e de
trabalho, posto que o próprio processo de constituição do educador enquanto pessoa e
enquanto sujeito que forma outras pessoas é a base para a formação estética necessária
ao redimensionamento das relações e práticas que este institui cotidianamente.
Professores são, nesse sentido, pessoas que, ao formarem outros professores, se
(re)formam nesses encontros (2002).
Considerando que é no domínio da significação produzida pelas “palavras do
outro”, palavras essas sempre e necessariamente produzidas por e marcadas pelas
características das relações sociais, que emerge o sujeito, o que implica para a formação
de professores considerar o contexto das relações que os constituem enquanto tais.
(Pino, 2000) Estas relações estão presentes nas práticas pedagógicas que professores
engendram em contextos sociais específicos evidenciando as concepções sobre os
processos de ensinar e aprender que sustentam estas práticas. (Maheirie, 2002).
Desta forma, toda ação pedagógica é constitutiva dos sujeitos que dela ativamente
participam, pois é na relação com um outro que cada pessoa se constitui como
singularidade e ao mesmo tempo como coletividade (Ibid, 2002).
As experiências estéticas realizadas durante o curso de formação são
denominadas de ateliers organizados de forma a sensibilizar os/as acadêmicos/as com
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atividades de percepção, imaginação e criação. Buscamos com isso desvelar ao
professor sua sensibilidade, sua percepção, o olhar, o ouvir, o sentir do professor através
da experiência estética para o desenvolvimento de sua prática pedagógica, que o
instrumentalize a imaginação e criatividade no espaço escolar. Ao aprimorar os sentidos
dos/as acadêmicos/as, entendemos que num processo de criação/imaginação, o/a
acadêmico/a voltar-se-á para o seu autoconhecimento, possibilitando-lhe uma análise da
realidade tanto de sua formação quanto da realidade escolar de forma criativa que se
reflita na sua prática pedagógica-artística.
Para Bakhtin, “[...] a atividade estética começa, propriamente quando
retornamos a nós mesmos” (2003, p. 25). Essa formação se apóia numa concepção
histórico-cultural que tem Vigotski (1989) como seu representante e que considera que
o homem se constitui como ser criativo ao se relacionar consigo e com os objetos
culturais postos em seu entorno, significando-os por meio das trocas sociais. É nessa
relação dialética que se estabelece entre homem e natureza que o homem se constitui, se
fazendo e refazendo, conforme afirma Marx (1984), determinando a consciência de si e
de mundo.
Nesta formação, buscamos proporcionar ao professor a construção de seu
conhecimento numa ação compartilhada nas experiências estéticas definidas, com os
valores, crenças, hábitos e costumes, próprios e coerentes com as formas de vida
cultural do/a acadêmico/a.
Nesta etapa da pesquisa o/a acadêmico/a vai a campo em sua localidade de
moradia no horário do contra-turno escolar desenvolver sua prática pedagógica –
artística. É orientado/a para o registro das experiências em forma de relatório, uma vez
que o conhecimento também se dá no decorrer da atividade prática orientado à realidade
o que possibilita ao acadêmico/a exprimir na atividade prática não apenas imagens, mas
conceitos apreendidos no desenvolvimento do conhecimento nas formas de
relacionamento entre eles e a natureza, contribuindo para o desenvolvimento histórico
da localidade em que estão inseridos. (CHEPTULIN, 1982, p.137)
Dado que a Estética nasceu como um discurso sobre o corpo e não sobre a arte
(referindo-se à esfera da percepção e da sensação humanas, segundo o sentido do termo
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grego aisthesis, em contraste com a esfera do pensamento conceitual) ela envolve
distinções que passam, não pela relação entre arte e vida, mas pela relação entre o
material e o imaterial (realidade e pensamento, sensações e idéias, o que faz parte da
vida e o que faz parte do mundo sombrio da mente). Questões estas que na tradição
filosófica moderna não têm encontrado respostas totalmente satisfatórias.
Somente um modo de pensar dialético parece ser capaz de delimitar o caráter
contraditório e paradoxal da estética, articulando a natureza e a cultura, o material e o
simbólico. A articulação destes elementos é fundamental no âmbito desta pesquisa,
especialmente porque se pretende pensar a questão educacional e as práticas escolares.
Neste sentido vislumbramos na fala dos acadêmicos/as em formação quanto aos saberes
construídos: as várias experiências com trabalhos diversificados nos ajudam para o
nosso crescimento relacionado as artes; conteúdo trabalhado gerando consciência e
conceitos em relação as artes; adquirimos o saber, o fazer e o visualizar artístico e
estético; o conhecimento, o estudo e ensino das artes, seja ela visual, ou simplesmente
ao sentimento dos mesmos e sentirmos uma alma da arte; a importância do ensino de
artes em sala de aula, a ótima formação dos professores, renovando o ensino através
de novos conteúdos e novas formas de ensinar atraindo a atenção e o gosto dos alunos
para a aprendizagem.; a experiência que marcou foi a apresentação dos colegas no
seminário e a exposição dos trabalhos de muita qualidade; despertou em mim a
vontade de criar formas de preservação com base na sustentabilidade ecológica; entre
outros.
Observamos presente na vivência estética o exercício de criação que na
perspectiva sócio-histórica e dialética sua matriz de referência, pertence ao registro do
necessário por ser uma das formas possíveis de expressão da capacidade criadora
específica do ser humano, que se revela na vida cotidiana como imaginação ou fantasia
que dá vida a tudo o que não é real, ao que não esta de acordo com a realidade e que,
dessa forma, não pode ter nenhum significado prático sério. No entanto, a imaginação
como fundamento de toda atividade criadora se manifesta decididamente em todos os
aspectos da vida cultural fazendo possível a criação artística, científica e técnica.
Expresso na fala dos/as acadêmicos/as: mostrou que cada um tem um potencial grande
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de criatividade, (...); que é preciso sempre buscar o conhecimento, através da leitura,
pesquisa e principalmente expor esse conhecimento (....) fazer troca de experiência e
olhares (...) provocou em mim que a minha busca tem que ser constante e atuante(...)
construí em mim uma consciência (...) demonstrar que através de pequenas ações
podemos fazer a diferença, gerando outras ações (...); percebi que somos capazes de
produzir e construir muitas coisas belas e bonitas com um simples lixo (...) construindo
obras de arte (...) ficou a sensação de que podemos ajudar o nosso planeta. Neste
sentido, absolutamente tudo o que nos rodeia e tenha sido feito pela mão do homem,
todo o mundo da cultura diferente do mundo da natureza, é produto da imaginação e
criação humana baseada na imaginação. (VIGOTSKI, 1999, p.7)
Essas atividades se distinguem em dois tipos: reprodutora - que guarda estreita
relação com a memória, sua essência consiste que o homem reproduz ou repete normas
de conduta já formadas e criadas anteriormente ou revive as marcas de impressões
anteriores (Vigotski, 1999, p.5), demonstrado em Carrara (2009) quando buscamos
resposta a questão: o que é ser um Professor criativo/imaginativo para você, como
resgate da memória. Combinatória ou criadora – quando em minha imaginação vejo um
quadro do futuro ou do passado, não somente reproduzo as mesmas impressões que uma
vez experimentei, mas recordo as excitações anteriores que ficaram marcadas em meu
cérebro, mesmo que na realidade nunca tenha visto no passado nem no futuro, no
entanto, posso ter deles uma representação, uma imagem, um quadro (Ibid, p.6), como
expresso na pesquisa: para meu aprendizado foi excelente,(...)com todo conhecimento
adquirido obtive crescimento(...) a semana acadêmica moveu com com os meus
sentimentos, emoções e com o meu desprendimento, foi uma ótima experiência de
vida....; (...) a olhar a arte de uma vista diferente, onde o aluno veja as várias
possibilidades de trabalhar os elementos visuais, a dança, o teatro, que faz um elo de
ligação com as artes visuais.; (...) fez com que todos se mobilizassem para pensarmos
em nossa caminhada do curso até aqui. O quanto evoluímos em nossa
aprendizagem.;(...) nos proporcionou maior análise crítica, nos fez repensar em
atitudes cotidianas e no que poderemos mudar em relação ao saber, criar, inovar e
recriar.; (...) foi muito proveitosa, onde foi abordados vários assuntos interessantes,
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(...) também conseguimos perceber a criatividade onde somente usamos elementos
sustentáveis, (...) a percepção, criação, interatividade foi de grande valia que podemos
utilizar em sala de aula (...); (...) os trabalhos elaborados nos permitiram a análise
crítica da arte, envolvendo a mesma em fatos, acontecimentos do nosso cotidiano.
Percebe-se que a arte permite ser muito crítica pois nos leva a um olhar diferenciado e
único.
Presentes também nas respostas dadas aos saberes esteticamente construídos ao
se debruçarem sobre a prática artística – pedagógica. Segundo Vigotski (1990, p.6), o
cérebro não é somente um órgão que conserva e reproduz nossa experiência anterior, é
também um órgão que combina, transforma e cria a partir dos elementos da
experiência anterior, novas idéias e novas condutas. Assim a produção imaginária, é o
resultado de qualquer tipo de atividade humana que, segundo o autor “crie algo novo,
externo ao homem - como objetos técnicos e obras de arte – ou interno a ele – como
organizações de idéias e sentimentos.
A produção imaginária é resultado da atividade criadora, diferente da atividade
reprodutora que consiste apenas em reviver ou rememorar experiências passadas sem
acrescentar nada novo a elas, consiste em criar novas imagens ou ações ou combinar de
forma nova aquelas já vividas. “A função imaginária integra o campo das funções
humanas, ou culturais e, como estas, precisa ser ativada para poder funcionar.” (Ibdim,
p.73) Assim expressas pelos/as acadêmicos/as em sua prática pedagógica: (...) expor a
criatividade desenvolvidas durante as aulas, (...) podemos avaliar nosso próprio
desempenho durante as atividades; (...) provocou a investigação em busca do novo e a
coragem de criar e recriar o já estabelecido; (...) foi bastante interessante e proveitosa.
Conscientização da reutilização dos materiais e importância da preservação do meio
ambiente; (...) desenvolveu ainda mais o interesse pela arte, as diversas formas que se
pode trabalhar e transformar o que esta a nossa frente; (...)a transformação dos
elementos sustentáveis em arte(...); (...) a troca de experiências,(...) uma bagagem
maior de conhecimentos; (...) as atividades desenvolvidas foi de muita criatividade,
revelando que todos os acadêmicos do curso são muitos criativos, provocando uma
imensa satisfação de estar criando cada vez mais, e os trabalhos me servirão muito de
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experiência para trabalhar em sala de aula; (...) tive uma semana de muitas
experiências boas e novas, bastante conhecimento novos para levar para a sala de
aula.
Vigotski (1999, p.7) aborda a imaginação como fundamento de toda atividade
criadora que se manifesta decididamente em todos os aspectos da vida cultural fazendo
possível a criação artística, científica e técnica, assim tudo o que nos rodeia e tenha sido
feito pela mão do homem é produto da imaginação como criação humana, é o mundo da
cultura. Assim Vigotski concebe a estética “como uma teoria do comportamento
estético (Verhalten), (...) do estado geral que abrange e penetra todo homem e tem a
impressão estética como seu ponto de partida e centro. A estética deve ser considerada
como psicologia do prazer estético e da criação artística.” (1999, p.7)
Para essa teoria, “o divisor, que antes separava a estética de cima da estética de
baixo, passa hoje por uma linha inteiramente diversa: agora separa a sociologia da arte
da psicologia da arte, indicando a cada um desses campos o seu ponto de vista
específico sobre o mesmo objeto de estudo.” (Ibid, p. 9)
Pliekhánov (citado por Vigotski,) diz que “o comportamento estético do homem,
são sempre determinados em seu funcionamento por causas de ordem sociológica “a
natureza do homem faz com que ele possa ter gostos e conceitos estéticos (...) as
condições que o cercam determinam a transformação dessa possibilidade em realidade,
por elas se explica que determinado homem social tenha justamente esses e não outros
gostos e conceitos estéticos” (1987, p. 46) o que determina a cultura local, o lócus de
morada, seus costumes, seus ritos, são vozes silenciadas pelo distanciamento de grandes
centros, o que torna a região de formação desses acadêmicos/as tão peculiar. As oficinas
exercidas na prática artística - pedagógica – laboratórios do exercício da docência que
os/as acadêmicos/as do curso oferecem em sua localidade, são exemplos disto, com a
manutenção e o resgate da cultura local.
Rios (2002) aponta para a necessidade de se discutir e aprofundar a dimensão
estética na formação do professor, e é o que buscamos fazer com essa pesquisa, dar
“voz” , ou “jogar luz” como a autora aborda sobre a dimensão estética na formação de
professores, especificamente do curso de artes, buscando explorar essa dimensão da
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mesma forma que as demais (técnica, cientifica, comunicativa, prática), uma vez que
segundo a autora “A poética, universo do fazer, não se desarticula da práxis, universo
do agir, como a entendemos contemporaneamente.” (p.98)
Considerando também que a racionalidade não é algo isolado, mas articulado a
outras capacidades inerentes ao ser humano, como a imaginação, a sensibilidade, que o
instrumentaliza para interferir na realidade e transformá-la, e tendo em conta o que Rios
(2002) afirma em relação a emergência de aprofundamento dessa dimensão, buscamos
contribuir com essa pesquisa e neste sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais
(1996) dão o aporte teórico ao tratar do princípio estético para a educação básica, ao
estabelecer como norteadores de suas ações pedagógicas “os princípios estéticos da
sensibilidade, da criatividade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais” e
“[...] a Estética da Sensibilidade, deverá substituir a da repetição e padronização,
estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, e a
afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a
inquietação, conviver com o incerto e o imprevisível, acolher e conviver com a
diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e
alegóricas de conhecer o mundo e fazer do lazer e da imaginação um exercício de
liberdade responsável”. (artigo 3º, inc. I letra c)
Esse aporte dado pelas DCN’s contribui para o aprofundamento na educação
superior desta dimensão uma vez que a formação de professores esta dirigido ao
atendimento profissional, no caso especifico do curso de licenciatura em Artes, do
ensino fundamental e médio. Neste sentido essa pesquisa busca analisar as práticas
pedagógicas dos/as acadêmicos/as em formação profissional.
A análise de dados coerente com a perspectiva histórico–cultural e dialético com
o qual esse trabalho foi proposto, foi feito a partir da leitura exploratória do questionário
aplicado com o grupo de acadêmicos/as em prática artístico-pedagógica e os relatórios
apresentados que além de reforçar as unidades de análise apontadas em Carrara (2009)
no qual o avanço para a questão dos saberes construídos definiu unidades de análise,
que continham características da totalidade do processo investigado e que essas
unidades foram transformadas em categorias de análise, como: afetividade; criatividade;
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imaginação; e percepção. Considerando conforme Vigotski (2005) define que a unidade
de análise da linguagem deveria ser o significado da palavra (p.32), buscamos na
continuação analisar as relações entre os integrantes do grupo e a linguagem utilizada
como uma existência objetiva, que surge como resultado da atividade do professor na
oficina.
Desta forma a análise dos dados leva em conta a história do fenômeno
investigado ─ ou seja, o processo que gera a sua existência como fenômeno e não
apenas o fenômeno em si mesmo ─ e o caráter dialético desse processo. Os
procedimentos da análise envolveram uma leitura exploratória dos relatórios produzidos
pelo acadêmico/a; um levantamento de palavras que correspondam às unidades de
análise já organizadas em Carrara (2009), enquanto unidades constitutivas de um
processo criativo. Também quanto ao conteúdo, as concepções de estética do
acadêmico/a; as percepções estéticas em sua vida pessoal e profissional e expressões de
sentimentos e emoções.
Na análise de conteúdo o ponto de partida é a mensagem, mas devem ser
consideradas as condições contextuais de seus produtores e assenta-se na concepção
crítica e dinâmica da linguagem (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 13).
Deve ser considerado, não apenas a semântica da língua, mas também a
interpretação do sentido que um indivíduo atribui às mensagens. Machado (1991) e
Minayo (2003), enfatiza que a análise de conteúdo visa verificar hipóteses e ou
descobrir o que está por trás de cada conteúdo manifesto, “(...) o que está escrito, falado,
mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o
ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou
latente). A análise e a interpretação dos conteúdos obtidos enquadram-se na condição
dos passos (ou processos) a serem seguidos. (p.74)
No desenvolvimento das atividades artísticas observamos que a estética ocorre
na relação que a pessoa trava com o objeto independente de seus antecedentes ou
origens. Trata da relação que mantemos com objetos em tempo histórico e social, seja
ele um produto artístico de cultura contemporânea, como uma obra de arte renascentista.
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É essa relação que se estabelece com o objeto e que chamamos de estética. Seja ela de
prazer, gosto ou não. (VIGOTSKI, 2001)
Sánchez Vázques caracteriza este processo como uma dimensão fundamental do
homem e na relação que ele estabelece com o mundo o que transcende sua dimensão
prático-utilitária. Afirma ainda que desse modo não é qualquer relação do ser humano
com a natureza, consigo mesmo e com seus semelhantes que pode ser caracterizada
enquanto uma relação estética, como a que observamos durante as atividades
desenvolvidas nas praticas artísticas - pedagógicas. As relações que foram se
estabelecendo a cada atividade, nas trocas, nos olhares, na interação, na sua produção a
relação estabelecida entre o sujeito e objeto se apresenta de uma forma ímpar e produz
um resultado imprevisível: “...quando o sujeito contempla essa outra realidade que é
exatamente a do objeto na situação estética, o humano como ‘centro de gravidade’ se
desloca da ‘realidade vivida’ para outra, a estética, mais plena e profundamente
humana. Existe, pois, uma dialética da união e da separação, da identificação e do
distanciamento de sujeito e objeto que constitui a própria natureza de sua relação na
situação estética” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1999, p.152-153).
Assim que para ser capaz de criar, cada pessoa precisa utilizar o que já conhece,
articulando esses saberes inventivamente e numa perspectiva de esteticidade que “lança
mão” da reflexão, emoção e imaginação a um só tempo, superando-os em relação a
novos desenhos daquilo que vivencia no presente bem como do porvir. Concretamente
vimos que isto acontece nas experiências de relações estéticas, pois permitem um
reconhecimento sensível do outro e de si próprio na realidade, possibilitando um
caminhar em direção à objetivação estética do sujeito nas relações semioticamente
mediadas, o que possibilita ressignificar sua história de vida. (Ibid, p. 154)
Essa experiência nos revela ainda que mesmo de forma mínima há a necessidade
de uma formação profissional que contemple a dimensão estética . Evidenciamos isto no
decorrer das atividades desenvolvidas nos atelieres. Os acadêmicos mostram-se
receptivos a esse tipo de formação, fica evidente no decorrer das atividades e ao final
quando demonstram o “alargamento” conceitual sobre as várias linguagens artísticas.
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Percebemos que individualmente cada um vai transformando sua forma de ver e
estar no mundo, refletindo no coletivo, por meio do interesse, da receptividade, da
atenção a cada etapa do conteúdo trabalhado. Notamos também que por atuarem nos
espaços institucionais, os acadêmicos/as freqüentam pouco ou quase nada espaços
culturais de seu entorno. E que o professor não é por princípio um teórico, mas tem a
teoria ajustada à prática, e que a hostilidade do professor em relação à teoria não é
absoluta, portanto há os que seguem em sua prática pedagógica, idéias, normas ou
convenções e que, em determinado momento, a canalizam na direção de suas práticas
criadoras; outros que estabelecem uma relação com sua prática de poesis rompendo com
essas normas, ou convenções em prol do novo que por sua vez impulsionam suas
práticas, que se estendem além da realidade e que apontam para uma consciência maior
da prática criadora. (OSTROWER, 1977 p.27)
Assim que para ser capaz de criar, cada pessoa precisa utilizar o que já conhece,
articulando esses saberes inventivamente e numa perspectiva de esteticidade que “lança
mão” da reflexão, emoção e imaginação a um só tempo, superando-os em relação a
novos desenhos daquilo que vivencia no presente bem como do porvir. Concretamente
vimos que isto acontece nas experiências de relações estéticas, pois permitem um
reconhecimento sensível do outro e de si próprio na realidade, possibilitando um
caminhar em direção à objetivação estética do sujeito nas relações semioticamente
mediadas, o que possibilita ressignificar sua história de vida. (Ibid, p. 154)
Reconhecemos que este não é um projeto acabado, é um projeto fértil que por
sua relevância nos estimula a continuidade. É uma pesquisa que necessariamente terá
que ter continuidade.
Referências:
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