a evolução da estrutura, por sexos, da população activa em
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Ana Bela Nunes* Análise Social, vol. XXVI (112-113), 1991 (3.°-4.°), 707-722
A evolução da estrutura, por sexos,da população activa em Portugal —um indicador do crescimentoeconómico (1890-1981)
INTRODUÇÃO
O objectivo deste trabalho é apresentar uma análise da estrutura, por sexose por sectores de actividade, da população activa portuguesa no período indi-cado, com um triplo objectivo.
Por um lado, pretendemos verificar em que medida essa análise confirmaou não as conclusões a que chegámos num estudo recente sobre a estruturaglobal, sectorial e regional da população activa, enquanto indicador dascaracterísticas do crescimento económico português1; esta verificação assentano facto de? ao longo de um dado período, as mudanças nas estruturas sec-toriais da população activa serem acompanhadas por alterações significati-vas na composição sexual e etária daquele indicador.
Por outro lado, esperamos contribuir para superar a limitação, que reco-nhecemos no trabalho acima referido, decorrente de termos tomado, na prá-tica, a população activa como equivalente ao factor produtivo «trabalho»,quando ela é apenas a fonte desse recurso essencial; os recursos humanosempregues na actividade económica são tempos de trabalho de diferentestipos e qualidades, e não quantitativos de trabalhadores. Assim, a avalia-ção do peso do trabalho feminino no total da população activa é um passonecessário para uma avaliação futura, mais correcta, dos recursos humanos,permitindo a sua conversão num equivalente a um certo tipo de trabalho,por exemplo, ao trabalho de um adulto masculino a tempo integral2. Exem-plificaremos este aspecto adiante, a propósito do cálculo da taxa de activi-dade.
Um terceiro objectivo deste estudo é o de esclarecer algumas dúvidas levan-tadas pela crítica das fontes.
* Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa.1 Veja-se Nunes, 1989.2 Uma análise idêntica é necessária para outros grupos específicos, como, por exemplo, os
trabalhadores familiares não pagos, os grupos etários extremos e os trabalhadores ocasionais,sazonais e a tempo parcial; é igualmente indispensável avaliar a evolução sectorial dos níveisde qualificação, 707
Ana Bela Nunes
A fonte utilizada são os recenseamentos gerais da população, única fonteque com bastante regularidade (intervalos de tempo, para o período em refe-rência, de cerca de 10 anos) vem apresentando dados relativos à distribui-ção da população residente (ou presente) por profissões ou sectores de acti-vidade. Sobre os problemas por eles levantados para as conclusões queapresentamos aqui (como os que advêm da heterogeneidade dos critérios uti-lizados no apuramento dos dados nos diferentes censos) remetemos para acrítica das fontes realizada no trabalho referenciado na nota 1, em particu-lar na secção B do capítulo 1, sem prejuízo de curtas referências ao longodeste texto.
1." PARTE
A EVOLUÇÃO DA ESTRUTURADA POPULAÇÃO ACTIVA E O MODERNO
CRESCIMENTO ECONÓMICO
Começamos por apresentar aqui um resumo das principais conclusões aque a análise da estrutura sectorial da população activa global conduziu rela-tivamente às indicações sobre o crescimento económico no período. O âmbitodessa análise é o conjunto do espaço nacional e, ao nível regional, os dezoitodistritos do continente e as duas regiões autónomas, para o período poste-rior a 1890. O anexo I (A e B) apresenta uma síntese dos principais resulta-dos que construímos de acordo com o tratamento das fontes e a metodologia3
apresentados no trabalho citado. Eles conduziram às considerações que seseguem.
ANÁLISE TEMPORAL
A evolução no conjunto do período considerado (1890 a 1981) caracteriza--se pela queda do peso do sector agrícola no total (61 % para 18 %) a favorde outros sectores, com destaque para os da indústria transformadora4 (18 %para 38%), do comércio (4% para 15 %) e da administração pública e defesa(2% para 7%). O ano de 1930 constitui um momento de perturbação nessa
3 Sobre o método de taxionomia numérica e a terminologia utilizados nas análises temporale regional que se seguem remetemos o leitor para Nunes, 1989. Para maior clareza na leiturada análise que se segue, em particular no que respeita aos aspectos regionais, adiantamos resu-midamente alguns aspectos. O método de taxionomia numérica que utilizamos foi adaptadoda cluster analysis e teve como objectivo detectar regiões homogéneas caracterizadas por agru-parem regiões elementares cuja estrutura sectorial da população activa fosse próxima. A proxi-midade das estruturas foi calculada com base no conceito de distância euclidiana.
4 A indústria transformadora inclui os sectores «construção civil e obras públicas» e «elec-708 tricidade, gás e água».
A evolução da estrutura da população activa
evolução5. O período é decomponível em fases de evolução mais ou menoslenta.
Uma primeira, até 1960, engloba duas subfases: uma que abrange os anosde 1890 a 1911, em que o sector agrícola pesa cerca de 3/5 do total, e outraque abrange os anos de 1930 a 1960, que apresenta uma estrutura média emque, apesar da quebra sensível do peso do sector agrícola para valores ligei-ramente inferiores a 1/2, o sector secundário6 viu aumentar pouco o seu peso(3 pontos percentuais), contrariamente ao sector terciário7 —com particularrelevo para os serviços diversos —, que passou a pesar 1/4 do total, contramenos de 1/6 no período anterior; o ano de 1940 constitui um momento detransição integrável em qualquer das subfases definidas.
Uma segunda, de 1960 a 1981, de evolução rápida, traduz uma descidaacentuada do sector agrícola, agora claramente a favor da indústria trans-formadora, e não dos serviços diversos. Para marcar este comportamento,acrescenta-se que as estruturas de 1890 e 1960 são mais semelhantes entresi do que as de 1960 e 1981. A evolução acelera-se significativamente nasegunda década do período, sendo as estruturas de 1960 e 1970 claramentemais semelhantes entre si do que as de 1970 e 1981.
Assim, em termos tanto de continuidade como de ritmo de evolução, aanálise da estrutura da população activa indica ser incorrecto falar demoderno crescimento económico8 em Portugal antes da década de 1950.
Com efeito, de 1890 para 1900, a maioria das regiões vêem o peso do sec-tor agrícola aumentar, apesar de ligeiramente e sem repercussão na estru-tura global do País. Por outro lado, se entre 1911 e 1930 se nota uma quedanítida do sector agrícola, a contrapartida faz-se sentir na subida do sectorterciário, em particular nos serviços diversos, e não no sector transforma-dor, que diminui em todas as regiões—aspecto que não revela moderniza-ção. Para mais, de 1930 para 1940 volta a aumentar o peso do sector agrí-cola ainda de forma mais generalizada —excepto no Porto e em Setúbal—,repercutindo-se agora no conjunto do País.
Assim, como referimos acima, só entre 1960 e 1981 o ritmo de transfor-mação da estrutura em análise se acelera e o seu sentido é inequívoco.
Tal como observámos na nota 5, o comportamento do indicador em estudonão será seguramente apenas justificado por alterações dos critérios no apu-ramento dos dados.
5 A causa de tal facto residirá fundamentalmente na alteração de critérios por parte da enti-dade recenseadora (pela primeira vez, em 1930 tenta-se fazer uma classificação por sectores,contrariamente à classificação por profissões, utilizada nos censos anteriores) e também em poten-ciais efeitos dos condicionamentos conjunturais internacionais e associados a outros estrutu-rais internos (veja-se Baganha, 1988 e Rosas, 1986).
6 O sector secundário inclui as indústrias extractivas e transformadoras e ainda o sector dostransportes e comunicações.
7 O sector terciário inclui o «comércio», a «administração pública e defesa» e os «serviçosdiversos».
8 Veja-se Kuznets, 1987.
Ana Bela Nunes
ANALISE REGIONAL
Algumas breves considerações sobre a análise regional confirmam o queacabámos de concluir.
A evolução do índice de assimetria regional —média das distâncias dasestruturas das vinte regiões elementares à estrutura do País — revela umaumento das assimetrias, lento até 1930-40, rápido até 1970, e uma atenua-ção dessas assimetrias na última década do período9. A principal razão destecomportamento tem a ver com o comportamento mais ou menos dinâmico,no sentido da modernização mais ou menos rápida, das regiões que compõemos grupos de regiões de estrutura próxima (que designamos no anexo I-B por«regiões homogéneas») relativamente ao conjunto do País. Sintoma distoé o esvaziamento do grupo médio a favor do de transição entre o médio eo agrícola (que entre 1950 e 1960 engloba a maioria das regiões) e, entre 1960e 1970, o esvaziamento do último a favor do grupo constituído pelas regiõesde maior peso do sector agrícola.
De notar ainda que só a partir de 1940 se forma um grupo constituídopor regiões com uma estrutura claramente industrial e moderna. Até aí, elasnão revelavam ainda uma semelhança das suas estruturas. São elas Lisboa,Porto — histórica e tradicionalmente, os únicos pólos de actividade econó-mica não agrícola em Portugal10 — e Setúbal, que até àquela data revela umaestrutura bastante próxima da de Aveiro e Faro, facto que se deve a ter umpeso do sector primário11 idêntico ao daquelas regiões (apesar do peso redu-zido do sector agrícola, a pesca ocupa cerca de 11 % da população activatotal).
A título complementar, apresentamos ainda no anexo I-A duas decompo-sições do quadro n.° 1, que analisámos atrás. O quadro n.° 2 é uma decom-posição da indústria transformadora e o quadro n.° 3 uma sectorializaçãoda indústria transformadora em sentido estrito, cujo total aparece no qua-dro anterior. A sua construção é apenas possível para o período posteriora 1930 por ausência de dados sobre a desagregação deste sector nos censosde 1890, 1900 e 1911.
Não pretendendo analisar aqui os dois quadros agora referidos, apenaschamaremos a atenção para a confirmação da década de 1950 como o iní-cio da época de moderno crescimento económico em Portugal.
9 O moderno crescimento económico caracteriza-se por nas fases iniciais do seu processotender a acentuar as assimetrias (regionais, internacionais, na distribuição do rendimento, etc),mas a prazo tender, inversamente, a atenuá-las, graças ao alastramento dos efeitos económicosfavoráveis da industrialização e modernização. Mesmo que neste caso concreto se associe estaatenuação aos efeitos das transformações políticas da segunda metade da década de 1970, éde lembrar que o moderno crescimento económico é uma época económica e, como tal, é umprocesso não apenas ligado às transformações económicas, mas também às políticas e culturais.
10 Veja-se Justino, 1988.710 n O sector primário inclui os sectores da «agricultura» e da «pesca».
A evolução da estrutura da população activa
Verifica-se, posteriormente àquela data, a perda de peso do conjunto daindústria transformadora em sentido estrito a favor dos sectores da cons-trução civil e obras públicas e da electricidade, gás e água, facto que estáassociado ao crescimento urbano e dos transportes e comunicações, à cons-trução de infra-estruturas energéticas ligadas aos aspectos tecnológicos doque alguns autores designam por segunda revolução industrial e ainda aosurto de actividades terciárias modernas, como, por exemplo, as ligadas aoturismo.
Igualmente se observa a perda de peso dos sectores da indústria transfor-madora, à partida ainda compatíveis com unidades produtivas de tipo edimensão mais tradicionais (ligadas à tecnologia da primeira revolução indus-trial, pouco exigente na concentração dos factores produtivos e na qualifi-cação da mão-de-obra — comummente associadas hoje em dia, com poucorigor, a termos como «indústria ligeira», «indústria de bens de consumo»ou «indústria de mão-de-obra intensiva»), a favor das indústrias mais moder-nas, como a química, a metalurgia e afins ou a do papel e tipografia.
2.a PARTE
A EVOLUÇÃO DA ESTRUTURAPOR SEXOS DA POPULAÇÃO ACTIVA PORTUGUESA
As nossas expectativas relativamente à capacidade esclarecedora de umaanálise da evolução por sexos da população activa foram amplamente con-firmadas para o caso português.
No anexo n incluímos os dados em que assentámos este estudo e a pro-pósito dos quais passamos a sistematizar algumas considerações a respeitodo que revelam sobre o início do processo de industrialização e moderniza-ção da economia portuguesa e sobre a taxa de actividade económica.
1. A PROPÓSITO DO INÍCIO DA ÉPOCA DO MODERNO CRESCI-MENTO ECONÓMICO
A evolução da estrutura por sexos da população activa e das taxas de acti-vidade masculina e feminina fora do sector agrícola é elucidativa e confirmaa década de 1950 como a de arranque de um crescimento de tipo novo.
É sobretudo de 1950 para 1960 que o crescimento do número de activosmasculinos no total da população empregue no sector das indústrias trans-formadoras foi mais significativo e que a diferença para os activos femini-nos no mesmo sector foi maior— este salto acelerou-se ainda mais na décadaseguinte, mas nesta já o crescimento da mão-de-obra feminina foi igualmenteforte. 711
Ana Bela Nunes
É na década de 1960 que o peso dos trabalhadores femininos no sectordos serviços diversos deixa de ser superior a metade, o que aponta para umamodernização daquele sector relativamente ao período anterior, em que nasua estrutura interna pesariam os serviços domésticos (e onde nos temposmais recuados se incluem rubricas como a dos «criados e criadas», que, emparte, forneceriam na prática trabalho agrícola — aspecto sociológico dasestruturas económicas).
A análise da evolução da taxa de actividade complementará ainda os argu-mentos que aqui avançámos.
2. A PROPÓSITO DA TAXA DE ACTIVIDADE12
As elevadas taxas de actividade (população activa total/população resi-dente —ou presente— total) verificadas no início do período em análise(superiores a 42 % e atingindo mesmo o valor de 49,5 % em 1890) estão liga-das à elevada percentagem de trabalhadores femininos no total da popula-ção activa empregue no sector agrícola. Duas observações sobre este factose afiguram pertinentes:
a) Ele aponta para a confirmação das nossas suspeitas, anunciadas no tra-balho cujas conclusões reproduzimos na l.a parte desta comunicação,de que nos censos iniciais está contabilizada como população activa umaparte significativa não só de trabalho familiar não pago, mas ainda dasmulheres casadas domésticas, grupos que na altura pesavam sobretudono sector agrícola;
b) Ele pode em parte ser justificado pelo grande peso que a unidade fami-liar, enquanto núcleo de actividade económica, terá tido em Portugalaté relativamente tarde, revelando uma estrutura social em que a sepa-ração entre a esfera do económico e a do familiar ainda não está muitomarcada. Não será um mero acaso o facto de o número de trabalhado-res femininos per capita nas actividades não agrícolas, em geral, ten-der a diminuir até 1960 (8,6 % para 5,6%, cerca de 35 % em percenta-gem), com particular relevo para a indústria transformadora; no início,a taxa de actividade feminina neste sector varia entre 52% e 40% damasculina, para entre 1940 e 1960 aqueles valores passarem a ser infe-riores a 30%.
Fazemos notar que, tal como Kuznets provou a partir da análise de umnúmero alargado de economias nacionais13, também em Portugal se veri-fica uma relativa estabilidade da taxa de actividade masculina, entre 26 %
12 O facto de termos desprezado as rubricas «actividades mal definidas» e afins, em algunsanos (até 1940 e em 1970), dado o seu peso excessivo (superior a 1 %), e por isso potencial-mente capaz de afectar as estruturas, pode tornar quantitativamente imprecisa esta análise, masnão infirmará as conclusões aqui apresentadas.
712 n Veja-se Kuznets, 1971.
A evolução da estrutura da população activa
e 31 %, comparativamente à revelada pelo comportamento da mão-de-obrafeminina. A tendência de evolução daquele indicador, no caso português,foi no sentido da quebra, a que não deve ser estranho o facto de Portugalser um país de forte emigração. As razões para a inversão da tendência veri-ficada entre 1930 e 1960 terá a ver com factores demográficos, em particu-lar: a) quebra da taxa de natalidade entre 1930 e 1940; b) prolongamentoda duração média de vida (sobretudo entre 1940 e 1950), não compensadaainda pela chegada mais tardia ao mercado de trabalho nem pela diminui-ção da idade de reforma14.
No caso da mão-de-obra feminina, as alterações das estruturas demográ-ficas (a par eventualmente de outros factores, como a guerra colonial) terãocomeçado a ter grande influência (em particular na queda da taxa de natali-dade) para explicar o aumento do peso das mulheres activas per capita, após1960, para níveis semelhantes aos do início do século; mas agora este fenó-meno faz-se sentir sobretudo fora do sector agrícola, em particular nos sec-tores da «indústria transformadora», «comércio» e «administração públicae defesa».
A análise da evolução da taxa de actividade global ponderada (anexo IIB)parece confirmar ainda a tese de que os efeitos agregados do crescimentoeconómico são mais o resultado da melhoria qualitativa nos factores pro-dutivos e nos meios técnicos e organizativos que os enquadram do que dasua expansão quantitativa.
Se se desprezarem os dois primeiros valores (eventualmente ainda exage-rados, apesar da ponderação utilizada para a população feminina), a ten-dência relativamente à oferta de trabalho per capita não se apresenta muitodefinida e a sua expansão quantitativa (sem levar em conta factores quetenham melhorado a sua eficiência) não pode ter contribuído muito para ocrescimento do produto per capita, também no caso português15. Se a taxade actividade subiu significativamente de 1940-50 para 1960 (a década de 1950foi de arranque do moderno crescimento económico e de lenta evolução dosníveis e estruturas demográficas), ela volta a descer, não menos nitidamente,na década de 1960. Assim, a década de consolidação da nova época econó-mica ainda terá dependido menos da quantidade «bruta» deste factor pro-dutivo. O ligeiro aumento verificado nos anos de 1970 terá a ver com os efei-tos da evolução demográfica (diminuição da taxa de natalidade e retornode residentes nas ex-colónias africanas) e o consequente aumento do empregofeminino.
A análise por sexos da estrutura da população activa permite ainda escla-recer um pouco mais a anormalidade dos valores do Recenseamento Geralda População de 1930. Recordemos que naquele ano se detecta um peso«anormalmente» baixo do sector agrícola, um peso «exageradamente» alto
14 Veja-se Nazareth, 1985.15 Veja-se Nunes, Mata e Valério, 1989. 713
Ana Bela Nunes
do sector dos serviços diversos e uma quebra da indústria transformadora,ainda mais ou menos estranha perante a evolução esperada.
Na sua dissertação de doutoramento, Maria Ioannis Baganha defende queo aumento da população activa empregue nos serviços teria sido uma con-sequência de dificuldades conjunturais do sector industrial. Elas teriam afec-tado sobretudo o emprego feminino e levado a uma deslocação significativade população activa feminina da produção industrial para os serviços domés-ticos. Ora verifica-se que a queda da população activa no sector da indús-tria transformadora é relativamente proporcional nos dois sexos, facto quenão acontece relativamente aos sectores agrícola e de serviços, em que as res-pectivas quebra e expansão se dão exclusivamente na população activa femi-nina. Sem pôr totalmente em causa a teoria defendida pela autora, para oque seria necessário analisar outros indicadores16, parece claro que a altera-ção de critérios no apuramento do censo de 1911 para o de 1930, nomeada-mente a passagem de uma classificação por profissões para uma classifica-ção sectorial, se repercutiu fortemente no tratamento da população activafeminina, facto também reconhecido pela autora em referência.
CONCLUSÃO
A consideração simultânea da evolução da estrutura por sexos da popu-lação activa portuguesa e da taxa de actividade contribuiu para uma melhoraferição dos recursos humanos disponíveis e revela aspectos organizativose institucionais da economia que confirmam as características e o ritmo docrescimento económico português ao longo do século xx17, e nomeadamenteque Portugal só entra na época do moderno crescimento económico a par-tir da década de 1950. Por outro lado, o forte crescimento económico con-seguido a partir daquela data não terá sido devido fundamentalmente a umaumento quantitativo do factor trabalho, mas a melhorias qualitativas nosfactores produtivos em geral e nos meios técnicos, organizativos e institu-cionais, cujos contributos para o crescimento há que aferir.
BIBLIOGRAFIA
BAGANHA, M. I. Bennis, International Labor Movements: Portuguese Emigration to the UnitedStates 1820-1930, dissertação de doutoramento apresentada na Universidade da Pensilvânia,1988.
JUSTINO, David, A Formação do Espaço Económico Nacional: Portugal, 1810-1910y Lisboa,Vega, 2 vols., 1988.
16 Veja-se Rosas, 1986, e Valério, 1982.714 17 Veja-se ainda Nunes, Mata e Valério, 1989.
A evolução da estrutura da população activa
KUZNETS, Simon, Economic Growth of Nations. Total Output and Production Structure, NewHaven, Belknap Press of Harvard, 1971.
KUZNETS, Simon, Modern Economic Growth. Rate, Structure and Spread, New Haven, YaleUniversity Press, 1987.
NAZARETH, J. Manuel, «A demografia portuguesa do século xx: principais linhas de evoluçãoe transformação», in Análise Social, Lisboa, vol. xxi, n.os 87-88-89, 1985.
NUNES, Ana Bela, População Activa e Actividade Económica em Portugal dos Finais doSéculo XIX à Actualidade. Uma Contribuição para o Crescimento Económico Português,dissertação de doutoramento apresentada no Instituto Superior de Economia, da Universi-dade Técnica de Lisboa, 1989.
NUNES, Ana Bela, Eugénia Mata e Nuno Valério, «Portuguese economic growth 1833-1985»,in The Journal of European Economic History, Roma, vol. 18, n.° 2, 1989.
ROSAS, Fernando, O Estado Novo nos Anos Trinta: Elementos para o Estudo da NaturezaEconómica e Social do Salazarismo (1928-1938), Lisboa, Estampa, 1986.
VALÉRIO, Nuno, As Finanças Públicas Portuguesas entre as Duas Guerras Mundiais, disser-tação de doutoramento apresentada no Instituto Superior de Economia, da Universidade Téc-nica de Lisboa, 1982.
715
{QUADRO N.° 1]
ANEXO IA
Distribuição sectorial da população activa e índice de assimetria regional em Portugal nos anos e à data dos recenseamentos
Principais sectores I
TotalAgricultura
ValorPeso
PescaValorPeso
Indústria extractivaValorPeso
Indústria transformadoraValorPeso
Transportes e comunicaçõesValorPeso
ComércioValorPeso
Administração pública e defesaValorPeso
Serviços diversosValorPeso
índice de assimetria regional . .
1890
: 530,5
536,461
26,61
4,5+ 0
447,618
52,52
103,34
58,02
301,712
13
1900
2 457,3
1 507,661
21,51
4,3+ 0
456,319
66,43
141,86
52,12
208,38
13
1911
2 545,0
1 442,457
19,41
9,2+ 0
547,822
76,83
154,36
54,32
240,79
14
1930
2 516,7
1 237,049
39,42
11,0+ 0
467,819
71,93
145,46
88,23
456,018
15
1940
2 775,2
1 423.751
36,91
19,31
566,120
83,93
190,17
100,94
354,313
18
1950
3 196,5
1 523,148
46,01
25,11
757,424
107,33
255,38
114,84
367,411
20
1960
3 315,6
1 398,342
46,81
26,21
932,528
122,24
308,69
119,24
362,011
23
1970
3 060,9
965,932
36,91
12,2+ 0
1009,233
147,35
377,212
156,65
356,612
25
3 848,7
705,318
32,61
18,01
1 480,438
191,75
581,615
253,07
586,215
21
A evolução da estrutura da população activa
[QUADRO N.° 2]Indústria transformadora
TotalIndústria transformadora em
sentido estrito:ValorPeso
Construção civil e obras públi-cas:
ValorPeso
Electricidade, gás e água:ValorPeso
índice de assimetria regional .
Anos
1930 1940 1950 1960 1970 1981
467,8
337,072
124,927
5,81
566,1
433,377
127,122
5,71
757,4
592,878
154,721
9,91
932,5
690,974
227,224
14,42
11
1 009,2
736,873
256,125
16,32
14
1 480,4
1 008,668
442,330
29,42
24
[QUADRO N.° 3]Indústria transformadora em sentido estrito
TotalAlimentares, bebidas e tabacos:
ValorPeso
Têxteis, vestuário e calçado:ValorPeso
Madeira, cortiça e mobiliário:ValorPeso
Papel e tipografia:ValorPeso
Minerais não metálicos:ValorPeso
Química:ValorPeso
Metalurgia, máquinas, materialeléctrico e de transporte:
ValorPeso
Indústrias diversas:ValorPeso
índice de assimetria regional
1930
337,0
36,911
162,948
40,112
9,33
8,12
2,91
53,216
23,67
13
433,3
65,915
199,146
58,914
12,83
16,04
8,92
57,113
14,73
16
592,8
77,313
240,441
92,416
18,13
25,94
10,52
84,014
44,27
18
1960
690,9
72,810
254,437
100,915
26,94
39,46
30,84
144,221
21,53
18
1970
736,8
60,8
264,136
107,815
31,34
48,37
39,85
158,721
26,14
23
1981
1 008,6
106,010
312,031
117,012
49,55
65,46
75,57
246,224
36,94
28
Nota: Unidades — valor em milhares de indivíduos; peso em percentagens.
Fonte: Nunes, 1989.
0 Tacto de os totais não corresponderem, eventualmente, ao somatório das parcelas deve-se a erros de arredondamento. 717
oS
ANEXO I-B
RA
RT (M-A)
RM
RT (M-I)
1890
BragançaViana do CasteloVila RealViseu
AveiroBejaBragaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroGuardaLeiriaPortalegreSantarémMadeira
1900
BragançaViana do CasteloVila RealViseu
BejaGuardaLeiria
AveiroBragaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroPortalegreSantarémAçoresMadeira
1911
BragançaViana do CasteloVila RealViseu
BejaGuardaLeiriaSantarém
AveiroBragaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroPortalegreAçoresMadeira
1930
BejaBragançaÉvoraPortalegreViana do CasteloVila RealViseuGuardaLeiriaSantarémAçores
AveiroBragaCastelo BrancoCoimbraFaroMadeira
1940
BejaBragançaGuardaViana do CasteloVila RealViseuAçoresCastelo BrancoCoimbraÉvoraLeiriaPortalegreSantarém
FaroMadeira
1950
BejaBragançaVila Real
Castelo BrancoCoimbraÉvoraGuardaLeiriaPortalegreSantarémViana do CasteloViseuAçoresFaroMadeira
1960
BejaBragançaVila RealViseu
Castelo BrancoÉvoraGuardaPortalegreViana do CasteloAçores
CoimbraFaroLeiriaSantarémMadeira
1970
BejaBragançaGuardaPortalegreViana do CasteloVila RealViseuÉvora
Castelo BrancoCoimbraFaroLeiriaSantarémAçoresMadeira
1981
BejaBragançaGuardaPortalegreViana do CasteloVila RealViseuÉvora
Castelo BrancoCoimbraFaroSantarémAçoresMadeira
Leiria
ANEXO I-B (continuação)
RI
GR
RS
1890
LisboaPortoSetúbalAçores
1900
LisboaPortoSetúbal
1911
LisboaPortoSetúbal
1930
LisboaPortoSetúbal
1940
AveiroBragaSetúbal
LisboaPorto
1950
AveiroBragaSetúbal
LisboaPorto
1960
AveiroBragaSetúbal
LisboaPorto
1970
AveiroBragaPortoSetúbalLisboa
1981
AveiroBragaPortoSetúbalLisboa
Nota — RA, região agrícola; RT (M-A), região de transição entre a região média e a região agrícola; RM, região média; RT (M-I), região de transição entre a região média e a região industrial; RI,região industrial; GR, grupo não homogéneo (residual); RS, região de serviços. l
$
I1IIi'
ANEXO II-A
Distribuição sectorial e por sexos da população activa (nos anos e à data dos recenseamentos)
Principais sectores[QUADRO N.° 4]
TotalM: valor
pesoF: valor
peso
AgriculturaM: valor
pesoF: valor
peso
PescaM: valor
pesoF: valor
peso
Indústria extractivaM: valor
pesoF: valor
peso
Indústria transformadoraM: valor
pesoF: valor
peso
21
11
1890
530,5609,364
921,236
536,4054,469
482,031
26,621,9834,6
17
4,54,3
960,24
447,6289,965
157,735
21
11
1900
457,3726,3
70731,0
30
507,6127,375
380,325
21,519,792
1,88
4,34,0
930,37
455,3320,0
70135,330
21
11
1911
545,0848,1
73696,8
27
442,4107,977
334,423
19,419,0980,42
9,28,9
960,44
547,8392,672
155,228
21
11
1930
516,7823,872
692,928
237,0072,7
87164,313
39,438,297
1,23
11,010,6960,44
467,8367,379
100,521
22
11
1940
775,2143,077
632,223
423,7202,8
84220,9
16
36,936,1980,82
19,318,194
1,26
566,1433,0
76133,124
32
11
1950
196,5471,8
77724,623
523,1284,5
84238,6
16
46,045,198
0,92
25,123,493
1,67
757,4585,3
77172,123
32
11
1960
315,6713,0
82602,6 .
18
398,3292,6
92105,6
8
46,845,9980,82
26,225,4970,83
932,5757,6
81174,9
19
1970
3 060,92 263,1
74797,826
965,9788,3
82177,718
36,935,897
1,13
12,211,8960,44
1 009,2744,9
74264,2
26
32
1
11
1981
848,7544,466
304,434
705,3445,8
63259,5
37
32,631,697
1,03
18,017,2950,85
480,4108,175
372,225
ANEXO II-A (continuação)
Transportes e comunicações.M: valor
pesoF: valor
peso
ComércioM: valor
pesoF: valor
peso
Administração pública e defesa .M: valor
pesoF: valor
peso
Serviços diversosM: valor
pesoF: valor
peso
1890
52,550,3%2,24
103,372,27031,130
58,057,9
1000,1
+ 0
301,758,519
243,281
1900
66,462,0934,47
141,896,06845,832
52,151,9
1000,2
+ 0208,345,422
162,978
76,873,496
3,44
154,3124,68129,719
54,353,9990,51
240,767,928
172,972
1930
71,968,195
3,85
145,4125,78619,614
88,285,8972,43
456,055,512
400,588
1940
83,975,991
8,09
190,1159,28431,016
100,997,697
3,33
354,3120,334
234,166
107,399,793
7,67
255,3216,6
8538,715
114,8105,992
8,98
367,4111,330
256,170
1960
122,2111,49110,79
308,6260,9
8547,715
119,2108,19111,19
362,0111,031
251,069
1970
147,3129,68817,712
377,2282,7
7594,525
155,6122,47933,121
356,6147,641
209,059
1981
191,7161,78430,016
581,6382,866
198,834
253,0171,16881,932
586,2226,239
360,161
i!
12
!
Ia
Nota — Unidades: valor em milhares de indivíduos; peso em percentagens. O facto de os totais não corresponderem, eventualmente, ao somatório das parcelas deve-se a erros de arredondamento.
Ana Bela Nunes
ANEXO II-B
População residente e taxa de actividade global
População residente(nos anos e à data dos recenseamentos)
IQUADRO N.° 5}
Anos
18901900191119301940 . . . .1950196019701981
Total
5 102,95 446,85 999,16 802,47 755,48 510,28 889,48 648,49 833,0
Nota — Valores em milhares de indivíduos.
Taxa de actividade (nos anos e à data dos recenseamentos)
[QUADRO N.° 6]
Anos
189019001911193019401950196019701981
Taxa de actividade não ponderada
49,545,142,437,035,837,637,335,439,1
Taxa de actividade ponderada
38,536,934,832,031,333,034,131,432,8
Nota — As ponderações são as utilizadas por S. Kuznets em Kuznets, 1971, p. 57:
População activa agrícola = população activa masculina+0,2 população activa agrí-cola feminina;
População activa não agrícola = população activa não agrícola masculina + 0,6 popu-lação activa não agrícola feminina.
É possível que a ponderação do sector agrícola seja demasiado exigente para os momentos maisrecentes, mas em 1960 ela parece ter sido ainda válida para diversos países (como a França, a Holanda,o Canadá e o Japão), em que o trabalho feminino não pago representa 70 % a 80 % do total dapopulação activa feminina; quando este peso é pequeno, qualquer ponderação é irrelevante.
722