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A ergonomia e uma nova visão na aquisição de mobiliário para escritórios janeiro/2013 1 A ergonomia e uma nova visão na aquisição de mobiliário para escritórios Mariana Furtado Riccio [email protected] Master em Arquitetura Instituto de Pós-graduação Belo Horizonte, MG, 18 de junho de 2012 Resumo Atualmente, praticamente todos os locais de trabalho utilizam computadores. As condições de trabalho no terminal de computador são mais severas quando há inadequações, causando as chamadas doenças ocupacionais (DORT e LER). Considerando que as empresas buscam menor custo na aquisição do mobiliário, por não ter a visão de que esse comportamento pode prejudicar a produtividade e a saúde do trabalhador, a pesquisa tem como foco mostrar as características e benefícios que um mobiliário certificado pode trazer para o usuário e a empresa. Para alcançar o objetivo, o trabalho começa com a exposição da evolução dos ambientes de escritórios e das normas aplicadas ao mobiliário que estabelece requisitos minimos para sua fabricação. Outra etapa são resultados de duas pesquisas de campo: uma, mostrando as caracteristicas que as mesas e cadeiras devem ter na visão do usuário, extraida de livro Ergonomia: Projeto e Produção de Itiro Iida, e outra, realizada em Belo Horizonte com 50 entrevistados, mostrando os requisitos para aquisição do mobiliário, na visão do responsável pela compra (arquitetos, compradores, diretores, gerentes etc.). Os resultados encontrados indicam que a visão das empresas, tende a ser inversa ao que as normas estabelecem e o que os usuários pensam. Se a empresa tiver uma nova visão da aquisição do mobiliário, poderá garantir maior capacidade produtiva e melhor qualidade de vida do trabalhador. Palavras-chave: Qualidade de vida. Ergonomia. Normas. Aquisição de mobiliário para escritórios. 1. Introdução Com o crescimento das empresas e a intensificação dos trabalhos em ambientes de escritórios, houve a demanda de espaços para um maior número de pessoas, necessitando de um melhor planejamento desses espaços. O planejamento dos espaços evoluiu buscando a melhoria da qualidade dos serviços oferecidos pela empresa, visando à consolidação da imagem corporativa, e considerando também a qualidade de vida do trabalhador. A integração das áreas administrativas, humanizando e otimizando os espaços de forma a melhorar o desempenho dos trabalhadores, e a adoção de padrões estéticos coerentes com a imagem que a organização quer transmitir, foram resultados dessa evolução.

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A ergonomia e uma nova visão na aquisição de mobiliário para escritórios janeiro/2013

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A ergonomia e uma nova visão na aquisição de mobiliário para

escritórios

Mariana Furtado Riccio – [email protected]

Master em Arquitetura

Instituto de Pós-graduação

Belo Horizonte, MG, 18 de junho de 2012

Resumo

Atualmente, praticamente todos os locais de trabalho utilizam computadores. As condições de

trabalho no terminal de computador são mais severas quando há inadequações, causando as

chamadas doenças ocupacionais (DORT e LER). Considerando que as empresas buscam

menor custo na aquisição do mobiliário, por não ter a visão de que esse comportamento pode

prejudicar a produtividade e a saúde do trabalhador, a pesquisa tem como foco mostrar as

características e benefícios que um mobiliário certificado pode trazer para o usuário e a

empresa. Para alcançar o objetivo, o trabalho começa com a exposição da evolução dos

ambientes de escritórios e das normas aplicadas ao mobiliário que estabelece requisitos

minimos para sua fabricação. Outra etapa são resultados de duas pesquisas de campo: uma,

mostrando as caracteristicas que as mesas e cadeiras devem ter na visão do usuário, extraida

de livro Ergonomia: Projeto e Produção de Itiro Iida, e outra, realizada em Belo Horizonte

com 50 entrevistados, mostrando os requisitos para aquisição do mobiliário, na visão do

responsável pela compra (arquitetos, compradores, diretores, gerentes etc.). Os resultados

encontrados indicam que a visão das empresas, tende a ser inversa ao que as normas

estabelecem e o que os usuários pensam. Se a empresa tiver uma nova visão da aquisição do

mobiliário, poderá garantir maior capacidade produtiva e melhor qualidade de vida do

trabalhador.

Palavras-chave: Qualidade de vida. Ergonomia. Normas. Aquisição de mobiliário para

escritórios.

1. Introdução

Com o crescimento das empresas e a intensificação dos trabalhos em ambientes de escritórios,

houve a demanda de espaços para um maior número de pessoas, necessitando de um melhor

planejamento desses espaços.

O planejamento dos espaços evoluiu buscando a melhoria da qualidade dos serviços

oferecidos pela empresa, visando à consolidação da imagem corporativa, e considerando

também a qualidade de vida do trabalhador.

A integração das áreas administrativas, humanizando e otimizando os espaços de forma a

melhorar o desempenho dos trabalhadores, e a adoção de padrões estéticos coerentes com a

imagem que a organização quer transmitir, foram resultados dessa evolução.

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Nos anos 80, houve mudanças nos ambientes de escritório com a introdução da informática e

a instalação de computadores nos postos de trabalho.

Nesse novo contexto, a imagem do trabalhador atual é “sentado diante de um computador

onde se requer pouca força física, mas muita atenção, concentração mental para as tomadas de

decisões” (IIDA, 2005).

Também, a tecnologia tornou o ambiente de trabalho mais compartilhado e flexível,

possibilitando maior interação entre os membros da equipe. Os postos de trabalho são mais

compactos constituídos por acessórios e componentes que dão maior flexibilidade.

A organização dos espaços e a concepção do layout, incluindo o mobiliário, são fundamentais

em relação ao funcionamento da empresa e seus usuários, tendo em vista que, “a qualidade do

espaço influi no aumento da produtividade, no bem estar do funcionário e na qualidade de

vida” (Revista Projeto, 2003).

Além isso, temos a importante contribuição da ergonomia, que reduz drasticamente as

conseqüências nocivas sobre o trabalhador, visando a “saúde, segurança, satisfação e maior

eficiência no trabalho” (IIDA, 2005).

O problema da pesquisa foi identificar as características e benefícios que um mobiliário

fabricado dentro dos padrões de ergonomia pode trazer para o usuário e a empresa.

A pesquisa parte do pressuposto que, as empresas, para reduzirem os custos, adquirem

mobiliários inadequados, sem qualidade e sem especificação técnica ou tem a visão da

aquisição de mobiliário como despesa e não recurso para realização do trabalho.

Além disso, a grande oferta do mercado moveleiro faz com que existam empresas que

produzam móveis de forma amadora e sem considerar as normas técnicas, enquanto outras se

preocupam com a fabricação de móveis de qualidade seguindo as normas e atestando as

características ergonômicas.

Acredita-se que a pesquisa possa esclarecer e diferenciar dos demais, um produto com

ergonomia certificada, além de contribuir para despertar o olhar crítico dos envolvidos na

aquisição do mobiliário, não como um custo a mais, mas considerando que o investimento

gera um retorno em bem estar e produtividade do trabalhador.

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2. A Evolução dos Espaços de Escritórios

A Revolução Industrial foi um marco significativo para a evolução desses espaços. O

aparecimento de indústrias resultou na concentração do setor administrativo e controle da

produção criando assim, novos espaços para escritórios.

Uma nova forma de organização do trabalho, o taylorismo, foi criada a fim de extrair o

máximo da capacidade produtiva humana, racionalizando o trabalho operacional através do

estudo do tempo e movimento de cada tarefa a ser realizada. A padronização do mobiliário e

rigidez do layout assegurava a hierarquia, disciplina e linearidade do processo de trabalho.

Figura 1 – Padronização do mobiliário

Fonte: Andrade, Cláudia (2007)

Apesar de manter a organização do processo, as condições de trabalho eram péssimas, uma

vez que o foco era a produção e não a qualidade de vida do trabalhador.

Na década de 30, as inadequadas condições projetuais e ambientais dos locais de trabalho

foram motivos de preocupação por parte dos arquitetos e designers, que propuseram

melhorias na qualidade dos ambientes de locais de trabalho, sendo assim os pioneiros em

responder a essas necessidades.

O arquiteto Frank Loyd Wigth foi o pioneiro em adotar sistema central de climatização de ar e

mobiliário específico de trabalho em aço.

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Figura 2 – Interior do edifício da Johnsons Wax, arquiteto Frank Loyd Wigth

Fonte: Andrade, Cláudia (2007)

Figura 3 – Estação de trabalho projetada pelo arquiteto Frank Loyd Wigth

Fonte: Andrade, Cláudia (2007)

Na década de 70, com um sistema de produção voltado para a economia do tempo, onde a

política da qualidade tem como foco, da produção ao consumidor final, as empresas investem

na participação dos funcionários de nível técnico no processo produtivo, gerando novos

cargos de especialistas. As estruturas das empresas aumentam, demandando um espaço para

os novos empregados.

A nova concepção espacial em planta livre, o Open Plan, tem como foco a rapidez nas

comunicações e flexibilidade na organização do espaço. Condena o taylorismo pela

massificação e segregação hierárquica, reduzindo essas características através do convívio em

um mesmo espaço com chefes e chefiados. Apresentam layout com esquemas mais orgânicos,

mobiliários distribuídos segundo linhas de fluxo e relações de proximidade. O custo com

iluminação e ar condicionado é reduzido uma vez que os ambientes não são fechados com

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divisórias altas, além de considerar instalações com fácil mudança da infra-estrutura elétrica e

telecomunicações.

A introdução da informática nos anos 80 reduziu os custos e agilizou os processos de trabalho

aumentando a capacidade de produção das empresas.

Atualmente, a concepção de espaços para escritórios tendem a desenvolver espaços mais

abertos, amplos e mobiliários com estações mais compactas, compostas por acessórios e

componentes que dão mais flexibilidade e instalação de infra-estrutura de melhor qualidade

como piso elevado, sistema de iluminação artificial, sistema de ar condicionado e forro

acústico.

O uso de mobiliário auto-portante com painéis divisores mais leves e suspensos auxilia na

circulação de ar e eficiência nos serviços de limpeza. As mesas dispõem de poucas gavetas e

há uma redução no número de armários individuais.

Figura 4 – Mobiliário com painéis divisores e gaveteiro fixo.

Fonte: Alberflex

Equipamentos como computadores, telefone, fax e impressora são indispensáveis para a

realização do trabalho em escritórios.

O ambiente de escritórios tornou-se mais compartilhado, a integração, a comunicação e o

contato visual são premissas desse novo conceito.

As empresas transformaram-se em estruturas complexas e que almejam projetos específicos

com objetivo de transmitir uma imagem corporativa, e o mobiliário, em alguns casos, é um

fator determinante para que isso aconteça.

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Na economia atual, a cultura de gestão de espaços geralmente está baseada em custos. As

empresas para enxugar os custos, adquirem mobiliário inadequado, sem qualidade e sem

especificação técnica.

Viabilizar a aquisição de mobiliário compatível com a necessidade e demanda da empresa é

garantir a qualidade do espaço, bem estar do funcionário e conseqüentemente maior

produtividade.

3. Ergonomia no Mobiliário para Escritórios

A intensificação do uso de computadores em estações de trabalho inadequadas e os avanços

da tecnologia de informação e telecomunicações “causaram inúmeros prejuízos à saúde dos

trabalhadores e um número sem precedentes de processos trabalhistas para as empresas,

fizeram surgir normas e requisitos ergonômicos específicos que resultaram em ajustes

importantes nos mobiliários destinados ao uso em escritórios” (ANDRADE, 2007).

Atualmente, existem postos de trabalhos com computadores em praticamente todas as

profissões. As condições de trabalho no terminal de computador são mais severas quando há

inadequações, causando fadiga visual, problemas de postura, dores musculares do pescoço e

ombros, dores nos tendões dos dedos, que são as chamadas doenças ocupacionais (DORT e

LER). Essas patologias são a segunda causa mais freqüente de afastamento de profissionais

no Brasil de acordo com Nanci Corbioli.

A ergonomia estuda os fatores que influenciam no desempenho do sistema produtivo,

reduzindo as conseqüências sobre o trabalhador visando a saúde, segurança e eficiência

produtiva.

O posto de trabalho para escritório consiste num conjunto integrado de mesa e cadeira. Os

dois componentes estão relacionados entre si favorecendo ou dificultando a atividade a ser

realizada, preservando ou prejudicando a saúde do trabalhador.

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Figura 5 – Conjunto integrado: mesa e cadeira.

Fonte: Alberflex

No Brasil existem normas específicas aplicadas aos postos de trabalhos para escritórios,

exigindo padrões mínimos a serem seguidos pela indústria moveleira.

A norma NR-17 Ergonomia expedida pelo Ministério do Trabalho, estabelece requisitos

ergonômicos mínimos para se ter um ambiente adequado como, bordas arredondadas,

superfícies separadas para teclado e monitor com regulagem de altura, mesas com

profundidades adequadas, tipo, textura, cor dos materiais de acabamento, acessórios de apóia-

pés, cadeiras mais confortáveis com regulagem de ajuste da altura do assento, encosto e

braço.

As normas da ABNT são aplicadas para móveis de escritórios, que especifica características

físicas e dimensionais para mesas, cadeiras, bem como estabelece métodos para determinação

da estabilidade, da resistência e da durabilidade dos móveis. São elas: NBR 13966 e NBR

13962.

O produto que é fabricado dentro das normas pode ser submetido a testes e ensaios realizados

pela ABNT que emitirá certificação, caso o produto tenha preenchido todos os requisitos de

análise.

3.1. Aplicação das Normas ao Mobiliário para Escritório

3.1.1. Cadeiras

As vantagens do trabalho assentado são inúmeras em relação ao trabalho em pé, pois consome

menos energia reduzindo a fadiga, a pressão mecânica sobre os membros inferiores e a

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pressão hidrostática da circulação nas extremidades que alivia o trabalho do coração, além de

permitir o uso simultâneo dos pés e mãos.

Também tem suas desvantagens, como o aumento da pressão sobre as nádegas, restrição dos

alcances, além de o assento, se mal projetado, provocar estrangulamento da circulação

sanguínea nas coxas e pernas.

Na posição sentada, todo o peso do tronco acima da bacia é transferido para o assento

aliviando a pressão sobre os membros inferiores. O contato do corpo com o assento se dá

através de dois ossos de forma arredondada situados na bacia, chamados tuberosidades

isquiáticas, cobertas apenas por tecido muscular e uma pele grossa.

Figura 6 – Estrutura óssea: tuberosidades isquiáticas.

Fonte: Iida, Itiro (2005)

“Em apenas 25cm² de superfície da pele sob as tuberosidades concentram-se 75% do peso

total do corpo sentado” (IIDA, 2005).

O estofamento confeccionado em espuma de poliéster, com no mínimo 25 mm de espessura,

com o índice de dureza de acordo com a ISO 2439, de 135 a 660N e densidade 27kg/m³ a

30kg/m³, colocada sobre uma base rígida auxilia na distribuição da pressão e proporciona

maior estabilidade ao corpo, reduzindo o desconforto e a fadiga.

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Figura 7 – Distribuições de pressões sobre o assento.

Fonte: Iida, Itiro (2005)

O revestimento do assento em material antiderrapante com capacidade de dissipar o calor e o

suor gerados pelo corpo são características importantes das cadeiras.

A norma NBR 13962 recomenda largura de 40 cm e profundidade útil entre 38 e 44 cm para

assentos. Também deve ter estabilidade, durabilidade e resistência a uma carga vertical

mínima no eixo da cadeira de 1500N, cerca de 150 kg.

A estabilidade da cadeira é garantida pela fabricação de base com cinco pés, pois não tomba

facilmente. Segundo Iida (2005) recomenda-se que uma cadeira tenha durabilidade de 15

anos.

O encosto deve ter cerca de 35 a 50 cm de altura acima do assento, forma côncava com

espaço vazio de 15 a 20 cm entre o assento e o encosto para acomodar as nádegas e a

curvatura da coluna vertebral.

Os apóia-braços ajudam a guiar o corpo durante o ato de sentar-se e levantar-se e serve para

relaxamento dos antebraços.

Figura 8 – Cadeira com apóia-braços

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Fonte: Alberflex

As freqüentes variações de posturas servem para aliviar as pressões sobre os discos verticais e

as tensões dos músculos dorsais de sustentação, reduzindo-se a fadiga.

Segundo a norma NBR 13962, as cadeiras são classificadas de acordo com o uso. A cadeira

ideal para postos de trabalho com atividades com uso de equipamentos de computador deverá

ser a tipo A, que possibilita ajustar várias regulagens. Já a cadeira do tipo C poderá ser

utilizada em locais com posto de trabalhos que tenham maior rotatividade, como salas de

reuniões, onde as pessoas geralmente não passam longos períodos sentados.

TIPO DE CADEIRAS

Regulagens A B C

H assento X X X

H lombar X X X

Inclinação do encosto X X -

Profundidade útil do assento X - -

Inclinação do assento X - - Tabela 1 – Classificação das regulagens das cadeiras

Fonte: ABNT, NBR 13962

3.1.2. Mesas

O dimensionamento das mesas contém duas variáveis, a altura e a superfície de trabalho.

A altura é regulada pela posição do cotovelo (3 a 4 cm acima do cotovelo). A norma NBR

13966 estabelece a altura mínima de 72 cm e máxima de 75 cm. Uma mesa baixa causa

inclinação do tronco e cifose lombar, pois aumenta a carga sobre o pescoço e o dorso

provocando dores. Já a mesa alta causa abdução e elevação dos ombros e postura forçada do

pescoço provocando fadiga dos músculos do ombro e pescoço.

O vão livre entre o assento e a mesa deve ser de pelo menos 20 cm.

O conjunto integrado deverá ter um arranjo de mesa com altura de 74 cm e cadeiras

reguláveis entre 47 e 57 cm mais apóia-pés regulável de 0 a 20 cm para acomodar as pessoas

de menor estatura.

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Figura 9 – Conjunto integrado: mesa e cadeira.

Fonte: Iida, Itiro (2005)

“A superfície da mesa deve ser dimensionada de acordo com o tamanho da peça a ser

trabalhada, os movimentos necessários à tarefa e o arranjo do posto de trabalho” (IIDA,

2005).

Com relação ao brilho, as superfícies devem ter classificação fosca ou semi-fosca, de acordo

com as faixas UB estabelecidas na NBR 13966, garantindo que não haja reflexão.

A área de alcance máximo será obtida girando os braços estendidos em torno do ombro cujos

arcos estão entre 55 a 65 cm de raio.

A norma NBR 13966 estabelece profundidade mínima da mesa de 60 a 110 cm, raio de borda

de contato com o usuário (borda reta com quinas arredondadas) de no mínimo de 2,5mm para

não prejudicar a circulação de sangue nos braços.

Figura 10 – Detalhe do raio da borda de contato com o usuário.

Fonte: ABNT, NBR 13966

O posto de trabalho, montado com seus componentes e acessórios, deve apresentar um espaço

livre de no mínimo 60 cm na largura da mesa, destinado à acomodação e à movimentação dos

membros inferiores dos usuários.

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Figura 11 – Acomodação para os membros inferiores.

Fonte: ABNT, NBR 13966

3.2. Aplicabilidade dos conceitos à realidade

A NR-17, criada no início dos anos 90, é uma “norma extremamente genérica e que não cria

nenhum parâmetro efetivo técnico para a definição do mobiliário, mas dá um norte genérico

do que deve ser o mobiliário adequado” (Revista Projeto, 2003).

As normas da ABNT que vieram depois, em 1998, já representam um grande passo, porque

estabelecem parâmetros bem definidos de como deve ser o mobiliário.

Nesse sentido, a NR-17 e a coletânea das normas da ABNT se complementam.

Dessa forma, a especificação técnica de mobiliário deverá atender aos seguintes critérios:

(...) critério técnico, de atendimento às normas e necessidades de quem vai trabalhar

naquele mobiliário; critérios com relação ao desempenho técnico dos materiais a

serem utilizados; critérios de desempenho relacionados ao uso daquele mobiliário,

como durabilidade, flexibilidade, facilidade de manutenção, segurança para o

usuário; e os critérios estéticos, relacionados ao estilo do mobiliário, ao design, ao

acabamento etc. É claro que também existe o critério custo. (REVISTA PROJETO,

2003).

A empresa deve trabalhar na especificação e aquisição de mobiliários para escritórios,

levando em conta a preocupação com as questões como ergonomia e durabilidade do

mobiliário e dos materiais, visando diminuir o risco de problemas trabalhistas e questões

legais.

De acordo com estudo feito para a associação pelo economista José Pastore, da

Universidade de São Paulo, no primeiro ano de afastamento de um funcionário, as

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empresas gastam em média 89 mil reais com encargos sociais e com o salário de seu

substituto. Somados, os custos patronais com o afastamento por doenças

ocupacionais no Brasil representam cerca de 12,5 bilhões de reais/ano, fora outros

20 bilhões de reais anuais para pagamento de aposentadorias, indenizações e

tratamento médico. Esses números mostram que é melhor, e mais barato, investir na

prevenção e na melhoria das condições de trabalho, aí inclusos mobiliário e

acessórios adequados à atividade (CORBIOLI, 2005).

3.3.Pesquisa

Uma pesquisa realizada em Belo Horizonte (MG) com 50 pessoas, envolvidas na

especificação e aquisição de mobiliário para escritório (arquiteto, comprador, diretor)

apresentou o seguinte ranking de características consideradas importantes na hora da decisão

da compra do mobiliário, em ordem decrescente:

1- Custo

2- Qualidade de vida do trabalhador

3- Durabilidade

4- Design

5- Normas

A pesquisa também mencionava o conhecimento da norma NR-17, cujo resultado mostrou

que 60% não a conheciam.

Outra pesquisa, extraída do livro Ergonomia: Projeto e Produção, de Itiro Iida, apontam as

características consideradas importantes para as mesas na visão dos usuários de postos de

trabalho informatizados:

1- Vão livre para acomodação das pernas

2- Durabilidade

3- Acabamento

4- Área do tampo para colocar os equipamentos

5- Resistência

E também, para as cadeiras;

1- Conforto

2- Regulagem de altura do assento

3- Acabamento

4- Durabilidade

5- Regulagem da altura do encosto.

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A pesquisa mostra que o custo do mobiliário é o fator mais importante na escolha do produto

a ser adquirido, apesar de buscarem a qualidade de vida do trabalhador, produtos duráveis e

com apelo estético.

O desconhecimento da norma NR-17 faz com que as empresas acabem não exigindo dos

fornecedores, que os mobiliários sejam fabricados de acordo com as normas e que tenham

certificações de ergonomia.

Aspectos considerados pelo usuário como vão livre para acomodação das pernas e área de

superfície de trabalho adequada à atividade, apesar de serem bem definidos pelas normas da

ABNT, em algumas situações tem seu tamanho reduzido para atender à quantidade de postos

num mesmo lugar. Em outras situações, as mesas são superdimensionadas para determinada

atividade.

Além disso, os usuários também consideram importante, cadeiras com regulagem de altura do

assento e do encosto, que ajudam no ajuste de acordo com a estatura de cada um, além de

possibilitar variações de postura, reduzindo a fadiga.

4. Conclusão

A visão da aquisição de mobiliário para escritório como despesa e não como recurso para a

realização do trabalho foi confirmada pela pesquisa.

O desconhecimento das normas reflete no processo de compra, gerando uma visão

equivocada, uma vez que as empresas buscam a qualidade de vida do trabalhador, mas não

exigem dos fornecedores, mobiliários com padrões mínimos de ergonomia para o posto de

trabalho, sendo que, na visão do usuário, o conforto é a característica mais importante.

Não existe caro ou barato, o que deve ser levado em consideração são os benefícios que um

mobiliário com ergonomia certificada poderá trazer para o usuário e a empresa.

O mobiliário de qualidade tem seu custo mais elevado, mas se a empresa tiver a visão da

aquisição como recurso, ou seja, como patrimônio, de um produto resistente, e que atenda aos

padrões ergonômicos, o investimento inicial será mais diluído pela maior vida útil, enquanto o

mobiliário de baixo padrão terá sua vida útil reduzida e poderá causar problemas de saúde em

seus funcionários, acarretando afastamentos e ações trabalhistas contra a empresa.

A ergonomia e uma nova visão na aquisição de mobiliário para escritórios janeiro/2013

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Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13961: móveis para

escritórios: cadeiras. Rio de Janeiro, 2002.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13966: móveis para

escritórios:mesas. Rio de Janeiro, 2008.

ANDRADE, Cláudia Miranda Araújo de. A História do Ambiente de Trabalho em Edfícios

de escritórios: um século de transformações. São Paulo: C4, 2007. ISBN978-65-99353-15-

8

CIDADE, Paulo. Manual de Ergonomia no Escritório: 100 dicas para melhorar seu local

de trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. ISBN978-85-7303-533-1

IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção/ Itiro Iida. 2ª edição ver. e ampl. São Paulo:

Blucher, 2005. ISBN978-85-212-0354-3

JÚDICE, M. O. Contribuições da Ergonomia para projetos de Concepção de Espaços de

Trabalho em escritório. Brasília, 2000.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO. Normas Regulmentadoras NR-17 –

Ergonomia. Brasília, 2003.

REVISTA PROJETO. Parâmetros de Especificação de Mobiliário em tempo de crise.São

Paulo: Editora Arco, edição 282, agosto 2003.

REVISTA PROJETO. Conceitos de ergonomia para avaliar produtos. São Paulo: Editora

Arco, edição 304, junho 2005.