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A FAUNA E A FLORA DO A FAUNA E A FLORA DO A FAUNA E A FLORA DO A FAUNA E A FLORA DO
VERDE VALE DO ITAPEMIRIM:VERDE VALE DO ITAPEMIRIM:VERDE VALE DO ITAPEMIRIM:VERDE VALE DO ITAPEMIRIM:
Vertebrados Terrestres
(anfíbios, répteis, aves e mamíferos)
e
Caracterização da Vegetação dos
Remanescentes Florestais da
Fazenda do Ouvidor
3
_________________________________________________________________
Paz, Pedro Rogério de; Venturini, Ana Cristina; Helmer, José Luiz e Assis, André Moreira.
A Fauna e Flora do Verde Vale do Itapemirim. Vila Velha, 2009.
169p.
1. Fauna. 2. Flora. 3. Taxonomia. 4. Anurofauna. 5. Herpetofauna. 6. Avifauna. 7.
Mastofauna. 8. Fitofisionomia.
_________________________________________________________________
4
A Fauna e a Flora do Verde Vale do Itapemirim:
Vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) e
Caracterização da Vegetação dos Remanescentes Florestais da
Fazenda do Ouvidor
Relatório TécnicoRelatório TécnicoRelatório TécnicoRelatório Técnico
Cachoeiro de Itapemirim, Janeiro de 2009
5
usinapaineiras s.a.
Açúcar e Álcool
Tramirim
Instituto de Meio Ambiente e desenvolvimento Sustentável
6
INSTITUTO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –
TRAMIRIM
Diretoria
Carlos Alexandre Damasceno de Paz
Ana Helena Cazetta
Amarildo Souza Bristes
Gabriel Rios André
Aristides Fonseca Filho
Superintendente Executiva
Vera Lúcia de Paz
USINA PAINEIRAS S.A
Diretoria
Diretor Presidente
Régis Sousa de Carvalho Britto
Diretor Superintendente
Cláudio de Carvalho Britto Vital Brasil
Diretor Industrial
Ruy Vital Brasil Filho
Estudos realizados a partir do Projeto Verde Vale do Itapemirim: Proposta de plano
de comunicação, educação ambiental e capacitação para pequenos agricultores e
agricultoras do entorno do Verde Vale do Itapemirim – área prioritária para a
Conservação da Mata Atlântica (ISA/2000 e PROBIO / 2003) e apoio a criação da
RPPN do Ouvidor.
7
COORDENAÇÃO GERAL
Vera Lúcia de Paz
COORDENADOR EXECUTIVO DE ATIVIDADES NA USINA PAINEIRAS
Jorge Edson Machado Alves – Gestor Ambiental – Engenheiro Florestal
APOIO LOGÍSTICO (OPERACIONAL) - USINA PAINEIRAS
Ailton Abílio Rosa – Apoio de campo nas trilhas
José Antônio Satiro Gonçalves – Ex-Gerente de Pecuária
José Augusto Binoti – Atual Gerente de Pecuária
Jô Martins Reis – Serviços Gerais – Indústria
Manoel de Oliveira Rosa – Apoio de Campo nas trilhas
Maria das Graças Campos – Secretária da Diretoria
Mario Sergio Venâncio da Silva – Topógrafo
EQUIPE – FAUNA
Empresa Consultora
FAUNATIVA CONSULTORIA E COMÉRCIO LTDA
Técnicos Responsáveis
Pedro Rogerio de Paz - Biólogo (CRBio 12721/02) Mastofauna
Ana Cristina Venturini - Bióloga (CRBio 12707/02) Avifauna
Dr. José Luiz Helmer - Biólogo (CRBio 7428/02) Anurofauna e Herpetofauna
Apoio de campo
Cleunice Ferreira Pimenta
Alexandre Mendonça
Thiago Herzog
Adeilto José Moreira
Claudia Aparecida Pimenta
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EQUIPE – FLORA
Empresa Consultora
BIÓTICA ESTUDOS E PROJETOS LTDA
Técnicos Responsáveis
André Moreira de Assis – Biólogo, Msc. Biologia Vegetal (CRBio: 32.098/02)
Karla Fabíola de Oliveira Faria – Bióloga
Valdir Geraldo Demmuner – Biólogo
Apoio Logístico (Herbário e Filmadora no MBML)
Helio de Queiroz Boudet Fernandes – Diretor do Museu de Biologia Mello Leitão
(MBML)
Rosemberg Ferreira – Chefe Técnico do MBML
Especialistas que auxiliaram na identificação botânica
Anderson F. P. Machado: Museu Nacional / RJ - Moraceae
André P. Fontana: MBML - Orchidaceae e famílias em geral
Daniela M. Ferreira: Museu Nacional / RJ - Piperaceae
Helio Q. B. Fernandes: MBML - Arecaceae e famílias em geral
Ludovic J. C. Kollmann MBML: Begoniaceae, Bromeliaceae, Orchidaceae e famílias
em geral
Marcelo Viana Filho: Museu Nacional / RJ – Moraceae
Milton Goppo: Universidade de São Paulo - Rutaceae
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO _________________________________________________________15
AGRADECIMENTOS ______________________________________________________18
Capitulo 1: FaunaCapitulo 1: FaunaCapitulo 1: FaunaCapitulo 1: Fauna_____________________________________________________20
1. INTRODUÇÃO__________________________________________________________20
1.1. Enquadramento regional e caracterização da área_______________________________ 20
1.2. Enquadramento zoogeográfico _______________________________________________ 24
2. METODOLOGIA ________________________________________________________26
2.1. Equipe ___________________________________________________________________ 26
2.2. Procedimentos_____________________________________________________________ 27 2.2.1. Anurofauna______________________________________________________________________28 2.2.2. Herpetofauna ____________________________________________________________________30 2.2.3. Avifauna ________________________________________________________________________31 2.2.4. Mastofauna______________________________________________________________________32
3. RESULTADOS E COMENTÁRIOS _________________________________________36
3.1. Anurofauna_______________________________________________________________ 37 3.1.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________38 3.1.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________41 3.1.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________41 3.1.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________43 3.1.5. Nomes locais ____________________________________________________________________44 3.1.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________45
2. Herpetofauna_______________________________________________________________ 55 3.2.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________55 3.2.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________58 3.2.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________58 3.2.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________60 3.2.5. Nomes locais ____________________________________________________________________61 3.2.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________62
3.3. Avifauna _________________________________________________________________ 68 3.3.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________68 3.3.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________75 3.3.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________77 3.3.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________78 3.3.5. Nomes locais ____________________________________________________________________79 3.2.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________80
3.4. Mastofauna _______________________________________________________________ 96 3.4.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________96 3.4.2. Espécies ameaçadas de extinção ____________________________________________________100 3.4.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica _______________________________________________102 3.4.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo _______________________________________104 3.4.5. Nomes locais ___________________________________________________________________105 3.4.6. Registro fotográfico ______________________________________________________________107
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________115
4.1. Análise geral da área ______________________________________________________ 115
4.2. Potencialidades ___________________________________________________________ 120
4.3. Necessidades _____________________________________________________________ 122
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS________________________________________123
10
6. ANEXO : Licença Ibama 13212-1__________________________________________128
Capitulo 2: FloraCapitulo 2: FloraCapitulo 2: FloraCapitulo 2: Flora ____________________________________________________132
1. INTRODUÇÃO_________________________________________________________132
2. MATERIAL E MÉTODOS _______________________________________________135
2.1. Área de Estudo ___________________________________________________________ 135
2.2. Metodologia______________________________________________________________ 137
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ___________________________________________141
3.1. Fitofisionomia ____________________________________________________________ 141 3.1.1. Remanescente “Área A” __________________________________________________________141 3.1.2. Remanescente “Área B” __________________________________________________________144
3.2. Flora____________________________________________________________________ 147
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS______________________________________________162
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________________164
11
ÍNDICE DAS FIGURAS
Figura 1 - Mapa de localização geográfica referenciando o município de Itapemirim, sul do Espírito Santo, Brasil região do presente estudo. __________________________________21 Figura 2 - Mapa esquemático de localização da área central dos estudos de fauna dos vertebrados terrestres do Verde Vale do Itapemirim, Itapemirim, ES: Matas do Ouvidor. __22 Figura 3 - Aspecto da Mata do Ouvidor e a lagoa às suas margens um dos ambientes integrantes do Complexo do Verde Vale do Itapemirim. ____________________________23 Figura 4 - Detalhe da Mata do Vale Verde do Itapemirim (“Mata do Brejão”): o maior bloco florestal contínuo da região. __________________________________________________23 Figura 5 - Províncias zoogeográficas da América do Sul (Segundo Fittkau 1969), com algumas modificações, destacando a localização do presente trabalho. _________________25 Figura 6 - Equipe de campo da esquerda para direita: Ailton Abílio Rosa (guia de campo), Ana C. Venturini (Bióloga), Cleunice Pimenta e Alexandre Mendonça (técnicos de campo).26 Figura 7 - Equipe de Biólogos em trabalho de campo de fauna. A partir da esquerda: Pedro Paz, Ana C. Venturini, Claudia Pimenta, José L. Helmer e Adeilto J. Moreira.___________26 Figura 8 - Documentação de fauna (anfíbio) através de fotografia e filmagem.___________28 Figura 9 - Exemplo de anfíbio capturado manualmente._____________________________29 Figura 10 - Tomada de padrão biométrico (comprimento rostro-anal) de anfíbio._________29 Figura 11 - Equipe com exemplar de réptil capturado, manuseado com gancho, sendo documentado.______________________________________________________________30 Figura 12 - Tomada de padrões biométricos de réptil. ______________________________30 Figura 13 - Observação de aves com auxilio de binóculos e luneta.____________________31 Figura 14 - Uso de gravador e microfone para documentação de aves. _________________32 Figura 15 - Uso de rede de neblina para captura de aves no sub-bosque. ________________32 Figura 16 - Observação de mamífero com auxilio de binóculo. _______________________33 Figura 17 - Armadilha Tomahawk utilizada na captura de pequenos mamíferos. _________33 Figura 18 - Uso de armadilha Sherman para captura de mamíferos. ___________________34 Figura 19 - Uso de fita zebrada para a sinalização de pontos de captura por armadilha. ____34 Figura 20 - Armadilha fotográfica de trilha. ______________________________________35 Figura 21 - Número de espécies de animais de acordo com a classe. ___________________36 Figura 22 - Riqueza de espécies de anfíbios de acordo com as famílias. ________________39 Figura 23 - Distribuição das espécies de anfíbios de acordo com o ambiente. ____________40 Figura 24 – Leptodactylus spixi rã-de-bigode, espécie de anfíbio endêmica de Mata Atlântica. _________________________________________________________________42 Figura 25 - A perereca verde-pequena Sphaenorhynchus planicola é encontrada geralmente na vegetação aquática e também é endêmica da Mata Atlântica. ______________________43 Figura 26 – Rã-manteiga Lepitodactylus ocellatus, uma espécie de anfíbio cinegética. ___43 Figura 27 - Riqueza de espécies de répteis de acordo com as famílias. _________________56 Figura 28 - Distribuição das espécies de répteis de acordo com o ambiente. _____________57 Figura 29 - Gymnodactylus darwinin lagartixa-da-mata, réptil florestal endêmico da Mata Atlântica. _________________________________________________________________59 Figura 30 - Bothrops jararaca conhecida localmente como “surucucu” é uma das espécie endêmicas da Mata Atlântica registrada na área. __________________________________59 Figura 31 - Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra. ______________________________60 Figura 32 - Helicops carinicaudus a cobra-d’água é endêmica da Mata Atlântica e uma importante espécie dentro do elo da cadeia alimentar da região. ______________________60 Figura 33 - Número de espécies de aves em cada ordem.____________________________74 Figura 34 - Distribuição das espécies de aves de acordo com o ambiente._______________74
12
Figura 35 - O querequeté Pyrrhura cruentata psitacídeo ameaçado de extinção em nível estadual, nacional e global. As matas da região são importantes sítios de conservação da espécie no Estado já tendo sido observado um grupo com cerca de 50 indivíduos. ________76 Figura 36 – O papagaio Amazona rhodocorytha é uma espécie ameaçada de extinção no estado do Espírito Santo onde é considerada criticamente em perigo, porém é uma espécie bem freqüente na região do Verde Vale do Itapemirim. _____________________________76 Figura 37 - Macho de conconha Thamnophilus ambiguus Passeriforme endêmico da Mata Atlântica. _________________________________________________________________78 Figura 38 - Uma das aves noturnas o corujão Pulsatrix koeniswaldiana é uma espécie endêmica de Mata Atlântica. __________________________________________________78 Figura 39 - Número de espécies de mamíferos de acordo com as ordens. _______________97 Figura 40 - Distribuição das espécies de mamíferos de acordo com o ambiente.__________99 Figura 41 – A preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus, pode ser considerada uma das espécies chaves na conservação da região. ______________________________________101 Figura 42 – Leopardus wiedii, gato-maracajá uma das espécies de felídeo presente nas matas do Verde Vale do Itapemirim. ________________________________________________101 Figura 43 – Cebus nigritus o macaco-prego é uma espécie quase ameaçada de extinção em nível global e endêmica de Mata Atlântica. _____________________________________102 Figura 44 - Didelphis aurita gambá, ocorre na Mata Atlântica de parte do Brasil, Paraguai e Argentina sendo endêmica deste bioma. ________________________________________103 Figura 45 – Marmosops incanus cuíca, endêmica da Mata Atlântica do leste do Brasil. __103 Figura 46 – Alouatta guariba barbado é um primata comum na área. ________________104 Figura 47 - Nasua nasua quati é utilizado como animal de estimação. ________________105 Figura 48 – Cuniculus paca. A paca é uma das espécies cinegéticas da região. Muito visada por caçadores. ____________________________________________________________105 Figura 49 - Poleiro construído por caçadores no interior da mata usualmente utilizado para abate de mamíferos como paca e tatus. _________________________________________116 Figura 50 – Armadilhas artesanais encontradas no interior da mata do Brejão em trilha de Tatu.____________________________________________________________________117 Figura 51 - Escada rudimentar construída em árvore na mata, encontrada na região de estudo, com objetivo de captura de filhotes de papagaio (e grupo) no ninho.__________________117 Figura 52 – Cachorro doméstico em comportamento de caça flagrado pela armadilha fotográfica no interior da mata _______________________________________________118 Figura 53 - Localização da Fazenda do Ouvidor (círculo vermelho), no município de Itapemirim (ES). Fonte: Google Earth 2007. ____________________________________135 Figura 54 - Localização dos remanescentes estudados “Área A” e “Área B” (setas vermelhas) na área potencial para criação da RPPN na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES).____________________________________________________________________136 Figura 55 - Atividades relacionadas ao registro de plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) coleta de ramos com auxílio de podão; b) coleta de planta na borda da mata; c) preparação das exsicatas; d) prensas na estufa do Herbário MBML para desidratação do material coletado. _______________________________________________________139 Figura 56 - Atividades relacionadas à identificação das plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) consulta ao herbário; b) observação na lupa de características morfológicas; c) consulta à literatura e comparação com exsicatas do herbário.________________________________________________________________________140 Figura 57 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) borda com vegetação de grande porte; b) sub-bosque diversificado; c) sub-bosque com palmeiras; d) exemplo de epifitismo (Aechmea multiflora)._______________________________________________________________142
13
Figura 58 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) liana de grande porte; b) borda de trecho secundário, com abundância de lianas; c) raízes adventíceas de arácea retirada para fazer corda; d) evidência de outro impacto antrópico: fezes bovinas no interior do remanescente florestal. _________________________________________________________________143 Figura 59 - Aspectos da vegetação do fragmento florestal na “Área B” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) aspecto geral do fragmento; b) detalhe da borda da floresta; c) estrato interior da floresta; d) planta herbácea do sub-bosque: Griffinia sp. _145 Figura 60 - Vegetação do remanescente florestal na “Área B” - Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) exemplo do epifitismo no local; b) bromélia epífita: Aechmea multiflora; c) liana comum no sub-bosque: Abuta sp; d) exemplar de grande porte de braúna (Melanoxylon brauna) cortado._______________________________________147 Figura 61 - Distribuição do número de espécies dentre as principais famílias de plantas da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Legenda: Leg= Leguminosae; Rub= Rubiaceae; Big= Bignoniaceae; Euph= Euphorbiaceae; Sapi= Sapindaceae; Arec= Arecaceae; Brom= Bromeliaceae; Mor= Moraceae; Myrt= Myrtaceae; Rut= Rutaceae; Apoc= Apocynaceae; Arac= Araceae; Pip= Piperaceae). _________________________________153 Figura 62 - Distribuição das espécies registradas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), de acordo com seu porte. (Legenda: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente; Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita).________________________________________________________________________154 Figura 63 - Espécies ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) Aechmea multiflora (Bromeliaceae); b) Galeandra beyrichii (Orchidaceae); c) Anthurium coriaceum (Araceae); d) Cyrtopodium gigas (Orchidaceae). _______________________________________________________159
14
ÌNDICE DAS TABELAS
Tabela 1 - Espécies ameaçadas de extinção e/ou endêmicas de Mata Atlântica registradas no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________36 Tabela 2 - Anfíbios registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________________________________________________________38 Tabela 3 - Riqueza de espécies de anfíbios em diferentes localidades no Espírito Santo. ___41 Tabela 4 - Anfíbios endêmicos de Mata Atlântica registrados na área de estudo. _________42 Tabela 5 - Répteis registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________________________________________________________55 Tabela 6 - Riqueza de répteis em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo.__________57 Tabela 7 - Répteis endêmicos da Mata Atlântica registrados na área de estudo. __________58 Tabela 8 - Aves registradas na Mata do Ouvidor e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ___________________________________________68 Tabela 9 - Riqueza de aves em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. ___________75 Tabela 10 - Aves ameaçadas de extinção que ocorrem na região do Verde Vale do Itapemirim._________________________________________________________________________75 Tabela 11 - Espécies de aves endêmicas registradas na região. _______________________77 Tabela 12 - Mamíferos registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ___________________________97 Tabela 13 - Riqueza de mamíferos em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. _____99 Tabela 14 - Mamíferos ameaçados de extinção registrados na região do Verde Vale do Itapemirim. ______________________________________________________________100 Tabela 15 - Espécies de mamíferos endêmicos de Mata Atlântica registrados na área. ____102 Tabela 16 - Lista de plantas registradas para a Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES).____________________________________________________________________148 Tabela 17 - Dez famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES) e outras áreas do Bioma Mata Atlântica no sudeste brasileiro. _______155 Tabela 18 - Relação das espécies identificadas como ameaçadas de extinção, conforme legislação Estadual e Federal, na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). ___157 Tabela 19 - Espécies da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), com distribuição geográfica restrita/endêmica, de acordo com sua distribuição pelos estados brasileiros, presente na base de dados de herbários nacionais e estrangeiro.______________________160
15
APRESENTAÇÃO
Esta obra tem por objetivo levar a um público diferenciado, as informações
produzidas a partir do levantamento de Fauna e Flora no Verde Vale do Itapemirim,
um conjunto de fragmentos florestais com 1.546 hectares, de propriedade da Usina
Paineiras S.A. que se sobressai no sul do Estado como área de importância para a
preservação da Mata Atlântica.
Os estudos de fauna e flora tiveram por finalidade apoiar a criação da Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Fazenda do Ouvidor, com 195 hectares,
inserida no Verde Vale do Itapemirim, um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica
do sul do Estado do Espírito Santo.
Os levantamentos tornaram-se possíveis através do apoio do PDA (Projetos
Demonstrativos), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e seus diversos
parceiros: KWF, GTZ e Cooperação Técnica Brasil x Alemanha; do Projeto
Corredores Ecológicos; do Instituto de Defesa Agroflorestal do Espírito Santo (IDAF)
- Escritório Regional; da Secretaria de Agricultura de Itapemirim; do Programa de
Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS); do Banco do Brasil e principalmente
da Usina Paineiras S.A além da Faunativa Consultoria e Comércio LTDA que teve
participação fundamental nos trabalhos de campo de fauna e na elaboração e
edição deste documento.
A importância deste trabalho é retratada pela qualidade das informações, as quais
dão um conhecimento precípuo de uma realidade que até então só nos foi possível
imaginar. A "Mata do Ouvidor”, pertencente à Usina Paineiras, representa um oásis
em uma região que vivenciou a era do “Verde Vale de Ouro” do “café”, do “surto
industrial” do Governador Jerônimo Monteiro e hoje espanta aos olhos de quem a vê
rodeada pelos solos desnudos, processos erosivos, pastos e intercaladas lavouras
de mandioca, cana e abacaxi. É a mata que nos apresenta uma rica variedade de
espécies da fauna e da flora típicos da Mata Atlântica.
Em um intervalo de 15 meses de levantamento de campo foram identificadas 251
espécies de vertebrados terrestres, 24 espécies de anfíbios, 18 espécies de répteis,
16
172 espécies de aves, 37 espécies de mamíferos e 268 espécies vegetais.
Este trabalho ganhou uma significância ainda maior no momento em que se verificou
que entre os vertebrados identificados há 11 espécies ameaçadas de extinção e 44
endêmicas de Mata Atlântica. Neste cenário Pyrrhura cruentata (querequeté),
Amazona rhodocorytha (papagaio), Bradypus torquatus (preguiça-de-coleira) e
Calicebus personatus (guigó) são espécies consideradas ameaçadas de extinção
em nível estadual, nacional e global. Entre aves, anfíbios, répteis e mamíferos a
variedade aponta para o endemismo da Mata Atlântica com 44 espécies registradas
até o momento.
Quanto aos aspectos da vegetação vale observar que este é um dos poucos locais
onde há remanescentes da floresta estacional semidecidual com extensão
considerável. Já foi possível catalogar 268 espécies, dentre as quais a Paradrypetes
ilicifolia considerada regionalmente extinta.
São estas breves considerações que apontamos para este trabalho que exigiu
paciência e obstinação por parte dos pesquisadores, dias que se estenderam em
muitas horas mata adentro.
Quem passar pela “Mata do Ouvidor” e tiver folheado as páginas desta publicação,
doravante não a verá mais como uma área “de sombra” entremeada por pastos,
cana, abacaxi, mandioca e solos desnudos... O VERDE VALE DO ITAPEMIRIM
retoma a força no cenário do Sul do Estado do Espírito Santo como mais uma
conquista para a “preservação e a conservação da Mata Atlântica”.
Não se pode furtar de observar que este patrimônio de relevância global está em
solo de propriedade privada desta empresa que o mantém por livre iniciativa desde
os 27 de setembro de 1939, até então sem se dar conta da importância do
patrimônio genético que preservou ao longo dos anos.
Esta iniciativa envolvendo uma Organização não governamental, empresas (a
proprietária da área e as de consultoria), o poder público, pesquisadores,
agricultores e moradores rurais, deve ser vista como exemplo em um País onde nem
17
sempre os diversos setores conseguem esta interação e interlocução. O Projeto
VERDE VALE DO ITAPEMIRIM é mais do que um exemplo graças à persistência e
ao excelente trabalho desenvolvido por todos os que participaram direta e
indiretamente nesta ação, é um fato, uma realidade.
Vera Lúcia de Paz
Coordenadora Técnica do Projeto Verde Vale do Itapemirim
Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -TRAMIRIM
18
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus por ter permitido a realização e conclusão deste importante
trabalho e a todas as pessoas e instituições que contribuíram, de alguma forma, no
desenvolvimento e finalização deste. Além da dedicação pessoal dos autores, este
trabalho se tornou possível pelo empenho de diversas pessoas e instituições a quem
somos gratos:
• Aos companheiros que ajudaram com dedicação e disciplina nos trabalhos de
campo.
• À equipe do Tramirim.
• À equipe da Usina Paineiras S.A.
• Ao PDA (Projetos Demonstrativos), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente
(MMA) e seus diversos parceiros: KWF, GTZ e Cooperação Técnica Brasil x
Alemanha;
• Ao Projeto Corredores Ecológicos (Iema).
• Ao Instituto de Defesa Agroflorestal do Espírito Santo (IDAF) - escritório
regional de Cachoeiro.
• À Secretaria de Agricultura de Itapemirim (PMI).
• Ao Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do
Brasil.
Um agradecimento especial a Vera Lúcia de Paz (Superintendente Executiva do
Tramirim), a Cláudio de Carvalho Britto Vital Brasil (Diretor Superintendente da
Usina Paineiras S.A.) e a Jorge Edson Machado Alves (Gestor Ambiental/
Coordenador Executivo de Atividades na Usina Paineiras S.A.) sem os quais este
trabalho não teria sido efetuado.
Os autores
20
Capitulo 1: FaunaCapitulo 1: FaunaCapitulo 1: FaunaCapitulo 1: Fauna
1. INTRODUÇÃO
1.1. Enquadramento regional e caracterização da área
A área de estudo usualmente denominada “Verde Vale do Itapemirim” localiza-se no
município de Itapemirim, sul do estado do Espírito Santo (figura 1) e pertence à
Usina Paineiras S.A. Açúcar e Álcool. As coordenadas geográficas da área são 20º
58’ 15.5” S e 41º 02’ 56.9” W. Seu principal acesso é pela Rodovia ES-490 que liga o
município de Cachoeiro de Itapemirim a Marataízes. Está inserida no microcorredor
ecológico de Guanandy (definido pelo IEMA -Instituto Estadual do Meio Ambiente) e
próximo do microcorredor Burarama-Pacotuba-Cafundó (em Cachoeiro de
Itapemirim). Localiza-se na bacia hidrográfica do rio Itapemirim. Possui áreas planas
(vales) com morros ondulados em altitudes que variam de 20 a 100 m. A formação
vegetal predominante é a Floresta Estacional Semidecidual (F.E.S). É considerada a
segunda formação mais importante do Espírito Santo em termos de área ocupada
(IPEMA 2005).
Os locais estudados englobaram os diferentes ambientes da região incluindo áreas
na sede da Usina Paineiras S.A. (especialmente o alagado e parte da área
urbanizada com jardins pomares e também parte do canavial) e as demais áreas de
remanescentes florestais e seu entorno (pastagem, canavial e alagados). A área
florestal, principal objeto do trabalho, integra a Fazenda do Ouvidor, em diferentes
glebas (que recebem localmente diferentes nomes) que serão chamadas todas de
“Matas do Ouvidor” (figura 2). Possui um total de 1.546,20 ha que se apresentam
em dois principais fragmentos:
• a “Mata do Ouvidor” propriamente dita (ao lado direito da rodovia ES-490
sentido Marataízes x Cachoeiro) (figuras 2 e 3); e
• a “Mata do Córrego do Ouro” e do “Barro Branco”, que formam um só
fragmento (ao lado esquerdo da rodovia ES-490 sentido Marataízes x
Cachoeiro ES-490) e a “Mata do Brejão” ao lado direito da mesma rodovia e
separada das outras duas deste bloco pela Rodovia (figuras 2 e 4).
21
Figura 1 - Mapa de localização geográfica referenciando o município de Itapemirim, sul do Espírito
Santo, Brasil região do presente estudo.
22
Figura 2 - Mapa esquemático de localização da área central dos estudos de fauna dos vertebrados terrestres do Verde Vale do Itapemirim, Itapemirim, ES: Matas do Ouvidor.
23
Figura 3 - Aspecto da Mata do Ouvidor e a lagoa às suas margens um dos ambientes integrantes do
Complexo do Verde Vale do Itapemirim. Figura 4 - Detalhe da Mata do Vale Verde do Itapemirim (“Mata do Brejão”): o maior bloco florestal
contínuo da região.
24
1.2. Enquadramento zoogeográfico
A área em estudo está localizada na região Zoogeográfica Neotropical que
compreende toda a América do Sul, as Antilhas e México. A sua fauna é bastante
diversificada, constituída principalmente por espécies autóctones (originárias do
próprio local, nativas), ao lado das que invadiram mais recentemente (plioceno -
cerca de 12.000.000 de anos atrás). Existe abundância em espécies endêmicas
(devido ao isolamento da América do Sul durante o Terciáro). Uma característica
importante da fauna neotropical é o grande número de espécies com pequena
abundância de indivíduos com alta especialização em habitats e recursos restritos o
que está diretamente relacionado à diversidade morfoclimática (Paiva 1999).
A província neotropical desta região de estudo é a Tupi (figura 5) caracterizada por
uma zona de matas costeiras e seus ecossistemas associados (manguezais,
formações de restinga e campos de altitude) localizada do sul da Bahia, até Santa
Catarina, incluindo todo território do Espírito Santo e Rio de Janeiro, parte oriental de
Minas Gerais, grande parte de São Paulo e a porção oriental do Paraná e Santa
Catarina (Fittkau 1969 in Paiva, 1999). Nela merecem destaque os primatas e as
aves, juntamente com as espécies de maior porte, que se encontram entre os
grupos mais ameaçados de extinção devido à destruição dos habitats naturais e por
necessitarem de grandes áreas florestadas para sua sobrevivência (Paiva, 1999
modif.). Os endemismos da Mata Atlântica (que é o principal bioma da província
Tupi) podem ser evidenciados em estudos realizados com anfíbios, répteis, aves,
mamíferos e plantas vasculares, dentre outros grupos (Muller 1973, Bauer 1999,
Arruda 2001).
25
Figura 5 - Províncias zoogeográficas da América do Sul (Segundo Fittkau 1969), com algumas
modificações, destacando a localização do presente trabalho.
26
2. METODOLOGIA
2.1. Equipe
O presente trabalho foi desenvolvido por pesquisadores com conhecimento e
experiência de levantamento de campo em especial da fauna silvestre brasileira,
com apoio de campo através de guias locais, conhecedores da região em estudo
(figuras 6 e 7).
Figura 6 - Equipe de campo da esquerda para direita: Ailton Abílio Rosa (guia de campo), Ana C. Venturini (Bióloga), Cleunice Pimenta e Alexandre Mendonça (técnicos de campo).
Figura 7 - Equipe de Biólogos em trabalho de campo de fauna. A partir da esquerda: Pedro Paz, Ana C. Venturini, Claudia Pimenta, José L. Helmer e Adeilto J. Moreira.
27
2.2. Procedimentos
Os dados deste trabalho foram obtidos através diferentes procedimentos:
• Informações primárias em cinco excursões de campo realizadas no período
de 7 a 11/08/2007, 19 a 25/11/2007, 12 a 17/03/2008, 2 a 5/09/2008 e 11 a
14/11/2008 somando 190 h/campo.
• Dados anteriores dos autores.
• Dados bibliográficos (Bauer 1999 e Bauer et al. 1997 para aves) e
• Entrevista com moradores da região que nasceram e moram na área e
auxiliaram nos trabalhos de campo.
Os quatro grupos de vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos)
foram investigados em grande parte da região pertencente à Usina Paineiras
especialmente, nos blocos de mata, mas também em outras áreas abertas. Podem
ser assim determinadas:
• Ambiente florestal (F): engloba os diferentes blocos de floresta estacional
semidecidual que recebem localmente nomes próprios: “Mata do Ouvidor,
propriamente dita”, “Mata do Córrego do Ouro”, “Mata do Brejão” e “Mata do
Barro Branco”.
• Área alagada (A): engloba diferentes ambientes incluindo a “lagoa” (represa)
na borda da Mata do Ouvidor, brejos e pasto alagado dentro da Usina
Paineiras e outras área alagadas próximas aos córregos e matas.
• Áreas abertas (C): em toda região de pastos e cultivo de cana-de-açúcar.
• Pomar/jardim (P): dentro da Usina, próximo à área administrativa e outras
similares.
Os nomes comuns para as espécies citadas neste relatório estão de acordo com
nomes conhecidos localmente e/ou com a bibliografia específica de cada grupo.
Os animais registrados foram documentados, sempre que possível, através de
gravação de vocalização (GV), fotografia (FO) e filmagem (FI) (figura 8).
28
Figura 8 - Documentação de fauna (anfíbio) através de fotografia e filmagem.
Para verificação do estado de conservação das espécies (status), verificando o grau
de ameaça, foram consultadas as listas de espécies ameaçadas de extinção em
nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional (Machado et al. 2008) e global
(IUCN 2007).
Para captura de indivíduos (licença de captura Ibama n° 13212-1, em anexo I) foram
utilizados equipamentos específicos e metodologias de acordo com cada grupo,
sendo que todos indivíduos capturados foram documentados, identificados e
devolvidos ao local de captura. As diferentes metodologias de registro das espécies
e as bibliografias utilizadas para cada grupo são descritas a seguir.
2.2.1. Anurofauna
Para o estudo dos anfíbios foram realizadas capturas manuais (figura 9),
especialmente na 2ª e 3ª excursão, através de busca ativa com auxílio de lanternas,
nos diferentes locais como serrapilheira, árvore, troncos caídos, pedras, buracos no
solo, clareiras, borda de estradas, vegetação marginal de áreas alagadas, brejos, e
outros ambientes propícios. Especialmente à noite, a localização de indivíduos era
orientada através da vocalização. Os indivíduos quando capturados eram
acondicionados em sacos plásticos para se proceder à medição de tamanho (figura
10), identificação da espécie e documentação. Algumas espécies foram registradas
29
apenas através de vocalização e sua documentação foi através de gravação de
vocalização com auxílio de gravadores e microfones.
Figura 9 - Exemplo de anfíbio capturado manualmente.
Figura 10 - Tomada de padrão biométrico (comprimento rostro-anal) de anfíbio.
Para a identificação das espécies, determinação de endemismo de Mata Atlântica e
os nomes comuns foram consultadas as seguintes fontes: Kwet e Di-Bernardo
(1999), Izecksonh e Carvalho-e-Silva (2001), Freitas e Silva (2004), Ramos e
Gasparini (2004), Eterovick e Sazima (2004), Freitas e Silva (2005a), Sociedade
Brasileira de Herpetologia (SBH 2008a), Deiques et al. (2007), Frost (2008),
Amphibiaweb (2008). A sistemática segue SBH (op. cit.).
30
2.2.2. Herpetofauna
O estudo dos Répteis foi desenvolvido através de busca direta de indivíduos com
auxílio de ganchos (figura 11) ou de seus vestígios (muda de pele, rastro, ovos)
revirando-se os diferentes substratos (serrapilheira, troncos caídos, buracos no solo,
casca de árvores e outros) no ambiente florestal ou áreas abertas. Os exemplares
capturados foram medidos, fotografados e/ou filmados (figuras 11 e 12). Tivemos
registro de exemplares através de captura por terceiros e através de observação
(sem captura).
Figura 11 - Equipe com exemplar de réptil capturado, manuseado com gancho, sendo documentado.
Figura 12 - Tomada de padrões biométricos de réptil.
31
A identificação das espécies, determinação de endemismo de Mata Atlântica e a
determinação dos nomes comuns, quando necessário, foram realizadas através de :
Grantsau (1991), Borges (2001), Marques et al. (2001), Lema (2002), Freitas (2003),
Freitas e Silva (2005a), Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH 2008b), Deiques
et al. (2007). A sistemática segue SBH (op. cit.)
2.2.3. Avifauna
O estudo das aves foi realizado através da observação de indivíduos ou seus
vestígios (ninhos, penas) com auxílio de binóculos e luneta (figura 13). Registro e
procura de algumas espécies por play back foi realizado com auxílio de gravadores
e microfones (figura 14). Para a captura de aves no sub-bosque do ambiente
florestal foram utilizadas 4 redes de neblina durante a 2ª excursão perfazendo 32
horas/rede (figura 15).
As bibliografias utilizadas para auxiliar na identificação das espécies, verificação de
espécies endêmicas de Mata Atlântica e nomes comuns, quando necessário, foram:
Schauensee e Phelps Jr. (1978), Sick (1997), Ridgely e Tudor (1989 e 1994), Souza
(1998) e del Hoyo et al. (1992, 1994, 1996, 1997, 1999, 2001, 2002, 2003, 2004 e
2005), Bencke et al. (2006), CBRO (2008). A sistemática está de acordo com CBRO
(op. cit.).
Figura 13 - Observação de aves com auxilio de binóculos e luneta.
32
Figura 14 - Uso de gravador e microfone para documentação de aves.
Figura 15 - Uso de rede de neblina para captura de aves no sub-bosque.
2.2.4. Mastofauna
Para o conhecimento dos mamíferos da região foram realizadas observações de
indivíduos ou vestígios (como tocas, pegadas, unhas e fezes) com auxílio de
binóculos e luneta (figura 16). O uso de play back através de gravadores e
microfones foi utilizado para busca de algumas espécies. Capturas foram realizadas
utilizando-se armadilhas do tipo Tomahawk (figura 17) e Sherman (figura 18) nas 3
primeiras excursões de campo totalizando um esforço de captura de 650
armadilhas/noite. Elas foram distribuídas dentro do ambiente florestal em pontos
33
eqüidistantes de 25 m sendo duas por ponto e cada ponto foi devidamente
sinalizado (figura 19). As armadilhas foram iscadas com diferentes tipos de atrativo
(banana, laranja, abacaxi, óleo de fígado de bacalhau, lingüiça e outras) e ainda foi
preparada uma pasta especial composta por amendoim, óleo de fígado de bacalhau
e canjiquinha. As armadilhas eram vistoriadas todo dia pela manhã e novamente
iscadas à tarde. Armadilhas fotográficas (camaras trap) (4 nas duas primeiras
excursões, 7 na terceira e 5 entre a quarta e quinta excursão) foram distribuídas na
região de estudo, em locais estratégicos (cevas naturais, trilhas de animais
previamente avaliadas) totalizando 416 armadilhas/dia (número de armadilhas
fotográficas x número de dias – 24 horas) (figura 20).
Figura 16 - Observação de mamífero com auxilio de binóculo.
Figura 17 - Armadilha Tomahawk utilizada na captura de pequenos mamíferos.
34
Figura 18 - Uso de armadilha Sherman para captura de mamíferos.
Figura 19 - Uso de fita zebrada para a sinalização de pontos de captura por armadilha.
35
Figura 20 - Armadilha fotográfica de trilha.
As bibliografias utilizadas para o estudo de mamíferos para auxiliar na identificação
de espécies, nomes comuns quando necessário e determinação de espécies
endêmicas de Mata Atlântica foram: Emmons (1990, 1997), Silva (1994), Fonseca et
al. (1996), Eisenberg e Redford (1999), Câmara e Murta (2003), Freitas e Silva
(2005b), Reis et al. (2005), Oliveira e Cassaro (2005), Mamede e Alho (2006),
Auricchio e Auricchio (2006), Reis et al. (2006) e Canevari e Vaccaro (2007). A
sistemática segue Wilson e Reeder (2005).
36
3. RESULTADOS E COMENTÁRIOS Foram registradas até o momento 24 espécies de Anfíbios, 18 espécies de Répteis,
172 espécies de Aves e 37 espécies de Mamíferos. Soma-se assim, 251 espécies
registradas de vertebrados terrestres (figura 21).
Figura 21 - Número de espécies de animais de acordo com a classe.
Do total de espécies até agora registradas (n = 251), 11 são ameaçadas de extinção
(4,4%) nos diferentes níveis aqui considerados (estadual, nacional e global) e 44
espécies (17,5%) são endêmicas de Mata Atlântica (tabela 1).
Tabela 1 - Espécies ameaçadas de extinção e/ou endêmicas de Mata Atlântica registradas no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Status: AE: espécie ameaçada em nível estadual (ES), AB: espécie ameaçada em nível nacional (Brasil), AG: espécie ameaçada em nível global e MA: espécie endêmica de Mata Atlântica.
CLASSE ESPÉCIE NOME COMUM STATUS MA
Amphibia Rhinella crucifer sapo-comum - MA
Haddadus binotatus rã-da-mata - MA Thoropa miliaris rã-da-pedra - MA Aplastodiscus cavicola perereca-verde - MA Dendropsophus anceps perereca-coral - MA Dendropsophus berthalutzae pererequinha - MA Dendropsophus bipunctatus pererequinha - MA Dendropsophus branneri perereca-pequena - MA Dendropsophus decipiens perereca-pequena - MA Hypsiboas faber sapo-ferreiro - MA Hypsiboas semilineatus perereca-dormideira - MA
Phyllodytes kautskyi perereca-de-bromélia - MA
24
18
172
37
0 50 100 150 200
Anfíbios
Répteis
Aves
Mamíferos
nº de espécies
37
CLASSE ESPÉCIE NOME COMUM STATUS MA
Scinax alter perereca - MA Sphaenorhynchus planicola pereca-verde-pequena - MA Leptodactylus spixi rã-de-bigode - MA
sub-total 15 0 15
Reptilia Gymnodactylus darwinii lagartixa-da-mata - MA Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra - MA Helicops carinicaudus cobra-d’água - MA Bothrops jararaca jararaca - MA sub-total 4 0 4 Aves Crypturellus noctivagus jaó-do-sul AE, AB MA Crypturellus variegatus inhambu-anhangá AG - Pyrrhura cruentata querequeté AE, AB, AG MA Amazona rhodocorytha papagaio AE, AB, AG MA Pulsatrix koeniswaldiana corujão - MA Nyctibius grandis mãe-da-lua-gigante AE - Phaethornis idaliae rabo-branco-mirim - MA Veniliornis maculifrons picapauzinho - MA Thamnophilus ambiguus conconha - MA Conopophaga melanops cuspidor-de-máscara-preta - MA Dendrocincla turdina arapaçu-liso - MA Tripophaga macroura rabo-amarelo AB, AG MA Hemitriccus orbitatus tiririzinho-do-mato MA Myiornis auricularis miudinho - MA Rhynchocyclus olivaceus bico-chato-grande AE - Attila rufus capitão-de-saíra - MA Pyroderus scutatus pavó - MA Tachyphonus coronatus tié-preto - MA Tangara brasiliensis cambada-de-chaves - MA sub-total 19 7 16 Mammalia Didelphis aurita gambá - MA Gracilinanus microtarsus catita; cuiquinha - MA Marmosops incanus cuíca - MA Bradypus torquatus preguiça-de-coleira AE, AB, AG MA Cebus nigritus macaco-prego - MA Callithrix geoffroyi saui - MA Callicebus personatus guigó AE, AB, AG MA Alouatta guariba barbado - MA Leopardus pardalis jabutirica AE, AB - Leopardus wiedii gato-maracajá AE, AB - Sphigurus sp. ouriço-cacheiro - MA sub-total 11 4 9
TOTAL 49 11 44
3.1. Anurofauna Os Anfíbios foram os primeiros vertebrados a conquistarem o ambiente terrestre e
atualmente ocupam os cinco continentes, estando ausentes apenas nas regiões
polares e algumas ilhas oceânicas (Ramos e Gasparini 2004, Eterovick e Sazima
2004). De modo geral, são considerados importantes controladores biológicos de
38
insetos e outros invertebrados dos quais se alimentam. Porém, devido ao fato de a
maioria das espécies dependerem de ambientes úmidos, muitas espécies não
conseguem sobreviver em ambientes alterados que não conservam as
características necessárias para a sua existência.
A região neotropical possui a maior riqueza de espécies conhecida com mais de
1.740 espécies (Ramos e Gasparini op. cit). É um grupo ainda com conhecimento
em ampla expansão existindo referência de 6.300 (Amphibiaweb 2008) a 6.347
espécies (Frost 2008) conhecidas no mundo. Somente no Brasil foram reconhecidas
59 novas espécies de anfíbios desde 2005 que somam, atualmente, 841 espécies
(SBH 2008a). Assim, o Brasil se confirma como o país de maior riqueza de espécies
de anfíbios, seguido por Colômbia e Equador (SBH op. cit.).
Os dados disponíveis para o Estado são esparsos e pulverizados em diferentes tipos
de trabalhos. Os resultados obtidos da fauna de Anfíbios para a região do Verde
Vale do Itapemirim apresentados a seguir contribuem para o conhecimento da
diversidade deste grupo para o Estado bem como fornece uma idéia inicial da
importância da área na conservação deste grupo.
3.1.1. Composição geral das espécies
Foram registradas neste trabalho, até o momento, 24 espécies de Anfíbios
pertencentes a 1 ordem (Anura) e 6 famílias de acordo com a sistemática adotada
por SBH (2008a) (tabela 2).
Tabela 2 - Anfíbios registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado (margens de brejo e/ou pasto alagado), C: campo (áreas abertas:
estrada, pasto); Tipo de Registro: VI: visualização, VO: Vocalização, CM: captura manual, EN:
entrevista (Manoel de Oliveira Rosa); Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: foto, FI: filmagem),
GV: gravação de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos
às espécies localmente.
LOCAL T. REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C VI VO CM EN IM GV
ANURA
Bufonidae
1. Rhinella crucifer “sapo-comum” F C VI CM EN FO
2. Rhinella granulosa sapinho F VI CM FO
39
LOCAL T. REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C VI VO CM EN IM GV
3. Rhinella schneideri “sapo-boi” C EN
Craugastoridae
4. Haddadus binotatus rã-da-mata F VI CM FO FI
Cycloramphidae
5. Thoropa miliaris rã-da-pedra; rã-bode F VI FO
Hylidae
6. Aplastodiscus cavicola perereca-verde F VI FO
7. Dendropsophus anceps perereca-coral A VI VO CM FO FI GV
8. Dendropsophus berthalutzae pererequinha A VI VO CM FO
9. Dendropsophus bipunctatus pererequinha A VI VO CM FO FI GV
10. Dendropsophus branneri perereca-pequena A VI VO CM FO GV
11. Dendropsophus decipiens perereca-pequena A VI VO CM FO GV
12. Dendropsophus elegans perereca-de-moldura A VI VO CM FO GV
13. Hypsiboas albomarginatus perereca-verde A VI VO CM FO FI GV
14. Hypsiboas crepitans perereca A VI CM FO
15. Hypsiboas faber sapo-ferreiro F A VI VO CM FO FI GV
16. Hypsiboas semilineatus perereca-dormideira F A VI VO CM FO FI GV
17. Phyllodytes kautskyi perereca-de-bromélia F VO GV
18. Scinax alter perereca A VI VO CM FO GV
19. Sphaenorhynchus planicola pereca-verde-pequena A VI VO CM FO GV
20. Trachycephalus nigromaculatus perereca-cabeça-de-osso F VI VO CM FO FI GV
Leiuperidae
21. Physalaemus cuvieri rãzinha A VI CM FO
Leptodactylidae
22. Leptodactylus fuscus rã-assoviadeira A C VI VO CM FO GV
23. Leptodactylus ocellatus “rã" A VO EN FO
24. Leptodactylus spixi rã-de-bigode F VI VO CM FO FI
1 ordem / 6 famílias / 24 espécies 10
15 3 21 16 19 3 22-8 13
Dentre as famílias registradas, a que possui maior número de espécies é Hylidae (15
= 62,5%), seguida de Leptodactylidae e Bufonidae (3 = 12,5% cada) e
Craugastoridae, Cycloramphidae e Leiuperidae (1 = 4,2% cada família) (figura 22).
31
1
15
13
Bufonidae Craugastoridae Cycloramphidae
Hylidae Leiuperidae Leptodactylidae
Figura 22 - Riqueza de espécies de anfíbios de acordo com as famílias.
40
De acordo com os dados obtidos até o momento as espécies foram agrupadas em 3
ambientes com predominância do florestal e alagados (tabela 2, figura 23). A maioria
das espécies, até o momento, foram exclusivas de um só ambiente com
predominância para o ambiente alagado de áreas abertas (brejos, pasto alagado,
borda de córrego). As espécies registradas nos diferentes fragmentos florestais
foram aquelas encontradas especialmente no chão da mata (serrapilheira) durante o
dia (rã-da-mata Haddadus binotatus e rã-de-bigode Leptodactylus spixi), ou na borda
da mata com alagado (sapo-ferreiro Hypsiboas faber e perereca-dormideira H.
semilineatus) à noite, ou em bromélia arbórea (perereca-de-bromélia Phyllodytes
kautskyi) ou em trilhas no chão à noite (sapo-comum Rhinella crucifer e sapinho R.
granulosa). Já a perereca-cabeça-de-osso Trachycephalus nigromaculatus foi
registrada à noite tanto no chão como nas árvores.
15
10
3
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Alagado Floresta Campo
nº de
espécies
Figura 23 - Distribuição das espécies de anfíbios de acordo com o ambiente.
Os dados levantados demonstram uma riqueza de espécies (n = 24) significativa
especialmente se levar em conta que foram apenas 5 excursões de campo (entre
agosto de 2007 e novembro de 2008), com busca ativa mais intensa na segunda e
terceira excursão e não foi usado nenhum tipo de armadilha específica como, por
exemplo, armadilhas de queda (pitfall). Outros trabalhos de regiões de baixada no
Espírito Santo possuem os seguintes resultados (tabela 3):
41
Tabela 3 - Riqueza de espécies de anfíbios em diferentes localidades no Espírito Santo.
Local Riqueza de espécies
Fonte
Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra 31 Venturini e Paz in litt.
APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari 36 Cepemar (2007)
Ubu, Anchieta 17 Lopes (s.d)
RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim 14 Paz e Ventuirini, 2008
Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim 24 presente trabalho
Apesar das diferenças de metodologia de cada trabalho (incluindo a duração dos
mesmos) e dimensão de cada área é possível perceber que o número de espécies
até agora registrado é, relativamente, elevado. Além disto, deve-se também levar em
consideração o número de espécies endêmicas de Mata Atlântica (item 3.1.3)
presentes na área de estudo.
3.1.2. Espécies ameaçadas de extinção
De acordo com as espécies registradas até o momento nenhuma encontra-se
ameaçada de extinção em nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional
(Machado et al. 2008) e global (IUCN 2007). Quando se consulta a lista global
verifica-se que as espécies de anfíbios encontradas na região estão na categoria
“least concern” ou “near threatened”, ou seja, porque não se enquadram em
nenhuma das categorias de espécies ameaçadas (criticamente em perigo, em perigo
e vulnerável).
3.1.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica
A definição das espécies de anfíbios como endêmicas de Mata Atlântica ainda é
uma tarefa complicada visto que o conhecimento sobre a distribuição das espécies
está em franca expansão. Porém, baseado em algumas das fontes disponíveis
(bibliografias já referidas para o grupo), foi possível chegar a uma relação de 15
espécies (62,5%) cuja ocorrência conhecida está inserida, basicamente, no domínio
da Mata Atlântica (tabela 4, figuras 24 e 25).
42
Tabela 4 - Anfíbios endêmicos de Mata Atlântica registrados na área de estudo.
ESPÉCIE NOME COMUM
Rhinella crucifer sapo-comum Haddadus binotatus rã-da-mata Thoropa miliaris rã-da-pedra Aplastodiscus cavicola perereca-verde Dendropsophus anceps perereca-coral Dendropsophus berthalutzae Pererequinha Dendropsophus bipunctatus Pererequinha Dendropsophus branneri perereca-pequena Dendropsophus decipiens perereca-pequena Hypsiboas faber sapo-ferreiro Hypsiboas semilineatus perereca-dormideira Phyllodytes kautskyi perereca-de-bromélia Scinax alter perereca Sphaenorhynchus planicola perereca-verde-pequena Leptodactylus spixi rã-de-bigode
15 espécies
Figura 24 – Leptodactylus spixi rã-de-bigode, espécie de anfíbio endêmica de Mata Atlântica.
43
Figura 25 - A perereca verde-pequena Sphaenorhynchus planicola é encontrada geralmente na
vegetação aquática e também é endêmica da Mata Atlântica.
3.1.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo
Os anfíbios em geral não são utilizados para fins de alimentação ou como animal de
estimação. Exceção já observada no Espírito Santo é a rã Lepitodactylus ocellatus
usualmente utilizada como alimento (figura 26) e é possível que este fato também
ocorra na região.
Figura 26 – Rã-manteiga Lepitodactylus ocellatus, uma espécie de anfíbio cinegética.
44
3.1.5. Nomes locais De acordo com as informações obtidas na região, pode-se constatar que o
conhecimento do grupo é bem superficial. Há pouca diferenciação nos nomes locais,
havendo referências genéricas para “sapo”, “rã” e “perereca”. Apenas três espécies
citadas puderam ser associadas aos nomes científicos (tabela 2). Deve-se ressaltar
que uma destas espécies, o sapo-boi Rhinella schneideri, não foi ainda detectada
em campo o que demonstra a importância da participação de agentes locais no
trabalho.
Na tabela 2 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos
às espécies de anfibios localmente.
55
2. Herpetofauna
Os répteis são vertebrados terrestres com uma grande variedade na estrutura do
corpo. Algumas espécies não possuem membros, outras possuem membros
vestigiais, outras possuem patas com até 5 dedos e outras ainda os têm em forma
de remos. Existem espécies que ocupam os mais diversos habitas, por exemplo, as
espécies arborícolas, aquáticas e fossoriais e muitas das espécies são sensíveis às
modificações de seus ambientes.
De acordo com Reptile database (2008) são conhecidas 8.734 espécies de répteis
no mundo. Até o momento foram reconhecidas 701 espécies de répteis
naturalmente ocorrentes e se reproduzindo no Brasil (SBH 2008b). Diante dos
números atuais, o Brasil deve ocupar a terceira colocação na relação de países com
maior riqueza de espécies de répteis, atrás da Austrália e do México. No Espírito
Santo não existem dados atualizados da quantidade de espécies de répteis.
Serão apresentados a seguir os resultados de Répteis obtidos, até o momento, para
a região do Verde Vale do Itapemirim.
3.2.1. Composição geral das espécies
Foi possível registrar, até o momento, 18 espécies de Répteis distribuídas em 2
ordens e 11 famílias (tabela 5).
Tabela 5 - Répteis registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado (lagoa e outras áreas alagadas), C: campo (áreas abertas: estrada,
pasto); Tipo de Registro: VI: visualização, CM: captura manual, EN: entrevista (1: Ailton Abílio Rosa,
2: Manoel de Oliveira Rosa); Documentação (DOC.): FO: foto, FI: filmagem. Entre aspas em negrito
(“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies localmente.
LOCAL REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C VI CM EN FO FI
CROCODYLIA
Alligatoridae
1. Caiman latirostris “jacaré” A 2
SQUAMATA
Polychrotidae
2. Anolis punctatus lagarto F VI FO
3. Polychrus marmoratus “cambaleão” F VI CM FO
Tropiduridae
56
LOCAL REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C VI CM EN FO FI
4. Tropidurus torquatus “cambaleão” C VI 2 FO
Gekkonidae
5. Hemidactylus mabouia “taruíra” C VI 2 FO
Phyllodactylidae
6. Gymnodactylus darwinii lagartixa-da-mata F VI CM FO
Teiidae
7. Tupinambis merianae “lagarto, teu” F VI 2 FO
Leptotyphlopidae
8. Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra F VI CM FO
Boidae
9. Boa constrictor “jibóia” F C 2
10. Corallus hortulanus cobra-veadeira F VI FO FI
Colubridae
11. Chironius bicarinatus cobra-cipó F VI FO
12. Helicops carinicaudus “cobra-d’água” A VI CM FO FI
13. Liophis miliaris cobra-d’água A C VI CM FO FI
14. Liophis poecilogyrus jararaquinha F VI FO
15. Oxybelis aeneus cobra-cipó-bicuda F VI FO
16. Philodryas patagoniensis corredeira F VI CM FO
Elapidae
17. Micrurus sp. “cobra-coral” F 1, 2
Viperidae
18. Bothrops jararaca “surucucu” (jararaca) F VI 1, 2 FO FI
2 ordens / 11 famílias / 18 espécies 13 3 4 15 6 7 15 4
A família com maior riqueza de espécies registrada foi Colubridae com 6 espécies
(33,3%), seguida de Polychrotidae e Boidae com 2 espécies cada (11,1% cada),
Gekkonidae, Phyllodactylidae, Alligatoridae, Tropiduridae, Leptotyphlopidae,
Elapidae e Viperidae com 1 espécie cada (5,5% cada) (figura 27).
12
1
11
112
6
1 1
Alligatoridae Polychrotidae TropiduridaeGekkonidae Phyllodactylidae TeiidaeLeptotyphlopidae Boidae ColubridaeElapidae Viperidae
Figura 27 - Riqueza de espécies de répteis de acordo com as famílias.
57
De acordo com os dados disponíveis até o momento o ambiente florestal foi o que
teve maior número de espécies (13: 72,2%) com apenas 1 que não foi exclusiva
deste ambiente (tabela 5, figura 28).
13
43
0
2
4
6
8
10
12
14
Floresta Campo Alagado
n° de espécies
Figura 28 - Distribuição das espécies de répteis de acordo com o ambiente.
O número de espécies registradas até o momento fornece uma idéia geral do grupo
de répteis para a área de estudo. Deve-se ressaltar que o esforço empreendido
ainda é, relativamente, pequeno e capturas com armadilhas de queda (pitfall) -
importante para o registro de espécies com deslocamento terrestre (como algumas
espécies de cobras e lagartos) - ainda não foram realizadas. Apesar das diferenças
de metodologia (incluindo duração dos trabalhos) e tamanho das áreas amostradas,
comparativamente, outros trabalhos em áreas de baixada do Estado tiveram os
seguintes resultados (tabela 6):
Tabela 6 - Riqueza de répteis em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo.
Local Riqueza de espécies
Fonte
Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra 29 Cepemar (2004)
APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari 43 Cepemar (2007)
Ubu, Anchieta 14 Lopes (s.d)
RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim 10 Paz e Ventuirini, 2008
Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim 18 presente trabalho
Assim, pode-se verificar que o número de espécies para a área, mesmo que ainda
através de dados iniciais, é relativamente significativo.
58
3.2.2. Espécies ameaçadas de extinção
De acordo com as espécies registradas até o momento nenhuma está ameaçada de
extinção em nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional (Machado et al.
2008) e global (IUCN 2007). Em nível global, o jacaré Caiman latirostris está na
categoria de “baixo risco – subitem Least concern”, ou seja, não se enquadra nas
categorias de criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável, porém, poderá vir a
integrar uma destas categorias estando, no momento no subitem de menor
preocupação.
3.2.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica
De acordo com as informações disponíveis, 4 espécies (22,2%) podem ser, em
princípio, consideradas como ocorrentes apenas no domínio da Mata Atlântica
(tabela 7) e, por isto, serão consideradas como endêmicas deste bioma. Três são
florestais: lagartixa-da-mata Gymnodactylus darwinii, (figura 29) jararaca Bothrops
jararaca (figura 30) e cobra-da-terra Leptotyphlops salgueiroi (figura 31), e a última é
também fossorial. Já a cobra-d’água Helicops carinicaudus (figura 32) é aquática e 1
exemplar foi capturado em anzol deixado por pescadores na “lagoa” do Ouvidor (na
intenção de capturar traíra) e outro foi observado sendo predado por um socó
Tigrisoma lineatum na mesma lagoa.
Tabela 7 - Répteis endêmicos da Mata Atlântica registrados na área de estudo.
ESPÉCIE NOME COMUM
Gymnodactylus darwinii largartixa-da-mata Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra Helicops carinicaudus cobra-d’água Bothrops jararaca surucucu, jararaca
4 espécies
59
Figura 29 - Gymnodactylus darwinin lagartixa-da-mata, réptil florestal endêmico da Mata Atlântica.
Figura 30 - Bothrops jararaca conhecida localmente como “surucucu” é uma das espécie endêmicas da Mata Atlântica registrada na área.
60
Figura 31 - Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra.
Figura 32 - Helicops carinicaudus a cobra-d’água é endêmica da Mata Atlântica e uma importante espécie dentro do elo da cadeia alimentar da região.
3.2.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo
De maneira geral a população não possui um bom relacionamento ou empatia pelos
répteis, especialmente pela ordem Squamata, subordem Ofídia (as cobras) devido
ao fato de existirem espécies peçonhentas as quais podem ser potencialmente
perigosas ao homem. Por isto, historicamente, as cobras são, preferencialmente,
61
eliminadas quando avistadas. Outras 2 espécies de répteis registradas na região são
geral e historicamente de atividade cinegética: o teiú Tupinambis merianae e o
jacaré Caiman latirostris.
3.2.5. Nomes locais
As informações obtidas localmente demonstram uma relação da população com a
fauna de répteis que enfoca as espécies de cobras (vários nomes foram citados,
mas nem todos puderam ser identificados com a espécie correspondente), alguns
lagartos e o jacaré. São espécies de grande porte (algumas que culturalmente foram
ou ainda são utilizadas como alimento) e/ou as que são consideradas perigosas (as
cobras).
Chama a atenção a denominação de Bothrops jararaca como “surucucu” e não
‘jararaca’. O nome de “jacaré” apenas ao invés, por exemplo, de ‘jacaré-do-papo-
amarelo’ faz sentido, visto que só ocorre uma espécie e não há necessidade de
diferenciá-lo de outro. Na tabela 5 destacamos entre aspas “nome comum” os
nomes populares atribuídos às espécies de répteis localmente.
68
3.3. Avifauna
As aves, no geral, são consideras como um importante grupo na discussão de
estratégias de conservação da biodiversidade, devido, especialmente ao fato de (I) a
maioria ser de hábitos diurnos e, relativamente, de fácil observação facilitando a
coleta de dados, (II) ocupar diferentes hábitats, sendo algumas espécies
especialistas, e reagir às mudanças ambientais facilitando a detecção de tal
mudança e (III) a sistemática e distribuição serem relativamente bem conhecidas,
comparativamente a outros grupos animais (Alves e Silva, 2000).
O Brasil é um dos países com maior número de espécies de aves possuindo 1822
no total, segundo CBRO (2008). O Espírito Santo ainda não possui uma compilação
de dados de aves mas Venturini e Paz (2003) estimam entre 620 e 700 espécies.
A avifauna da região zoogeográfica Neotropical possui cerca de 3300 espécies [este
número deve ser maior atualmente] e é considerada a mais rica do mundo. Várias
são as espécies que se originaram e evoluíram nesta região, apresentando vários
centros de endemismos (ou seja, com espécies de distribuição geográfica restrita a
esta região), em especial nas áreas de florestas como a Amazônia e a Mata
Atlântica (Sick 1997).
Serão apresentados a seguir os resultados sobre o estudo de aves do Verde Vale do
Itapemirim, incluindo as Matas do Ouvidor e arredores obtidos até o momento.
3.3.1. Composição geral das espécies
Foram registradas até o momento 172 espécies de aves distribuídas em 20 ordens e
50 famílias de acordo com a sistemática adotada por CBRO (2008) (tabela 6).
Tabela 8 - Aves registradas na Mata do Ouvidor e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado, C: campo, P: pomar, jardim, O: outros (em vôo, não identificado). Tipo
de Registro: VI: visualização, VO: vocalização, NI: ninho, EN: entrevista (1: Ailton Abílio Rosa, 2:
Manoel de Oliveira Rosa), BB (Bibliografia): a: Bauer 1999, b: Bauer et al. 1997, c: informações
inéditas anteriores. Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: fotografia, FI: filmagem), GV: gravação
69
de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies
localmente.
LOCAL TIPO DE REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C P O VI VO NI EN BB IM GV
TINAMIFORMES
Tinamidae
1. Crypturellus soui “tururim” F VO 1, 2 a GV
2. Crypturellus noctivagus jaó-do-sul F VO a
3. Crypturellus variegatus inhambu-anhangá F VO a
4. Crypturellus tataupa “inhambu” F VO 1 GV
5. Rhynchotus rufescens “perdiz" C 1, 2
6. Nothura cf. maculosa “codorna” C 2
ANSERIFORMES
Anatidae
7. Dendrocygna viduata “arerê" A VI 1 FO
8. Dendrocygna autumnalis “arerê” A VI 1
9. Cairina moschata “pato-do-mato” A VI 1
10. Amazonetta brasiliensis “marreca" A VI VO 1, 2 c
GALLIFORMES
Cracidae
11. Penelope superciliaris “jacupemba” F 1, 2
PODICIPEDIFORMES
Podicipedidae
12. Tachybaptus dominicus “mergulhão" A VI 1 c
CICONIIFORMES
Ardeidae
13. Tigrisoma lineatum “socó", socó-da-mata F A VI 1, 2 FO
14. Botaurus pinnatus socó-boi-baio A VI c
15. Nycticorax nycticorax savacu A VI VO GV
16. Butorides striata socozinho A VI VO
17. Bubulcus ibis garça-vaqueira C VI c FO
18. Ardea cocoi garça-moura F VI
19. Ardea alba “galça-grande” A VI 2 c FO
20. Syrigma sibilatrix maria-faceira C VI FO
21. Pilherodius pileatus “galça-azul” F A VI 1
22. Egretta thula “galça-pequena” A VI 2 FO
CATHARTIFORMES
Cathartidae
23. Cathartes aura urubu-de-cabeça-vermelha O VI FO
24. Cathartes burrovianus urubu-de-cabeça-amarela O VI c
25. Coragyps atratus “bica-couro”, “urubu” O VI 1, 2 c
FALCONIFORMES
Accipitridae
26. Leptodon cayanensis gavião-de-cabeça-cinza O VI VO
27. Elanoides forficatus “gavião-tesoura” F O VI 1
28. Ictinia plumbea sovi F VI FO
29. Geranospiza caerulescens gavião-pernilongo O VI
30. Heterospizias meridionalis “gavião-telha” F C VI VO 1 c FO GV
31. Rupornis magnirostris gavião-carijó F VI VO c GV
32. Buteo albicaudatus gavião-de-rabo-branco C VI FO
Falconidae
33. Caracara plancus caracará C O VI c
34. Milvago chimachima “pinhé" C O VI 2 c GV
35. Herpetotheres cachinnans “côa” F VI VO 1, 2 GV
36. Micrastur semitorquatus falcão-relógio F VI VO GV
70
LOCAL TIPO DE REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C P O VI VO NI EN BB IM GV
37. Falco sparverius “gavião-rapina” C VI VO 2 GV
GRUIFORMES
Aramidae
38. Aramus guarauna carão A VI VO FO GV
Rallidae
39. Porzana albicollis “saricória” A VO 1 c
40. Pardirallus nigricans saracura-sanã A VO c
41. Gallinula chloropus “frango-d’água” A VI 1 c
42. Gallinula melanops frango-d'água-carijó A VI b, c
43. Porphyrio martinica “frango-d’água” A VI 1 c FO
Cariamidae
44. Cariama cristata “seriema” C VI VO 1
CHARADRIIFORMES
Charadriidae
45. Vanellus chilensis quero-quero C VI VO c GV
Scolopacidae
46. Gallinago undulata “rola-pau” O 1
47. Tringa solitária maçarico-solitário A VI c
Jacanidae
48. Jacana jacana “piaçoca” A VI VO 1 c FO GV
COLUMBIFORMES
Columbidae
49. Columbina minuta rolinha-de-asa-canela A VI a, c
50. Columbina talpacoti rolinha C VI NI c FO
51. Patagioenas picazuro pombão C VI
52. Leptotila verreauxi “juriti” F VO 2 GV
53. Leptotila rufaxilla “juriti" F VO 2 GV
54. Geotrygon montana “juriti” F VO 2 GV
PSITTACIFORMES
Psittacidae
55. Primolius maracana “maracanã” F VI VO 1 GV
56. Aratinga leucophthalma periquito-maracanã F VI VO FO GV
57. Aratinga aurea periquito-rei C VI VO GV
58. Pyrrhura cruentata “querequeté" F VI VO 1,2 a FO GV
59. Forpus xanthopterygius “periquitinho”, periquito C P VI VO 1, 2 FO
60. Pionus maximiliani “maitaca” F VI VO 1, 2 FO GV
61. Amazona rhodocorytha “papagaio’ F VI VO 1, 2 FO GV
CUCULIFORMES
Cuculidae
62. Piaya cayana “rabilonga’ F VI VO 1, 2
63. Crotophaga major “anum-coroi’ F A VI VO 2 FO GV
64. Crotophaga ani “anum’ C VI VO 2 c FO
65. Guira guira anu-branco C VI VO c FO
66. Tapera naevia “peixe-frito’ C VO 1 c
STRIGIFORMES
Tytonidae
67. Tyto alba coruja-da-igreja C VO
Strigidae
68. Megascops choliba corujinha-do-mato F VO FO
69. Pulsatrix koeniswaldiana “corujão” F VI VO 1 FO GV
70. Glaucidium brasilianum “caburé’ F VO 2
71. Athene cunicularia “corujinha’ C VI 2 FO
CAPRIMULGIFORMES
71
LOCAL TIPO DE REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C P O VI VO NI EN BB IM GV
Nyctibiidae
72. Nyctibius grandis mãe-da-lua-gigante F VI VO FO GV
Caprimulgidae
73. Nyctidromus albicollis “bacurau” F VI VO NI 2 FO GV
APODIFORMES
Apodidae
74. Streptoprocne zonaris taperuçu-de-coleira-branca O VI
75. Chaetura cinereiventris andorinhão-de-sobre-cinzento O VI
Trochilidae
76. Glaucis hirsutus balança-rabo-de-bico-torto F VI a FO
77. Phaethornis idaliae rabo-branco-mirim F VI VO
78. Eupetomena macroura beija-flor-tesoura P VI
79. Hylocharis sapphirina beija-flor-safira F VI a
80. Hylocharis cyanus beija-flor-roxo F VI FO GV
81. Polytmus guainumbi beija-flor-de-bico-curvo F A VI c
TROGONIFORMES
Trogonidae
82. Trogon viridis “joão-bobo” F VI VO 1 FO GV
CORACIIFORMES
Alcedinidae
83. Megaceryle torquata Martim-pescador-grande A VI
GALBULIFORMES
Galbulidae
84. Galbula ruficauda bico-de-agulha F VI FO
PICIFORMES
Ramphastidae
85. Ramphastos vitellinus “tucano’ F VO 1
86. Pteroglossus aracari “araçari” F VI VO 1 GV
Picidae
87. Picumnus cirratus pica-pau-anão-barrado F VI VO GV
88. Melanerpes candidus “pica-pau-do-branco-branco’ C VI VO 1
89. Veniliornis maculifrons picapauzinho-de-testa-pintada F VI
90. Piculus flavigula pica-pau-bufador F VO a
91. Colaptes campestris pica-pau-do-campo C VO c
92. Celeus flavescens pica-pau-de-cabeça-amarela F VI VO GV
PASSERIFORMES
Thamnophilidae
93. Thamnophilus ambiguus “conconha’ F VI VO 2 FO GV
94. Myrmotherula axillaris choquinha-de-flanco-branco F VI VO GV
Conopophagidae
95. Conopophaga melanops cuspidor-de-máscara-preta F VI VO GV
Dendrocolaptidae
96. Dendrocincla turdina arapaçu-liso F VI VO GV
Furnariidae
97. Furnarius figulus casaca-de-couro-da-lama A C VI VO c GV
98. Furnarius rufus joão-de-barro C P VI VO c GV
99. Certhiaxis cinnamomeus curutié A VI VO c
100. Thripophaga macroura rabo-amarelo F VI VO a GV
101. Phacellodomus rufifrons “joão-palito’ C VI VO NI 1 GV
Tyrannidae
102. Leptopogon amaurocephalus cabeçudo F VO GV
103. Hemitriccus orbitatus tiririzinho-do-mato F VO a GV
104. Myiornis auricularis miudinho F VI VO GV
72
LOCAL TIPO DE REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C P O VI VO NI EN BB IM GV
105. Todirostrum cinereum ferreirinho-relógio C P VI VO c GV
106. Elaenia flavogaster guaracava-de-barriga-amarela C P VI VO c GV
107. Camptostoma obsoletum risadinha F C VI VO GV
108. Capsiempis flaveola marianinha-amarela F C VI VO FO GV
109. Rhynchocyclus olivaceus bico-chato-grande F VI NI a
110. Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta F VI VO GV
111. Tolmomyias poliocephalus bico-chato-de-cabeça-cinza F VI VO GV
112. Tolmomyias flaviventris bico-chato-amarelo F VI VO GV
113. Myiobius barbatus assanhadinho F VI a
114. Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu F VI a
115. Xolmis velatus noivinha-branca C VI
116. Fluvicola nengeta lavadeira-mascarada A C VI c
117. Arundinicola leucocephala freirinha A VI c
118. Machetornis rixosa siriri-cavaleiro C VI
119. Myiozetetes similis bentevizinho-penacho-vermelho C P VI VO
120. Pitangus sulphuratus bem-te-vi F P VI VO c GV
121. Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado F VI VO FO GV
122. Megarynchus pitangua neinei F C VI VO FO GV
123. Tyrannus melancholicus siriri F C VI VO c GV
124. Tyrannus savana tesourinha C VI VO FO
125. Rhytipterna simplex vissiá F VI VO a
126. Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena F VI a
127. Myiarchus ferox maria-cavaleira F C VO
128. Attila rufus capitão-de-saíra F VO
Cotingidae
129. Pyroderus scutatus pavó F VI VO GV
Pipridae
130. Manacus manacus rendeira F VI FO
Tityridae
131. Pachyramphus polychopterus caneleiro-preto F VI VO GV
132. Pachyramphus marginatus caneleiro-bordado F VI VO a
Vireonidae
133. Vireo olivaceus juruviara F VI VO GV
134. Hylophilus thoracicus vite-vite F VI VO GV
Hirundinidae
135. Pygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena-de-casa O VI
136. Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serradora C VI
137. Progne tapera andorinha-do-campo C VI c
138. Progne chalybea andorinha-doméstica-grande P VI
Troglodytidae
139. Troglodytes musculus corruíra P VI VO c GV
140. Pheugopedius genibarbis garrinchão-pai-avô F VI VO GV
Donacobiidae
141. Donacobius atricapilla japacanim A VI VO
Turdidae
142. Turdus rufiventris “sabiá-laranjeira” F P VI VO 2
143. Turdus leucomelas sabiá-barranco F VI VO
144. Turdus amaurochalinus sabiá-poca F VI VO
Mimidae
145. Mimus saturninus sabiá-do-campo C VI VO c
Coereba
146. Coereba flaveola cambacica F P VI VO
Thraupidae
73
LOCAL TIPO DE REGISTRO DOC. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F A C P O VI VO NI EN BB IM GV
147. Nemosia pileata saíra-de-chapéu-preto F VI
148. Habia rubica tiê-do-mato-grosso F VI VO
149. Tachyphonus cristatus tiê-galo F VI a
150. Tachyphonus coronatus tiê-preto P VI
151. Thraupis sayaca “sanhaço” P VI VO 2 c
152. Thraupis palmarum sanhaço-do-coqueiro P VI
153. Tangara brasiliensis cambada-de-chaves F VI VO a
154. Tangara cayana “saíra” P VI VO 2
155. Dacnis cayana “saíra” P 2
156. Cyanerpes cyaneus saíra-beija-flor F VI
157. Hemithraupis flavicollis saíra-galega F VI VO
158. Conirostrum speciosum figuinha-de-rabo-castanho F VI VO c
Emberizidae
159. Ammodramus humeralis tico-tico-do-campo C VI VO c FO
160. Sicalis flaveola canário-da-terra-verdadeiro C VI VO
161. Volatinia jacarina tiziu C VI VO c FO
162. Sporophila caerulescens “papa-capim" C VI VO 2 c
Parulidae
163. Parula pitiayumi mariquita F VI VO FO GV
164. Geothlypis aequinoctialis pia-cobra A VI VO c
Icteridae
165. Cacicus haemorrhous “guaxo” F VI VO 2 GV
166. Gnorimopsar chopi “merro’ C VI VO 1
167. Chrysomus ruficapillus “godero” A VI VO 1 c
168. Molothrus bonariensis vira-bosta C VI
Fringillidae
169. Euphonia chlorotica “gaturamo” P VI VO 2
170. Euphonia violacea “gaturamo’ F VI VO 2 FO GV
Estrildidae
171. Estrilda astrild bico-de-lacre C VI VO c
Passeridae
172. Passer domesticus Pardal P VI VO c
20 ordens / 50 famílias / 172 espécies 87
31
47
18
12
147 109 4 58 64 41 62
Dentre as ordens registradas a que possui maior número de espécies é a
Passeriformes com 80 (46,5%), seguida de Falconiformes com 12 (7%),
Ciconiiformes com 10 (5,8%) e as demais tiveram entre 8 e 1 espécies (figura 33).
De acordo com as informações obtidas em campo, bem como com informações
adicionais (dados de campo outubro 1997, Bauer 1999 e Baeur et al. 1999), é
possível distribuir as espécies registradas em grandes grupos por ambiente (tabela 6
e figura 34).
74
6 4 11 103
127
46
755281118
80
Tinamif. Anserif. Gallif. Podicipedif.
Ciconiif. Cathartif. Falconif. Gruif.
Charadriif. Columbif. Psittacif. Cuculif.
Strigif. Caprimulgif. Apodif. Trogonif.
Coraciif. Galbulif. Picif. Passerif.
Figura 33 - Número de espécies de aves em cada ordem.
87
31
47
1812
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Floresta Alagado Campo Pomar Outros
nº de espécies
Figura 34 - Distribuição das espécies de aves de acordo com o ambiente.
Dentre as espécies florestais (n = 87; 50,6%) 75 (43,6%), em princípio, são
exclusivas deste ambiente. Isto reflete a importância da área para a conservação
das espécies deste ambiente natural. As espécies de “campo” e “pomar” são
especialmente as sinantrópicas. Foi utilizado o termo “outros” especialmente quando
não se teve certeza do ambiente de registro e/ou a espécie foi registrada voando
sobre a área.
75
A riqueza de espécies levantada para a área até o momento mostra-se significativa,
especialmente quando consideradas as espécies ameaçadas de extinção e
endêmicas de Mata Atlântica (itens 3.3.2 e 3.3.3).
Mesmo considerando-se as diferenças de metodologias, em outros trabalhos de
aves em áreas de baixada do Espírito Santo, tem-se os seguintes resultados
comparativos (tabela 9):
Tabela 9 - Riqueza de aves em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo.
Local Riqueza de espécies
Fonte
Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra 242 Venturini e Paz in litt.
Reserva da Vale, Linhares 369 Paz e Venturini (2003)
APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari 225 Cepemar (2007)
RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim 257 Paz e Ventuirini, 2008
Ubu, Anchieta 91 Lopes (s.d)
Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim 172 presente trabalho
Deve-se ressaltar ainda que neste trabalho foi registrado o periquito-rei Aratinga
aurea espécie que tinha sido considerada “possivelmente extinta” para a região sul
do Espírito Santo de acordo com o trabalho de Bauer (1999). Esta espécie foi
observada em pequenos bandos nas áreas mais abertas (pasto com árvores
isoladas, borda de mata) próximo à “Mata do Córrego do Ouro”.
3.3.2. Espécies ameaçadas de extinção
Dentre as 172 espécies até agora registradas, 7 (4,1%) estão inseridas em pelo
menos uma das três listas de espécies ameaçadas de extinção nas diferentes
categorias (tabela 10) e todas são aves florestais.
Tabela 10 - Aves ameaçadas de extinção que ocorrem na região do Verde Vale do Itapemirim. ES: espécie ameaçada de extinção em nível estadual (CP: criticamente em perigo, EP: em perigo, VU: vulnerável); BR: espécie ameaçada de extinção em nível nacional; GL: espécie ameaçada de extinção em nível global (VU: vulnerável, EP: em perigo).
ESPÉCIE NOME COMUM ES BR GL
Crypturellus noctivagus jaó-do-sul CP BR Crypturellus variegatus inhambu-anhangá EP Pyrrhura cruentata querequeté EP BR VU Amazona rhodocorytha papagaio CP BR EP Nyctibius grandis mãe-da-lua-gigante VU Tripophaga macroura rabo-amarelo BR VU
76
ESPÉCIE NOME COMUM ES BR GL
Rhynchocyclus olivaceus bico-chato-grande VU 7 espécies 6 4 3
Duas espécies se enquadram nas 3 listas: o querequeté Pyrrhura cruentata (figura
35) e o papagaio Amazona rhodocorytha (figura 36).
Figura 35 - O querequeté Pyrrhura cruentata psitacídeo ameaçado de extinção em nível estadual, nacional e global. As matas da região são importantes sítios de conservação da espécie no Estado já
tendo sido observado um grupo com cerca de 50 indivíduos.
Figura 36 – O papagaio Amazona rhodocorytha é uma espécie ameaçada de extinção no estado do Espírito Santo onde é considerada criticamente em perigo, porém é uma espécie bem freqüente na
região do Verde Vale do Itapemirim.
77
Duas espécies, Crypturellus variegatus o inhambu-anhangá e Rhynchocyclus
olivaceus o bico-chato-grande são consideradas ameaçadas de extinção apenas em
nível estadual.
Ainda em nível global, além das três categorias de espécies ameaçadas
(criticamente em perigo, em perigo e vulnerável) existe a categoria quase ameaçada
(near threatened) e indica que a espécie não está ainda em risco, porém, é uma
série candidata a compor a lista das espécies ameaçadas se não forem adotadas
medidas para sua conservação (IUCN 2007, Machado et al. 2008). Duas espécies
se enquadram exclusivamente nesta categoria: a maracanã Primolius maracana e o
tiririzinho-do-mato Hemitriccus orbitatus.
Deve-se ressaltar que, dentre as 7 espécies ameaçadas de extinção, 4 também são
endêmicas de Mata Atlântica (ver tabelas 1 e 11, item 3.3.3).
3.3.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica Dentre as espécies de aves registradas (n = 172) 16 (9,3%) são endêmicas da Mata
Atlântica de acordo com Bencke et al 2006 (tabela 11). Quatro delas também são
ameaçadas de extinção. Todas ocorrem em ambiente florestal tais como
Thamnophilus ambiguus o conconha (figura 37) e Pulsatrix koeniswaldiana o corujão
(figura 38) sendo que, com exceção do tié-preto, que ocorre na borda da mata e
pode ser também encontrado em áreas alteradas (como capoeiras e macegas), as
demais são mais exigentes quanto ao habitat.
Tabela 11 - Espécies de aves endêmicas registradas na região.
ESPÉCIE NOME COMUM
Crypturellus noctivagus jaó-do-sul Crypturellus variegatus inhambu-anhangá Pyrrhura cruentata querequeté Amazona rhodocorytha papagaio Pulsatrix koeniswaldiana corujão Nyctibius grandis mãe-da-lua-gigante Phaethornis idaliae rabo-branco-mirim Veniliornis maculifrons picapauzinho Thamnophilus ambiguus conconha Conopophaga melanops cuspidor-de-máscara-preta Dendrocincla turdina arapaçu-liso Tripophaga macroura rabo-amarelo Hemitriccus orbitatus tiririzinho-do-mato Myiornis auricularis miudinho
78
ESPÉCIE NOME COMUM
Rhynchocyclus olivaceus bico-chato-grande Attila rufus capitão-de-saíra
16 espécies Figura 37 - Macho de conconha Thamnophilus ambiguus Passeriforme endêmico da Mata Atlântica. Figura 38 - Uma das aves noturnas o corujão Pulsatrix koeniswaldiana é uma espécie endêmica de
Mata Atlântica.
3.3.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo São conhecidas as interações entre homem e aves para os diferentes usos como
alimentação, adorno e estimação desde a antigüidade. Este costume tem passado
de geração a geração. Porém, o uso indiscriminado das espécies silvestres é um
dos fatores de risco para a conservação da diversidade local.
79
Não são conhecidos dados atualizados sobre a realidade estadual ou local no que
se refere ao uso de aves silvestres de maneira ilegal. Citamos algumas espécies
registradas neste trabalho que, historicamente, são utilizadas como aves de
estimação seja pelo canto (espécies canoras), pela coloração ou pela combinação
de ambos ou ainda são usadas para fins de alimentação: todos representantes das
famílias Tinamidae (especialmente para alimentação), Psittacidae (aves de
estimação com destaque para o papagaio Amazona rhodocorytha) e alguns
Passeriformes tais como - sabiás (Turdus spp.), sanhaços (Thraupis spp.) saíras
(Tangara spp.), canário-da-terra (Sicalis flaveola), coleiros e afins (Sporophila spp),
tempera-viola (Saltator maximus), dentre outros. Estas são algumas das espécies
potenciais vítimas de caça na região. Durante a realização dos trabalhos foram
encontradas pessoas em atividade cinegética na região.
3.3.5. Nomes locais
Através das entrevistas realizadas foi possível verificar os nomes comuns
conhecidos regionalmente para 58 espécies de aves (33,7%) (tabela 8). Usualmente
são aquelas que, historicamente, são de atividades cinegéticas e/ou são comuns
(ocorrendo inclusive nas proximidades das casas). Na tabela 8 destacamos entre
aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos às espécies de aves
localmente.
Alguns nomes chamam a atenção como o “querequeté” Pyrrhura cruentata não
tendo sido encontrada esta referência anteriormente no Estado (obs. pes.) e a
literatura cita como sinônimo de “tiriba” gênero Pyrrhura (Andrade 1982). Outra
espécie é a “conconha” Thamnophilus ambiguus cujo nome similar ‘concom’ foi
encontrado em Setiba (Venturini et al. 1996). Alguns nomes genéricos parecem
variantes locais (também utilizados no Estado em outras regiões) como “galça” ao
invés de ‘garça’, “anum” para ‘anu’ e “siricória” ao invés de ‘saracura’. Este é um
valor cultural que tem se perdido ao longo dos anos e corre o risco maior ainda com
a globalização onde não se leva em conta as diversidades regionais isto se torna
mais evidente em locais onde não é valorizada a cultura local e principalmente
devido à falta de trabalhos visando à divulgação da fauna.
96
3.4. Mastofauna
Os mamíferos são considerados os mais evoluídos na escala zoológica (Silva 1994,
Canevari e Vaccaro 2007). Todos têm em comum a presença de glândulas
mamárias como característica exclusiva da classe. Enquanto grupo possui variações
morfológicas, anatômicas, fisiológicas e comportamentais que lhes permitem ocupar
os meios terrestre, aquático e aéreo. Também possuem uma variação de cor,
tamanho e hábitos. Desta forma, existem espécies que podem viver em habitats
específicos e são sensíveis a mudanças nestes ambientes e outras que possuem
grande capacidade adaptativa suportando até certo grau de alterações ambientais e,
em alguns casos podem até se “beneficiar” (aumentar de número) com tais
alterações.
Existem aproximadamente 5.416 espécies de mamíferos no mundo (Wilson e
Reeder 2005) destas, 652 são listadas para o Brasil (Reis et al. 2006) incluindo as
espécies continentais e as marinhas. Sendo assim, o Brasil figura como o país de
maior riqueza de espécies de mamíferos do mundo.
Os resultados de mamíferos obtidos até o momento nas Matas do Ouvidor e
arredores (Verde Vale do Itapemirim) e apresentados a seguir, somam importantes e
inéditas informações para o estado do Espírito Santo.
3.4.1. Composição geral das espécies
Foram registradas até o momento 37 espécies de Mamíferos pertencentes a 8
ordens e 19 famílias (tabela 12).
A ordem com maior número de espécies foi Carnívora com 10 (27%)Rodentia com 9
(24,3%), Didelphimorphia com 6 (16,2%), Cingulata e Primates com 4 (10,8%),
Pilosa com 3 (8,1%) e Chiroptera e Lagomorpha com 1 cada (2,7%) (figura 39).
97
6
4
34
11
10
Didelphimorphia Cingulata PilosaPrimates Lagomorpha ChiropteraCarnivora
Figura 39 - Número de espécies de mamíferos de acordo com as ordens.
Tabela 12 - Mamíferos registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado, rio, C: campo; Registro: VI: visualização, VO: vocalização, CA:
captura,VE: vestígio (p: pegada, f: fezes, u: unhas), AF: armadilha fotográfica, AT: animais
atropelados na Rodovia, EN: entrevista; Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: foto, FI: filmagem),
GV: gravação de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos
às espécies localmente.
LOCAL REGISTRO DOC. Nº ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F C A VI VO CA VE AF AT EN IM GV
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
1. Didelphis aurita “gambá” F CA AF AT EN FO FI GV
2. Gracilinanus microtarsus catita; cuiquinha F CA FO
3. Marmosa murina cuíca F CA FO
4. Marmosops incanus cuíca F CA FO FI
5. Metachirus nudicaudatus jupati F AF FO
6. Philander frenatus “cuíca-quatro-olhos” F CA EN FO
CINGULATA
Dasypodidae
7. Dasypus novemcinctus “tatu-galinha” F C AT EN
8. Dasypus septemcinctus “tatu-mirim” F C EN
9. Euphractus sexcinctus “tatu-testa-de-ferro”
“ tatu-peludo” F C EN
10. Cabassous sp “tatu-de-rabo-mole” F C EN
PILOSA
Bradypodidae
11. Bradypus torquatus “preguiça”
preguiça-de-coleira
F VI u/l AT EN FO FI
Myrmecophagidae
12. Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim “tamanduá-colete”
F VI AF EN FO
PRIMATES
Cebidae
13. Callithrix geoffroyi “sauí”
sagüi-da-cara-branca
F EN
14. Cebus nigritus “macaco-prego” F VI VO AF AT EN FO
Pitheciidae
15. Callicebus personatus “guigó”
sauá
F VI VO EN GV
98
LOCAL REGISTRO DOC. Nº ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME COMUM
F C A VI VO CA VE AF AT EN IM GV
Atelidae
16. Alouatta guariba “barbado” F VI VO f EN FO FI GV
LAGOMORPHA
Leporidae
17. Sylvilagus brasiliensis tapeti; coelho-do-mato F C f FO
CHIROPTERA(*)
Phyllostomidae
18. Sturnira lilium morcego-fruteiro F AF FO
CARNIVORA
Felidae
19. Leopardus pardalis “jabutirica”
jaguatirica
F AT EN
20. Leopardus wiedii “gato-do-mato”
gato-maracajá
F AF EN FO
21. Puma yagouaroundi ”gato-do-mato-preto”
jaguarundi
F C EN
Canidae
22. Cerdocyon thous “cachorro-do-mato” F C VI p AF AT EN FO
Mustelidae
23. Lontra longicaudis “lontra” A f/ p EN FO
24. Eira barbara “irara” F EN
25. Galictis cuja “furão” F EN
Procyonidae
26. Nasua nasua “quati” F VI EN FO
27. Potus flavus macaco-da-noite; jupará F VO
28. Procyon cancrivorus “mão-pelada” F p EN FO
RODENTIA
Sciuridae
29. Sciurus aestuans “caxinguelê’ F VI VO EN FO GV
Cricetidae
30. Oryzomys sp. rato-do-chão F VI CA FO FI
Muridae
31. Mus musculus “camundongo” F C CA EN
32. Rattus norvegicus “rato”
rato-da-barriga-amarela
F C CA EN
33. Rattus rattus “rato”
rato-preto
F C CA EN
Erethizontidae
34. Sphiggurus sp. “ouriço-cacheiro” F EN
Caviidae
35. Cavia aperea “preá” F C VI p EN FO
36. Hydrochoerus hydrochaeris “capivara” F C A VI f EN FO
Cuniculidae
37. Cuniculus paca “paca” F p AF EN FO
8 ordens / 19 famílias / 37 espécies 36 12 2 11 5 9 7 8 6 29 22-5 4
(*) Ordem não levantada registro obtido por armadilha fotográfica.
Entre os mamíferos registrados a Lontra longicaudis (lontra) é uma espécie semi-
aquática já a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) desenvolve grande parte de sua
atividade diária no ambiente aquático embora não seja estritamente dependente
deste, pois utiliza ainda áreas abertas e florestas. Trinta e seis espécies (97,3%)
foram registradas no ambiente florestal nos diferentes fragmentos (Mata do Ouvidor,
99
Mata do Barro Branco, Mata do Córrego do Ouro, Mata do Brejão) sendo que 24
(64,9%) somente foram registradas neste ambiente e 12 (32,4%) também foram
registradas em ambientes abertos. Isto evidencia a importância das florestas para a
manutenção da diversidade quantitativa e qualitativa da fauna silvestre da região
(figura 40).
36
12
2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Floresta Campo Alagado
nº de espécies
Figura 40 - Distribuição das espécies de mamíferos de acordo com o ambiente.
Comparativamente com outros trabalhos de levantamento de mastofauna em áreas
de baixada do Estado, apesar de ressalvar as diferenças metodológicas (incluindo a
duração de cada trabalho) e o tamanho das áreas avaliadas, tem-se os seguintes
resultados (tabela 13):
Tabela 13 - Riqueza de mamíferos em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo.
Local Riqueza de espécies
Fonte
Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra 49 * Venturini e Paz in litt.
Reserva da Vale, Linhares 88 * Paz e Venturini (2003)
APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari 70 * Cepemar (2007)
Ubu, Anchieta 19 Lopes (s.d)
RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim 55 * Paz e Ventuirini, 2008
Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim 37 presente trabalho
* - inclui estudo de Chiroptera
Pode-se perceber que a riqueza de espécies levantadas para a área, até o
momento, é significativa, especialmente quando associada ao número de espécies
100
ameaçadas de extinção e endêmicas de Mata Atlântica (itens 3.4.2 e 3.4.3). Deve-se
ainda ressaltar que as outras áreas em que as riquezas de espécies são maiores
incluem estudos de Chiroptera o que neste trabalho não aconteceu (só foi registrada
uma espécie, casualmente e não foi utilizada metodologia de captura específica para
o grupo).
3.4.2. Espécies ameaçadas de extinção De acordo com a análise das listas de espécies ameaçadas de extinção nos 3 níveis
(ES-DOE 2005, Machado et al. 2008 e IUCN 2007), 4 espécies (10,8%) dentre as
registradas (n = 37) (tabelas 1 e 14) são consideradas ameaçadas de extinção.
Tabela 14 - Mamíferos ameaçados de extinção registrados na região do Verde Vale do Itapemirim. ES: espécie ameaçada de extinção em nível estadual (EP: em perigo, VU: vulnerável); BR: espécie ameaçada de extinção em nível nacional; GL: espécie ameaçada de extinção em nível global (VU: vulnerável, EP: em perigo).
STATUS ESPÉCIE NOME COMUM ES BR GL
Bradypus torquatus preguiça-de-coleira EP BR EP Callicebus personatus guigó VU BR VU Leopardus pardalis jaguatirica VU BR Leopardus wiedii gato-do-mato; gato-maracajá VU BR
4 espécies 4 4 2
Todas as espécies ameaçadas são florestais. Isto reforça a importância da área na
conservação e preservação destas e outras espécies. Bradypus torquatus (preguiça-
de-coleira), figura 41, e Callicebus personatus (guigó) aparecem como espécies
chaves dentro do grupo, pois além de estarem ameaçadas para os três níveis
conhecidos (estadual, nacional e global) são espécies estritamente florestais e
endêmicas de Mata Atlântica.
Leopardus pardalis (jaguatirica) e L. wiedii (gato-maracajá), figura 42, são carnivoros
florestais e suas populações locais sofrem pressão de caça, de moradores da região
que alegam que estes atacam suas criações e ainda são vitimas de atropelamento
na rodovia local.
101
Figura 41 – A preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus, pode ser considerada uma das espécies
chaves na conservação da região.
.
Figura 42 – Leopardus wiedii, gato-maracajá uma das espécies de felídeo presente nas matas do
Verde Vale do Itapemirim.
Ainda quando se analisa em nível global, duas espécies são consideradas “quase
ameaçadas de extinção”: o macaco-prego Cebus nigritus (figura 43) e o gato-
maracajá L. wiedii (figura 42) que é considerado ameaçado em nível estadual e
nacional.
102
Figura 43 – Cebus nigritus o macaco-prego é uma espécie quase ameaçada de extinção em nível
global e endêmica de Mata Atlântica.
3.4.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica
Foram registradas 9 espécies (24,3%) endêmicas de Mata Atlântica (tabela 15).
Tabela 15 - Espécies de mamíferos endêmicos de Mata Atlântica registrados na área.
ESPÉCIE NOME COMUM
Didelphis aurita gambá Gracilinanus microtarsus catita; cuiquinha Marmosops incanus cuíca Bradypus torquatus preguiça-de-coleira Cebus nigritus macaco-prego Callithrix geoffroyi saui Callicebus personatus guigó Alouatta guariba barbado Sphigurus sp. ouriço-cacheiro
9 espécies
Das espécies endêmicas registradas Didelphis aurita gambá (figura 44), ocorre na
porção leste do Brasil, sudeste do Paraguai e nordeste da Argentina em região de
Mata Atlântica.
103
Figura 44 - Didelphis aurita gambá, ocorre na Mata Atlântica de parte do Brasil, Paraguai e Argentina sendo endêmica deste bioma.
Gracilinanus microtarsus catita, Marmosops incanus cuíca (figura 45), B. torquatus
preguiça-de-coleira (figura 41), Cebus nigritus macaco-prego, Callithrix geoffroyi
sagüi-da-cara-branca e Callicebus personatus guigó são endêmicos da Mata
Atlântica do leste do Brasil. A espécie Sphigurus sp. pode se tratar de duas espécies
diferentes de ouriço-cacheiro (S. insidiosus ou S. villosus) e ambos são endêmicos
da Mata Atlântica. Alouatta guariba barbado ocorre na Mata Atlântica do leste
brasileiro e existe um registro duvidoso para a Bolívia (Wilson e Reeder 2005).
Figura 45 – Marmosops incanus cuíca, endêmica da Mata Atlântica do leste do Brasil.
104
Figura 46 – Alouatta guariba barbado é um primata comum na área.
3.4.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo
A relação do homem com a fauna remonta aos primórdios da existência humana,
quando ainda era necessário caçar para se alimentar. Atualmente existem
legislações específicas que visam proteger a fauna.
Não conhecemos dados atualizados sobre a realidade estadual ou local no que se
refere ao uso de mamíferos silvestres de maneira ilegal. Historicamente, porém, são
conhecidas diversas espécies da fauna silvestre, dentre os mamíferos, utilizadas
pelo homem com diversas finalidades. Várias destas espécies ocorrem na região e
algumas são citadas a seguir: espécies que têm registro para uso como animais de
estimação - preguiça Bradypus torquatus, sagüi Callithrix geoffroyi, macaco-prego
Cebus nigritus, quati Nasua nasua (figura 47), todos os Felidae; uso em atividade
cinegética (caça: para alimentação) - tatus (Dasypodidae), preá Cavia aperea,
capivara Hydrochaeris hydrochaeris, paca Cuniculus paca (figura 48); supostos fins
“medicinais”- espinhos de ouriços (Sphiggurus sp.) utilizados especialmente no sul
da Bahia através de infusões e outros métodos caseiros (Oliver e Santos 1991).
105
Figura 47 - Nasua nasua quati é utilizado como animal de estimação.
Figura 48 – Cuniculus paca. A paca é uma das espécies cinegéticas da região. Muito visada por
caçadores. 3.4.5. Nomes locais O conhecimento da mastofauna pelos moradores locais é muito expressivo
verificado não só pelo conhecimento de espécies de atividade cinegética, espécies
de estimação, mas também espécies florestais ou menos perceptíveis. Este
conhecimento foi importante na determinação de ocorrência de várias espécies do
grupo que não puderam ser ainda ser registradas pelos outros métodos de estudo.
106
Dentre os nomes citados, destacamos ”jabutirica” que é uma variação da forma mais
conhecida ‘jaguatirica’ também já registrado em outras partes do Estado. Este é um
fator cultural que tende a ser perdido com o desconhecimento da fauna pelas novas
gerações ou o uso de “nomes populares” de literaturas gerais que não levam em
conta a regionalização ver tabelas.
Na tabela 12 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares
atribuídos às espécies de mamíferos localmente.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1. Análise geral da área A região de estudo denominada de “Matas do Ouvidor”, no Verde Vale do
Itapemirim, é uma área de Mata Atlântica pertencente à Usina Paineiras S.A., e
considerada como uma das “Áreas prioritárias para a conservação da Mata
Atlântica” na categoria “B” (muito alta importância biológica) baseada especialmente
na presença de aves endêmicas e ameaçadas de extinção e a recomendação para
ação de conservação é a criação de unidade de conservação (Rede de Ong’s da
Mata Atlântica et al. 2001). De acordo com Conservation International do Brasil et al.
(2000) na análise mais ampla, os grupos de importância biológica de fauna
indicados para a área (ou ela em conjunto com outras) foram mamíferos (categoria
B), aves (categoria C) e invertebrados (categoria A).
Os estudos faunísticos desenvolvidos na área até o momento, mesmo que ainda
iniciais, apontam e reforçam a importância biológica da área. Foram registradas 251
espécies de vertebrados terrestres das quais 11 são ameaçadas de extinção (4,4%)
nos diferentes níveis aqui considerados (estadual, nacional e global) e 44 (17,5%)
são endêmicas de Mata Atlântica. Isto reforça não só a importância em termos
quantitativos, mas também qualitativos. Quando comparamos os dados obtidos com
outros trabalhos em áreas de baixada no Espírito Santo (apesar de metodologias
diferentes incluindo a duração dos trabalhos, normalmente maior nas outras áreas) é
possível confirmar a importância da área para a fauna localmente e no todo. Além
disto, pode-se também verificar a importância do ambiente florestal para as diversas
espécies estudadas devido ao uso deste pelos diferentes grupos de vertebrados.
Estes resultados indicam uma alta diversidade e apontam para o reforço da
importância ecológica da área e validam a prioridade da conservação da mesma
para a conservação da Mata Atlântica.
Outro item revelado neste trabalho diz respeito à relação da população com a fauna
através dos nomes locais pelos quais os animais são conhecidos. Muitos são bem
particulares como o “querequeté” não tendo sido encontrado esta referência em
outro local no Espírito Santo. Todo o conhecimento sobre a fauna local faz parte da
cultura regional e que reflete várias coisas como a existência (mesmo que no
116
passado) de uma relação direta com a fauna em ações de utilização (animais de
estimação e/ou alimentação) ou perigo (espécies peçonhentas e venenosas) o que
geralmente leva a criação de mitos e lendas. Existe, porém, uma tendência atual da
não continuidade na difusão deste conhecimento o que compromete este valor
cultural, portanto os trabalhos de educação ambiental na região devem ter como
foco a realidade conservacionista atuando na linha de divulgação e conhecimento da
fauna e flora (biota) da área e estas informações aqui geradas serão, sem dúvida, a
base para esta ação de conscientização ambiental. Resaltamos aqui que esta área
ainda é pouco estudada e aproveitada em seu potencial biológico, cientifico,
educacional, turístico e de manejo.
Outras considerações importantes decorrentes dos trabalhos de campo dizem
respeito a alguns problemas que afetam diretamente a fauna local:
• Atividades cinegéticas dentro da área: foram encontrados diferentes poleiros
(figura 49) como, por exemplo, na região da “Mata do Córrego do Ouro”
normalmente utilizado para a caça de mamíferos de trilha como paca (figura
48) e tatus. Na “Mata do Barro Branco” foram ouvidos cachorros em atividade
cinegética e foram encontrados cartuchos de armas de fogo deflagrados. Na
“Mata do Brejão” foram achadas armadilhas artesanais geralmente utilizadas
na captura de tatus (figura 50).
Figura 49 - Poleiro construído por caçadores no interior da mata usualmente utilizado para abate de mamíferos como paca e tatus.
117
Figura 50 – Armadilhas artesanais encontradas no interior da mata do Brejão em trilha de Tatu.
• Captura de animais de estimação: foram observadas “escadas” (figura 51) de
acesso a ninhos de papagaios instaladas em árvores dentro da mata e,
normalmente, utilizadas na apanha de filhotes para serem vendidos e/ou
criados como animal pet. Este fato costuma ocorrer no Espírito Santo entre os
meses de novembro/dezembro. Também nos arredores das matas foram
observados adolescentes utilizando-se de alçapão para captura de
Passeriformes canoros (ex.: coleiros).
Figura 51 - Escada rudimentar construída em árvore na mata, encontrada na região de estudo, com objetivo de captura de filhotes de papagaio (e grupo) no ninho.
118
• Presença de cachorros domésticos: algumas vezes encontramos cachorros-
domésticos andando pela área. As armadilhas fotográficas registraram (figura
52) por diversas vezes a presença destes animais em atividade de forrageio
(25% do total de fotos obtidas) provavelmente caçando animais silvestres,
principalmente rasteiros como tatus, tinamídeos em geral, tamanduá e outros
como já constatado em outras áreas (obs. pes.).
Figura 52 – Cachorro doméstico em comportamento de caça flagrado pela armadilha fotográfica no interior da mata
• Impacto da Rodovia ES 490: durante os trabalhos algumas espécies foram
encontradas atropeladas (mortas e/ou em estado agonizante). Embora não
tenha sido feito um trabalho específico para este item, algumas informações
obtidas em conversas com moradores locais apontam para este problema
que demonstra ser freqüente atuando diretamente na redução das
populações da fauna local. Espécies como jabutirica, tatu, cachorro-do-mato,
gambá (e demais deste grupo), preguiça, jacupemba, papagaios, diferentes
cobras, teiú e outros lagartos estão entre os mais citados como atropelados
na área. A continuidade dos trabalhos e o desenvolvimento de uma
metodologia para o levantamento do problema podem ajudar a esclarecer
melhor esta realidade e indicar alternativas mais adequadas para solucionar
e/ou amenizar esta situação.
119
A não ser por pequenas populações isoladas que vivem longe dos grandes centros
urbanos, os animais silvestres não representam mais fonte básica de proteínas,
tendo sido substituídos, neste papel, pelos animais de criação domestica. Mas o
consumo de iguarias de caça tem tido um efeito muito negativo sobre os
ecossistemas em geral e em particular à fauna. Na Mata Atlântica brasileira alguns
animais mais ameaçados por esse motivo são, dentre os mamíferos: os tatus, a
paca, alguns macacos; dentre as aves: os inhambus e jacupemba; dentre os répteis:
jacaré e teiú e entre os anfíbios: as rãs de grande porte. Os caçadores de iguarias
não respeitam o escasseamento dos recursos e nem mesmo as épocas de
reprodução das várias espécies. Neste grupo podemos englobar uma variedade
enorme de pessoas de diferentes classes sociais, níveis de instrução e escolaridade.
Não foi caracterizada na região a caça de subsistência (necessidade exclusiva de
obtenção de proteína animal através da utilização de produtos silvestres) ao
contrario identificou-se a caça predatória e desorganizada e ao que parece voltada
para a necessidade simples de satisfação pessoal, como exemplo podemos citar a
caça de espécies silvestres para se obter um “tira-gosto” a fim de se tomar uma
“cahacinha” no bar da esquina e prosear com amigos. No mesmo nível citamos
também o abate da fauna por pessoas de renda média a alta a fim de testar uma
arma de fogo ou simplesmente pelo prazer de entrar na mata e dar um tiro em um
animal que se movimenta.
Algumas espécies locais são muito visadas para animais de estimação: os primatas
em geral, os papagaios e seus semelhantes, além dos pássaros canoros. Com isso,
muito provavelmente, populações de animais silvestres locais estão desaparecendo
em curto espaço de tempo, e os ambientes ficam ainda mais desprotegidos. Ações
educativas de médio e longo prazo, associadas a planos eficazes de proteção à
floresta como um todo (fauna e flora) tendem a reverter esta situação.
Estas questões apontam para a necessidade do incremento de ações com o
envolvimento das comunidades do entorno para se tentar evitar a presença de
cachorros e/ou caçadores na área, além de outras ações que envolvam um reforço
do sistema de vigilância da área. Bem como alternativas de uso racional dos
120
recursos locais, que não venham afetar a já tão impactada fauna, podem ser
avaliadas e implantadas a curto e médio prazo.
A expressiva diversidade da Mata Atlântica é comprovada neste trabalho através
dos resultados levantados até o momento e demonstram a importância da
preservação destes fragmentos florestais que são cruciais para a manutenção de um
bom contingente populacional de espécies significativas da fauna brasileira. Entre
outras, pode-se destacar a população de Pyhurra cruentata a tiriba fura-mato
conhecida localmente como querequeté, um Psitacídeo ameaçado de extinção em
todos os níveis e ainda encontrado com freqüência na área o que não ocorre em
outros fragmentos especialmente no sul do Espírito Santo (obs. pess.) sendo esta
área de grande importância para a conservação da espécie; o papagaio (Amazona
rhodocorytha) que, embora localmente aparenta ser menos freqüente que a P.
cruentata, é uma espécie também florestal que tem suas populações praticamente
isoladas nestas áreas de ilhas de matas que restaram no ES. Mamíferos como a
preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-
maracajá (L. wiedii), os diversos anfíbios e répteis também possuem na área um
grande refúgio com possibilidade de conservação de suas espécies.
4.2. Potencialidades Já é recorrente o conhecimento de que o Brasil é um dos países de
“megadiversidade” e que a Mata Atlântica contribui consideravelmente para este
posto. Porém, a Mata Atlântica é um dos 34 hotspots, sendo a 5ª do ranking ou seja,
está entre as 5 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta restando
hoje em torno de 8% da sua cobertura original (Conservação Internacional do Brasil
2005).
O Estado do Espírito Santo está completamente inserido no domínio da Mata
Atlântica e, portanto, a região de estudo, o Verde Vale do Itapemirim, com mais de
1.500 ha é um expressivo componente desta realidade no Estado, sendo um dos
últimos fragmentos de baixada de Floresta Estacional Semidecidual que conserva
um bom número de representantes de sua biota original.
121
De acordo com as exposições anteriores, no que diz respeito especialmente à
análise da fauna, pode-se elencar um rol de potencialidades que a região apresenta
para a conservação da biodiversidade:
• Alta riqueza faunística.
• Presença de espécies de vertebrados raros, a maioria florestal (muitas
ameaçadas de extnção e/ou endêmicas de Mata Atlântica) dependentes
destes fragmentos florestais.
• Diversidade de ambientes em curto espaço a percorrer (o que facilita a
exploração de atributos ecológicos e biológicos).
• Topografia de fácil acesso para possíveis trilhas.
• Localização estratégica e privilegiada (próximo a grandes centros urbanos e
turísticos) e de fácil acesso rodoviário.
• Ocorrência de espécies-alvo para observadores de aves (birdwatchers) do
mundo inteiro como Tripophaga macroura, Amazona rhodocorytha, Pyrrhura
cruentata, Hemitriccus orbitatus, Conopophaga melanops, Nyctibius grandis,
dentre outras.
• Possibilidade para desenvolver atividades educativas conservacionistas junto
às comunidades locais e estaduais.
• Marketing verde positivo para a empresa representada por ações
conservacionistas através da manutenção e proteção da área.
• Faz parte do corredor ecológico Guanandy e está próximo do corredor
Burararma-Pacotuba-Cafundó (Iema).
• Grande potencial para desenvolvimento de pesquisas: estudos de
comportamento, estudos de população, manejo de fauna silvestre, inventario
faunístico e outros.
Tudo isto aponta para a necessidade e viabilidade de consolidar a área como uma
Unidade de Conservação. Por se tratar de área particular e devido às suas
características a categoria mais indicada é Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) uma categoria privada, porém reconhecida pelo poder público (federal ou
estadual).
122
4.3. Necessidades
De maneira bem objetiva citamos algumas ações que são necessárias para a
consolidação da área como uma unidade demostrativa de conservação:
• Definição e delimitação da UC.
• Implantação de um sistema de segurança (vigilância, queimadas e etc.).
• Implantação de equipamentos para atender ao público em geral.
• Criação de um núcleo de apoio a pesquisas e um centro de recepção.
• Equipe mínima (vigilantes, orientadores ambientais, estagiários e outros).
• Divulgação dos dados obtidos ao público em geral.
• Apoio aos estudos de desenvolvimento e consolidação de um plano de
zoneamento e manejo para a área em geral.
123
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132
Capitulo Capitulo Capitulo Capitulo 2222: F: F: F: Floraloraloralora
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é o país com uma das maiores biodiversidade do planeta, abrigando cerca
de 14% das espécies de plantas conhecidas no mundo, destacando-se no ranking
mundial de países megadiversos (Shepherd 2006).
Nesse aspecto o estado do Espírito Santo também demonstra-se em evidência
pelos altos índices de diversidade encontrado em seus ecossistemas (Thomaz e
Monteiro 1997; Assis et al. 2004a) e elevado grau de endemismos, corroborado com
as constantes descobertas de espécies novas e de restrita distribuição geográfica
(Amorim 2003; Baitello 2001; Chautems et al. 2005; Fernandes 1995; Kollmann
2003; Kollmann e Fontana 2006; Lombardi 2004; Mass e Westra, 2003; Sobral 2006;
Leme e Kollmann 2007).
Em seu território podemos encontrar grande variedade de tipologias vegetais, como
as formações de floresta ombrófila densa, floresta estacional semidecidual e as
formações pioneiras, incluindo manguezais e restingas (IBGE 1983; 1987). A
diversidade geomorfológica encontrada no Estado do Espírito Santo, juntamente
com outros fatores como o clima, a natureza e o grau de permeabilidade dos solos,
possibilitaram o estabelecimento desses diferentes ambientes naturais (Azevedo
1962).
Apesar dessa diversidade, algumas fitofisionomias encontram-se pouco
representadas nas coleções botânicas capixabas, principalmente os ambientes da
floresta estacional semidecidual (Assis et al. 2007). Nos demais ecossistemas, os
registros normalmente estão concentrados em poucos municípios (Assis 2007). O
resultado desse cenário é a existência de muitas lacunas no conhecimento botânico
ao longo do território do Espírito Santo, e, dentre elas, a região sul do estado.
A fragmentação excessiva em determinadas regiões do estado, como o Sul, aliado
com o distanciamento geográfico desses trechos com principais centros de
133
pesquisas e herbários são fatores que poderiam explicar o baixo conhecimento da
flora dessa região (Assis 2007).
A cobertura florestal, incluindo as formações primárias e secundárias em estágio
médio e avançado de regeneração, em vários municípios do sul do estado não
passa de 11% de seus territórios, como registrados em Cachoeiro de Itapemirim
(10,52%), Itapemirim (5,94%), Marataízes (0,59%) e Rio Novo do Sul (9,21%)
(Fundação SOS MATA ATLÂNTICA e INPE 2006).
Esses remanescentes da Bacia do Rio Itapemirim são indicados como de extrema
importância biológica para a conservação da flora da Mata Atlântica brasileira
(Conservation Internacional do Brasil et al. 2000). Essas áreas assumem grande
importância por representarem praticamente os últimos remanescentes florestais na
região sul do estado. Dessa forma, a área especificamente da Usina Paineiras, em
Itapemirim, foi indicada como sendo de extrema prioridade para a conservação,
também em nível estadual (IPEMA 2005a), e como prioritária para a criação de
unidades de conservação no Espírito Santo (IPEMA 2005b).
A criação de unidades de conservação, uma das formas de se preservar os
ambientes naturais e garantir a manutenção de seus processos biológicos, vem
sendo focada, no estado do Espírito Santo, nas Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPN), uma vez que uma das características da atual ocupação do solo em
território capixaba é a concentração dos remanescentes florestais em propriedades
privadas (Assis 2007).
A elaboração de listagens florísticas é reconhecida como importante ferramenta para
o conhecimento da distribuição geográfica e dimensionamento do tamanho e
distribuição etária das populações de espécies, dados estes essenciais para
estratégias de conservação (Peixoto e Thomas 2005).
Assim, torna-se urgente o aumento no esforço de coleta de plantas em algumas
localidades do estado do Espírito Santo, sobretudo aquelas com menor
representatividade em coleções botânicas, a fim de ampliar o conhecimento sobre a
flora do estado e subsidiar decisões referente ao seu manejo e conservação. Da
134
mesma forma é imprescindível a criação de novas áreas, legalmente protegidas
como as RPPN, que protejam e garantam a sobrevivência dos representantes da
rica fauna e flora capixaba.
135
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de Estudo
A Fazenda do Ouvidor está localizada no município de Itapemirim, zona sul do
estado do Espírito Santo, na margem direita do Rio Itapemirim sendo cortada pela
Rodovia Estadual ES-490, que liga Cachoeiro do Itapemirim e Marataízes. A
Fazenda é de propriedade da Usina Paineiras S.A., sendo composta por várias
glebas contendo pastagens e cultivo de cana-de-açúcar e alguns remanescentes
florestais (figura 43).
Figura 53 - Localização da Fazenda do Ouvidor (círculo vermelho), no município de Itapemirim (ES). Fonte: Google Earth 2007.
A partir da indicação dos proprietários da Fazenda do Ouvidor, foi escolhida uma
área para a criação da RPPN, e alguns dos fragmentos florestais incluídos nessa
região foram objetos do levantamento florístico. Um desses remanescentes,
denominado “Área A”, está inserido nas coordenadas geográficas, aproximadas, de
5 km
136
20º 55’57” S e 41º 3’ 17” W (Datum SAD69), e apresenta uma variação altitudinal de
20 a 100 m, com a presença de pequenos vales (“grotas”) em seu interior (figura 44).
Essa área possui 125 ha floresta em diferentes estágios de preservação.
Um outro remanescente (“Área B”) corresponde a 195 ha de florestas em bom
estado de conservação, localizado na porção noroeste de um grande bloco florestal,
que é cortado pela Rodovia ES-490 (figura 2). Essa área também apresenta vales
em seu interior e sua variação altitudinal é de 20 a 100 m. As coordenadas
geográficas, do vértice dessa área próxima à Rodovia ES-490, são 20º 55’ 32,6” S e
41º 3’ 2,9” W (Datum SAD69).
Figura 54 - Localização dos remanescentes estudados “Área A” e “Área B” (setas vermelhas) na área potencial para criação da RPPN na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES).
Fonte: Google Earth, 2007.
De acordo com o mapa das Unidades Naturais do Estado do Espírito Santo
(INCAPER/NEPUT, 1999), a região de estudo é caracterizada por apresentar terras
acidentadas, quentes, secas e fracas. Isto indica que estão em locais cujo relevo
possui declividade maior que 8%; apresentam temperatura média das máximas dos
meses mais quentes entre 30,7 ºC e 34,0 ºC; possuem seis meses secos e
agrupamento de solo sem componente eutrófico (INCAPER/NEPUT, 1999). A
Rod. ES-490
Rio Itapemirim
2 km
Área A
Área B
137
unidade mapeamento de solo predominante no local é o Latossolo Vermelho-
amarelo álico (IBGE, 1983).
A formação vegetacional predominante na região é a Floresta Estacional
Semidecidual (IBGE, 1983), que ocorre em regiões onde os regimes hídricos
apresentam uma estacionalidade de períodos chuvosos e secos demarcados. Esse
fator climático limitante à vegetação (mais de 60 dias secos) faz com que os
elementos arbóreos apresentem caducifolia parcial (20 a 50% dos indivíduos) como
forma de adaptação ao estresse hídrico e/ou climático (IBGE, 1983).
De acordo com IBGE (1983), essa formação vegetal apresenta, para a região de
estudo, uma subdivisão, de acordo com a altitude, sendo a floresta estacional
semidecidual de terras baixas ocorrente em áreas com até 50 m acima do nível do
mar e a floresta estacional semidecidual submontana, em áreas com altitude
variando entre 50 e 500 m.
2.2. Metodologia
A classificação das tipologias vegetais da Fazenda do Ouvidor seguiu proposta de
Veloso et al. (1991). Para determinação dos estágios sucessionais da vegetação
secundária, foi utilizado os preceitos da Resolução CONAMA Nº 29, de 07/12/1994 e
a Lei Florestal do Espírito Santo (Lei Estadual Nº 5.361, de 30/12/1996).
Os aspectos fitofisionômicos observados para caracterização das tipologias vegetais
foram o porte dos indivíduos, cobertura vegetal, presença de epífitas e lianas,
formação de estratos verticais e presença de serapilheira, além de indícios de
antropização, atuais ou pretéritos, como indivíduos cortados ou queimados,
presença de gado bovino no interior dos remanescentes, e outras.
O levantamento florístico dos remanescentes florestais da Fazenda do Ouvidor foi
realizado por meio de três campanhas de campo, com duração de dois a três dias
cada, entre os meses de dezembro de 2007 e março de 2008.
138
As coletas foram obtidas a partir de caminhadas pelo interior e bordo dos fragmentos
florestais, incluindo indivíduos férteis de todas as formas biológicas (figura 45). O
material coletado foi processado (figura 45) para ser incorporado ao acervo do
Herbário MBML, do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, localizado em Santa
Teresa (ES). A coleta e o preparo das plantas seguiu metodologia indicada por
Fidalgo & Bononi (1984).
Além das plantas coletadas na Fazenda do Ouvidor, foram incluídas, na listagem
florística, espécies depositadas em herbário cuja localidade de coleta fosse na
mesma região do presente estudo. Essas informações foram obtidas por meio do
sistema de banco de dados virtual “SpeciesLink”, disponível na homepage:
http://splink.cria.org.br
Outra categoria da lista são as espécies observadas, que correspondem àquelas
plantas que se encontravam estéreis e, portanto, não puderam ser coletadas, mas
que são de fácil reconhecimento em campo e com identidade biológica bem
determinada, como é o caso do Astronium graveolens (aderne), Sparathospherma
leucanthum (cinco-folhas), Gallesia integrifolia (pau-d’alho), dentre outras.
Também foram incluídas como observadas, as espécies conhecidas cujos frutos
encontravam-se caídos no chão e que não puderam ser coletadas nos próprios
ramos, como, por exemplo, a sapucaia (Lecythis pisonis). Em alguns casos onde a
identificação dessas espécies fosse duvidosa, as plantas foram incluídas apenas em
gênero, como as cactáceas epífitas Riphsalis e Epiphyllum, dentre outras.
-
139
a) b)
c) d)
Figura 55 - Atividades relacionadas ao registro de plantas na Fazenda do Ouvidor, município de
Itapemirim (ES): a) coleta de ramos com auxílio de podão; b) coleta de planta na borda da mata; c) preparação das exsicatas; d) prensas na estufa do Herbário MBML para desidratação do material
coletado.
A identificação das plantas foi realizada por meio de literatura especializada, tais
como as obras de Barroso et al. (1991a, 1991b), Barroso et al. (1999), Barroso et al.
(2002), Carauta e Diaz (2002), Carvalho (1994), Lewis (1987), Lorenzi (1998, 2000,
2002) e Souza e Lorenzi (2005), comparação com material depositado no herbário
MBML ou ainda com a colaboração de especialistas em determinadas famílias
(figura 46).
A classificação das famílias botânicas seguiu o sistema de Cronquist (1981), sendo
mantida a família Leguminosae como entidade única, utilizando-se o sistema de
Engler.
a) b)
140
c)
Figura 56 - Atividades relacionadas à identificação das plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) consulta ao herbário; b) observação na lupa de características morfológicas; c)
consulta à literatura e comparação com exsicatas do herbário.
A partir da lista de espécies da Fazenda do Ouvidor foram determinadas as
ameaçadas de extinção, com base na “Lista Oficial de Espécies da Fauna e da Flora
Ameaçadas de Extinção do Estado do Espírito Santo”, conforme Decreto Nº 1.499-
R, de 14/06/2005 e na “Lista Oficial de Flora Ameaçada de Extinção”, conforme
Portaria IBAMA Nº 37-N, de 3/4/1992.
Também foram identificadas as espécies com distribuição geográfica restrita ou, até
mesmo, endêmicas. Essa informação foi obtida consultando a presença das
espécies ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, em bancos de dados digitais, tais como
o “SpeciesLink”, “Mobot”, “NYBG” e “Herbário CEN”, que contém informações sobre
o local de coleta dessas plantas. Apenas foram consideradas, nessa análise,
espécies com distribuição restrita à, no máximo, quatro estados brasileiros, que
representam casos de endemismos Pan-Atlântico, Regional (Sudeste) ou Local
(ES), conforme critérios indicados por Lima et al. (1997).
Todo o material coletado será incorporado ao acervo do Herbário MBML e ficará
disponível para consulta online pelo sistema “SpeciesLink”
(http://splink.cria.org.br/centralized_search? criaLANG=pt). A nomenclatura científica
foi revisada a partir da página eletrônica do Missouri Botanical Garden, disponível no
site: www.mobot.org.
141
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Fitofisionomia
Conforme apresentado anteriormente, foram designados dois remanescentes
florestais para a realização da caracterização da vegetação e levantamento florística
na Fazenda do Ouvidor (figura 44). O remanescente denominado “Área A”, além de
menor extensão, encontra-se praticamente isolado, em meio à pastagens e estradas
vicinais. Já a “Área B” está inserida em um grande bloco florestal que é cortado ao
meio pela rodovia ES-490, tendo sido analisado apenas uma parte (195 ha)
localizado na face noroeste do remanescente.
3.1.1. Remanescente “Área A”
O remanescente da “Área A” apresenta vegetação de porte arbóreo com dossel
variando de 15 a 20 metros e indivíduos emergentes alcançando 30 m de altura
(figura 47). No estrato superior podemos encontrar Joannesia principes (boleira),
Lecythis pisonis (sapucaia), Astronium graveolens (aderne), Crataeva tapia (tapiá) e
Ficus spp (gameleira, mata-pau). Algumas dessas árvores possuem troncos com
diâmetros superiores a 100 cm, embora os valores mais comuns de diâmetro
estejam na faixa de 20-40 cm.
O sub-bosque é estruturado e diversificado com presença de indivíduos jovens de
espécies do dossel além de arbustos e herbáceas (figura 5), tais como Bromelia
antiacantha (gravatá), Heliconia spato-circinata (bananeirinha) Dychorisandra sp e
Psycotria sp. Nos estratos médio e inferior destacam-se ainda as palmeiras (Figura
4), representadas pelas espécies Bactris setosa (tucum), Attalea humilis (pindoba) e
Astrocaryum aculeatissimum (palmito margoso).
O epifitismo não é muito comum nesse fragmento florestal, estando representado
por alguns indivíduos de aráceas (Philodendron sp e Anthurium coriaceum),
142
cactáceas (Epiphyllum sp, Riphsalis sp) e bromeliáceas (Tillandsia stricta, T.
usneoides, Aechmea multiflora) (figura 5).
a) b)
c) d)
Figura 57 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor,
município de Itapemirim (ES): a) borda com vegetação de grande porte; b) sub-bosque diversificado; c) sub-bosque com palmeiras; d) exemplo de epifitismo (Aechmea multiflora).
A serapilheira é abundante em alguns trechos, principalmente nos fundos de vale
(grota) onde a floresta também apresenta um maior desenvolvimento estrutural.
No interior da floresta são encontradas poucas lianas lenhosas, embora algumas
apresentem caule de grosso diâmetro (figura 6). As principais famílias de cipós
nessa área são Leguminosae, Sapindaceae e Malpighiaceae. Nas bordas essa
forma de vida está mais presente, assim como árvores e arbustos de espécies
pioneiras (Lorenzi 1998; 2002), como camará (Gochnatia polymorpha), cinco-folhas
(Sparathosperma leucanthum), mululo (Aegiphila integrifolia) e aroeira (Schinus
143
terebinthifolius), evidenciando o efeito de borda decorrente da fragmentação na
região.
Como indício da presença humana na “Área A” foi registrado apenas a retirada de
raízes adventícias de aráceas para fazer corda (“cipó”) (figura 48). No entanto o
gado bovino adentra em alguns trechos para o interior da mata, em busca de
sombreamento. Essa situação representa um forte impacto para a floresta, em
função do pisoteio dos animais sobre plântulas e espécies herbáceas do sub-
bosque, assim como pela entrada de plantas daninhas a partir de propágulos
oriundos das fezes ou do pêlo dos animais (figura 48).
a) b)
c) d)
Figura 58 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor,
município de Itapemirim (ES): a) liana de grande porte; b) borda de trecho secundário, com abundância de lianas; c) raízes adventíceas de arácea retirada para fazer corda; d) evidência de
outro impacto antrópico: fezes bovinas no interior do remanescente florestal.
144
De acordo com informações de moradores antigos da região o fragmento da “Área
A” nunca foi cortado, mas é provável que tenha sido realizado corte seletivo para
exploração de madeiras de maior valor comercial. A ausência de representantes de
grande porte de espécies enquadradas nesse critério corrobora essa hipótese.
Considerando o histórico da área e os aspectos florístico e fitofisionômico atuais do
fragmento denominado “Área A”, bem como sua posição geográfica, conclui-se tratar
de um remanescente com vegetação de Floresta Estacional Semidecidual em
estágio avançado de regeneração, que predomina em grande parte desse fragmento
florestal.
No entanto, alguns pontos da “Área A”, principalmente nas bordas, encontra-se com
menor desenvolvimento estrutural e com composição florística formada quase que
exclusivamente por espécies pioneiras. Nesse caso, esses trechos deveriam ser
classificados como em estágio médio de regeneração.
3.1.2. Remanescente “Área B”
A “Área B”, por sua vez, representa um remanescente florestal em excelente estado
de conservação, sem evidências de interferências antrópicas atuais e com grande
desenvolvimento estrutural.
A vegetação apresenta porte arbóreo com presença marcante de diferentes estratos,
sendo o superior (dossel) atingindo alturas entre 15-20 m, com exemplares
emergentes de até 30m (figura 49). A maior parte das árvores apresentam diâmetro
variando entre 20-40cm, sendo alguns superiores a 120 cm. No estrato superior são
comuns os angicos (Anadenanthera macrocarpa, A. peregrina, Albizia polycephala),
a sapucaia (Lecythis pisonis), o aderne (Astronium graveolens), inuíba vermelha
(Lecythis lurida), dentre outras.
Os estratos médio e inferior são bem estruturados e diversificados, com muitos
indivíduos pertencentes à espécies do dossel ou próprios dessas sinúsias (figura
49), com destaque para os representantes das famílias Rutaceae (Erythrochiton
145
brasiliensis, Esenbeckia grandiflora, Rauia sp), Rubiaceae (Faramea oligantha,
Simira sp), Myrtaceae (Campomanesia sp), Marantaceae (Maranta incrassata,
Saranthe leptostachya) , Acanthaceae (Justicia spp) e Bromeliaceae (Aechmea
chlorophylla) (figura 49).
a) b)
c) d)
Figura 59 - Aspectos da vegetação do fragmento florestal na “Área B” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) aspecto geral do fragmento; b) detalhe da borda da floresta; c)
estrato interior da floresta; d) planta herbácea do sub-bosque: Griffinia sp.
O epifitismo é relativamente comum nesse fragmento florestal, representado
principalmente pelas famílias Bromeliaceae (Aechmea multiflora, Bilbergia sp,
Tillandsia stricta, T. usneoides,), Araceae (Monstera adansonii, Anthurium
coriaceum), Cactaceae (Epiphyllum sp, Riphsalis sp) e Orchidaceae (Cyrtopodium
gigas) (figura 50).
146
A presença de liana é pouco expressiva, até mesmo nas bordas. Porém são,
normalmente, de grosso diâmetro e pertencentes às famílias Bignoniaceae,
Sapindaceae e Menispermaceae (figura 50).
Em relação à outros aspectos fisionômicos da floresta na “Área B”, destaca-se a
grossa camada de serapilheira no solo, ao longo de todo o trecho percorrido,
condição inicial para o desencadeamento dos processos de decomposição da
matéria orgânica e ciclagem de nutrientes, que representam o estoque potencial de
nutrientes para a vegetação de florestas tropicais (Louzada et al. 1995).
Conforme mencionado anteriormente, a antropização no remanescente florestal da
“Área B” é pouco evidente, pelo menos no trecho percorrido durante o presente
estudo, na face noroeste do remanescente. No interior da floresta existem poucas
trilhas e sem indícios recentes da presença humana. No entanto foram registrados
alguns indivíduos de grande porte com o tronco cortado simetricamente, o que
evidencia o uso de equipamentos específico de corte (figura 8). De acordo com suas
características morfológicas, alguns desses troncos foram identificados como
pertencentes à espécie Melanoxylon brauna (braúna). Isto confirma a informação de
moradores antigos no local que mencionaram ter havido corte seletivo de madeira
nos remanescentes em estudo.
147
a) b)
c) d)
Figura 60 - Vegetação do remanescente florestal na “Área B” - Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) exemplo do epifitismo no local; b) bromélia epífita: Aechmea multiflora; c) liana comum no sub-bosque: Abuta sp; d) exemplar de grande porte de braúna (Melanoxylon brauna)
cortado.
A partir do histórico da área e das características florísticas e fitofisionômicas atuais
da “Área B”, bem como sua posição geográfica, conclui-se tratar de um
remanescente com vegetação de Floresta Estacional Semidecidual em estágio
avançado de regeneração.
3.2. Flora
As três campanhas de campo totalizaram oito dias de campo, sendo coletadas 278
plantas. Esse valor representa um aumento substancial no registro de plantas para a
região, que era de apenas nove amostras (tabela 12), de acordo com a consulta aos
principais herbários do Brasil e alguns do exterior pelo sistema SpeciesLink. Dessas
148
plantas, anteriormente coletadas na região, duas estão depositadas no herbário do
Jardim Botânico de Nova Iorque (NY) e sete no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão
(MBML), todas da família Arecaeae (tabela 12).
Além dessas 278 amostras documentadas, outras 29 espécies foram incluídas na
atual listagem, decorrentes das plantas observadas nas campanhas de campo
(tabela 12). Apesar de essas espécies apresentarem ampla distribuição geográfica e
serem freqüentes nos ecossistemas onde ocorrem, inclusive no território capixaba
(Assis et al. 2004a; Thomaz e Monteiro 1997; Peixoto et al. 1998), deve-se empregar
esforços na tentativa de coletá-las e incorporá-las ao acervo do herbário, para que
fiquem legalmente registradas e disponíveis para futuras consultas.
A lista de espécies registradas para a Fazenda do Ouvidor, no município de
Itapemirim (ES), é composta por 268 espécies distribuídas em 76 famílias (tabela
12). As principais famílias em número de espécies são Leguminosae (30),
Rubiaceae (18), Bignoniaceae (14), Euphorbiaceae e Sapindaceae (9 cada),
Arecaceae, Bromeliaceae, Moraceae, Myrtaceae e Rutaceae (8 cada) e
Apocynaceae, Araceae e Piperaceae (6 cada) (tabela 12) (figura 51).
Ao todo, essas 13 famílias agrupam, aproximadamente, a metade das espécies
encontradas no local de estudo, enquanto cerca de 10% das famílias (26) aparecem
com apenas 1 espécie cada. A ocorrência de várias famílias com poucas espécies é
comum em outras florestas costeiras (Assis et al., 2004a; Jesus & Rolim, 2005;
Thomaz & Monteiro, 1997) e evidenciam uma característica desses ambientes
tropicais de apresentarem grande diversidade de espécies.
Tabela 16 - Lista de plantas registradas para a Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Porte: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente; Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita. Origem: c= coletada nas campanhas de campo; h= depositada em herbário; o= observada; Nº Col: número de coleta de A. M. Assis). # = espécie ameaçada de extinção; § ( ) = restrita/endêmico aos Estados entre parênteses Família Espécies Porte Origem N° Col
Aphelandra hirta (Klotzsch) Wassh. # § Her c 1360 Justicia brandegeana Wassh. & Lor. B. Sm. Her c 1451 Justicia sp1 Her c 1425 Justicia sp2 Esc c 1441
Acanthaceae
Ruellia sp Her c 1249 Amaryllidaceae Griffinia sp Her c 1466
Astronium graveolens Jacq. Ar o - Anacardiaceae Schinus terebinthifolius Raddi Arb c 1310
149
Família Espécies Porte Origem N° Col Spondias mobin L. Ar c 1476 Tapirira guianensis Aubl. Arb c 1250
Annonaceae Xylopia sp Ar c 1384 Rauvolfia grandiflora Mart. Arb c 1217 sp1 Lia c 1412 sp2 Lia c 1432 sp3 Lia c 1438 sp4 Lia c 1223
Apocynaceae
Tabernomontana sp Arb c 1263 Anthurium aff. harrisii G. Don Ep c 1365 Anthurium coriaceum G. Don # Ep c 1277 Heteropsis oblongifolia Kunth Hem c 1257 Monstera adansonii (Schott) Madison Ep c 1189 Philodendron glaziovii J. D. Hooker § Her c 1427
Araceae
Philodendron pedatum (W. J. Hooker) Kunth Hem c 1193 Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret Ar o - Attalea humilis Mart. ex Spreng. Pal h - Bactris caryotifolia Mart. Pal h - Bactris pickelli Burret # Pal c 1454 Bactris setosa Mart. Pal h - Desmoncus orthacanthos Mart. Esc c 1434 Desmoncus polyacanthus Mart. Pal h -
Arecaceae
Geonoma elegans Mart. Pal c 1352 Aristolochia sp1 Lia c 1326
Aristolochiaceae Aristolochia sp2 Lia c 1461 sp1 Lia c 1262
Asclepiadaceae sp2 Lia c 1297
Asteraceae Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Arb c 1252 Begoniaceae Begonia hirtella Link. # Her c 1212
Adenocalyma sp1 Lia c 1260 Adenocalyma sp2 Lia c 1423 Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart. Lia c 1488 Clytostoma sp1 Lia c 1325 Clytostoma sp2 Lia c 1443 Jacaranda sp Ar c 1251 Lundia sp Lia c 1219 Phryganocydia corymbosa Bureau ex K.Schum. Lia c 1307 sp1 Lia c 1203 sp2 Lia c 1407 sp3 Lia c 1473 Sparathosperma leucanthum (Vell.) K. Schum. Ar o - Tabebuia cassonoides (Lam.) DC. Ar c 1246
Bignoniaceae
Tabebuia sp Ar o - Bombacaceae Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns Ar c 1294
Cordia taguahyensis Vell. Arb c 1318 Cordia tricloclada DC. Arb c 1300 Heliotropium sp Her c 1354 Tournefortia sp1 Arb c 1218
Boraginaceae
Tournefortia sp2 Arb c 1237 Acanthostachys strobilacea (Schultes f.) Klotzsch Ep c 1284 Aechmea chlorophylla L. B. Smith § Her c 1421 Aechmea multiflora L. B. Sm. Ep c 1428 Bilbergia sp Ep o - Bromelia antiacantha Bertol Ep o - Cryptanthus sp Her o - Tillandsia stricta Sol. ex Sims Ep c 1197
Bromeliaceae
Tillandsia usneoides (L.) L. Ep o - Burseraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Arb c 1272
Brasilopuntia brasiliensis (Willd.) A. Berger Arb c 1375 Epiphyllum sp Ep o - Pereskia aculeata Miller Ep o - Pereskia grandifolia Hawarth Ar c 1416
Cactaceae
Riphsalis sp Ep o - Capparaceae Capparis sp1 Arb c 1265
150
Família Espécies Porte Origem N° Col Capparis sp2 Arb c 1244 Crataeva tapia L. Ar c 1232
Caricaceae Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. Ar c 1373 Cecropia glaziouvi Snethlage Ar o - Cecropia hololeuca Miq. Ar c 1436 Cecropia pachystachya Trécul Arb c 1248
Cecropiaceae
Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini Arb c 1283 Maytenus aquifolia Mart. Arb c 1364 Maytenus cestrifolia Reiss. § Arb c 1458 Maytenus cf. obtusifolia Mart. Arb c 1235
Celastraceae
Maytenus sp Arb c 1233 Licania sp1 Ar c 1419
Chrysobalanaceae Licania sp2 Arb c 1204
Clusiaceae Vismia brasiliensis Choisy Arb o - Dychorisandra sp1 Her c 1351
Commelinaceae Dychorisandra sp2 Her c 1359
Convolvulaceae Ipomoea sp Lia c 1313 sp Lia c 1256
Cucurbitaceae Wilbrandia sp Lia c 1321 Sloanea sp1 Ar c 1340
Eleocarpaceae Sloanea sp2 Ar c 1455 Erythroxylum sp Arb c 1374
Erythroxylaceae Erythroxylum squamatum Sw. Arb c 1303 Actinostemon sp Arb c 1207 Joannesia princeps Vell. Ar c 1192 Paradrypetes ilicifolia Kuhlm. § Ar c 1435 Pera glabrata (Schott.) Baill. Ar c 1491 Pera sp Arb c 1332 Senefeldera verticillata (Vell.) Croizat Ar c 1201 sp1 Ar c 1385 sp2 Arb c 1270
Euphorbiaceae
sp3 Arb c 1462 Banara sp Ar c 1276 Carpotroche brasiliensis Endl. Arb c 1440 Carpotroche sp Arb c 1208 Casearia sylvestris Swartz Arb c 1202
Flacourtiaceae
Prockia crucis L. Arb c 1383 Heliconiaceae Heliconia spatocircinata Aristeg. Her c 1342 Hernandiaceae Sparanthanthelium botocudorum Mart. Arb c 1302
Cheiloclinium sp Arb c 1239 Hippocrateaceae
sp Lia c 1298 Labiatae Salvia sp Her c 1381
sp1 Ar c 1241 sp2 Arb c 1324 Lauraceae sp3 Arb c 1430 Couratari asterotricha G. T. Prance # § Ar o - Lecythis lurida (Miers) Mori Ar c 1330 Lecythidaceae Lecythis pisonis (Camb.) Miers Ar o - Bauhinia longifolia (Bong.) Stend. Ar c 1474 Bauhinia ovata (Bong.) Vog. Ar c 1485 Caesalpinia ferrea Mart. Ar o - Chamaecrista ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & Barneby Arb c 1312 Chamaecrista sp Arb c 1483 Martiodendron mediterraneum (Mart. ex Benth.) Köppen Ar c 1315 Melanoxylon brauna Schott # Ar o - Moldenhawera floribunda Schrad. Ar c 1316 Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake Ar o - Senna sp Arb c 1266
Leguminosae Caesalpinoideae
sp Ar c 1444 Andira fraxinifolia Benth. Ar o - Andira legalis (Vell.) Toledo Ar o - Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. # Ar c 1205
Leguminosae Faboideae
Dioclea sp Lia c 1329
151
Família Espécies Porte Origem N° Col Machaerium ovalifolium Glaz. ex Rudd Ar c 1437 Swartzia apetala Raddi Ar c 1487 Swartzia simplex (Raddi) Cowan Ar c 1450 Zollernia sp Arb c 1238 Abarema sp Arb c 1322 Affonsea densiflora Benth. § Ar c 1213 Albizia polycephala (Benth.) Killip Ar c 1482 Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Ar c 1299 Anadenanthera cf. macrocarpa (Benth.) Brenan Ar c 1409 Anadenanthera peregrina (L.) Speg. Ar o - Inga capitata Desv. Arb c 1226
Leguminosae Mimosoideae
Inga edulis Mart. Ar c 1194 Inga sp Ar c 1369 Piptadaenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr. Ar o -
Leguminosae Mimosoideae
Plathymenia reticulata Benth. Ar c 1431 Loganiaceae Strychos sp Arb c 1288 Loranthaceae Psittacanthus dichrous Mart. Par c 1311
Byrsonima sp Arb c 1210 Heteropterys chrysophylla Kunth Lia c 1258 Heteropterys coleoptera Adr. Juss. Lia c 1308
Malpighiaceae
Tetrapterys lalandiana Adr. Juss. # § Lia c 1309 Malvaceae Pavonia sp Her c 1349
Calatea monophylla Koern. # § Her c 1362 Calatea sp Her c 1190 Maranta incrassata L. Andersson § Her c 1467
Marantaceae
Saranthe leptostachya Eichl. § Her c 1475 Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin Arb c 1449
Melastomataceae Miconia sp Arb c 1281
Meliaceae Trichilia hirta L. Arb c 1229 Abuta sp Lia c 1327
Menispermaceae Chondodendron platyphyllum (A. St. Hil.) Miers § Lia c 1334 Brosimum alicastrum Swartz Ar c 1289 Brosimum lactescens (S. Moore) C. C. Berg Ar c 1209 Clarisia sp Arb c 1363 Dorstenia sp Her c 1357 Ficus clusiifolia Schott Ar c 1291 Ficus sp Ar c 1268 Ficus trigona L. f. Ar c 1225
Moraceae
Sorocea guilleminiana Gaudich. Ar c 1269 Myristicaceae Virola bicuhyba (Schott) Warb. Ar o - Myrsinaceae Myrsine sp Arb o -
Campomanesia sp1 Arb c 1295 Campomanesia sp2 Ar c 1469 sp1 Arb c 1459 sp2 Arb c 1293 sp3 Arb c 1282 sp4 Arb c 1358 sp5 Ar c 1278
Myrtaceae
sp6 Arb c 1261 Guapira opposita (Vell.) Reitz Ar c 1206 Leucaster caniflorus Choisy § Esc h - Nyctaginaceae Ramisia brasiliensis Oliv. Ar o - Heisteria perianthomega (Vell.) H.O. Sleumer Arb c 1286
Olacaceae sp Arb c 1415 Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne # Ep c 1470 Galeandra beyrichii Rchb. f. # Her c 1465 Orchidaceae Oeceoclads maculata (Lindl.) Lindl. Her c 1378
Passifloraceae Passiflora edmundoi Sacco Lia c 1492 Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Ar o -
Phytolaccaceae Seguieria sp Esc c 1489 Ottonia sp Her c 1338 Piper amalago L. Arb c 1195 Piper arboreum Aubl. Arb c 1317
Piperaceae
Piper sp1 Arb c 1191
152
Família Espécies Porte Origem N° Col Piper sp2 Arb c 1196 Piper tuberculatum Jacq. Arb c 1339 Pharus lappulaceus Aubl. Her c 1254 Pharus latifolius L. Her c 1366 Poaceae sp Her c 1446
Polygalaceae Bredemerya sp Arb c 1215 Polygonaceae Coccoloba sp Ar c 1460
Alibertia sp Arb c 1247 Alseis floribunda Schott Ar c 1274 Coccocypselum sp Her c 1379 Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. Arb c 1273 Faramea aff. pachyantha Muell. Arg. Arb c 1468 Faramea oligantha Muell. Arg. § Arb c 1413 Geophila repens (L.) I.M. Johnst. Her c 1414 Melanopsidium nigrum Colla Ar c 1335 Palicourea sp Arb c 1240 Psychotria deflexa DC. Arb c 1347 Psychotria octocuspis Muell. Arg. § Arb c 1368 Psychotria sp Arb c 1453 Randia armata DC. Arb c 1442 Rudgea reflexa Zappi # § Arb c 1377 Simira sp Ar c 1478 sp1 Her c 1242 sp2 Arb c 1275
Rubiaceae
Tocoyena formosa K.Schum. Arb c 1279 Almeidea rubra A. St. Hil. Arb c 1371 Conchocarpus sp Arb c 1463 Dictyoloma vandellianum Adr. Juss. Arb o - Erythrochiton brasiliensis Nees & Mart. Arb c 1353 Esenbeckia grandiflora Mart. Arb c 1319 Galipea sp Ar c 1367
Rutaceae
Ravenia infelix Vell. Arb c 1457 Alophyllus edulis Radlk. ex Warm. Arb c 1271 Cupania racemosa (Vell.) Radlk Arb c 1411 Matayba sp Ar c 1304 Paullinia meliifolia Juss. Lia c 1230 Paullinia rubiginosa Camb. Lia c 1198 Paullinia trigonia Vell. Lia c 1406 Serjania caracasana (Jacq.) Willd. Lia c 1199 sp1 Ar c 1243
Sapindaceae
sp2 Lia c 1484 Chrysophyllum splendens Spreng. Arb c 1216 Manilkara sp Ar c 1486 sp1 Ar c 1245
Sapotaceae
sp2 Ar c 1341 Simaroubaceae Picramnia sp Esc c 1464
Herreria sp Lia c 1429 Smilacaceae
Smilax spicata Vell. # § Lia c 1350 Brunfelsia hydrangeiformis (Benth.) Plowman Her c 1337 Brunfelsia uniflora D. Don Arb c 1320 Solanaceae Solanum asperum Rich. Arb c 1296
Sterculiaceae Pterygota brasiliensis F. Allem. Ar o - Luehea grandiflora Mart. & Zucc. Arb c 1331
Tiliaceae Luehea sp Arb c 1285 Trigonia nivea Cambess. Arb c 1323
Trigoniaceae Trigonia rytidocarpa Casar. Lia c 1314 Celtis sp1 Arb c 1255 Celtis sp2 Esc c 1481 Ulmaceae Trema micrantha (L.) Blume Arb c 1236 Aegiphila integrifolia (Jacq.) B.D. Jacks. Arb c 1200 Aegiphila sp1 Esc c 1301 Aegiphila sp2 Arb c 1424
Verbenaceae
Lantana cf. brasiliensis Link Arb c 1380
153
Família Espécies Porte Origem N° Col Violaceae Anchietea sp Lia c 1221 Vitaceae Cissus erosa Rich. Lia c 1433 Vochysiaceae Vochysia sp Ar o -
sp1 Lia c 1439 sp2 Arb c 1370 Indeterminada sp3 Arb c 1267
30
18
14
9
9
8
8
8
8
7
6
6
6
131
0 20 40 60 80 100 120 140
Leg
Rub
Big
Euph
Sapi
Arec
Brom
Mor
Myrt
Rut
Apoc
Arac
Pip
OutrasFam
ílias
Nº de Espécies
Figura 61 - Distribuição do número de espécies dentre as principais famílias de plantas da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Legenda: Leg= Leguminosae; Rub= Rubiaceae; Big=
Bignoniaceae; Euph= Euphorbiaceae; Sapi= Sapindaceae; Arec= Arecaceae; Brom= Bromeliaceae; Mor= Moraceae; Myrt= Myrtaceae; Rut= Rutaceae; Apoc= Apocynaceae; Arac= Araceae; Pip=
Piperaceae).
Dentre as 268 espécies registradas nos remanescentes da “Área A” e “Área B” da
Fazenda do Ouvidor, a maioria é de porte arbustivo e arbóreo, seguido pelas lianas
e herbáceas (figura 52). Esses resultados vão de encontro à relação das famílias
com maior riqueza, a exemplo das três de maior riqueza (figura 51), que
apresentaram a maioria de suas espécies com porte arbóreo, arbustivo e como
lianas, respectivamente (tabela 12). Também são indicativos da maior diversidade
nos estratos médio e superior, e da importância das lianas nas sinúsias dessa
floresta estacional, sobretudo nas borda dos remanescentes.
A pouca expressão de epífitas na área (figura 52) pode ser considerada normal, uma
vez que em florestas estacionais semideciduais a condição climática e a
conseqüente resposta fisiológica das plantas (caducifoilia), contribuem para o
aumento da temperatura e diminuição da umidade no interior dessas formações
florestais, condições estas desfavoráveis para o estabelecimento de epífitas (Assis
et al. 2007).
154
Arb39,1%
Ar25,8%
Par0,4%
Lia16,2%
Hem0,7%
Her11,4%
Esc2,2%
Ep3,0%
Pal1,1%
Figura 62 - Distribuição das espécies registradas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), de acordo com seu porte. (Legenda: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente;
Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita).
Os resultados obtidos no presente estudo estão de acordo com a tendência
apresentada em florestas estacionais semideciduais. Leitão-Filho (1987) indica,
como principais famílias do componente arbóreo, Fabaceae (= Leguminosae),
Meliaceae, Rutaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae e Myrtaceae e, para os estratos
inferiores, as famílias Rubiaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae e Rutaceae.
O levantamento fitossociológico realizado por Archanjo (2008) na Floresta Nacional
de Pacotuba e na Reserva Particular do Patrimônio Natural Cafundó, ambas em
Cachoeiro de Itapemirim e representando a floresta estacional semidecidual sul
capixaba, as famílias arbóreas mais ricas foram Fabaceae (=Leguminosae),
Sapotaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae e Meliaceae.
Dentre as outras famílias que se destacaram pela elevada riqueza na Fazenda do
Ouvidor e que não estão presentes na lista dos autores loc. cit., novamente
aparecem com destaque as espécies trepadeiras (liana), que formam a maioria das
Bignoniaceae e Sapindaceae do local de estudo, contribuindo para o aumento do
número de espécies dessas famílias (figura 52).
A outra família em destaque, Arecaceae, pode ter sua posição dentre as mais ricas,
favorecida pelo esforço concentrado de coleta, em função do estudo acadêmico que
155
foi realizado com a mesma, e que contou com a Fazenda do Ouvidor como um dos
locais de coleta (Fernandes 1995). Esse fato pode ser comprovado pelas espécies
que já estavam depositadas em herbário pertencentes a essa família (tabela 12).
Por outro lado, Peixoto e Gentry (1990) indicam o predomínio de lianas da família
Bignoniaceae e das palmeiras (Arecaceae) como característica de floresta
neotropicais úmidas de baixada, o que também poderia ser uma característica
própria dessa floresta, apesar de seu regime estacional.
Comparando as famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor e
outras áreas de Mata Atlântica, verifica-se maior semelhança entre os ambientes
com a estação seca pronunciada (floresta estacional semidecidual) (tabela 2), e o
predomínio de Leguminosae em todas essas áreas e até mesmo em ambientes mais
úmidos, como na Estação Biológica de Santa Lúcia e na Ilha do Cardoso, onde a
mesma ocupa a 4ª e 3ª posição, respectivamente, dentre as famílias mais ricas
(tabela 13).
Asteraceae apareceu com destaque em quase todas as áreas comparadas, mas não
na Fazenda do Ouvidor (tabela 13), isso pode estar relacionado com a característica
reprodutiva da família, que apresenta síndromes de dispersão anemocórica (Barroso
et al., 1999) e, plantas com esse tipo de estratégia reprodutiva, normalmente
florescem e frutificam na estação seca (Yanamoto et al., 2007).
A região onde está localizada a Fazenda apresenta período mais seco entre os
meses de julho a setembro, e, portanto, fora da época em que o presente estudo foi
realizado (dezembro a março), em plena estação chuvosa (INCAPER/NEPUT 1999).
Portanto, a coleta de mais indivíduos dessa família somente ocorreria alguns meses
mais tarde, na estação seca. Além disso, essas plantas não são de fácil identificação
a partir da morfologia externa (Barroso et al. 1991b) e, dessa forma, não figuram na
listagem como “observadas”.
Tabela 17 - Dez famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES) e outras áreas do Bioma Mata Atlântica no sudeste brasileiro. (Águia Branca – Fernandes et al. 2007; EBC+PERD= Estação Biológica de Caratinga e Parque Estadual do Rio Doce - Lombardi e Gonçalves 2000; RFL = Reserva Florestal de Linhares – Peixoto et al. 1998; EBSL = Estação Biológica de Santa Lúcia - Fernandes e Assis 2001; Ilha do Cardoso –
156
Barros et al. 1991). FES = Floresta Estacional Semideicual; FEP = Floresta Estacional Perenifólia; FOD = Floresta Ombrófila Densa Faz. Ouvidor - ES (FES)
Águia Branca- ES (FES)
EBC+PERD - MG (FES)
RFL - ES (FEP)
EBSL - ES (FOD)
Ilha do Cardoso - SP (FOD)
Leguminosae
(30) Leguminosae (27) Leguminosae (125) Myrtaceae (113) Orchidaceae (119) Orchidaceae (118)
Rubiaceae (18) Myrtaceae (26) Rubiaceae (69) Leguminosae (110) Bromeliaceae (71) Myrtaceae (70)
Bignoniaceae
(14) Bromeliaceae (25) Asteraceae (51) Orchidaceae (88) Myrtaceae (55) Leguminosae (63)
Euphorbiaceae
(9) Orchidaceae (24) Bignoniaceae (49) Rubiaceae (59) Leguminosae (42) Poaceae (57)
Sapindaceae (9) Rubiaceae (20) Myrtaceae (39) Asteraceae (46) Melastomataceae
(33) Rubiaceae (50)
Arecaceae (9) Bignoniaceae (19) Euphorbiaceae
(35) Bignoniaceae (40) Rubiaceae (30) Asteraceae (43)
Bromeliaceae (8) Melastomataceae
(18) Solanaceae (33) Sapotaceae (40) Lauraceae (29) Bromeliaceae (41)
Moraceae (8) - Melastomataceae
(31) Sapindaceae (38) Arecaceae (28) Cyperaceae (39)
Myrtaceae (8) - Malpighiaceae (21) Euphorbiaceae
(38) Sapotaceae (24)
Melastomataceae
(34)
Rutaceae (8) - Moraceae (19) Lauraceae (37) Asteraceae (17) Piperaceae (26)
Total: 268 381 1.048 1.403 784 985
Os resultados das outras áreas comparativas (tabela 13) representam o esforço de
levantamentos florísticos realizados ao longo de vários anos de coleta, além desses
locais apresentarem uma área amostral superior ao do estudo na Fazenda do
Ouvidor e com mais formações vegetais (Fernandes e Assis 2001; Lombardi e
Gonçalves 2000; Peixoto et al. 1998), o que poderia explicar a maior riqueza desses
estudos. O levantamento em Águia Branca, no norte do Espírito Santo, mostrou
riqueza próxima ao do presente estudo, porém os resultados apresentados para
aquela região são preliminares (Fernandes et al. 2007) e, portanto os números
podem ser superiores aos atuais.
Essas análises devem ser realizadas com certa cautela em função do esforço
amostral no presente trabalho que, devido à característica desse tipo de estudo, foi
concentrado em poucos meses e, como indicado nos parágrafos anteriores, não
permitiu a coleta de algumas espécies cuja floração e frutificação se dá em meses
além do período em que ocorreram as coletas.
157
O pouco tempo de estudo também pode ter contribuído para o alto número de
plantas que não tiveram sua identificação completa. Apenas 56% das 268 espécies
foram identificadas em nível específico, tendo ainda 31% identificadas apenas em
gênero, 12% em família e 1% ficaram completamente indeterminadas (tabela 12).
Dentre as plantas não determinadas até espécie, estão algumas famílias muito
diversificadas e de difícil identificação (Barroso et al. 1991b; 1999; 2002), como
Euphorbiaceae, Lauraceae e Myrtaceae, que necessitam, portanto, de serem
analisadas por especialistas.
Essa problemática na identificação botânica é recorrente em estudos no Espírito
Santo (Thomaz e Monteiro 1997; Fernandes e Assis 2001), e foi abordada por Assis
(2007) que indica, dentre os fatores que contribuem na dificuldade de estudo com
plantas nesse estado, a baixa representatividade em herbário de exemplares de
alguns ecossistemas, como a floresta estacional semidecidual, que está relacionado
ao conhecimento, atualmente, insuficiente sobre a flora desses ambientes.
A realização de coletas englobando os demais meses do ano permitiria também o
registro de espécies que foram apenas observadas, como a sapucaia (Lecythis
pisonis), que se apresenta fértil ao final da estação seca (Lorenzi 2002). Dessa
forma a riqueza da Fazenda do Ouvidor tenderia a aumentar e a representatividade
das famílias e espécies seria mais próxima à realidade local.
Dentre as 268 espécies registradas nos remanescentes da “Área A” e “Área B” da
Fazenda do Ouvidor, estão presentes 13 (4,8 % do total) ameaçadas de extinção no
estado do Espírito Santo conforme listas oficiais, sendo a maioria enquadrada no
menor grau de ameaças (Fraga et al. 2007), ou seja, como “Vulnerável” (tabela 3)
(figura 53).
Tabela 18 - Relação das espécies identificadas como ameaçadas de extinção, conforme legislação Estadual e Federal, na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). EP = Em Perigo; V = Vulnerável; CP = Criticamente em Perigo
Família Espécies Porte Status Acanthaceae Aphelandra hirta Her VU Araceae Anthurium coriaceum Ep VU Arecaceae Bactris pickelli Pal VU
158
Begoniaceae Begonia hirtella Her EP Lecythidaceae Couratari asterotricha Ar EP Leguminosae Caesalpinoideae
Melanoxylon brauna Ar CP
Leguminosae Faboideae Dalbergia nigra Ar VU* Malpighiaceae Tetrapterys lalandiana Lia VU Marantaceae Calatea monophylla Her VU Orchidaceae Cyrtopodium gigas Ep VU Orchidaceae Galeandra beyrichii Her VU Rubiaceae Rudgea reflexa Arb EP Smilacaceae Smilax spicata Lia EP * apenas na Lista Nacional IBAMA - 1992
A espécie com maior grau de ameaça de extinção, conforme parâmetros utilizados
no estabelecimento da Lista Oficial (Fraga et al., 2007), dentre as 13 registradas
para a Fazenda do Ouvidor (tabela 14), é Melanoxylon brauna, classificada como
Criticamente em Perigo. Essa espécie ocorre com certa abundância e dominância
em outros ecossistemas capixabas, como nas Florestas de Tabuleiro no norte do
Estado (Rizzini e Garay 2004; Jesus e Rolim 2005), porém foi muito explorada pelas
propriedades de sua madeira, razão pela qual apresenta esse status de
conservação no estado do Espírito Santo (Kollmann et al. 2007).
As demais espécies ameaçadas de extinção registradas na Fazenda do Ouvidor
também ocorrem em outros ecossistemas capixabas, como as restingas:
Cyrtopodium gigas (Assis et al., 2004b); floresta ombrófila densa: Anthurium
coriaceum, Aphelandra hirta, Calathea monophylla, Galeandra beyrichii (Kollmann et
al. 2007b); floresta estacional semidecidual: M. brauna, Dalbergia nigra (Archanjo
2008) e floresta estacional perenifólia (Tabuleiro): Couratari asterotricha, Bactris
pickelli, M. brauna, D. nigra (Peixoto et al. 1998).
159
a) b)
c) d)
Figura 63 - Espécies ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) Aechmea multiflora (Bromeliaceae); b) Galeandra beyrichii
(Orchidaceae); c) Anthurium coriaceum (Araceae); d) Cyrtopodium gigas (Orchidaceae).
Pelo exposto, verifica-se que várias dessas espécies ameaçadas apresentam-se
bem distribuídas ao longo do território capixaba, porém, de acordo com Kollmann et
al. (2007a), a fragmentação dos ecossistemas é o principal fator de ameaça às
angiospermas no estado do Espírito Santo. O cenário de isolamento causado pela
fragmentação dificulta a reprodução entre as populações, acelerando a depreciação
gênica, podendo levar à extinção das espécies (Primack e Rodrigues 2001). Para
alguns grupos específicos, como Orchidaceae e Bromeliaceae, além desse fator
160
ainda existe a pressão extrativista com interesse comercial que leva à várias
espécies dessas famílias a estarem ameaçadas (Kollmann et al. 2007a).
Dentro do mesmo enfoque conservacionista, foi identificada a presença, na Fazenda
do Ouvidor, de 17 espécies (6,3 % do total) que apresentam distribuição geográfica
restrita (tabela 15). Dentre essas, algumas apresentam Endemismo Local, pois
ocorrem apenas no estado do Espírito Santo (Couratari asterotricha, Calatea
monophylla, Rudgea reflexa), enquanto em outras predomina os padrões
Endemismo Regional (Sudeste), como Philodendron glaziovii, Maytenus cestrifolia,
Paradrypetes ilicifolia, Tetrapterys lalandiana, Leucaster caniflorus, Smilax spicata, e
Endemismo Pan-Atlântico, pois estendem-se até o estado da Bahia (Aphelandra
hirta, Aechmea chlorophylla, Chondodendron platyphyllum, Psychotria octocuspis)
(tabela 4).
Tabela 19 - Espécies da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), com distribuição geográfica restrita/endêmica, de acordo com sua distribuição pelos estados brasileiros, presente na base de dados de herbários nacionais e estrangeiro.
Família Espécies Ocorrência (Estado)
Acanthaceae Aphelandra hirta RJ-MG-ES-BA Araceae Philodendron glaziovii SP-RJ-ES Bromeliaceae Aechmea chlorophylla ES - BA Celastraceae Maytenus cestrifolia SP - RJ - ES Euphorbiaceae Paradrypetes ilicifolia MG - ES Lecythidaceae Couratari asterotricha ES Leguminosae Mimosoideae Affonsea densiflora BA Malpighiaceae Tetrapterys lalandiana SP - RJ - ES Marantaceae Calatea monophylla ES Marantaceae Maranta incrassata TO Marantaceae Saranthe leptostachya RJ Menispermaceae Chondodendron platyphyllum RJ - MG - BA Nyctaginaceae Leucaster caniflorus RJ - ES - MG Rubiaceae Faramea oligantha BA Rubiaceae Psychotria octocuspis RJ-ES-BA Rubiaceae Rudgea reflexa ES Smilacaceae Smilax spicata SP - RJ
Há casos, ainda, de plantas que não haviam sido coletadas no Espírito Santo
(Affonsea densiflora, Maranta incrassata, Saranthe leptostachya, Faramea
oligantha), representando, dessa forma, os primeiros registros dessas espécies no
161
estado (tabela 15), e, consequentemente, a ampliação de sua área de ocorrência.
Dentre essas, ressalta-se M. incrassata que possui distribuição geográfica com
padrão Disjunto (Mori et al. 1981), pois há registros dessa planta apenas em um
estado brasileiro (TO), no bioma Cerrado, e, a mesma reaparece nos registros de
herbário, na Mata Atlântica do Espírito Santo.
Outra espécie com situação peculiar é Paradrypetes ilicifolia que foi classificada
como “Regionalmente Extinta” no estado do Espírito Santo, em virtude de ser
somente conhecida pelo material tipo e não ter sido coletada nos últimos anos no
Estado (Kolmman et al. 2007a). Há registro, na rede SpeciesLink, de coletas de P.
ilicifolia realizadas em meados do século passado em Minas Gerais e Espírito Santo
(décadas de 1920 a 1950), e recentemente (2003) essa espécie foi recoletada no
estado mineiro e também registrada em algumas localidades do centro-norte do
Espírito Santo, nos municípios de Linhares (Rolim et al 2006), Águia Branca e Santa
Leopoldina (H. Q. B. Fernandes, comunicação pessoal).
Dessa forma, a coleta de Paradrypetes ilicifolia representa a ampliação da
distribuição geográfica da espécie, expandindo para o sul do território capixaba, e
deve contribuir para a reavaliação do status de conservação indicada para a mesma,
que havia sido considerada “Regionalmente Extinta” (Kolmman et al. 2007a).
As informações a cerca da composição florística da Fazenda do Ouvidor deverão ser
refinadas quando for possível a dedicação de um maior tempo para coleta e
diagnóstico das espécies, partindo para um estudo minucioso de suas
características morfológicas e também comparação com o acervo de outros
herbários da região, além da possibilidade de envio de material à especialistas de
certas famílias. Novamente aqui, reitera-se a necessidade em se ampliar o período
de estudo, visando o conhecimento pleno de flora desses remanescentes de floresta
estacional semidecidual.
162
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Fazenda do Ouvidor, localizada no município de Itapemirim, região sul do estado
do Espírito Santo, apresenta-se como um dos últimos locais que apresentam
remanescentes da floresta estacional semidecidual com extensão considerável, ou
seja, a “Mata do Ouvidor”.
Os dois fragmentos estudados na região possuem vegetação em bom estado de
conservação, classificadas como floresta estacional semidecidual secundária em
estágio médio e avançado de regeneração, com pouca interferência antrópica e que
resguarda espécies típicas desse ambiente.
O levantamento florístico aponta um grande potencial de estudo para o local haja
vista o curto espaço de tempo dedicado ao levantamento e os resultados
encontrados, com 268 espécies e 71 famílias, sendo 13 espécies ameaçadas de
extinção no estado do Espírito Santo.
Dentre as espécies registradas na “Mata do Ouvidor”, 17 apresentam-se como
endêmicas, com distribuição geográfica restrita ao sudeste brasileiro e estado da
Bahia ou exclusivas do Espírito Santo. Algumas dessas espécies são mencionadas
apenas para outros estados da federação, representando seu primeiro registro no
estado capixaba.
Ressalta-se ainda a coleta de uma espécie considerada “regionalmente extinta” para
o estado do Espírito Santo, que contribuirá para a revisão do status de conservação
dessa espécie e demonstra a importância da realização de inventários florísticos em
áreas pouco estudadas no estado.
Tendo em vista o pouco conhecimento acerca da flora das florestas estacionais
semideciduais no estado do Espírito Santo, seria recomendável a continuidade do
estudo botânico no local, com a realização de levantamento florístico sistemático
visando a formação de uma coleção de referência para esse ecossistema localizado
163
na região sul do estado. Para tal é aconselhado um período mínimo de um ano de
estudo, de forma a abranger a variação climática existente no local.
A implementação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é de
fundamental importância, pois irá auxiliar na conservação dos remanescentes
florestais da região e, o presente estudo deve servir como subsídio na elaboração de
seu plano de manejo, que indiscutivelmente, deveria conter, dentro dos seus
programas, linhas de pesquisa enfocando inventários florístico e fitossociológico,
bem como ações de educação ambiental, considerando o potencial da área em
termos biológicos e conservacionista.
Ainda considerando a importância da “Mata do Ouvidor”, por sua extensão e bom,
estado de conservação, outra ação passível de ser implementada é a coleta de
sementes para a produção de mudas, não na RPPN propriamente dita, por ser uma
atividade legalmente não permitida em RPPN, mas na área de reserva legal da
propriedade. Com isso seriam fornecidos, a viveiros da região, material em
abundância e geneticamente diverso de espécies típicas de ambientes da floresta
estacional semidecidual, evitando o uso de plantas alóctones à esse ecossistema,
em projetos de reflorestamento no sul do estado do Espírito Santo.
Os remanescentes da “Mata do Ouvidor” representam o maior bloco contínuo de
floresta estacional semidecidual no sul do estado, e ainda conservam parte da
diversidade desse importante, e fragmentado, ecossistema capixaba, merecendo
todos os esforços possíveis no intuído de implementar sua conservação e
possibilitar mais estudos sobre a fauna e flora regionais, ampliando, dessa forma, o
conhecimento científico sobre as florestas estacionais no Espírito Santo.
A criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) na área da
Fazenda do Ouvidor (Usina Paineiras), no município de Itapemirim, certamente
contribuirá com a conservação da diversidade biológica local, principal objetivo
dessa categoria de unidade de conservação, atendendo, dessa forma, a indicação
da comunidade científica que indica essa região como prioritária para a conservação
da biodiversidade e para a implantação de unidades de conservação no estado do
Espírito Santo.
164
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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