a história de uma amizade com um homem extraordinário€¦ · por volta da meia- -noite, parti...

24
A história de uma amizade com um homem extraordinário

Upload: hoangkien

Post on 05-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A história de uma amizade

com um homem extraordinário

Meu amigo Michael_320p.indd 3 7/17/12 5:28 PM

Para Michael, meu professor – obrigado por ter sido um pai, um irmão, um mentor e um amigo, e por ter

me proporcionado a maior aventura que eu poderia ter imaginado. Eu amo você e sinto sua falta todos os dias.

Com todo o meu amor,Frank

Para Paris, Prince e Blanket – sou apaixonado por vocês três. Quando vieram ao mundo, trouxeram luz, energia e sentido renovados para a vida de seu pai. Fizeram dele a pessoa mais

feliz do mundo. Nada era mais importante do que vocês para Michael, que não poderia ter sonhado com filhos mais inteligentes, bonitos e bem-comportados. Reconheço algo do meu amigo em cada um de vocês e vê-los crescer me deixa feliz por ele. Espero que a leitura deste livro lhes traga boas lembranças de seu pai e do amor que ele sentia pelos três.

Quero que saibam que sempre poderão contar comigo.

Para Frank “Tookie” DiLeo – antes de tudo, quero lhe agradecer por ter amado e protegido Michael durante todos esses anos. Ele o amava muito. Sinto falta de nossos almoços à beira da piscina do Beverly Hilton Hotel e de ouvir suas histórias malucas e experiências de vida. Obrigado por ser

um mentor e uma figura paterna para mim. Sinto muito sua falta e tenho um grande amor por você.

Meu amigo Michael_320p.indd 5 7/17/12 5:28 PM

Para os fãs de Michael Jackson – escrevi este livro com o intuito de lhes mostrar um lado pessoal de Michael que vocês talvez

não conheçam. Espero que possam apreciar o ser humano que havia por trás de todo o seu enorme talento. Ao longo de 25

anos, minha família e eu tivemos o privilégio de ver o mundo através da perspectiva dele. Aos olhos de Michael, o mundo era

um lugar muito diferente. Ele era, acima de tudo, inocente.

Todos tivemos a sorte de ser agraciados pela sua presença neste mundo. Ele não era apenas meu amigo Michael,

mas sim o nosso amigo Michael.

Meu amigo Michael_320p.indd 6 7/17/12 5:28 PM

sumário

Prólogo 9

PARTE UM

O Clube dos Cabeças de Maçã

1 Um novo amigo 172 O rancho 273 Adeus, normalidade 434 Mundo extraordinário 535 O preço 636 Dois mundos 707 Fazendo HIStory 818 Mapas mentais 909 Um novo pai 105

PARTE DOIS

Frank Tyson e Sr. Jackson

10 Subindo na vida 11911 Novo papel 13012 A vida em Neverland 14613 Cem canções 15914 Desamparado 16415 O inesperado 17416 O fundo do poço 18017 O show continua 19918 Interlúdio 213

Meu amigo Michael_320p.indd 7 7/17/12 5:28 PM

PARTE TRÊS

Michael e eu

19 Um método para minha loucura 231 20 Mal-entendido 24721 Falsas acusações 26322 Justiça 27723 Reconciliação 28724 O impensável 295

Epílogo 306Agradecimentos 311

Meu amigo Michael_320p.indd 8 7/17/12 5:28 PM

9

prólogo

Eu estava dirigindo pelas ruas de pedras escuras de Castelbuono, na Itália, quando liguei o celular. Na mesma hora os torpedos começaram a chegar, um atrás do outro, tão depressa

que nem dava tempo de ler tudo. Frases como “É verdade?” e “Você está bem?” apinhavam a tela, numa enxurrada de perguntas e preocupação. Eu não fazia ideia do que se tratava, mas sabia que a notícia não podia ser boa.

Na comuna de Castelbuono, terra natal de minha família, muitas pessoas têm duas casas: uma na cidade, onde trabalham, e outra nas montanhas, onde passam o verão plantando suas hortas e cuidando de suas figueiras. Eu passara a noite na casa de veraneio do homem que me alugara uma casa na cidade. Havia sido chamado por ele para um jantar com outras seis ou sete pessoas, sendo que eu era o convidado de honra, pois, em Castelbuono, chegar de avião vindo de Nova York já é motivo para ser recebido de braços abertos.

Era 25 de junho de 2009. Não havia tanta gente à mesa, mas, como em todo bom jantar italiano, tinha comida, vinho e grapa de sobra. Durante a refeição, desliguei o celular. Depois de anos vivendo preso a esse apare-lho, passei a adorar os momentos em que as boas maneiras me obrigam a desligá-lo. Os outros convidados e eu estendemos aquela noite agradável antes de finalmente nos despedirmos de nosso anfitrião. Por volta da meia- -noite, parti com alguns amigos para a casa que havia alugado, seguindo o carro do meu primo Dario pelas estradas de terra até a cidade.

Então, enquanto os torpedos entupiam meu telefone, o carro do meu primo Dario deu uma guinada em direção ao acostamento e parou de repente. Assim que o vi encostar, tive certeza de que aquilo que eu come-çava a decifrar das mensagens de texto só podia ser verdade. Estacionei

Meu amigo Michael_320p.indd 9 7/17/12 5:28 PM

10

atrás de Dario. Ele se aproximou correndo do meu carro, exclamando: “O Michael morreu! O Michael morreu!”

Eu saí de trás do volante e comecei a andar pela estrada, sem rumo. Estava entorpecido. Chocado.

Não sei quanto tempo se passou até que finalmente telefonei para uma das funcionárias mais leais de Michael, uma mulher que chamarei de Karen Smith. Seria aquilo um truque de Michael? Uma pegadinha para a imprensa? Ou uma tentativa insana de escapar de algum show? Para minha tristeza, Karen confirmou a notícia. Choramos juntos ao telefone. Não falamos muito, apenas choramos.

Depois que desliguei o celular, simplesmente continuei andando. Meus amigos esperavam no carro. Meu primo, que estava me seguindo, dizia:

– Frank, entre no carro. Vamos, Frank.Mas eu não queria ninguém por perto.– Nos vemos em casa – falei enquanto me afastava dele. – Só quero que

me deixem em paz.Então fiquei sozinho. Caminhei pelas ruas de pedras, sob a luz dos pos-

tes, até bem tarde naquela noite de verão. Michael, que eu considerava um pai, um mentor, um irmão, um amigo. Michael, que por tanto tempo fora para mim o centro do mundo. Michael Jackson estava morto.

Eu tinha 4 anos quando o conheci e não demorou muito para ele se tornar um amigo íntimo da família, visitando nossa casa em Nova Jersey e passando Natais conosco. Quando criança, passei muitas férias em Neverland, tanto com a família quanto sozinho. Na adolescência, meu irmão Eddie e eu acompanhamos Michael na turnê Dangerous. Depois que completei 18 anos, tendo crescido com Michael como meu mentor e amigo, fui trabalhar para ele, primeiro como seu assistente pessoal e, em seguida, como uma espécie de empresário pessoal. Para ser sincero, meu cargo nunca teve um nome específico, mas era sempre “pessoal”. Eu concebi a ideia de um especial de tevê em homenagem aos seus 30 anos de carreira e estava ao seu lado quando ele produziu o álbum Invincible. Quando Michael foi falsamente acusado de abuso sexual de menores pela segunda vez, fui citado como cúmplice, embora não tenha sido indiciado. A pressão desse julgamento foi maior do que qualquer amizade deveria ter que suportar. Durante quase toda a minha vida, até a morte de Michael – ao longo de cerca de 25 anos –, estive ao lado dele de uma forma ou de

Meu amigo Michael_320p.indd 10 7/17/12 5:28 PM

11

outra, nos altos e baixos, nas lutas e comemorações, sempre como amigo e confidente.

Conhecer Michael era uma experiência ao mesmo tempo comum e extraordinária. Desde o começo (ou quase – afinal, eu tinha apenas 4 anos), eu soube que ele era especial, diferente, um visionário. Quando chegava a um lugar, Michael cativava todos os presentes. Existem muitas pessoas especiais no mundo, mas ele tinha algo de mágico, como se fosse escolhido, tocado por Deus. A toda parte que ia, ele criava experiências inesquecíveis: em seus shows, em seu rancho Neverland, em suas aven-turas noturnas em cidades remotas. Ele entretinha estádios inteiros e me fascinava.

Ao mesmo tempo, Michael era uma presença constante, habitual em minha vida. Sempre valorizei os momentos que passávamos juntos, mas nunca o vi como um superastro. Ele era meu amigo, minha família. Eu sabia que não estava levando uma vida tradicional, não em comparação com meus outros amigos. Sabia que aquilo não era o normal. Mas era o meu normal.

Não foi por acaso que, assim que recebi a notícia da sua morte, me afastei dos meus amigos e familiares. Desde o início, eu era reservado quanto à minha relação com Michael; sua fama exigia que seus amigos fossem discretos. Quando eu era mais novo, era fácil separar as coisas. Eu tinha uma vida em casa, em Nova Jersey – em que ia à escola, jogava futebol e às vezes limpava as mesas e cozinhava nos restaurantes da minha família –, e outra com Michael, embarcando em aventuras e me divertin-do. As duas nunca se misturavam. E eu me esforcei ao máximo para que continuasse assim.

Quando comecei a trabalhar para ele, passei a viver num mundo total-mente confidencial, enquanto o resto da minha vida ficava em segundo plano. Não falava sobre o que acontecia no trabalho – nem sobre os deta-lhes do nosso cotidiano profissional, tampouco sobre os momentos difí-ceis, as acusações falsas e o enlouquecedor circo midiático, muito menos sobre os momentos felizes em que ajudávamos crianças e mexíamos com música.

Viver no mundo de Michael era uma oportunidade rara e especial, é claro, e foi por isso que continuei ali. Mas, sem que eu percebesse, sua dis-crição me afetava. Desde muito jovem, eu me treinei para não falar livre-

Meu amigo Michael_320p.indd 11 7/17/12 5:28 PM

12

mente. Não me abria com ninguém e reprimia a maior parte de minhas reações e meus sentimentos. Nunca fui cem por cento espontâneo ou desimpedido. Isso não quer dizer que eu mentisse – exceto, admito, quan-do estava trabalhando para Michael e dizia a quem acabasse de conhecer que eu vendia Tupperware de porta em porta e me orgulhava muito do plástico que produzíamos. Ou que minha família era da Suíça e trabalhava no ramo de chocolates. Eu nunca mentia para meus amigos mais próximos e familiares, mas, no que dizia respeito a minhas experiências com Michael, escolhia cada palavra com cautela. Michael era uma pessoa reservada e eu também. Não queria chamar atenção nem que as pessoas me olhassem de forma diferente por conta da minha relação com ele. E certamente não queria ser fonte de nenhum boato a seu respeito. Já havia boatos de sobra. Falar sempre significa revelar algo. Até hoje, tenho dificuldade para conver-sar abertamente: penso duas vezes antes de abrir a boca.

Ao longo de nossa amizade, Michael desempenhou vários papéis. Ele foi um segundo pai, um mestre, um irmão, um amigo, um filho. Quando reflito sobre mim mesmo, vejo como minhas experiências com Michael determinaram quem eu sou, para o bem ou para o mal. Ele foi o melhor professor do mundo – para mim pessoalmente e para muitos de seus fãs. No início, fui uma verdadeira esponja. Concordava com todas as suas opiniões e crenças. Foi com ele que aprendi os valores da tolerância, da lealdade e da honestidade.

À medida que eu ficava mais velho e nossa amizade amadurecia, come-cei a ver com mais clareza que ele não era perfeito. Tornei-me então uma espécie de protetor, ajudando-o em seus momentos mais difíceis. Estava ao seu lado quando ele precisava de um amigo – para conversar, debater e aprimorar ideias, ou simplesmente passar o tempo. Michael sabia que podia confiar em mim.

Quando Michael e eu tirávamos uma folga no rancho Neverland – sua propriedade de 1.100 hectares nos arredores de Santa Barbara, uma mistura de casa, parque de diversões, zoológico e retiro –, gostávamos de ficar à toa e relaxar. Às vezes ele sugeria que alugássemos alguns filmes e ficássemos em casa “até feder” (Michael tinha um gosto peculiar por piadas infantis sobre mau cheiro). Num desses dias, quando o sol estava prestes a se pôr, Michael disse: “Venha, Frank. Vamos subir a montanha.” Neverland ficava no vale Santa Ynez, cercado de montanhas. Ele batizou a mais alta delas de

Meu amigo Michael_320p.indd 12 7/17/12 5:28 PM

13

Mount Katherine, em homenagem à sua mãe. A propriedade tinha várias trilhas que conduziam aos picos, onde o pôr do sol era extraordinário. Subimos uma delas num carrinho de golfe, nos sentamos e observamos o sol desaparecer atrás das montanhas, cobrindo-as de sombras púrpura. Foi então que finalmente entendi os versos “purple mountain majesties”1 da canção “America the Beautiful”.

Às vezes helicópteros sobrevoavam a propriedade, a fim de tirar fotos. Em algumas ocasiões, chegaram a nos ver no topo das montanhas, mas corríamos deles, tentando nos esconder entre as árvores. Dessa vez, no entanto, a paz era total. Michael estava pensativo e começou a falar sobre os boatos e as acusações que o atormentavam. Ele achava tudo aquilo ao mesmo tempo engraçado e triste. A princípio, disse que não devia satisfa-ções a ninguém. Mas então seu tom mudou.

“Se as pessoas soubessem quem eu sou de verdade, elas entenderiam”, ele declarou, sua voz marcada por uma mistura de esperança e frustração.

Ficamos sentados em silêncio por um tempo, desejando que houvesse uma maneira de ele se revelar, de fazer as pessoas entenderem quem ele era e como vivia.

Penso muitas vezes naquela noite quando reflito sobre as origens dos problemas de Michael. As pessoas temem o que não entendem ou se sen-tem intimidadas por isso. A maioria de nós vive em família. Fazemos o que nossos pais ou outros modelos com quem convivemos fizeram antes de nós. Seguimos um caminho simples, confortável e fácil de definir. Não é tarefa complicada encontrar outras pessoas que levam uma vida pareci-da com a que escolhemos para nós mesmos. Para Michael, não foi assim. Desde o início – ao lado da família e, mais tarde, sozinho – ele trilhou um caminho totalmente original. Por mais inocente e infantil que fosse, ele também era um homem complexo. Os outros tinham dificuldade em compreendê-lo, pois nunca tinham visto ninguém parecido na vida e, muito provavelmente, jamais tornariam a ver.

A vida de Michael terminou de forma repentina e inesperada. E, mesmo assim, ele continuou sendo incompreendido. Michael Jackson, o superas-tro, o Rei do Pop, será lembrado por muito, muito tempo. Sua obra per-

1 Em uma tradução livre: “majestosas montanhas púrpura”. (N. do T.)

Meu amigo Michael_320p.indd 13 7/17/12 5:28 PM

14

manece – uma prova de sua ligação profunda e poderosa com milhões de pessoas –, mas, de alguma forma, o homem foi ofuscado pela lenda.

Este livro é sobre o homem Michael Jackson. O mentor que me ensinou a fazer um “mapa mental”. O amigo que amava os animais e dava doces para eles. O brincalhão que, certa vez, se disfarçou como um padre preso a uma cadeira de rodas. O filantropo que tentou ser tão nobre e generoso em sua vida privada quanto o era em público. O ser humano. Quero que as pessoas vejam Michael como eu o via, que o entendam em toda a sua beleza ingênua, gentil, provocadora e imperfeita que eu tanto amava.

Minha maior esperança é que, ao ler este livro, você consiga pôr de lado todos os escândalos, boatos e piadas cruéis que cercaram Michael durante os últimos anos de sua vida e se permita conhecê-lo através dos meus olhos. Esta é a nossa história. A história de como foi crescer com uma pessoa que tinha um dos rostos mais conhecidos do mundo. A história de uma amizade comum com um homem extraordinário. Uma amizade que começou de forma simples; transformou-se e evoluiu à medida que nós dois crescíamos e mudávamos; tentou se manter firme quando as pessoas e as circunstâncias se colocaram entre nós; e, acima de tudo, persistiu. Michael era uma criatura rara. Ele queria fazer do mundo um lugar mag-nífico. E eu quero dividi-lo com você.

Meu amigo Michael_320p.indd 14 7/17/12 5:28 PM

p a r t e u m

O Clube dOS CabeçaS de Maçã

Meu amigo Michael_320p.indd 15 7/17/12 5:28 PM

Meu amigo Michael_320p.indd 16 7/17/12 5:28 PM

17

c a p í t u l o 1

um novo amigo

Era um dia frio, eu tinha 4 anos e estava na sala de estar de casa, me divertindo com uma limusine de brinquedo. Eu era obcecado por aquela limusine, como toda criança dessa idade cos-

tuma ser com seus brinquedos favoritos. Então, quando meu pai disse que iria me levar com ele ao trabalho para me apresentar a um amigo, minha primeira preocupação foi saber se poderia levar o carrinho. Nunca tinha ouvido falar de Michael Jackson, portanto, quando ele me disse o nome da pessoa que iríamos conhecer, não dei muita importância. Estava apenas feliz em sair de casa e orgulhoso por acompanhar meu pai ao trabalho (desde que pudesse levar minha limusine de brinquedo).

É claro que eu não fazia ideia de como aquele encontro seria impor-tante – um verdadeiro divisor de águas na minha vida. Ainda assim, não sei por que, lembro-me perfeitamente daquele dia, até da roupa que esta-va vestindo: calça azul-escura, suéter azul, gravata-borboleta e sapatos sociais marrons com pequenos furos no bico. Eu sei, uma roupa meio estranha para uma criança de 4 anos, pelo menos ao longo dos últimos 100 anos. Mas eu estava sempre vestido de forma impecável – meu pai

Meu amigo Michael_320p.indd 17 7/17/12 5:28 PM

18

tinha nascido na Itália, a capital mundial da moda. Meu cabelo era curto e liso. Ou seja, eu era uma criança bem-arrumada, elegante e fissurada em limusines.

Na época, meu pai trabalhava no Helmsley Palace, em Manhattan, um hotel cinco estrelas exclusivo, com um clientela de elite. Meu pai era o gerente geral das torres e das suítes – as acomodações de luxo destinadas aos clientes VIP. Para mim, o hotel sempre foi um lugar mágico. Talvez fosse a energia vibrante das pessoas que iam e vinham, cada qual com seus compromissos importantes. Na época, eu não conseguia entender tudo o que estava acontecendo, mas podia sentir no ar a agitação. Ainda me lembro do cheiro do lobby e da emoção que sentia por estar ali. Adoro hotéis.

Meu pai e eu pegamos o elevador e nos dirigimos para um dos quartos. Fomos recebidos à porta por um homem que mais tarde me seria apre-sentado como Bill Bray, então administrador e chefe da equipe de segu-rança de Michael Jackson. Bill Bray era uma espécie de figura paterna para Michael. Trabalhava com ele desde a época da Motown e continuaria como seu consultor de confiança por muitos anos.

Bill era mulato claro, tinha uma barba bem-aparada, 1,90 metro e, naquele dia, estava usando um chapéu de feltro. Tinha várias dobras de pele na nuca e um estilo um tanto “rústico”. Nos anos seguintes, eu veria muitas vezes Michael imitando seu jeito descontraído de andar logo atrás dele. Bill cumprimentou meu pai calorosamente. Parecia que os dois já eram amigos.

Entramos com Bill no quarto, que parecia intocado, como se ninguém estivesse hospedado ali. Na verdade, a julgar pelo que sei dos hábitos de Michael, aquela sem dúvida não era a suíte que estava usando: ele havia reservado o quarto especialmente para aquela reunião, pois ainda não nos conhecia o suficiente. Embora Michael estivesse sempre disposto a ajudar o próximo, tinha o hábito de criar barreiras de proteção entre ele próprio e as pessoas que acabava de conhecer.

Michael se levantou de uma poltrona para nos cumprimentar. Ele não me pareceu nada excepcional. Aos 4 anos, a única distinção que eu fazia entre as pessoas era se elas eram adultas, crianças maiores ou crianças do meu tamanho.

“Ei, Joker”, disse Bill. “Dominic e seu filho estão aqui para ver você.”

Meu amigo Michael_320p.indd 18 7/17/12 5:28 PM

19

Mais tarde eu entenderia que Bill chamava Michael de “Joker”, ou seja, piadista em inglês, pelo motivo óbvio de que ele estava sempre pregando peças nas pessoas. Michael abriu um largo sorriso para mim, tirou os óculos e apertou minha mão. Aos 26 anos, ele era um artista mundial-mente famoso, e seu disco mais recente, Thriller, era o álbum mais ven-dido da história – um recorde mantido até o momento em que escrevo estas linhas.

Assim que nos acomodamos, Bill Bray foi embora e meu pai, Michael e eu ficamos naquele quarto um tanto vazio, jogando conversa fora.

“O seu pai é um homem maravilhoso”, Michael disse para mim. Ele repetiria isso muitas vezes ao longo dos anos e eu sabia que havia sido por conta da impressão especial que teve do meu pai que quis conhecer o restante da família. As pessoas se sentiam imediatamente à vontade na presença do meu pai. Ele transmitia honestidade e sinceridade.

Michael e eu começamos a falar sobre desenhos animados. Eu lhe disse que adorava o Popeye e tive a “honra” de lhe apresentar a Gang do Lixo, cujas figurinhas eu e meu irmão colecionávamos. Michael sabia conversar com crianças – ele demonstrou um interesse genuíno em meu pequeno mundo – e eu devo ter gostado dele, pois me lembro de ter passado minha limusine de brinquedo por sua cabeça, seus ombros e seus braços. Ele pegou o carrinho das minhas mãos e o fez sobrevoar minha cabeça como um avião, fazendo barulho de motor.

– O que você quer ser quando crescer? – perguntou Michael.– Quero ser igual ao Donald Trump – respondi –, só que com mais

dinheiro.Meu pai riu.– É mole? – disse ele.– Donald Trump não tem tanto dinheiro assim – comentou Michael.Então meu pai pediu para tirar uma fotografia de Michael comigo. Eu

subi no colo dele e passei o braço em volta do seu rosto. Sorri e nós tiramos uma foto.

E foi assim que conheci Michael. Anos mais tarde, ele mostraria essa foto para as pessoas e diria: “Dá pra acreditar que este é o Frank?” A espontaneidade da imagem – nossos sorrisos, a mecha de cabelo caída no meio da testa de Michael – foi um presságio da importância que a ocasião assumiria para mim no futuro.

Meu amigo Michael_320p.indd 19 7/17/12 5:28 PM

20

Passamos uma hora com Michael naquele dia e, ao nos despedirmos, ele disse que ligaria para nós da próxima vez que estivesse em Nova York e que adoraria nos encontrar novamente.

Enquanto voltávamos de carro para Nova Jersey, meu pai lançou um olhar para o banco de trás e disse para mim: “Você nem imagina quem acabou de conhecer.”

Meu primeiro encontro com Michael se deu por conta da estima que ele tinha pelo meu pai: sempre que ficava hospedado no Palace, era meu pai quem o atendia. Essa era sua função no hotel e ele era bom no que fazia. Certificava-se de que a suíte preferida de Michael estivesse disponível quando ele chegasse. Se Michael quisesse uma pista de dança no quarto, meu pai cuidava para que ela fosse instalada. Quando Gregory Peck se hospedou no hotel e Michael quis conhecê-lo, meu pai providenciou o encontro. Ele supervisionava a segurança para quando Michael entrasse e saísse do hotel. Ficava atento até mesmo aos menores pedidos, como alguma comida especial. Fazia o possível e o impossível para que Michael tivesse tudo o que precisasse ou quisesse.

Michael sabia que meu pai estava encarregado disso tudo, então disse a Bill Bray que queria conhecer Dominic. Bill Bray fez com que os dois passassem um tempo juntos. À medida que se conheciam melhor, meu pai começou a ver Michael como uma pessoa extremamente calorosa, gentil e humilde. Ao mesmo tempo, tenho certeza de que meu pai deixou Michael à vontade ao demonstrar que não estava interessado nele por conta de seus status de celebridade. Não era um deslumbrado. As pessoas sempre se sentiram atraídas pelo meu pai por sua sinceridade. Sua postura reflete o fato de que ele vê as pessoas como pessoas. Ele escuta sem julgar e ajuda sem querer nada em troca.

Esse tipo de tratamento era raro no mundo de Michael, que passou a considerar meu pai um amigo. Ele não fez a série de exigências que as outras celebridades costumavam fazer. Quis apenas conversar com meu pai, conhecê-lo como pessoa. Meu pai não buscava esse tipo de intimidade com os clientes VIPs que se hospedavam no hotel. Foi Michael quem iniciou a amizade, o que sem dúvida o deixou lisonjeado, embora não mais do que deveria. A amizade cresceu e evoluiu, tornando-se um vínculo de camara-dagem, lealdade e confiança que se estenderia por toda a vida de ambos.

Meu amigo Michael_320p.indd 20 7/17/12 5:28 PM

21

Obviamente, conhecer Michael Jackson não teve muita importância para mim aos 4 anos. Eu não fazia ideia de quem ele era. Também não sabia o que era Thriller, ou o moonwalk, ou os Jackson 5, e não teria feito diferença se alguém me explicasse. Não me interessava muito por televisão ou música, exceto pelas que minha mãe ouvia no carro. Eu era uma criança normal de Nova Jersey, exceto pelo fato de usar gravata-borboleta de vez em quando. Meu amigo Mark Delvecchio e eu gostávamos de construir fortes à beira da rua e disparar pistolas de água contra os carros que pas-savam. Eu adorava jogar bola, brincar no mato, escalar árvores e me sujar todo – vibrava por estar ao ar livre. Era um menino feliz e espontâneo.

Também gostava de qualquer pessoa nova que demonstrasse ter os mesmos interesses que eu. Não tinha nenhum preconceito, não julgava as pessoas. Michael era amigo do meu pai e duas décadas mais velho que eu, mas, quando falava comigo, nunca era como um adulto falando com uma criança. Era como um amigo falando com outro. Nós brincávamos juntos e, por um bom tempo, essa base infantil foi suficiente para sustentar nossa amizade.

Duas ou três semanas depois de nos conhecermos, meu pai me levou ao hotel, juntamente com meu irmão Eddie e minha mãe, grávida na época, para ver Michael novamente. Essas foram as únicas vezes que o encontrei até a noite em que a campainha da nossa casa em Hawthorne, Nova Jersey, tocou bem depois de eu ter ido dormir. Hawthorne era uma cidade modes-ta e nossa casa era pequena. Meu irmão e eu dividíamos um quarto com camas separadas por uma penteadeira. Lembro-me de ficar deitado na cama, tentando imaginar quem estaria tocando a campainha no meio da noite. Ouvi a porta lateral se abrir e, logo em seguida, meus pais vieram à porta do nosso quarto para nos acordar. Havia dois homens com eles. Um era Billy Bray, o outro, Michael Jackson.

Uma visita noturna era um acontecimento raro e empolgante. Meu irmão e eu saltamos da cama para recebê-lo e eu saí correndo para pegar nossa impressionante coleção de figurinhas da Gang do Lixo e exibi-la a Michael. Meus pais nos pediram para mostrar a ele que sabíamos tocar piano; embora não estivesse muito disposto a tocar, arranhei o tema de Star Wars e “Für Elise”. Meu irmão Eddie, que aos 3 anos já era melhor músico do que eu, tocou o tema de Carruagens de fogo. Michael ficou encantado com a performance.

Meu amigo Michael_320p.indd 21 7/17/12 5:28 PM

22

Seria exagero dizer que, àquela idade, eu já notava algo de diferente em Michael, algo que o destacava dos outros adultos, mas, em sua visita seguinte, eu lhe ofereci o que considerava um grande presente, um dos meus bens mais preciosos: minha coleção de figurinhas da Gang do Lixo. A princípio ele recusou, mas vendo como ele estava fascinado pela coleção, eu insisti: “Quero que você fique com ela.” Esse foi o primeiro presente que dei a Michael e ele o guardou para o resto da vida (no seu closet bagunçado em Neverland).

A partir daí, Michael passou a nos visitar com frequência. Na época, ele ia bastante a Nova York, pois estava em turnê com os Jackson para o álbum Victory, e todas as vezes fazia questão de aparecer na nossa casa. Por que Michael fazia isso? Por que o homem mais requisitado do mundo do entretenimento começou a abrir espaço em sua agenda para uma família tão convencional quanto a nossa? Acredito que, para Michael, nós repre-sentávamos algo que, apesar de toda a sua fama, ele não tinha – e que talvez desejasse ter. Ser amigo da minha família possibilitava a ele escapar para a vida pacata e suburbana de Nova Jersey e, ao menos por alguns instantes, ter uma vida comum com uma família comum.

Quanto a passar tempo com crianças e se interessar por brinquedos e desenhos animados, não havia nada de sexual nisso para Michael. Quando estava rodeado de crianças, podia ser ele mesmo. Ele havia passado a vida inteira sob os holofotes e, por conta disso, as pessoas o viam de forma diferente. Mas, para as crianças, não importava quem ele era. Sei que para mim não importava.

Naquela turnê, os Jackson fizeram três shows no Giants Stadium e meus pais levaram a mim e ao meu irmão a todos eles. No início do primeiro espetáculo, quando Michael começou a cantar, eu olhei para o meu pai e perguntei: “Este é o mesmo Michael Jackson que costuma aparecer lá em casa?” Foi a primeira vez que percebi que havia algo verdadeiramente especial naquele homem simpático que, como eu, adorava desenhos ani-mados, a Gang do Lixo e brinquedos em geral. No palco, ele se transfor-mava. Aquele não parecia o nosso amigo Michael. Aquele era Michael, o superastro.

Os shows eram muito tarde para um menino tão novo, e meus pais, especialmente minha mãe, tinham restrições quanto a isso. Mas conseguir ingressos de camarote para uma apresentação de Michael Jackson não

Meu amigo Michael_320p.indd 22 7/17/12 5:28 PM

23

acontecia todos os dias e eles queriam nos oferecer o maior número possível de experiências inesquecíveis. Talvez Michael fosse o maior astro do mundo e talvez eles se sentissem especiais por terem uma relação tão íntima com ele, mas esse tipo de raciocínio não influenciava suas decisões como pais. Eles não estavam deslumbrados com Michael. Conhecê-lo e passar algum tempo com ele era uma experiência e tanto, sem dúvida, e isso era impor-tante. Mas ir aos concertos e desfrutar dos momentos com Michael era o tipo de coisa que meus pais fariam com qualquer pessoa querida.

O que meu pai considerava especial em Michael não era sua fama nem seu estrelato. Era seu sorriso, sua sinceridade, sua humanidade. O fato de um ícone no mundo do entretenimento nutrir uma amizade autêntica por toda a nossa família o comovia. Minha mãe é uma pessoa prestativa e, à medida que conhecia melhor Michael, passou a agir de forma maternal e protetora com ele, como fazia com qualquer pessoa querida e de confiança. Ela sempre esteve ao seu lado, especialmente quando, com o passar dos anos, sentiu que ele precisava de sua lealdade e de seu apoio.

Meus pais acreditavam que era preciso participar ativamente da vida. Nossas portas estavam abertas para o mundo e qualquer pessoa que entrasse em nossa casa encontraria calor e conforto. Dominic Cascio, meu pai, foi criado no sul da Itália. Cresceu entre Palermo e Castelbuono, a pequena cidade que mencionei anteriormente. Castelbuono é um vilarejo, um lugar especial onde as pessoas não precisam ganhar muito dinheiro para apreciar as melhores coisas da vida. Amor, família, religião, comida – esses são os prazeres importantes em Castelbuono. Sei que tudo isso parece um daqueles clichês cinematográficos sobre culinária e romance na ensolarada e pitoresca Toscana, mas é verdade. Meu pai foi criado lá e, embora minha mãe tenha nascido em Staten Island, sua família também era de Castelbuono.

Durante minha infância, nossos jantares de domingo sempre conta-vam com convidados além da família, que por sinal crescia a passos lar-gos. Embora minha mãe ainda não tivesse todos os seus cinco filhos, era comum ela acabar cozinhando para quase 20 pessoas. Nossa casa em Nova Jersey era como um hotel: sempre tinha gente aparecendo, ficando para jantar, passando dias, semanas e até meses. Não era de espantar que meu pai fosse tão bem-sucedido no Helmsley Palace: havia anos que adminis-trava o Cascio Palace. Meus pais eram o centro de toda a família e eram

Meu amigo Michael_320p.indd 23 7/17/12 5:28 PM

24

eles que cuidavam para que os parentes se reunissem, o que geralmente significava fazer uma refeição juntos. Para eles, a família era primordial – e nós fomos criados nessa filosofia.

Acredito que Michael tenha identificado nossos valores desde o come-ço. Ele já se sentia à vontade na presença de meu pai e, quando conheceu o restante de nós, deve ter percebido que éramos basicamente pessoas afetuo sas e honestas, que não tinham nenhum outro objetivo ou intenção além de viver a vida e ser feliz. A explicação mais provável para o fato de Michael ter se apaixonado pela minha família é que nunca o vimos como Michael Jackson, o popstar. Meus pais não criaram seus filhos para julgarem as pessoas nesses termos. Nós reconhecíamos e respeitávamos o talento e o sucesso de Michael, assim como as exigências que isso lhe acar-retava, então nos adaptávamos à sua agenda nada convencional, fazendo concessões no que dizia respeito à logística, mas sem abrir mão de quem éramos ou de como o víamos. Para falar a verdade, o mais importante para mim era o fato de ele ser um adulto que gostava da Gang do Lixo e de desenhos animados. Isso sim era impressionante. Estava pouco me lixando para o megaestrelato.

Durante os cinco anos seguintes, essa foi nossa relação com Michael. Quando a campainha tocava tarde da noite, Eddie e eu sabíamos que era ele. Corríamos para lhe dar um abraço e mostrar qualquer brinque-do novo que tivéssemos ganhado ou truques que houvéssemos aprendido, enquanto a família toda falava ao mesmo tempo, recebendo-o como um parente querido e distante cujo voo tivesse atrasado.

Nunca fui de dormir muito. Às vezes eu ficava zanzando pela casa à noite, espiando meus pais, deleitando-me com os mistérios do mundo dos adultos. Mas de vez em quando compensava essas horas perdidas caindo num sono pesado. Deve ter sido numa dessas noites que a campainha não me acordou. Em vez disso, quando abri os olhos, deparei com um chim-panzé fazendo barulho bem na minha cara. Deduzi, com uma calma e uma confiança que me surpreende até hoje, que estava sonhando enquanto observava o animal pular até a cama de Eddie e acordá-lo também. Foi então que percebi que Michael, Bill Bray, meus pais e outro homem que logo me seria apresentado como Bob Dunn, o treinador do chimpanzé, estavam parados ali, no meu quarto pequeno. Já passava da meia-noite e

Meu amigo Michael_320p.indd 24 7/17/12 5:28 PM

25

o macaco, que estava quase matando meu irmão de susto, era o lendário Bubbles, o adorado animal de estimação de Michael.

À medida que Michael se tornava uma presença constante em minha vida, fui descobrindo algumas informações sobre ele e sua música. Assim que o conheci, disse à minha professora do jardim de infância, a Sra. Whise: “Eu sei tocar piano. Vou tocar ‘Thriller’ para a senhora.” Comecei a castigar as teclas, crente que sabia tocar o instrumento e que minha versão da música impressionaria a turma. Mas a Sra. Whise disse apenas: “Saia já daí. Você vai quebrar o piano.”

Cerca de um ano depois, quando estava no primeiro ou no segundo ano do ensino fundamental, eu deveria levar algo interessante para uma apresentação na sala de aula. Não fazia ideia do que levar, até que minha mãe sugeriu uma foto de Michael. Embora ainda pensasse nele como meu amigo Michael, já estava começando a perceber que as pessoas o conhe-ciam como algo maior do que isso, como o homem que eu tinha visto se apresentar num palco imenso no Giants Stadium, em meio a todas aquelas luzes e aplausos. Então levei a fotografia para a escola – a mesma que havia sido tirada no dia em que nos conhecemos.

O garoto que se apresentou antes de mim percorrera a sala de aula mostrando um urso de pelúcia para os colegas. Ele nos disse o nome do ursinho e o que havia de tão especial nele. (Desculpe-me por não me lem-brar dos detalhes.) Então eu me levantei e disse:

– Esta é uma foto do Michael. Ele é meu amigo. É cantor e artista.Minha professora, que já devia ter quase 60 anos, me chamou à sua

mesa e pediu para ver a foto em minhas mãos. Ela me pareceu um pouco espantada.

– Isso é de verdade? – perguntou ela.– Sim, é de verdade – respondi.Então ela falou:– Turma, este é o Michael Jackson. Ele é um cantor muito, muito famoso.E embora eu não entendesse bem por que, me senti orgulhoso.

Quando ficava na nossa casa, uma das atividades preferidas de Michael era ajudar minha mãe a fazer faxina. Ele adorava passar o aspira-dor de pó. Contou que, quando era criança, ele e seus irmãos limpavam a casa e cantavam ao mesmo tempo. Um irmão cantava a primeira estrofe,

Meu amigo Michael_320p.indd 25 7/17/12 5:28 PM

26

outro inventava o pré-refrão e um terceiro precisava bolar o refrão, ou, como dizia Michael, o gancho. Então alguém cantava a segunda estrofe e outro irmão fazia a ponte – assim os irmãos costumavam compor músicas ótimas enquanto faziam a faxina. Ou pelo menos era o que ele dizia (sem-pre suspeitei que essa história fosse um truque para motivar meu irmão e eu a ajudarmos na limpeza).

Minha mãe arrumava as camas e limpava os quartos. Nesse sentido, éramos bastante mimados, mas Michael sempre nos incentivava a ajudá-la. “Vocês não fazem ideia de como a mãe de vocês é especial”, ele dizia. “Um dia vão entender isso.”

Michael dizia que Connie, nossa mãe, lembrava-lhe Katherine, a mãe dele, e nunca vou me esquecer da vez em que fiquei com raiva da minha mãe e gritei com ela. Michael me censurou com rispidez, dizendo: “Nunca fale desse jeito com a sua mãe. Nunca! Ela trouxe você ao mundo. Você não estaria aqui se não fosse por ela. Deve respeitá-la.”

Por ser descendente de italianos, eu já sabia que deveria respeitar minha mãe. Mas ouvir isso de Michael conferiu um peso extra à bronca que já estava cansado de ouvir e levei suas palavras a sério.

Uma das coisas que Michael mais gostava na minha mãe, além de sua ternura e seu coração maternal, era de sua comida. Toda vez que ia à nossa casa, implorava a ela que preparasse peru assado para o jantar, acompa-nhado de purê de batata, inhame e molho de cranberry. E, sem exceção, bolo de pêssego para sobremesa. Quando Michael falava sobre o bolo de pêssego, era como se estivesse falando da Segunda Vinda de Cristo.

Meu tio Aldo e meu pai eram donos de um restaurante chamado Aldo’s. Quando levávamos Michael até lá, costumávamos comer numa sala reser-vada para que ele se sentisse à vontade e aproveitasse a refeição sem ter que lidar com olhares curiosos.

Quer estivéssemos comendo em casa ou no Aldo’s, estar na companhia de Michael sempre nos pareceu a coisa mais natural do mundo. O engra-çado é que nenhum de nós falava a respeito dele com outras pessoas. Nós o amávamos, mas, ao mesmo tempo, sempre buscamos protegê-lo.

Ele era um de nós.

Meu amigo Michael_320p.indd 26 7/17/12 5:28 PM

Informações sobre ospróximos lançamentos

Para saber mais sobre os títulos e autores da EDITORA SEXTANTE,

visite o site www.sextante.com.br ou siga @sextante no Twitter.

Além de informações sobre os próximos lançamentos, você terá acesso a conteúdos exclusivos e poderá

participar de promoções e sorteios.

Se quiser receber informações por e-mail, basta cadastrar-se diretamente no nosso site.

Para enviar seus comentários sobre este livro,escreva para [email protected]

ou mande uma mensagem para @sextante no Twitter.

Editora sextante Rua Voluntários da Pátria, 45 / 1.404 – Botafogo

Rio de Janeiro – RJ – 22270-000 – Brasil Telefone: (21) 2538-4100 – Fax: (21) 2286-9244

E-mail: [email protected]

Meu amigo Michael_320p.indd 320 7/17/12 5:28 PM