a economia politica dos sistemas-mundo e a visao do sistema interestatal capitalista

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1 A Economia Política dos Sistemas-Mundo e a visão do Sistema Interestatal Capitalista: uma análise comparativa Valéria Lopes Ribeiro 1 Resumo: Este trabalho recupera duas perspectivas teórico-metodológicas que ganharam destaque dentro da Economia Política Internacional a partir dos anos 70. Uma delas representa a visão de autores como Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, cujas principais idéias vêm norteando a chamada Economia Política do Sistemas-Mundo (EPSM); e a outra traduz-se em uma nova proposta de teorização, arquitetada por José Luiz Fiori a partir de uma leitura específica do funcionamento do sistema mundial. O trabalho procura definir conceitos e elementos chaves das duas abordagens para em seguida estabelecer uma comparação entre ambas em torno da visão ontológica acerca do sistema mundial, da dinâmica do sistema e do papel das hegemonias mundiais. Finalmente, o trabalho apresenta as divergências com relação a visão conjuntural das duas perspectivas, principalmente no tocante ao debate em torno do possível fim da hegemonia americana. 1) Introdução O final do século XX, principalmente a partir de meados dos anos 70, foi marcado por mudanças profundas na economia e na geopolítica mundiais. Todas essas transformações - que se manifestam para além do campo da economia e da geopolítica, repercutindo em aspectos ideológicos e culturais – tiveram sua contrapartida teórica no campo da Economia Política Internacional, marcada pela contribuição de novas perspectivas teóricas voltadas a discussão do modo de funcionamento e dinâmica do sistema mundial 2 . Dentre estas análises, e também a partir delas, novas contribuições ganharam formas cada vez mais consolidadas em visões distintas acerca das mudanças observadas na economia e geopolítica mundiais. Este trabalho procura apresentar uma análise comparativa de duas vertentes que surgem no bojo dessas transformações. Uma delas representa a visão de autores como Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, cujas principais idéias vêm norteando a chamada Economia Política do Sistemas-Mundo (EPSM); e a outra traduz-se em uma nova proposta de teorização no campo da Economia Política Internacional, arquitetada por José Luiz Fiori a partir de uma leitura específica do funcionamento do sistema mundial. O trabalho procurará apresentar essas duas visões, procurando identificar e definir conceitos e elementos chave da análise de cada uma para, em seguida, estabelecer uma tentativa de comparação entre as duas abordagens. Aspectos como a visão ontológica acerca do sistema 1 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional (PEPI-UFRJ) 2 Em “O poder Americano” (2004), em seu texto “Formação, expansão e limites do Poder Global” Fiori faz uma recuperação das diversas correntes teóricas dentro da Economia Política Internacional que emergem (ou ganham força) a partir da década de 70 (FIORI, 2004, pgs 11-20).

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    A Economia Poltica dos Sistemas-Mundo e a viso do Sistema Interestatal Capitalista: uma anlise comparativa Valria Lopes Ribeiro1 Resumo: Este trabalho recupera duas perspectivas terico-metodolgicas que ganharam destaque dentro da Economia Poltica Internacional a partir dos anos 70. Uma delas representa a viso de autores como Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, cujas principais idias vm norteando a chamada Economia Poltica do Sistemas-Mundo (EPSM); e a outra traduz-se em uma nova proposta de teorizao, arquitetada por Jos Luiz Fiori a partir de uma leitura especfica do funcionamento do sistema mundial. O trabalho procura definir conceitos e elementos chaves das duas abordagens para em seguida estabelecer uma comparao entre ambas em torno da viso ontolgica acerca do sistema mundial, da dinmica do sistema e do papel das hegemonias mundiais. Finalmente, o trabalho apresenta as divergncias com relao a viso conjuntural das duas perspectivas, principalmente no tocante ao debate em torno do possvel fim da hegemonia americana.

    1) Introduo

    O final do sculo XX, principalmente a partir de meados dos anos 70, foi marcado por

    mudanas profundas na economia e na geopoltica mundiais. Todas essas transformaes - que

    se manifestam para alm do campo da economia e da geopoltica, repercutindo em aspectos

    ideolgicos e culturais tiveram sua contrapartida terica no campo da Economia Poltica

    Internacional, marcada pela contribuio de novas perspectivas tericas voltadas a discusso do

    modo de funcionamento e dinmica do sistema mundial2. Dentre estas anlises, e tambm a

    partir delas, novas contribuies ganharam formas cada vez mais consolidadas em vises

    distintas acerca das mudanas observadas na economia e geopoltica mundiais.

    Este trabalho procura apresentar uma anlise comparativa de duas vertentes que surgem

    no bojo dessas transformaes. Uma delas representa a viso de autores como Immanuel

    Wallerstein e Giovanni Arrighi, cujas principais idias vm norteando a chamada Economia

    Poltica do Sistemas-Mundo (EPSM); e a outra traduz-se em uma nova proposta de teorizao no

    campo da Economia Poltica Internacional, arquitetada por Jos Luiz Fiori a partir de uma leitura

    especfica do funcionamento do sistema mundial.

    O trabalho procurar apresentar essas duas vises, procurando identificar e definir

    conceitos e elementos chave da anlise de cada uma para, em seguida, estabelecer uma tentativa

    de comparao entre as duas abordagens. Aspectos como a viso ontolgica acerca do sistema

    1 Doutoranda do Programa de Ps-graduao em Economia Poltica Internacional (PEPI-UFRJ) 2 Em O poder Americano (2004), em seu texto Formao, expanso e limites do Poder Global Fiori faz uma recuperao das diversas correntes tericas dentro da Economia Poltica Internacional que emergem (ou ganham fora) a partir da dcada de 70 (FIORI, 2004, pgs 11-20).

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    mundial, da dinmica do sistema e das vises de cada perspectiva sobre o papel das hegemonias

    mundiais sero tratados aqui. O trabalho est estruturado da seguinte forma: alm desta

    Introduo o item 2 apresenta as principais idias e conceitos da EPSM; a sesso 3 resume

    brevemente as principais idias em torno da perspectiva do Sistema Interestatal Capitalista; a

    sesso 4 procura estabelecer uma comparao entre as duas perspectivas principalmente a

    cerca da viso conjuntural; e finalmente a sesso 5 apresenta algumas concluses.

    2) Economia poltica dos sistemas-mundo: Wallerstein, Braudel e Arrighi - o sistema mundial como uma economia mundo capitalista

    2.1) Definindo conceitos - Wallerstein e o sistema-mundo

    Em meados dos anos 70, Immanuel Wallerstein, em trabalhos fundadores da abordagem

    que depois seria intitulada Economia Poltica dos Sistemas-Mundo3, d incio a uma ampla

    anlise do processo de mudana social desde o incio da formao do chamado Moderno Sistema

    Mundial. Nesta obra (e tambm em textos posteriores), Wallerstein vai definindo conceitos e

    proposies metodolgicas que chamam a ateno para a necessidade de se trabalhar com uma

    unidade de anlise ampla, que rena todo o globo em um nico sistema mundial: a economia

    mundo capitalista. Para Wallerstein esta dimenso espacial fundamental para a discusso dos

    processos econmicos e sociais no capitalismo, observados nos diversos Estados que compem o

    sistema mundial.

    Para instrumentalizar sua perspectiva analtica, Wallerstein lana mo do conceito de

    sistema histrico, que, segundo esse autor, serve como referncia de anlise mais adequada para

    o estudo da vida social, em detrimento utilizao de conceitos como Estado e sociedade,

    comumente utilizados nas perspectivas analticas tradicionais. O conceito de sistema histrico

    refere-se a conjuntos de estruturas que abarcam no apenas processos econmicos, mas tambm

    polticos e culturais, que moldam a vida social ao longo do tempo. Um sistema histrico s um

    sistema por ser possvel observar nessas estruturas processos internos que moldam sua trajetria,

    fazendo com que o sistema opere com relativa autonomia, ou seja, funcione em essncia em

    termos das conseqncias de seus processos internos (WALLERSTEIN, 1999, p. 249).

    3 The Rise and Future Demise of the World Capitalist System: Concepts for Comparative Analysis, republicado em WALLERSTEIN, I. The Essential Wallerstein. New York: The New York Press, 2000; e o volume The Modern World-System I: Capitalist Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century (1979). (FILOMENO e ARIENTI, 2004)

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    Este aspecto sistmico encontra uma contrapartida temporal e, por isso, histrica, na

    medida em que um sistema histrico inicia-se em determinado perodo do tempo e chega ao fim,

    aps percorrer uma longa trajetria ao longo tempo, a chamada longa durao das estruturas

    sociais, definida por Fernand Braudel (1996). A identificao desta trajetria ao longo do tempo

    em termos espaciais outro aspecto dos sistemas histricos, ou seja, o fato de podermos

    delimitar geograficamente a existncia de um sistema histrico especfico, ainda que um espao

    em constante mudana. (WALLERSTEIN, 1999).

    O carter espacial de um sistema histrico refere-se identificao de seus processos

    internos e das redes econmicas em reas geogrficas especficas, que passam a fazer parte de

    um mesmo sistema. O que permite identificar espacialmente um sistema histrico justamente

    sua caracterstica mais essencial, isto , a existncia de uma diviso do trabalho no seu interior,

    de tal modo que os vrios setores ou reas sejam dependentes de intercmbio econmico com

    outros setores ou reas para um abastecimento que, contnuo e desimpedido, atenda s suas

    necessidades (Hopkins & Wallerstein, 2000, p. 74). Dentro do que podemos delimitar

    geograficamente como sendo um sistema histrico, inscreve-se uma extensa rede de processos

    produtivos onde a reproduo social est fortemente relacionada diviso do trabalho observada

    dentro dos seus limites.

    Segundo Wallerstein, existem dois tipos de sistemas histricos. Um deles refere-se a

    unidades que apresentam processos internos prprios e caracterizam-se por serem entidades

    bastante pequenas. O outro tipo de sistema histrico no qual podemos de fato identificar a

    existncia de uma rede extensa de processos econmicos, polticos e culturais so os sistemas-

    mundo. Estas seriam entidades de grande escala e longa durao, que podem ser divididos em

    imprios-mundo e economias-mundo.

    Nas economias-mundo observam-se estruturas que possuem mltiplas unidades polticas

    que exibem integrao econmica. Ao contrrio dos imprios-mundo, onde h a necessidade de

    uma coero direta para garantir a transferncia de recursos que sustente o sistema, em uma

    economia-mundo as unidades econmicas por si mesmas agem nesse sentido, na medida em que

    o prprio funcionamento de seus processos internos pressupe a desigual distribuio do

    excedente gerado nas redes produtivas em benefcio de grupos de agentes que alcanam posies

    privilegiadas nos fluxos mercantis. (HOPKINS e WALLERSTEIN, 1987, p. 764)

    Wallerstein no o nico e nem foi o primeiro a empregar a noo de economia-mundo.

    Fernand Braudel (1996) fala sobre economias-mundo como sendo uma soma de espaos

    individualizados, econmicos e no econmicos agrupados por ela, representada por uma

    enorme superfcie hierarquizada com limites definidos onde coexiste normalmente um

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    centro/cidade que centraliza diversas relaes econmicas entre indivduos e agentes

    econmicos. (BRAUDEL, 1996, p. 14). Estas estruturas s podem ser compreendidas, segundo

    Braudel, a partir de uma perspectiva de longo prazo, ou seja, a partir de uma perspectiva

    histrica que consiga abarcar toda a complexidade da formao dessas estruturas. Recorrendo a

    esse autor, Wallerstein define uma perspectiva metodolgica tendo como base, justamente, uma

    considerao clara das noes de tempo e espao para o entendimento dos fenmenos

    econmicos e sociais modernos.

    Wallerstein fala sobre o capitalismo histrico em termos de uma economia-mundo

    capitalista que surge na Europa Ocidental por volta do sculo XV e incio do sculo XVI.

    Segundo o autor, embora tenham existido outras economias-mundo fora da Europa (China,

    Prsia, Roma), estas acabaram por se transformar em imprios-mundo. No caso da Europa, as

    tcnicas do capitalismo moderno e a tecnologia da cincia moderna permitiram que aquela

    economia-mundo prosperasse e se expandisse, tomando uma dimenso cada vez mais ampla e

    deixando para trs os imprios-mundo, que, at ento, predominavam como sistemas-histricos

    de maior amplitude.

    A capacidade da economia-mundo capitalista ter assumido essa posio relaciona-se

    justamente ao fato de que, ao contrrio dos imprios-mundo, este sistema histrico tenha contado

    com uma estrutura formada por vrios e mltiplos sistemas polticos baseados em um modo

    capitalista de produo, cuja caracterstica definidora a acumulao sem fim de capital

    (Hopkins & Wallerstein, 1987, p. 764). Assim, o segredo da superao feita pela economia-

    mundo capitalista est, segundo Wallerstein, no aspecto poltico de la forma de organizacin

    econmica llamada capitalismo. El capitalismo ha sido capaz de florecer precisamente porque

    la economa-mundo contena dentro de sus lmites no uno, sino mltiples sistemas polticos

    (Wallerstein, 1999, p.491).

    Essa expanso da economia-mundo capitalista europia foi resultado e ao mesmo tempo

    dependeu dos constantes processos de incorporao. Tal processo envolveu expanso

    geogrfica impelida por processos internos, pois o avano deu-se em movimentos cclicos de

    incorporao de novas reas em resposta s necessidades de desdobramento espacial das cadeias

    mercantis4 (Hopkins e Wallerstein, 1987, p. 765). Levado por sua lgica prpria, orientada pela

    incessante acumulao de capital, este sistema histrico foi levado por um processo de auto-

    expanso que acabou por incorporar todo o globo nessa imensa rede de processos produtivos

    cada vez mais mercantilizados.

    4 Segundo Wallerstein e Hopkins (2000) o conceito de cadeia mercantil refere-se a uma rede de trabalho e processos produtivos cujo fim resultante uma mercadoria acabada. (WALLERSTEIN & HOPKINS, 2000, p. 223).

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    medida que esse processo foi se consolidando, as cadeias mercantis expandiram-se

    atravs de Estados Nacionais e zonas geogrficas, que, em geral, passavam a abrigar os elos

    menos rentveis dessas cadeias, onde normalmente prevalecem baixos nveis de remunerao e

    tecnologia, tornando-se assim zonas perifricas com baixa capacidade de se beneficiar dos

    excedentes gerados nas relaes mercantis. Tal expanso consolida, nesse sentido, uma estrutura

    marcada pela hierarquizao e polarizao entre regies centrais, perifricas e semiperifricas,

    que respondem por diferentes capacidades de apropriao dos benefcios da acumulao de

    capital ao longo da extensa rede de diviso do trabalho.

    Inserida na prpria lgica do sistema est, portanto, uma estrutura hierarquizada, baseada

    em Estados Nacionais que, alocados em zonas centrais, assumem posies mais vantajosas

    ligadas a capacidade de se apropriar do excedente e impor-se mundialmente. As tentativas de um

    Estado em expandir-se nos moldes de um imprio so barradas pela constante competio que

    marca o sistema interestatal.

    Como ressalta Costa (2007), foi do esforo de barrar determinados Estados que estavam

    buscando transformar o sistema-mundo moderno em um imprio-mundial, que nasceram as

    chamadas potncias hegemnicas: primeiro as Provncias Unidas em meados do sculo XVII,

    depois o Reino Unido em meados do sculo XIX e os Estados Unidos em meados do sculo XX.

    (Wallerstein, 2002b, p.34 apud Costa, 2007). Para Wallerstein, a hegemonia foi sempre um

    efeito de longos perodos de expanso competitiva, que resultou numa concentrao de poder

    econmico e poltico em determinado Estado. A superioridade econmica em todos os casos se

    deu inicialmente na produo, depois no comrcio e por fim nas finanas, justamente por os

    Estados que aspiravam hegemonia estarem investindo mais em tecnologia produtiva do que

    seus rivais, em particular, as potncias imperiais mundiais, que vinham investindo mais em

    equipamento e pessoal militar. A consolidao das hegemonias ocorreu com o envolvimento de

    cada nao hegemnica em guerras durante as quais adquiriram supremacia militar. O prprio

    processo de guerra serviu para ampliar a vantagem econmica, e um acordo aps-guerra entre as

    naes veio a consolidar e proteger do desgaste essa maior vantagem. (Wallerstein, 2002,

    p.14,15; Arrighi e Silver, 2001, p.33 apud Costa, 2007, p. 4).

    Entretanto, rapidamente esse acordo ps-guerra d lugar a uma forma de liberalismo que,

    por sua vez, permite a instaurao de um ambiente propcio ao surgimento de novos

    competidores e concorrentes condio de lder global, fechando assim o ciclo hegemnico

    proposto por Wallerstein. (ARRIGHI & SILVER, 2008)

    O importante a ressaltar como Wallerstein entende a questo da hegemonia. Para este

    autor, embora vrios pases tenham se sucedido em posies de destaque no sistema mundial,

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    essas mudanas no so capazes de transformar a dinmica central do sistema. Para Wallerstein a

    ascenso das naes hegemnicas no mundo moderno um mero reflexo de propriedades

    sistmicas, que agem como foras coercitivas e ordenadoras na escolha dos Estados que se

    tornam hegemnicos. Nesse modelo, criticado por Arrighi, como veremos, as sucesses

    hegemnicas no implicam em reorganizaes fundamentais do sistema e mudanas em suas

    propriedades essenciais. (op. cit. p. 35)

    2.2) Arrighi Ciclos hegemnicos e ciclos sistmicos de acumulao

    Seguindo em certo sentido as proposies de Wallerstein, Giovanni Arrighi, tambm a

    partir de Braudel, procura entender os processos e fenmenos econmicos a partir da utilizao

    de uma perspectiva de anlise que procura ampliar as noes de tempo e espao para alm de

    delimitaes temporais recentes e restritas s fronteiras dos Estados Nacionais. Em A iluso do

    desenvolvimento (Arrighi, 1997), o autor apresenta uma sistematizao que serve de base para a

    sustentao dessa perspectiva, procurando apresentar sua viso acerca da existncia de um nico

    sistema mundial, formado por uma estrutura hierrquica de Estados.

    O principal argumento desse autor neste trabalho justamente a idia de que a economia

    mundial capitalista representada por uma estrutura de Estados fortemente hierarquizada que

    determina a posio dos pases em nveis mais altos (pases centrais ou de ncleo orgnico) e

    mais baixos da hierarquia (pases perifricos) 5.

    Com relao a questo da hegemonia, Arrighi discorda de Wallerstein quanto ao papel

    das sucesses hegemnicas na trajetria e dinmica do sistema mundial. Em Arrighi as

    diferentes hegemonias vm transformando e reorganizando o prprio sistema. Nas palavras do

    autor, a ascenso das naes hegemnicas no mundo moderno no foi mero reflexo de

    propriedades sistmicas (...) a hegemonia tambm implicou uma reorganizao fundamental do

    sistema e uma mudana de suas propriedades. (ARRIGHI, 2001, p. 35)

    Tomando o conceito de hegemonia de Gramsci aplicado em um contexto de um

    sistema interestatal, Arrighi desenvolve sua idia sobre o exerccio da hegemonia, baseado na

    5 Segundo Arrighi, a estrutura de Estados est dividida em trs zonas principais: o chamado ncleo orgnico, representado pelos pases que comandam atividades cujas recompensas agregadas incorporam a maioria dos benefcios globais da diviso mundial do trabalho, pases, portanto, situados no topo da hierarquia de Estados; a zona perifrica, formada por pases que comandam atividades que incorporam pouco ou nenhum benefcio da diviso mundial do trabalho, localizados, portanto, no ponto mais baixo da hierarquia; e a chamada zona semiperifrica, que seria o conjunto dos Estados/pases que, graas a uma combinao mais ou menos igual de atividades de ncleo orgnico e de periferia, exercem o poder de evitar o rebaixamento, mas tem pouco poder para melhorar sua posio, pases, portanto, situados em uma posio intermediria na hierarquia de Estados. (ARRIGHI, 1997).

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    caracterstica definidora segundo a qual uma nao dominante conduz o sistema de naes em

    uma direo desejada e, ao faz-lo, largamente percebida como buscando um interesse geral

    (op. cit., p. 36). A representao do interesse sistmico geral ganha credibilidade e amplia o

    poder de um estado pretensamente hegemnico quando existem duas condies: primeiro, a

    oferta efetiva por parte dos grupos dominantes destes Estados de capacidade de

    governabilidade mundial, para alm das decises estritamente nacionais; e, segundo, as solues

    de nvel sistmico oferecidas pela pretensa nao hegemnica devem enderear-se a problemas

    de nvel sistmico que se agravaram ao ponto de criar uma demanda profunda por parte dos

    grupos dominantes do sistema por gesto sistmica. (ARRIGHI, op. cit, p. 37)

    A investigao de Arrighi concentra-se nesse sentido nos processos que criaram essas

    duas condies no moderno sistema de Estados desde sua formao, em meados do sculo XVII.

    O modelo de transio hegemnica de Arrighi descreve assim um ciclo hegemnico onde a

    mudana sistmica endgena. Aps o perodo de expanso que segue a reorganizao

    sistmica, dotando o sistema de uma diviso do trabalho, a imitao fornece aos Estados

    separados o impulso motivador necessrio para mobilizar energias e recursos para a expanso. O

    que no incio se dava sob a forma de cooperao, passa a dar-se em um ambiente competitivo em

    que prevalece a tirania das pequenas decises, instaurando assim uma crise hegemnica. As

    crises hegemnicas caracterizam-se por trs processos distintos, mas relacionados: intensificao

    da concorrncia interestatal e interempresarial; a escalada dos conflitos sociais; o surgimento

    intersticial de novas configuraes de poder. Embora com caractersticas distintas, todos os

    processos de crise hegemnica tm em comum o fato de que foram marcadas por uma expanso

    financeira. (ARRIGHI, 2001, p. 39-40)

    Na esteira de Braudel, Giovanni Arrighi (1994) procura operacionalizar o estudo dos

    fenmenos econmicos e sociais por meio do conceito de Ciclos Sistmicos de Acumulao.

    Tais ciclos representam construo analtica que compreende a tentativa de encontrar padres de

    recorrncia ou movimentos seculares ao longo da histria da economia-mundo capitalista.

    Um ciclo sistmico de acumulao alterna pocas de expanso material com fases de

    renascimento e expanso financeira. A idia surge da interpretao braudeliana com respeito s

    caractersticas essenciais da histria do capitalismo, qual seja, a flexibilidade ilimitada e a

    capacidade de mudana e de adaptao (BRAUDEL, 1982, p. 433 apud ARRIGHI, 1994, p. 4).

    Segundo o autor, na histria do capitalismo podemos observar uma recorrncia dessa

    alternncia entre momentos de expanso produtiva e expanso financeira, esta ltima como a

    segunda parte de um ciclo que chega ao fim na medida em que os investimentos produtivos

    atingem uma maturidade ou estagnao. Foi assim com a oligarquia capitalista genovesa na

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    segunda metade do sculo XVI, quando esta passa das mercadorias para as atividades bancrias,

    fornecendo emprstimos para as naes ibricas; assim tambm ocorre com a retirada dos

    holandeses do comrcio para transformarem-se nos banqueiros da Europa nos sculos XVIII;

    com a Inglaterra, no fim do sculo XIX, quando a expanso industrial cria um excesso de capital

    monetrio; e tambm no final do sculo XX, na dcada de 70, quando a expanso produtiva do

    perodo ps-segunda guerra d lugar a um perodo de forte expanso financeira. (ARRIGHI,

    1994, p. 5). Assim, como sugere Arrighi,

    a frmula geral do capital apresentada por Marx (DMD) pode ser interpretada como retratando no apenas a lgica dos investimentos capitalistas individuais, mas tambm um padro reiterado do capitalismo histrico como sistema mundial. O aspecto central desse padro a alternncia de pocas de expanso material (fases DM de acumulao de capital) com fases de renascimento e expanso financeiros (fases MD). Nas fases de expanso material, o capital monetrio coloca em movimento uma massa crescente de produtos (que inclui a fora de trabalho e ddivas da natureza, tudo transformado em mercadoria); nas fases de expanso financeira, uma massa crescente de capital monetrio liberta-se de sua forma mercadoria, e a acumulao prossegue atravs de acordos financeiros (como na frmula abreviada de Marx, DD). Juntas, essas duas pocas, ou fases, constituem um completo ciclo sistmico de acumulao (DMD). (ARRIGHI, 1994, p. 6)

    Arrighi identifica assim a existncia de quatro ciclos sistmicos de acumulao: um ciclo

    genovs, do sculo XV ao incio do sculo XVII; um ciclo holands, do fim do sculo XVI at a

    maior parte do sculo XVIII; um ciclo britnico, da segunda metade do sculo XVIII at o incio

    do sculo XX; e um ciclo norte-americano, iniciado no fim do sculo XIX e que prossegue na

    atual fase de expanso financeira. (ARRIGHI, 1994).

    O importante aqui entender que a proposta de Arrighi de adoo dos ciclos sistmicos

    de acumulao deriva diretamente da idia braudeliana do capitalismo como a camada superior,

    no especializada, da hierarquia do mundo do comrcio.

    s por adotar esta perspectiva de anlise braudeliana que Arrighi consegue sustentar a

    tese da recorrncia dos ciclos sistmicos de acumulao. Pois, segundo o autor, na camada

    superior, e a partir da prpria existncia dela, que o capitalismo tem a flexibilidade necessria

    para deslocar continuamente seus investimentos das atividades econmicas que estejam

    enfrentando uma reduo dos lucros para outras atividades. (ARRIGHI, 1994). Esta capacidade

    de mutao e flexibilidade marca os momentos de mudana dos ciclos sistmicos em busca de

    formas de superao de condies limites no que tange acumulao. Segundo Arrighi, foi

    assim deste a Idade Mdia at os dias atuais.

    Desde o incio as expanses e reestruturaes da economia capitalista mundial ocorrem a

    partir da liderana de comunidades e blocos de agentes governamentais e empresariais que se

    posicionam de forma vantajosa em relao a outros agentes. Assim tem-se o que Arrighi chama

  • 9

    de regimes de acumulao em escala mundial, que seriam as estratgias e estruturas mediantes as

    quais aqueles agentes promovem, organizam e regulam a expanso da economia mundial. O

    objetivo dos ciclos sistmicos exatamente descrever a formao, consolidao e desintegrao

    desses regimes.

    3) A perspectiva do Sistema Interestatal Capitalista: universo em expanso

    Em vrios de seus trabalhos mais recentes6, Jos Luis Fiori vem fazendo uma leitura

    crtica das situaes conjunturais da econmica internacional a partir de uma nova viso

    estrutural das relaes internacionais e do funcionamento do sistema interestatal capitalista. O

    eixo central dessa viso a idia da necessidade de insero da dimenso do poder (e das

    guerras) em uma teoria da dinmica das relaes entre os Estados Nacionais e do funcionamento

    do capitalismo.

    Mais do que sugerir, portanto, a necessidade da insero dos aspectos polticos na anlise

    do movimento do capital Fiori est propondo uma reviso de fundo das teorias tradicionais

    (inclusive a marxista, no campo da Economia) em que a varivel poder se inseriria de forma

    lgica e decisiva na explicao da necessidade de acumulao de capital. a partir desse ponto

    de vista terico que Fiori analisa a conjuntura atual de suposta crise da hegemonia americana e

    baseado tambm nesse ponto de vista que o autor sustenta a idia de que no se trata de uma

    crise terminal do sistema interestatal capitalista e nem do fim dos EUA como potncia

    hegemnica.

    Fiori parte de uma recuperao histrica das relaes comerciais e tributrias que se

    desenvolveram nos Estados europeus, principalmente na Inglaterra, resgatando autores da

    economia clssica, como Willam Petty e James Stuart, e da filosofia poltica, como Maquiavel,

    Hobbes e, posteriormente Norbert Elias, alm da contribuio de Fernand Braudel acerca do

    desenvolvimento histrico do capitalismo. A partir da o autor busca elementos que permitem

    sustentar uma perspectiva que d conta de uma anlise ampla das relaes entre o poder poltico

    e a acumulao de capital.

    Segundo Fiori, o sistema interestatal que permanece at hoje tem sua origem num dos

    primeiros momentos de expanso dos pases europeus, entre 1150 e 1350. Desde esse perodo,

    esse sistema surge baseado numa relao muito virtuosa entre acumulao de poder e de riqueza.

    6 FIORI, Jos Lus. O sistema inter-estatal capitalista, no incio do sculo XXI, in J.L. FIORI., F. SERRANO E C. MEDEIROS, O mito do colapso americano, Editora Record, 2008; Prefcio, in J.L. FIORI, O poder global e a nova geopoltica das naes, Editora Boitempo, So Paulo Prefcio, 2007; Formao, Expanso e Limites do Poder Global. In: O poder americano. Petrpolis, Vozes, 2004

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    No continente europeu, segundo Fiori, o ambiente competitivo da guerra permanente teria

    imprimido nos governos e Estados a necessidade de financiamento que multiplica a dvida

    pblica e os tributos. Como conseqncia tem-se uma multiplicao tambm do excedente e do

    comrcio, e tambm do mercado de moedas e de ttulos de dvida. Isso gera um circulo virtuoso

    e original entre os processos de acumulao de poder e riqueza.

    Nesse sentido, no seria possvel, segundo Fiori, deduzir a necessidade de acumulao do

    lucro e da riqueza a partir do mercado ou do jogo das trocas. a luta pelo poder que implode os

    mercados locais e estimula a produo agrcola e a multiplicao do excedente. E o mais

    importante que, essa precedncia lgica do poder sobre a produo e a distribuio da riqueza

    [embora seja] bvia no perodo que vai do sculo XI ao XVII (...) se mantm, mesmo depois da

    formao do modo de produo capitalista e da consolidao do processo de concentrao e

    centralizao privada do capital. (FIORI, 2007, p. 16)

    Assim, tm-se alguns elementos (governos, tributos, excedentes, guerras, crdito) que se

    articulam de forma muito especfica e virtuosa, no sentido de dar dinamismo a um sistema que se

    expande cada vez mais.

    partindo dessa centralidade da luta e expanso constante do poder por parte de

    territrios e Estados Nacionais que Fiori constri sua abordagem acerca do funcionamento do

    sistema interestatal capitalista, utilizando, no texto do livro O mito do colapso do poder

    americano (2008) a metfora da teoria do universo em expanso. Para o autor, o sistema

    mundial parte de um universo que vem se expandindo de forma contnua em quatro momentos,

    desde o sculo XIII. Em cada um desses momentos histricos h um aumento da presso

    competitiva, que decorre justamente dessa idia de necessidade de expanso do poder entre as

    unidades territoriais/Estados observada nos primeiros Estados europeus e que se perpetua at os

    dias atuais (a lgica de que quem no sobe cai, de Norbert Elias). Aps o movimento de

    presso competitiva segue, segundo Fiori, um momento de grande exploso ou alargamento das

    fronteiras internas e externas desse universo.

    Duas caractersticas principais marcam a existncia desse universo. A primeira o fato de

    que, embora a luta e a competio pela busca de mais poder entre os Estados Nacionais possa

    atingir um limite onde um s Estado conseguiria vencer a todos e monopolizar o poder,

    destruindo seus competidores, essa situao seria impossvel, ao menos logicamente. Isto porque

    a fora propulsora desse sistema mundial justamente a manuteno dos competidores e do

    ambiente de guerra permanente, porque o medo de perder o poder para o outro que

    impulsiona a luta pelo poder. por isso que o sistema interestatal convive com momentos de paz

    e ordem, e no de guerra permanente, porque as vezes interessante para a potencia lder manter

  • 11

    seus competidores, e no destru-los completamente. Por isso o sistema mundial um universo

    em expanso contnua, onde todos os Estados que lutam pelo poder global esto sempre

    criando, ao mesmo tempo ordem e desordem, expanso e crise, paz e guerra. (FIORI, 2008,

    p.34)

    Outra caracterstica desse sistema o fato de que os Estados Nacionais, na luta constante

    pela busca e manuteno do poder, submetem suas economias nacionais, numa relao

    simbitica que perpetua quelas primeiras relaes observadas nos Estados vitoriosos europeus

    entre acumulao de poder, guerras e aumento da produtividade e do excedente econmico.

    Mesmo que essas relaes tenham ficado mais complexas, a ligao entre a concentrao e a

    centralizao do poder e da riqueza dentro de um Estado Nacional se perpetua.

    4) Anlise comparativa

    At aqui o que se pretendeu foi apresentar sucintamente as perspectivas tericas

    propostas, concentrando a apresentao na definio de alguns conceitos e idias chave que

    fornecem uma base mnima a partir da qual possa se fazer uma comparao entre as duas vises.

    Obviamente trata-se de uma base um tanto superficial, que pretende condensar estudos mais

    aprofundados de ambas as perspectivas.

    Dirigindo a partir de agora nossa ateno tentativa de comparao entre as duas vises,

    a proposta apontar alguns pontos os quais foi possvel estabelecer comparaes entre as duas

    teorizaes. Parte desta escolha teve como base o trabalho realizado por Jales Dantas Costa

    (2004) em texto apresentado no I Colquio Brasileiro de Economia Poltica dos Sistemas-Mundo

    sob o ttulo Um debate terico entre a economia poltica dos sistemas-mundo e a nova

    economia poltica do sistema mundial 7.

    Costa analisa as divergncias entre as duas vises no que se refere aos seguintes pontos:

    as diferentes posies sobre a unidade espacial e temporal de estudo apropriada para a anlise da

    mudana social; as distines acerca da dinmica sistmica; e as diferenas quanto ao papel das

    hegemonias na dinmica sistmica.

    Com relao a escolha da unidade temporal e espacial, Costa ressalta algo que evidente

    na teorizao da EPSM: a unidade de anlise espacial centra-se na chamada economia-mundo

    capitalista, que por sua vez, como vimos, refere-se a uma economia-mundo especfica

    7 O referido texto um recorte de trabalho anterior do autor, em dissertao de mestrado sob o ttulo Crise da hegemonia ou novo imprio norte-americano? Um confronto entre a economia poltica dos sistemas-mundo e a nova economia poltica do sistema mundial, disponvel em : http://www.tede.ufsc.br/teses/PCNM0150.pdf. O texto est disponvel em: http://www.gpepsm.ufsc.br/index_arquivos/2.pdf

  • 12

    (europia), que se constituiu e se espalhou como um espao coerente e unificado, constitudo

    como sistema histrico, com fortes ligaes internas, baseadas principalmente em relaes

    econmicas que ultrapassam as fronteiras dos prprios Estados Nacionais. (COSTA, 2007)

    J com relao unidade de anlise temporal, tambm evidente na teorizao dos

    autores da EPSM um recorte temporal de mais longo prazo, baseado nas delimitaes temporais

    de Braudel acerca do capitalismo histrico. Neste autor a importncia da longa durao

    crucial na anlise das estruturas sociais. Ainda que Wallerstein tenha optado pelos ciclos de

    Kondratieff em suas anlises, e Arrighi pelos ciclos sistmicos de acumulao, a unidade

    temporal destes autores guarda uma forte relao com a idia de um tempo longo, ou ao menos

    da importncia de se analisar as relaes entre as dimenses temporais distintas.

    Na teorizao de Fiori, segundo Costa, a unidade espacial utilizada para a anlise

    histrica o processo de formao e expanso dos primeiros estados nacionais europeus em fins

    do sculo XIV comeo do sculo XV, e no momento, desde o sculo XVII, em que estes

    mesmos e outros estados nacionais j ento formados decidem nacionalizar as atividades

    econmicas existentes no interior dos espaos de seus domnios polticos.

    Embora a anlise de Fiori trate de uma viso sistmica do capitalismo, o peso do Estado

    Nacional como unidade de anlise parece mais significativo do que para os autores da EPSM.

    Esta importncia dada dimenso nacional fica evidente em Fiori a partir da sua viso de que o

    sistema mundial constitui-se de Estados Nacionais que lutam constantemente pela conquista e

    manuteno do poder. Tratam-se de unidades polticas que submetem suas economias nacionais

    s exigncias de um poder nacional. Ainda que o sistema interestatal venha se expandindo, a

    nacionalizao um fenmeno intrnseco a essa lgica expansiva8.

    Com relao a unidade temporal, a viso de Costa de que no h uma unidade temporal

    de referncia na perspectiva de Fiori. Segundo o autor isto se d pelo fato de que no h para

    Fiori, uma explicao convincente da periodicidade das guerras. Como vimos, em Fiori as

    guerras constituem-se em elemento chave responsvel pela dinmica sistmica.

    Em seu mais recente trabalho, Fiori (2009) faz uma anlise crtica dos conceitos de ciclos

    hegemnicos e ciclos sistmicos de acumulao de Arrighi. Embora Fiori reconhea a

    originalidade da teoria de Arrighi, baseada da relao braudeliana entre o poder e o capital, e

    tambm o avano de Arrighi em criar o conceito de ciclo sistmico de acumulao, o autor

    8 A referncia de Fiori Bukharin (1986) refora essa tese da nacionalizao. Para Bukharin o capitalismo, ao mesmo tempo em que apresenta uma tendncia de internacionalizao, a partir da necessidade de expanso dos mercados e internacionalizao do capital financeiro, apresenta tambm uma tendncia de fortalecimento dos Estados Nacionais. Ao contrrio de muitas teorizaes atuais que defendem teses acerca do fim do poder dos Estados Nacionais, Fiori insiste na idia de que eles ainda so atores principais no jogo econmico e poltico mundial.

  • 13

    afirma que este tambm um conceito muito frgil em Arrighi. Tal conceito seria muito vago e

    impreciso e sem nenhuma sustentao emprica. (FIORI, 2009, p. 15)

    Ainda que critique as dimenses temporais de Arrighi e no defina de forma explcita

    uma unidade temporal (como sugere Costa) a presena da referncia Braudel na teorizao de

    Fiori no deixa dvida sobre a importncia da adoo de uma unidade temporal de mais longo

    prazo neste autor. Ainda que no seja possvel estabelecer ciclos de expanso e declnio de

    pases, centrados nos movimentos de expanso (onde a guerra elemento chave) a construo

    analtica de Fiori encontra uma contrapartida histrica de longo prazo ao longo do movimento do

    sistema interestatal capitalista.

    No que se refere a dinmica sistmica especfica do sistema mundial entendida por cada

    uma das perspectivas, Costa ressalta divergncias interessantes entre as duas abordagens.

    Segundo o autor, a EPSM analisa a relao entre o sistema capitalista mundial e o sistema

    interestatal. A expanso da economia-mundo se daria a partir dessa relao na qual parece

    prevalecer o elemento econmico sobre o poltico, uma vez que se trata de um sistema que por

    sua vez uma entidade econmica, e no poltica, como seria o caso dos chamados imprios-

    mundo.

    Ainda que a presena de mltiplas unidades polticas seja fundamental na constituio

    desse sistema, nele as classes capitalistas usam o sistema interestatal a seu favor, ou seja, as

    classes capitalistas usam a fora do Estado para se beneficiarem. Essa argumentao clara

    principalmente em Wallerstein. Em Arrighi, percebe-se que, nem sempre o vnculo histrico

    entre o sistema capitalista mundial e o sistema interestatal beneficia a acumulao capitalista. A

    forma desta relao vai depender da intensidade da concorrncia. (Arrighi, 1996). Caso a

    competio entre os Estados assuma a forma de intensos e prolongados conflitos armados, a

    lucratividade das empresas pode ser seriamente afetada. Arrighi prope para o estudo da

    natureza evolutiva do moderno sistema mundial, no enfatizar apenas a ligao histrica entre a

    concorrncia interestatal e interempresarial, como parece proceder Wallerstein, mas tambm

    especificar a forma que essa concorrncia assume e se modifica no correr da histria, pois s

    assim possvel analisar a dinmica do sistema mundial e o papel desempenhado pelas

    sucessivas hegemonias mundiais na construo e reconstruo do sistema. (ARRIGHI, 1996,

    p.33)

    J a proposio de Fiori acerca da dinmica do sistema mundial centra-se na anlise da

    relao entre fatores poltico-econmicos e entre os estados/economias nacionais. Nessa relao

    o sistema movido em conjunto por duas foras poltico-econmicas contraditrias: a tendncia

    para a formao de um imprio global; e a contra tendncia para o fortalecimento do poder

  • 14

    nacional. A impossibilidade lgica de formao de um imprio global d-se pelo fato de que o

    Estado nacional que lidera a expanso precisa da presso dos Estados concorrentes. Isto est na

    base da teorizao de Fiori sobre a questo do poder existir apenas como uma relao. a

    prpria ameaa da expanso de outro Estado Nacional que impulsiona os Estados em seguir

    expandindo e conquistando. Assim o Estado que lidera a expanso por vezes aceita o

    crescimento e desenvolvimento de outros Estados, dando origem possibilidade de avano dos

    poderes nacionais (a internacionalizao nacionalizante de que fala Bukharin).

    Como afirma Costa, a dinmica do sistema mundial em Fiori se d primordialmente pelas

    aes das potncias expansivas. As guerras promovidas pelos estados-imprios so consideradas

    o motor ou ncleo atmico deste sistema.

    Em cada grande perodo histrico ou sculo existiu um grande conflito central, uma guerra duradoura que foi o ncleo atmico do sistema. Essa grande guerra ou bipolaridade, por sua vez, delimitou uma espcie de espao tempo geoestratgico, que acaba envolvendo e hierarquizando todos os demais conflitos, e, como conseqncia, todos os demais territrios. Parece existir relao estreita entre o dinamismo econmico interno desses territrios e seu grau de proximidade com relao ao conflito central. (Fiori, 2001, p.58)

    A centralidade da guerra como instrumento de acumulao e centralizao do poder

    poltico faz com que possamos concluir da teorizao de Fiori, que h uma preponderncia do

    elemento poltico sobre o econmico na anlise da dinmica do sistema. o poder poltico,

    representado pela luta pela expanso dos Estados Nacionais, que promove a formao das

    economias nacionais e que possibilitaram a expanso da economia mundo europia. Nesse

    sentido, ao contrrio dos autores da EPSM, Fiori argumenta no sentido de que o poder precede a

    acumulao de capital e submete as economias nacionais a seu favor9.

    Com relao a questo da hegemonia, vimos que, at mesmo entre os autores da EPSM

    h divergncias. Enquanto Wallerstein constri seu ciclo hegemnico afirmando que a relao

    bsica entre os Estados e o capital permaneceu a mesma ao longo da histria capitalista, estando

    essa relao submetida ordem sistmica (Arrighi e Silver, 2001, p.18), Arrighi afirma que a

    ascenso das naes hegemnicas no foi um mero reflexo das propriedades sistmicas e que as

    hegemonias implicam em reorganizaes fundamentais no sistema (Arrighi e Silver, 2001, p.35).

    9 Aqui possvel arriscar a hiptese de que os autores da EPSM se mantm muito mais fiis Marx, no sentido de que suas teorizaes mantm a acumulao de capital (e o econmico) como elemento central do capitalismo, mesmo com o reconhecimento claro destes autores acerca da importncia do papel do Estado. Para Fiori impossvel compreender o capitalismo, desde seu surgimento at hoje, sem inserir a mediao do poder e das guerras. Desse modo o elemento poder, na forma atual de Estados Nacionais consolidados elemento central no entendimento do sistema capitalista. Aqui Fiori, ao mesmo tempo em que recupera Marx, o faz criticamente, reconhecendo neste autor a ausncia da insero (lgica) da questo do poder em sua teorizao do movimento do capital.

  • 15

    O conceito de hegemonia em Fiori est relacionado a uma posio em disputa e a uma

    conquista transitria. Para este autor a posio hegemnica uma conquista e uma vitria do

    estado mais poderosos em determinado momento. Trata-se apenas de um ponto possvel na

    curva ascendente dos estados-imprios.(Fiori, 2004, p. 53). A condio hegemnica seria uma

    posio transitria a qual alguns pases podem exercer um poder global que pode at mesmo ser

    favorvel ao desenvolvimento de outros estados do sistema. O ponto importante para Fiori

    tratar da disputa que est por trs do poder hegemnico.

    4.1) Conjuntura atual

    A partir de suas proposies tericas as duas abordagens apresentadas aqui tm

    diagnsticos bastante distintos acerca da conjuntura da economia mundial neste incio de sculo

    XXI. Um dos pontos de maior debate refere-se a tese da crise da hegemonia dos EUA defendida

    por Giovanni Arrighi e por Wallerstein (este ltimo indo alm, afirmando que estamos vivendo o

    fim do prprio sistema mundial moderno) a qual Fiori discorda.

    Como afirma o prprio Arrighi10 uma das teses do seu mais recente livro Adam Smith

    em Pequim (2008) a de que o fracasso do neoconservador Projeto para o Novo Sculo

    Americano no Iraque marca o fim da hegemonia americana. Os Estados Unidos ainda so

    dominantes, econmica, militar e politicamente. Mas uma dominao sem hegemonia, no

    sentido de que hegemonia no apenas dominao pura, mas tambm a capacidade de fazer os

    outros acreditarem que voc age no interesse geral. Esse diagnstico de Arrighi vai de encontro

    sua avaliao do conceito de hegemonia, como discutimos anteriormente. Assim, para ele,

    mesmo que no haja nenhum outro pas que possa substituir os EUA como nao hegemnica,

    h sinais claros de que o sculo americano chegou ao fim.

    Para Arrighi, a credibilidade militar americana, que j havia sido corroda no Vietn, foi

    ainda mais no Iraque. Alm disso, os EUA hoje so financeiramente dependentes do Leste da

    sia e do Sul em geral. Segundo o autor Os EUA, de um Estado hegemnico que criava ordem,

    se tornaram uma fora do caos e da desordem - e so mais e mais percebidos por outros como

    um agente de caos.

    J nos anos 70, segundo Arrighi, ocorreu o que o autor chamou de crise sinalizadora,

    marcada pela ameaa hegemonia americana, principalmente pela perda de credibilidade no

    dlar. Aps este perodo, com a contra-revoluo neoliberal dos anos 80, instaurou-se um tipo de

    belle poque, que poderia se transformar numa hegemonia de longo prazo. Mas no foi isso que

    10 Entrevista Folha de S.Paulo, 2 de Setembro de 2007.

  • 16

    aconteceu, e a falsa percepo da possvel retomada da hegemonia s contribuiu para aprofundar

    as contradies da dependncia financeira americana no exterior, instaurando agora de fato uma

    crise terminal. (ARRIGHI, 2007)

    Questionado sobre os impactos dessa crise dos EUA nos pases asiticos e do Sul, Arrighi

    afirma que embora dependentes dos EUA, a crise terminal cria oportunidades para estes pases

    desenvolverem seus mercados internos tornando suas economias mais fortes. o caso da China,

    que j vem se esforando no sentido de expandir seu mercado interno e diversificar suas reservas

    em dlares.

    Wallerstein vai mais alm, afirmando que o sistema mundial hoje existente est

    terminando. Segundo o autor, estamos num perodo de transio do qual sairemos em 30 ou 50

    anos num tipo muito diferente de mundo 11. Segundo Wallerstein, o sistema atual vive uma

    crise estrutural, baseada em limites de funcionalidade. Segundo o autor, o colapso est em curso

    pelos limites impostos acumulao de capital. As taxas de lucro necessariamente se reduziro,

    e j no basta mais migrar a produo de um pas para outro em busca de condies mais

    favorveis, como salrios mais baixos. J esto em curso outros fatores que impedem o lucro de

    uma produo quase monopolizada, que seria a base da acumulao significativa: o aumento dos

    impostos, de insumos e a internalizao de custos ambientais pelas empresas.

    Na viso de Wallerstein, o que agora chamam de crise uma longa depresso, decorrente

    de mudanas dos anos 60 e 70, quando ocorreu o rebaixamento de duas curvas: a curva de

    Kondratieff e a curva geopoltica de hegemonia. Depois de 70, o mundo passa a viver na fase B

    de Kondratieff, com retrao econmica (ponto em que, segundo ele, estamos at hoje), e em

    meio ao declnio do poder americano, a partir da Guerra do Vietn. (WALLERSTEIN, 2009)

    Contrariamente a essas posies, Fiori faz uma anlise diferente da conjuntura atual, a

    partir de sua teorizao do sistema interestatal capitalista. Em seu livro O mito do colapso do

    poder americano (2008), Fiori faz uma leitura crtica dos posicionamentos de Arrighi e

    Wallerstein. Segundo Fiori, as crises e guerras vivenciadas pelo sistema capitalista no so

    necessariamente anncios do fim ou do colapso dos pases e economias envolvidas nesses

    eventos. E neste incio de sculo as crises e guerras no so um sintoma do fim do poder

    americano.

    Fiori sugere a possibilidade de estarmos vivendo mais uma fase de expanso do

    (universo) sistema interestatal, centrada na expanso do poder imperial americano e na resposta

    nacionalista de diversos pases ao redor do mundo. Esse ambiente, segundo Fiori, refora a

    presso competitiva entre os Estados e pode levar a um processo de expanso ou corrida

    11 Entrevista ao Valor Econmico, 2 de Setembro de 2009.

  • 17

    imperialista. Estaria se tratando de uma transformao estrutural de longo prazo do sistema

    interestatal, que comeou na dcada de 70, quando os EUA acentuam seu processo de expanso

    imperial de forma explcita.

    Para Fiori, nesse novo momento de expanso do sistema interestatal, os EUA seguem

    tendo papel decisivo, isto porque, ao contrrio do que propagam algumas teses terminais, os

    EUA continuam sendo a potncia principal, dados principalmente a posio do dlar como

    moeda de referncia das relaes comerciais e financeiras e a supremacia militar americana. Para

    Fiori, a centralidade do dlar ainda no foi abalada, haja vista a fuga para os ttulos americanos

    mesmo no momento de acirramento da crise financeira recente. Alm do que, a despeito da crise

    no Iraque, os EUA seguem liderando o ranquing do maior arsenal blico e atmico mundial e

    tambm da centralizao da informao e da corrida tecnolgica.

    Mas apesar desse aparente poder global, a disputa entre as grandes potncias no acabou,

    ao contrrio, se intensificou. O processo de expanso imperial americano parece ter reforado os

    nacionalismos e a concorrncia entre as principais naes mundiais. Como aponta Fiori a

    estratgia imperial americana dos anos 70 teve um papel decisivo na transformao de longo

    prazo da geopoltica mundial, ao trazer de volta a Rssia e a Alemanha e ao fortalecer a China, a

    ndia e quase todos os principais concorrentes dos Estados Unidos neste incio de sculo.

    (FIORI, op. cit, p. 37)

    Essa relao aparentemente contraditria entre a expanso dos EUA e o fortalecimento

    dos seus concorrentes, ao mesmo tempo em que instala um acirramento da competio tambm

    beneficia os EUA, j que a necessidade do ambiente competitivo e de guerra permanente

    impe-se como forma de reproduzir a posio deste ltimo no topo da hierarquia mundial. Esta

    situao converge com a idia apontada anteriormente da impossibilidade lgica da existncia de

    um imprio global e da idia de que por vezes o Estado se beneficia com o ambiente competitivo

    criado.

    5) Concluses

    Embora apresentem divergncias fundamentais, as duas abordagens convergem ao

    proporem uma anlise dos fenmenos econmicos e geopolticos atuais a partir de sua insero

    no contexto de um sistema mundial, com caractersticas e regras prprias, definidas

    historicamente, mediante a atuao de agentes polticos (Estados) e econmicos (grupos

    empresariais). Nesse sentido, importante ressaltar que, apesar das importantes diferenas, deve-

  • 18

    se reconhecer o fato de que ambas as abordagens procuram avanar no s terica, mas

    metodologicamente, na medida em que propem uma anlise sistmica e totalizante.

    Ainda assim, como visto ao longo deste trabalho, so vrias as divergncias entre os

    autores analisados, desde a forma como cada um define o modo de surgimento do sistema

    interestatal capitalista no ambiente europeu, at as distintas interpretaes sobre o capitalismo

    neste incio de sculo.

    Como visto, embora fazendo referncia a Braudel, as duas abordagens interpretam de

    forma distinta o modo pelo qual o modelo europeu sai vitorioso e expande-se mundialmente.

    Para os autores da EPSM, embora este processo tenha dependido amplamente do papel do

    Estado, o aspecto chave permanece sendo a acumulao de capital, ao menos como categoria

    dentro do que pode ser entendido como uma tentativa de teorizao do nascimento do sistema

    capitalista, principalmente no caso de Wallerstein.

    Com relao as unidades de anlise das duas perspectivas observou-se que, enquanto

    Arrighi e Wallerstein privilegiam a idia de uma economia-mundo capitalista, Fiori, ainda que

    analise o sistema mundial em sua totalidade, foca sua anlise na expanso dos Estados

    Nacionais. Embora essa seja uma questo controversa e passvel de amplo debate, h uma idia

    comum entre os autores que trabalham com a EPSM de que os Estados Nacionais vem perdendo

    espao em um mundo com mercados cada vez mais internacionalizados, de modo que, como

    unidade de anlise, esta talvez no seja a melhor opo a ser adotada.

    Todas essas proposies tericas levam a diagnsticos distintos acerca da atual

    conjuntura do capitalismo neste incio de sculo. Enquanto Arrighi e Wallerstein falam de crise

    hegemnica e crise final do capitalismo, Fiori acredita da manuteno dos EUA como potncia

    mundial.

    No caso de Arrighi, a partir de sua formulao dos ciclos hegemnicos, entende que a

    partir da crise dos anos 70 instaurou-se um perodo de forte expanso financeira, que marcaria o

    sinal de outono do fim de um ciclo hegemnico americano. Alm disso, estaramos em um

    perodo de intensificao da concorrncia interestatal e interempresarial, de escalada dos

    conflitos sociais e do o surgimento de novas configuraes de poder, no caso, a China.

    Mas, como afirma Fiori, talvez o conceito de Arrighi no consiga captar as inovaes

    levadas adiante por um pas que conseguiu algo absolutamente novo na histria do capitalismo:

    um regime monetrio internacional baseado na sua prpria moeda, sem lastro, que permite a

    manuteno de um dficit gigantesco, sustentado pela venda de ttulos que todos ainda compram,

    inclusive os chineses! Para Fiori, a belle poque americana representa de fato uma certa

    vitria em sustentar a hegemonia mundial, mesmo com a surpreendente ascenso chinesa, de

  • 19

    modo que a expanso financeira no foi sinalizadora de uma mudana hegemnica. Os EUA

    ainda so a maior potncia mundial, no s econmica (liderando segmentos tecnolgicos e

    cientficos de ponta), mas tambm militar e culturalmente.

    Para Fiori, a conjuntura atual marcada justamente pela expanso de um Estado Nacional

    (EUA) em dimenses quase globais, ainda que convivendo com os movimentos expansionistas

    dos outros pases. No h algo como o fim dos Estados Nacionais em uma era de globalizao

    financeira e expanso internacional dos mercados. O que h, de fato, a expanso do poder de

    um pas, os EUA. Expanso que parece alcanar dimenses globais, algo que, como sugere Fiori

    seria impossvel, ao menos logicamente. Ao mesmo tempo, v-se o surgimento de pases como a

    China, que ainda que paream confrontar o poder americano estabelecem com este pas uma

    relao de complementaridade nica, que beob muitos aspectos beneficia a posio americana.

    Enfim, as duas abordagens apresentam inmeros elementos e categorias tericas que

    devem ser analisados amplamente e sob diversos ngulos. Inclusive a vasta obra dos autores

    analisados permite trabalhos bem mais detalhados. Dentro dos limites de um artigo acadmico,

    este trabalho procurou apontar alguns destes aspectos, muitas vezes controversos e passveis de

    debate. A idia principal foi apenas apresentar tpicos dessas divergncias bem como apresentar

    brevemente as duas abordagens e tentar estabelecer comparaes entre os elementos chaves de

    cada uma das teorizaes e de suas interpretaes distintas do capitalismo no sculo XXI.

    7) Bibliografia

    ARRIGHI, Giovanni. O Longo Sculo XX: Dinheiro, poder e as origens do nosso tempo. Rio de Janeiro: Contraponto; 1996. ________________. A iluso do desenvolvimento. Vozes. Coleo Zero Esquerda. Petrpolis, RJ. 1997. _________________. Adam Smith em Pequim Origens e fundamentos do sculo XXI. Boitempo, So Paulo, 2008. ARRIGHI, Giovanni & SILVER, Beverly. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro. Contraponto, Ed. UFRJ, 2001. BRAUDEL, Fernand. Civilizao Material, economia e capitalismo: sculos XV-XVIII. O Tempo do Mundo. Martins fontes. So Paulo, 1996. BUKHARIN, Nikolai I. A economia mundial e o Imperialismo. Nova Cultural, So Paulo, 1986.

  • 20

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