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A HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: sua trajetória no período de 2009 a 2017 em
Londrina-PR.
Thaís Aparecida de Souza1
Sandra Maria Almeida Cordeiro2
Camilla kethelyn Dias Alves3
RESUMO: Este artigo analisa a Política de Habitação de Interesse Social no município de Londrina, por meio das contratações de programas habitacionais e de regularização fundiária implementados no período de 2009 a 2017. O estudo é resultado parcial de Projeto de Pesquisa, utilizando como metodologia pesquisa quantitativa e qualitativa, privilegiando o levantamento bibliográfico e documental, com recorte ao PLHIS destacando dois eixos para analises: a produção habitacional e a regularização fundiária. Os resultados alcançados apontam que, os investimentos na habitação de interesse social no município de Londrina são insuficientes no atendimento as famílias que dela necessitam.
Palavras-chave: Moradia, Habitação de Interesse Social, Déficit Habitacional e Plano Local de Habitação de Interesse Social.
ABSTRACT: This article analyzes the Housing Policy of Social Interest in the city of Londrina, through the contracting of housing programs and land regularization implemented in the period from 2009 to 2017. The study is a partial result of Research Project, using quantitative research methodology and qualitative, privileging the bibliographical and documentary survey, with a cut to the PLHIS highlighting two axes for analysis: housing production and land regularization. The results show that, investments in social housing in the municipality of Londrina are insufficient to provide services to families who need it.
Keywords: Housing, Housing of Social Interest, Housing Deficit and Local Housing Plan of Social Interest.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo trata da questão habitacional e o desenvolvimento da habitação de
interesse social no município de Londrina, como resposta à problemática. Dessa forma,
1Assistente Social, colaboradora externa do Projeto de Pesquisa (10798) UEL-PR, bacharela em
Serviço Social, e-mail: [email protected] 2Assistente Social e Docente, Universidade Estadual de Londrina-PR, doutora em Serviço Social, e-
mail: [email protected] 3Assistente Social, colaboradora externa do Projeto de Pesquisa (10798) UEL-PR, bacharela em
Serviço Social, e-mail: [email protected]
discorremos sobre os avanços obtidos no âmbito legislativo, a partir do ano de 2004 quando
foi promulgada e estruturada a Política Nacional de Habitação. O direito a moradia, por sua
vez, é resguardado por meio de uma emenda complementar4 que alterou o texto da
Constituição Federal de 1988, reafirmando no Art. 6. que: São direitos sociais a educação,
a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
(BRASIL, 1988)
Com a inclusão desse direito e as grandes mudanças ocorridas no cenário político
brasileiro no início do século XXI, as questões urbanas e em especial a habitação tiveram
destaque, tendo em vista a criação do Estatuto das Cidades, em 2001, do Ministério das
Cidades, em 2003 e em 2004 com a elaboração da Política Nacional de Habitação (PNH). A
PNH apresentava, primordialmente, o objetivo de garantir o acesso á moradia digna, bem
como reforçava que o problema da habitação era uma responsabilidade do Estado. O artigo
traz ainda, os pontos fundamentais na formação das cidades brasileiras com o processo de
industrialização e urbanização, que consequentemente teve reflexos significativos no
aumento demográfico, na expansão urbana e consequentemente na necessidade por
moradia.
O município de Londrina é um dos exemplos desse desenvolvimento urbano,
projetada para 20.000 habitantes, em 2000 já apresentava um número de 447.065
habitantes (IBGE 2000). O Município que, atualmente, vive um dilema na resolução das
demandas por habitação, já em 2017, conforme os dados levantados pela Companhia de
Habitação de Londrina (2018), contava com 3.860 famílias morando em áreas irregulares
em mais de 50 ocupações espalhadas pela cidade e região. O déficit estimado pelo Plano
Local de Habitação de Interesse Social - PLHIS, (2011), desse mesmo ano, apontava para a
carência de 17.884 moradias nas áreas urbanas e rural, já a demanda por habitação no
sistema da COHAB – LD contavam com mais de 50 mil inscritos.
Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo analisar a Política de Habitação
de Interesse Social do município de Londrina, no período de 2009 a 2017, identificando os
programas habitacionais que responderam à questão da habitação no Município, bem como
a regularização fundiária implementada neste período. Este estudo é parte do Projeto de
Pesquisa5 e o seu processo metodológico traz o direcionamento pela pesquisa quantitativa e
qualitativa, privilegiando o levantamento bibliográfico e documental. A pesquisa bibliográfica
se constituiu em analisar as discussões sobre o processo de urbanização e seus reflexos na
4 Emenda Constitucional nº 26/2000
5 Projeto de Pesquisa: DIREITO A CIDADE: a Interface da Politica Urbana com a Habitação de
Interesse Social na Região Metropolitana de Londrina e seus instrumentos de controle social – UEL
demanda por moradia, bem como sobre a política habitacional. No levantamento
documental foram realizadas leituras e análises do PLHIS elaborado em 2011 pelo
Município e do documento se extraiu dois eixos de estratégias: a produção habitacional e a
regularização de assentamentos precários.
A partir desses eixos, a análise demonstrou que os investimentos por parte do
Estado, no atendimento de moradia à população de baixa renda tiveram um reflexo ínfimo
na demanda apresentada, com efeito, a política de habitação de interesse social em relação
à realidade do Município tem sido ineficiente e insuficiente para atender a carência
habitacional das famílias de baixa renda.
2 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
Para discutir a questão habitacional temos como ponto de partida o processo de
industrialização e urbanização que seguiu o momento do capitalismo concorrencial no
século XIX.
Segundo LEFEBVRE (2001):
As forças produtivas da indústria que tende a se concentrar nas cidades agem poderosamente sobre os campos. É uma verdadeira revolução que a indústria provoca na agricultura e nas relações sociais dos agentes da produção agrícola: crescimento da superfície cultivada, mas diminuição da população rural, despovoamento dos campos. (LEFEBVRE, 2001, p.14)
A industrialização, a concentração fundiária e a mecanização do campo são
elementos inerentes que contextualizam o processo de urbanização. No Brasil, esse
processo teve as suas raízes na história colonial. Os primeiros centros urbanos surgiram no
século XVI, ao longo do litoral nordestino em razão da produção do açúcar. Nos séculos
XVII e XVIII, a descoberta de ouro fez surgir vários núcleos urbanos no interior do território e
no século XIX a produção de café se destacou dentro do processo de industrialização,
afirma Santos (1993). Para o autor, o Brasil deixou o século XIX com aproximadamente 10%
da sua população residindo em cidades.
Ribeiro (2006) afirma que:
[...] o solo urbano [...] traduz a existência de uma luta social por usos diferenciados, que ganha contornos mais claros quando se considera que, possa ser também esse solo terra de habitação, os mecanismos econômicos e jurídicos que geram remoção, localização diferencial e controle que implicam a segregação social e espacial de amplos segmentos da população metropolitana. (RIBEIRO, 2006, p.46)
É importante frisar que, segundo ROLNIK (2015), o processo de industrialização no
Brasil, ocorreu de forma tardia, e somente com os investimentos por parte dos governos é
que esse processo pôde avançar. Com o objetivo global de fazer do Brasil um país
industrial, um conjunto de medidas começam a ser implementadas, entre elas: a
mecanização do trabalho no campo e a instalação das indústrias nas cidades. Os reflexos
dessas medidas são o deslocamento da população rural para a área urbana, em busca de
novas oportunidades de trabalho, desencadeando um novo processo no território brasileiro,
denominado como processo de urbanização.
No entanto, o deslocamento intenso da população rural para as áreas urbanas
combinadas com a falta de infraestrutura das cidades e de ações que visassem responder a
carência por moradia resultou em uma mudança significativa tanto nas demandas
apresentadas ao Estado, quanto no estilo de vida da sociedade. Segundo MARICATO
(2001), foi a partir do final do século XIX e início do século XX que, muito lentamente, as
cidades brasileiras conheceram algumas reformas urbanas. Essa iniciativa impulsionara,
ainda mais, o crescimento da população urbana e lançara as bases de um urbanismo
moderno.
Realizavam-se obras de saneamento básico para a eliminação das epidemias, ao mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram implantadas as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era expulsa para os morros e franjas da cidade. Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Santos, Recife, São Paulo e especialmente o Rio de Janeiro são cidades que passaram por mudanças que conjugaram saneamento ambiental, embelezamento e segregação territorial, nesse período. (MARICATO, 2001, p.17)
Historicamente, o processo de urbanização no País contou com inúmeras
intervenções do Estado. No período de 1930, essas intervenções tiveram o objetivo de
substituir o número de importações e atender as demandas locais, bem como, os
investimentos em obras de infraestrutura, que tinham como finalidade o desenvolvimento
industrial, oportunizando a ascensão da burguesia industrial ao cenário político.
Em 1940, percebe-se segundo SANTOS (1993, p.9), “uma verdadeira inversão da
população rural em urbana”, nessa década a população urbana representava o número de
10.891.000 pessoas. E isso, se intensificou ainda mais, como mostra o Censo de 1950, com
18.783.000 pessoas morando nas cidades, a partir da incidência de vários fatores: o
ingresso de estrangeiros no Brasil; com a adesão de um novo modelo de produção (sistema
fordista); com a alta taxa de natalidade e a queda nos números de mortalidade. Um dos
elementos relevantes, que incidiu diretamente no processo de urbanização, foi à omissão do
capital industrial em arcar com os custos da moradia para com a classe trabalhadora. As
atrativas oportunidades de trabalho, que contribuíram para a vinda de grande parte da
população para as áreas urbanas, não eram de todo atrativas.
A moradia é um dos componentes essenciais à reprodução da força de trabalho, no
entanto, quando há omissão por parte do capital para custeá-lo ou mesmo do Estado na
viabilização do acesso à moradia, inúmeras famílias passam não só a compor parte do
déficit habitacional, como em algumas situações a adequar-se a condições desumanas.
Nesse contexto, a década de 60 é palco de um forte investimento na urbanização
brasileira com obras de infraestrutura na chamada política de industrialização, dentre elas,
destaca-se a construção de ferrovias. Com o golpe de 1964, o movimento militar criou as
condições de uma rápida integração do país à economia internacional que influenciou no
processo de urbanização. SANTOS (1993, p.36)
O processo de globalização foi outro fenômeno que ganhou espaço e que alterou
radicalmente o ordenamento das cidades. Este movimento teve início a partir da década de
1970 com o declínio econômico do pós-guerra e ganhando força por meio da injeção
monetária realizada nos países emergentes. Considerando que o Brasil, é um país periférico
e de economia em desenvolvimento, o tripé composto pela globalização, políticas
neoliberais e o acelerado e desordenado processo de urbanização das cidades, traz consigo
respostas negativas. Sendo um país de contradições onde o crescimento econômico
caminha junto com a pobreza constante, as autoras CARLOTO e CORDEIRO asseguram
que:
O acelerado processo de urbanização do Brasil, nas últimas décadas acarretou um quadro de deficiência, no que diz respeito ao desenvolvimento urbano, com déficit elevado em habitação, saneamento, infraestrutura e com acesso precário aos equipamentos públicos e sociais, afetando principalmente a população mais desprovida de condições econômicas. (CARLOTO E CORDEIRO, 2009, p.43)
A união da globalização com as políticas neoliberais contribui com impactos
calamitosos nas cidades, como o desenfreado crescimento populacional urbano. Os dados
do Centro Regional de Informação das Nações Unidas – UNRIC (2015) revelam que a
População Urbana Mundial tem crescido rapidamente passando de 746 milhões ano de
1950 para 3,9 mil milhões em 2014 e faz projeções:
Espera-se que em 2045 a população urbana mundial ultrapasse os seis mil milhões. Muito do esperado crescimento urbano terá lugar nos países das regiões em desenvolvimento. Consequentemente, esses países enfrentarão inúmeros desafios em atender às necessidades do crescimento da população urbana, inclusive para a habitação, para as infraestruturas, transportes, energia e emprego, assim como para os serviços básicos como a educação e os serviços de saúde. (UNRIC, 2015)
O processo intenso de urbanização aliado a um contexto de desigualdade
econômico social contribuiu para o aparecimento e acirramento de vários problemas no
interior da sociedade, dentre eles a violência, o desemprego, as doenças, a insegurança, os
ambientes insalubres, a precariedade das condições de vida da população e a falta de
moradia. A realidade dos problemas urbanos, e entre eles a falta de moradia requereu do
Estado um posicionamento e intervenção a fim de garantir as famílias brasileiras,
principalmente às de baixa renda, uma condição digna de moradia. Como aponta a
habitação de interesse social que visa garantir o atendimento das camadas populacionais
mais vulneráveis em relação, a um dos direitos essenciais à vida humana, a moradia.
Nesse sentido, na história brasileira, puderam ser constatadas algumas
intervenções por parte do Estado, no intuito de minimizar ou solucionar a questão
habitacional. No entanto, a partir da inclusão do direito a moradia na Carta magna e com o
avanço legislativo referente à área da habitação, é que se acreditava na maior possibilidade
de progresso, no que tange a resolução da falta de moradia através da atuação do Estado.
2.1 O Estado brasileiro e o direito a moradia: a experiência de Londrina
A história das atuações estatais no Brasil, no enfrentamento do problema de
moradia, anterior ao marco regulatório habitacional, não estiveram sustentadas sobre um
planejamento urbano. Acrescentam-se, neste sentido, que tais investimentos na área da
habitação, além de terem sido insuficientes para suprimir o déficit habitacional existente, por
vezes, tiveram seus objetivos alterados em relação ao atendimento as famílias de menor
poder aquisitivo, contribuindo para a segregação sócio espacial.
Com o processo de redemocratização, a questão da moradia foi inicialmente
contemplada na nova legislação com a inclusão da função social da propriedade na
Constituição Federal de 1988. Dessa forma, a função social da terra desencadeou um
grande avanço, no que tange ao aspecto legislativo, como proposta de ações que visassem
à redução da desigualdade brasileira, contribuindo assim, para se pensar no atendimento de
moradia às famílias de baixa renda (OLIVEIRA, 2012).
Oliveira (2012) afirma que, o caráter social do atendimento à moradia para famílias
de baixa renda, recebe atenção especial, doze anos mais tarde com a afirmação da moradia
como um direito social. Para além da nova concepção sobre o uso da terra com vistas ao
enfrentamento da desigualdade no País, o novo marco legal propõe o rompimento de um
modelo centralizador na gestão das políticas públicas, até então pautada somente na esfera
federal. As diretrizes da Constituição de 1988 pressupunham a descentralização das
políticas sociais, na perspectiva de responder aos problemas da sociedade, a partir das
especificidades de cada região.
[...] na década de 1990, observa-se que nas demais áreas estratégicas, principalmente ligadas ao desenvolvimento urbano, há um vazio institucional implicando diretamente na dificuldade ou na capacidade dos municípios desempenharem a gestão de determinadas políticas. (OLIVEIRA, 2012, p.54)
Esse vazio, mais tarde, no início do século XXI, é preenchido por um período de
estruturação de leis na área urbana, e com a aprovação do Estatuto da Cidade6 em 2001,
trouxe um conjunto de instrumentos visando o planejamento e a gestão da cidade. Em 2003
são criados o Ministério das Cidades composto por quatro secretarias: Secretaria Nacional
de Habitação; Secretaria Nacional de Programas Urbanos; Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental e a Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana e o
Conselho Nacional das Cidades composto por quatro comitês: Habitação; Planejamento
Territorial e Urbano; Saneamento Ambiental e Transporte e Mobilidade Urbana (MANCINI,
2008).
Já no ano de 2004 ocorre o marco da estruturação da Política Nacional de
Habitação que teve como objetivo central criar condições para o acesso à moradia digna a
todos os segmentos da população e, para tanto, está organizada em três eixos: política
fundiária, política financeira e estrutura institucional (BONDUKI; ROSSETTO; GHILARDI,
2009).
A Política Nacional de Habitação (PNH) estabeleceu o Sistema Nacional de
Habitação, á partir de dois subsistemas: Habitação de Interesse Social e Habitação de
Mercado. A regulamentação do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
(SNHIS), foi implementada pela Lei nº 11.124 em junho de 2005 e conta com o Fundo
Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), bem como, seu Conselho Gestor
(CGFNHIS), a partir da articulação com os órgãos gestores (BRASIL, 2004).
O momento singular para a área da habitação foi seguido de uma crise
macroeconômica, nesse sentido, a reação do governo brasileiro à crise internacional foi
rápida, adotando medidas de expansão do crédito pelos bancos públicos (Banco do Brasil,
BNDES e Caixa Econômica), de forma a compensar a retração do setor privado, e também
medidas de apoio aos setores em dificuldades. Outra medida do governo federal que veio
de encontro à área da habitação foi à criação do Programa Minha Casa, Minha Vida
(PMCMV), que permitia fomentar a economia no país e atender a demanda por moradia
existente. Dessa forma, os recursos disponíveis deveriam ser acessados mediante a adesão
6 Lei de nº 10.257 de 10 de julho de 2001, e teve como ponto de partida o Projeto de Lei nº181/1989,
que visava regulamentar o capítulo sobre a política urbana da nova Constituição Federal (Lei infraconstitucional).
e cumprimentos de critérios dos entes federativos, igualmente recomendável ao município
de Londrina.
O município de Londrina em 2009 aderiu ao SNHIS cumprindo as condicionalidades
impostas, entre elas a elaboração do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS),
aprovado em 2011. Esse plano forneceu o conhecimento das fragilidades urbanas do
Município, o déficit habitacional e as diretrizes para a atuação habitacional. Dentre as
estratégias pontuadas como enfrentamento da questão habitacional, destacamos a
produção habitacional e a regularização fundiária. A partir desses eixos, realizamos uma
comparação com os dados fornecidos pela COHAB-LD na execução das ações definidas
pelo PLHIS e a evolução da demanda por moradia do Município.
Necessário se faz apresentar aqui, um panorama do contexto habitacional do
Município, que segundo a COHAB-LD (2017), entre os anos de 2009 a 2017, a realização
de novas inscrições no sistema da Companhia chegou a 45.782. Nos respectivos anos, a
demanda por moradia no Município alcançou seu auge no ano de 2009 com 13.073
inscrições, como demonstra a tabela abaixo.
Tabela 1 – Evolução da demanda por moradia em Londrina
INSCRIÇÕES POR ANO NA COHAB-LD
ANO 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
INSCRIÇÕES 13.073 6.641 6.794 5.806 3.921 4.172 2.706 1.241 1.428
Fonte: COHAB-LD 2017
A que se considerar que o auge de inscrições no ano de 2009 coincidiu com o
lançamento de um dos programas do governo federal, o PMCMV, que teve em Londrina um
dos seus maiores empreendimentos. O Residencial Vista Bela, localizado na região norte
que, posteriormente, veio a atender inúmeras famílias em condição de carência habitacional.
A COHAB-LD vive um dilema na condução da política habitacional, como a gestora
dessa política, atualmente convive com a ausência de recursos para investir em projetos,
que visem mitigar a demanda por moradia. Outro problema de grande proporção no
município, dentro do contexto habitacional, é o aumento das ocupações irregulares,
demonstrado pelos dados do último levantamento feito pela Companhia na tabela abaixo:
Tabela 2 – Evolução das áreas de reassentamento
NÚMERO DE OCUPAÇÕES IRREGULARES POR ANO
ANO DE LEVANTAMENTO
Nº DE OCUPAÇÕES Nº DE FAMÍLIAS Nº DE PESSOAS
2009 36 2153 6171
2012 31 1154 4497
2013 29 1041 3294
2014 36 1439 4174
2015 40 1693 5764
2017 56 3160 10867
Fonte: COHAB-LD 2017
De acordo com a tabela acima, as ocupações irregulares de 2014 até 2017
aumentou significativamente, considerando o último levantamento, um total de 56
ocupações. Quanto ao número de famílias vivendo em situação de irregularidade, a região
norte comporta o maior número de famílias com 1578. Vale ressaltar, que uma dessas
ocupações está concentrada em uma das obras inacabadas do PMCMV denominada Flores
do Campo desde outubro de 2016, o que ocorreu após a paralização das obras.
Diante do déficit habitacional que apresentou o Município, no período
correspondente, consideramos analisar, a partir de dois eixos estratégicos: a produção
habitacional e a regularização de assentamentos precários, o impacto dos investimentos
estatais frente à demanda do Município por moradia. Tendo em vista que, em Londrina, nos
últimos anos assistimos a tão falada “lista” da COHAB-LD aumentando em grande número
os seus inscritos. Até o ano de 2017 o sistema contava com 57.492 inscritos, sendo que
desses, 51.093 apresentavam renda inferior a 1.800,00 reais, ou seja, enquadravam-se na
habitação de interesse social.
Conforme a COHAB-LD, o quantitativo de produção habitacional realizado no
período correspondente de 2009 a 2017 esteve em torno de 4.432 unidades nas
modalidades verticais e horizontais, e em sua grande maioria implementada pelo PMCMV.
Porém, se tomarmos como base somente as novas inscrições realizadas no sistema da
COHAB-LD, entre os anos de 2009 a 2017, (45.782 inscritos) e relacionarmos aos
resultados das produções de moradia no mesmo período, temos um percentual de
atendimento de aproximadamente 9%.
Em relação à regularização fundiária, os números se mostraram mais expressivos.
A COHAB–LD vem atuando no Programa de Regularização Fundiária por meio da Lei
Municipal nº 9.866/2005, parágrafo 3º do Art. 17, alterada pela Lei Municipal nº 12.215/2014.
Segundo a Companhia, até dezembro de 2017 haviam sido entregues 5.938 títulos de
propriedade em 33 áreas do Município. Por conseguinte, o levantamento do total de
assentamentos precários no Município apontou para 56 ocupações, não obstante, somente
13 áreas estão passiveis de regularização, e encontra-se em diversos estágios de
regularização. Tendo em vista, segundo o PLHIS, que em 2007 havia 69 ocupações
irregulares, é possível que após dez anos o problema das ocupações irregulares ainda
persiste. Contando que, das 69 ocupações existentes em 2007, 33 áreas já foram
regularizadas, ao invés de contarmos com 36 ocupações, atualmente, o Município
contabiliza 56 ocupações irregulares. Sendo assim, podemos inferir que 20 novas áreas
foram sendo ocupadas, demonstrando a urgente necessidade de propostas efetivas para
essa população, caso contrário, esse problema está longe de ser resolvido.
3 CONCLUSÃO
A necessidade por habitação surge com mais intensidade diante da emergência do
processo de industrialização, provocando uma significativa transformação no mundo do
trabalho e nas condições de vida das famílias. A expansão do processo de industrialização
se deu no século XVIII com início nos países europeus, acontecendo de forma mais tardia
nos países periféricos. O Brasil, por sua vez, teve o seu desenvolvimento logo após a
Segunda Guerra Mundial (1945) e como aconteceu com outros países, no Brasil não foi
diferente, o processo industrial trouxe no seu bojo o processo de urbanização e o
crescimento populacional das cidades.
Os reflexos desse adensamento populacional exigiram por parte do Estado a sua
intervenção. Nesse sentido, o País teve vários ensaios políticos na tentativa de atenuar o
problema da falta de moradia, mas é nas três últimas décadas, que houve um avanço
significativo no reconhecimento da necessidade de habitação como fator essencial à
existência humana. A moradia já havia sido apresentada nos tratados internacionais como
um direito humano e essencial à vida. Mas, só vem ser contemplada como direito social,
doze anos após a elaboração da Carta Magna, que previa a democratização da terra, a
partir da inserção da função social da terra.
A partir de então, começam a serem estruturadas as legislações concernentes a
área urbana e em especial a habitacional, entre elas, a Política Nacional de Habitação
(PNH) em 2004. A PNH por intermédio do Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social (SNHIS) lançava as diretrizes para a habitação de interesse social, a partir de seus
instrumentos: o fundo, o conselho e o plano municipal de habitação de interesse social.
Porém, em 2009 com o lançamento do PMCMV, o município de Londrina, além de criar o
fundo e o conselho, iniciou a elaboração do Plano Local de Habitação de Interesse Social –
PLHIS, documento que identifica as condições de carência urbana do Município, bem como
as estratégias de intervenção a fim de aderir ao SNHIS e acessar os recursos disponíveis à
habitação.
Dado o exposto, consideramos que o município de Londrina durante os referidos
anos, a partir das diretrizes do SNHIS pôde empreender uma gestão que contemplasse a
proposta de descentralização. Pois, com a implantação do fundo, do conselho e do plano
local, o Município ia se estruturando e conhecendo as próprias dificuldades locais, no
entanto, ao se ancorar sobre o PMCMV, deixou de estruturar a política habitacional no
Município.
Em suma, mesmo diante de uma gama de legislações que apontam para o direito à
moradia, o Município vive hoje, o dilema do crescimento de ocupações irregulares e de
famílias que diariamente batem na porta da COHAB–LD demandando por atendimento de
moradia. Nessa lógica, podemos considerar que, atualmente, o município de Londrina não
conta com uma política efetiva na área da habitação de interesse social. Ademais, as ações
executadas pelo poder público como respostas ao problema habitacional no Município
figuraram-se como ações pontuais e fragmentadas, simbolizando os reflexos de uma política
de governo e não, como uma política de Estado.
Nesse sentido, consideramos relevante propostas como: a estruturação de uma
Política Municipal de Habitação; a busca por fontes de recursos que venham viabilizar a
execução de projetos habitacionais e o comprometimento com linhas de planejamento que
contemplem a interação com as demais áreas afetas ao problema da moradia, como o
Plano Diretor, o PLHIS entre outros, assegurando mais que uma edificação propriamente
dita, mas a moradia digna, ou seja, o Direito à Cidade.
REFERÊNCIAS
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