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____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 05– Número 02 – 2011
A FAMÍLIA COMMELINACEAE Mirb. EM INSELBERGS DO AGRESTE PARAIBANO
Elisabeth E. A. Dantas Tölke1, Acácia Renally Lopes Pereira
2, Juliana Castelo Branco Brasileiro
2,
José Iranildo Miranda de Melo3
RESUMO – Os inselbergs distribuem-se abundantemente em regiões tropicais e possuem uma
vegetação pouco estudada, especialmente os assentados na região Nordeste do Brasil. Este trabalho
consiste do levantamento de Commelinaceae Mirb. em dois inselbergs do município de Puxinanã,
mesorregião do agreste do Estado da Paraíba, Brasil. Foram encontrados três gêneros e quatro
espécies: Commelina erecta L., C. obliqua Vahl, Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl. e
Tradescantia ambigua Mart., das quais apenas C. obliqua e D. hexandra já haviam sido relatadas
para inselbergs no país. O tratamento inclui chave de identificação, descrições, ilustrações e dados
de distribuição geográfica para as espécies.
Unitermos: Afloramentos rochosos, vegetação, Paraíba, Commelinaceae.
THE COMMELINACEAE Mirb. FAMILY IN INSELBERGS OF THE AGRESTE REGION
OF PARAÍBA STATE
ABSTRACT – The inselbergs are distributed profusely in the tropical zones presenting its
vegetation poorly studied, especially settlers in Brazilian Northeast. This work comprises a survey
of the family Commelinaceae Mirb. in two inselbergs located at the municipality of Puxinanã,
middle region of the Agreste of the Paraíba State, Brazil. Were found three genera and four species:
Commelina erecta L., C. obliqua Vahl, Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl. and Tradescantia
ambigua Mart., of which only C. obliqua and D. hexandra had already been reported for inselbergs
in the country. This treatment includes key for identification, descriptions, illustrations and
geographic distribution data for the species.
Uniterms: Rocky outcrops, vegetation, Paraíba State, Commelinaceae.
INTRODUÇÃO
Inselbergs consistem de afloramentos rochosos de origem granítica ou gnáissica, os quais
ocorrem em ilhas naturais ou em grupos de fragmentos, que emergem abruptamente acima da
planície que os cercam (Porembski, 2007; Burke, 2002; Barthlott e Porembski, 2000a; Porembski et
al., 1997; Barthlott et al., 1993).
Apesar de serem bastante comuns, tanto nas regiões temperadas como nas tropicais, sua
vegetação ainda é pouco estudada (Barthlott e Porembski, 2000a). Muito freqüentes nas paisagens
brasileiras, os estudos florísticos e ecológicos ainda são incipientes (Oliveira e Godoy, 2007,
Esgario et al., 2009; Safford e Martinelli, 2000) inclusive na região Nordeste, onde os mesmos são
abundantes, em especial para o Estado da Paraíba, sendo estes estudos de fundamental importância
para a conservação dessas “ilhas de vegetação”.
Nesse cenário diferentes famílias, sobremaneira as da flora fanerogâmica, podem ser
encontradas. Dentre estas, pode-se mencionar Commelinaceae a qual está incluída na ordem
Commelinales (APG III, 2009). Esta família possui aproximadamente 650 espécies e 40 gêneros
dispersos em regiões temperadas e tropicais (Judd, 2007). Os principais centros de diversidade para
1 Mestranda em Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil, 13083-970.
2 Biólogas,
Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biologia, Campina
Grande, PB, Brasil, 58429-500.3 Professor Doutor B, Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas
e da Saúde, Departamento de Biologia, Campina Grande, PB, Brasil, 58429-500. [email protected]
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a família são o México, América Central, África Tropical, Índia, Tailândia e o sudoeste da China
(Cabezas et al., 2009). No Brasil são encontradas 74 espécies, destas 37 endêmicas, acomodadas em
14 gêneros, sendo Tripogandra Raf. (7 spp.), Commelina L. (9 spp.), Tradescantia Ruppius ex L.
(12 spp.) e Dichorisandra J.C. Mikan (28 spp.) os mais numerosos (Aona, 2010). As representantes
desta família caracterizam-se, principalmente, pelos caules herbáceos, carnosos, e pelas flores de
variadas cores (Barreto, 1997).
Várias de suas espécies apresentam potencial ornamental, pela facilidade de cultivo em
vasos e por desenvolverem-se bem à sombra, como: Dichorisandra acaulis Cogn., D. thyrsiflora
J.C. Mikan, Siderasis fuscata (Lodd.) H.E. Moore, Tradescantia zanonia (L.) Sw., T. pallida (Rose)
D.R. Hunt, T. spathacea Sw. e T. zebrina Heynh. (Barreto, 1997; 2002). Também possui
importância medicinal como, por exemplo, as espécies: Tradescantia diuretica Mart., utilizada
contra dores reumáticas e retenção urinária; Commelina benghalensis L., diurética e emoliente, e
Commelina nudiflora L., diurética, anti-reumática e antiblenorrágica (Barreto, 1997; 2002).
Este trabalho consiste do levantamento de Commelinaceae Mirb. em inselbergs do Agreste
do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, visando contribuir para o conhecimento da flora de
inselbergs e, também, da riqueza e distribuição da família nessas formações rochosas.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
O presente estudo foi conduzido entre abril e outubro de 2010 em dois inselbergs (o
primeiro estendendo-se sob as coordenadas 07º08’62,1”S, 35º58’31,4”W, e o segundo, sob as
coordenadas 07º08’83,5”S e 35°57’88,2”W) (Figura 1; Figura 2: A-B) localizados no município de
Puxinanã, mesorregião do Agreste Paraibano, Nordeste do Brasil.
Este município atinge, em sua cota máxima, 711 m de altitude, e apresenta uma extensão
territorial de 74 Km² representando 0.1305% do Estado, distando 121,2 Km da capital, João Pessoa.
O relevo é geralmente movimentado, com vales profundos e estreitos dissecados (Beltrão et al.,
2005), apresentando um extenso agrupamento de inselbergs assentados nos espaços urbano e rural.
O clima é tropical com a estação chuvosa iniciando entre os meses de janeiro/março e
terminando entre os meses de julho/agosto. Os índices pluviométricos registrados na sede do
município apresentaram uma média histórica de 651,0 mm/ano. A temperatura máxima registrada
foi de 28ºC e mínima de 16ºC (AESA, 2006).
A fitofisionomia predominante é a Caatinga arbustiva (Fernandes, 2000), com vegetação
típica e, conforme já mencionado, apresentando abundância de afloramentos rochosos.
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Processamento dos espécimes e estudo morfológico
Os espécimes obtidos em campo foram prensados e herborizados, e em seguida,
incorporados à coleção do Laboratório de Botânica (ACAM) da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), Campus I, Campina Grande, PB.
A identificação dos espécimes nos níveis de gênero e espécie baseou-se fundamentalmente
na literatura especializada (Alves et al., 2009; Barreto, 1997; 2002; 2005; Rosário e Bianchini,
2001). A proposta de classificação adotada foi a do APG III (2009) e a grafia dos nomes científicos
e autores das espécies foram consultados na base de dados do Missouri Botanical Garden (Tropicos,
2010). As características morfológicas foram descritas com base na terminologia taxonômica, com
auxílio de microscópio estereoscópico Olympus SZ51.
O tratamento inclui chave para separação das espécies, descrições taxonômicas e ilustrações
apresentando os principais caracteres para o reconhecimento das espécies, além de dados de
distribuição geográfica e floração. Os dados de distribuição geográfica foram obtidos em Barreto
(1997) e em Aona et al. (2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Commelinaceae Mirb., Hist. Nat. Pl. 8: 177. 1804.
Ervas anuais ou perenes, freqüentemente suculentas. Caule simples a ramificado. Folhas
simples basais e ou caulinares, com bainha envolvendo o caule, glabras ou pubescentes,
freqüentemente de margem ciliada e inteira. Inflorescências terminais, ou terminais e axilares,
compostas de poucas ou numerosas cimeiras e agregadas em tirsos, subtendidas por brácteas
foliáceas ou encerradas em brácteas espatáceas. Flores bissexuadas ou estaminadas, ocasionalmente
cleistogâmicas, actinomorfas ou zigomorfas; diclamídeas, dialissépalas ou gamossépalas,
dialipétalas ou gamopétalas; sépalas-3, pétalas-3, estames-6, todos férteis ou 1-4 modificados em
estaminódios ou suprimidos, anteras com deiscência longitudinal ou raramente basal ou poricida;
ovário súpero 2-3-locular, com um a muitos óvulos por lóculo; estilete simples, estigma apical,
pequeno ou capitado. Fruto cápsula, 2-3 valvar, ou raramente indeiscente.
Figura 1 - Localização do município de Puxinanã, Paraíba, Nordeste do Brasil com destaque
para as áreas de estudo (Inselberg 1 e Inselberg 2).
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Chave para identificação das espécies:
1. Flores actinomorfas, pétalas azul-escuro de base alvacenta; ovário piriforme ..............
................................................................................................... 4. Tradescantia ambigua.
1’. Flores zigomorfas, pétalas nunca azul-escuro nem de base alvacenta; ovário globoso.
2. Pétalas róseas a violáceas, pubérulas; estames-6; ovário viloso ..............................
............................................................................................... 3. Dichorisandra hexandra.
2’. Pétalas azuis, glabras; estames-3, estaminódios-3; ovário glabro.
3. Lâmina foliar glabra em ambas as faces, de base atenuada e simétrica ...........
......................................................................................................... 1. Commelina erecta.
3’. Lâmina foliar pubescente em ambas as faces, de base atenuada e assimétrica
....................................................................................................... 2. Commelina obliqua.
1. Commelina erecta L., Sp. Pl. 1: 41. 1753. Figuras 2C, 3A.
Ervas, eretas. Caule ereto do tipo haste, glabro. Folhas invaginantes, bainha pilosa; lâmina
com aproximadamente 5,0-11 cm x 1,0-2,5 cm, lanceolada, membranácea, bordo inteiro, ápice
agudo, base atenuada e simétrica, glabra em ambas as faces. Inflorescências em cimeiras, inclusas
em brácteas espatáceas, pubescentes, brácteas 0,8-1,5 cm x 1,0-2,5 cm. Flores bissexuadas,
zigomorfas, diclamídeas, dialissépalas, dialipétalas; sépalas-3, brancas; pétalas-3, azuis, sendo duas
ungüiculadas reniformes, e uma séssil, linear; estames-3, estaminóides-3, todos livres entre si;
anteras rimosas, amarelas; ovário súpero, globoso. Fruto não observado.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, 07º08’83,5”S e 35°57’88,2”W, VII-2009,
A.R.L. Pereira, E.E.A.D. Tölke, J.B. Silva & J.C.B. Brasileiro s/n (ACAM). Ibidem, V-2010, A.R.L.
Pereira, E.E.A.D. Tölke, J.B. Silva & J.C.B. Brasileiro s/n (ACAM).
O gênero Commelina, com aproximadamente 170 espécies, é o maior da família,
dispersando-se nas regiões tropicais e temperadas (Dute et al., 2007; Slanis e Bulacio, 2007). As
características distintivas do gênero são os estames com anteras de deiscência rimosa e
inflorescências protegidas por brácteas espatáceas (Barreto, 1997; Puente e Faden, 2001). No Brasil,
está representado por nove espécies distribuídas em praticamente todo o território nacional.
Commelina erecta ocorre em 23 estados do Brasil, entre todas as regiões (Barreto, 2002). É espécie
morfologicamente relacionada a Commelina obliqua, da qual diferencia-se principalmente pela base
da folha, esta simétrica em Commelina erecta e assimétrica em Commelina obliqua (Barreto, 1997;
Maia, 2006). Desenvolve-se nos mais variados ambientes (Maia, 2006), e na área de estudo cresce
em ambientes úmidos e sombreados, na base dos inselbergs. É bastante utilizada como diurética e
anti-reumática (Maia, 2006) sendo considerada uma planta daninha de difícil controle em várias
regiões do país, podendo causar grandes prejuízos em lavouras de soja (Rocha et al., 2000).
2. Commelina obliqua Vahl., Enum. Pl. 2: 172. 1805. Figuras 2D, 3B-C.
Ervas, eretas. Caule ereto do tipo haste, glabro. Folhas invaginantes, bainha pilosa; lâmina
com aproximadamente 4,0-11,5 cm x 0,8-2,5 cm, lanceolada, membranácea, bordo inteiro, ápice
agudo, base atenuada e assimétrica, pubescente em ambas as faces. Inflorescências em cimeiras,
inclusas em brácteas espatáceas pubescentes, bráctea 0,9-1,5 cm x 1,1-1,9 cm. Flores bissexuadas,
zigomorfas, diclamídeas, dialissépalas, dialipétalas; sépalas-3, brancas; pétalas-3, azuis, sendo duas
ungüiculadas, reniformes e uma séssil, linear; estames-3, estaminóides-3, todos livres entre si;
anteras rimosas, amarelas; ovário súpero, globoso. Fruto não observado.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, 07º08’62,1”S, 35º58’31,4”W, IV-2010,
A.R.L. Pereira, E.E.A.D. Tölke, J.B. Silva & J.C.B. Brasileiro 06 (ACAM).
Commelina obliqua ocorre em todas as regiões do Brasil, sendo encontrada em 16 estados
(Barreto, 2002) nos domínios da Caatinga e do Cerrado (Aona et al., 2010). Apresenta
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desenvolvimento rápido e resiste à exposição à luz intensa (Barreto, 1997), na área de estudo
apresenta grandes populações, habitando substratos rochosos na base do inselberg.
3. Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl., Lista Pl. Salvador 48. 1925. Figuras 2E, 3D.
Ervas, eretas. Caule ereto do tipo haste, piloso. Folhas invaginantes, bainha pilosa; lâmina
com aproximadamente 6,6-10,8 cm x 1,4-2,7 cm, lanceolada, membranácea, bordo inteiro
pubescente, ápice agudo, base atenuada e assimétrica, face adaxial glabra, face abaxial pubescente.
Inflorescências terminais, paniculadas, pubérulas. Flores bissexuadas, zigomorfas, diclamídeas,
dialissépalas, dialipétalas, pubérulas; sépalas-3; pétalas-3, róseas a violáceas, obovóide-elípticas;
estames-6, livres entre si, anteras de deiscência poricida; ovário súpero, globoso, viloso. Fruto não
observado.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, 07º08’62,1”S, 35º58’31,4”W, VI-2010,
A.R.L. Pereira, E.E.A.D. Tölke, J.B. Silva & J.C.B. Brasileiro s/n (ACAM).
O gênero Dichorisandra ocorre predominantemente no Brasil, sendo observadas poucas
menções para o gênero em levantamentos realizados em outros países da América (Barreto, 1997).
No Brasil foi registrada em 23 Estados, nos domínios da Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e
Amazônia, e está representado por 27 espécies, das quais 22 são endêmicas (Aona et al., 2010).
Consiste o único gênero de Commelinaceae que apresenta estames com anteras de deiscência
poricida (Barreto, 1997). Dichorisandra hexandra é a espécie que se apresenta mais amplamente
distribuída (Barreto, 1997), ocorrendo em 23 Estados brasileiros em todas as regiões (Aona et al.,
2010). Exibe grande variedade morfológica, podendo ter folhas e inflorescências de tamanhos
variados e caules pouco ou muito ramificados, dependendo do ambiente e da região onde se
encontra (Maia, 2006). Na área de estudo demonstrou preferência por ambientes sombreados e
úmidos, sendo coletada logo após o período de chuvas no topo do inselberg.
4. Tradescantia ambigua Mart., Syst. Veg. 7: 1170. 1830. Figuras 2F, 3E-F.
Ervas, eretas. Caule ereto do tipo haste. Folhas invaginantes, bainha pilosa; lâmina com
aproximadamente 5,1-6,7 cm x 1,7-2,1 cm, lanceolada, membranácea, bordo inteiro, ápice agudo,
base atenuada, glabra em ambas as faces. Inflorescências terminais, inseridas nas bases das folhas.
Flores bissexuadas, actinomorfas, diclamídeas, dialissépalas, dialipétalas; sépalas-3, verdes com
ápice azulado; pétalas-3, azul escuro, de base alvacenta, ovais; estames-6, livres entre si; anteras
brancas a azuladas; ovário súpero, piriforme, tricarpelar. Fruto não observado.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, 07º08’62,1”S, 35º58’31,4”W, VI-2010,
A.R.L. Pereira, E.E.A.D. Tölke, J.B. Silva & J.C.B. Brasileiro s/n (ACAM).
O gênero Tradescantia tem como características distintivas presença de estames com anteras
de deiscência rimosa e inflorescências protegidas por brácteas foliáceas apedunculadas (Barreto,
1997). Está representado por 10 espécies no Brasil, ocorrendo quase que exclusivamente nas
regiões Sul e Sudeste (Barreto, 2005; Aona et al., 2010). Segundo as mesmas autoras, Tradescantia
ambigua é uma exceção, pois a maior concentração de seus indivíduos está na região Nordeste, em
área de Caatinga, podendo ocorrer também no Centro-Oeste e no Sudeste do país.
Esta espécie é endêmica do Brasil (Aona et al., 2010) e é facilmente distinguida das espécies
congêneres por apresentar folhas muito alongadas e inflorescências ao longo do caule, nas axilas
das folhas e porção terminal dos ramos (Barreto, 1997). Na área de estudo demonstrou preferência
por ambientes sombreados e úmidos, sendo coletada logo após o período de chuvas no topo do
inselberg.
CONCLUSÕES
As monocotiledôneas são consideradas bastante comuns em inselbergs, não só no Brasil
como em estudos realizados em outros países da América do Sul, na África Tropical e em
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Madagascar (Porembski, 2007; Meirelles et al., 1999; Porembski et al., 1997) por sua maior
tolerância às condições de estresse oferecidas por esse tipo de ambiente (Meirelles et al., 1999).
Observa-se que a ocorrência de indivíduos da família Commelinaceae em inselbergs é mais
comum em regiões do continente Africano (Barthlott e Porembski, 2000b), fato comprovado pelo
pequeno número de espécies amostradas em afloramentos brasileiros. Quando comparado com
outros trabalhos semelhantes, a família Commelinaceae pôde ser relatada em inselbergs no Rio de
Janeiro, representada pelo gênero Commelina (Meirelles et al., 1999); no Ceará, pelos gêneros
Commelina e Callisia Loefl. (Araújo et al., 2008); na Paraíba, por Commelina e Callisia (Fevereiro
e Fevereiro, 1980); e no Estado de Pernambuco, pelos gêneros Commelina, Callisia, Dichorisandra
e Tradescantia (Gomes e Alves, 2009). Apenas no estudo realizado por Gomes e Alves (2009)
foram relatadas duas das quatro espécies registradas nesse estudo: Commelina obliqua Vahl. e
Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl.
Este trabalho registrou quatro espécies para a família Commelinaceae: Commelina erecta L.,
C. obliqua Vahl, Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl. e Tradescantia ambigua Mart., todas
amplamente distribuídas no Brasil, com exceção apenas para T. ambigua Mart., que distribui-se
principalmente no Nordeste associada à vegetação de Caatinga, e também nas regiões Centro-Oeste
e Sudeste do país. Apenas Commelina obliqua Vahl. e Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl. já
haviam sido relatadas para inselbergs no Brasil. Observa-se ainda, que, os representantes da família
encontrados nos afloramentos rochosos estudados apresentam preferência por regiões xéricas,
sendo, por esta razão, mais comumente encontrados na vegetação de Caatinga.
‘
AGRADECIMENTOS
A Juliana Sales Rodrigues e Joan Bruno Silva, da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), Campus I, em Campina Grande, pelo auxilio durante os trabalhos de campo. A Allysson
Allan de Farias da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pela obtenção das coordenadas
dos locais de coleta.
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Figura 2. A-B: Vista parcial dos afloramentos rochosos estudados, Puxinanã, PB, Brasil. C. Commelina
erecta L. D. C. obliqua Vahl. E. Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl. F: Tradescantia ambigua Mart.
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Figura 3. A. Commelina erecta L.: Hábito. B-C. C. obliqua Vahl: B. Hábito. C. Flor. D.
Dichorisandra hexandra (Aubl.) Standl.: Hábito. E-F: Tradescantia ambigua Mart.: E. Hábito.
F. Inflorescência.