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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
Joelma Aparecida dos Santos Xavier
A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS E ÉTICOS COMO TÓPOS PRIVILEGIADO DO DIÁLOGO
Belo Horizonte 2013
Joelma Aparecida dos Santos Xavier
A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS E ÉTICOS COMO TÓPOS PRIVILEGIADO DO DIÁLOGO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Márcio Antônio de Paiva
Belo Horizonte 2013
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Xavier, Joelma Aparecida dos Santos
X3d A disciplina de Cultura Religiosa na PUC Minas: aspectos fenomenológicos
e éticos como tópos privilegiado do diálogo / Joelma Aparecida dos Santos
Xavier. Belo Horizonte, 2013.
96f.
Orientador: Márcio Antônio de Paiva
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião.
1. Ensino religioso – Minas Gerais. 2. Ensino superior – Aspectos religiosos.
3. Fenomenologia. 4. Ética. I. Paiva, Márcio Antônio de. II. Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Religião. III. Título.
CDU: 291
Joelma Aparecida dos Santos Xavier
A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS E ÉTICOS COMO TÓPOS PRIVILEGIADO DO DIÁLOGO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
___________________________________________________ Prof. Dr. Márcio Antônio de Paiva (Orientador) – PUC Minas
___________________________________________________ Prof. Dr. Sergio Rogério Azevedo Junqueira – PUC PR
___________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Frederico Barboza de Souza– PUC Minas
Belo Horizonte, 22 de março de 2013
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre em meu caminho iluminando meus passos, dando
força para enfrentar os desafios da vida.
À minha família, pelas orações e pela torcida para que eu nunca desista dos
meus sonhos.
Ao meu esposo Anderson por me incentivar na continuação dos estudos e por
encurtar a distância entre Ouro Preto e Belo Horizonte quando me levava de carro
para a PUC. Neste momento de agradecimento, peço a ele desculpas pelos
momentos que fiquei ausente, em passeios com amigos, momentos familiares,
dentre outros momentos importantes.
Ao meu orientador padre Márcio, pelo carinho da leitura atenta desta
dissertação, pelo contato enriquecedor nos encontros e pelas palavras de conforto
quando precisava.
A todos os professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Religião, sobretudo a Dênia, pelo carinho e dedicação aos pós-
graduandos.
Aos professores Flávio Senra, Roberlei Panasiewicz, Antônio Cantarela e Nilza
Bernardes, que desde a graduação trocaram ideias, tiveram cuidado comigo não
apenas em sala de aula, mas nas conversas nos corredores, na troca de e-mail,
entusiasmando-me para o mestrado.
Aos meus amigos, especialmente os moradores de Belo Horizonte, que me
acolheram nas diversas vezes que precisei dormir em BH.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização
desta pesquisa.
Esta pesquisa teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – CAPES
RESUMO
Diante das várias tendências relevantes que pretendem esclarecer se é possível
uma relação entre Teologia e Ciências da Religião, intensificadas pelo desejo
pessoal de compreender o papel das disciplinas de Cultura Religiosa I e II na
formação pessoal, profissional e religiosa dos universitários da PUC Minas, esta
dissertação tem por objetivo pesquisar, na história da PUC Minas, a relevância e o
papel dessa disciplina, rediscutindo conceitos fenomenológicos e éticos que
propiciem o diálogo. Desse modo, as devidas respostas para a importância ou não
da Cultura Religiosa encontram-se na leitura dos documentos da Igreja Católica que
normatizam uma Universidade Católica, na leitura dos documentos de
parametrização da Cultura Religiosa, bem como nas entrevistas a professores que
ministram as disciplinas. Nesse sentido, busca-se analisar como os temas
fenomenológicos e éticos são trabalhados nos cursos, se são determinantes ou não
para uma plena formação do aluno pautada no diálogo.
Palavras-chave: Cultura Religiosa. Aspectos Fenomenológicos. Aspectos Éticos. Diálogo.
ABSTRACT
Taking into consideration the new relevant tendencies that intend to clarify if it is
possible a connection between Theology and Religion’s Science intensified by
personal desire to understand the function of the subjects Cultura Religiosa I and II in
personal, vocational and religious education of PUC Minas’ students, this thesis aims
at the study of one of these tendencies in particular: research in PUC Minas history,
the Cultura Religiosa importance and its function, rediscussing phenomenologyc and
ethics concepts that lead us to the dialogue. The way to find the answers is in the
Catholic´s church documents reading that say how a Catholic University have to be.
The anwers can be found in Cultura Religiosa documents too as well as in the
teacher’s interview. In that sense, this work intends to analyze how phenomenologyc
and ethics aspects have been worked in PUC Minas as a dialogue tópos.
Keywords: Cultura Religiosa. Phenomenologyc Aspects. Ethics Aspects. Dialogue.
LISTA DE SIGLAS
ABESC - Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas
ATA - Antropologia Teológica
CCHSA - Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CR - Cultura Religiosa
FDC - Fundação Dom Cabral
FUMARC - Fundação Mariana Resende Costa
PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional
PUC MINAS - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
PUC PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
SMC - Sociedade Mineira de Cultura
U.C - Universidade Católica
UCMG - Universidade Católica de Minas Gerais
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 BASE HISTÓRICA E FUNDAMENTAÇÃO ECLESIAL .......................................... 13
2.1 Contexto social, cultural e religioso da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas ........................ 25
3 CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS ... 34
3.1 Perfil dos docentes de Cultura Religiosa na PUC Minas .............................. 38
3.2 Cultura Religiosa: dispositivo institucional – a multiplicidade de formas de expressão em outras instituições católicas ......................................................... 45
4 O DESVENDAR DA “CULTURA RELIGIOSA” ....................................................... 51
4.1 Emergência fenomenológica ......................................................................... 53
4.2 Emergência ética .......................................................................................... 58
4.3 Relevância do diálogo ................................................................................... 66
5 HORIZONTES DE ARTICULAÇÃO ....................................................................... 75
5.1 O “valor” existencial da Cultura Religiosa ..................................................... 77
5.2 A contribuição acadêmica da Cultura Religiosa ............................................ 82
5.3 Cultura em diálogo na contemporaneidade: entre Teologia e Ciências da Religião ................................................................ 87
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 91
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 94
9
1 INTRODUÇÃO
Do contato com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, ao longo
de quatro anos de vida acadêmica, a atração pela história dessa Universidade e a
curiosidade em saber o porquê da existência de uma disciplina comum a todos os
cursos da Universidade me vieram por intermédio das disciplinas de Cultura
Religiosa I e II.
Neste sentido, foi fundamental estudar os fundamentos da disciplina Cultura
Religiosa, bem como mostrar a experiência, a linguagem, as categorias
fundamentais de interpretação do fenômeno religioso, os desafios do diálogo inter-
religioso em uma síntese da história da PUC Minas. Nosso foco neste trabalho é: A
disciplina de Cultura Religiosa na PUC Minas: aspectos fenomenológicos e éticos
como um tópos privilegiado do diálogo. É um estudo sobre a legalização da Cultura
Religiosa na PUC Minas e sua relação conflitiva como disciplina no interior da
Universidade, analisadas pelos dois aspectos: fenomenológico, em que se propõe a
descrição da experiência vivida da consciência considerada no plano da
generalidade essencial, e ético, que reflete a respeito da essência das normas,
valores e prescrições presentes em qualquer realidade social. Aspectos que ocupam
lugar importante em qualquer diálogo.
A procura da justificativa da existência da Cultura Religiosa I e II em suas
respectivas ementas levou-me a situar, ainda que prematuramente, a preocupação
da Universidade com o diálogo fé e ciência, com a formação qualificada e com o
testemunho cristão em meio ao mundo acadêmico – influência da abertura
ecumênica e do espírito de diálogo alavancada desde o Concílio Vaticano II. Dessa
primeira impressão, nasceu o desejo de pesquisar mais profundamente sobre as
disciplinas, o que foi intensificado com a apresentação e análise de pressupostos
teóricos e ideológicos dos docentes que lecionam a Cultura Religiosa. As ementas
de Cultura Religiosa I e II foram estudadas e professores foram questionados sobre
quais seriam os objetivos da disciplina Cultura Religiosa na Universidade, se os
conteúdos dessa disciplina são lecionados de maneira confessional, qual a
importância da Cultura Religiosa, do ponto de vista dos professores, na formação
acadêmica, na vida profissional e pessoal dos alunos.
A procura pela explicação sobre a existência da Cultura Religiosa com
professores que ministram tal disciplina pretendeu fornecer informações sobre a
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importância ou não da Cultura Religiosa, a fim de responder se os planos de ensino,
as ementas e a prática desses professores contemplam as aspirações e as
necessidades da atual sociedade brasileira, no que diz respeito a essa disciplina,
conferindo-lhe status de área do conhecimento, garantindo a igualdade de acesso
aos conhecimentos religiosos. Além disso, propõe-se a discussão de até que ponto
a Cultura Religiosa contribui para manter a identidade de uma Universidade
Católica.
As disciplinas de Cultura Religiosa I e II são obrigatórias em todos os cursos
de graduação da PUC Minas. A problematização sobre o tema proposto partiu das
seguintes questões norteadoras:
Quais são os aspectos fenomenológicos e éticos da Cultura Religiosa I e II
importantes para o diálogo?
Com base em que o ensino dessas disciplinas é ministrado?
Como os professores de Cultura Religiosa inserem a disciplina no
currículo em uma perspectiva de formação plena do cidadão, no contexto
de uma sociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todas as
crenças e expressões religiosas devem ser respeitadas?
Será que os professores ratificam a importância e a necessidade de
disponibilizar aos universitários, no conjunto dos conhecimentos
acadêmicos, conteúdos sobre a diversidade cultural religiosa, como uma
das formas de promover e exercitar a liberdade de concepções e a
construção da autonomia e da cidadania através do diálogo?
Nesse sentido, a primeira intenção foi fornecer dados sobre a disciplina em
questão, analisá-la do ponto de vista de professores que ministram a disciplina,
consciente, no entanto, que a análise da Cultura Religiosa seria um trabalho
complexo e extenso para ser realizado em apenas dois anos de mestrado. Optou-se
ainda por delimitar o corpus da pesquisa a partir de professores e não de alunos,
tendo em vista que, caso fossem considerados os alunos, esse corpus seria muito
amplo.
Desse modo, considerando pertinente a escolha de professores para os
limites desta dissertação, a pesquisa limitou-se à análise da questão fundamental
sobre o estudo do fenômeno religioso em um estado laico, a partir de pressupostos
científicos, que visam a formação de cidadãos críticos e responsáveis, capazes de
11
discernir a dinâmica dos fenômenos religiosos, que perpassam a vida em âmbito
pessoal, local e mundial.
O objetivo geral desta pesquisa, portanto, foi analisar o papel da disciplina
Cultura Religiosa da PUC Minas, valorizando o estudo fenomenológico e ético da
mesma, enfatizando as diversas expressões e crenças definidas como religiosas na
perspectiva do diálogo.
Para a seleção do corpus, a disponibilidade dos professores que atualmente
ministram a Cultura Religiosa em participar da pesquisa foi utilizada como critério.
Não houve o objetivo de definir rigorosamente quem participaria da pesquisa, se
homem ou mulher, teólogo ou não, se é professor em quais cursos da PUC Minas,
uma vez que apenas uma pequena parcela de professores se dispôs a participar da
pesquisa. Procurou-se em geral deter-se nos dados desses professores que
participaram, cujas contribuições representam significativos dados relevantes.
Quanto à análise dos dados apresentados pelos professores e quanto à
pesquisa teórica, foram explorados os mecanismos que fazem compreender que as
diferentes crenças, grupos e tradições religiosas, bem como a ausência delas, são
aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como dados
fenomenológicos e éticos, capazes de contribuir para o diálogo, na interpretação e
na fundamentação das ações humanas.
Assim considerando, esta dissertação subdivide-se em quatro capítulos: o
primeiro capítulo trata da base histórica de uma universidade e a sua
fundamentação eclesial, bem como o contexto social, cultural e religioso em que foi
criada a PUC Minas. Para a fundamentação eclesial, documentos como a
Constituição Apostólica Sapientia Christiana, a Declaração Gravissimum Educationis
e a Ex Corde Ecclesiae foram utilizados.
O segundo trata dos aspectos históricos para entender a existência da Cultura
Religiosa em uma Universidade Católica. Em seguida, tem-se a caracterização da
disciplina Cultura Religiosa, seus aspectos históricos, destacando a relevância da
disciplina na história atual da PUC Minas. Realizou-se um grupo focal e entrevistas
com professores e coordenadores para compreender elementos da importância da
disciplina, bem como conhecer o perfil dos docentes de Cultura Religiosa. Duas
instituições, também católicas, foram utilizadas para mostrar outras formas de
expressão da Cultura Religiosa: a PUC Campinas e a PUC Paraná.
12
O terceiro capítulo trata de considerações sobre a distinção entre as várias
perspectivas constituídas na Cultura Religiosa, quais três foram escolhidas para
análise: perspectiva fenomenológica, perspectiva ética e perspectiva do diálogo.
Através da análise dos documentos de parametrização da Cultura Religiosa, espera-
se chegar à contribuição da mesma para o respeito e diálogo entre as religiões,
dando destaque para os autores que se realçam por seu movimento de busca do
diálogo. A análise se detém tanto no histórico e definição dessas três perspectivas,
quanto no caminho pelo qual essas perspectivas se tornaram amplamente
produzidas na Cultura Religiosa. Dessa maneira, discorre-se sobre a aplicabilidade
da Cultura Religiosa na vida do aluno.
O quarto capítulo concentra-se em alguns dos planos de ensino e ementas
das disciplinas de Cultura Religiosa I e II, escolhidos por amostragem, para
compreender como as disciplinas são trabalhadas. A partir disso, analisa-se a
abordagem comparativa que envolve os paradigmas da Teologia e das Ciências da
Religião. Com a compreensão de como a Cultura Religiosa constituiu sua
importância existencial atualmente, sua contribuição acadêmica, pretende-se
entender como professores trabalham com a Cultura Religiosa nos diversos cursos
da PUC Minas e influenciam ou não no imaginário religioso dos universitários. Essa
etapa é finalizada procurando apresentar a aproximação da Teologia e das Ciências
da Religião, a partir do horizonte do diálogo na contemporaneidade. Para tal, foram
escolhidos os planos de ensino dos cursos de Engenharia Mecânica, do curso de
Letras e do curso de Enfermagem. No final desse capítulo, ainda há uma
apresentação, sucinta, do papel da Cultura Religiosa no debate: aspectos
fenomenológicos e éticos como tópos privilegiado do diálogo.
Desse modo, esses capítulos dialogam entre si a partir de uma análise que
busca traçar características comuns entre as perspectivas selecionadas, tentando
pontuar o que serve de modelo para se trabalhar com a Cultura Religiosa, o que
pode servir de motivação para futuros professores de Cultura Religiosa, no sentido
de oferecer uma reflexão sobre o diálogo inter-religioso e sua relação com a
contemporaneidade.
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2 BASE HISTÓRICA E FUNDAMENTAÇÃO ECLESIAL
Ter o título de Universidade sugere adotar a história, a variedade de modelos
que uma Universidade pode ter. A Universidade moderna tem como característica
especial a relação com a sociedade industrial e a liberdade acadêmica de pesquisa.
Uma Universidade deve ser uma comunidade de alunos e professores que
investigam a verdade, a transmitem, e tudo isso com a devida autonomia
administrativa e liberdade acadêmica. Tem a missão de investigação, docência e
projeção social.
A educação superior tem por finalidade: I estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; [...] III. Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. (Ministério da Educação, 1996).
A Universidade não é uma instituição estática e acabada. Está sujeita a
constante adaptabilidade para alcançar o melhor desempenho. Uma boa
Universidade deve preocupar-se, desde logo, com o estabelecimento das
características que a identificam como tal, adotando uma opção específica para
determinado tipo de formação profissional a ser ministrada. Ao conceituar
Universidade, a ideia de universalidade não pode deixar de prescindir.
Universalidade na conceituação do ser humano, do conhecimento e de suas
conquistas.
Pensar a Universidade como lugar de formação é também pensá-la como
espaço público. Ela não pode estar separada da sociedade se quiser desempenhar
seu papel. Em sua ação educativa, precisa inserir-se no mundo da cultura, a partir
de um tempo-espaço da historicidade da humanidade, sempre estabelecida pelos
sujeitos que integram a sociedade. Cabe-lhe a responsabilidade de entender o
processo de formação humana, objetivando que o ser humano torne-se um ser ético,
responsável, solidário e participante das decisões do seu grupo social. Considerar o
ser humano em suas dimensões política, social, econômica e espiritual é o desafio
que deve estar presente no horizonte das Universidades, principalmente daquelas
que trazem a denominação de Católicas ou de inspirações cristãs.
14
De acordo com o decreto 5.773/06, as instituições de educação superior
podem ser credenciadas como faculdades, centros universitários e Universidades.
Originalmente são credenciadas como faculdades e, dependendo do funcionamento
regular com padrão de qualidade, a faculdade pode vir a se tornar uma
Universidade. Depende também da organização e das prerrogativas acadêmicas.
As Universidades caracterizam-se pela indissociabilidade das atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Além disso, domínio do saber humano que se
caracteriza pela:
I – produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; II – um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; III – um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
A identidade de uma Universidade é constituída no cotidiano, procurando
estabelecer uma identidade própria, mas que com certeza não satisfará a todos, pois
lida com aspectos contínuos do conhecimento, ou seja, a produção, sistematização
e difusão do mesmo, que por sua vez ocorre de forma dinâmica, em contínuo
movimento.
De acordo com Alberto Antoniazzi (1975), um estudante ou professor entra
em uma Universidade Católica procurando um curso, um título, um emprego, mas
depois toma consciência de que não está em uma Universidade comum, que está
em uma Universidade Católica.
Uma Universidade Católica deveria contribuir para a volta ou entrada da Igreja
na ciência. Podem existir atitudes dogmáticas tanto quanto à ciência quanto à
religião. Atitudes que querem expressar verdades absolutas e autoridade sobre o
outro para o exercício do domínio. Seja da ciência ou da religião, é preciso evitar a
desvalorização ou descaracterização da concepção que vem do outro, do que nos é
diferente.
A primeira Universidade Católica dotada de todas as Faculdades, inclusive a
de Teologia, foi a Universidade de Lovain (1834). Bispos belgas resolveram fundar
uma Universidade desvinculada do estado e escolheram Lovain, que já tinha sido
sede de uma Universidade. Essa Universidade tornou-se centro de pesquisa
científica de alto nível e de elaboração de um pensamento teológico, filosófico e
social, que tem influente relevância no campo da ética social e da sociologia
15
religiosa. A Universidade Católica pressupõe a secularização do estado e a
laicização da Universidade pública.
De 1854 até 1858, houve uma tentativa de Jonh Henry Newman em fundar a
Universidade Católica de Dublin, que mostrasse quais as exigências de uma
verdadeira Universidade, mas a história tomou outros rumos e a efetiva existência
dessa Universidade nunca se concretizou. Pareceu mais um seminário leigo para a
juventude.
Em Paris, em 1875, o arcebispo com o apoio de 28 bispos resolveu criar a
Universidade Católica, que hoje leva o nome de Instituto Católico de Paris. Em 1889,
consegue-se a fundação da Universidade de Friburgo, que conta com fundadores
leigos.
Ainda em 1889, os Estados Unidos iniciaram a criação da Universidade
Católica da América, que a princípio parecia um seminário avançado, com cursos
para eclesiásticos apenas, e só após a Primeira Guerra Mundial tomou a magnitude
de uma Universidade.
Há ainda Universidades Católicas abertas na China desde 1903, em Xangai,
e em Pequim desde 1924, e no Japão desde 1913. Mas as Universidades ditas
“catolicíssimas” foram fundadas na Itália e na Espanha. Em 1921, com a ajuda do
Episcopado e de leigos, fundou-se a Universidade Católica de Milão. Em 1923, foi
fundada a Universidade Católica de Nimega (Holanda), e em 1924 o reitor dessa
Universidade de Nimega, junto com os reitores de Lovain e o de Milão, criaram a
Federação Internacional das Universidades Católicas.
As Universidades nos países ocidentais evoluíram de pequenos suplementos
da Igreja, para se constituírem na principal instituição para o processamento do
conhecimento do mundo moderno. As primeiras se consagravam ao ensino das
ocupações da área de teologia, direito canônico, medicina e posteriormente pela
gramática, retórica, lógica, geometria, aritmética, música e astronomia. Disciplinas
das artes liberais geralmente assumiam mais importância que o ensino profissional,
o que levava ao desenvolvimento cultural e intelectual dentro das Universidades.
Lovain, Paris, Washington e Friburgo tinham a Faculdade de Teologia.
Possuíam a presença prolongada de um primeiro fundador (ou reitor) cuja
personalidade marcava a própria Instituição. Fenômenos como esses podem ser
explicados considerando que as Universidades Católicas nasceram no meio de
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muitas divergências. Divergências estas que podem ser explicadas por três
aspirações fundamentais de acordo com Antoniazzi:
1 – a primeira é a de ter, na U.C, uma instituição voltada, principalmente, para a formação dos professores das escolas secundárias; é, evidentemente, a aspiração mais limitada e ligada a uma situação particular, que predominou nas primeiras tentativas de U.C; 2 – a segunda aspiração é a de demonstrar que os católicos sabem fazer uma Universidade, e, sobretudo, uma ciência, tão boa quanto a dos racionalistas ou dos positivistas; essa é uma aspiração mais fecunda, pois obriga os católicos a se entrosarem positivamente com a cultura contemporânea; é porém, algo muito marcado pelo “clima” do momento, que perde seu interesse com a crise do positivismo e o pleno reingresso dos católicos na vida científica, cultural e política; sobretudo, é discutível se a Universidade Católica (em lugar, por ex., da presença dos católicos nas Universidades públicas) é o meio eficaz para o objetivo pretendido; 3 – a terceira aspiração é a de formar uma elite capaz de atuar no campo econômico, jurídico, social, político – em suma, capaz de assumir a liderança da sociedade civil e a direção do estado – dentro de uma perspectiva que é aquela da “doutrina social da Igreja”. (1975, p. 53)
Entre tais aspirações, nota-se ainda o desejo da U.C em contribuir para a
elaboração da cultura cristã, que é uma tendência de desenvolver à cultura
contemporânea uma dimensão de abertura à religião e ao sobrenatural, ou de obter
a consideração da não incompatibilidade, senão da harmonia entre ciência e
religião.
Na contemporaneidade, a ciência é como uma peneira que minimiza
influências de origem pessoal dentro da própria ciência ao exigir coerência constante
com o mundo natural. O conhecimento científico está constantemente em
construção. Quanto à religião, entende-se que todas as posturas devem ser
respeitadas a fim de evitar intolerâncias pela concepção do outro sobre deuses ou
sobre a natureza. Pode-se falar em complementaridade entre ciência e religião.
Aquela trata de assuntos naturais, empíricos, enquanto esta trata de problemas
existenciais.
Segundo Bertrand Russel (2010), a ciência é uma tentativa de entender o
mundo de experiências através das leis invioláveis, e religião é um fenômeno
complexo com uma crença sobre os supostos princípios definitivos. O diálogo é
importantíssimo para a construção do conhecimento do indivíduo e da sociedade,
bem como imprescindível para evitar conflitos entre pessoas.
Uma Universidade Católica deve entender seu papel e se relacionar com os
assuntos que lhe são postos. A leitura atenta de documentos oficiais da
compreensão eclesial explica o verdadeiro papel das Universidades Católicas. O
17
documento que fala sobre as Universidades e faculdades eclesiásticas é a
Constituição Apostólica Sapientia Christiana do papa João Paulo II. No proêmio
dessa constituição ordena-se que:
Efectivamente, a missão de evangelizar, que é próprio da Igreja, exige não apenas que o Evangelho seja pregado em espaços geográficos cada vez mais vastos e a multidões de homens sempre maiores, mas que sejam também impregnados pela virtude do mesmo Evangelho os modos de pensar, os critérios de julgar e as normas de agir; numa palavra, é necessário que toda a cultura do homem seja penetrada pelo Evangelho. (Sapientia Christiana, 1979, p. 1).
O homem é influenciado pelo ambiente cultural em que vive, e, em uma
cultura que caminha juntamente com a fé, a evangelização é favorecida. Não se
refere a ligar exclusivamente o Evangelho de Cristo a uma cultura específica e sim
revelar em Cristo os costumes dos homens a todas as classes da humanidade,
convertendo as consciências pessoais e coletivas de todos.
A sabedoria cristã ensina aos fiéis que se esforcem nos valores religiosos
para o aperfeiçoamento integral do homem, o qual compreende os bens do corpo e
do espírito. Tem o objetivo de orientar moralmente o ser humano, religando-o com o
transcendente. Apesar de parecer que na modernidade, no mundo atual,
globalizado, não há espaço para a religião, é impossível dissociar o ser humano do
divino, já que a ciência e a racionalidade não conseguem responder plenamente as
aspirações humanas. De acordo com Bertrand Russel: “O medo é a base de todo o
problema: medo do misterioso, medo da derrota, medo da morte. O medo é
progenitor da crueldade e, portanto, não é nada surpreendente o fato de a crueldade
e a religião andarem lado a lado” (2010, p.40).
Desse modo, a religião se mostra essencial para as pessoas. A diversidade
religiosa deve ser respeitada, já que todas as formas de manifestação nesse sentido
visam o bem do ser humano e procuram a paz espiritual. A busca do sagrado
através da religião deve conduzir à paz e à felicidade.
A Igreja empenha-se em promover as faculdades e Universidades
eclesiásticas que se preocupam com a Revelação Cristã e com tudo relacionado à
missão de evangelizar. De acordo com o artigo 2º da Sapientia Christiana,
Por Universidades e Faculdades eclesiásticas, na presente Constituição, são designadas aquelas que, canonicamente erigidas ou aprovadas pela Sé Apostólica, cultivam e ensinam a doutrina sagrada e as ciências que com
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ela estão correlacionadas, com o direito de conferir graus acadêmicos por autoridade da Santa Sé. (1979, p. 6)
Faculdades eclesiásticas têm a intenção de promover as próprias disciplinas
apresentando-as ao homem contemporâneo de forma adequada às diversas
culturas. Além disso, educa alunos, a nível superior, segundo doutrinas Católicas,
com o intuito de alcançar objetivos particulares. Faculdades Eclesiásticas como as
de Arqueologia Cristã, Ciências da Educação ou de Pedagogia, Ciências Religiosas,
Letras Cristãs e Clássicas, Faculdade de História Eclesiástica entre outras são
arquitetadas canonicamente ou podem vir a ser.
Em um estatuto de uma Universidade ou Faculdade devem estar presentes o
nome, a natureza, o fim, com informações históricas na introdução, além das
atribuições sucintas do Grão Chanceler, as autoridades acadêmicas, pessoais e
colegiais, bem como a descrição e o tempo do cargo. Devem constar também: os
direitos e deveres de alunos, o pessoal auxiliar, as disciplinas que serão ministradas,
os seminários de estudos, as provas a fazer, os graus acadêmicos atribuídos a cada
Universidade ou faculdade, a descrição dos subsídios didáticos como biblioteca e
laboratórios. Além disso, os aspectos econômicos como o patrimônio da
Universidade ou faculdade, sua administração, suas normas e a relação com outras
faculdades e institutos.
Uma Universidade Católica, mediante o encontro que realiza em meio à
riqueza da mensagem salvífica do Evangelho e a multiplicidade dos campos do
conhecimento em que aquela encarna, permite à Igreja estabelecer um diálogo de
fecundidade admirável com todos os homens de qualquer cultura. A Universidade é
uma instituição milenar, que desempenhou e desempenha uma função social. Foi
constituída na Europa, e com a institucionalização do trabalho de copistas e
tradutores passou a ser lugar privilegiado do saber. Recebeu impactos
renascentistas caracterizados pelas transformações que ocorreram nos campos das
artes, literatura e economia.
Tanto universidades como igrejas dividem algumas características
importantes. Essas duas instituições podem ser consideradas formas mais
superiores do conhecimento. O conhecimento que não é somente prático e útil, mas
que consiste no acesso às verdades consideradas mais profundas e fundamentais.
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Nos séculos XI e XII, a Universidade Católica foi praticamente única, para ser
depois assimilada pelo poder público. Teve influência decisiva na configuração da
Igreja até o Concílio Vaticano II. A partir desse concílio, a Igreja e o Estado
garantiram amplo debate das ideias, sendo que mesmo sem ter Universidades
próprias, a Igreja tinha espaço para a pesquisa teológica. O Vaticano mantém sua
própria Academia de Ciências, e universidades católicas existem em todo o mundo.
As religiões protestantes, de uma maneira geral, aceitaram a supremacia do
conhecimento leigo.
Desde o renascimento, há um humanismo não centrado na figura de Cristo,
portanto racionalista, condicionando o ser humano como senhor absoluto da
natureza. A fé, anulada, foi considerada empecilho para o desenvolvimento da
razão, e o pragmatismo da modernidade considerava que o homem, dominado pela
natureza, teria condições de conhecer a verdade em sentido absoluto, tendo assim
condições para alcançar a felicidade.
No Brasil, as Universidades Católicas surgem a partir de março de 1941, no
Rio de Janeiro como Faculdade Católica, sendo reconhecida como Universidade
Católica em 1946 e passando ao título de Pontifícia em 1947.
Ainda em 1946, em agosto, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo é
fundada e reconhecida. Após isso, a Universidade Católica do Rio Grande do Sul em
1948, que se torna Pontifícia em 1950. Em seguida, a Universidade Católica de
Pernambuco (1952) e a de Campinas (1955). A Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais foi fundada em 1955. Entre 1959 e 1961 surgiram as Universidades
Católicas de Goiás, Paraná, Pelotas e Salvador.
A Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (ABESC) tem 50
anos de tradição e defesa do ensino católico superior no Brasil. Ela contabiliza 17
universidades, 15 Centros Universitários e cerca de 120 faculdades presentes em
123 municípios. O interesse não é de fundar Universidades Católicas e sim
proporcionar oportunidade de estudo a quem deseja participar de um mercado
tecnológico e cada vez mais competitivo, assim como promover a educação cristã
evangélico-libertadora, entendida como aquela que visa a formação integral da
pessoa humana.
A Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae do papa João Paulo II é um
documento que serve para pensar como é possível uma identidade da Universidade
Católica no plano intelectual e científico. Ela pretende que a Universidade se
20
consagre sem reserva à causa da verdade sobre a natureza, do homem e de Deus e
se empenhe em todos os caminhos do saber. Propõe que, na exploração das
riquezas da revelação Divina e da natureza, em um esforço da inteligência e da Fé,
se processe o significado da tecnologia e crescimento industrial, a fim de garantir o
bem autêntico das pessoas e da sociedade.
O papa deixa claro nesse documento que deseja que estudantes se tornem
homens e mulheres admiráveis no saber, prontos a realizar tarefas responsáveis na
sociedade. A inspiração cristã, que leva o diálogo entre fé e razão e a preocupação
ética, sob uma perspectiva transcendente, deve abranger não só as pessoas, mas a
comunidade universitária como um todo. Acentua a Constituição Apostólica Ex
Corde Ecclesiae que:
É essencial convencermo-nos da prioridade da ética sobre a técnica, do primado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do espírito sobre a matéria. A causa do homem só será servida se o conhecimento estiver unido à consciência. Os homens da ciência só ajudarão realmente a humanidade se conservarem o sentido da transcendência do homem sobre o mundo e de Deus sobre o homem. (1990, p. 6).
Os princípios éticos são universalizáveis, uma vez que tendem a valer para
todos. Entretanto percebe-se distância dos princípios éticos fundamentais que
orientam, esclarecem, fundamentam e questionam os códigos morais e os
ordenamentos jurídicos. Se alguém é cristão, deve seguir valores e princípios que
essa religião prescreve. Todavia, ao partilhar a mesma coletividade, seguir a própria
religião não pode impedir de avaliar racionalmente determinadas condutas como
negativas, se elas são obstáculos para a igualdade dos direitos e obrigações
fundamentais e reforçam a exclusão.
A Ex Corde Ecclesiae fundamenta diretrizes e normas para as Universidades
Católicas. Nessa Constituição, a Universidade Católica é tida como comunidade
acadêmica que, inspirada na mensagem de Jesus Cristo e fiel à Igreja, trabalha com
o ensino, a pesquisa e a extensão, dedicando-se à evangelização e formação
integral de seus membros (alunos, professores, funcionários), assim como para o
aumento da cultura, ética da solidariedade e promoção da dignidade transcendente
da pessoa humana.
Ao falar de interdisciplinaridade, tão discutida em todas as Universidades do
mundo, é explícita na Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae que, nas
21
disciplinas de Teologia e Filosofia, deve ser feita reflexão sobre o homem, sobre a
realidade e sobre Deus. Faz-se plenamente a abertura da visão do estudante para o
mundo e para o sentido da vida, no uso de todos os recursos da ciência, da arte e
da cultura. Certifica-se a liberdade para outras religiões entre mestres e alunos,
exigindo-se o respeito pela identidade e propósitos da Universidade Católica. A
Constituição inclui estímulo à convivência universitária solidária, ao diálogo interno e
ao diálogo voltado para outras Universidades, ao espírito de cooperação e à
preocupação com a promoção da justiça social. Princípios que revelam uma
Universidade peculiar em que não predominem o tecnicismo ou o cientificismo, a
discriminação, a imposição social de uma pessoa sobre a outra.
O caráter da Universidade Católica é confessional, de espírito comunitário e
filantrópico. Ultrapassa a ideia de condicionamento ao mercado de trabalho e
assume compromissos com princípios relativos à promoção de respeito entre os
povos e outras manifestações de cidadania. De acordo ainda com a Ex Corde
Ecclesiae,
Toda a Universidade Católica, enquanto Universidade é uma comunidade acadêmica que, dum modo rigoroso e crítico, contribui para a defesa e desenvolvimento da dignidade humana e para a herança cultural mediante a investigação, o ensino e os diversos serviços prestados às comunidades locais, nacionais e internacionais. Ela goza daquela autonomia institucional que é necessária para cumprir as suas funções com eficácia, e garante aos seus membros a liberdade acadêmica na salvaguarda dos direitos do indivíduo e da comunidade no âmbito das exigências da verdade e do bem comum (1990, p.4).
A Igreja confia uma missão de esperança às Universidades Católicas quando
reveste um significado cultural e religioso de importância fundamental, porque diz
respeito ao futuro da humanidade. Em uma Universidade Católica, há de se
perseguir uma integração do conhecimento, o diálogo fé e razão, a preocupação
ética e a perspectiva teológica.
Cabe salientar que a perspectiva teológica de uma Universidade permite um
caráter ecumênico e sua recolocação no âmbito da esfera pública e da
Universidade, fecundada por métodos das ciências modernas e aberta ao diálogo
com as diversas pesquisas sobre religiosidade e religiões elaboradas a partir delas.
É importante neste momento falar um pouco sobre os Concílios Católicos que
têm nomes de acordo com o local onde ocorreram, e a numeração deve-se à
22
quantidade de vezes em que foram realizados nesta localidade. São reuniões
eclesiásticas em um esforço comum da Igreja para reaver sua doutrina. Entre tantos
outros Concílios, cabe mencionar o Concílio Vaticano II (1962–1965), que aconteceu
porque situações contemporâneas abalaram a Igreja, o que fez com que o Papa
João XXIII convocasse esse Concílio. Teve como objetivo promover o incremento da
fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, a fim de
adaptar a disciplina eclesiástica às condições do tempo e do mundo moderno. Na
verdade, esse Concílio quis dar nova orientação pastoral para a Igreja, além de
novas formas de apresentar dogmas católicos ao mundo moderno, mas fiel à
tradição.
O Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre fiéis, adaptar melhor as necessidades do nosso tempo às instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja. (1963, p.1.)
O Concílio considerou importante o ensino na vida do homem e sua influência
cada vez maior no avanço social. Considerou que a educação, nas circunstâncias
atuais, torna-se cada vez mais urgente. O desejo do papa João XXIII, desde o início
do Concílio, era que o mesmo fosse pastoral, ecumênico e não de condenações,
evitando reproduzir fatos já alegados em outros momentos. A Palavra de Deus
ocupou lugar de destaque, mostrando que o Cristo da fé não é outro que o Jesus,
filho de Maria, que vive entre os pobres. Esse Concílio afirmou a base laical da
Igreja e a considerou na perspectiva colegial e não na perspectiva do poder
pontifício ou episcopal, além disso, opta pela qualidade científica das Universidades
Católicas, e não pela quantidade. Foi uma reação ao fenômeno de multiplicação das
Universidades e Faculdades Católicas evidente no início dos anos 60, que refletia
uma massificação do ensino superior em que a explosão do número de estudantes
universitários afetou todas as Universidades do mundo.
O assunto da educação cristã foi publicado no decreto Gravissimum
Educationis. Esse texto começa por manifestação de apreço e do interesse da Igreja
para com as Universidades, reconhecendo a autonomia das disciplinas e liberdade
de pesquisa científica. Na Gravissimum Educationis, fica claro que, com o aumento
de alunos, aumentam-se as escolas, fundam-se outros centros de educação,
aparece a necessidade de outros métodos de educação e instrução. O Concílio
23
enunciou alguns princípios fundamentais sobre a Educação Cristã. O primeiro
desses princípios diz respeito ao direito universal à educação:
1. Todos os homens, de qualquer estirpe, condição e idade, visto gozarem da dignidade de pessoa, têm direito inalienável a uma educação correspondente ao próprio fim, acomodada à própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra. A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte. (Declaração Gravissimum Educationis, 1965, p. 1).
Formação que seja capaz de inserir os estudantes nos agrupamentos da
comunidade humana, de fazê-los aptos ao diálogo com os outros e forçados por
cooperar no bem comum. A Educação Cristã procura introduzir, no conhecimento do
mistério da salvação, os dons da fé que ajudem a conformação cristã do mundo,
mediante a qual os valores naturais assumidos na importância total do homem
redimido por Cristo colaborem no bem de toda a sociedade.
O dever de educar, ainda segundo essa declaração, pertence à Igreja, já que
a mesma tem o dever de anunciar a todos os homens o caminho da salvação, ao
mesmo tempo em que deve promover a perfeição integral da pessoa humana. Essa
declaração a respeito da Educação Cristã explica sobre as escolas que:
Entre todos os meios de educação, tem especial importância a escola, que, em virtude da sua missão, enquanto cultiva atentamente as faculdades intelectuais, desenvolve a capacidade de julgar rectamente, introduz no patrimônio cultural adquirido pelas gerações passadas, promove o sentido dos valores, prepara a vida profissional, e criando entre alunos de índole e condição diferentes um convívio amigável, favorece a disposição à compreensão mútua; além disso, constitui como que um centro em cuja operosidade e progresso devem tomar parte, juntamente, as famílias, os professores, os vários agrupamentos que promovem a vida cultural, cívica e religiosa, a sociedade civil e toda a comunidade humana (1965, p. 3).
Uma escola Católica pode servir como diálogo entre a Igreja e comunidade
humana. A Igreja tem o direito de fundar e dirigir escolas de qualquer espécie e
grau, concorrendo para a liberdade de consciência e defesa dos direitos próprios de
uma cultura. O Concílio Vaticano II proclamou o direito da Igreja de constituir,
conduzir escolas de qualquer natureza e nível, lembrando que o exercício desse
direito compete para a liberdade de consciência e progresso da própria cultura.
24
A pressão da modernidade fez com que a Igreja percebesse a necessidade
de modificar o seu discurso para se adequar às novas realidades sociais e culturais.
Surgiu uma nova autocompreensão da Igreja. A partir do Concílio Vaticano II, temas
como o da liberdade religiosa, a relação da Igreja Católica com os fiéis e a relação
da mesma com outras Igrejas cristãs foram pensados e discutidos. Mudou-se a
compreensão da Igreja sobre sua presença no mundo moderno. A partir desse
Concílio, compreende-se Deus revelado misteriosamente também em outras
tradições religiosas.
Além disso, ao terminar o Concílio, em 8 de dezembro de 1965, todas as
instituições católicas foram chamadas a se reformar ou se renovar, e a concepção
orgânica da U.C passou a ser a de escolha da integração de fé e saber nas diversas
áreas de atuação da Universidade: pesquisa, ensino, extensão, promoção do
desenvolvimento.
Explicitar investigações éticas presentes em todos os campos de ensino e
investigação sob o ponto de vista cristão é uma das prioridades das Universidades
Católicas, além de examinar valores e normas dominantes na sociedade e na cultura
modernas, assim como comunicar-lhes os princípios e valores éticos e religiosos
significados à vida humana.
A Universidade Católica tem uma proposta pedagógica que é buscar integrar
avanço acadêmico e profissional dos alunos com maturidade na dimensão humana,
na dimensão religiosa, na dimensão moral e na dimensão social. De modo que,
considerada a convicção religiosa de cada um, os alunos tornem-se competentes
em sua área específica, a serviço da sociedade, mas também líderes qualificados,
que vivam e testemunhem a fé na Igreja e no mundo. Os cursos de uma
Universidade Católica devem ser constituídos de disciplinas teológicas ou de outras
disciplinas afins. De acordo com o Ex Corde Ecclesiae,
A teologia desempenha um papel particularmente importante na investigação duma síntese do saber, bem como no diálogo entre fé e razão. Além disso, ela dá um contributo a todas as outras disciplinas na sua investigação de significado, ajudando-as não só a examinar o modo como as suas descobertas influirão sobre as pessoas e sobre a sociedade, mas também fornecendo uma perspectiva e uma orientação que não estão contidas nas suas metodologias. Por seu lado, a interação com as outras disciplinas e as suas descobertas enriquece a teologia, oferecendo-lhe uma melhor compreensão do mundo de hoje e tornando a investigação teológica mais adaptada às exigências de hoje. Dada a importância específica da teologia entre as disciplinas acadêmicas, cada Universidade deverá ter uma Faculdade ou, ao menos, uma cátedra de teologia (1990, p. 6).
25
A Teologia transforma o olhar. Sua base não é a experiência religiosa, nem a
religião como instituição, mas a fé no Deus que se revela. Olha o fato supondo a
possibilidade e realidade da experiência de Deus. Sem ela, não há Teologia. Ela é
possível e acompanha toda a existência humana como intenção última. Como o
objetivo de uma Universidade Católica é garantir em forma institucional uma
presença cristã no mundo universitário, características essenciais devem estar
presentes como: inspiração cristã, reflexão incessante à luz da fé Católica sobre o
conhecimento humano, fidelidade à mensagem cristã e empenho institucional ao
serviço do povo de Deus e da família humana.
A Teologia tem valor na busca de uma síntese superior do saber e no diálogo
entre fé e razão, a qual fornece a outras disciplinas de uma Universidade Católica
uma perspectiva e uma orientação transcendentes em que uma formação mais
sólida garante lugar no mundo da ciência e da cultura.
Segundo o decreto geral das diretrizes e normas para as Universidades
Católicas, de número 64, uma formação moral apropriada com o estudo da ética
cristã, particularmente a profissional, deve estar presente em todos os institutos e
departamentos da Universidade Católica. As disciplinas devem ter a
responsabilidade de promover a justiça social, o progresso do povo e fazer com que
a Universidade empenhe-se em tornar a educação superior acessível às minorias
sociais, bem como disposta a colocar o saber cristão e humano à disposição de um
público que perpassa o âmbito acadêmico.
2.1 Contexto social, cultural e religioso da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais – PUC Minas
No Vaticano, em 1922, um ato emanado da Santa Sé reuniu o Papa Bento XV
e o Consistório para nomear o Bispo de Natal, Dom Antônio dos Santos Cabral
(1884-1967), para a Diocese de Belo Horizonte.
Por força de um ato emanado da Santa Sé, facultando-lhe o ensejo de desenvolver em outro Estado as qualidades criadoras das mais úteis iniciativas, com que o dotou a natureza. S. S. o Papa Benedito XV, conhecedor das revelações do seu amor ao trabalho e eminente espírito
26
organizador, reunido o Consistório em Roma a 21 de novembro de 1921, o transferiu para a nova diocese de Belo Horizonte [...].
A diocese de Belo Horizonte foi elevada às honras de província Eclesiástica,
ascendendo Dom Cabral à condição de Arcebispo Metropolitano. Ele residiu em
vários lugares na cidade e graças a seus esforços e à herança do pai comprou parte
do terreno no bairro Coração Eucarístico onde, aos poucos, foi se instalando a
estrutura da atual PUC Minas.
A Igreja, após a segunda Guerra Mundial (1945), assumiu uma dimensão
humana e universal de afirmação de uma cultura de paz e de solidariedade. A Igreja
latino-americana descobriu a missão defensora dos oprimidos no novo mundo. É um
tempo de expansão da Ação Católica, sob a liderança do Papa Pio XII.
Uma onda de entusiasmo com grande mobilização dos educadores latino-
americanos permitiu a fundação das Universidades Católicas de Medelín, São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Campinas, México, Santo Domingo, Quito, entre
outras. Belo Horizonte era uma cidade vocacionada para a vida universitária, afinal
Afonso Pena, o primeiro ministro a chegar à Presidência, já havia dotado Minas
Gerais de uma base educacional que geraria muitos projetos inovadores de impacto
na cultura brasileira.
Em 1948 surgiu a Sociedade Mineira de Cultura, mantenedora da futura
Universidade Católica, com a assinatura dos estatutos no Salão Nobre do
Conservatório Mineiro de Música. As primeiras escolas a serem coligadas pela
Sociedade foram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria (1943), a
Escola de Enfermagem Hugo Werneck (1945), a Escola de Serviço Social de Minas
Gerais (1946), a Faculdade Mineira de Direito (1949) e o Instituto de Psicologia
Aplicada (1959).
No caso das instituições confessionais, o artigo 20 da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação diz que as Universidades, além de se ocuparem da legislação
nacional, devem se ocupar com as orientações do Magistério Eclesial, exigindo do
reitor bom senso para saber integrar diferentes situações, a fim de estabelecer a
identidade da instituição de que é responsável. Trabalho que exige contínuas
iniciativas, já que a Universidade é um espaço em movimento, com inúmeros
departamentos e áreas do conhecimento em constante atividade.
O humanismo é o vetor fundamental da PUC Minas, que motiva projetos
acadêmicos dos cursos e demais atividades de acordo com os valores que norteiam
27
as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade. A intenção é que os
saberes produzidos na instituição contribuam para a compreensão dos problemas da
sociedade em suas dimensões éticas. Esses princípios valorizam a igualdade, a
liberdade, autonomia, a pluralidade, a solidariedade e a justiça.
Com as contribuições do passado, é possível fazer uma adequada reflexão
sobre esses valores que permaneceram e que fundamentam as atividades da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Essa instituição, anteriormente
chamada de Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG), completou em 2012,
54 anos de história.
O Diário Oficial da União, no dia 12 de dezembro de 1958, trouxe o decreto
presidencial de número 45.046, assinado por Juscelino Kubitschek e pelo ministro
da Educação e Cultura, Clóvis Salgado, em que estava reconhecida a Universidade
Católica de Minas Gerais.
Dom Antônio dos Santos Cabral e um grupo de professores discutiram a
necessidade para Belo Horizonte de um espaço para debate de ordem política,
cultural e religiosa, oferecendo à juventude que saía dos colégios, quase todos
religiosos, uma opção de Universidade comprometida com a saúde física e mental
das pessoas.
O primeiro reitor foi o padre José Lourenço da Costa Aguiar em 1959. Em
seguida, em 1960, Dom Serafim Fernandes de Araújo assumiu o cargo de reitor,
permanecendo por 21 anos. Sua atuação na Universidade foi marcada pelo
atropelamento do regime autoritário contra a Igreja Católica e a Universidade. No
período em que foi reitor, o idealizador Dom Cabral morreu (1967), foi elaborada a
carta de princípios com a finalidade de definir os objetivos da Universidade no século
XX (1968), A UCMG assumiu a direção do colégio Santa Maria (1968), a sede da
Universidade transferiu-se para o antigo seminário do bairro Coração Eucarístico,
criou-se a Faculdade de Comunicação Social (1970), aprovou-se e implantou-se o
novo Estatuto da UCMG (1978), e a estrutura administrativa passou para 20
departamentos, reunidos em quatro centros em Belo Horizonte, além disso, a
Sociedade Mineira de Cultura criou a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Fundação
Mariana Resende Costa (FUMARC).
A FDC é uma instituição sem fins lucrativos, considerada de utilidade pública,
que surgiu por meio de desdobramento do centro de extensão da PUC Minas. Ela
tem conexão entre teoria e prática, na formação acadêmica de executivos, gestores,
28
empresários, empresas e organizações em diversos segmentos. A FUMARC foi
instituída a fim de contribuir para o trabalho de pesquisa a cargo da PUC Minas e
para a realização do serviço de assistência prestado a seus estudantes e servidores.
Oferta produtos e serviços de qualidade, publicando livros e trabalhos de natureza
científica, além de realizar projetos de pesquisa de interesse de administração
pública e privada, bem como realizar concursos e vestibulares, artes gráficas em
geral.
Essa trajetória de trabalho e fé, que marcaram os acontecimentos que traçam
o perfil de um dos maiores centros de produção de conhecimento do Brasil, que é a
PUC Minas, ainda estava começando. Em 1981, o prof. Gamaliel Herval assumiu a
reitoria da UCMG. Sua gestão, no plano administrativo, foi marcada pela expansão e
construção de inúmeros prédios. Gamaliel Herval teve sua caminhada marcada pela
influência do pai, fazendeiro, amigo de Tancredo Neves, pela mãe, uma senhora
tranquila e amiga, pelo professor Lídio Bandeira, que foi um dos examinadores da
banca de avaliação dos candidatos ao exame vestibular da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais. Ele obteve nota zero na avaliação oral feita
por Lídio Bandeira, o que fez com que Gamaliel cursasse direito na Faculdade de
Direito da Universidade Católica de Minas Gerias. Ele foi presidente do Diretório
Acadêmico da Faculdade Mineira de Direito, foi presidente do Diretório Central dos
Estudantes e reitor da UCMG de 1981 até 1984.
A UCMG recebeu em 2 de julho de 1983 o título de Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, outorgado pelo papa João Paulo II. O termo Pontifícia, de
acordo com a Igreja Católica, é utilizado para quem determina o melhor em ensino
superior acrescentado a valores religiosos. É um termo outorgado pelo Pontificado,
ou seja, o papa. De acordo com o art. 1º do Estatuto da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (p. 4):
A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com sede em Belo Horizonte, reconhecida pelo Decreto Federal n. 45.046, de 12 de dezembro de 1958, é uma entidade particular, confessional, criada e mantida pela Sociedade Mineira de Cultura, associação de fins não econômicos, criada em 24 de junho de 1948, e declarada entidade de utilidade pública estadual pela Lei n. 2.278, de 22 de dezembro de 1960, e de utilidade pública federal pelo Decreto n. 61.690, de 13 de novembro de 1967.
A PUC Minas entende que a educação universitária inclui a formação
profissional, mas abarca também as dimensões científicas, éticas e de inserção
29
responsável na sociedade. Propõe garantir presença cristã no mundo universitário
com fidelidade aos princípios da doutrina cristã e da Igreja Católica. Seu empenho
institucional está ao serviço da família humana, na busca do desenvolvimento
cultural e social, na formação de uma comunidade acadêmica pautada nos valores e
ensinamentos do Evangelho. A PUC Minas é uma instituição pluridisciplinar de
formação, que garante aos seus membros liberdade de estudo, pesquisa, ensino,
extensão, que satisfaz as condições de otimização e racionalização da gestão de
recursos e adaptação dos meios administrativos aos fins institucionais. A
Universidade é regida:
I - pelo Direito Canônico; II - pelos documentos pontifícios relativos à educação superior; III - pela legislação aplicável; IV - pelo Estatuto da Entidade Mantenedora, na esfera de suas atribuições; V - por este Estatuto; VI - pelo Regimento Geral; VII - pelas Resoluções do Conselho Universitário e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão; VIII - pelo Estatuto da Carreira Docente; IX - pelos Regimentos e Regulamentos dos órgãos que a integram; X - por atos do Reitor. (Estatuto da PUC Minas, 2010, p. 8).
Ela possui autonomia institucional, bem como liberdade acadêmica, e por
meio de órgãos próprios pode extinguir, criar, alterar ou fundir órgãos e serviços que
considerar necessários às suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. A
Universidade constitui-se de campi, núcleos universitários, unidades acadêmicas
especiais, sendo que o campus Coração Eucarístico é a unidade sede.
A expansão da Universidade inicia-se em 1991 com o Núcleo Universitário de
Contagem. Em 1994 é criado o Instituto de Educação Continuada, em 1995 é
implantada a unidade da PUC Minas em Betim, em 1997 é implantado o campus de
Poços de Caldas. Em 1998 dá-se a implantação do programa de pós-graduação
stricto sensu da Faculdade Mineira de Direito e em seguida o campus nas cidades
de Arcos (1999), a unidade PUC Minas São Gabriel em 2000, a unidade PUC Minas
Barreiro em 2002 e em 2003 é inaugurado o campus do Serro. Tem-se ainda a
unidade da PUC Minas de Guanhães e Praça da Liberdade em Belo Horizonte.1
1 § 2.º - Os campi, os núcleos universitários, as unidades acadêmicas e as unidades acadêmicas
especiais serão criados, aglutinados, desmembrados ou extintos pelo Conselho Universitário.
Art. 10 – A Universidade se estrutura em departamentos constituídos por campos de conhecimento e agrupados, ou não, em institutos ou em faculdades. (Artigo com redação alterada pela Resolução n.º 12/2010, do Conselho Universitário)
Art. 11 – A Universidade poderá vir a constituir novos campi, unidades acadêmicas e unidades acadêmicas especiais, e ainda desenvolver outras atividades, inclusive cursos experimentais,
30
Nesse mesmo ano de 2003, o professor Eustáquio Afonso Araújo é nomeado
vice-reitor, assumindo interinamente a reitoria da PUC Minas no lugar do Padre
Geraldo Magela Teixeira em 2004. Eustáquio Afonso Araújo foi um reitor da
transição. Transição porque trouxe para a Universidade um clima de democracia
constituída com respeito e confiança entre todos. Foi uma busca de nova
institucionalidade da PUC Minas, que tem como princípios orientadores a
descentralização e delegação de competências, sendo que o estatuto passa a ser a
principal referência adequada à realidade da educação. A PUC, ainda nesse
período, com a presença de Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães na vice-reitoria,
saiu de um período de inquietações para uma fase de realizações, evidenciando que
a Igreja se faz presente em toda a Universidade. Uma Universidade Pontifícia
destinada a ser ponto entre fé e conhecimento com qualidade de ensino, valores
éticos e liberdade para construir uma vida mais digna para todos. Ainda em março
de 2004, outro momento importante é a nomeação de Dom Walmor Oliveira de
Azevedo como Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
O professor Eustáquio Afonso Araújo permaneceu na reitoria de forma definitiva de
2004 até 2006.
Em 2007, o professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães é nomeado
reitor. Ele tem, em 2010, o mandato prorrogado por mais três anos. Foi no Palácio
Cristo Rei que o arcebispo de Belo Horizonte e Grão-chanceler da PUC Minas, Dom
Walmor Oliveira de Azevedo, assinou, no início de agosto de 2010, o ato de
nomeação para novo mandato de três anos do reitor e da vice-reitora Patrícia
Bernardes da PUC Minas. Ao reitor cabe a responsabilidade de acompanhar
globalmente a PUC Minas, o colégio Santa Maria e o Instituto Dom João Resende
Costa. Também coordenar, orientar e acompanhar a ação evangelizadora e pastoral
em parte da cidade de Belo Horizonte e de Contagem. Trabalha acompanhando
reuniões, informando-se, fazendo indicações e responsabilizando-se pelas questões
que envolvem orçamentos, metas, acompanhamento e execução que dizem respeito
à Universidade. Graças a todo seu esforço e de seus colaboradores, a PUC Minas
atualmente tem o título de melhor Universidade privada do Brasil. Prêmio dado à
instituição pela premiação: Melhores Universidades Do Guia do Estudante Abril e
observadas as prescrições legais e os seus próprios ordenamentos. (Artigo com redação alterada pela Resolução n.º 12/2010, do Conselho Universitário)
31
Banco ABN Real. Esse reconhecimento também se deu oficialmente pela Comissão
de Educação Católica do Vaticano.
Para garantir a identidade e demandar a definição de focos de trabalho exige-
se estabelecer um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que explicita uma
programação das atividades da instituição de ensino, ou seja, é uma forma de bem
articular todo esse processo.
O PDI consiste em capacitar a própria comunidade acadêmica, a fim de levá-
la a ter real compreensão do contexto regional e institucional, vislumbrando a curto,
médio e longo prazo o desenvolvimento da Universidade. Dessa forma haverá
preparo para responder às diferentes situações de avaliação interna e externa,
possibilitando discutir as diferentes tendências no mundo da educação. Segundo o
Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) (2007-2011),
a Sociedade Mineira de Cultura (SMC) é uma “associação de fins não econômicos”, tendo como uma de suas finalidades, definida estatutariamente, a de “manter a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e, subsidiariamente, outras instituições de ensino e pesquisa”. Está ainda assegurado no referido estatuto que os “bens que constituem o patrimônio da Sociedade, assim como suas rendas, só poderão ser aplicados no país e na realização de seus fins” (2007-2011, p. 36).
Ainda de acordo com o PDI (2007-2011), outra particularidade é que a PUC
Minas está apta a receber recursos federais. Cabe ressaltar também que o caráter
confessional e comunitário da PUC Minas, além de revelar princípios filosóficos,
epistemológicos e operacionais, está marcado pelo comprometimento
sociocomunitário. Por isso, tem seu referencial estabelecido pela comunidade
interna e externa, e o compromisso social como parte da sua identidade institucional
e da sua finalidade educacional. A identidade da Universidade de acordo com o PDI
é:
A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais é uma comunidade acadêmica inspirada na mensagem de Jesus Cristo e fiel à Igreja, que se dedica ao ensino, pesquisa e extensão nos variados ramos do conhecimento, de modo sistemático e crítico. A PUC Minas cuida da evangelização e formação integral de seus membros – alunos, professores e funcionários – e se empenha no serviço qualificado ao povo, contribuindo para o aumento da cultura, a afirmação da ética e da solidariedade, a promoção da dignidade transcendente da pessoa humana, o serviço da Igreja ao Reino de Deus. (2007-2011, p. 18)
32
O humanismo é o vetor fundamental da PUC Minas que motiva projetos
acadêmicos dos cursos e demais atividades de acordo com os valores que norteiam
as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade. A intenção é que os
saberes produzidos na instituição contribuam para a compreensão dos problemas da
sociedade em suas dimensões éticas. Esses princípios valorizam a igualdade, a
liberdade, autonomia, a pluralidade, a solidariedade e a justiça
No Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da PUC Minas delineiam-se
as vocações específicas da Universidade como Instituição de Ensino Superior,
confessional, de caráter comunitário.
A identidade da PUC Minas, de acordo com o PDI, desempenha papel
fundante em toda a área de atuação da Universidade como perspectivas e
finalidades plurais. A Universidade pretende ser um agente de busca de
conhecimento que se alicerça no exercício da autonomia da ciência e liberdade do
pensamento acadêmico, na participação ativa na transformação ética da sociedade,
no acompanhamento crítico das mudanças na sociedade e nos indivíduos.
A missão da PUC Minas de acordo com o PDI é:
A Universidade tem como missão promover o desenvolvimento humano e social de alunos, professores, funcionários e comunidade, contribuindo para a formação ética e solidária de profissionais competentes, humana e cientificamente, mediante produção e disseminação do conhecimento, da arte e da cultura, a integração entre Universidade e a sociedade, a interdisciplinaridade e a articulação do ensino, pesquisa e extensão (2007, p.18).
Missão que nasce da busca pela qualidade de formação humana, profissional
e científica articulada entre ensino, pesquisa e extensão, em todos os seus níveis.
Uma busca pelo saber em si e um saber do mundo. Percebe-se assim que a
Universidade busca os seguintes valores e princípios:
A PUC Minas, tendo o humanismo como vetor básico, fundamenta os projetos acadêmicos dos cursos e as demais atividades nos princípios e valores que lhe conferem marca singular e norteiam suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Os saberes internamente produzidos devem estar a serviço da dignidade dos homens e a Universidade tem o dever de contribuir para a compreensão dos problemas da sociedade, com especial atenção às suas dimensões éticas. (PDI, 2007, p. 18).
A PUC Minas tem qualidade de sua atividade-fim: o ensino. Tem
compromisso com a realidade social brasileira em suas relações com o contexto
internacional e formação humanista para o exercício profissional como dimensão da
33
cidadania. Grande destaque tem sido dado pela instituição aos desafios da
implementação do espírito acadêmico de ensino, pesquisa e extensão.
O raciocínio metódico é a base do crescimento em torno dos conjuntos que
compõem os domínios do conhecimento. A função da Universidade está ligada à
reflexão e não pode dar lugar apenas para a razão instrumental que coloca a técnica
como elemento de ensino, sem embasamento filosófico e científico. Isso pode levar
a uma aprendizagem acrítica e apassivadora. A PUC Minas, além ter como principal
objetivo o de aprimorar a qualidade de ensino, não deixa de cumprir sua missão
educadora e transformadora, levando o conhecimento a outras pessoas. A
instituição reconhece que é fundamental propor políticas e estratégias de
relacionamento e de acompanhamento de seus estudantes, já que essa é uma
maneira eficaz de avaliar a instituição formadora, a qualidade dos cursos, além de
ser uma maneira de estabelecer vínculos com o aluno mediante os programas de
pesquisa, ensino, extensão, os seminários temáticos, a participação em projetos
pedagógicos, entre outros.
34
3 CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS
Tratar da obrigatoriedade das disciplinas de Cultura Religiosa I e II na
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais nos leva a refletir sobre a base em
que o ensino dessa disciplina é ministrado. Embora a Cultura Religiosa, que já
esteve alocada no departamento de Filosofia e Teologia, esteja alocada atualmente
no departamento de Ciências da Religião, é relevante entender como os professores
da disciplina a inserem no currículo em uma perspectiva de formação plena do
cidadão, no contexto de uma sociedade cultural e religiosamente plural, na qual
todas as crenças e expressões religiosas devem ser respeitadas.
A CR na maioria dos cursos da PUC Minas tem como carga horária básica:
CR I 64 h/a e CR II 32 h/a. Entretanto, os cursos de Tecnologia têm apenas 64 h/a.
O que é certo é que todos os cursos da PUC Minas têm a disciplina de Cultura
Religiosa. Há ainda outros cursos que dispõem a CRI e CR II de maneira diferente, o
que leva as disciplinas a serem chamadas de Fenômeno Religioso (CR1) e Homem
e Sociedade (CR2).
A Universidade Católica não quer formar o ser humano apenas para o
mercado de trabalho. O diálogo da ciência contemporânea e religião é o principal
desafio que se apresenta. A disciplina de Cultura Religiosa não quer evidenciar o
aspecto confessional da teologia, mas sim seu caráter humanizador, público,
interconfessional e dialógico.
Segundo o decreto Geral das Diretrizes e Normas para as Universidades
Católicas da CNBB de número 64, a reflexão teológica e a reflexão filosófica
configuram-se como patrimônios constitutivos dessa Universidade e devem
contribuir para a formação integral do ser humano. A Cultura Religiosa, estando
presente em todos os cursos, oferece à Pró-reitoria de graduação condições para
articulação e execução de projetos comuns e em qualquer situação, o que garante
lugar epistemológico dessas disciplinas. A Cultura Religiosa I tem basicamente
como ementa:
O fenômeno religioso: experiência e Linguagem. O fenômeno religioso com a experiência específica: limites e possibilidades da experiência de Deus; as categorias fundamentais de interpretação e de linguagem do fenômeno religioso. A Bíblia em sua formação histórica, cultural, literária. Os critérios de interpretação, os temas e as perspectivas de estudo da bíblia e a abertura à experiência. O Cristianismo, sua origem e fundamentos e a
35
pessoa de Jesus. Os desafios do diálogo ecumênico e inter-religioso no contexto de um mundo globalizado. (Plano de Ensino da Pedagogia, 2011).
Já se entende que, embora a Universidade seja uma instituição Católica, há
uma diversidade cultural religiosa presente, e a Cultura Religiosa não deve ser
entendida como ensino de uma religião ou das religiões, mas sim uma disciplina
embasada nas Ciências da Religião, visando proporcionar o conhecimento dos
elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências
religiosas percebidas no contexto dos universitários. Deve buscar disponibilizar
esclarecimentos sobre o direito à diferença, valorizando a diversidade cultural
religiosa presente na sociedade, no constante propósito ético de promoção dos
direitos humanos. A Cultura Religiosa II tem essencialmente como ementa:
Fundamentos para a práxis cristã, a partir do Ensino Social da Igreja. A categoria pessoa, fundamento antropológico do Ensino Social da Igreja, em diálogo com as categorias antropológicas contemporâneas. Análise de temas atuais à luz do Ensino Social: a família e a dimensão afetivo-social, o mundo do trabalho e a situação da propriedade, o sentido da economia; a origem social e política, a consciência de cidadania, o compromisso com o cuidado e a defesa da vida e as perspectivas de construção de uma nova ordem mundial centrada no Amor e na Paz. (Plano de Ensino da Pedagogia, 2011).
Acredita-se que a discussão de temas como ética e moral sejam importantes
para quem está se formando, porque sensibiliza para a importância das questões
sociais e a responsabilidade dos profissionais com relação à sua área. A discussão
que a Cultura Religiosa pode promover sobre relacionamento interpessoal é de
extrema importância para a formação integral de uma pessoa. Defende-se a reflexão
sobre a pessoa humana e o fenômeno religioso em suas diversas expressões, bem
como o desenvolvimento de um compromisso ético em relação ao exercício das
próprias atividades e engajamentos profissionais. Procura-se ver o fenômeno
religioso tal como ele se mostra em termos de significados relacionais, na dinâmica
da vida da pessoa e em seu mundo existencial.
As disciplinas de Cultura Religiosa devem rever e adequar as ementas e
conteúdos das mesmas para o contexto pedagógico de cada curso, bem como dar
visibilidade para a função da disciplina, que precisa assumir a perspectiva do diálogo
e respeito com todas as ciências e áreas do saber presentes na Universidade.
Devem também mostrar os valores humanos e comunitários que contribuem para a
formação de profissionais com responsabilidades sociais e éticas.
36
Tendo em vista dados da pesquisa do Instituto LUMEN, realizada em agosto
de 2000, sobre a Cultura Religiosa I e II, evidencia-se uma avaliação positiva da
Cultura Religiosa. Entretanto, houve um comum acordo de uma maioria de alunos
que considerava a carga horária da disciplina excessiva. Nessa pesquisa, os alunos
avaliaram que 90 horas/aula de carga horária das disciplinas de Cultura Religiosa I e
II são demasiadas frente ao pouco tempo dispensado para as disciplinas de
formação profissional de cada curso. Além disso, às disciplinas técnicas é atribuída
mais importância do que às disciplinas humanísticas. Isso se deve ao fato de muitos
alunos não enxergarem função prática nas disciplinas humanísticas para sua
profissão, as quais deveriam ser entendidas como parte indispensável de uma
formação integral tanto em termos de possibilidade do exercício da reflexão quanto
de melhora do relacionamento interpessoal.
Ainda que a PUC Minas seja uma Universidade confessional, percebe-se,
pelos dados dessa pesquisa do Instituto LUMEN, que a escolha pela instituição não
estava ligada ao fator religioso e sim à qualidade de ensino da mesma. Havia uma
preocupação dos alunos com a formação para o mercado de trabalho. Ainda de
acordo com essa pesquisa qualitativa: “A pressa em se profissionalizar faz com que
os alunos não dêem a importância devida às disciplinas de conteúdo reflexivo,
consideradas por eles indispensáveis enquanto base, alicerce do conhecimento”
(LUMEN, 2000, p. 13). Há pressa de profissionalização, o que de acordo com os
alunos só se baseia em um ensino prático.
A escolha de qual período as disciplinas devem estar e o horário das mesmas
fica a critério de cada coordenação de curso. Ainda de acordo com a pesquisa do
Instituto LUMEN, em que se perguntou ao coordenador da disciplina qual seria o
melhor período e horário para dispô-la, o mesmo respondeu que: “Tanto no primeiro
semestre quanto no último não é bom. No primeiro, os alunos não estão preparados
e, no último, estão mais preocupados em se formar. O ideal é no 2º, 3º ou 4º
períodos, é onde a avaliação é mais positiva” (LUMEN, 2000, p. 42).
Com dados dessa mesma pesquisa, percebeu-se que a carga horária total
distribuída em CR I e CR II é de 96 horas/aula. Geralmente, CR I com 64 horas/aula
e CR II com 32 horas/aula. Essa carga horária provocou, de acordo com a pesquisa
do Instituto LUMEN, divergências de ideias entre alguns professores. Uns chegaram
a dizer que consideravam 64 horas/aula suficiente, enquanto outros professores
37
consideravam 32 horas/aula inadequado. Quer dizer que, para a maioria
entrevistada, o ideal é que CR I e CR II tivessem a mesma carga horária.
Dentro dos objetivos propostos da CR I e da CR II, para trabalhar com essa
disciplina, os professores utilizavam materiais como: textos xerocados, propondo
leitura, reflexão, debates e seminários. Não havia um livro ou material didático
próprio, entretanto, ainda segundo dados dessa pesquisa, o material trazido pelo
professor atendia às necessidades das disciplinas.
A disciplina Cultura Religiosa reflete as diretrizes e normas da Universidade.
A Cultura I tem a intenção de promover a compreensão da dimensão religiosa e da
existência humana, sensibilizando os alunos para sua importância, por ser a
dimensão fundamental que abre a pessoa ao sentido global e transcendente da vida,
apresentando a experiência cristã como sentido profundo e desafiante para a
sociedade contemporânea.
A Cultura II quer apresentar os elementos fundamentais da visão
antropológica cristã, fundamentar a ética cristã diante dos desafios atuais e suas
exigências nas diversas relações entre homem, sociedade e natureza, bem como
levar à compreensão e avaliação crítica e ética da sociedade contemporânea,
buscando sua superação em uma nova ética da solidariedade.
A Cultura Religiosa deve ser uma práxis de descoberta daquilo que existe em
cada um, adotando uma postura crítica a esse respeito. O intuito em formar
profissionais reflexivos é muito importante, é formar profissionais com consciência
crítica, conhecedores da realidade onde estão inseridos e abertos a uma nova visão
de sociedade. É formar profissionais que sejam capazes de pautar suas ações pela
ética, considerando os seres humanos como iguais portadores de direitos e sujeitos
de um processo de construção de novas relações.
A atual pesquisa não traça dados de alunos, mas procura, através de
conversas com professores de CR, coordenador da CR e chefe do departamento de
Ciências da Religião, traçar a realidade da CR dentro da PUC Minas. Pode ser útil
para os docentes envolvidos no sentido de reverem sua prática educacional, além
de oferecer assistência no planejamento e organização das ementas da disciplina de
CR. Além disso, poderá se constituir como oportunidade de apontar caminhos que
estejam em concordância com a realidade dos universitários. Do ponto de vista
social, tomando como referência a concepção de que a CR engloba aspectos
fenomenológicos e éticos que se destinam a auxiliar o diálogo religioso entre as
38
pessoas, esta pesquisa pode ser útil na medida em que contribuir para que a CR
realize esse objetivo, sobretudo levando-se em conta que o cidadão deve ter
oportunidades de conhecer e respeitar a diversidade religiosa que se verifica no
mundo.
3.1 Perfil dos docentes de Cultura Religiosa na PUC Minas
É preciso entender que os docentes de Cultura Religiosa trazem consigo a
marca de uma trajetória existencial que os identifica.
Apresentar essas características é reconhecer que elas configuram a ação do
docente. A vida é repleta de diversas escolhas, e para esses professores uma
dessas escolhas é a opção em serem docentes na área de formação de cidadãos
críticos e responsáveis quanto ao discernimento da dinâmica dos fenômenos
religiosos, que perpassam a vida em âmbito pessoal, local e mundial.
Dos dados levantados para a pesquisa, constam 54 professores de Cultura
Religiosa. São 41 professores e 13 professoras. Deste total de professores, apenas
10 são religiosos (frei, padres ou irmãs). O gráfico abaixo traz esta relação e
acrescenta outros dados que podem ser considerados importantes nesta pesquisa.
39
Através da realização de um grupo focal com três professores e da realização
de entrevistas com outros docentes, registra-se que: um dos professores que
participaram do grupo focal leciona a Cultura Religiosa nos cursos de Direito,
Ciências Contábeis, Administração, Engenharia de Controle e Automação,
Publicidade e Propaganda. Outro docente que também participou do grupo focal
ministra a Cultura Religiosa nos cursos de Engenharia de Controle e Automação,
Direito, Administração e Enfermagem. O terceiro docente envolvido é professor de
Cultura Religiosa nos cursos de Psicologia, Biologia, Comunicação Assistida, Letras
e Pedagogia. Quanto aos professores entrevistados, lecionam a Cultura Religiosa
para os cursos de Filosofia, Direito, Ciências Contábeis, Relações Internacionais,
Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Tecnologia em Gestão Financeira,
Administração, Sistemas de Informação, Enfermagem, Ciências Sociais, Arquitetura,
Fisioterapia, Odontologia e Engenharia Civil. São professores que ressignificam sua
atuação profissional no sentido de realizar uma docência de acordo com o projeto
pedagógico de cada curso em questão.
Quanto ao gênero, o grupo pesquisado compõe-se por uma mulher apenas e
oito homens. Dos cinquenta e quatro professores que trabalham com a Cultura
Religiosa na PUC Minas, percebe-se uma composição significativa do sexo
masculino.
Com relação à formação acadêmica dos pesquisados, há basicamente
teólogos, filósofos, psicólogos, historiadores, pedagogos, alguns com
especialização, mestrado ou doutorado em Ciências da Religião ou Teologia.
Não é exigido um pré-requisito confessional católico para se trabalhar com a
Cultura Religiosa na PUC Minas. O tempo de experiência dos professores
pesquisados como docentes dessa disciplina é variável e representa uma
caminhada construída ao longo de anos. Maurice Tardif (2002), em seu livro
Saberes docentes e formação profissional, explica que com o passar dos anos o
professor com sua cultura, seu estilo, suas ideias, suas funções, seus interesses e
outras características vai incorporando aspectos de sua atividade pessoal
construídos no transcorrer da prática em sala de aula.
Em relação aos campi em que os docentes envolvidos na pesquisa
trabalham, a maioria atua no campus do Coração Eucarístico, mas há entrevistados
que trabalham no campus do Barreiro e no campus de Betim.
40
Quando questionados sobre quais seriam os objetivos da disciplina Cultura
Religiosa, a maioria disse que os objetivos são os que estão definidos pelos cursos
nas ementas de CR I e CR II. Estes seriam os objetivos formais. No entanto, outros
objetivos seriam o de abrir os horizontes de compreensão da cultura, sociedade e
ciência a partir da dinâmica da religião em seu interior e oferecer elementos para o
enriquecimento da própria formação humana pessoal. Além disso, de acordo com os
relatos colhidos, a disciplina de CR busca viabilizar aos alunos o estudo e,
consequentemente, a compreensão da dimensão religiosa em sua formação pessoal
e institucional. A relevância da CR se vincula ao fato de indicar ao ser humano
possibilidades de abertura ao sentido mais global da vida.
Cabe salientar então a importância da discussão do papel do fenômeno
religioso na vida das pessoas, na sociedade, bem como mostrar que a religião é um
componente cultural e que a CR deseja formar alunos em uma perspectiva ético-
solidária.
Quanto à tradição religiosa dos participantes, não se preocupou em saber
quantos são católicos, evangélicos, espíritas e demais crenças religiosas, mas se
preocupou se a CR é ministrada com conteúdos confessionais ou não.
Verificou-se, então, que a maioria dos pesquisados respondeu que não
ministra a disciplina com conteúdos confessionais. A perspectiva de ensino da
maioria dos professores pesquisados segue as orientações presentes no plano de
curso e explicitadas nas ementas, nos objetivos e nas respectivas unidades de
ensino. Tais orientações priorizam o estudo da religião como fenômeno social e
antropológico com sua especificidade de linguagem. Apresenta-se o caráter
universal do fenômeno religioso, presente na busca humana pelo sentido da vida. A
institucionalização das experiências religiosas é concebida como construção
humana no intuito de formalizar os processos de experiências transcendentes.
Entretanto, a conclusão que se pode chegar quanto a esse assunto é que os
conteúdos confessionais são o ponto de partida para um diálogo mais profundo e
aberto com os alunos sobre o fenômeno religioso como um todo. Segundo um
docente, é impossível não ter uma ideologia, uma convicção, uma ideia de
referência pessoal que supõe uma opção pessoal de vida e de critérios de
comportamento. A proximidade com o catolicismo levou certo docente a procurar
aulas de Cultura Religiosa na PUC. Considera não ser católico por dar aulas de
Cultura Religiosa na PUC Minas, mas considera-se professor de Cultura Religiosa
41
na PUC Minas por ser católico. Esse professor considera que dentro da grande
diversidade de mediações católicas, afina-se com um catolicismo latino-americano
de libertação, de tradição de engajamento social e transformador. Opção religiosa
que deixa claro no primeiro dia de aula com os alunos e também deixa claro que não
existe neutralidade ideológica em ninguém. Tem sua fé, professa o Credo de uma
religião histórica, tem suas opções pessoais, deixa-as claramente definidas e aceita
outras mediações de alunos e colegas.
Neste momento, é importante explicar que, de acordo com Antoniazzi (1975,
p. 47) há duas principais concepções de confessionalidade que podem ser
concretizadas em uma Universidade Católica. Uma caracterizada pela justaposição
dos termos Universidade e Católica, no plano do conhecimento concebida segundo
a epistemologia positivista, e no plano da fé, que considera como pertencente a
outra ordem do conhecimento e, portanto, sem conflito com a ciência. Ainda nessa
primeira concepção, no plano do ensino ou extensão há disciplinas religiosas
(Iniciação à Teologia ou Cultura Religiosa), ao lado de disciplinas científicas e
técnicas. Nessa concepção de confessionalidade fica evidente que pouco importa o
tipo de Universidade efetivamente implantada. A catolicidade não é determinada por
ela, mas apenas se acrescenta.
Já a segunda concepção de confessionalidade é a chamada concepção
orgânica. Supõe uma determinada concepção da Universidade que se diferencia e
mesmo se opõe à concepção dominante. Seria a Universidade que se satisfaz em
praticar lealmente o método científico, deixando de lado todo problema do sentido
com disciplinas justapostas (podendo incluir a Teologia), em que há interação entre
as disciplinas, com questionamentos recíprocos sobre o sentido global da prática
científica. Nesse caso, a ciência sai da neutralidade e se confronta com outras
dimensões da cultura e sociedade em busca de um projeto que tenha sentido para o
homem. Apenas uma Universidade desse tipo pode ser organicamente católica
quando busca a dimensão da fé cristã.
Os docentes, em sua maioria, afirmam que a CR tem importância na
formação acadêmica, profissional e pessoal dos alunos. A disciplina favorece o
conhecimento dos conteúdos humanísticos presentes na estrutura teórica e prática
das diversas expressões religiosas do mundo. O conhecimento da diversidade de
opções religiosas e de suas fundamentações e contribuições para o processo de
humanização pode ajudar os alunos a assimilarem uma postura de tolerância e de
42
diálogo com as diversas manifestações religiosas presentes no mundo
contemporâneo. Da mesma forma, A CR desenvolve o pensamento crítico e
complexo, estimulando uma existência mais aberta e dialogal. É uma matéria de
formação geral básica. Trata de questões humanas, na sua dimensão antropológica,
social, espiritual, ética. É uma proposta ampla e basicamente humanista. Toda
formação acadêmica, humana, profissional necessita dessa vertente humanista. Não
adianta formar um engenheiro, é necessário formar um ser humano com capacidade
técnica que saiba relacionar-se bem com os outros e com a vida mesma, que pense
não somente a engenharia, mas também qual é o tipo de engenharia que se precisa
hoje e o tipo de engenheiro adequado ao momento em que se vive. A fim de refletir
sobre a realidade de cada ser humano, a CR sai do aspecto definido e parcial do
estudo concreto para pensar no global. A importância acadêmica e profissional da
matéria é fundamental por fazer referência direta ao ser humano.
Quanto à receptividade e expectativa com relação à CR que os professores
notam nos alunos, todos sem exceção explicaram que o primeiro contato,
geralmente em CR 1, é de rejeição e de incompreensão da matéria. Nas primeiras
aulas, um dos professores pesquisados disse que convida os alunos a partilharem
suas expectativas e curiosidades a respeito da disciplina. Percebe que a maioria dos
alunos não vê razões para o estudo da CR e que preferiria outra disciplina de caráter
mais pragmático. Por outro lado, após questionamentos e reflexões, possibilitados
nas primeiras aulas em que se apresentam a ementa e os objetivos da disciplina,
emerge nos alunos uma postura de maior acolhimento das propostas de estudo,
especialmente daqueles conteúdos relacionados com a diversidade cultural e
religiosa, como a importância do diálogo inter-religioso e do conhecimento dos
valores humanos presentes nas diversas expressões religiosas. É necessário muito
trabalho para explicar bem a proposta da disciplina, fazer sentir as carências
humanas que podem ser refletidas na universidade. A universidade não pode opor-
se ao universal. Ela não pode deixar de ser humana. Não pode deixar de refletir a
sociedade. Uma vez que a proposta fica bem entendida, há uma boa aceitação
pelas turmas, mas não chega a ser unânime.
Os alunos desejam o pragmatismo no curso que escolheram, entendem que
necessitam estudar as disciplinas metodológicas e não se importam com disciplinas
reflexivas, como é o caso de CR. Entretanto, as propostas de reflexão, silêncio e
análise devem ser bem vistas em uma sociedade que pensa que “tempo é dinheiro”
43
e que coloca seu critério de ação principal no EU. Para os professores há uma
preocupação maior com os cursos que são mais pragmáticos e menos reflexivos.
Questionou-se ainda se há adequação e ligação das temáticas trabalhadas na
CR às demais disciplinas dos cursos. É importante salientar que temas que
envolvem a religião são transversais. Em alguns cursos é mais fácil dialogar a CR
com as disciplinas específicas. As temáticas da CR podem discordar em relação às
temáticas técnicas de cada curso. Em Comunicação, por exemplo, pode ser que se
entre em conflito entre a defesa da verdade e o marketing; em Administração pode
ser que não se entenda bem a ideia do Bem Comum por cima do lucro da empresa,
ou a solidariedade versus o lucro empresarial. A adequação exige conhecer muito
bem o projeto pedagógico de cada curso e entrar nas propostas sociais e humanas
que, de fato, existem nas propostas curriculares, na missão da PUC e nos projetos
pedagógicos. Enfim, a ligação da CR com as temáticas dos cursos são feitas de um
modo mais privilegiado quando há a inserção da CR nos trabalhos interdisciplinares.
Registra-se ainda que os professores notam uma modificação da religiosidade
nos alunos após cursarem as disciplinas de CR. Há uma alteração na forma de
compreender a religiosidade e a religião. Há um novo interesse e uma nova forma
de enxergar a religião dentro da realidade. Há alunos que mudam atitudes de vida e
se tornam mais críticos. Os professores falam que há retornos animadores e
importantes. Não se dá com unanimidade, nem chega a ser maioria, mas se sabe
que a CR é bem aproveitada por uma minoria. De acordo com os docentes
pesquisados, o interessante é que há alunos que chegam a declarar diminuição na
sua intolerância e no seu preconceito em relação a outras expressões religiosas.
Avaliar constantemente os conteúdos e métodos da matéria foi a principal
sugestão citada pelos professores para melhor aproveitamento da CR. Sugeriu-se
também dialogar constantemente com os alunos, incorporar-se às atividades
pastorais e de extensão da PUC, montar material bem específico, bem como ter
mais tempo para poder dedicar tempo pessoal ao estudo e aos alunos. Além disso,
sugeriu-se a inserção ainda maior do professor em cada um dos cursos em que
leciona, a fim de que o mesmo se envolva nos projetos interdisciplinares e participe
das reuniões e fóruns de discussão e seminários.
Entrevistas também foram realizadas com o coordenador da disciplina de
Cultura Religiosa, bem como com o responsável pelo departamento onde a CR está
alocada. A disciplina já esteve alocada no Departamento de Teologia, mas
44
atualmente pertence ao Departamento de Ciências da Religião, Instituto de Filosofia
e Teologia Dom João Resende Costa.
As disciplinas de CR I e II são obrigatórias em todos os cursos da PUC Minas,
nos cursos presenciais e nos cursos de educação à distância. Os cursos de
Tecnologia têm uma carga horária menor (64 h/a) em razão de terem também uma
carga horária total reduzida.
De acordo com o coordenador, os programas das disciplinas estão em
sintonia com as diretrizes e normas da Universidade, uma vez que obedecem às
normas que regem as universidades e faculdades católicas. Normas de número 13,
expressas na Ex Corde Ecclesiae, que dizem:
13. Uma vez que o objectivo de uma Universidade católica é garantir em forma institucional uma presença cristã no mundo universitário perante os grandes problemas da sociedade e da cultura, ela deve possuir, enquanto católica, as seguintes características essenciais: 1. uma inspiração cristã não só dos indivíduos, mas também da Comunidade universitária enquanto tal; 2. uma reflexão incessante, à luz da fé católica, sobre o tesouro crescente do conhecimento humano, ao qual procura dar um contributo mediante as próprias investigações; 3. a fidelidade à mensagem cristã tal como é apresentada pela Igreja; 4. o empenho institucional ao serviço do povo de Deus e da família humana no seu itinerário rumo àquele objectivo transcendente que dá significado à vida. (1990, p. 4)
Cabe ressaltar que cada curso apresenta seu Projeto Pedagógico com sua
estrutura própria, atendendo às exigências do MEC quanto à carga horária, núcleos
gerais e específicos, tendo a liberdade de alocar as disciplinas de CR 1 e CR 2 de
acordo com esses critérios. A carga horária básica é CR I 64 h/a e CR II 32 h/a. Os
cursos de Tecnologia têm apenas 64 h/a como mencionado anteriormente. Sobre os
materiais didáticos, cada professor tem autonomia de utilizar data show, vídeos,
dinâmicas, visitas, debates, seminários etc. Sobre os horários em que as disciplinas
são ministradas, eles variam muito. Há grande concentração, hoje menor, na 6ª.
feira e sábado. Geralmente, as disciplinas são oferecidas nos primeiros períodos (2º.
ao 5º.), mas há muitas exceções.
A integração da CR com as demais disciplinas dos cursos depende de cada
curso, depende da gestão do período. Há coordenadores de curso que geram
grande articulação entre as disciplinas. Outros não se preocupam com isso. Não há
uniformidade nesse processo. Nas Unidades fora do Coração Eucarístico também
45
acontece maior articulação entre as disciplinas e as outras do curso; entre as
disciplinas e professores de CR e também a Pastoral.
Ainda de acordo com o coordenador da CR, que também é professor,
inicialmente, parte dos alunos tem alguma resistência com a disciplina. Entretanto,
nas avaliações de final de curso, a escolha de professores de CR como
homenageados e paraninfos demonstram que há boa receptividade e
aproveitamento na disciplina. Como um dos objetivos da Universidade Católica é
garantir em forma institucional os valores cristãos, pensando na aspiração da atual
sociedade brasileira por conhecimento crítico, humanístico e ético, a disciplina, as
ementas e a prática docente contemplam tal objetivo.
Em razão da especialização da sociedade, fruto da complexa divisão social
do trabalho, a maioria dos alunos não conhece quase nada de religião, nem sobre a
sua própria comunidade de fé. Há inúmeros preconceitos, ignorância sobre questões
fundamentais, como, por exemplo, critérios básicos de interpretação de um texto
sagrado. Nesse sentido, a CR propicia conhecimento acadêmico, crítico e pessoal
que qualifica o estudante para aprofundar seu sentido de vida para se relacionar e
atuar na sociedade, inclusive profissionalmente. Todos têm que conviver com
pessoas diferentes, com diferente concepção de vida e da religião. Conhecer e
aprofundar sobre os temas fundamentais da religião ajuda o aluno a ampliar seu
horizonte de vida.
3.2 Cultura Religiosa: dispositivo institucional – a multiplicidade de formas de
expressão em outras instituições católicas
Com o intuito de ampliar os horizontes de análise da investigação, uma
pesquisa de campo foi realizada em duas Universidades Católicas: a Pontifícia
Universidade Católica de Campinas e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
a fim de observar e conhecer outras realidades em que a CR é ministrada.
Embora a presente pesquisa seja sobre aspectos éticos e fenomenológicos
da Cultura Religiosa na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e ainda
que a mesma não se paute em dados estatísticos específicos, é relevante apontar
outros exemplos de instituições que trabalham com a CR a fim de observar se são
moldadas dentro de seus padrões religiosos.
46
A escolha da Pontifícia Universidade Católica de Campinas deve-se ao fato
de que nessa instituição a disciplina correspondente à Cultura Religiosa é a
disciplina de Antropologia Teológica. A escolha da PUC Campinas deve-se ainda ao
fato de a mesma possuir um Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
(CCHSA), em que a Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas faz parte.
Na PUC Campinas, a disciplina surgiu com o nome de Cultura Religiosa, de
1941 até meados de 1960. Depois recebeu o nome de Teologia, e a partir de 1978
aconteceu uma reflexão teológica, sendo que a CR (Teologia) passou a ser
chamada de Antropologia Teológica, que sofreu um processo de avaliação e
reestruturação desde 2004. No início, era uma disciplina a parte dos currículos, mas
Antoniazzi trouxe a ideia de inserção e autonomia com a ABESC. Reuniu-se um
conselho da Faculdade que se propôs ao objetivo de promover a avaliação das
disciplinas de AT, procurando detectar as dificuldades e os impasses frente aos
novos desafios que surgiram no ensino universitário nos últimos anos, a fim de
repensar a estrutura epistemológica, ou seja, os fundamentos, o valor, a
especificidade e os objetivos dessa disciplina no contexto da PUC Campinas.
AT é dividida em Antropologia Teológica A (pessoa), Antropologia Teológica B
(mundo) e Antropologia Teológica C (ética e ciência). Existem em todos os cursos da
Universidade. É uma determinação da Igreja Católica e existe pouca tendência de
diminuir a carga horária da disciplina. Há ainda uma determinação da Pró-reitoria em
colocar a AT no 1º, 2º, 3º ou 4º horário dos cursos. Aos sábados não há AT há 10
anos. É uma disciplina reflexiva, confessional, mas não catequética.
Todas as AT`s são pensadas como 3 momentos de uma reflexão sobre o ser
humano à luz da Teologia, denominado de ATA: Momento Antropológico, ATB:
Momento Teológico e ATC: Momento Ético. Os professores tentam ao máximo
mostrar a relação entre teologia e o curso, mostrar o porquê de se estudar a fim de
formar seres com valores humanos. Mostrar, por exemplo, que a dimensão religiosa
não pode ficar fora da formação acadêmica do aluno e que tudo que é
profundamente cristão é profundamente humano.
ATA é a reflexão que ressalta a realidade histórica em que o universitário está
inserido. Não partir do fenômeno religioso como algo dado, mas procurar mostrar
como o religioso se apresenta diluído nos diferentes segmentos da sociedade.
ATB é a reflexão que se propõe a interpretar a relação da realidade (abordada
em ATA) com o saber teológico, especialmente a partir da chave de leitura da fé
47
cristã, e também pensar quais alternativas o cristianismo pode oferecer à sociedade
considerando o ambiente e o saber científico de onde o curso é desenvolvido.
Consideram-se as contribuições de outras religiões e não se restringe a uma
abordagem confessional.
ATC é a reflexão e a proposta de um agir, enfatizando o diálogo com o saber
específico de cada ciência. Corresponde à contribuição da Universidade inspirada
em sua missão, para que o universitário compreenda o alcance histórico, ético e
cultural de suas ações na sociedade.
As ementas de cada AT são: ATA – a partir de conceitos teológicos, estimula
o aluno a problematizar e analisar criticamente a construção do ser humano na
complexa sociedade atual, de massa e de consumo, em que vive, e a cultura nela
produzida. ATB – com os conceitos fundamentados pela Antropologia Teológica,
reflete sobre a degradação da vida, do ser humano, da sociedade e da natureza e
aponta horizontes de defesa, promoção e afirmação da vida. ATC – fundamentada
na ética teológica e na perspectiva do diálogo com as diversas tradições religiosas, e
com as várias áreas do conhecimento humano, oferece ao aluno condições para a
elaboração de respostas aos desafios contemporâneos.
Na PUC Campinas, são 28 professores de Antropologia Teológica. É
aconselhado, de acordo com a entrevista realizada com o coordenador dessa
disciplina, que todos os professores de AT sejam formados em Teologia, que os
mesmos se envolvam em grupos de pesquisa e que se qualifiquem com uma pós-
graduação stricto sensu em Ciências Humanas e que ainda se envolvam com
projetos da Universidade, como Práticas de Formação e Cursos de extensão
interdisciplinares.
Em conversa com alguns professores de AT, eles reconhecem o desafio que
é ministrar a disciplina, mas praticamente todos os entrevistados consideram que a
mesma vem ganhando mais respeito. AT recebe muito apoio da reitoria. Cabe
salientar que a reitora é uma mulher, leiga, mas que se preocupa com um
compromisso cada vez maior da PUC Campinas, que é a formação humana.
Já a escolha da Pontifícia Universidade Católica do Paraná foi devido ao fato
de essa instituição ser uma das maiores Universidades privadas do Paraná, e antes
de ser Católica ou Marista, é uma organização humana. E, como tal, é basicamente
um conjunto de pessoas com objetivos comuns. Assim, a Instituição deixa de ser
uma mera abstração. Na prática, ela é um projeto comum, uma empreitada coletiva
48
de um grupo de pessoas. É uma instituição com 52 anos de história. A PUC Minas
tem 53 anos. Como existe uma proximidade entre o tempo de existência de cada
instituição e devido ao fato de o nome da disciplina Cultura Religiosa ser o mesmo
da PUC Minas, seria relevante fazer uma visita orientada a tal instituição. O intuito
foi observar os trabalhos em outra instituição católica para que servissem como
subsídio para a presente pesquisa.
Na PUC Paraná, alguns dados relevantes foram: há cerca de 40 anos foi
fundado o departamento de Teologia que criou a disciplina de Teologia I e Teologia
II, com 72 horas em todos os cursos da Universidade, com um enfoque praticamente
catequético. A maioria dos professores eram padres e passavam para os alunos os
fundamentos cristãos. Após uma reforma universitária, criou-se o eixo humanístico
que corresponde a 4 disciplinas: Filosofia, Ética, Processos do Conhecer e Cultura
Religiosa, com conteúdo acadêmico, que agrega valor à formação do aluno. Ponto
positivo, já que a disciplina passa a fazer parte de um eixo maior, institucional. O
ponto negativo é que antes, como Teologia, a disciplina tinha 72 horas, e agora a
Cultura Religiosa tem apenas 36 horas. A Cultura Religiosa, nessa instituição, é
alocada no departamento de Teologia.
Há um coordenador do eixo e há um coordenador do departamento. Essa
divisão é nova, mas é para mais uma vez provar o valor acadêmico da Cultura
Religiosa na Universidade. Foi relatado, por exemplo, que o curso de Engenharia
Química acha que a Cultura Religiosa atrapalha a formação do aluno. Prefeririam
colocar uma disciplina técnica no lugar da CR, e se o coordenador de curso não
entende o porquê da CR, os alunos também não entendem. Um coordenador de
curso que não entende o real valor da CR aloca a disciplina nos piores horários e
dias. Entretanto, percebe-se nessa instituição uma preocupação constante dos
professores em adequar a CR ao curso em que trabalham. Preocupação que não
parece vir da reitoria. O reitor é um administrador, leigo e talvez não compreenda a
importância da CR. Há uma insistência do departamento de Teologia, no qual a CR
está alocada, em provar a academicidade da disciplina.
Para exemplificar sobre como um professor de CR trabalha suas temáticas na
PUC PR, no curso de Letras a temática da religião e literatura é aproximada,
tentando-se, por exemplo, cogitar a questão do sagrado na obra de Raquel Prado,
Carlos Drumond de Andrade e Castro Alves. No curso de Jornalismo, trabalham-se
as questões atuais da sociedade, comportamentos éticos, crise palestina dos
49
judeus, o porquê de uma emissora de TV só ter um repórter em um país em crise. A
explicação seria o fato de esse repórter ser uma pessoa que entende a cultura
daqueles dois povos, porque sabe o que perguntar e como perguntar. No curso de
Administração, busca-se entender como impera o neoliberalismo; temas de Paulo
Freire, Leonardo Boff devem ser levados para mostrar um outro mundo que não é
apenas o do dinheiro. Questões de ecologia também são abordadas em todos os
cursos e em todas as disciplinas do eixo.
A aceitação dos alunos depende muito de como o coordenador do curso
conduz e depende também do professor de CR. Alguns se dão muito bem na área
de exatas e não se dão bem na área de biológicas. Há uma ementa geral: cultura
religiosa e os fundamentos antropológicos do fenômeno religioso. A abertura ao
transcendente e a relação com o sagrado, na história, nas diversas culturas e no agir
pessoal e social. As aptidões são: compreender que a religiosidade é um dos
caminhos de busca da verdade; analisar a significação das ações humanas à luz do
fenômeno religioso; respeitar as diferentes manifestações religiosas, enfatizando o
espírito pluralista e o questionamento dos preconceitos; reconhecer a contribuição
das manifestações religiosas no subsídio das culturas e sociedades; assim como
identificar nas tradições religiosas os processos de autoconhecimento geradores de
emancipação e solidariedade humanas.
As aulas são expositivas, com discussões em grupo, debates em sala de
aula, pesquisas bibliográficas, trabalhos individuais e em equipe, leitura de textos
complementares. Os temas de estudo são: fundamentos antropológicos do
Fenômeno Religioso e as respostas norteadoras dadas pelas Tradições Religiosas:
para o sentido da vida; para o sentido das relações; para a morte.
O Fenômeno Religioso na atual crise da modernidade mostra que a religião
busca sentido último; busca a dimensão social da Religião; busca a relação entre
religião e ciência; religião e política; religião e ética.
Apesar da dificuldade de manter a CR na Universidade, há material didático
produzido pelos próprios professores. Livros que são utilizados em suas aulas.
Esses professores são todos formados em Teologia. O reitor, a fim de compreender
melhor o trabalho com a CR, promoveu um evento chamado PUC – Identidade,
explicando o que são as quatro disciplinas do eixo. Chamou todos os professores do
eixo, coordenadores de curso e explicou que essas disciplinas levam a identidade da
PUC aos alunos. Foi um trabalho de formação sobre qual a importância dos
50
mesmos, para mostrar que a CR não é apenas um agregado às disciplinas técnicas
dos cursos. O intuito foi demonstrar que a essência da PUC PR é orientada por
princípios que estão na missão da Instituição e a CR é uma disciplina que dá
identidade à Universidade.
A partir de análise das conversas com professores nessas outras
Universidades, percebem-se algumas conclusões preliminares. Um projeto
realmente eficaz depende não apenas da boa vontade dos professores em questão,
mas de uma vontade política da Instituição que tenha a consciência de reposicionar
as disciplinas em bom contexto da Universidade. Além disso, evidenciar que a
reflexão da CR ou disciplina equivalente, no diálogo com as outras ciências, pode
enriquecer o conhecimento científico, o que é próprio de toda Universidade e
particularmente de uma Universidade Católica.
51
4 O DESVENDAR DA “CULTURA RELIGIOSA”
A Universidade Católica não pode formar o ser humano apenas para o mercado
de trabalho. É preciso formar a pessoa humana e o profissional. O diálogo com as
ciências contemporâneas é o principal desafio que se apresenta. É preciso, portanto,
que professores se empenhem para alcançar qualidade nesse diálogo sem, contudo,
perder o foco de evidenciar o caráter humanizador, público e dialógico, que é o
propósito da CR.
As experiências positivas em torno da disciplina não se encontram isoladas,
com pouca relevância, desarticuladas dos Projetos Pedagógicos dos cursos, em que
cada professor tenta sobreviver segundo experiências pessoais. A fim de viabilizar o
trabalho com a CR, algumas perspectivas analisam e confrontam os pressupostos
teóricos e ideológicos de temas que podem ser trabalhados em CR.
Essa disciplina tem historicamente caráter polêmico nos currículos da PUC
Minas, sendo que a história não se apresenta tão óbvia como pode parecer à
primeira vista, ela dialoga com as culturas e contribui para seu aperfeiçoamento. O
estudo acadêmico das religiões é de grande importância para o contexto intelectual
e social da humanidade.
A perspectiva fenomenológica para se trabalhar com a CR é a que mais
caracteriza um cientista da religião. Trata-se de uma abordagem integral que
associa sabedorias de grandes tradições religiosas, princípios culturais, científicos
modernos e pós-modernos, além de buscar um lugar para a religião em conexão
com uma ciência transdisciplinar. É apresentada como possibilidade de
fundamentação do religioso assim como método para a compreensão das formas da
religião. Além disso, o aspecto da cidadania revelado cotidianamente no interior da
PUC Minas é trabalhado de acordo com os professores entrevistados quando os
mesmos mostram aos alunos que devem ter realizadas suas necessidades pessoais
e profissionais, bem como expressar opiniões próprias e respeitar os direitos do
próximo.
A CR preocupa-se em mostrar que a religião deseja manter a harmonia da
vida, legitimando as situações marginais, tornando-as sagradas e aceitas pelo
universo. Assim, o indivíduo continua a existir na sociedade, no seu “antigo mundo”,
sabendo que seus questionamentos têm sentido e significado para si e para os
outros.
52
Além disso, a CR em uma perspectiva ética busca disponibilizar
esclarecimentos sobre o direito à diferença, valorizando a diversidade cultural
religiosa presente na sociedade, no constante propósito ético de promoção dos
direitos humanos. Essa emergência é considerada a mais importante, de acordo
com dados desta pesquisa, no sentido de discutir a sua aplicabilidade. Os dois
pontos observados de acordo com essa perspectiva ética dentro da PUC Minas
foram: 1) a preocupação que professores de CR têm no processo de formação dos
seus alunos, já que em algumas profissões existem profissionais sem
comprometimento com o interesse de seus clientes; e 2) a observância, durante as
perguntas realizadas com os professores, aos direitos dos outros, a preocupação em
se trabalhar o respeito mútuo.
Já em uma perspectiva do diálogo, a verdade não pode ser compreendida
como absoluta. Ela não pode pertencer a uma cultura ou religião, mas pode sim ser
revelada no encontro entre as várias culturas e religiões que poderão descobrir uma
verdade até então nunca percebida. O professor de CR compreende o diálogo e a
capacidade de escutar e entender o outro como atitude indispensável de convivência
na diversidade cultural e religiosa. É proposto aos alunos de CR que façam uma
visita técnica em outros grupos religiosos, diferentes do seu. Neste momento a CR é
vista como lugar de diálogo.
Nos capítulos anteriores, procurou-se definir a identidade de uma
Universidade Católica, bem como perceber como se deu o surgimento da PUC
Minas para daí partir para a caracterização da disciplina Cultura Religiosa e o perfil
dos docentes que ministram as aulas de Cultura Religiosa.
Neste momento específico, após a análise do grupo focal e entrevistas
realizadas com professores e coordenadores de CR na PUC Minas, dá-se uma
ênfase a três perspectivas citadas pelos professores ao trabalhar com a disciplina,
escolhidas por serem determinantes neste campo de conhecimento reflexivo. Este
capítulo abordará, primeiramente, portanto, cada uma destas três perspectivas:
fenomenológica, ética e do diálogo, para finalmente chegar ao tópos privilegiado do
diálogo inter-religioso.
53
4.1 Emergência fenomenológica
Sabe-se que a fenomenologia surgiu como uma reação ao idealismo, ao
positivismo e ao psicologismo vigentes no final do século XIX e que seus principais
teóricos são Edmund Husserl, Martin Heidegger, Merleau-Ponty, Alfred Schultz e
Sartre.
A fenomenologia significa deixar ver por si mesmo aquilo que se manifesta e
como se manifesta no interior de um mundo (cf. HEIDEGGER, 1976). Assim, a
fenomenologia se propõe descrever o fenômeno, voltando-se para as coisas como
elas se manifestam. Busca compreender o ser humano e se volta para experiências
vividas, cujo pano de fundo é o mundo.
Não basta ter somente a concepção do que é fenomenologia, é também
importante a compreensão concretizada dos aspectos fenomenológicos. Nesta
pesquisa, esses aspectos vieram à tona na análise dos Planos de Ensino, nas
entrevistas e no grupo focal realizado na PUC Minas, além, é claro, da vivência
intramundana em outras PUC’s.
A fenomenologia tem por ideia fundamental, básica, a intencionalidade da
consciência, entendida como a direção da consciência para compreender o mundo,
e mediante a intencionalidade da consciência todos os atos, gestos, hábitos e
qualquer ação humana têm um significado. Ao pesquisador não cabe formular
hipóteses sobre o que busca, mas procurar ver o fenômeno tal como ele se mostra
em termos de significados relacionais.
A trajetória metodológica é constituída de três partes: descrição
fenomenológica (momento resultante da relação dos sujeitos pesquisados com o
pesquisador), a redução fenomenológica (momento em que são captadas as partes
da descrição que são consideradas essenciais e aquelas que não o são, por meio da
variação imaginativa) e compreensão fenomenológica (trata-se de interpretar o que
foi descrito, de descobrir o sentido da existência).
No ensaio “Memória: Fenomenologia e experiência religiosa”, de Antônio
Gonçalves Mendonça, publicado no livro Teologia e ciências da religião: a caminho
da maioridade acadêmica no Brasil, Mendonça explica que a fenomenologia é
apresentada como possibilidade de fundamentação do religioso, assim como
método para a compreensão das formas da religião. O autor ao analisar a
experiência religiosa com o método fenomenológico constata que este estudo
54
fenomenológico da experiência religiosa pode ajudar a diferenciar o que é emoção
do que é a experiência do sagrado. Ele esclarece ainda que é importante buscar nas
formas religiosas o sentido de suas estruturas essenciais.
Pela entrevista2 com os professores de CR, sobretudo CR I, a fim de formar
um aluno consciente, crítico, participante e responsável, a CR trabalha no mistério
da abertura à transcendência, que se manifesta nos sinais do sagrado presentes na
diversidade cultural e religiosa. Cabe ressaltar que a CR, longe de excluir ou
desprezar qualquer experiência religiosa, valoriza os diferentes conhecimentos
presentes em sala de aula, além das vivências e modos de crer de cada um. Leva-
se em consideração que algumas experiências são difíceis de analisar. Entretanto,
mesmo existindo experiências difíceis de analisar, educar para o fenômeno religioso
é apenas o pano de fundo para mostrar que cultivar na Universidade a convivência
com a diversidade é um dos principais objetivos da CR
Diante disso, percebe-se que dos professores entrevistados, 3% prefere
trabalhar com a perspectiva fenomenológica, uma vez que a religiosidade está cada
vez mais presente na vida das pessoas. A busca pelo sagrado é latente, e percebe-
se que durante as aulas de CR o método fenomenológico para explicar a busca pelo
sagrado é utilizado, uma vez que pode ser capaz de fazer o aluno compreender a
religiosidade de qualquer pessoa.
A CR como perspectiva fenomenológica busca suspender conceitos e
explicações a respeito da religiosidade para ser capaz de compreender a
religiosidade dos alunos. Essa perspectiva parece a mais indicada para falar de
temáticas religiosas, uma vez que a religiosidade, para maioria das pessoas,
pressupõe uma instituição religiosa, composta por dogmas que devem ser acatados
sem que sejam abertos à discussão, o que não é o objetivo da CR.
A CR se destaca por não se aprofundar nas crenças religiosas de seus
alunos, realçando e compondo uma visão de mundo. Ela não se interessa em saber
se o aluno está pensando e fazendo coisas coerentes com sua religião, mas
possibilita que os questionamentos de seus alunos em relação à religião possam ser
relatados, pois talvez este seja o único espaço em que o aluno tenha essa liberdade
Tal aspecto foi revelado tanto na análise dos planos de ensino dos cursos de
Pedagogia, Letras, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica, História, Teologia,
2 20% dos professores de CR da PUC Minas participaram da entrevista e relataram que a perspectiva
que mais trabalham durante as aulas de CR é a perspectiva ética.
55
Psicologia, Biologia e Administração, quanto na entrevista com os 20% de
professores de CR.
O trabalho com o tema da liberdade, por exemplo, é feito ao se questionar
aos alunos o motivo pelo qual mudam de tradição religiosa. Em uma conclusão
sucinta, esse exercício de liberdade de escolha que constrói uma história está
abaixo dos dogmas e doutrinas que servem de apoio para sua fé. Outro aspecto
relevante que a CR trabalha é a condição de mutabilidade que as pessoas têm.
Cada etapa da vida pode ser reformulada no entendimento do sagrado e na relação
que estabelece com ele, visto que no conhecimento religioso há várias
interpretações e vivências. Em cada etapa da vida, uma pessoa pode reformular
uma imagem de sagrado, esquecer outras e dar novos sentidos ao sagrado, sendo
que o consentimento absoluto do que é divino é um processo complexo.
Rubem Alves (1981, p. 121) diz que a religião fala sobre o sentido da vida,
vem de encontro com a existência e afirma que vale a pena viver. Desse modo, a
religião se mostra fundamental para os seres humanos e todas as formas de
manifestação, e nesse sentido visam o bem do ser humano e buscam a paz
espiritual. A busca do sagrado através da religião deve conduzir à paz e à felicidade.
Eis a razão para o fascínio pela religião. Nessa perspectiva, foi interessante
constatar que na pesquisa do instituto LUMEN a maioria dos participantes associa o
princípio da religiosidade a um sentimento individual, sendo que a grande maioria
dos alunos entrevistados nessa mesma pesquisa expressa dificuldade em definir ou
discutir religião. (LUMEN, 2000, p. 22)
Já a ciência coloca as pessoas em um mundo mecânico e conciso, vazio de
sentidos humanos. O professor de CR leva o aluno a pensar a sua vida, pensar o
sentido da existência e se ele está de encontro a esse sentido. O desejo pelo
sagrado é um imperativo humano, pois busca a compreensão do sentido da vida. O
professor de CR mostra que o aluno não pode estar preparado apenas para o
mercado de trabalho. A sua formação deve ser integral, e entender aspectos
religiosos, entender a diversidade que se encontra pelo mundo é fundamental.
A experiência religiosa aceita a possibilidade de uma transformação da
consciência, na medida em que os valores envolvidos nela são constantemente
submetidos à revisão com significação coletiva, única e pessoal.
Assim, para falar em experiência religiosa em uma perspectiva
fenomenológica é preciso que essa experiência se estabeleça em cada aluno; e não
56
é uma instituição, nem um professor que levará essa experiência adiante em seu
sentido mais íntimo, através de repetição dogmática de atos.
Outro aspecto importante observado na pesquisa do instituto LUMEN é que
ao aluno cabe o questionamento, reflexões sobre a religiosidade que leva ao
crescimento, para que a religião não seja uma forma de insanidade do ser, mas que
seja sinônimo de crescimento. Os alunos questionam, por exemplo, que disciplinas
humanísticas não possuem função prática para sua profissão e são desnecessárias.
Já o professor de CR defende a importância incontestável da CR como parte
indispensável de uma formação integral que possibilite o exercício da reflexão e que
melhore o relacionamento interpessoal dos alunos.
O professor de CR, por exemplo, já no início do curso, compreende que o
sagrado faz parte da vida de seu aluno. Faz com que o mesmo se aproxime de seu
sentido de vida em uma religião ou fora dela e a partir daí desenvolve a temática
sobre os vários sentidos da vida.
A partir de um conceito mais amplo de vida, o professor faz com que o aluno
compreenda o que significa o sentido da vida e discute sobre a crise de sentido que
a sociedade habita. Passa pelo conceito biológico de vida, o espaço de tempo que
vai do nascimento até a morte, um determinado período da vida, uma biografia, um
modo de viver, uma força entre outros conceitos.
O intuito é mostrar que a vida é mais complexa do que o desenvolvimento
celular e que para caracterizá-la é preciso considerar as várias definições que se
completam e interdependem. A partir dos conceitos, passa para a tentativa em
responder o que se entende por sentido da vida, questionamento que o ser humano
vem tentando responder ao longo da história.
Afirma-se que é um conceito difícil de se definir, já que cada ser humano dá
um sentido diferente para a vida. Esse conceito pode ser baseado em referências
como religião, filosofia, ciência, família. O que de fato chama a atenção é a busca
incessante pelo sentido da vida, mostrando como o ser humano é um ser de
relacionamentos e que, de alguma maneira, o ser humano, em certo momento de
sua vida, procurará por esse sentido para responder a alguma questão existencial.
A atual pesquisa revelou ainda que a maioria dos professores de CR segue
tentando extrair dos alunos se existe uma finalidade para a vida, utilizando como
exemplo a própria Universidade. Há alunos que quando entram na Universidade têm
57
por finalidade apenas concluir o curso superior, não acompanhado de sentido.
Finalidade que nem sempre é alcançada por faltar algo que os motiva e os leva a
realizar algo. Por isso, é necessário ter finalidades bem definidas, sem perder de
vista o sentido do todo, senão se corre o risco de não atingir a finalidade desejada,
mesmo conhecendo-a.
Definir sentido ou finalidade de vida não é algo fácil. É preciso muita reflexão
sobre a vida e sobre o que se quer dela, o que demanda tempo. Isso se refere a um
investimento e é sempre individual, particular. Cada indivíduo é responsável para dar
sentido à vida, e na CR o aluno é convidado a refletir sobre que tipo de vida vive e
que tipo de vida quer viver. De acordo com Sérgio Barbosa Rodrigues,
Em última análise, a sociedade apresenta-se cada vez mais individualista e menos preocupada com o próximo. Espero que possamos construir o sentido de nossas vidas de uma maneira mais humana, que as sociedades sejam mais humanizadas, e os indivíduos genuinamente preocupados com os que mais necessitam de ajuda. (2010, p. 46)
Notadamente, percebe-se que cada um defronta-se com a necessidade de
reflexão, e mesmo as pessoas com sentido de vida bem definido terão problemas ao
enfrentar as questões como a de consumo, que a sociedade atual atravessa. A
intenção do professor de CR neste momento é de provocar um ponto de
interrogação que acende condições de avançar em outras questões.
Outra questão trabalhada nessa perspectiva fenomenológica é a expressão
da experiência religiosa, que desde criança é apresentada graças à influência dos
pais e da família. A experiência de abertura exige resposta e desperta no ser
humano a consciência de que não é satisfatória a compreensão da existência.
Em CR, é possível que o aluno reflita a possibilidade de uma experiência
religiosa no mundo contemporâneo nas várias modalidades de abertura do ser
humano para o sagrado que se manifesta na própria realidade humana. A
compreensão da experiência religiosa como abertura a algo superior pode dá
sentido à existência humana.
A Universidade pretende mostrar que não só a experiência empírica,
quantificável, é importante para o aluno e sim levar a reflexão sobre o
Transcendente, sobre a religiosidade, sobre o mistério e a plenitude da existência.
Dando aporte a isso, o desafio da dimensão religiosa do ser humano passa a ser
respondida gerando “bem-estar” para todos.
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As aulas de CR mostram aos alunos que há experiências religiosas que
podem ser extremistas, consumistas, esotéricas, que passam pelo mundo das
drogas, que possuem violência e que essas experiências levantam o
questionamento sobre como ficam o papel das igrejas históricas, das religiões
histórico-proféticas que já não conseguem mais situar o ser-humano dentro da
transcendência.
O indivíduo necessita de transcendência libertadora. Se as religiões não
cumprem sua função, buscam-se outros lugares e outros modos de se dar respostas
para a ânsia da vida. Como pano de fundo a CR percorre caminhos em toda a
Universidade, sem perder o que lhe é próprio. Ela é de grande ajuda na obtenção de
respostas que favoreçam as relações humanas, que fortaleçam a dignidade
humana, que mostrem um sentido transcendente para a vida humana.
São questões que quando trabalhadas dentro da Universidade, de maneira
acadêmica, mostram compromisso de levar o conhecimento produzido para a
comunidade.
4.2 Emergência ética
Ao se sugerir uma definição de ética que não pretende ser unívoca,
apresenta-se um conceito em sua razoabilidade, que é uma reflexão filosófica sobre
os princípios que orientam e fundamentam as ações morais. Aristóteles foi quem
primeiro classificou a ética como disciplina filosófica, esclarecendo que os
conhecimentos podem ser divididos em teóricos ou científicos, poiéticos e práticos.
Conhecimentos científicos investigam as coisas e suas causas, preocupam-se
com o mundo. Os conhecimentos poiéticos e práticos pertencem à classe variável,
dizem respeito a coisas produzidas quando praticadas.
Ao definir ética deve-se levar em consideração que a mesma se relaciona a
princípios que fundamentam as ações morais. Princípios que se distanciam de
códigos absolutos que preceituam condutas incondicionalmente. Princípios éticos
são universalizáveis, já que devem valer para todos. Entretanto, essa validade é
determinada em função do caráter histórico-social do ser humano.
Conclui-se que há princípios éticos que norteiam, explanam, fundamentam e
questionam códigos morais, e em uma sociedade de caráter pluralista, onde regras
59
e princípios culturais são bem diferentes, é preciso transcender esses princípios
quando se trata da ética.
A grande constatação é que ao se olhar o quadro mundial dos dias de hoje, é
possível afirmar que existem conflitos em número equivalente ao das religiões e
pontos de vista religiosos diferentes. O fato de que a religião possa ter precedido
qualquer código legal formal, ou sistema moral separado, na história da raça
humana, ou porque possa ter fornecido sanções poderosas e efetivas, para um
comportamento moral, não prova de modo algum que a moralidade deva ter,
necessariamente, uma base religiosa. Por várias razões a moralidade não necessita
e de fato não deve ser baseada somente na religião.
A religião visa dar sentido transcendente à vida e à ação humana. Procura
religar o ser humano à sua origem e encaminhá-lo ao seu fim, a comunhão com o
divino. A teologia, reflexão sobre a fé de um povo, atenta para a adequada
interpretação do corpo doutrinário e das normas morais da religião e ainda ajuda a
prevenir os perigos que envolvem as leituras ambíguas a respeito da fé e da conduta
contrárias às normas vinculadas pelas instituições religiosas.
Repetidas vezes, a reflexão sobre as verdades da fé está acompanhada da
moral, encarregada de normatizar a respeito das atitudes e condutas
correspondentes. A ética é uma disciplina filosófica. Considera princípios e valores
que orientam escolhas e condutas morais da coletividade.
O éthos para o consenso mínimo já está presente nas diferentes tradições
religiosas. Hans Küng percebe que, apesar de diferenças no seu sistema de dogmas
e símbolos, as tradições religiosas apresentam seis perspectivas éticas comuns:
a. O bem-estar das pessoas. As religiões apontam para a vida concreta das pessoas, a integridade, a liberdade, a solidariedade, fundamentando religiosamente os direitos humanos. b. As máximas elementares da humanidade. Coloca cinco grandes mandamentos da humanidade válidos em todas as grandes religiões mundiais: não matar, não mentir, não roubar, não praticar imoralidade e respeitar pai e mãe e amar filhos e filhas. c. O sensato caminho do meio. A busca do equilíbrio entre o libertinismo e o legalismo. d. A regra áurea: não faças ao outro o que tu não queres que te façam. e. Motivações éticas. Ir além das normas e oferecer e fazer realidade uma nova postura e estilo de vida. f. Horizonte de sentido e determinação de objetivos. Oferta de sentido que vai além da frustração e da morte. (KÜNG, 1988, p. 84-90)
É importante destacar neste momento que, nessa perspectiva ética, a
intenção é mostrar a ética prática e não apenas filosófica. É entender como o
60
professor de CR trabalha, por exemplo, questões ético-profissionais em cada curso
que contribuam para a formação plena daquele aluno de engenharia, enfermagem,
licenciatura, administração, etc.
Cabe salientar ainda que de acordo com a análise dos planos de ensino3,
grupo focal entre professores, entrevista com professores e entrevista com
coordenadores, a maior parte dos dados obtidos segue uma mesma linha de
pensamento, o que contribui para a análise. Entretanto, a maneira como cada
professor desenvolve a sua temática em sala de aula é muito particular. Ou seja,
concluir que todos trabalham da mesma maneira é praticamente impossível. Um
bom desempenho depende muito do professor de CR, em qual curso ele está
trabalhando e qual tema.
Tendo listado até aqui alguns dos critérios que levam a um bom resultado no
trabalho com a CR, percebe-se que cerca de 80% dos professores de CR preferem
trabalhar com a perspectiva ética. Estes professores buscam, pela ação moral, a
procura pelo bem maior ao qual estão dependentes outros bens. Esse bem maior é
o bem-viver, que significa atuar de maneira racional. Mostra aos alunos como
compreender que a religião, ao valorizar a dignidade e o respeito à consciência,
opera como um dos interesses que mais ocorrem no ser ético que caracteriza uma
das dimensões fundamentais do humano. É mostrar a um biólogo, por exemplo, o
valor que a religião tem no mundo e que ele não pode sair da Universidade alheio às
guerras religiosas que acontecem a todo momento.
Pode-se falar neste momento em Tomás de Aquino, que segue Aristóteles
mostrando que o bem é aquilo para o qual as coisas tendem. Segundo Tomás de
Aquino, para tudo aquilo a que o ser humano possui uma inclinação natural,
entende-se pela razão como fim da conduta. Já Rousseau e Kant relacionam a ética
ao conceito de autonomia, básico para a noção de sujeito observável nos sistemas
éticos norteados pelo conceito de dever. A autonomia é condição para a realização
de uma ética laica.4
Em se tratando de termos éticos e morais, quando o homem se pergunta
como deve agir, não pode mais satisfazer-se com a resposta que manda agir de
acordo com a natureza, mas deve adotar uma nova posição que manda agir de
3 Todos os Planos de Ensino pesquisados mantêm uma mesma ementa de CR I e CR 2. A maioria
dos professores adapta a ementa à realidade do curso. 4 As ideias de Tomás de Aquino, Rousseau e Kant encontram-se comentadas no livro de ensaios
organizado por Cesar Candiotto, Ética: abordagens e perspectivas (2011).
61
acordo com a vontade do Deus pessoal. Para que isso seja viável, é preciso
conhecer a vontade desse Deus pessoal, e a filosofia tem necessidade de uma
ajuda fora dela: os homens procuram a revelação de Deus, que não é uma
exposição teórica e sim uma orientação voltada para a educação e aperfeiçoamento
do homem.
A CR leva os alunos a refletirem sobre várias perspectivas que ignoram a
liberdade humana como sendo uma ilusão5. Mostra ainda uma concepção
racionalista que procura deduzir da natureza humana as formas corretas da ação
moral. Concepção de linha Kantiana que universaliza a ação moral de modo que os
princípios que uma pessoa segue sirvam para todos.
Pode ser notado nessa perspectiva o utilitarismo, ou seja, bem é o que traz
vantagens para muitos. Tendência pragmatista que apela para resultados práticos e
imediatos. Além disso, nessa tendência pragmatista há um esquecer-se de si,
esquecer-se que se é sujeito existente, que se tem que decidir eticamente sobre
suas ações e que não se pode passar a vida toda estudando a linguagem ética, sem
viver a ética.
O pensamento ético que as pessoas conhecem geralmente está ligado à
religião, à interpretação da bíblia e à teologia. Por um lado há uma busca de uma
ética laica, racional, baseada em uma estrutura transcendente da subjetividade
humana, e por outro há novas formas de síntese entre o pensamento ético-filosófico
e a doutrina da Revelação.
O homem se revela como ser da possibilidade: possibilidade determinada por
sua alteridade possível. O homem sabe que é levado a decidir-se não só em relação
a seu mundo, se ele o deixa como está ou se adapta a ele ou se transforma. Há uma
exigência ética de mudança de paradigmas nas sociedades contemporâneas.
Ao trabalhar com essa perspectiva, o professor de CR articula a vida comum
do aluno, que não é só capaz de confrontar-se com as crises da sociedade, mas,
sobretudo, abre alternativas para a construção de novas considerações, tornando-se
processo de produção autônomo e construindo a sociabilidade de ideias a partir de
um novo fundamento: reconhecimento do ser pessoal.
5 Através das entrevistas aos professores de CR, percebe-se que os temas trabalhados na CR são:
cultura, religião e sociedade; religião, religiosidade e espiritualidade; ecumenismo, diálogo inter-religioso e pluralismo religioso, o sentido da vida, tradições religiosas; religião e ciência, ética e religião; temas da bioética.
62
Alguns aspectos éticos observados ora nos planos de ensino de CR, ora na
conversa com os professores são:
- a CR abre espaço para desenvolver pensamentos, teorias e discussões
sobre a conduta ética do ser humano na vida profissional, tema indispensável na
percepção do ideal comportamental pelos alunos. Nestes debates, a CR sensibiliza
os alunos para a dimensão religiosa, para os valores éticos, gerando uma
consciência de compromisso com a Universidade, com a profissão e com a família.
- a CR desperta a consciência crítica do aluno para uma atuação profissional
ética, levando em consideração a cultura da diferença que existe no mundo.
Sensibiliza o aluno para o respeito ao outro, valorizando a capacidade de lidar com
conflitos, com realidades diferentes da dele.
- a CR segue com rigor o que a identidade, a missão e os valores prescritos
no PDI quando trabalha com os alunos a promoção da dignidade da pessoa
humana. Mostra aos alunos, por exemplo, que todos na Universidade – professores,
funcionários, colegas – devem ser respeitados nas suas diferenças. A CR trabalha a
afirmação da ética e da solidariedade promovendo o desenvolvimento humano e
social, contribuindo para a formação ética e solidária de profissionais competentes.
- outro aspecto ético relevante é o de formação para o respeito quando a CR
trabalha os valores de igualdade (de valor dos seres humanos e garantia de
igualdade de direitos entre eles), liberdade (de criação, de expressão do
pensamento e de produção de conhecimento), de autonomia (capacidade de
formular leis em liberdade e se reger por elas), de pluralidade (expressão da
igualdade e diferença entre os homens, iguais porque humanos e diferentes porque
singulares), de solidariedade (adesão à causa do outro, fundada no respeito mútuo),
de justiça (orientada pela igualdade de direitos e pelo respeito às diferenças). São
valores que pressupõem o desenvolvimento da responsabilidade ética consigo
mesmo e com seus semelhantes, pressupõem o acolhimento e o respeito às
diversidades, além do cuidado com a vida na Terra.
Entre os vários aspectos trabalhados pela CR, além dos já citados acima há
ainda o pluralismo e diálogo, o relativismo, a cultura da solidariedade e a abertura ao
Transcendente – todos esses exemplos citados pelos professores durante as
entrevistas e percebidos nas ementas das disciplinas.
Falar em ética significa falar em liberdade. Apesar de a ética lembrar normas
e responsabilidade, não faz sentido falar em norma e responsabilidade se não se
63
considerar que o homem é realmente livre ou que pode ser livre. Segundo Lima Vaz
(1988), ética é utilizada para designar o comportamento que resulta de um constante
repetir-se dos mesmos atos, através do qual só têm um valor moral os atos que
denotam um esforço pessoal do agente em fazer o que tem de ser feito, opondo-se
à sua vontade natural que teima em não fazê-lo. São aspectos que a CR traz para
dentro da sala de aula.
Ainda segundo Lima Vaz (1988), a ética transcende a simples descrição ou
registro de dados. Ela almeja à racionalidade e à objetividade mais completa,
proporcionando conhecimentos sistemáticos e, na medida do possível,
comprováveis, através de um diálogo constante com as outras ciências, inclusive a
Teologia.
Com relação ao mundo tão individualista, o trabalho que se faz em uma
perspectiva ética é o de explicitar que o homem contemporâneo anseia por uma vida
melhor aqui e agora, e às vezes o discurso religioso aponta para uma vida que virá
depois. Ninguém quer viver sofrendo, com dificuldades, o tempo todo. A busca pela
realização pessoal, pela felicidade é algo que todos procuram, e buscar levar uma
vida moral é uma das maneiras de ser feliz neste mundo.
Mas nem sempre as pessoas alcançam a felicidade de maneira ética, isso vai
contra a moral e pode-se dizer também contra os ensinamentos da religião, pois o
próprio evangelho não cita bem aventurados os espertos, bem aventurados os que
enganam, etc.
A norma diz como se deve agir, e, se o condicionamento ou determinismo é
imposto, a resposta é mecânica e automática. Quando as doutrinas éticas se
articulam no determinismo não há ética, uma vez que a mesma se refere às ações
humanas. Se elas forem determinadas de fora para dentro, não há espaço para a
liberdade, como autodeterminação e logicamente não há espaço para a ética.
Cabe ao aluno entender que, sem a dimensão ética que exige uma resposta à
sua liberdade, o indivíduo não transpõe a verdade profunda de si mesmo e isto
implica crescimento. Como outro exemplo, toma-se o tema do bem e do mal para
trabalhar nas aulas de CR.
A tendência é fazer o bem e evitar o mal. Quando se conhece o bem, o
desejo geralmente é de praticá-lo e disso emana a aversão contra o mal. Isso tudo
muito genericamente, já que a consciência moral é formada pela cultura, pela
reflexão pessoal e pela própria experiência moral. Depara-se então com um
64
problema da formação moral: se ela foi ruim, provavelmente a consciência cometerá
erros e não perceberá o que é bom. Frequentemente é o ambiente que estabelece
como bom algo objetivamente ruim. O professor de CR, nesse caso, explica ao
aluno as várias formas de diversidade cultural correspondentes aos vários critérios
de valor.
Ressalta-se que essa perspectiva da CR mostra ao aluno que a consciência
certa é aquela que admite juízo prático e que seu contrário é a consciência duvidosa
que vacila em seu juízo. Discernimento é a palavra chave trabalhada nessa
perspectiva, a fim de determinar se uma conduta leva à humanização. Quando se
age conforme a consciência desenvolve-se sensibilidade ética, o que forma a
maturidade e supõe diálogo com outros níveis de consciência.
Outro trabalho percebido nos relatos dos professores de CR na PUC Minas é
o de trabalho crítico da cultura ocidental e da religião ocidental: Nietzsche, por
exemplo, crítico da moral socrático-platônica-cristã, considera o Cristianismo como
uma das religiões da decadência, religião que deseja profundamente atingir o nada,
cujos valores dissolveram durante a história. Critica o idealismo metafísico e os
valores morais que o condicionam, propondo uma nova abordagem: a genealogia
dos valores.
Aqui, trabalha-se a questão do relativismo, a questão do niilismo, que é
concebido como experiência da perda de sentido e valor por parte dos valores
supremos, sendo sintoma de decadência. Trabalha-se, então, o niilismo como
principal dilema ético da contemporaneidade. O niilismo é o nome que se dá à crise
ética de valores. Também é um estado psicológico em que ocorre primeiramente a
crise de sentido, o tomar consciência. É estado de ilusão, desesperança, sem
finalidade e sem sentido. Em segundo momento, ocorre quando se pensa que existe
uma organização que articula todas as coisas. Em terceiro momento, ocorre ao notar
que aquilo que foi acreditado passa a ser desacreditado. E em uma quarta etapa, na
criação de outro mundo.
O aluno percebe, depois de tratado esse tema, que o niilismo é a raiz dos
males do homem de hoje. A sua essência diz respeito à desvalorização dos valores
que até então eram considerados como verdades únicas, provocando assim o
choque de valores individuais. O aluno nota que o niilismo pressupõe que não existe
uma verdade, a constituição absoluta de alguma coisa. Essa essência é resumida na
forma de um Deus morto. A CR, ao explicar o tema do relativismo citando essa
65
passagem, deixa claro ao aluno o que de fato significa.
“Deus está morto” é uma passagem que pode ser mal interpretada, se
pensar-se literalmente na morte de Deus como se Deus pudesse estar fisicamente
morto. Pode-se pensar ainda no ateísmo de Nietzsche, ao analisar a sentença
“morte de Deus” de maneira descontextualizada. Na verdade, ele faz referência ao
fim dos fundamentos transcendentais da existência de Deus como justificativa e
fonte de valoração para o mundo. Nietzsche enfatiza um acontecimento cultural
quando diz que se matou Deus. É uma constatação em forma de metáfora do fato
de os homens não mais crerem em uma ordenação transcendente, o que os levaria
a uma rejeição dos valores absolutos e descrença em quaisquer valores. Isso
conduz ao niilismo. Nietzsche procura com seu projeto de transvaloração reformular
fundamentais valores em bases bem profundas.
Cabe ressaltar ainda que o intuito desse tema nas aulas de CR é mostrar que
os valores não se baseiam no ser e no verdadeiro. São pontos de vista que se
impõem como condição de progresso na vida. O fluxo permanente e a vida são
“vontade de potência” que é a vontade de ultrapassamento, a vontade dos criadores.
Os valores estão ligados a tal vontade de potência que se impõe como fonte de
todos os valores transvalorados. O que se nota é que a “vontade de potência” é uma
característica inerente a todo ser humano. Todos têm o desejo de alcançar sempre
mais. Ir além do que é dado por sua natureza. Todos tendem a transcender seus
limites.
Mostra-se aos alunos que inclusive a vida é vontade de potência. Vontade
que está sempre criando novas máscaras para se esconder da vida. As máscaras
tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam e a mortificam.
O homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a
serem destruídos um dia serão substituídos por outros.
A vida como “vontade de potência” no sentido de autossuperação é o
princípio pelo qual ela se projeta para além de si mesma. Ela se autossupera. A
“vontade de potência” ou vontade de poder é a busca da superação da catástrofe. É
a vontade de alcançar o possível, é a vontade de ser e de consciência.
Toda esta lógica do ocidente, mostrada nas aulas de CR em um aspecto
ético, tem a ver com o niilismo passivo ou niilismo incompleto, que pode ser
considerado uma evolução do indivíduo, mas jamais uma transvaloração de valores.
É a negação de que a vida deva ser regida por qualquer tipo de padrão moral tendo
66
em vista um mundo superior, pois isso faz com que o homem minta para si próprio
enquanto vive a vida fixado numa mentira. Assim, no niilismo não se promove a
criação de qualquer tipo de valores, já que ela é considerada uma atitude negativa.
Essa lógica tem a ver também com o niilismo ativo ou niilismo-completo, que
propõe uma atitude mais ativa, renegando os valores metafísicos e redirecionando
sua força vital para a destruição da moral. Fato presente em muitos profissionais que
saem da Universidade sem uma formação plena, de acordo com os professores
entrevistados. No entanto, após essa destruição da moral, tudo cai no vazio: a vida é
desprovida de qualquer sentido, reina o absurdo e o niilista não pode ver outra
alternativa senão esperar pela morte. A CR mostra que o homem deve aprender a
ver-se como criador de valores, e no momento em que entende que não há nada de
eterno após a vida, deve aprender a ver a vida como um eterno retorno.
A CR trata ainda de falar do homem ascético. O ideal ascético é necessário
para o homem do conhecimento e para o homem religioso. É preciso alienar-se dos
pormenores da vida comum tanto quanto o religioso precisa alienar-se dos prazeres
do mundo terreno. Não pensemos que o menos religioso é algo pesaroso. O ideal
ascético é um modo de vida, ou modo de não vida para quem tem valores mais
padronizados.
Assim, responder a questão da crise ética da contemporaneidade seria como
transformar Nietzsche em um ídolo, já que o filósofo quis com o niilismo sintetizar a
profunda crise dos valores. Quis terminar de destruir antigas estruturas e abrir
caminho para novas formas de pensar, de valorar a vida plenamente.
A intenção nestas aulas é expor que a crise de valores da modernidade está
ligada à banalização do mundo. O que se encontra em declínio são justamente os
valores e precisa-se voltar a afirmar a vida, adotar a vontade de potência como
princípio valorativo, experimentar o mundo como ele o é. Um lugar de alegrias, de
prazer, mas também de dor, de sofrimento.
4.3 Relevância do diálogo
Ao analisar planos de ensino da CR I e II, percebe-se que a relação entre
religião e sociedade é abordada sob diferentes enfoques. A partir dessa perspectiva,
a CR focaliza a questão da existência produzida na contemporaneidade articulada à
experiência religiosa de cada pessoa. Para isso, o diálogo inter-religioso é visto
67
como uma oportunidade positiva de aproximar as religiões. Esse tipo de diálogo
manifesta a afirmação de novas relações construtivas entre as várias tradições
religiosas, visando um conhecimento mútuo.
Essa talvez seja a perspectiva mais relevante para os professores ao
trabalhar com a CR. Como dito anteriormente, essa disciplina é reflexiva e perante
cursos como Computação, por exemplo, em que boa parte dos alunos está
preocupada com o retorno financeiro, é preciso uma reflexão no contexto
contemporâneo.
A proposta de felicidade plena, em muitos dos cursos universitários, é
baseada na posse de dinheiro e bem-estar que o mesmo pode produzir. A CR em
uma perspectiva do diálogo inter-religioso apresenta-se com a missão de propor a
ajudar o sujeito em sua dimensão individual a alcançar ideias criadas pela
contemporaneidade. Ainda de acordo com os planos de ensino estudados, a CR
trabalhada em uma perspectiva do diálogo inter-religioso mostra como existem
distintas formas de expressão religiosa e que as mesmas são reveladoras de várias
maneiras. De acordo com Maria Rute Gomes Esperandio (p. 150, 2010), existem
três dimensões que constituem as formas de expressão religiosa e que definem a
singularidade de suas relações com a sociedade:
1) a própria configuração social de onde emerge uma ampla variedade de formas religiosas; 2) os modos de ser do humano que se constituem em um dado momento histórico; 3) as diferentes maneiras como as religiões afetam e são afetadas pelas demandas subjetivas de seu tempo.
Percebe-se então que a relação entre religião e sociedade nem sempre é a
mesma, o que leva a concluir que, à medida que distintas religiosidades expressam
formas singulares de relação, o diálogo inter-religioso precisa ser fortalecido.
A percepção da proposta de um diálogo inter-religioso entre civilizações
mostra a necessidade de um novo modelo político, econômico, social, que envolve
diversas tradições religiosas. Hans Küng (1988) defende que não há paz entre as
nações sem paz entre as religiões. Não há paz entre as religiões sem diálogo entre
as religiões. Não há diálogo entre as religiões sem uma busca dos fundamentos das
religiões.
Em um diálogo extrapolam-se fronteiras, descobrem-se novos horizontes. O
diálogo é uma assimilação de novas possibilidades, que não pretende ser modelo de
conversão para nenhuma religião. Tem um valor próprio e quando adequado
68
respeita a existência das diferenças, das contradições, da livre decisão das pessoas.
Envolve respeito às identidades e é uma atitude essencial de busca profunda.
O professor de CR utiliza-se dos temas trabalhados anteriormente como
perspectiva fenomenológica e ética como motivo para o diálogo. Supõe-se uma
consciência mística que ajuda a manter intenso na consciência o caráter
inexprimível da realidade. A CR mostra as visões teológicas que sustentam o
mistério das tradições religiosas como se apenas nelas estivesse a resposta para os
desejos humanos mais profundos, mas também amplia o olhar dos estudantes que
requer abertura e acolhimento. Na CR, o professor cria atitudes que são essenciais
para a interação entre tradições religiosas distintas.
Cabe ressaltar que o diálogo inter-religioso se pauta na escuta e na prontidão
de aprendizado, ou seja, leva a sério o outro e sua alteridade sem esquecer a
integralidade da fé de cada um. Há traços impossíveis ao diálogo nas várias
religiões. Isso é óbvio, já que o diálogo não destrói as diferenças, mas insinua
respeito mútuo e demanda profunda abertura a um mistério maior, que abre caminho
espiritual singular.
A CR faz com que alunos percebam que o que realmente torna as pessoas
diferentes é a sua própria história de vida e a leitura que cada uma faz do mundo.
Nessa perspectiva, pode perceber que ser diferente não é privilégio, mas sim uma
característica que compõe a estrutura de cada ser humano.
O que compõe a humanidade é a pluralidade e a diversidade que marcam
comportamentos religiosos ou não das tradições religiosas e da sociedade como um
todo. Essas diferenças que distinguem, que são únicas, são muitas vezes pretexto
de intolerância entre as religiões, uma vez que algumas se consideram como donas
da verdade e impossibilitam um espaço para um diálogo inter-religioso. A verdade é
algo que se busca constantemente em relação com o outro.
Durante as conversas com professores de CR, percebeu-se que há uma
tentativa de mostrar aos alunos que o momento é o de buscar a tolerância,
reconhecendo que cada cultura tem sua própria maneira de buscar o
Transcendente, tem seu próprio modo de cultuar divindades e tem seu próprio jeito
de possuir uma crença.
A partir do momento que pessoas e líderes religiosos compreenderem que a
verdade para um pode não ser a verdade para outro e que ninguém tem o direito de
impor qualquer religião, o diálogo inter-religioso acontecerá. É claro que não se pode
69
ignorar a própria identidade, mas conhecer a possibilidade de mudar ideias e
concepções em relação ao diferente.
Assim, o diálogo inter-religioso entre as religiões é possível de acontecer se
os envolvidos reconhecerem o valor da convicção e da singularidade do outro.
Através dessa discussão, podem-se obter respostas que propiciem o diálogo
maduro inter-religioso entre as religiões, bem como responder os questionamentos
da sociedade.
A CR na Universidade, por meio de discussões fenomenológicas e éticas,
propicia o diálogo, “humaniza” o humano para a construção de uma sociedade
saudável. É importante esse diálogo entre diferentes saberes para resgatar as
riquezas de uma história construída pela humanidade. A vida em um mundo plural
em que a tendência é singularizá-lo à experiência individual faz as pessoas
perderem a capacidade de ver o diferente e dialogar com ele.
Em se tratando de diálogo inter-religioso, a CR possibilita abertura ao outro
sem anular o indivíduo único que se é. A questão da identidade é elemento
fundamental para o diálogo inter-religioso, uma vez que isso possibilita encontro com
o outro.
Para exemplificar, mostra-se aos alunos de CR que o diálogo pode existir
entre cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, hinduístas. Religiões milenares, com
histórias carregadas e culturalmente sustentadas por verdades. O objetivo da CR é
utilizar princípios universais contidos nessas religiões e aplicá-los ao bem comum da
humanidade. A importância de um diálogo vem do princípio de que as tradições
religiosas estão inseridas no mundo e são responsáveis por ele.
Cabe salientar que existem também razões para o diálogo entre ciência e
religião, por mais complexa que pareça ser essa relação. As duas devem se colocar
em atitude de escuta mútua. Devem levar a uma dimensão ética, e a ciência
dialogando com a religião compreenderá que o desejo da religião é ou deveria ser o
de aliviar o sofrimento humano.
O diálogo reconhece de início a importância de cada indivíduo insistindo que
nele deve conter respeito, não deve conter arrogância, além de compreender que
religião e ciência são complementares.
Outro bom exemplo que mostra como a CR é um tópos privilegiado de diálogo
é quando o tema do Cristianismo, que tem mudado nos últimos tempos da história, é
trabalhado. Mário de França (1998), em seu livro O Cristianismo em face das
70
religiões, fala de diálogo inter-religioso no Cristianismo, levantando a questão da
verdade sobre o valor salvífico a respeito das religiões. A religião vista como a
orientadora da revelação e da mediação salvífica. Como cada religião apresenta
elementos bem diferentes de origem e alcance da revelação, esse é um ponto
considerado ao se elaborar uma teologia a uma certa religião.
Além disso, Mário de França (1998) explica que uma independência salvífica
é negada às outras religiões pelo exclusivismo devido à universalidade de Cristo,
entretanto o exclusivismo aceita a salvação em todas as religiões e a posição
pluralista tira do Cristianismo qualquer pretensão de exclusividade ou superioridade
com relação às outras religiões. Embora tenha sido sugerido aqui o tema do
Cristianismo, trabalha-se a diversidade de experiências e expressões salvíficas em
algumas religiões como, por exemplo: o Budismo, que tem deus como alma imortal e
salvação eterna; o Hinduísmo, que apresenta sua soteriologia a partir do mal e do
sofrimento; o Islamismo, que não requer um mediador salvífico; e a religião Africana,
que tem como elemento central a força vital.
Parte-se para o trabalho da verdade de uma doutrina, que provoca mudança
na vida humana, resultando na salvação. O diálogo inter-religioso é visto como uma
oportunidade positiva de aproximar as religiões, fazendo com que todas, também o
Cristianismo, troquem experiências.
Como cristãos, tem-se a visão de certo e errado, bem e mal, céu e inferno.
Ideias que muitas vezes são distorcidas mesmo em outras religiões, ficando preso
entre conceitos e ideologias estreitas e antagônicas, cegos para as possibilidades do
caminho do meio ao invés de apreciar a vida e o que há de bom nos outros. Na
maioria das vezes passa-se o tempo julgando e comparando. Fato presente também
não só no Cristianismo.
O diálogo revela e soma a experiência e a intuição das pessoas num
processo de respiração de ideias. Na construção da Cultura de Paz é vital que o
conceito de diálogo e comunicação humana seja revisitado e impregnado com novas
experiências. Essa ruptura é extremamente necessária no mundo globalizado. É
preciso sabedoria acumulada por todos os povos para garantir a superação dos
problemas sérios que se criam e que ameaçam toda a vida no planeta. A CR mostra
que o diálogo ensina a lógica extraordinária de que as religiões podem ser
mediações salvíficas para seus membros, sendo mediações autônomas e não
71
apenas a de Jesus Cristo. O diálogo também não é simplesmente um processo de
união de conceitos ou de busca constante por entendimento.
Os tempos em que se vive são marcados profunda e essencialmente pela
convivência entre diferenças. Não há mais uma visão homogênea e dominante
sobre o mundo, sobre o ser humano, sobre Deus, sobre a religião. Pelo contrário, há
visões diferentes que se cruzam e se interligam, procurando e desejando conviver. E
quando esse convívio não acontece, tem-se o triste panorama da violência ou das
guerras religiosas ou a intolerância, que acontece no mundo inteiro sob todas as
suas formas, desde a mais elementar até a mais sofisticada.
A CR trabalha também o tema do pluralismo, que está presente na história do
Cristianismo desde o início da sua história. Já desde os primeiros séculos, tenta
encontrar maneiras de comunicar-se com outras religiões. Para tal, é obrigado a
dialogar com os diferentes deuses presentes neste mundo, a fim de poder fazer
visível e audível a experiência de seu Deus.
O professor de CR esclarece que cada um compõe sua própria concepção
religiosa e que o campo religioso passa a se assemelhar a uma terapia, assim como
também a um lugar de trânsito onde se entra e se sai. A modernidade não liquidou
com a religião, mas esta ressurge com nova força e nova forma, não mais
institucionalizada como antes, mas sim plural e multiforme, selvagem e mesmo
bagunçada, sem condições de voltar ao pré-moderno.
A questão religiosa apresentada durante as conversas com os professores e
coordenadores de CR é a da pluralidade. Face esta que, por sua vez, implica
igualmente na existência de uma interface: a das diferentes tentativas do diálogo
inter-religioso, da prática plurirreligiosa e da religião do outro como condição de
possibilidade de viver mais profunda e radicalmente a própria fé. Não só as antigas e
tradicionais religiões parecem crescer de importância a se tornarem interlocutoras de
peso para o Cristianismo histórico como também novos movimentos religiosos
surgem de todos os lados, trazendo perplexidade e interpelações diversas. A partir
dessa face plural, geradora de uma interface plurirreligiosa, a experiência do
sagrado realizada dentro do Cristianismo hoje é chamada a apreender as
experiências místicas e espirituais de outras religiões. E isto não para deixar de ser
cristã ou algo parecido, mas para que a experiência de Deus que está no coração
mesmo de sua identidade dê e alcance toda a sua medida.
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As religiões do mundo inteiro parecem estar sendo convocadas, no entender
de importantes pensadores da atualidade, para contribuir na elaboração de uma
nova ética mundial. Também não podem entrar nela abrindo mão daquilo que
constitui o fundo mais profundo de sua identidade.
A questão de experiência do sagrado é igualmente trabalhada em CR como
uma experiência de sedução irresistível, que hoje deve ser buscada e encontrada
em meio ao mundo, às realidades terrestres, à pluralidade religiosa e ao diálogo com
as outras tradições.
Assim, a sacralidade hoje pode ser encontrada por aquele ou aquela que está
em busca de uma interface experiencial. Experimentar o sagrado é tocar naquilo que
não passa e que dá sentido e estrutura à vida humana. Ao mesmo tempo é ser
constituído para sempre como peregrino, permanentemente em busca, sempre a
caminho, nunca fixado em nenhum solo ou nenhuma paisagem. A velocidade com
que mudam os tempos e as coisas na sociedade onde se vive, nesse sentido, é um
alerta permanente para toda tentação de fixismo que quiser rondar e cercar o desejo
pelo sagrado que se propõe como possibilidade.
Nesse sentido, as aulas de CR fazem com que a pertença religiosa neste
milênio obrigue os alunos a repensarem categorias tão fundamentais da vida quanto
tempo e espaço, conteúdo e forma, razão e imaginação. Obriga igualmente a
repensar a maneira de fazer Teologia. Esta não pode fazer-se senão em contínuo
trabalho com a ciência da religião e a espiritualidade, ainda que incluindo,
humildemente, a razão que durante tantos séculos foi a garantia maior da segurança
e da veracidade da Teologia.
A ementa de CR I permite falar além de diálogo inter-religioso, falar em
ecumenismo, que é um termo com o significado de responsabilidade, de
comprometimento com a própria casa. Seria respeito, comprometimento para a boa
sobrevivência de todos. É um termo que faz parte do mundo cristão, uma vez que
um dos fundamentos do Cristianismo é colocar os bens à disposição da
comunidade, sem anular-se, respeitando o outro em suas diferenças e dialogando
no que é comum.
Há momentos de encontros e desencontros no Ecumenismo, que se encontra
diante de um mundo onde a própria verdade exige uma aproximação. O
fundamentalismo muitas vezes provoca situações de crise que impedem uma ação
conjunta entre as religiões.
73
Alguns princípios relativos ao fundamentalismo, que impedem o diálogo,
trabalhados pelos professores de CR de acordo com os relatos são: o princípio da
inerrância, que postula que o livro sagrado deve ser assumido em sua totalidade de
sentido e significado e que, portanto, não se podem selecionar algumas partes e
desprezar outras, pois esse livro não contém erros; o princípio da superioridade, que
estabelece que a lei divina é muito superior à lei terrena e que por isso se deve
deduzir do livro sagrado um modelo de sociedade perfeita para conduzir a sociedade
humana nesta edificação.
Assim, a maneira de um fundamentalista ler a ‘letra da doutrina’ é que deve
ser preservada. Nessa perspectiva, se sua forma de apreender a verdade é
absoluta, significa que ninguém mais poderá chegar à verdade, a não ser através da
sua forma de apreendê-la. Essa compreensão gera intolerância e desprezo do outro
e das outras maneiras de compreender a verdade, provocando, inclusive, práticas
violentas.
As aulas de CR servem para mostrar também que a origem do movimento
fundamentalista encontra-se na modernidade. A modernidade foi o emergir da
consciência autônoma, da consciência histórica e do espírito crítico ante um mundo
centrado no poder da autoridade religiosa. Esse cenário, construído pelos diversos
saberes, possibilitou desenvolvimento de novos métodos para a compreensão do
texto bíblico.
A forma mais atual de fundamentalismo é o neofundamentalismo, que se
apresenta não só como movimento de tipo religioso, mas também como verdadeiro
sujeito político cuja intenção é reagir contra a presumível perda de valores da
sociedade e contra a degeneração da democracia.
No universo islâmico, por exemplo, o fenômeno do fundamentalismo pode ser
percebido a partir da palavra árabe nahda, que significa renascimento. Após uma
crise política, cultural, religiosa e de colonização europeia, aparecem movimentos
que procuram traçar uma identidade fundamental.
No universo religioso judaico, o fundamentalismo também se encontra
presente. Nesse fundamentalismo há a crença na inerrância do texto sagrado, a
superioridade da lei religiosa e a necessidade de fundar a legitimidade do Estado
sobre a lei de Deus.
A CR aponta ainda que há um grande medo de se perder a fé com a entrada
da hermenêutica. Por isso, a percepção de que as convicções nascem da
74
experiência, se alojam no interior humano, e que a reflexão articulada entre uma
convicção e outra possibilita novas interpretações sobre o fato, é negado pela mente
fundamentalista, sobretudo em se tratando de textos sagrados.
Com relação à modernidade cultural, a CR trata “o fundamentalismo como
anti-hermenêutico”. Portanto, possui um “olhar hermético”. Ele não aceita que o texto
possa ter mais de um sentido, mesmo que seu entendimento não seja claro ou que
contenha aparentes contradições.
É apontado em CR, por exemplo, que o fundamentalismo é uma via de “mão
dupla”. De um lado, ele é resultado de uma modernidade crítica, secularizada,
individualizante e pluralizada. De outro lado, é uma reação à modernidade ocidental,
liberal e tecnocrática. Se para dialogar é necessária a abertura hermenêutica ante as
narrativas sagradas, ante a tradição e a realidade, cultural e religiosa, um
fundamentalista está, de antemão, desqualificado para o diálogo inter-religioso.
75
5 HORIZONTES DE ARTICULAÇÃO
Na contemporaneidade, a ciência é como uma peneira que minimiza
influências de origem pessoal dentro da própria ciência ao exigir coerência constante
com o mundo natural. O conhecimento científico está constantemente em
construção. Quanto à religião, entende-se que todas as posturas devem ser
respeitadas pela concepção do outro sobre deuses ou sobre a natureza. Pode-se
falar em complementaridade entre ciência e religião. Aquela trata de assuntos
naturais, empíricos, enquanto esta trata de problemas existenciais.
A religião também pode ser considerada como estimuladora do
desenvolvimento da ciência, uma vez que provocou uma divisão na área intelectual.
Grandes físicos eram religiosos, o que não impediu que chegassem a grandes
conclusões científicas. Por outro lado, a religião é responsável pela dificuldade que a
sociedade tem de acietar as ideias que a ciência propõe, uma vez que instâncias
religiosas desempenham um papel fundamental na discussão de assuntos
relacionados aos avanços científicos, lembrando os limites do ser humano.
A história não se apresenta tão óbvia ou linear como pode parecer à primeira
vista. Dialoga com as culturas e contribui para seu aperfeiçoamento. O estudo
acadêmico das religiões é de grande importância para o contexto intelectual e social
da humanidade.
Cabe salientar que, segundo Bertrand Russel (2010), a ciência é uma
tentativa de entender o mundo de experiências através das leis invioláveis, e religião
é um fenômeno complexo com uma crença sobre os supostos princípios definitivos.
Ao cientista da religião resta ser um proponente crítico para essa posição de Russel.
Quer dizer que é preciso tentar entender e julgar a tese do conflito que Russel
propõe. Tentar entender a opinião de que religião e ciência estejam em guerra pelo
mesmo território, mesmas ideias e fidelidades.
O conceito de religião é cercado de ambiguidade. Ao cientista da religião cabe
criticar toda forma estreita de classificação das religiões, que muitas vezes é uma
leitura ocidental, europeia, encarada do ponto de vista cristão. O cientista da religião
deve conhecer bem seu objeto de estudo, embora esse objeto seja polissêmico até
mesmo para os cientistas da religião. Já dizia Hans-Jürgen Greschat (2005), o
cientista da religião é o que tem um olhar profissional sobre as religiões. É um crítico
metodológico. O falar de religião implica esse mundo conhecido do que se fala.
76
Compete ao cientista da religião pensar o papel da relação entre Teologia e
Ciências da Religião, legitimando o exercício do pensar tais assuntos na sociedade.
Seria mesmo estranho se não se pusessem algumas perguntas sobre os desafios
que essa relação gera e as chances que ela proporciona.
Em tempos atuais, apesar de notar um esforço para o diálogo, ainda fica a
sensação que para muitos parece sábio distinguir se é a Teologia ou a Ciência da
Religião que se apresenta como a mais legítima diante dos desafios culturais que se
colocam na sociedade ocidental. Pode-se afirmar, sem medo, que a fé cristã não foi
sufocada pelos tsunamis da história e que é preciso pensar na presença da Ciência
da Religião na Universidade e na sociedade. O universo de ideias que o ambiente
universitário faz acontecer, e no qual estamos imersos, irrompe como uma
imensidão muito maior do que nós. Até porque parece que a saída não se encontra
na oposição, mas na acolhida da diferença e na complementaridade.
O diálogo é importantíssimo para a construção do conhecimento do indivíduo
e da sociedade, bem como imprescindível para evitar conflitos entre pessoas.
Um dos grandes desafios constituídos na PUC Minas em relação a CR é a
superação da discriminação da disciplina pelos alunos. A Universidade é local de
diálogo, local de aprender a conviver, onde alunos vivenciam a própria cultura e
aprendem a respeitar outras pessoas.
Uma Universidade Católica possibilita ao aluno desenvolver atitudes
coerentes com os valores que ele mesmo elegeu como seus. O esclarecimento e a
problematização de questões que favoreçam a reflexão e ressignificação de
informações, emoções e valores recebidos e vividos no decorrer da história de cada
um são fatores importantes ao se trabalhar com a CR.
Uma das questões a ser levantada quando se trabalha com a CR é a de como
adaptar os subsídios teóricos aos vários cursos da Universidade. O mesmo
professor que trabalha no curso de Letras trabalha no curso de Engenharia, por
exemplo. Mesmo existindo a mesma ementa para todos os cursos, como adaptá-las
à realidade do curso em questão, visando a conscientização de que existem muitas
diferenças entre os indivíduos em suas formas de pensar, de agir, de olhar a vida, e
a reprovação social gera dificuldades muitas vezes profissionais.
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Este capítulo pretende, a partir da compreensão da CR, fornecer subsídios
teóricos da importância existencial da disciplina e da sua contribuição acadêmica.
Esta etapa será finalizada procurando apresentar alguns planos de ensino: planos
do curso de Engenharia Mecânica, do curso de Letras e do curso de Enfermagem, a
fim de confrontar a perspectiva de trabalho de alguns professores de CR, bem como
mostrar como a emergência fenomenológica e ética ocupa lugar de destaque no
diálogo e na relação entre Teologia e Ciências da Religião.
5.1 O “valor” existencial da Cultura Religiosa
Para exemplificar, toma-se o plano de ensino do curso de Engenharia
Mecânica. A Cultura Religiosa I tem como ementa: o fenômeno religioso –
experiência e linguagem. Trata-se do fenômeno religioso como experiência
específica, limites e possibilidades fundamentais de interpretação e de linguagem do
fenômeno religioso. Além disso, os critérios de interpretação da bíblia e da
experiência mística, bem como o Cristianismo e seus desafios do diálogo ecumênico
inter-religioso. Ainda de acordo com o plano de ensino, a CR I tem como objetivo
geral: promover a compreensão da dimensão religiosa da existência humana,
sensibilizando os alunos para a sua importância, por ser a dimensão fundamental
que abre a pessoa ao sentido global e transcendente da vida, apresentando a
experiência cristã como sentido profundo e desafiante para a sociedade
contemporânea.
Os objetivos específicos são: 1. Levar à compreensão do fenômeno religioso
em seus aspectos antropológicos, culturais, históricos e sociais. 2. Discernir a
compreensão da experiência religiosa na realidade pessoal e como processo de
institucionalização. 3. Sintetizar e reconhecer a compreensão dos valores essenciais
do Cristianismo, apresentando sua realidade atual e seus desafios.
Em uma perspectiva fenomenológica, o professor de CR I apresenta ao futuro
engenheiro mecânico a realidade atual e seus desafios, trabalhar os vários conceitos
de religião, que de acordo com as teorias contemporâneas cada vez mais a ideia de
conhecer é construir significados. Cada aula parte de um ponto introdutório capaz de
proporcionar motivação, organização do espaço interior e exterior, bem como
apresentar de maneira interessante a temática que será desenvolvida. É um
momento de sensibilização.
78
A partir daí, sugere-se a realização da observação-reflexão-informação.
Momentos que se interligam em um movimento constante. Desse modo, busca-se
interpretar e ponderar os elementos principais que compõem o fenômeno religioso,
enfocando os conteúdos em uma rede de relações de forma progressiva,
propiciando ao aluno a ampliação de sua visão de mundo. O exercício do diálogo
inter-religioso e a valorização das diferentes expressões religiosas e místicas a partir
da sua situação sociocultural representam a perspectiva do diálogo.
A síntese seria o resultado do processo de ensino/aprendizagem que se
estabelece por meio de uma proposta de comportamentos éticos. A alteridade
compreende e reconhece a existência do diferente, tratando-a com respeito e
cuidado. No próprio agir humano livre, ético, há um apelo radical à
transcendência/imanência. A ética religiosa abre-se para o mistério e converge para
a religião, ditando aí um conjunto de princípios, padrões de conduta, que os adeptos
devem assimilar e cumprir. Princípios que se repetem em quase todas as tradições
religiosas do mundo, como, por exemplo, não roubar, socorrer os necessitados,
amar o semelhante e promover a paz.
No caso do trabalho em uma perspectiva ética, as aulas de CR são
permeadas dos valores por ela apontados, já que através da ética as religiões se
aproximam umas das outras. O professor de CR nesse momento busca pontos
comuns nas tradições religiosas, mostrando aos alunos as diferenças dogmáticas e
a necessidade comum de todas as tradições religiosas, que é a busca da felicidade.
O professor de CR ao lecionar a disciplina para o curso de Engenharia propõe
o estudo das culturas e tradições religiosas com o intuito de analisar a raiz das
manifestações religiosas, buscando compreender o modo de ser, pensar e agir das
pessoas. Um engenheiro que viva em um país que é potencialmente cristão deve
saber como receber em sua empresa um islâmico por exemplo.
Ao estudar as manifestações culturais e religiosas dos muçulmanos, é
possível a compreensão do que é cultura, do que é fenômeno religioso e qual é a
importância e influência da religião na existência cotidiana das pessoas.
Se buscar-se um nível maior de consciência, a compreensão da realidade se
dá de forma prática e não teórica. O desafio constante é o de trabalhar uma reflexão
sobre o fenômeno religioso, abordando o conhecimento das manifestações
religiosas a fim de que o trabalho do professor de CR seja o de conduzir o aluno ao
79
caminho do diálogo sempre, possibilitando a vivência intercultural em uma cultura de
paz, na mediação de conflitos.
Ainda quanto à CR, considera-se que essa disciplina trata da criação de
condições para que o estudo do fenômeno religioso seja realizado em parâmetros
grupais de construção de conhecimento, a fim de que atue no aprendizado coletivo
dos indivíduos, convertendo a realidade em possibilidade de vivenciar o respeito à
alteridade, por meio da compreensão do mundo religioso que compõe a diversidade
cultural.
Voltando à ementa de CR I para o curso de Engenharia Mecânica, a questão
do Cristianismo pode ser trabalhada na tarefa de repensar o mesmo em uma cultura
plural, situando o futuro engenheiro diante do caminho da reflexão.
Em CR II, o curso de Engenharia Mecânica tem como ementa: fundamentos
para a práxis cristã, a partir do Ensino Social da Igreja. A categoria pessoa,
fundamento antropológico do Ensino Social da Igreja, em diálogo com as categorias
antropológicas contemporâneas. Análise de temáticas atuais à luz do Ensino Social:
a família e a dimensão afetivo-sexual, o mundo do trabalho e a situação da
propriedade, o sentido da economia; a ordem social e política, a consciência de
cidadania, o compromisso com o cuidado, a defesa da vida e as perspectivas de
construção de uma nova ordem mundial centrada no Amor e na Paz.
O objetivo geral de CR II para esse curso é: promover a compreensão da
dimensão religiosa da existência humana, sensibilizando os educandos para a
importância e presença universal, por ser a dimensão fundamental que abre a
pessoa ao sentido global e transcendente da vida, apresentando a experiência cristã
com o sentido profundo e desafiante para a sociedade contemporânea. Os objetivos
específicos são: 1. Apresentar os elementos fundamentais da visão antropológica
cristã. 2. Fundamentar a ética cristã diante dos desafios atuais e suas exigências
nas diversas relações entre o ser humano, a sociedade e a natureza. 3. Levar a
compreensão e avaliação crítica da crise ética da sociedade contemporânea,
buscando sua superação em uma nova ética da solidariedade, baseada em
princípios universais e motivada particularmente pela vida cristã.
Todos esses objetivos só podem ser compreendidos se trabalhados
pensando na realidade do Cristianismo como resposta ao desafio de evangelização
que o mesmo tem perante as exigências do imediato futuro. A CR é trabalhada na
mensagem que o Cristianismo pode passar no meio da crise religiosa e cultural de
80
valores e de ideais, que são características dos atuais dias. Um engenheiro também
deve ter em mente que lutar pela vida dos pobres e excluídos da sociedade passa
pela urgente reforma na estrutura econômica, social e política, restabelecendo um
bom-senso na dinâmica social.
Pode-se priorizar a diferenciação de conceitos como o de necessidade e
desejo. O Cristianismo com relevância histórica pode contribuir para a construção de
uma sociedade mais justa, estabelecendo um novo projeto de sociedade e de
civilização.
O trabalho do professor de CR II é o de partir de conceitos teológicos para
estimular o engenheiro a problematizar e analisar o ser humano na sociedade atual,
de massa, de consumo, de modo que ele compreenda a vocação humana à vida e
se abra à perspectiva de construção de novas relações sociais e humanas. Dessa
forma, o engenheiro, a partir das motivações da fé cristã, poderá elaborar respostas
aos desafios contemporâneos.
Tomando-se o plano de ensino do curso de Letras, a CR I também tem
também como ementa: o fenômeno religioso como experiência específica – limites e
possibilidades da experiência de Deus. As categorias fundamentais de interpretação
e de linguagem do fenômeno religioso. A Bíblia – livro de formação histórica, cultural
e literária. Os critérios de interpretação, os temas e as perspectivas de estudo da
Bíblia e a experiência mística e de abertura que o livro sagrado propicia. O
Cristianismo e os desafios do diálogo ecumênico e inter-religioso no contexto de um
mundo globalizado.
O objetivo geral é: promover a compreensão da dimensão religiosa da
existência humana, sensibilizando os alunos para sua importância, por ser a
dimensão fundamental que abre a pessoa aos principais valores e, especialmente,
ao sentido global transcendente da vida, apresentando a experiência cristã com o
sentido profundo e desafiante para a sociedade contemporânea.
Os objetivos específicos são: 1. Levar à compreensão do fenômeno religioso
enquanto experiência pessoal de abertura ao transcendente, bem como o processo
de institucionalização e de representação simbólica da fé coletiva, expressão de
sentido da vida, de produção e promoção de valores morais e éticos. 2. Sensibilizar
o educando para a importância do conhecimento da bíblia, livro formador de valores
culturais do ocidente, apresentando-o como fonte de estudo, de experiência
espiritual e de abertura e encontro entre pessoas e instituições religiosas. 3. Levar à
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compreensão da história e dos fundamentos essenciais do Cristianismo, da vida e
do projeto de Jesus Cristo, apresentando a realização atual e os desafios do mundo
globalizado, que convocam o Cristianismo ao diálogo ecumênico inter-religioso.
Em CR II, a ementa para o curso de Letras é: fundamentos para a práxis
cristã, a partir do Ensino Social da Igreja. A categoria pessoa, fundamento
antropológico do Ensino Social da Igreja, em diálogo com as categorias
antropológicas contemporâneas. Análise de temáticas atuais à luz do Ensino Social:
a família e a dimensão afetivo-sexual, o mundo do trabalho e a situação da
propriedade, o sentido da economia; a ordem social e política, a consciência de
cidadania, o compromisso com o cuidado, a defesa da vida e as perspectivas de
construção de uma nova ordem mundial centrada no Amor e na Paz.
Os objetivos são: apresentar os elementos fundamentais da visão cristã de
homem, fundamentar a ética cristã diante dos desafios atuais e suas exigências nas
diversas relações entre o homem, a sociedade e a natureza; levar à compreensão e
avaliação crítica a crise ética da sociedade contemporânea, buscando sua
superação em uma ética da solidariedade, baseada em princípios universais e
motivada particularmente pela visão cristã.
As aulas são expositivas, dialogadas. Com estudos dirigidos, vídeos para
análise e debate. Há seminários sobre pesquisa de temas e textos, assim como
pesquisas orientadas. Em CR I, o trabalho é o de aproximar a CR do campo de
interesse da turma, do curso em questão, o que implica uma perspectiva
humanística de formação para o exercício ético-cidadão. Ainda através da leitura de
alguns textos bíblicos, é feito seminários sobre a hermenêutica desses textos, bem
como resenhas críticas.
Em CR II, além de seminários, estudos dirigidos sobre a categoria
antropológica fundamental, sobre o conceito de pessoa, sobre a dimensão afetivo-
sexual da família, é realizada uma atividade sobre Edgard Morin e os novos
paradigmas, a fim de que o tema da sociedade inclusiva, que é o novo e exigente
desafio do mercado, seja colocado em discussão.
Ao tomar o plano de ensino de CR I e de CR II do curso de Enfermagem, as
ementas e objetivos se repetem como os do curso de Engenharia e do curso de
Letras. O que muda é a maneira como cada professor trabalha as temáticas
relacionadas ao curso em questão.
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Uma das propostas é trabalhar o corpo físico como dimensão constitutiva do
ser humano. A corporalidade é uma questão da história das culturas, das
civilizações, das religiões, das filosofias e das ciências humanas. É interessante
trabalhar a presença do homem no mundo que se faz pelo corpo em uma totalidade
físico-orgânica e possui intencionalidade.
Se for trabalhada a totalidade físico-orgânica, o tempo é cronológico e se
trabalha os sistemas do corpo como: neurológico, reprodutivo, circulatório,
independente da vontade. Já se for trabalhada a totalidade intencional, o corpo
passa a possuir intenção dada pelo indivíduo, ocorrendo níveis de reestruturação no
corpo em que se é capaz de alterar o corpo físico dando sentido diferente.
Permite-se, assim, a abertura do homem à realidade sobre a qual não existe
resposta imediata. Ainda é trabalhado o tema da religião e saúde, bem como o tema
da religião com o cuidado. Trabalha-se o que é cuidado, o modo-de-ser cuidado, as
concretizações do cuidado e as figuras exemplares de cuidado. Questões acerca da
defesa da vida e da terra, a bioética, o compromisso de transformação social são
levantadas para compreender a crise ético-moral da sociedade.
O processo de ensino-aprendizagem tem por finalidade ser um ato dialogal
entre professores e alunos. Esse processo abre-se a possibilidades de reavaliação
de métodos adotados no decorrer do curso, levando-se em consideração o interesse
dos alunos, desde que fundados em legítimas proposições.
5.2 A contribuição acadêmica da Cultura Religiosa
A partir da compreensão de como a CR se constituiu, sua importância
existencial atualmente, para pensar sobre a contribuição acadêmica dessa
disciplina, a ideia de identidade como valor central para a organização da sociedade
deve ser lembrada.
A identidade pode ser considerada como uma história estruturada e adequado
para fornecer o mínimo de segurança ontológica indispensável para enfrentar o
contexto de risco que caracteriza o mundo atual. É um conceito que vem sendo
questionado por diversas áreas de conhecimento.
Para Berger e Luckmann(1985), a identidade é objetivamente definida como
localização em um certo mundo e só pode ser subjetivamente apropriada juntamente
com este mundo. O indivíduo assimila a realidade e reproduz sua experiência social.
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Muitas vezes, alunos não completam o curso de graduação que pretendem
cursar, ou ainda desistem quase no último período, porque se deparam em uma
crise existencial que a CR I bem no 1º período pode ajudar a resolver. Logo no início
do curso, pode orientar o aluno quanto às dúvidas, quanto à decisão de tornar
oportunos meios de clarificar e compreender as implicações de uma escolha. Seria o
princípio de resgatar a identidade vocacional e profissional do aluno em crise de
decisão. Identidade estabelecida pela tomada de consciência de um indivíduo em
crise.
Para a Universidade, a CR contribui academicamente reconhecendo a
importância de determinação de escolhas que o aluno faz, habilitando o mesmo na
organização de projetos de vida de maneira coerente. A disciplina intervém no
processo de evasão, quando estimula o aluno à reflexão sobre a questão da escolha
de um curso e propicia condições para a Universidade cumprir seu papel social de
agente formador.
Geralmente, a fase em que a maior parte do alunado se encontra na
Universidade é o de querer ser, que deve ser conquistado aos poucos, dia após dia.
O querer ser é importante e o como ser é mais importante ainda. É um momento de
colocar o que estava planejado em prática no momento presente. É ter um projeto
de vida que pode fazer uma pessoa se sentir segura, confiante na hora de fazer as
escolhas, na hora de fazer pensar até como será o mundo que se ajuda a construir
dia-a-dia. Projetos que podem sofrer alterações. É preciso preparar os alunos para
essa realidade e mostrar como boas decisões elevam as pessoas em todos os
sentidos.
Cabe salientar que a CR também contribui academicamente no estudo da
vida em todas as suas formas. Algumas tradições religiosas têm ecologistas que
compartilham a ideia de que somos um e que a natureza é vida que se manifesta
criativamente nas mais diferentes formas. Entende-se a vida de forma ampla,
permitindo que ela seja respeitada em seu direito de ser.
Caso se concorde que tudo aquilo que exista deve viver plenamente sua vida
e sua singularidade, pode-se sentir parte ativa do movimento da vida no universo.
Compreendendo que as pessoas das diferentes religiões são o próximo, tanto
quanto as pessoas que possuem a mesma religião de um indivíduo, têm-se laços de
fraternidade e de defesa do direito de crer de cada um, ou até mesmo do direito de
não crer.
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As pessoas são seres vivos com sentimentos, capacidade de ação no mundo,
e por serem diversas possuem ou não crenças religiosas, o que não deve ser motivo
para causar afastamento e discriminação de qualquer forma, sendo que o exercício
de uma profissão tem tudo a ver com a experiência religiosa.
A vida do graduando é muito mais do que o objeto do curso em que ele se
matricula. A vida pessoal extrapola as disciplinas técnicas dos cursos e estudar
religião tem a ver com a variação do preço da gasolina, tem a ver com a moral. A
concepção religiosa permeia tudo, e questões religiosas determinam a ética.
Entender academicamente a religião é uma questão fenomenológica. O primeiro
contato que o aluno tem com a CR é fundamental para desfazer preconceitos para
com a disciplina.
Outra contribuição acadêmica que a CR tem é o estudo comparado das
religiões, que possui três vertentes: a fenomenológica, a social e a cultural. Em uma
abordagem histórica, são analisados os fatores históricos, políticos, econômicos e
sociais do fenômeno religioso.
Outro fator importante ao se estudar a historia das religiões é que se
esclarece que a história religiosa não possui métodos específicos para o estudo do
fenômeno religioso. Os conflitos teológicos e políticos que se processaram na Igreja
Católica brasileira, por exemplo, no período da ditadura militar, correspondem a um
contexto histórico de transformações políticas, econômicas e sociais de toda a
América Latina. A fim de compreender a história das religiões, procura-se promover
uma reflexão sobre o estatuto da memória histórica, biografias e relatos de
formação, através da leitura de alguns autores.
Além disso, a Igreja Católica teve um idealismo que durante muitos séculos
negligenciou objetos que tinham muito valor para os indígenas, por exemplo.
Objetos que ocupavam papel importante na comunicação com a divindade indígena,
como plantas, colares, rituais ou mesmo objetos que faziam parte de rituais
religiosos dos índios antes de lhe introduzirem a religião cristã. O índio acabou por
adaptar-se à religião imposta pelo europeu, desenvolvendo uma espécie de
aculturação, ou seja, transformando sua cultura para mantê-la viva e não deixando
de lado suas raízes. Até santos indígenas eram pontos de sustentação, dando nova
definição ao mundo real. As imagens cristãs cumpriam seu papel e deixavam de ser
meras representações e transformaram-se em objeto de culto, ligando assim o
mundo indígena ao mundo ocidental europeu.
85
Segundo William Paden (2001), o sagrado é aquele conjunto de coisas que
qualquer ser humano, em qualquer época ou lugar sempre considerou inviolável e
digno de estima. Conceito que permite maior compreensão dos fatores essenciais à
realidade social e cultural, como um poder experimentado como real, divino e
misterioso. O autor explica ainda que a religião e suas expressões podem ser
caracterizadas como forma universal de cultura que precisa ser entendida antes de
ser explicada e que entendê-las significa conhecer os padrões variantes culturais. A
religião não é só uma expressão da sociedade, mas uma criadora de sociedades.
A disciplina de CR tem valor acadêmico quando busca fundamentar valores e
critérios para uma atuação e pensamento crítico diante do pluralismo científico e
ideológico e dos desafios presentes em uma sociedade globalizada, marcada por
crises plurirreligiosas. A disciplina em questão faz com que se compreendam os
desafios contemporâneos das religiões, de maneira sensível, crítica e
transformadora.
Tendo em vista a diversidade cultural religiosa existente no mundo, é
necessário que não se estude apenas uma religião, mas sim os elementos básicos
que compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas percebidas
no contexto cultural, histórico e mundial. Deve-se valorizar a diversidade cultural
religiosa presente na sociedade, no constante propósito de promoção dos direitos
humanos. Diferentes crenças, grupos e tradições religiosas, bem como a ausência
delas, são aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como
dados antropológicos e socioculturais, capazes de contribuir na interpretação e na
fundamentação das ações humanas.
Grande parte dos conflitos mundiais é acompanhada pela referência étnico-
religiosa. Tem-se justificado tudo em nome de Deus, inclusive chacinas e outros
crimes. Há uma ambiguidade na história religiosa da humanidade, que de um lado
com a presença da vitalidade religiosa favorece o crescimento da afirmação do
humano com solidariedade e compaixão, e de outro há a justificativa da violência,
opressão em nome de Deus ou do sagrado. A religião se instrumentalizou.
Uma reflexão sobre o pluralismo religioso é necessária como desafio à
teologia Cristã. O pluralismo está presente na história do Cristianismo desde o início
da sua história. Já desde os primeiros séculos, tenta encontrar maneiras de
comunicar-se com outras religiões. Para tal, é compelida a dialogar com os
diferentes deuses presentes neste mundo, a fim de poder fazer visível e audível a
86
experiência de seu Deus. Cada um compõe sua própria concepção religiosa, e o
campo religioso passa a se assemelhar a uma terapia, assim como também a um
lugar de trânsito onde se entra e se sai.
A questão religiosa apresenta, pois, uma outra face: a da pluralidade. Face
esta que, por sua vez, implicará igualmente na existência de uma interface: a das
diferentes tentativas do diálogo inter-religioso, da prática plurirreligiosa e da religião
do outro como condição de possibilidade de viver mais profunda e radicalmente a
própria fé. Não só as antigas e tradicionais religiões parecem crescer de importância
e se tornarem interlocutoras de peso para o Cristianismo histórico, como também
novos movimentos religiosos surgem de todos os lados, trazendo perplexidade e
interpelações diversas. A partir dessa face plural, geradora de uma interface
plurirreligiosa, a experiência do Sagrado realizada dentro do Cristianismo hoje é
interpelada e chamada a aprender sobre experiências místicas e espirituais de
outras religiões. E isso não para deixar de ser cristão ou algo parecido, mas para
que a experiência de Deus que está no coração mesmo de sua identidade dê e
alcance toda a sua medida.
A questão de experiência do Sagrado é igualmente uma experiência de
sedução irresistível, que hoje deve ser buscada e encontrada em meio ao mundo, às
realidades terrestres, à pluralidade religiosa e ao diálogo com as outras tradições.
Assim, a sacralidade hoje poderá ser encontrada por aquele ou aquela que
está em busca de uma interface experiencial. Experimentar o sagrado é tocar
naquilo que não passa e que dá sentido e estrutura à vida humana. Ao mesmo
tempo é ser constituído para sempre como peregrino, permanentemente em busca,
sempre a caminho, nunca fixado em nenhum solo ou nenhuma paisagem. A
velocidade com que mudam os tempos e as coisas na sociedade onde se vive,
nesse sentido, é um alerta permanente para toda tentação de fixismo que quiser
rondar e cercar o desejo pelo Sagrado que se propõe como possibilidade. Nesse
sentido, a pertença religiosa no início deste novo milênio nos obriga a repensar
categorias tão fundamentais da vida quanto tempo e espaço, conteúdo e forma,
razão e imaginação. Obriga igualmente a repensar a maneira de fazer Teologia.
Esta não pode fazer-se senão em contínuo trabalho com a ciência da religião e a
espiritualidade, ainda que incluindo, humildemente, a razão que durante tantos
séculos foi a garantia maior da segurança e da veracidade da Teologia.
87
5.3 Cultura em diálogo na contemporaneidade: entre Teologia e Ciências da Religião
É de suma importância a existência “oficial” da Teologia e das Ciências da
Religião na Universidade, já que as duas são importantes para o aprofundamento da
especificidade do fenômeno religioso e para a construção de uma área acadêmica
voltada ao seu estudo.
Percebe-se a dificuldade de trabalhar com a disciplina de CR. Essa disciplina
é um espaço de reflexão dos valores humanos, entretanto os temas trabalhados em
CR, sobretudo CR II, não são apenas de responsabilidade dessa disciplina em cada
curso e sim de todas as disciplinas. Um trabalho interdisciplinar há de ser feito nos
cursos. Não é possível pensar em educação de qualidade que não atinja a dimensão
religiosa do ser humano. A formação humana deve ser integral, contemplando a
religiosidade. Porém se deve ter muito cuidado para evitar preconceitos e
fundamentalismos, pois o fenômeno religioso deve ter a sua diversidade respeitada.
O problema do diálogo na contemporaneidade entre Teologia e Ciências da
Religião trata das possibilidades e necessidades de cada área de conhecimento, ao
contrário do que apenas o representante de uma instituição religiosa fala que parte
de princípios teológicos de um projeto de evangelização.
Percebe-se que há muitas questões em aberto seja por causa do objeto de
estudo, que é a Teologia e as Ciências da Religião, seja por causa dos caminhos
para tentar entender esse objeto de estudo: Teologia ou Ciências. Aparentemente,
campos distintos que têm muito o que dialogar e que são disciplinas desafiadas
pelas expectativas da sociedade a fornecer informações significados relevantes para
a solução de problemas.
Não significa fechar em uma versão estreita do estudo das religiões pelo
aspecto cognitivo ou dialógico. O estudo academicamente convincente das religiões
é de grande importância para o contexto intelectual e social de qualquer pessoa.
Deve-se buscar integração entre as disciplinas: Teologia e demais Ciências da
Religião, a fim de lidar com as complexidades de cada campo.
Às Ciências da Religião não cabe nenhuma ideologia antirreligiosa, sendo
que existem paradigmas na construção de identidade cultural e social que refletem
nas Teologias de cada lugar. Identidades que não são estáveis e que se convergem
com a globalização.
88
A globalização é um dos fenômenos que produz impactos decisivos sobre a
religião, já que ela transforma contextos locais pessoais e sociais. Como influencia
estilos de vida, influencia as crenças que, por sua vez, ao não perceberem o sentido
de sua identidade, perdem seu sentido. As mudanças fazem com que a fé enrijecida
ou cristalizada seja questionada e deve, portanto, ser reinterpretada. A nova
vitalidade da religião tem destruído as raízes autênticas da existência. Cabe
salientar que não se sugere um desaparecimento da tradição religiosa e sim uma
mudança de seu status para uma nova fisionomia da tradição. O elemento de
continuidade entre passado e presente deve ser sempre dinamizado pela
incorporação das inovações e reinterpretações em função dos dados do presente.
As Ciências da Religião estudam o sagrado na forma da experiência ou de
instituição. Experiência do sagrado que pode acontecer de diversas maneiras, em
vários lugares e em diferentes tempos.
A Teologia abre-se em relação ao objeto de sua reflexão. Pode não possuir
limite quanto ao tipo de objeto e pode ser Teologia do trabalho, Teologia do lazer,
Teologia da vida, Teologia da esperança, entre outras, mostrando que não é
caracterizada pelo objeto de sua reflexão. Qualquer realidade à luz da palavra
revelada é entendida, transmitida, vivida por uma comunidade de fé.
A ciência de outras religiões que se fundam em experiências humanas, em
tradições culturais, não seria Teologia. Em um sentido restrito, Teologia existe nas
religiões reveladas. As Ciências da Religião trabalham com um vasto campo de
conhecimento, fazendo com que o fenômeno religioso seja interpretado pelo
cientista da religião tanto sob a forma de experiência quanto de instituição. O que
interessa é esclarecer dados que explicam determinada experiência religiosa ou
determinada religião.
Há um historiador das religiões, um sociólogo das religiões, um antropólogo
das religiões, um psicólogo das religiões, um filósofo das religiões que não
trabalham com a dimensão da fé, que sabem também que não possuem a total
compreensão dos fatos e que abordam coerentemente a questão do fenômeno
religioso a partir de sua área de conhecimento.
A Teologia acolhe a totalidade dos ensinamentos de fé, reflete sobre a fonte
única da revelação que cada tradição, que cada comunidade vive. Trabalha com a
dimensão da experiência religiosa e da religião.
89
É fato que no momento atual o fenômeno religioso tornou-se importante, que
as Ciências da Religião ocupam papel fundamental na tentativa de esclarecer tais
fenômenos, já que são diversas ciências tentando explicar a complexidade do que é
real. Como a Teologia considera apenas a questão da palavra revelada, ela perde
um pouco de espaço.
Entretanto, o diálogo entre Teologia e as Ciências da Religião é possível e
incide na complementaridade das perspectivas para que o concreto se torne
compreensível e claro à inteligência. Quando se trata de verdade, não compete
impossibilidades entre os aspectos dados. Caso ocorra, constitui um erro do olhar,
sendo que o diálogo se estabelece para explicar a confusão da oposição.
Através do diálogo, as pessoas têm maior concepção do fenômeno religioso,
da religião como instituição e como experiência de fé. O olhar hermenêutico do
religioso a partir da fenomenologia, das Ciências da Religião, da Teologia, é muito
importante na história da Teologia e das Ciências da Religião. A hermenêutica no
sentido teológico é humana, é linguagem, introduzida em um conhecimento que
precisa ser feito sob o ponto de vista intercultural, ecumênico e inter-religioso.
Há um eterno debate entre ciências cognitivas, Teologia e Ciências da
Religião, e se necessita de mais espaço para os questionamentos levantados pelas
ciências cognitivas. A presença de estudiosos nesse campo teria o que acrescentar
ao enriquecimento dos estudos da Teologia e das Ciências da Religião. Defende-se
aqui a tese da Teologia como ciência, o que de fato permite sua ecumene e sua
recolocação no âmbito da esfera pública e da Universidade.
Ainda para as Ciências da Religião, a fenomenologia é tida como
possibilidade de fundamentação do religioso, assim como método para a
compreensão das formas da religião. Cabe ressaltar que, para o diálogo entre
Teologia e Ciências da Religião na contemporaneidade, é preciso cuidado para
distinguir essência e as formas da religião, além de ter em mente que algumas
experiências religiosas são difíceis de analisar.
O debate entre Teologia e Ciências da Religião deve-se manter em aberto. As
duas áreas podem-se enriquecer mutuamente. Existem desafios para essas duas
áreas de conhecimento, e cabe aos interessados em trabalhar nessa área em
continuar seu trabalho em defesa dos interesses da Teologia e das Ciências da
Religião enquanto cientificidade das disciplinas e respeitabilidade acadêmica.
90
A Cultura Religiosa tem importância no debate dos aspectos fenomenológicos
e éticos como tópos privilegiado do diálogo, já que, quando os professores
trabalham temas pertinentes a esses aspectos, cumprem a importante tarefa de
formação plena do estudante, de formação profissional e humanística,
desenvolvendo valores e atitudes relevantes em qualquer profissão. Além disso,
quando o professor trabalha questões éticas, sensibiliza os alunos para a
importância das questões sociais. Quando trabalha questões fenomenológicas,
promove melhorias no relacionamento interpessoal. O trabalho com temas atuais
aperfeiçoa os desdobramentos da CR na vida dos alunos. A disciplina tem a função
de contribuir com as outras disciplinas pragmáticas de cada curso, no sentido de
questionar a maneira como as descobertas implicarão sobre as pessoas e sobre a
sociedade, fornecendo uma perspectiva e uma orientação.
Pensando ainda na inter-relação fenomenológica e ética como tópos
privilegiado do diálogo, a CR tem, de acordo com os professores, impacto em
diversas dimensões da vida dos alunos, especialmente quando os professores
trabalham o despertar da consciência crítica e moral, a formação de valores e
conceitos, a atitude de reflexão contínua e a interpretação de ideologias.
Para os professores, a CR faz com que os alunos obtenham maior
conhecimento sobre religião e cultura; tenham mais respeito pelas mesmas;
melhorem o senso crítico; fiquem mais tranquilos para a vida social e para a
convivência, possibilitando crescimento pessoal e profissional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do objetivo de analisar o papel da disciplina CR da PUC Minas,
valorizando o estudo fenomenológico e ético da mesma, enfatizando as diversas
expressões e crenças definidas como religiosas na perspectiva do diálogo, esta
pesquisa percorreu um caminho através do qual se pôde observar a trajetória dos
professores ao trabalharem com a disciplina nos cursos, considerando-se os temas
trabalhados, a confessionalidade ou não da disciplina e o caráter obrigatório da CR
na Universidade.
A CR evoluiu paulatinamente no sentido de os professores compreenderem
que, embora essa disciplina tenha um caráter de obrigatoriedade pelo fato de a
instituição ser uma instituição católica, ela é de grande relevância, já que as aulas de
CR são um espaço de diálogo em que as questões sociais, pessoais e de
responsabilidade profissional podem ser debatidas. Além disso, é uma disciplina que
contribui para manter a identidade de uma Universidade Católica.
O estatuto da PUC Minas consolida essa tendência quando fala dos fins da
Universidade em incentivar o diálogo interdisciplinar, a integração entre os diversos
ramos do saber e o encontro entre a ciência e a fé católica, na investigação da
verdade e na reflexão dos problemas humanos, com especial atenção às
implicações ética e moral, bem como quando orienta suas ações na fidelidade à
doutrina cristã e respeito aos princípios da Igreja Católica.
Constatou-se que, na maioria das vezes, a CR cumpre seus objetivos em
consonância com as diretrizes e normas da Universidade de maneira satisfatória,
sendo importante na formação humanística dos alunos. Nesse sentido, os
ensinamentos ministrados nos cursos influenciam comportamentos e atitudes dos
estudantes.
Dentre as diversas tendências para se trabalhar a CR, as perspectivas
fenomenológicas e éticas se destacam nesta pesquisa, não só pela considerada
relevância, mas pelo exercício minucioso e extenso, ou seja, ao longo de toda a vida
do aluno, seja pessoal ou profissional, independente do curso.
Optou-se, nesta pesquisa, delimitar a entrevista em professores e
coordenadores da CR para fazer uma explanação geral sobre como a CR possibilita
o diálogo com a sociedade. A opinião dos alunos seria muito importante, mas a
questão tempo foi um empecilho para entrevistar alunos.
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A análise da perspectiva fenomenológica serviu de modelo para mostrar como
a CR orienta outras áreas de conhecimento no sentido de se assumir uma atitude
diante dos desafios contemporâneos das religiões, de maneira sensível, crítica e
transformadora. A questão religiosa é marcada pela investigação teórica na interface
dos discursos éticos, discursos religiosos, discursos do sentido da história e os
campos de diálogo próprios da religião.
A perspectiva ética é a mais trabalhada pelos professores de CR. O tema
ganha maior visibilidade quando os professores trabalham com a questão da ética
profissional de seus alunos, mas esse tema se destaca também quando professores
abordam temas mais universais, como os de bioética, por exemplo.
O diálogo, por sua vez, por ser considerado um lugar privilegiado foi
amplamente apreciado ao longo de toda a pesquisa, seja nas entrevistas, seja na
pesquisa teórica, já que a intenção final era a de que temas fenomenológicos e
éticos promovessem a cultura da paz e da tolerância. O objeto de estudo dessa
pesquisa foi a importância institucional da CR na formação integral do aluno da PUC
Minas, seja no meio acadêmico bem como na formação pessoal, fundamento ético
em diálogo com as categorias éticas contemporâneas.
Outro dado interessante é que esta pesquisa mostrou de modo comparativo
os paradigmas da Teologia e das Ciências da Religião. A CR é uma disciplina
obrigatória na PUC Minas. Nos documentos de parametrização da PUC Minas,
encontram-se as disciplinas que devem estar presentes em uma Universidade
Católica, como explicado no primeiro capítulo, entretanto, agora, pensando nas
características gerais da CR, constatou-se que é uma disciplina que traz impactos e
contribuições para a vida pessoal e profissional dos alunos.
Constatou-se, ainda nesta análise, que planos de ensino e ementas das
disciplinas Cultura Religiosa I e II são iguais para todos os cursos. O que muda de
fato é a maneira como cada professor vai conduzir sua aula e seus temas, sendo
que essa prática docente é o que aponta caminhos que estão em concordância com
a realidade dos universitários.
Assim, a tendência da CR é a de tratar de questões humanas, na sua
dimensão antropológica, social, espiritual e ética, em uma proposta ampla e
basicamente humanista. A formação acadêmica, humana, profissional, necessita
dessa vertente humanista. É formar um biólogo que saiba se relacionar bem com os
outros. Os conteúdos partem do ponto de partida para um diálogo mais profundo e
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aberto com os alunos sobre o fenômeno religioso como um todo, desenvolvendo o
pensamento crítico e complexo, que estimula uma vivência mais aberta e dialogal.
É esta a importância vital da disciplina, sair do aspecto definido pela
obrigatoriedade de existir em uma Universidade Católica, sair do aspecto apenas
teórico que a CR tem e partir para a emergência prática, do diálogo, sobretudo
pensando no ser cidadão e na realidade. A importância acadêmica, pessoal e
profissional da CR é essencial por fazer referência direta ao ser humano. Os
professores se propõem ainda a abrir os horizontes de concepção da cultura, da
sociedade e da ciência a partir da dinâmica da religião em particular, e apresentam
subsídios para a evolução da própria formação humana pessoal.
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REFERÊNCIAS
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