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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO Barbara Thaina Cardoso Neves A DINÂMICA DO MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS NO BRASIL: DESEMPENHO E DESAFIOS Niterói 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

CURSO DE TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

Barbara Thaina Cardoso Neves

A DINÂMICA DO MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS NO

BRASIL: DESEMPENHO E DESAFIOS

Niterói 2013

Barbara Thaina Cardoso Neves

A DINÂMICA DO MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS NO

BRASIL: DESEMPENHO E DESAFIOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. Orientador: Prof. Dr. João Evangelista

Dias Monteiro

Niterói 2013

A DINÂMICA DO MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS NO

BRASIL: DESEMPENHO E DESAFIOS

Por

Barbara Thaina Cardoso Neves

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Prof. D.Sc. João Evangelista Dias Monteiro - Orientador ___________________________________________________________________ Prof. M.Sc. José Carlos de Souza Dantas – Convidado ___________________________________________________________________ Prof. D.Sc. Osiris Ricardo Bezerra Marques Departamento de Turismo

Niterói 2013

Com muita alegria, dedico este trabalho

aos meus familiares, namorado e meus

amigos.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me proporcionar oportunidades incríveis e por ter me iluminado

durante a jornada acadêmica.

Ao meu orientador, Dr. João Evangelista, pela disponibilidade de tempo e

motivação transmitida para realização deste estudo.

Agradeço à minha família pela formação e valores e, em especial, meu pai, que

apesar de todas as dificuldades me fortaleceu e apoiou.

Ao meu namorado José Luiz, por toda paciência, compreensão e carinho, e por

me ajudar muitas vezes a acreditar em mim quando nem eu acreditava.

Aos meus amigos que me motivaram, compreenderam minha ausência, minhas

angústias e lamentações. À Dafny Hespanhol que acompanhou todo o processo, me

dando dicas preciosas.

Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para que o

trabalho exista.

Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.

Charles Chaplin

RESUMO

A atividade dos cruzeiros marítimos é a modalidade do turismo que centraliza

entretenimento, hospedagem e transporte. O segmento busca um posicionamento de

solidez nos aspectos turístico e econômico e destaca-se pela evolução gradativa. No

Brasil, a atividade foi permitida há poucos anos e demonstra grande potencialidade

de desenvolvimento por questões como as boas condições de navegabilidade, as

belezas naturais do país e um público fascinado por esses navios. A presente

investigação destina-se a contextualização do segmento dos cruzeiros no turismo e a

compreensão do seu dinamismo nos cenários mundial e brasileiro. A pesquisa feita

tem cunho qualitativo e para o embasamento teórico e específico contou com a

contribuição de fontes bibliográficas, virtuais e documentais. A análise das

informações mostrou que a demanda dos cruzeiros marítimos tem o encantamento

pela atividade fomentado pelas constantes inovações, pelas experiências peculiares

com positiva relação custo-benefício e pelas facilidades de pagamento. Também foi

constatado que o Brasil percebe as oportunidades que podem ser alcançadas através

do segmento, porém os entraves internos são limitantes ao progresso da atividade no

país.

Palavras-chave: Turismo; Turismo de Cruzeiros; Popularização.

RESUMEN

La actividad de los cruceros es la modalidad de turismo que centraliza el

entretenimiento, alojamiento y transporte. El segmento busca una posición de solidez

en los aspectos turístico y económico y se sobresale por la evolución gradual. En

Brasil, la actividad se permitió hace pocos años y demuestra un gran potencial de

desarrollo por cuestiones como las condiciones de navegabilidad, la belleza natural

del país y una demanda fascinada por estos barcos. Esta investigación tiene como

objetivo la contextualización del segmento del turismo de cruceros y la comprensión

de su dinamismo en los escenarios mundial y brasileño. La investigación tiene un

enfoque cualitativo y el fundamento teórico específico contó con la contribución de las

fuentes bibliográficas, virtuales y documentales. El análisis de las informaciónes

demostró que la demanda de cruceros tiene el conjuro de la actividad impulsada por

la innovación constante, por las experiencias peculiares con un costo-benefício

positivo y por las facilidades de pago. También se señaló que Brasil se da cuenta de

las oportunidades que se pueden lograr a través del segmento, pero las barreras

internas están limitando el progreso de la actividad en el país.

Palabras clave: Turismo; Turismo de cruceros; Popularización.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Chegada de turistas através das vias de transporte ................................ 20

Tabela 2 Evolução do tráfego aéreo e queda do tráfego marítimo .......................... 31

Tabela 3 Escalas no Brasil no fim do século XX ..................................................... 35

Tabela 4 Segmentação mercado ............................................................................ 54

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Distinção de tipos de visitantes ................................................................. 14

Figura 2 Alguns segmentos turísticos do Brasil ....................................................... 16

Figura 3 Paisagem peculiar ..................................................................................... 24

Figura 4 Modelos de cabines .................................................................................. 25

Figura 5 Linha do tempo sobre a evolução cruzeiristas .......................................... 36

Figura 6 Implicações das mudanças do modelo Cunard ......................................... 37

Figura 7 Market Share da oferta de cruzeiros ......................................................... 38

Figura 8 Cadeia horizontal das companhias marítimas ........................................... 39

Figura 9 Aumento da oferta de novos navios .......................................................... 41

Figura 10 Mapa – destinos de cruzeiros por região .................................................. 42

Figura 11 Número de navios entre os anos 2000 a 2010 .......................................... 43

Figura 12 Número de cruzeiristas entre os anos 2000 a 2010 .................................. 44

Figura 13 Facilidade de pagamento dos cruzeiros .................................................... 51

Figura 14 Impacto econômico dos armadores .......................................................... 52

Figura 15 Impacto econômico dos tripulantes e passageiros .................................... 53

Figura 16 Reflexo da infraestrutura precária ............................................................. 59

Figura 17 Agentes envolvidos na operação .............................................................. 60

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

2 TURISMO, TRANSPORTES E CRUZEIROS MARÍTIMOS ............................. 12

2.1 TURISMO ......................................................................................................... 12

2.1.1 Conceitos e dinâmica..................................................................................... 12

2.1.2 Segmentação .................................................................................................. 14

2.2 RELAÇÃO ENTRE TRANSPORTES E TURISMO .......................................... 17

2.3 TURISMO NÁUTICO ........................................................................................ 20

2.4 CRUZEIROS MARÍTIMOS ............................................................................... 21

3 MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS ..................................................... 28

3.1 RESGATE HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO DO SETOR ........................ 28

3.1.1 Contexto brasileiro ......................................................................................... 33

3.1.2 Paralelo entre o passado e presente ............................................................ 35

3.2 PANORAMA DOS CRUZEIROS DIANTE AO TURISMO ................................ 38

3.3 MERCADO BRASILEIRO ................................................................................. 42

4 DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DO SEGMENTO ......................................... 46

4.1 FATORES QUE EXPLICAM A POPULARIZAÇÃO DOS CRUZEIROS ........... 46

4.1.1 Segmentação .................................................................................................. 46

4.1.2 Marketing e preço ........................................................................................... 48

4.1.3 Força da classe C ........................................................................................... 49

4.2 EFEITOS MULTIPLICADORES NO SETOR DE CRUZEIROS ........................ 51

4.3 PERFIS E HÁBITOS DA DEMANDA EFETIVA E POTENCIAL DO TURISMO 54

4.4 AGENTES CONDICIONANTES DE DESEMPENHO ...................................... 56

4.4.1 Elementos externos ....................................................................................... 56

4.4.2 Desafios e oportunidades .............................................................................. 58

4.4.3 Perspectivas ................................................................................................... 61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 64

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65

11

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, não só os profissionais de turismo, mas a população que

reside próximo aos portos constata a presença marcante dos navios cruzeiros em

nossa costa. São navios de bandeiras diversas que navegam pelo Brasil e exploram

o potencial das belezas naturais e diversificadas em conjunto à demanda encantada

pelas viagens marítimas.

O turismo de cruzeiros marítimos é o segmento que mais cresce no mercado

de viagens de lazer. O estudo irá apresentar dados que mostram a relevância

econômica do setor e, por conseguinte, a oportunidade de negócios para o setor

privado e a fonte de receita para o setor público. Por outro lado, mostra a relevância

do tema cruzeira marítima no contexto do turismo contemporâneo.

E assim, o objetivo desta monografia é analisar o mercado de cruzeiros

marítimos no Brasil, destacando a sua dinâmica, as oportunidades e os entraves ao

seu desenvolvimento.

Além desta introdução, o trabalho está estruturado em três capítulos e uma

conclusão. O capitulo 2 expõe o conceito de turismo e a sua relação com o transporte

turístico e a atividade de cruzeiros marítimos. O terceiro capítulo apresenta o mercado

de cruzeiros marítimos, destacando os aspectos históricos do desenvolvimento da

atividade no mundo e o contexto do seu crescimento no Brasil. O quarto capítulo

analisa a dinâmica socioeconômica do setor de cruzeiros Marítimos, destacando

alguns fatores que contribuíram para o seu crescimento e desenvolvimento no Brasil

na última década, além de ressaltar alguns aspectos relacionados ao perfil dos turistas

de cruzeiros, demanda efetiva e potencial. Também são apresentados alguns

condicionantes favoráveis e os principais desafios ao desenvolvimento do setor de

cruzeiros no Brasil.

A metodologia para a elaboração deste trabalho foi baseada na pesquisa

qualitativa e para o embasamento teórico e específico contou com a contribuição de

fontes bibliográficas, virtuais e documentais.

12

2 TURISMO, TRANSPORTES E CRUZEIROS MARÍTIMOS

Viajantes se deslocam pelo mundo a fim de conhecer lugares e obter

experiências peculiares. Esse movimento faz com que a atividade turística seja uma

das mais rentáveis do mundo, favorecendo os diversos setores que estão interligados.

Os cruzeiros marítimos estão inseridos na realidade turística. A imensidão dos

mares permite que as companhias marítimas ofereçam uma diversidade de serviços

e itinerários. Essa combinação de fatores eleva o grau de satisfação e curiosidade em

navegar a bordo dos cruzeiros.

2.1 TURISMO

Suscetível a obrigações, rotina e estresses do cotidiano, é cada vez mais

natural o homem manifestar a necessidade de espairecer e de diversificar o seu

ambiente habitual. Independente da natureza, o turismo traz consigo o consumo de

outras culturas e novos espaços, e é devido a uma série de motivações que levam um

indivíduo a deixar temporariamente o seu ambiente de todos os dias que o turismo

pode ser considerado um objeto de estudo bastante complexo.

2.1.1 CONCEITOS E DINÂMICA

O turismo não pode ser analisado de forma individual devido a sua

multidisciplinaridade, grande envolvimento com diversas atividades sociais e alta

dependência de outros setores econômicos. O tema incita diversas interpretações e a

seguir serão apresentadas algumas frentes de estudo.

De forma prática, o glossário da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2013)1

define e norteia o turismo como um fenômeno social, cultural e econômico relacionado

ao movimento de pessoas a lugares que se encontram fora de seu lugar de residência

habitual por motivos pessoais ou de negócios/profissionais.

Descrito por Barretto (2008, p. 12), o pensamento de Donald Lundberg (1954)

sobre o conceito de turismo reflete nas necessidades e nas transformações sociais ao

homem, deste modo, entende-se que “é a atividade de transporte, cuidado,

1 Tradução livre do original: “Tourism is a social, cultural and economic phenomenon which entails the movement

of people to countries or places outside their usual environment for personal or business/professional purposes.”

13

alimentação e entretenimento do turista; tem um grande componente econômico, mas

suas implicações sociais são bem mais profundas.”

José Vicente de Andrade (2000) propõe o turismo como uma combinação de

bens e serviços que devem ser desempenhados através de bons mecanismos

operacionais, capazes de proporcionar um atendimento cordial e de satisfação aos

clientes. Enfatiza que a boa funcionalidade desse complexo sistema propulsiona a alta

rentabilidade social e econômica.

Ignarra (2003, p. 14) exibe que o turismo é uma combinação de atividades,

serviços e indústrias que interagem em torno das viagens, e define como: “toda uma

indústria mundial de viagens, hotéis, transportes e todos os demais componentes,

incluindo marketing turístico, que atende necessidades e desejos dos viajantes.”

Em contraposição, Boullon (2002) apresenta os setores primários, secundários

e terciários e, coloca que o turismo integra ao setor terciário, uma vez que este é ligado

ao consumo. Já que num dado momento cujo viajante se dirige à agência de viagens,

não adquire algo fabricado e sim, serviços prestados tais como, consultoria, reserva

de passagens, hospedagem, entre outros.

O turismo é uma forma de consumir, algo assim como canal para o qual conflui uma demanda especial de tipos de bens e serviços elaborados por outros setores, além do consumo de alguns serviços especialmente desenhados para satisfazer necessidades próprias dos viajantes. (BOULLON, 2002, p. 34)

Dias (2005) expõe que a expressão indústria turística seria por conta da

modificação que os recursos sofrem para se tornarem efetivamente produtos, como

para significar o conjunto de atividades empresariais que compõe o turismo de modo

geral.

Operacionalmente, o turismo está relacionado às empresas com atividades de

várias categorias, direcionadas à prestação de serviços em hospedagem, transportes,

agenciamento, alimentação, eventos, recreação, etc. Tem como objetivo satisfazer as

necessidades e anseios dos viajantes, em troca de lucro, como qualquer atividade

econômica. (ANSARAH, 2000)

Ignarra (2003) resgata a definição da OMT e explicita que viajantes podem ser

classificados por tipos: turistas, excursionistas e visitantes. O autor observa que o

termo visitante é bastante similar ao termo excursionista, por sua vez não é

contemplado na figura 1.

14

VIAJANTES

TURISTAS EXCURSIONISTA

Pessoa que ingresse em uma localidade, distante da residência habitual, permanecendo no mínimo de 24 horas e máximo de 12 meses, com finalidade de turismo, mas sem propósitos de imigração.

Pessoa que viaja e permanece menos que 24 horas na localidade, fora do ambiente habitual. Tem a mesma finalidade do turista, porém não pernoita. Também conhecido como turista de um dia.

Figura 1: Distinção de tipos de viajantes Fonte: Adaptado de OMT apud Ignarra (2003)

Compreender a motivação dos viajantes frente aos deslocamentos que optam

em realizar faz com que o planejamento turístico seja mais conciso, aliando as

oportunidades da oferta às motivações e segmentações da demanda. Então, a eterna

busca de novidades dos viajantes legitima a necessidade de inovação constante de

estratégias para melhor entender o comportamento do consumidor, e assim, acolher

as novas motivações e expectativas.

Ryan (1991 apud PAGE, 2001) identifica algumas das motivações para

viagens, em exceção ao turismo de negócios e saúde:

Fuga do ambiente comum ou rotina;

Busca do relaxamento;

Fortalecimento de laços de família;

Prestígio na classe social;

Interação social;

Oportunidades educacionais;

Realização de desejos;

Compras.

2.1.2 Segmentação

Beni (2007) acredita que a melhor forma de estudar o turismo é através de sua

segmentação, pois agrupa a população em grupos homogêneos e também divide o

mercado em partes similares.

Deste modo, o Ministério do Turismo (2010a) define de forma clara as

segmentações no turismo, diante à oferta e demanda:

15

Segmentar a demanda (de acordo com o tipo/perfil de turistas) é definir a parcela das pessoas que compartilham as mesmas características, necessidades e expectativas. Segmentar a oferta (tipos de turismo/experiência – Aventura, Sol e Praia etc.) é definir uma oferta turística que tenha uma identidade comum, com base no tipo de experiência e que atenda às expectativas do segmento de demanda que se deseja atrair. (MTUR, 2010a, p. 13)

Segundo estudo do SEBRAE (2011, p. 24), a compreensão das variações de

perfis e comportamentos “[...] permite ao planejador apresentar a oferta adequada ao

perfil do público-alvo que se deseja atingir, considerando que nem todos os clientes

possuem exatamente as mesmas necessidades e preferências por produtos e

serviços.”

Visto isso, o MTUR (2010a) menciona algumas tendências da demanda, tais

como o envelhecimento da população, a mudança do perfil de consumo turístico por

conta da redução da taxa de natalidade, o maior grau de instrução da população, o

retardamento da aposentadoria, o aumento da renda da classe C no Brasil, dentre

outros fatores de extrema importância para o entendimento das mudanças ocorridas

no perfil dos turistas.

A segmentação da oferta norteia o produto turístico quanto a sua estruturação

e consolidação. A busca de identidades é definida através de características ou

aspectos comuns no dado território (MTUR, 2010a). O uso do plural em identidades

se deve a análise crítica de oportunidades para oferecer mais de uma imagem,

conquistando mais que um alvo de demanda.

Assim, o estudo de segmentação é um mecanismo de estudo das

potencialidades de demanda e oferta. A diferenciação do produto garante a

competitividade e concerne às localidades e aos empreendimentos que cultive e

sustente o bom relacionamento com o consumidor através de produtos e preços

atrativos.

O Ministério do Turismo (2010a) traçou alguns segmentos prioritários que o

Brasil dispõe para identificação dos destinos e o planejamento coeso da oferta

turística, como abordado na figura 2:

16

Figura 2: Alguns segmentos turísticos do Brasil Fonte: MTUR, 2010a

Segundo Barretto (2008), por meio do turismo, o setor público se beneficia de

duas maneiras: através dos impostos arrecadados das empresas privadas e das taxas

cobradas aos turistas para o acesso à localidade. O dinheiro arrecadado se multiplica

na economia desencadeando transformações urbanísticas, incrementos nas

indústrias e na necessidade de mão de obra, entrada de divisas, taxas e impostos.

E pertence ao setor público à responsabilidade do bom funcionamento da

infraestrutura utilizada pelos residentes e turistas. Questões como a preservação

ambiental, desenvolvimento do sistema de infraestrutura básica, boa dinâmica para o

fluxo de transportes e o planejamento urbano devem estar coesos para que a

superestrutura também se estabeleça.

Dias (2005, p. 140) expõe que a conexão entre setores públicos e privados

deve ocorrer para que haja o desenvolvimento turístico nas localidades,

[...] de qualquer modo que se aborde o turismo, se trata sempre de uma combinação de atividades privadas, que atraem consumidores que pressionam sobre uma oferta de bens, predominantemente públicos.

Beni (2007) corrobora que essa relação entre os setores públicos e privados

denomina-se como superestrutura. De tal modo, o termo é a soma da infraestrutura e

17

o conjunto de atividades turísticas, que controla a produção e a venda de bens e

serviços turísticos no mercado.

2.2 RELAÇÃO ENTRE TRANSPORTES E TURISMO

Para a descoberta de novas rotas e possibilidades de alcançar os lugares mais

distantes, os meios de transportes propiciam o desvelamento de novos espaços.

Assim, tendo em vista a diversidade de modos de aproximação aos destinos, Paolillo

e Rejowski (2003) observam que o turismo caminha paralelamente ao transporte, pois

este não é apenas um fator facilitador, e sim, o que permite o turismo acontecer.

Segundo Santos et al. (2010, p. 03), o transporte, em sentido geral, “[...] é o

movimento de pessoas e mercadorias entre localidades.” Roná (2002) completa que

a circulação do ponto de embarque a ponto de desembarque acontece através de

uma trajetória e um tempo determinados, estes que variam pelo desígnio do meio de

transporte e a capacidade de reduzir as dificuldades que possam ser encontradas ao

longo da viagem.

A representação que o transporte possui ao homem é apresentada por

Vasconcellos (2006, p. 11) da seguinte forma:

O transporte é uma atividade necessária à sociedade e produz uma grande variedade de benefícios, possibilitando a circulação das pessoas e das mercadorias utilizadas por elas e, por consequência, a realização das atividades sociais e econômicas desejadas.

Portanto, no turismo, o transporte é responsável pelo deslocamento dos

viajantes dos núcleos emissores aos receptores, ocorrendo uma intensa

movimentação entre continentes da demanda à oferta.

Segundo Palhares (2002), os transportes possuem quatro elementos

fundamentais:

Via: Canal por onde o transporte realiza o percurso, tais como ar,

mar, rodovias ou estradas de ferro;

Veículo ou modal: Meio na qual há o deslocamento de pessoas e

cargas. A sua variedade implica diretamente na flexibilidade,

velocidade e privacidade;

18

Força motriz: Tecnologia propulsora dos veículos, para o turismo

mais comum o uso do artificial, como turbinas, motores entre outros;

Terminal: Lugar de acesso ao meio de transporte ou transferência

entre modais, que quanto mais serviços disponibilizar, mas opções

de escolha e conforto o viajante possui.

O autor agrupa as semelhanças entre os elementos apresentados e forma

quatro grupos classificatórios nos meios de transporte como rodoviário, ferroviário,

aéreo e aquático.

O modo rodoviário conduz os passageiros através de carros e ônibus. Possui

a diversidade de alcance desde viagens curtas às mais longas e a flexibilidade é

propiciada por conta da estrutura rodoviária extensa, o que é uma vantagem. Apesar

disso, a malha rodoviária, traz consigo também a desvantagem da grande quantidade

de carros, que ocasionam congestionamentos nas vias, atrasando o percurso da

viagem.

O modo ferroviário é composto por locomotivas, carros e vagões, percorre

através de trilhos e tem como força motriz, motores elétricos ou a vapor. A flexibilidade

e agilidade são pontos positivos, por conta da via não ser compartilhada com outros

veículos. Contudo, os altos custos devido ao sistema complexo de integração, são um

ponto negativo.

O modo aéreo faz uso do meio natural para o deslocamento. Sua via é o ar e é

através do avião que o deslocamento ocorre. A velocidade adquirida é uma grande

vantagem e, deste modo, o alcance propulsiona o deslocamento a qualquer ponto do

planeta, com alta capacidade de transporte. Como desvantagem, os altos custos de

suplementos encarecem o valor final ao consumidor.

E por último, os transportes aquáticos que são aqueles que transcorrem pelos

rios, mares e lagos. Os veículos são os navios, barcos e ferries que entre si, variam

de acordo com o porte. Cada estrutura se diferencia das mais simples às luxuosas. A

baixa velocidade e altos custos compõem os pontos negativos; enquanto a apreciação

da vista panorâmica, atratividades da embarcação e o conforto são grandes

vantagens.

Para Carvalho (2000), o transporte ponto a ponto não se aplica para alguns

tipos de transportes aquáticos, pois a real intenção do turista é o usufruto do momento

19

da viagem, fatores como o luxo, abundância, entretenimento, o que supera até mesmo

as paradas ao longo do percurso.

Cada modal tem sua relevância, pois a escolha para utilização se distingue de

acordo com as necessidades e estrutura ofertadas no espaço. Palhares (2002)

esclarece que no passado, havia uma visão competitiva entre os modais, porém ao

longo do tempo, para desvencilhar de congestionamentos e dificuldades encontrados

no percurso, o deslocamento foi mais bem aproveitado quando houve uma

complementariedade entre os mesmos.

Deste modo, embora cada um desempenhe sua função de forma individual, o

sistema integrado dos meios de transportes ou a chamada intermodalidade,

proporciona aos passageiros e cargas, maiores opções de logística de deslocamento,

que podem ser aplicadas da forma mais eficiente possível. Assim, o terminal deve ser

estruturado de forma dinâmica para acomodar os diferentes tipos de modais.

De forma objetiva, Andrade (2000, p. 38) explicita o papel dos transportes

perante o turismo:

Os deslocamentos especiais são decisivos: sem viagens de ida e volta não se pode pensar em relações turísticas e temporalidades, fenômeno que faz a importância da estada em lugares da moradia habitual dos que visitam algum lugar.

Cooper et al (2001, p. 307) explicita que “o transporte é um elemento essencial

do produto turístico de duas formas: é o meio de alcançar a destinação e é o meio de

movimentar-se nela.” Ressalta que para alguns visitantes, o deslocamento pode ser

prazeroso, por conta de uma apreciação da paisagem ou o entusiasmo do voo.

Acrescento as atratividades de um navio que torna a sensação do tempo de viagem

mais curta e proveitosa.

O desenvolvimento tecnológico dos transportes faz com que a velocidade e a

segurança percorram como uma linha tênue e de aptidão cada vez mais sólida. Page

(2001) resgata o termo “encolhimento do planeta”, uma vez que os limites geográficos

e temporais diminuem em virtude da melhor capacidade de locomoção, de forma mais

acelerada e efetiva. Além do conforto e a confiabilidade do deslocamento, que

estimulam a demanda turística a viajar, devido a melhoria dos serviços.

20

Deste modo, a inovação dos meios de transportes é essencial para o

crescimento do turismo, pois estes fazem parte da composição do turismo juntamente

com o produto e o mercado turístico (LAMB E DAVIDSON apud COOPER, 2001).

Roná (2002, p. 87) legitima que “o turismo é um usuário do sistema de

transportes, e não seu produtor”. E é vital ressaltar que o transporte, em geral, tem

em seu conjunto atender as necessidades do turismo, mas essencialmente, suprir a

movimentação dos residentes locais.

No caso do Brasil, pela distância dos grandes centros emissores como os

Estados Unidos e a Europa, a entrada de turistas no país é majoritariamente via aérea

e constata-se também que há uma queda da entrada de turistas no Brasil pelas via

marítima, como mostram os dados do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR,

2013).

Tabela 1 - Chegada de turistas através das vias de transporte

Vias de acesso 2009 2010 2011 2012

Aérea 3.348.906 3.609.979 3.808.341 3.986.629

Fluvial 38.634 36.023 54.295 59.209

Marítima 115.705 114.894 127.853 90.359

Terrestre 1.298.972 1.400.483 1.442.865 1.540.646

Total Geral 4.802.217 5.161.379 5.433.354 5.676.843

Adaptado de Embratur (2013)

É fundamental frisar que a facilidade e flexibilidade dos meios urbanos

permitem que os viajantes também façam uso destes, para alcançar destinos de

curtas distâncias. Geralmente, os turistas recebem um atendimento limitado quando

comparado ao transporte turístico, que, por conseguinte, a impessoalidade na

prestação de serviço faz com que o uso do meio não-turístico crie uma

homogeneização entre passageiros e turistas. (PAGE, 2001).

2.3 TURISMO NÁUTICO

Conforme mencionado anteriormente, o turismo náutico faz parte de um

conjunto de segmentações da oferta turística. Visto isso, o estudo do turismo náutico,

de forma peculiar, tem como pressuposto a dissociação de uma atividade náutica e o

turismo neste campo.

21

Para o MTUR (2010b), uma atividade náutica é caracterizada quando há o uso

de embarcações em águas fluviais, lacustres, marítimas ou oceânicas. E para fins

turísticos, se analisa como uma segmentação. Assim, o turismo náutico ocorre através

do equipamento náutico que é a principal motivação e propulsora do deslocamento

turístico.

Para Medeiros (2011, p. 21), o turismo náutico [...] tem sua natureza definida

por um conjunto de atividades diferenciadas (pesca submarina, cruzeiro, passeio

curto, navegação a vela, a remo ou a motor etc.) realizada no meio aquoso (oceanos,

mares, lagoas, rios ou lagos).

Para melhor análise de perfis e motivações, o Ministério do Turismo (2010b)

ramifica o turismo náutico em turismo náutico de cruzeiros e de recreio e esportes.

O Turismo Náutico de Cruzeiros se caracteriza como “prestação de serviços

conjugados com transporte, hospedagem, alimentação, entretenimento, visitação de

locais turísticos e serviços afins, quando realizados por embarcações de turismo”,

podendo ser cruzeiros marítimos ou fluviais. O turista deste segmento busca a

maximização das experiências contidas a bordo.

O Turismo de Recreio e Esportes pode ser alcançado através de barcos de

pequeno e médio porte, que podem ser conduzidos para o proprietário ou alugado

através de bilhetes de passeios. Se configuram através de iates, veleiros e lanchas.

O turista pretende desfrutar de autonomia, liberdade e flexibilidade que uma

embarcação de pequeno/médio porte dispõe, de acordo com os próprios interesses.

Carrasco (2002, p. 20) cita Smith e Jenner (1995) frisando que o segmento

turístico é um fator dinamizador de regiões costeiras, uma vez que através da

movimentação nas marinas ou portos, o litoral obtém um maior destaque. A região

pode ser melhorada ou até melhor consolidada através de suas potencialidades.

2.4 CRUZEIROS MARÍTIMOS

O crescente sucesso dos cruzeiros marítimos é uma tendência no turismo e

pode ser evidenciado através de estatísticas, transformações sociais, econômicas e,

até mesmo conceituais.

Diferente dos transportes convencionais que têm como objetivo transportar

ponto a ponto, o objetivo dos cruzeiros é que seu consumidor desfrute do momento

22

da viagem, através da paisagem peculiar, dos serviços oferecidos, da grandiosa

infraestrutura e dos lugares a serem atracados. (PALHARES, 2002)

Portanto, Roná (2002) aponta que a viagem em um cruzeiro marítimo engloba

a visita em vários portos, embora geralmente, haja a coincidência entre o porto de

embarque e desembarque. Logo, a principal finalidade da atividade é o

relacionamento entre navio e hóspede por meio das atividades ao longo da viagem.

Paolillo e Rejowski (2003, p. 28) expõem que o principal atrativo do cruzeiro é

a vida a bordo e “pode ser entendido como um pacote turístico que inclui transporte,

alojamento, alimentação, recreação, entretenimento, e outros serviços oferecidos a

um preço único e conjunto.”

Amaral (2006, p. 124) caracteriza os cruzeiros como:

Além de transportar e alimentar o passageiro, um navio desse tipo proporciona inúmeras alternativas de lazer, garantindo tranquilidade e conforto e segurança e colocando à disposição do passageiro todos os elementos necessários para seu lazer (shows, festas, discoteca, bares, cassino, restaurantes cinema).

A literatura atribui alguns adjetivos aos turistas de cruzeiros. Além das

caracterizações dos viajantes já apresentados, é possível notar uma mescla de

denominações como: hóspede, passageiro e cruzeirista. Além da enorme estrutura

hoteleira que a embarcação detém, a tripulação transparece uma cultura de

acolhimento e hospitalidade aos hóspedes. Vale ressaltar que o termo passageiro é

bastante limitado ao caso, cujo objetivo deste é chegar ao destino. Já o cruzeirista é

um título retilíneo ao viajante que opta em passar alguns dias a bordo de um cruzeiro

e usufruem do momento da viagem.

E por conta da expansão no mercado brasileiro e pelo início de estudos

acadêmicos mais aprofundados, esses gigantes também recebem diferentes

conceitos. Além de transatlânticos, a adoção dos termos como Hotéis Flutuantes,

Cidades Flutuantes, Resorts Flutuantes e Destinos Turísticos Itinerantes também são

discutidos.

Andrade (2000, p. 126) coloca que o termo transatlântico, em linguagem usual,

não faz referência ao Oceano Atlântico, pois “[...] é o navio comercial para viagens

transoceânicas, preparado para servir de residência, esportes e recreação, jardim e

igreja. Enfim, pretende caracterizar-se como cidade flutuante entre a terra, a água e o

firmamento.”

23

Para Amaral (2006, p. 06), “pela variedade de opções de lazer, pelo conforto e

pela qualidade das acomodações que oferece, um navio de cruzeiro pode ser definido

como um ‘resort flutuante’”. O que podemos acreditar que ambos os produtos,

cruzeiros e resorts, disputam o mesmo público, já que os serviços prestados são

similares.

Para tal comparação, Ansarah (2000, p. 164) caracteriza que hotel resort é:

[...] estar localizado em meio a uma grande área verde. Comporta geralmente várias piscinas, quadras, pequenos lagos, campos de golfe e tudo o mais que incentive a prática de esportes e uma vida saudável. Essas atividades esportivas são monitoradas por um time de animação que também cuida da organização de eventos culturais. A estadia é longa (média de quatro a cinco dias) e objetiva fazer com que o hóspede permaneça o maior tempo possível nas dependências do hotel.

A OMT (2008) aponta que os navios modernos aliam atividades de alojamento

e transporte e, também, suas notórias atividades de lazer, como recursos de

entretenimento. Pode ser estudado como hotel flutuante, uma vez que 75% do navio

é projetado para função hoteleira e 25% para o restante do navio, e como resort

marinho, pelas instalações próprias de resorts, embora a sua mobilidade e exploração

de diversos espaços geográficos, permita novos modelos de negócio, se

diferenciando de forma vantajosa aos resorts convencionais.

Amaral (2006) apresenta as transformações entre os termos resort flutuante à

destino turístico flutuante. O autor entende que essa mudança aconteceu por conta

das novas estruturas navais com tamanhos e atrações impensáveis, volume menor

de escalas e direcionamento das atenções dos hóspedes a bordo para que o consumo

dentro do navio seja maior.

É factível que a experiência turística a ser desfrutada pelos viajantes, entre

cruzeiros e resorts, é diferenciada. A experiência de um cruzeirista ocorre em paralelo

ao momento da navegação, pois o ápice da viagem incide no usufruto das inúmeras

alternativas de lazer, em paisagens diferenciadas. Enquanto em um resort, o ambiente

muitas vezes isolado, certamente permanece imóvel.

O MTUR (2010b, p. 24) corrobora que:

[...] a embarcação destaca-se como o próprio atrativo motivador do deslocamento. Mais do que conhecer cidades, passear por diferentes regiões, o turista náutico de cruzeiro busca vivenciar ao máximo as experiências internas do navio.

24

Brito e Bruhns (2008, p. 129) ressalta o valor da vista para a oferta de cruzeiros

marítimos. A figura 3 ilustra o diferencial de paisagem.

“Um dos componentes importantes nos cruzeiros marítimos é a paisagem. Embora uma das principais motivações que levam um viajante a optar pelas viagens marítimas seja o desejo de viver a experiência, além da infraestrutura e as opções de lazer que os navios oferecem atualmente, a paisagem também pode estar inserida neste rol. Os diferentes destinos oferecidos podem tornar-se um ponto de referência expressivo para a escolha da viagem.”

Figura 3: Paisagem peculiar Fonte: Aida Cara, 2013

Portanto, a grande atratividade dos navios ocorre porque o produto transpassa

o conceito de hospedar pessoas que querem aproveitar as férias com comodidade,

segurança, entretenimento e lazer, pois ao mesmo tempo, essa grande estrutura dá a

oportunidade de acordar, muitas vezes, em portos diferentes, e assim obter, mesmo

que em pouco tempo, experiências inesquecíveis em lugares muitas vezes

desconhecidos. (AMARAL, 2006)

Os cruzeiros, ao longo do tempo, foram se aperfeiçoando para melhor atender.

Para Ansarah (2000, p. 137), “quanto maior e mais moderno for o navio, maior a sua

estabilidade e a sua segurança no mar.” A estrutura contempla serviços e as

instalações cada vez mais contemporâneas. As cabines também se aprimoraram,

variando de um a quatro leitos e permitindo que uma família se hospede na mesma

cabine.

Amaral (2006) frisa que as companhias estão em busca de padronização das

cabines, que variam quanto sua localização na embarcação. Internas e externas, o

25

que diferencia é a presença das janelas. A varanda é uma opção aos hóspedes que

podem pagar um pouco mais, para obter maior espaço de circulação, conforto e vista

privilegiada, conforme apresentado na figura 4.

Figura 4: Modelos de cabines Fonte: Escape Travel, 2013

E para os navios alcançarem certas localidades, existem algumas condições

que propiciam tal atividade. Paolillo e Rejowski (2003) apresentam que os elementos

básicos para tal são água e destinos turísticos atrativos. E essas áreas devem

considerar alguns aspectos como: condições de navegabilidade e climáticas,

proximidade ao mercado consumidor, diversidade de atrativos naturais e/ou artificiais,

outros destinos turísticos próximos, boa estrutura de recepção nos destinos,

condições legais e tributárias, entre outros.

Em certas regiões, os cruzeiros são sazonais porque estão ligados diretamente

às condições climáticas e de navegabilidade. Deste modo, para que haja a

operacionalização das embarcações ao longo do ano, a baixa estação em certos

locais implicam na mudança de rota, previamente planejado.

A América do Sul tem condições de navegabilidade e climáticas para a

navegação ao longo do ano, como é o caso do Caribe e Miami, porém a oferta desigual

dos cruzeiros ocorre por conta da prevalência dos navios que atuam na Europa na

costa brasileira. A baixa estação europeia ocorre concomitantemente ao verão local e

férias escolares. (AMARAL, 2006)

Entre os componentes que apontam o sucesso do segmento de cruzeiros são

as constantes inovações na montagem de itinerários. Embora haja benefícios a partir

das ancoragens, há também questões que destinos devem considerar, para otimizar

26

os benefícios e reduzir os impactos negativos das visitas de navios. Em média, os

grandes navios transportam milhares de pessoas e essa grande mobilidade, por onde

passam impactam nas esferas econômicas, sociais e ambientais.

No campo econômico, os cruzeiros marítimos favorecem as cidades portuárias

nas seguintes maneiras: “[...] movimenta a economia, aumenta o fluxo de turistas na

cidade, gera empregos, estimula a entrada de divisas, promove o destino em âmbitos

nacional e internacional, entre outros.” (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2011, p.

09).

Palhares (2002) lembra que mais de 90% das unidades habitacionais dos

cruzeiros marítimos são vendidas pelas agências de viagens, propiciando um novo

nicho de oferta para comercialização e consequentemente aumento da receita no

trade. No próximo capítulo, serão abordados os efeitos multiplicadores do setor, que

irá detalhar o campo econômico.

Além dos benefícios para a economia local, Brida e Aguirre (2008) expõem que,

as companhias de cruzeiros, indiscutivelmente, são as maiores beneficiadas com a

atividade no todo. Mais de 50% das atividades terrestres são comercializadas a

bordo. Existe um enorme esforço dos prestadores de serviços locais para captar os

cruzeiristas on-line ou já no porto, através de folhetos e vídeos.

A OMT (2008) mostra que o aumento do tráfego marítimo detém regras para

evitar grandes impactos no meio ambiente, um navio de grande porte, comporta 5.000

pessoas, entre passageiros e tripulantes, e muita atenção deve ser requerida. Assim,

o relatório da Organização apresenta algumas orientações que as companhias devem

seguir como definições de zonas marítimas, limitação de despejo de resíduos ao mar,

uso de matérias-primas que se decompõem mais rapidamente e instalações náuticas

menos poluentes.

Palhares (2002) cita Pender (2001) sobre outros tipos de impactos ambientais,

tais como perturbação do ecossistema por conta da intensa movimentação turística;

possibilidade de vazamento de óleo; e as dragagens necessárias para ancoragem dos

navios de grande porte, alterando o ecossistema local.

Cabe também ressaltar a importância da conscientização das pessoas que

estão a bordo, que devem cooperar na separação do lixo, e se atracados, a

conservação da limpeza do lugar visitado.

A coexistência de nacionalidades dentro e fora dos navios é perceptível. A cada

embarque e desembarque em lugar diferente, a diversidade de nacionalidades é um

27

impacto social entre residentes e visitantes. Por conta do tempo de atracação e a

afobação de conhecer o máximo de atrativos locais, a relação entre as partes

mencionadas é insuficientemente apreendida.

Por menor que seja a interação entre passageiros e residentes, os impactos

positivos e negativos ocorrem, uma vez que os nativos podem aprender sobre o

mundo e explorar novas perspectivas de vida. Ao mesmo tempo, o elevado fluxo de

cruzeiros podem restringir o espaço dos moradores e, por vezes, empurrá-los a adotar

diferentes condutas. (BRIDA; AGUIRRE, 2008)

Amaral (2009) entende que a oferta de cruzeiros, antes praticada por classes

sociais mais abastadas, passou por transformações e tornou mais democrático, ou

seja, a atual dinâmica dos cruzeiros marítimos permite que as diferentes classes

desvelem de novos lugares e diferentes culturas.

28

3 MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS

A presente funcionalidade dos navios é marcada por um passado de superação

e inovação. Enquanto a aviação comercial se destacava pela agilidade e

massificação, para sobrevivência da indústria de cruzeiros, a transformação do

produto desencadeou um fenômeno do turismo, através de seus serviços e

sofisticação.

3.1 RESGATE HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO DO SETOR

Da antiguidade à era da pré-Revolução Industrial, as necessidades do homem

de percorrer longas distâncias eram supridas por meios de transportes cuja força

motriz era a tração animal e a natural.

Com o advento da Revolução Industrial, o meio de transporte marítimo foi

reformulado e o ferroviário surgiu. A tecnologia dos motores a vapor proporcionou aos

veículos agilidade e segurança. Para o deslocamento dos navios, a força do vento foi

fundamental e através da tecnologia era possível alcançar 25km/h. Enquanto o trem

alcançava a velocidade máxima de 100km/h. (PALHARES, 2002)

Para tal mobilidade, Natal (1991, p. 296) lembra de algumas mudanças

estruturais relevantes para tal evolução:

[...] os antigos barcos de madeira foram substituídos por embarcações de ferro, com positiva implicação sobre a durabilidade e a segurança das viagens; o uso da força motriz do vapor permitiu regularidade da velocidade da viagem; o peso médio dos navios e a capacidade de carregamento foram expressivamente aumentados; os preços, sensivelmente reduzidos, assim como o tempo das viagens, etc.

Com o novo modelo de embarcação, Goeldner, Ritchie e McIntosh (2000)

apontam que os primeiros registros de navios de transporte de pessoas e mercadorias

ocorreram em 1772, interligando Manchester à London Bridge. O rei Duke of

Bridgewater iniciou esse serviço dispondo de navio com espaço para café, cuja

esposa do comandante servia refeições.

A relação entre países centrais e colônias foi atenuada. A circulação de

pessoas e produtos permitiram uma potencialização do capital e o comércio, antes

local, naquele momento de expansão passou a ocorrer entre países, com portos

29

melhorados e a malha férrea estruturada para alcançar áreas cada vez mais

longínquas. (NATAL, 1991)

Goeldner, Ritchie e McIntosh (2000) apontam que em 1822, Robert Smart, o

primeiro agente de navios a vapor, organizava grupos para viagens cujo embarque e

desembarque acontecia na Irlanda. Já em 1833, as viagens de barcos a vapor eram

anunciadas por cartazes e publicadas semanalmente pela editora da revista

Steamboat Excursion Guide.

Dickinson e Vladimir (2008) trazem em sua obra, uma rica abordagem da

história dos cruzeiros marítimos. Através de antigos relatos de viajantes, os autores

percebem que não há uma definição de qual foi o primeiro cruzeiro a navegar os

mares. Os autores acreditam que a companhia Peninsula and Oriental Steam

Navigation Company, P&O, tenha iniciado a atividade cruzeirista, por conta de um

texto redigido em 1844 que conectava a exclamação de um delicioso cruzeiro no

Mediterrâneo ao navio P&O.

As narrativas de William Makepeace Thackeray e Mark Twain, expostas por

pelos autores, observavam pontos positivos de viajar a bordo de cruzeiros. Tais como,

flexibilidade em parar em várias cidades sem ter que fazer e desfazer malas, facilidade

em conhecer novas pessoas, passeios enquanto ancorados com colegas cruzeiristas

e a bordo relaxar com atividades, festividades e músicas, o que ainda caracterizam os

meganavios atuais.

Ainda segundo Dickinson e Vladimir (2008), nos Estados Unidos da América, a

companhia Quaker City originou a atividade em 1867 e era propagado como excursão

à Terra Santa, Egito, Crimeia, Grécia e outros pontos intermediários de interesse. Em

outros pontos do mundo, as linhas regulares de cruzeiros marítimos acentuaram e

algumas companhias surgiram como Cunard Steamship Company, a Orient Lines, a

White Star Lines.

O romance com o mar tomou outras proporcionalidades, uma vez que os

imigrantes consideravam o navio como meio de transporte, pois buscavam

oportunidades. De alguma forma, nos países de origem sofriam repressões política,

econômica e/ou social. E a miscelânea de classes sociais ocasionou a divisão do

navio, a elite se acomodava em primeira classe e tinha uma realidade de um cruzeiro

moderno, com farta alimentação, serviços, atividades de entretenimento e outros;

enquanto as demais classes se acomodavam em dormitórios que suportavam até seis

camas e banheiros públicos lotados. Os imigrantes não eram turistas, as condições

30

de bordo eram péssimas e a viagem longa sem portos intermediários era algo a ser

tolerado. A percepção era de uma experiência desconfortável de uma longa viagem

ao mar. (DICKINSON E VLADIMIR, 2008)

A dinâmica política colocou em teste a resistência das companhias marítimas.

Nos anos 1920, a Lei Seca nos EUA proibia o consumo de bebidas alcoólicas no país,

e a Grande Depressão, nos anos 1929, propiciou que os lucros das companhias

marítimas reduzissem quando a frota continha navios obsoletos.

Os acidentes de naufrágios do Titanic (1912) e Georges-Phillipar (1932) foram

superados pela renovação dos cruzeiros. As novas embarcações estavam mais

seguras e eficazes, além de luxuosas ao estilo art decó. A estrutura tornou-se mais

confortável e as cabines despontavam de janelas com vista ao mar. (PALHARES,

2002; ANDRADE, 2000)

Contudo, de acordo com Fujita (2005, p. 25), o período entre as guerras

mundiais desencadeou que o transporte marítimo de passageiros sofresse um:

[...] revés devido aos embargos para a navegação entre os territórios. Neste período, ocorreram os confiscos das embarcações para a proteção dos territórios, com as suas respectivas reconfigurações internas de transporte de passageiros para armamento bélico.

Os efeitos pós guerra eram intensos, a degradação dos navios exigiu que as

companhias renovassem suas frotas para se manterem ativas, assim a atividade

obteve um sensível crescimento. (BRITO, 2006) Mas em virtude das inovações

tecnológicas principalmente no âmbito industrial, o turismo foi estimulado a um súbito

crescimento por conta dos jatos comerciais. O voo do Boeing 707, da companhia

Panair em 1958, marcou a nova fase da aviação que propôs maior velocidade e

barateamento nos transportes de pessoas e cargas. (IGNARRA, 2003)

A nova realidade do transporte marítimo era iminente. Não havia mais a

necessidade de viajar longas distâncias de navio, por conta dos seguintes fatores: a

velocidade do avião propiciou o encurtamento do tempo de viagem; o baixo preço do

petróleo acarretou o barateamento das tarifas; a regulamentação do trabalho que

permitiu a população obter um tempo livre, férias remuneradas e maior renda; e a

difusão dos meios de comunicação que divulgou a flexibilidade e novos lugares que

podem ser alcançados pelos meios de transportes. (OMT, 2001)

31

De acordo com Fujita (2005), o declínio dos transportes marítimos e o colapso

da economia europeia, devido à guerra, propiciaram aos armadores2 um novo olhar

para o uso das embarcações. Os EUA tinham a principal forma de lazer: o cinema e

era o momento de exaltação dos astros de cinema. Então, a ideia era reunir os

famosos do entretenimento a roteiros onde era possível que os navegantes desfrutem

do momento da viagem junto aos ídolos. Essa estratégia de superação:

[...] é denominada como maturidade inovativa, permitiu uma nova forma de exploração deste segmento, que ansiava por viagens de extremo luxo, conforto e lazer, sendo necessário apenas a reestruturação das embarcações para esta nova realidade. A implantação de equipamentos como bares, restaurantes requintados, áreas de lazer e uma infinidade de outras formas de entretenimento, foram as soluções encontradas. (FUJITA, 2005, p. 27)

Através de um comparativo entre os transportes aéreo e marítimo, é possível

perceber os reflexos desta fase. A evolução dos anos relatada na tabela 2 se enquadra

desde a ausência de forças competitivas no transporte marítimo à fase de

estabelecimento do setor aéreo.

Tabela 2 - Evolução do tráfego aéreo e queda do tráfego marítimo

Nº de passageiros

Via Marítima Via Aérea

1930 360.000 -

1952 194.000 138.000

1954 220.000 200.000

1955 214.000 268.000

1963 788.000 2.836.000

1968 375.000 5.258.000

Fonte: Fernandes Fuster (1971) apud Brito (2006)

Então a partir dos anos 1970, os armadores transformaram os navios para

despertar maior o desejo do público. Com estrutura cuja tonelagem era três vezes

maior que os convencionais, os novos cruzeiros tinham espaços melhores e maiores

equipados, além do conforto e segurança. Assim, era desmistificada a funcionalidade

dos cruzeiros: de transporte de passageiros ao entretenimento dos turistas. O objetivo

2 Segundo Roná (2002, p. 129), armador consiste na “pessoa ou firma que, à sua custa, equipa, mantém e explora

comercialmente embarcação mercante [...]”

32

era “tornar a viagem de cruzeiro tão ou mais interessante do que os próprios destinos

turísticos.” (PALHARES, 2002, p. 238-239)

Brito (2006) enfatiza a importância do papel do lazer no formato dos cruzeiros

marítimos, cuja oferta de diversão ao longo do dia e da noite foi fundamental para

estabelecimento no mercado turístico. Algumas companhias como Carnival Cruise

Lines e Royal Caribbean tiveram participação para fazer essa revolução no mercado,

exatamente porque adotaram a proposta de oferecer atividades diversas e, assim,

atrair os viajantes a se tornarem cruzeiristas.

Se o desenvolvimento da aviação culminou o retrocesso dos transportes

marítimos, por sua vez também propiciou o reerguimento dos cruzeiros. A

complementariedade entre os meios de transportes foi fundamental para que

consumidores potenciais de diversos pontos do planeta pudessem viajar sobre os

mares. E é através dos pacotes air/sea que:

[...] as empresas de cruzeiro oferecem passagens aéreas de ida e volta para o porto de saída de todos navios a preços promocionais. Outra opção também é a de o passageiro viajar de navio para um determinado destino e voltar o porto de origem de avião. (PALHARES, 2002, p. 237)

O ápice da transformação apontou a necessidade da criação de órgão do tipo

associativo. Em 1975, nos EUA foi criado a Cruise Lines International Association

(CLIA). A associação é uma organização dedicada, principalmente, a defender os

interesses de empresas de cruzeiros, agências de viagens, autoridades portuárias e

destinos, entre vários parceiros de negócios da indústria. Além de estar envolvida

também na formação de agentes de viagens, comunicações de pesquisa e

comercialização de viagens para promover o valor e a conveniência de viajar a bordo.

(CLIA, 2013a)

Os terminais portuários foram influenciados a promover mudanças para

comportar os novos formatos dos cruzeiros. Para a ancoragem dos meganavios,

foram fundamentais que algumas características fossem adaptadas como: calado de

profundidade específica e proximidade aos serviços turísticos que atendam os

cruzeiristas. Visto isso, as áreas portuárias precisaram ser reconfiguradas e os portos

que não conseguiram se modernizar por conta da extensão urbana, foram desativados

para criação de novas zonas portuárias. (ALBAN, 2005)

33

Temas musicais, culinários, românticos, GLS, entre outros, foram atribuídos às

viagens marítimas. Mesmo que não fosse novidade neste mercado, a tematização dos

cruzeiros foi uma significativa estratégia para diferenciação entre companhias e

navios, para o alcance de vantagens competitivas, a partir dos anos 1980. (DOWLING,

2002)

As últimas décadas do século XX foram marcantes pelo reconhecimento das

potencialidades e consolidação no mercado turístico. As grandes companhias

marítimas introduziram aos cruzeiros alguns termos publicitários como “fun ships” e

“vacations guarantee”, consequentemente, assumiam tarifas mais baratas e viagens

não tão extensas, cativando viajantes que queriam experimentar e fidelizando-os.

(DOWLING, 2002; AMARAL, 2006)

3.1.1 Contexto brasileiro

Nas principais cidades litorâneas, durante o período colonial, a navegação

brasileira era constituída de embarcações simples (barcos e canoas) e eram

construídas em estaleiros artesanais para o transporte de pessoas e mercadorias.

Enquanto colônia de Portugal, e ainda que o litoral brasileiro fosse restrito à

navegação de outras bandeiras, embarcações de diferentes nacionalidades

atravessavam os mares em busca de riquezas. (GOULARTI FILHO, 2011; FUJITA,

2005)

A navegação no país foi praticamente inexplorada até a chegada da Família

Real Portuguesa. Segundo Pires (2001 apud Brito 2006), tão logo desembarcou, D.

João VI promulgou a abertura dos portos às nações amigas. E ainda que defendesse

interesses da família e de Portugal, o Brasil teve uma intensa movimentação de

navios, trazendo prosperidade. Rio de Janeiro era o principal porto do país pela

localização privilegiada e sendo o berço de chegada de artistas, cientistas,

comerciantes, entre outros.

A partir da instauração da República, os militares aprovaram a criação do Lloyd

Brasileiro (fusão de duas companhias marítimas) e mudaram o setor da navegação

de cabotagem3 a fim de monopolizar as companhias brasileiras:

3 Segundo Roná (2002, p. 128), cabotagem é a navegação praticada próxima à costa [...]”

34

No parágrafo único do Artigo 13 da Constituição de 1891, estava expresso que a navegação de cabotagem marítima, fluvial e lacustre deveria ser feita apenas por navios nacionais. Essa era a posição dos republicanos positivistas, que defendiam o fortalecimento do capital nacional e a formação de um sistema nacional de economia. (GOULARTI FILHO, 2011, p. 427)

Ou seja, a lei colocava fim a longa abertura para cabotagem dada pelo império.

Na finalidade de proteger a economia e as companhias nacionais, tornava-se

exclusiva a navegação pelas embarcações oriundas deste país. De acordo com

Freitas (2006), também navegavam em águas brasileiras navios estrangeiros que

colocavam os portos brasileiros em seu itinerário de longo curso, mas eram vetados

os embarques e desembarques de seus passageiros.

Brito (2006, p. 37) expõe que já no século XX, o Lloyd Brasileiro e outras

companhias começavam a utilizar o transporte marítimo para fins turísticos, entre elas

a Touring do Brasil, que atuava como transportadora e promovia o turismo. Recebiam

apoio do governo ¨[...] por suas exposições culturais e industriais promovidas à bordo,

pelas feiras ‘flutuantes’ e pelos gastos que os turistas realizavam nos portos de

escala.” Assim, através das viagens eram divulgados os destinos nacionais e suas

belezas às classes abastadas, promovendo o turismo doméstico.

A Agência Auxiliar de Turismo, Agaxtur, adquiriu e fretou navios de bandeiras

estrangeiras4, aderindo ao mercado de cruzeiros com novas rotas e moderna

estrutura. Com a mesma proposta mencionada acima, os navios da AGAXTUR

levaram milhões de brasileiros a conhecer o próprio país. As embarcações possuíam

piscina, salões, restaurantes e ar condicionado nas cabines, diferente dos antigos

navios, cujo desconforto e a enfadada viagem eram questionados pelos passageiros.

(LEONE, 2006; BRITO, 2006)

Não diferente dos outros países, o progresso do transporte aéreo e rodoviário

também transformou a conjuntura marítima no Brasil. A única frota de navios

nacionais, o Lloyd Brasileiro, sofria financeiramente e vendeu seus navios. O Brasil

não tinha mais navios brasileiros nos mares e por algumas décadas a proteção da Lei

da Cabotagem não fazia mais sentido. (BRITO, 2006)

A alteração da lei da cabotagem foi o início de uma vasta transformação na

navegação brasileira. Palhares (2002, p. 260) coloca que:

4 A AGAXTUR tinha autorização especial pois era uma operadora turística brasileira. (AMARAL,2006)

35

O mercado de cruzeiros marítimos no Brasil definitivamente tem um divisor de águas na sua história: a Emenda Constitucional número 7, aprovada no dia 15 de agosto de 1995. Esta alterou o artigo 178 da Constituição Brasileira que vedava o direito da navegação de cabotagem nos portos do país por navios de bandeira estrangeira.

Na literatura não há dados estatísticos que apontem resultados de

movimentações cruzeiristas em 1995 e 1996. De acordo com Saab e Ribeiro (2004),

a circulação de navios de nacionalidades estrangeiras só foi realmente sentida a partir

de 1997 porque as companhias marítimas planejam seus itinerários com antecedência

de dois anos, e a partir disto, o Brasil se tornou destino dos roteiros pré-programados.

Ainda no século XX, a movimentação foi sentida na ancoragem de navios.

Freitas (2006) exibe a circulação através do número de escalas nos terminais

portuários, na tabela 3. Até 2000, 128.135 pessoas visitaram 210 portos brasileiros.

Tabela 3 – Escalas no Brasil no fim do século XX

Temporada Nº de escalas

1997/1998 154

1998/1999 299

1999/2000 323

Fonte: Amaral (2006)

3.1.2 Paralelo entre o passado e presente

Para adequação da oferta, os cruzeiros marítimos se modelaram ao decorrer

do tempo para atender as expectativas do mercado. Alguns autores lembram alguns

pontos marcantes que determinaram a evolução dos cruzeiros marítimos.

A figura 5 se configura numa linha do tempo que Amaral (2006) apresenta como

passado, presente e futuro. É destacada alguns pontos que acompanharam o

desenvolvimento do segmento:

36

Figura 5: Linha do tempo sobre a evolução cruzeirista Fonte: Adaptado de Amaral (2006)

37

É interessante frisar que o panorama cruzeirista contou com mudanças não só

suscitadas pelas companhias marítimas, mas também por outros agentes turísticos.

Os autores Cooper et al. (2009) exibem mutações do cenário como:

Trajetória e tempo: Para alcançar o destino, os antigos navios

despendiam muito tempo navegando, enquanto os novos

despontam de uma velocidade superior, percorrem distâncias

menores e fazem paradas em destinos próximos, o que propicia o

barateamento das tarifas;

Portos: Os antigos navios eram desenvolvidos para ancoragem em

portos bem estruturados, diferente dos novos, cuja tonelagem é

superior porém estruturados para ficar em menores portos;

Pacotes turísticos: Através do air/sea, é possível que os viajantes

provenientes de qualquer parte embarquem em quaisquer portos

que contenham infraestrutura turística de movimentação, não

somente dos núcleos emissores.

Como já abordado, a soberania do setor aéreo no transporte e mudanças no

perfil comportamental desencadearam a redefinição dos objetivos da oferta marítima.

Pereira e Sá (2010 apud Andrade e Robertson, 2012) resgataram o modelo de negócio

da Cunard Lines que contempla as transformações conceituais e estruturais, conforme

figura 6:

Data Até 1950 1960/70/80 1990/2000

Definição Transporte de passageiros

Hotéis flutuantes Resorts de recriação/centros comerciais flutuantes

Fator crítico de sucesso

Preço + rapidez

Conforto (descanso)

Divertimento

Pessoal Mínimo Hotelaria Artistas, cassinos, boites, jogos, tec.

Espaço nos camarotes Mais Médio Menos

Espaço zonas comuns Menos Médio Mais

Restauração (variedade, qualidade e espaço)

Menos Mais Médio

Divertimento Menos Médio Mais Figura 6: Implicações das mudanças do modelo da Cunard Fonte: Andrade e Robertson, 2012

38

Essa abordagem não só se aplica aos cruzeiros Cunard, como é possível

perceber que esse desenvolvimento acompanhou todo o mercado. Os cruzeiros

mudaram seus conceitos de “transporte” e se tornaram o próprio “destino de

entretenimento”; o cruzeirista busca além de passear em cidades diferentes,

experimentar o navio com sua variedade de serviços, paisagens peculiares, preço

acessível e qualidade dos serviços que o satisfaça. A prioridade na interação é

constatada pela eliminação de áreas restritas às classes altas, vislumbrando de áreas

comuns.

3.2 PANORAMA DOS CRUZEIROS DIANTE AO TURISMO

Conforme visto anteriormente, o mercado de cruzeiros representa um

segmento turístico que exibe um exponencial crescimento em todo mundo. A alta

competitividade entre companhias mostra que os investimentos em navios modernos

e serviços de qualidade constituem o produto sólido e atrativo aos consumidores.

Segundo Chin (2008), a consolidação do mercado fica evidente pelas ações na

gestão de três grandes companhias marítimas que detém cerca de 80% do mercado.

Entre fusões e aquisições, as líderes Carnival Corporation, Royal Caribbean Cruises

e Star Cruises Lines tem em seu domínio linhas marítimas que atuam de forma

independente no mercado.

De acordo com a Cruise Market Watch (2013), essas marcas lideram o

mercado de cruzeiros da seguinte forma: Carnival detém 48,4%, Royal Caribbean,

23,3%, Star Cruises, 9% e as demais companhias totalizam 19,3%. A composição do

mercado de cruzeiros é representada na figura 7:

Figura 7: Market Share da oferta de cruzeiros Fonte: Cruise Market Watch (2013)

48,4

23,3

9

19,3

Carnival Royal Caribbean Star Cruises Outras companhias

39

Essa liderança no mercado é inerente às fusões, aquisições e incorporações

de empresas do mercado de cruzeiros. Segundo Martinez (2011), essa estratégia é

denominada como concentração horizontal, que tende a cobrir empresas que atuam

no mesmo segmento de mercado e, operacionalmente funcionam como empresas

independentes. O movimento horizontal das grandes corporações propicia vantagens

econômicas pela aquisição e operação de empresas cujos produtos e imagem já são

posicionados diante da específica parcela da demanda, além da expansão dos

negócios. A autora esquematiza os laços empresariais e seus desdobramentos na

figura 8.

Figura 8: Cadeia horizontal das companhias marítimas Fonte: Martinez, 2011

A Carnival Corporation & PLC surgiu como companhia marítima em 1972 e,

atualmente, tem um vasto portfólio de marcas de cruzeiros, composta por: Carnival

Cruise Lines, Holland America Line, Princess Cruises, Seabourn, AIDA Cruises, Costa

Cruises, Cunard, Ibero Cruzeiros, P&O Cruises (Austrália) e P&O Cruises (UK). A

corporação tem ampla atuação geográfica e opera em quase todos os segmentos da

40

indústria de cruzeiros. Em 2013, a corporação conta com 100 navios e 203 mil leitos,

com estimativa de ampliação da frota de nove navios até 2016. (CARNIVAL, 2013)

A Royal Caribbean Cruises Ltd. iniciou em 1969 e atua com as linhas Royal

Caribbean International, Celebrity Cruises, Pullmantur, Azamara Cruises, CDF

Croisieres de France e Tui Cruises. Em sua frota, há um total de 41 navios e dois em

construção, totalizando quase 99 mil leitos. (ROYAL CARIBBEAN, 2013)

Genting Hong Kong Limited ou Star Cruises foi constituída em setembro de

1993, com a iniciativa de crescer na região Ásia-Pacífico como um destino de

cruzeiros internacionais. Juntamente com a Norwegian Cruise Lines, a empresa tem

em sua frota 17 navios de cruzeiro, oferecendo cerca de 30 mil leitos. (STAR

CRUISES, 2013)

Absorver companhias consolidadas torna às grandes marcas o conceito de

diversificação. Controla-se empresas que já possuem a carteira de clientes e suas

especificidades e assim, as três grandes atuam em diversos segmentos de demanda.

As inúmeras segmentações permitem o crescimento da indústria cruzeirista.

Segundo estudo da Cruise Industry News Annual Report (2013), calcula-se que

em águas mundiais navegam 292 navios, com a capacidade de 20,4 milhões de

pessoas. A partir desses dados, a receita estimada é de 31,8 bilhões de dólares,

fundamentado na média de receita do ano de 2012, com base de tarifas de $1.560

dólares. A Administração Nacional de Portos (2012), referenciando o relatório acima,

expõe que em 2012 a frota mundial de cruzeiros contava com 284 navios, com

capacidade de 19,4 milhões de pessoas e receita geral calculada em 30,9 bilhões,

média de tarifa $1.600 dólares.

As companhias têm procurado atrair fiéis, bem como navegantes de primeira

viagem e assim, foram calculados que 20,3 milhões de cruzeiristas tenham viajado

em 2012, enquanto que em 2013, estima-se que a quantidade de cruzeiristas será de

aproximadamente, 20,97 milhões. Vale ressaltar que a maior parte dos cruzeiristas é

de origem norte-americana e europeia. (CLIA, 2013b)

Klein (2008) corrobora que a indústria de cruzeiros tem sido caracterizada por

períodos de crescimento e consolidação. Essa constante renovação dos navios é

marcada pela correspondência às expectativas não só da demanda, mas também das

companhias. A ideia é oferecer tantas coisas para fazer e lugares para explorar a

bordo, que amplie a sensação de estar em terra firme. Essas atividades podem ser

41

disponíveis sem custo, mas muitas possuem taxas que somam rapidamente à conta

do passageiro e totalizam maior receita às empresas.

A OMT (2008) aponta que a tendência estrutural dos navios de serem maiores

implica o crescimento de áreas internas e assim, reservadas para o pagamento extra.

São serviços restritos como leilões de arte, centro de realidade virtual, cabines de

telefones e computadores on-line, entre outras novidades que despertam o interesse

do cliente.

Ou seja, a avalanche de novos navios tem a finalidade de manter um

relacionamento mais tênue de um produto renovado com o consumidor e promover a

reestruturação para rendimento futuro. Segundo dados da CLIA (2013b) houve a

duplicação de novos navios no decorrer das últimas décadas, conforme a figura 9.

Figura 9: Aumento da oferta de novos navios Fonte: CLIA (2013b)

Os navios são projetados para oferecer cada vez mais conforto, bons serviços

e glamour e são desenhados e comercializados como destino. Além de um bom

cruzeiro, o ingrediente para uma viagem perfeita é a escolha da rota. Embora seja

importante frisar que a indústria de cruzeiros não vende destinos, e sim itinerários.

(RODRIGUE, NOTTEMBOOM, 2012)

O desenvolvimento de novos mercados geográficos propicia a oferta de novas

experiências de cruzeiro. Nos últimos anos, a exploração de diferentes pontos do

planeta tem sido um dos temas dominantes no setor. Segundo a OMT (2008), a busca

42

de novas regiões também tem como intenção a captação de consumidores potenciais

do local, reduzindo a alta dependência das demandas dos mercados já consolidados.

Segundo estudo da CLIA (2012), os destinos mais cobiçados, nesta ordem,

são: Alasca, Caribe, Mediterrâneo/Ilhas Gregas, Europa, Canal de Panamá

(Transcanal), América do Sul, entre outros. Embora, os destinos que mais

disponibilizam de leitos, respectivamente, são: Caribe, Mediterrâneo, Europa, Alasca,

entre outros.

Através da figura 10, a ANP (2013) ilustra os continentes do planeta e

demarcações de áreas cruzeiráveis, ou seja, itinerários que vem sendo explorados

pelas companhias marítimas.

Figura 10: Mapa – destinos de cruzeiros por região Fonte: ANP, 2013

3.3 MERCADO BRASILEIRO

O vigoroso crescimento do turismo de cruzeiros marítimos no mundo é marcado

por altos investimentos em serviços, marketing, melhorias de infraestrutura, entre

outros. No Brasil não foi diferente, a primeira década do século XX foi caracterizada

por momentos de expansão.

43

O país desponta de características que atraem companhias marítimas a

atuarem em águas nacionais, devido às inúmeras belezas naturais, extensa costa de

8.500 km ser banhada por correntes oceânicas favoráveis e boas condições de

navegabilidade. (MTUR, 2010b) Tais condições, a partir da liberação da cabotagem,

permitiram aos armadores que investissem e redesenhassem itinerários na busca de

explorar novos lugares, satisfazer as preferências dos cruzeiristas e cativar potenciais

consumidores.

Além dos motivos apresentados, Amaral (2009) acredita que as estratégias da

Royal Caribbean para penetrar no mercado brasileiro nas temporadas 2000/2001 e

2001/2002 também contribuíram para ascensão do segmento. Com base em

pesquisas e avaliações no mercado, a empresa detectou grande potencial e falta de

informação da população sobre viagens e cruzeiros e investiu na desmistificação.

Segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, ABREMAR (2010),

ao longo dos anos 2000, a quantidade de navios nos litorais brasileiros apresentou

uma média de crescimento anual de 38% conforme a figura 11.

Figura 11: Número de navios entre as temporadas 2000/2001 a 2012/2013 Fonte: Adaptado de ABREMAR (2010; 2013)

E confrontando as temporadas 2000/2001 a 2009/2010, a quantidade de

turistas de cruzeiros teve um crescimento exponencial de 2000%, como pode ser

constatado na figura 12 (ABREMAR, 2010). As apostas das grandes companhias

marítimas permitiram que os brasileiros também mostrassem que além de belezas

4

6

5

7

6

9

11

13

16

18

20

17

15

44

naturais que podiam ser desveladas pelos itinerários de cabotagem, o país também

pode exibir que há demanda para o consumo.

Figura 12: Número de cruzeiristas entre os anos 2000/2001 a 2012/2013 Fonte: Adaptado de ABREMAR (2010; 2013)

De acordo com a FGV (2011a), na temporada 2010/2011 circularam 792.752

pessoas, sendo aproximadamente 100 mil estrangeiros, viajando em 20 navios na

costa brasileira. A temporada 2011/2012 foi o ápice do turismo de cruzeiros no Brasil,

ainda não se relatou tamanha movimentação cruzeirista nos portos brasileiros.

Segundo a ABREMAR (2013), a temporada registrou 805.189 passageiros e 17

navios.

A associação divulgou que 15 navios percorreram a costa brasileira de

novembro a abril e transportaram 732.163 cruzeiristas na temporada de 2012/2013,

percebendo uma retração. O número significa uma diminuição da ordem de 9% sobre

o total da temporada anterior. E as estimativas para a temporada 2013/2014 não são

positivas, de novembro até abril de 2014 estarão presentes 11 navios no litoral do

país. A expectativa é que a movimentação nesta temporada seja de 648 mil

cruzeiristas.

Esta será a terceira temporada seguida com queda do índice de cruzeiros. Para

continuar em alta nos itinerários cruzeiristas é fundamental que seja oferecido

infraestrutura à altura. E nesse ponto, a costa brasileira perde pontos em relação a

outros países. Um caminho linear ou até evolutivo depende da oferta de instalações

27

.06

0

45

.10

0

46

.26

0

32

.38

2 11

7.6

76

17

5.9

90

27

6.3

74

29

0.8

68

52

1.9

83

72

0.6

21

79

2.7

52

80

5.1

89

73

2.1

63

45

preparadas para receber tanto embarcações de grande porte quanto turistas

acostumados ao bom atendimento.

Além da precária infraestrutura brasileira, Ricardo Amaral (ABREMAR, 2013)

atribui essa retração aos altos custos de operação e aos impostos praticados no Brasil,

o que afastam as companhias armadoras e reduz as possibilidades de competição

frente aos demais destinos. Ele coloca que:

“[...] os Cruzeiros Marítimos cresceram tanto no Brasil que acabaram esbarrando na

precária infraestrutura, numa das mais altas cargas tributárias do mundo e nos labirintos da burocracia. É necessário destravar os nós que emperram o

desenvolvimento do setor. (ABREMAR, 2013)

Embora haja políticas de fomento ao turismo, as taxas e processos são

complexos e repelem uma proximidade maior com as armadoras. Esse é o momento

de perceber que entraves estão impactando no progresso do segmento. FGV (2011a)

aponta que os fatores que podem limitar a expansão são: infraestrutura portuária,

taxas operacionais e quantidade de agentes envolvidos.

Existem protocolos que devem ser seguidos para recepção dos navios nos

portos brasileiros, o controle e regulamentação são realizados por órgãos e entidades

já instalados nos terminais. Porém, o excesso de agentes envolvidos tornam os

trâmites que permeiam o setor mais burocráticos, lentos e custosos.

A chegada do cruzeiro no porto, pode ser a primeira impressão na ótica dos

turistas. Depois de uma fantástica viagem a bordo, se deparar com demora na

descida, burocracias e má sinalização emerge num conjunto de fatores que aparenta

imagens negativas do lugar atracado. Além de compras que aquele turista pode fazer

na cidade, pesquisas afirmam que se a experiência em terra for agradável, quase 90%

dos cruzeiristas voltariam à cidade para passar outros tipos de férias. (FGV, 2011a)

Portanto, se as cidades, a começar dos terminais, disporem de boa estrutura e

atendimento, esses turistas potenciais podem retornar e trazer famílias, amigos e

indicados.

46

4 DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DO SEGMENTO

A democratização dos cruzeiros marítimos permitiu que pessoas de diferentes

classes tivessem a oportunidade de viajar a bordo. A popularização dos cruzeiros é

inegável e a aliança entre poderes públicos e privados pode elevar os benefícios

econômicos e sociais que o desenvolvimento do setor de cruzeiros poderá propiciar

ao país.

4.1 FATORES QUE EXPLICAM A POPULARIZAÇÃO DOS CRUZEIROS

Boates, cassinos, bares, grandes piscinas e restaurantes, aspectos tão

luxuosos como de qualquer hotel cinco estrelas também são disponibilizados por

cruzeiros. E deste modo, todos esses serviços vinculam a imagem cruzeirista ao

glamour, altos preços e talvez, uma realidade distante do cotidiano de qualquer

viajante.

Desde que a lei da cabotagem foi regulada, em 1995, a movimentação

cruzeirista têm se intensificado nos terminais, por conta de iniciativas públicas e

privadas. Assim, a representação têm se transformado e os cruzeiros encaram

realidade mais popular, surgindo então, uma nova forma de explorar o turismo no país.

O crescimento da atividade cruzeirista no Brasil tem sido gradativo e, ainda que

sazonal, sua popularização é evidente porque é resultado das campanhas e

estratégias das companhias marítimas para desenvolver o potencial do mercado

brasileiro.

4.1.1 Segmentação

Atualmente, a maioria dos cruzeiros tem interesse em adequar suas viagens

aos diferentes tipos de clientes. A segmentação e tematização dos navios

proporcionou aos viajantes oportunidades de identificação com produto e curiosidade

em viajar a bordo.

As segmentações de demanda, planejadas pelas companhias marítimas,

estreitam a relação entre produto e consumidor. Essa divisão pode ser feita através

da escolha do navio ou até da identificação e direcionamento à determinadas

atividades a bordo. Dentre algumas segmentações contempladas por Palhares (2002)

47

destacam-se os destinos geográficos, faixa etária, estado civil, cruzeiros temáticos,

tipos de navios, duração do percurso e socioeconômico.

Amaral (2006) também consolida a respeito da oportunidade de explorar os

diferentes nichos de mercado. Os cruzeiros têm alguns segredos que permitem altos

índices de satisfação. Conseguem acertar, mesmo tendo um público diversificado,

pela ampla oferta de serviços e atividades que despertam o interesse da repetição da

viagem.

Uma das explicações para a evolução cruzeirista se deve à reestruturação da

oferta marítima, cuja variedade de cruzeiros marítimos é vasta e as linhas traçam

estratégias para atender as mais específicas preferências e condições. Segundo a

OMT (2008), as companhias adotaram a categorização das embarcações, no ponto

de vista econômico, para melhor direcionar as táticas de negócios, como: Budget,

Contemporary, Premium e Luxury. As companhias concentram uma, no máximo, duas

dessas classificações em um mesmo navio, em exceção aos navios Cunard que

contemplam até três segmentos.

A classe mais econômica é a Budget que atinge a parcela populacional de

menor poder aquisitivo e mais jovem. Embora reformados, os navios são mais antigos,

com poucos equipamentos e mínimo de serviço prestado. O itinerário varia entre três

a sete noites. A classe Contemporary é a dominante do mercado. As três grandes

companhias se estabelecem nesta classe que enfatizam na diversificação de

atividades a bordo, com bons níveis de serviços e conforto. Os portes dos navios

variam de médios a grandes, dispondo de decoração vibrante estilo Las Vegas e

tempo médio similar ao Budget, 3-4 a 7 noites. (OMT, 2008; DUMÉNIGO, 2008)

De acordo com as fontes supracitadas, a categoria Premium é mais sofisticada

que a Contemporary. As companhias utilizam essa classificação em navios novos com

decoração cujas tonalidades são mais suaveis, com gostos e serviços mais

requintados. A idade média de público é de 40 anos e as viagens são superiores a

sete dias. Por último, a Luxury, que é a categoria mais elevada do segmento, as

companhias enfatizam a excelência nos serviços a bordo e em terra. Os navios são

novos e menores, com número reduzido de hóspedes e priorizam a exclusividade.

Difundido a partir dos anos 1980, a tematização dos cruzeiros é um elemento

de sucesso, cuja companhia promove uma eleição de temas e escolhe um, na qual o

navio e os programas são totalmente caracterizados, acompanhado por profissionais

das respectivas áreas para propiciar aos cruzeiristas experiências peculiares. Assim,

48

o cruzeirista se identifica com o tema e viaja a bordo de atividades e assuntos que são

de preferência. Entre os temas usualmente adotados são: cultural, fitness, musical,

religioso, GLS, ícones de entretenimento, entre outros. (AMORIM et. al, 2012)

4.1.2 Marketing e Preço

O país detém uma expressiva potencialidade de consumo de cruzeiros e

através das estratégias de marketing, as companhias buscam desmistificar o ideal de

navios “inalcançáveis” e divulgar um produto que promove o relaxamento,

entretenimento, familiaridade e boa comida e, assim, captar novos consumidores a

experimentarem viajar a bordo e manter os habitués.

Através de novidades adotadas para desenvolver destinos, projetos de navios,

diversas comodidades a bordo, instalações e serviços, etc. é possível deslumbrar os

consumidores reais e potenciais. E para captar essas pessoas, as companhias

treinam e incentivam os agentes de viagens para exporem as vantagens de viajar a

bordo, divulgam em diversos meios de comunicação, estimulam à fidelidade dos

clientes através de pontuação e descontos entre outros.

Além dessa afinidade causada pelo setor de marketing, o sistema all inclusive5

e o barateamento das tarifas são atrativos aos viajantes. De acordo com Marsh e

Staple citado por Palhares (2002, p. 239), o progresso do turismo de cruzeiros no

Brasil se deve, além de outros aspectos, principalmente à redução das tarifas de

embarque:

[...] o crescimento da indústria dos cruzeiros marítimos deve-se não apenas à segmentação do setor, à diversificação produto e à oferta de novos destinos, mas também ao fato de os preços das viagens terem diminuído consideravelmente.

A proposta do segmento é bastante atrativa aos que buscam experiências cujo

custo-benefício seja efetivo. Desfrutar de um centro de entretenimento que oferece

qualidade nos serviços, muitas vezes all inclusive, seguro, confortável, móvel e

promove a sociabilidade, certamente atrai desde aos amantes dos cruzeiros aos mais

criteriosos.

5 All inclusive: sistema na qual os serviços de acomodação, refeições e entretenimento estão inclusos na tarifa.

49

E os motivos para a redução expressiva dos preços são: estrutura de navios

maiores com atividades pagas à parte, alta concorrência entre companhias, serviços

menos requintados e cabines que variam de tamanho e localização com diferentes

preços; vale ressaltar que as áreas comuns dos navios são disponíveis a todos a

bordo sem dissociação de classe social.

4.1.3 Força da Classe C

O Brasil mudou muito nos últimos anos e vive uma transformação

socioeconômica. O mercado tem constatado uma mudança do perfil do consumidor

que não se caracteriza apenas pelas classes abastadas, mas também as demais com

poder de escolha e de consumo. Segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos, SAE

(2013), a classe intermediária C é a nova classe social e cresce cerca de 4% ao ano.

Identifica-se em classe C parte da população que tem renda mensal domiciliar

entre R$ 1.064,00 e R$ 4.561,00. Estima-se que, em 2012, 103 milhões de pessoas

faziam parte da nova classe média, ou seja, 52% da população. Esta classe bem

otimista6 gasta na intensidade que há alguns anos não podiam. (SAE, 2013; ISTOÉ,

2012)

Atualmente ricos e pobres tem serviços e aquisições que antes eram restritos,

conta em banco, carros novos, viagens para dentro e fora do país, entre outros. A SAE

(2013) expõe que a classe C “[...] é formada por pessoas mais jovens, com um nível

de escolaridade maior (e dispostas a aumentá-lo), mais exigente na hora de consumir

e decidir onde investir o seu dinheiro e inserida no mercado de trabalho formal.”

A IstoÉ (2012) relata o aumento na renda da população que além de consumir

mais, gasta com qualidade. Expõe que o Brasil é campeão de vendas em diversos

setores e:

Em nenhum lugar do planeta o comércio de celulares e tevês de telas finas, para usar exemplos de produtos que demandam tecnologia de ponta, cresce tão velozmente. O País já é o quarto maior mercado global de carros, o terceiro de cosméticos e de cerveja e lidera com folga negócios tão diversos quanto produção de gravatas (o que é resultado direto do aumento da oferta de cargos executivos) [...] (Istoé Online)

6 Esse otimismo se traduz em disposição para consumir.

50

Os elementos que contribuíram ao crescimento do consumo e acentuação da

classe C são: estabilização da economia brasileira, aumento de ofertas de empregos,

reajustes nos salários e expansão do crédito. Este último é responsável por 50% do

PIB brasileiro e para as grandes empresas é um elemento que desafia as estratégias

de marketing. Vale ressaltar que a formalização do trabalho propicia ao consumidor

ficar mais confiante para obter acesso ao crédito e assim, a economia toda é

favorecida. (SAE, 2013; ISTOE, 2012)

Soares et. al (2012) também acresce que a alavancagem da Classe C foi

favorecida por algumas estratégias do Estado, tais como: políticas sociais pró-

consumo, o aumento do nível de escolaridade e o novo papel da mulher, com uma

maior participação no mercado, aumentando a renda familiar.

Entre os motivos dos gastos da população, o quesito viagem aparece em 4º

lugar. O financiamento dos transportes e pacotes turísticos permite o acesso da classe

C a conhecer novos lugares e culturas. A parcela da população que não podia

despender dinheiro, hoje emerge diante ao mercado brasileiro e apresenta seu

potencial de consumo. (ISTOE, 2012)

As armadoras, visionando os novos perfis econômicos, desenvolveram a

segmentação econômica dos navios e, concomitantemente, oferecem facilidades no

pagamento. A opção de parcelamento das viagens de cruzeiros marítimos gerou uma

aproximação do produto, cujo anúncio mostra a opção de viajar parcelando em até 10

vezes a tarifa, sem juros. A figura 13 exibe a campanha The Best, pela companhia

Íbero Cruzeiros.

51

Figura 13: Facilidade de pagamento dos cruzeiros Fonte: Ibero Cruzeiros, 2013

4.2 EFEITOS MULTIPLICADORES NO SETOR DE CRUZEIROS

De todas as indústrias, o turismo é a maior do mundo. Wainberg (2003)

identifica assim a atividade, pela comunicação entre partes e a essência por ela

inspirada. A comunicação entre setores e comunidade aponta que o turismo atinge as

esferas social, ambiental e econômica.

No ponto de vista econômico, que será abordado neste subcapítulo, Dias

(2005, p. 88) constata que “o turismo cumpre um papel dinamizador na economia,

provocando o crescimento de diversos setores que não estão ligados à atividade

turística.” Deste modo, os gastos dos turistas que são injetados na localidade

acarretam uma série de impactos positivos e negativos, primários e secundários,

multiplicando-se como forte gerador de renda, empregos, produto, importações e

impostos. (IGNARRA, 2003)

Inserido na indústria turística, o segmento de cruzeiros marítimos traz consigo

uma movimentação econômica muito eloquente, proveniente do consumo dos

cruzeiristas, tripulantes e armadores. E os tipos de gastos não são poucos, segundo

FGV (2011a, p. 10):

52

[...] os armadores incluem tarifas portuárias, impostos, compras de suprimentos, combustível, água, entre outros. Já os gastos dos cruzeiristas e tripulantes, nos portos de embarque/desembarque e trânsito, englobam compra de passeios turísticos, alimentos e bebidas, transporte, souvenir e presentes em geral.

De acordo com o relatório da FGV (2011a), a movimentação econômica dos

cruzeiros marítimos representou à temporada 2010/2011 um montante de R$ 1,4

bilhão. Constata-se um gasto maior dos armadores quando comparados aos

passageiros e tripulantes e respectivamente calculou-se um total de R$ 893,5 milhões

e R$ 522,5 milhões. Foi constatado que cruzeiristas estrangeiros, em média, gastaram

184% superior aos nacionais.

Klein (2009) entende que a proposta das companhias é de retenção dos seus

hóspedes. As portas de um grande navio podem até significar receita positiva ao lugar

atracado, mas pela quantidade de entretenimento que o navio propõe, pode ser que

a ancoragem seja apenas para esticar as pernas ou então ter a sensação de terra

firme. A ideia é garantir o elo entre companhia e consumidor através da venda própria

de city tours, manutenção de bares e cassinos abertos (para que parte dos hóspedes

fique no navio), free shop com variedade de produtos e preço baixo, entre outros.

Ao ancorar numa localidade, por menos tempo que seja, as companhias

desembolsam grande volume de capital para custos de manutenção, insumos e taxas

alfandegárias. A distribuição dos gastos, por tipo, é apresentada em milhões,

conforme o figura 14.

Figura 14: Impacto econômico dos armadores. Fonte: FGV (2011a)

Os departamentos que mais sentiram impactos positivos, com a chegada de

viajantes, foram o comércio varejista e alimentos e bebidas. A figura 15 aponta, em

milhões, a distribuição monetária aos setores:

53

Figura 15: Impacto econômico dos tripulantes e passageiros. Fonte: FGV (2011a)

A dependência do turismo não cabe só entre setores, não se pode deixar de

mencionar a necessidade do trabalho humano. Deste modo, a atividade é uma

importante fonte de geração de empregos. E as diferentes formas de atuação se

classificam em empregos: diretos (trabalho que atende turistas), indiretos (funções

que suprem necessidades dos viajantes, em setores não-turísticos), induzidos (com

aumento da renda turística na localidade, alavanca o consumo de bens e consumos

dos residentes) e temporários (por tempo limitado, atuam em construções, períodos

de alta temporada, entre outros). (DIAS, 2005)

Diante da necessidade do turismo em recrutar mão-de-obra, a FGV (2011a, p.

17) mensurou que o turismo de cruzeiros abriu “[...] aproximadamente 20.638 postos

de trabalho na economia brasileira, sendo 5.603 tripulantes dos navios e 15.035

gerados, de forma direta e indireta [...]”, na temporada 2010/2011.

Outro ponto a explicitar é a obrigatoriedade das companhias recrutarem

brasileiros para trabalharem a bordo. Segundo Brasil (2006) A Resolução Normativa

nº 71/2006, do Conselho Nacional de Imigração, passou a exigir que 25% da

tripulação dos cruzeiros marítimos fosse constituída por brasileiros na caso

permaneça por mais de 31 dias em águas jurisdicionais brasileiras, o que abre um

campo vasto de mercado de trabalho, em diversas áreas.

A temporada de cruzeiros no Brasil é sazonal e requer a contratação de mão-

de-obra geralmente temporária. (AMORIM et. al, 2012) Também são de realidade

brasileira os postos de trabalhos informais que fogem das estatísticas mas são de

enorme expressão nos arredores, não só em terminais portuários, mas também em

pontos turísticos.

54

4.3 PERFIS E HÁBITOS DA DEMANDA EFETIVA E POTENCIAL DO TURISMO

É fundamental compreender os anseios, desejos e comportamento do cliente

para traçar estratégias que se encaixem às suas expectativas. No Brasil, há poucas

pesquisas realizadas para compreender qual é o perfil do turista real e potencial. Deste

modo, neste subcapítulo, para compreender os diferentes perfis, serão considerados

duas pesquisas.

A pesquisa Vox Populi, divulgada pelo MTur (2009), analisou turistas brasileiros

maiores de 18 anos, das classes A, B, C e D e clientes atuais e potenciais, através de

survey telefônico. Distinguem-se como atuais: os consumidores que compraram

serviços de turismo em pacotes ou separadamente nos últimos dois anos; enquanto

os potenciais: podem vir a comprar serviços e produtos turísticos em pacotes ou

separadamente nos próximos dois anos.

Tabela 4 - Segmentação do mercado

Fonte: MTUR, 2009

55

De forma bem contemplativa, a tabela 4 identifica o perfil do consumidor

brasileiro de viagens. Existem alguns quesitos que sobressaem tanto para o real

quanto o potencial, como o sexo feminino que destaca-se entre os consumidores e a

faixa de idade de 25-34 anos também. Há uma tendência que os consumidores com

ensinos fundamental e médio viajem mais.

A pesquisa também identifica que entre os consumidores pesquisados quase

70% são economicamente ativos (PEA), ou seja, essa fatia populacional consultada

faz parte do mercado de trabalho. A classe que mais consome é a B, contudo é

importante perceber o aparecimento das classes C e D no poder de consumo. Bem

como os que recebem de 1 a 5 salários mínimos (SM) que também elevam seu poder

de consumo, real ou efetivo, para viajarem.

A pesquisa da FGV (2011a) mobilizou pesquisadores a abordarem turistas a

fim de identificar quais são os perfis, hábitos e preferências de quem viaja de navios.

A pesquisa foi realizada na temporada 2010/2011 e é a mais atual aplicada no

mercado brasileiro. Esta, mapeia informações que propiciam às iniciativas públicas e

privadas a alinharem estratégias voltadas ao perfil mais próximo do consumidor final.

Entre os entrevistados, foi percebido que 55,8% dos cruzeiristas eram do sexo

feminino. Desmistificando o mito de que cruzeiros destinam-se às pessoas mais

velhas, a pesquisa prova que a maioria dos cruzeiristas está na faixa de 25 a 34 anos

e compõe a fatia de 24,3%. E majoritariamente, os entrevistados casados eram

maioria, 54,4%.

No que diz respeito à renda mensal familiar, nota-se que todas as classes são

bem ativas em viagens de cruzeiros, porém chama a atenção que 33,7% dos

entrevistados recebem entre R$ 2.501 a R$ 5.000; 29%, R$ 5.001 a R$ 10.000; até

R$ 2.500, 22,6%; e 14% acima de R$10.000. Enquanto, 71,3% eram tinham ensino

superior completo, 25,3% tinham ensino médio e 3,4% ensino fundamental. Em

relação a empregabilidade, a grande maioria atua em empresas privada/pública,

contabilizado assim 45,2%.

Quanto à origem dos cruzeiristas, a pesquisa detectou que é São Paulo o

principal estado de origem dos viajantes, 61,1%, logo após estado do Rio de Janeiro

com 12%, e do estado do Paraná 5,9%.

Foi analisado que dentre os aspectos que motivam a conhecer o cruzeiro estão

a indicação de amigos e parentes, e o preço. Segundo a investigação, 62,7% dos

entrevistados experimentavam viajar de navio pela primeira vez. 88,9% desceram em

56

terra nas paradas, pelo menos uma vez. O prazer e satisfação de viajar foram

atingidos, pois a grande maioria dos entrevistados, 86,8%, declarou que voltaria a

viajar a bordo.

É fundamental salientar que a constante renovação desses dados implica em

um diagnóstico detalhado, não só para empresas turísticas, mas também na

constituição das áreas receptoras e seu entorno. As estratégias voltadas às parcelas

evidenciadas nas pesquisas aumentam as chances dos negócios darem certo, dos

pequenos empresários às grandes companhias.

4.4 AGENTES CONDICIONANTES DE DESEMPENHO

Conforme mencionado, o turismo age de forma dependente e dinâmica junto

aos demais setores, de acordo com IBGE (1998 apud DIAS, 2005), a atividade

impacta cerca de 52 segmentos diferentes da economia e não se limita a desenvolver

novas atividades e expandir as já existentes.

Essa relação intersetorial aponta a necessidade de uma cadeia coesa e de

qualidade para fortalecer o turismo, e em consequência, satisfazer os anseios do

lugar, dos turistas e das empresas. Essa teia causa o chamado “efeito dominó” pois

pode ser afetado por fatores positivos ou negativos e reflete em toda a cadeia

produtiva onde as empresas encontram-se agregadas.

Com o contexto atual de economia mundial globalizada, a identificação dos

agentes condicionantes de desempenho aos cruzeiros marítimos permite elaborar

perspectivas, que através de variáveis, serão capazes de mensurar, avaliar e formular

estratégias de competitividade que se adequem corretamente. (CASTRO; LIMA;

CRISTO, 2002; FGV, 2011b)

4.4.1 Elementos externos

Entre as condições externas estão inseridos aspectos cuja dinâmica

internacional influencia o crescimento e o desenvolvimento turístico. O desempenho

dos elementos a seguir estão fora do controle do segmento e, assim, foram definidos

como:

57

Economia Mundial: A ascensão e desenvolvimento do turismo

relaciona-se à dinâmica do mundo globalizado, que é intensamente

influenciado por diversas variáveis. A acompanhamento de fatores

socioeconômicos reforça a compreensão sobre seu principal

mercado emissor e concorrentes favorecem o melhor alinhamento

de estratégias.

Economia Nacional: Diante da crise econômica internacional, o

Brasil tem mostrando forte recuperação.’ O fomento ao consumo tem

impactado positivamente o mercado, a fim de dinamizar a economia

e toda a cadeia evolutiva. Logo, esse alto poder de consumo

propulsiona a estabilização da economia nacional e mantém o nível

de renda e empregos. A importância da estabilização do câmbio

reflete no fluxo de turistas domésticos e estrangeiros.

Turismo: O período de estabilidade e crescimento da economia

mundial aliado ao desenvolvimento dos meios de comunicação,

aumentaram substancialmente o fluxo turístico internacional. O

parcela do mercado sul-americano é de 2,5%, e o Brasil conta com

apenas 0,55%. O crescimento do turismo mundial vem distribuindo

melhor os visitantes pelos continentes, deste modo, o Brasil tem

apresentado proventos no que se refere à vinda de estrangeiros e

consequente entrada de divisas.

Governança e Investimentos Públicos em Infraestrutura Portuária:

Vale ressaltar a importância da regulamentação e formulação de

políticas para o crescimento, desenvolvimento e consolidação dos

cruzeiros marítimos. Deste modo, a articulação do MTur com os

demais órgãos impacta diretamente o setor.

Acesso e Logística Nacional: Para um elevado fluxo de viajantes

pelo país, alguns elementos devem ser bem projetados, tais como:

crescimento do número de voos internacionais para o país, melhor

integração entre os meios de transportes, regulamentação dos voos

domésticos, entre outros.

58

4.4.2 Desafios e oportunidades

Diante da imensidão de um país cercado de belezas naturais, o brasileiro

descobre um segmento que contemple vários destinos em um, com variedade de

serviços e, cada vez mais, acessível. Os cruzeiros marítimos compõem uma atividade

relativamente nova no Brasil e configura um quadro de desafios que deve ser

reestruturado para estabilização no mercado.

Os destinos não são iguais e suas identidades podem ser atrativas, quando as

companhias buscam elementos característicos para agradar seu mercado

consumidor. No Brasil, segundo FGV (2011a), constam em catálogos de cruzeiros

marítimos aproximadamente 20 destinos, que são divulgados por diferentes agentes

de turismo no Brasil e no exterior, em diversos meios de distribuição.

A construção, desenvolvimento e o zelo da imagem são essenciais pois elevam

as probabilidades de um bom posicionamento no mercado e, assim, pode ser

vinculada às rotas turísticas. As companhias montam itinerários para compor um

produto que satisfaçam os gostos dos consumidores e preencham suas viabilidades

econômicas e operacionais. Deste modo, é importante que a interação entre as partes

mencionadas estejam coesas para se beneficiarem do turismo.

As áreas portuárias brasileiras encaram realidades similares. Atualmente, os

portos brasileiros ainda assumem características de terminais cargueiros ou então

adaptam-se as marinas ou cais para receber os navios. Deste modo, Os “pseudo-

terminais”, como o Silva (2006) denomina, apresentam pontos que carecem de

atenção e que exibem a imaturidade do Brasil a trabalhar com o Turismo de Cruzeiros.

A figura 16 apresenta algumas das dificuldades portuárias.

Embora saibamos da necessidade de interação entre porto e cidade, o Brasil

encara obstáculos para melhoria dos portos e seus entornos. Algumas

reestruturações são primordiais para a boa circulação de pessoas e embarcações,

tais como: “[...] aumentar a profundidade do canal de navegação, alargar avenidas,

eliminar gargalos rodoferroviários, construir instalações modernas, equipar o local

com instrumentos inteligentes e implantar uma logística eficaz [...]”. (GEIGER, 2013)

59

Figura 16: Reflexo da infraestrutura precária Fonte: ABREMAR, 2010

Os problemas portuários podem ser percebidos desde a entrada até o momento

do embarque. Para uma zona de conforto aos visitantes, faltam boas áreas e

facilidades para embarque e desembarque, acesso adequado para ônibus, área para

bagagens, mão de obra bem treinada, entre outros. A FGV (2011a, p. 23) corrobora

as dificuldades, de acordo com as insatisfações dos viajantes:

[...] falta de sinalização; divisão entre terminal de passageiros e de carga; logística; estrutura receptiva; área destinada à bagagem; falta de informação sobre atracação do navio; painel de informações; estrutura de alimentos e bebida, comércio em geral; entre outros.

No caso do Rio de Janeiro, o projeto Porto Maravilha já é uma operação de

requalificação urbana. Dado que a área vivencia uma intensa movimentação de

viajantes na região portuária e, nos próximos anos, será sede de grandes eventos

mundiais. O projeto prevê recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do

meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural.

Ilya Michael Hursch em entrevista à Arantes (2009) expõe que fora dos eixos

portuários Rio de Janeiro e São Paulo, ainda há uma precária infraestrutura na maioria

dos portos considerados como destinos de interesse de brasileiros e estrangeiros.

Os cruzeiros marítimos recrutam profissionais capacitados para atuar com

salário-base acima da média. São numerosas oportunidades que podem ser

temporárias ou fixas para:

[...] empregos em escritórios regionais das operadoras de vendas, marketing e atendimento a clientes dos cruzeiros marítimos, são gerados postos de trabalho durante a temporada. Em especial nos terminais portuários e na cidade como um todo (comércio, bares e restaurantes, receptivo, transporte

60

e atrativos turísticos), movimentando toda a cadeia de serviços locais. (FGV, 2011a, p. 22)

Esse poder de empregabilidade requer uma atenção dos poderes públicos que

devem providenciar treinamentos para capacitação de pessoas, a fim de maximizar

as oportunidades à comunidade local e também dispor de mão-de-obra qualificada ao

turismo. Arantes (2009, p. 113) mostra que Milton Sérgio Sanches (Diretor Geral da

CVC Cruzeiros) acredita sobre a questão:

Quanto à mão-de-obra falta apoio para cursos de treinamento e preparação de mão de obra para os navios de passageiros. As agências colocadoras de mão-de-obra têm buscado selecionar os melhores candidatos e o treinamento acaba sendo feito a bordo, com impactos negativos para os passageiros dos cruzeiros.

A competição entre destinos pode ser um fator de melhoria nos desafios ou

limitador de crescimento e, o Brasil que oferece boas condições para viagens de longo

curso como em cabotagem, encara problemas cujos setores responsáveis relutam

para melhorar que perpassa a possibilidade de evoluirmos ainda mais.

São numerosas fases e processos que envolvem a ação de receptividade dos

navios. A FGV (2011a, p. 23) lista as etapas e suas funcionalidades, que as

companhias devem seguir, através da figura 17.

Figura 17: Agentes envolvidos na operação Fonte: FGV, 2011a

61

As companhias marítimas encaram elevadas taxas de impostos e operacionais

praticadas pelos portos, tais como: taxas de pernoite, praticagem7 e as taxas de

embarque e desembarque por passageiro. Em detalhe, quanto à praticagem, entre os

portos mais caros são os de Salvador, Santos, Ilhabela e Rio de Janeiro. Os custos

com manobras chegam a custar, respectivamente, 2789%, 1080%, 892% e 521% a

mais que o porto de Barcelona, na Espanha. (ABREMAR, 2013; FGV, 2011a)

Trata-se de um segmento turístico que traz uma alternativa de lazer a ser

desvelado pela população. Nos destinos, o elevado fluxo de navios e pessoas

estimula o maior abastecimento de bens e serviços, beneficiando às grandes

empresas, bem como comerciantes regionais. E como consequência, o favorecimento

da economia local, criando empregos e renda adicional. (DWYER; FORSYTH, 1998)

De acordo com Gutiérrez, Serrano e Vegas (2010), assim como empresas

privadas, os lugares devem adquirir vantagens competitivas, através de forte

diferenciação em relação a outros lugares. A imagem é a reflexão de todas as

características positivas e negativas existente num lugar.

O segmento tem alta relevância econômica e está em expansão. Mas apesar

das belezas singulares brasileiras, suas fraquezas e concorrência dos destinos sul-

americanos que também desejam consolidar sua imagem, podem afetar a atuação

diante ao segmento marítimo.

4.4.3 Perspectivas

As perspectivas podem ser notadas a partir de sequência de eventos com força

e durabilidade. Os órgãos ou empresas competentes devem analisar e trabalhar a

partir das potencialidades para perceber os impactos futuros, amenizar os negativos

e cativar os positivos, aproveitando as oportunidades. (SEBRAE, 2012)

A renovação das frotas é uma tendência da reestruturação naval. As

companhias cada vez mais investem no setor, visto que há uma forte relação entre

oferta e demanda. A OMT (2008) coloca que o segmento de cruzeiros marítimos tem

uma força motriz que move as empresas exigindo uma constante inovação, o que gera

mais demanda. O mercado é dinâmico, está em constantes mudanças e ter vantagens

7 Segundo a ABREMAR, praticagem é a operação de manobra de entrada e saída dos navios em portos.

62

competitivas para se destacar diante da concorrência, eleva o poder de

deslumbramento do consumidor.

Os novos navios buscam tecnologias mais apuradas, maior número de

instalações que se integre a todos os gostos, assegure o maior consumo e acomodem

o maior número de pessoas. Seu gigantismo também reflete numa operação que atua

como verdadeira economia de escala, que permite a produzir mais com menor custo.

(MARTINEZ, 2011).

Mesmo com tecnologia avançada, vender o navio como destino turístico não é

uma tarefa fácil, as companhias têm procurado configurar as embarcações o mais

próximo da realidade. Gazzera (2006) expõe que as companhias têm identificado

quais são os destinos em terra competitivos e ambientalizam a estrutura como ilhas,

parques temáticos ou até lugares como Hollywood, Orlando, entre outros.

Embora sofisticados, os navios têm cativado diferentes classes sociais para o

consumo, o que antes somente as classes abastadas tinham acesso, a emergente

classe C mostra seu poder de compra. Pessoas dessa classe são mais criteriosas e

exigentes na hora de gastar, são formadores de opinião na família e na comunidade,

pesquisam antes de consumir e estão conectados em redes sociais, aplicativos e

outras ferramentas digitais para pesquisar, organizar, comentar e compartilhar as

experiências vividas em viagens. (SEBRAE, 2012)

Com agendas lotadas, os consumidores têm optado em percorrer trajetos

curtos e mais vezes. Assim, os minicruzeiros, que dispõem viagens de 3-4 dias, têm

sido os grandes requisitados, pois propiciam aos hóspedes com baixa disponibilidade

de tempo viajar. E com o navio operando em tempo reduzido, o custo das tarifas

também é mais baixo, elevando a possibilidade de mais pessoas com baixo poder

aquisitivo viajarem e ampliando a base de demanda potencial. (OMT, 2008)

Segundo a MTur (2010a), mais alguns fatores podem influenciar no poder de

escolha do consumo turístico, a tendência é o envelhecimento populacional. Com o

aumento da expectativa de vida, as pessoas mais velhas tendem a viajar mais e

aproveitar o tempo ocioso. Vale ressaltar também que as pessoas estão tendo menos

filhos, o maior grau de instrução da população, o retardamento da aposentadoria no

Brasil. A OMT (2008) também expõe que a constituição das famílias tem mudado. A

base familiar pai, mãe e filhos não é mais a mesma e é uma relação que deve ser

estudada na aplicabilidade dos serviços turísticos.

63

Os cruzeiros marítimos passam por uma democratização turística. O aumento

da demanda e, por conseguinte seu poder de consumo, permitiu às armadoras

perceberem que caso se adequassem por segmentações, teriam uma realidade

promissora. Os perfis e hábitos de consumo mudam e o atual consumidor está mais

exigente, bem informado, sabe o que busca, mais experiente e busca experiências e

vivências. Comparam serviços e detectam o que vale mais como custo-benefício, pois

desejam maximizar o máximo seu dinheiro investido. (SEBRAE, 2012)

A boa estruturação promove aos passageiros e embarcações boas

experiências sem complicações, uma variedade de oportunidades e isso aumenta a

reputação de um destino. Este item não tem deve ter muitas mudanças quando

comparado a atual conjuntura. Os representantes dos serviços portuários determinam

preços altos, pois detém espaços únicos e desejados. Mesmo sendo acima da média

internacional, para as próximas temporadas, a tendência é que os custos das taxas

portuárias. (FGV, 2011b)

64

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar a evolução e a dinâmica do setor de

cruzeiros no Brasil. Para contextualizar o tema foram apresentados os conceitos de

turismo, transportes e do segmento de cruzeiros marítimos, apontando suas relações

e dimensões. Também foi realizada uma descrição da evolução do turismo de

cruzeiros e suas oportunidades e desafios no Brasil.

Foi constatado que as companhias de cruzeiros vivem um momento de

expansão dos negócios, inovando seu produto, abrangendo os mais diversos

segmentos e facilitando as formas de pagamento e, o Brasil detém demanda

deslumbrada por navios e otimistas para viajar.

No entanto, além dos fatores relacionados à baixa sustentabilidade da

demanda, a adequação da estrutura portuária, simplificação dos processos e

reavaliação dos impostos são fatores facilitadores de expansão do setor no país. A

intensa movimentação portuária, traz consigo pessoas dispostas a conhecerem novos

lugares para retornarem no futuro.

Deste modo, tendo em vista as potencialidades, benefícios e obstáculos para o

desenvolvimento do setor, percebeu-se que ainda é preciso definir uma linha de

planejamento no intuito de atender as necessidades básicas para a recepção dos

cruzeiristas e estimular a competitividade.

65

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