a histÓria real das origens do vÍrus do Ébola · 2015-03-19 · tipos de vírus vivem...

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Traduzido do inglês por Jorge Santos Leonardo Richard Preston ZONA CRÍTICA A HISTÓRIA REAL DAS ORIGENS DO VÍRUS DO ÉBOLA

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Traduzido do inglês por

Jorge Santos Leonardo

Richard Preston

ZONA CRÍTICA

A HISTÓRIA REAL DAS ORIGENS DO VÍRUS DO ÉBOLA

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CONTEÚDOS

INTRODUÇÃO 15

PRIMEIRA PARTE > A SOMBRA DO MONTE ELGON 27

SEGUNDA PARTE > A CASA DOS MACACOS 139

TERCEIRA PARTE > DESTRUIÇÃO 235

QUARTA PARTE > A GRUTA KITUM 301

PERSONAGENS PRINCIPAIS 331

GLOSSÁRIO 335

AGRADECIMENTOS 341

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INTRODUÇÃO

No momento em que escrevo esta nova introdução, o vírus do Ébola está a devastar as populações da África Ocidental. A emergência do Ébola em 2014 revelou-se o surto mais devastador de uma doença con-tagiosa, desde a aparição do VIH, o vírus que provoca a sida, no iní-cio dos anos 80 do século passado. O vírus do Ébola foi identificado pela primeira vez em 1976, durante um surto que se manifestou num pequeno hospital rural em Yambuku, no Zaire – agora Repú-blica Democrática do Congo –, perto do rio Ébola.

Desde então, o vírus do Ébola foi aparecendo em cerca de duas dúzias de microssurtos, em várias zonas rurais da África Equatorial, exter-minando até duas centenas de pessoas de cada vez. Depois de cada um destes eventos, o vírus recolhia-se e desaparecia. O vírus conse-guia ser controlado pelos médicos e pelos profissionais de saúde, que tinham desenvolvido formas de impedir que se espalhasse. Era tão devastador que as vítimas não conseguiam viver o tempo suficiente para transmitir o vírus a grandes grupos de pessoas. Em resultado disto, entre a comunidade científica começou a cristalizar-se a ideia de que o Ébola não era uma grande ameaça para o mundo.

Esta ideia estava errada.

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O que ninguém tinha percebido, em toda a sua extensão, era que se o Ébola chegasse às grandes cidades africanas se tornaria algo seme-lhante a um fogo florestal. O resultado tem sido uma espantosa e devas-tadora emergência do Ébola na população humana. No momento em que escrevo ninguém tem a certeza de que o Ébola possa ser travado. Contudo, desde há muito tempo que o Ébola é considerado o vírus mais assustador e ameaçador para a espécie humana.

Existem cinco tipos conhecidos de vírus do Ébola, que coexistem em paralelo com um primo, o vírus de Marburgo. Estes diferentes tipos de vírus vivem discretamente num hospedeiro de uma espécie desconhecida, que habita nas florestas e savanas da África Equatorial. O hospedeiro natural do Ébola, isto é, o animal que normalmente é infetado pelo vírus, e onde se aloja, pode ser uma espécie de morcego. Ou pode ser um pequeno inseto, ou um parasita que viva no corpo do morcego, ou poderá ser qualquer outra coisa na qual ainda ninguém tenha pensado. Ninguém sabe. De vez em quando, por razões desco-nhecidas, o vírus do Ébola migra do seu hospedeiro natural e infeta um humano, este humano transmite o vírus a outro humano e desen-cadeia-se um surto de Ébola.

O Ébola é transmitido de uma pessoa para outra pelo contacto com o suor, fezes, vómitos, saliva, urina ou sangue. Geralmente, alguém que é infetado pelo Ébola produz estes fluidos de forma descontro-lada e muitas vezes em grandes quantidades. Em cerca de metade dos casos são hemorragias. Ocasionalmente, as hemorragias são profusas, mas também podem ser insidiosas – a hemorragia pode manifestar-se apenas por pequenas gotas de sangue alojadas nos cantos das pálpe-bras. Podem ser hemorragias internas, só visíveis através da observa-ção das fezes – diarreia negra – ou do vómito com grânulos negros. Quem tocar nestes fluidos com as mãos ou a pele desprotegidas corre risco de infeção – e o vírus do Ébola é extremamente infecioso. Basta que uma única partícula do vírus do Ébola atinja a corrente sanguínea de uma pessoa para que possa ocorrer uma infeção fatal. [Em contra-partida, o VIH é bastante menos infecioso do que o Ébola. Para que uma pessoa contraia o VIH é necessário que a corrente sanguínea seja atingida por cerca de dez mil partículas do vírus da sida.] Até ao

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INTRODUÇÃO

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momento não há qualquer cura verificada para o Ébola, nem prova alguma de que exista uma vacina que seja eficaz.

Os investigadores que trabalham com o Ébola em laboratórios usam, em permanência, um fato espacial completo, com fornecimento de ar pressurizado. Esses laboratórios são selados, por detrás de zonas her-meticamente fechadas e com duches químicos. Este tipo de laborató-rios são designados como zonas críticas.

Atualmente, toda a África Oriental é uma zona crítica. Tem uma fronteira invisível e difusa, mas letal. A zona crítica existe nos braços das mães dedicadas que transportam ao colo os seus filhos, doentes com o Ébola. A zona crítica existe dentro das casas modestas, onde pessoas desesperadas tentam apenas ajudar os seus entes queridos. A zona crítica existe no perímetro que circunda o corpo de um jovem rapaz, dobrado no chão e com o rosto colado ao pó de uma rua em Monrovia, na Libéria, enquanto as multidões se afastam dele. Acima de tudo, o vírus do Ébola é uma catástrofe humana, um monstro, um parasita obscuro, um provocador, embora não ciente, de um sofri-mento extremo à medida que executa cópias de si próprio no interior de um corpo humano. O Ébola consegue, hoje, infligir uma praga de tipo medieval numa cidade ou numa comunidade.

Se queremos parar o Ébola, só o conseguiremos fazer através de um esforço decisivo da comunidade global, liderado pelas nações desen-volvidas, que têm o dinheiro e os recursos necessários para enfren-tar este inimigo da espécie humana. Desenganem-se: o Ébola é um inimigo de todos nós. Se o vírus se alterar, se produzir mutações ao mesmo tempo que se move entre os humanos, poderá desenvolver a capacidade de chegar a qualquer lado, do Bangladesh a Beverly Hills.

> > >

Este livro é uma narrativa com base em factos reais. Em síntese, é uma história real. Os personagens são reais, os acontecimentos são crono-lógicos, documentados com precisão e verificados de forma cruzada, tanto quanto me foi possível fazer.

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Como escritor de literatura de não-ficção, passo grande parte do meu tempo com as pessoas sobre as quais estou a escrever, conhecendo melhor as suas personalidades, os seus hábitos, os seus métodos de trabalho, a sua aparência física, o som das suas vozes, sabendo quem amam, quem odeiam, o que comem e até o que sonham durante a noite. Por vezes interrogo-os detalhadamente sobre os pensamentos que lhes fervilhavam na cabeça em momentos cruciais das suas vidas. Esta última técnica permitiu-me produzir a versão não ficcionada dos monólogos interiores – qual o pensamento dessa pessoa. Estas pas-sagens – como quando a tenente-coronel Nancy Jaax está de pé no chuveiro químico, vestida com o fato espacial e ansiosa por saber se o sangue de um macaco infetado com o Ébola penetrou no seu fato – foram verificadas factualmente com as pessoas reais. No caso de Nancy Jaax, a sua diligência levou-a a verificar comigo cada passa-gem, e a sugerir-me pequenas alterações para garantir que a minha descrição do seu pensamento era, tanto quanto possível, um reflexo do que lhe ia na mente quando pensou que iria morrer com o Ébola.

No fim de contas, nós, os humanos, existimos apenas como retalhos de uma bela e aparentemente infinita tapeçaria do Universo natu-Universo natu-ral. Temos um valor quase infinitesimal na magnitude da Natureza. Somos apenas um nó, quase desapercebido, no entrelaçado dessa tape-çaria. Os nossos esforços e lutas para controlar a Natureza, às vezes parecem patéticos e egoístas, outras heroicos e por vezes mal direcio-nados. E, apesar disso, o sujeito da minha escrita é a Humanidade e a sua relação com a Natureza, as nossas lutas, o nosso sofrimento, a nossa felicidade e também a convicção de que o ordinário das nossas vidas merece ser contado – o sentimento de que vale a pena escrever sobre nós, enquanto espécie, e que a vida de cada pessoa é uma his-tória que merece ser contada.

RICHARD PRESTON

Princeton, setembro de 2014

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PRIMEIRAPARTE

A SOMBRA DO MONTE ELGON

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HÁ ALGO NA FLORESTA

1980, DIA DE ANO NOVO

Charles Monet era um homem solitário. De nacionalidade francesa, vivia sozinho numa pequena cabana de madeira, em terrenos privados da Fábrica de Açúcar Nzoia. A fábrica ficava numa plantação no Qué-nia Ocidental que se estendia ao longo do rio Nzoia, de onde se avista o monte Elgon, um enorme e solitário vulcão extinto que se eleva a uma altitude de 4.300 metros, à beira do desfiladeiro do Rift Valley. A história de Monet é um tanto obscura. Tal como acontece com mui-tos expatriados que acabam em África, não é claro o que o levou até lá. Talvez estivesse metido nalgum sarilho em França ou talvez tivesse apenas sido atraído ao Quénia pela beleza do país. Era um naturalista amador, amante de pássaros e de animais, mas não da Humanidade em geral. Tinha 56 anos, estatura e compleição médias, cabelo castanho, liso e uniforme – um homem bem-parecido. Aparentemente, os úni-cos amigos chegados que tinha eram mulheres que viviam nas aldeias em redor da montanha, embora nem mesmo elas conseguissem recor-dar grande coisa acerca dele, quando interrogadas pelos médicos que investigaram a sua morte. O seu trabalho era tomar conta das bombas de rega da fábrica, que sugavam a água do rio Nzoia e a distribuíam

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por várias centenas de hectares de campos de cana-de-açúcar. Dizem que passava a maior parte do dia dentro da casa das máquinas junto ao rio, como se gostasse de ver e ouvir as bombas hidráulicas a faze-rem o seu trabalho.

Como acontece muitas vezes em casos semelhantes, é difícil recons-tituir os detalhes. Os médicos recordam os sintomas clínicos, porque alguém que tenha visto os efeitos de um agente infecioso de Nível de Biossegurança 4 num ser humano jamais poderá esquecê-los. Mas os efeitos amontoam-se, uns sobre os outros, até taparem a pessoa que está por baixo deles. O caso de Charles Monet revela-se-nos uma mis-tura da fria geometria dos dados clínicos com relâmpagos de horror, tão intensos e perturbadores que damos um passo atrás e semicerra-mos os olhos, como se estivéssemos a ver um sol alienígena e sem cor.

Monet chegou ao país no verão de 1979, aproximadamente na mesma altura em que o vírus da imunodeficiência humana, ou VIH, que pro-voca a sida, saiu definitivamente das florestas tropicais da África Cen-tral e iniciou a sua extensa infeção da espécie humana. A sida já tinha caído como uma sombra sobre as populações, embora ainda ninguém soubesse que existia. Tinha vindo a espalhar-se silenciosamente ao longo da Via Kinshasa, uma estrada transcontinental que serpenteia África de leste a oeste e passa ao longo das costas do lago Victoria, à vista do monte Elgon. O VIH é um agente de Nível de Biossegurança 2, extremamente letal, mas pouco infecioso. Não se transmite facil-mente de uma pessoa para outra e não viaja pelo ar. Não é necessário utilizar um fato de proteção biológica espacial quando se manuseia sangue infetado com VIH.

Monet tinha um trabalho árduo na casa das máquinas durante a semana, mas aos fins de semana e feriados visitava as florestas próxi-mas da fábrica de açúcar. Observava as aves e outros animais a comer os alimentos que levava consigo e espalhava pelo chão. Conseguia sen-tar-se perfeitamente imóvel enquanto observava um animal. Pessoas que o conheceram recordam que tinha uma afeição particular por macacos selvagens e um jeito especial para lidar com eles. Contam que se sentava segurando um pedaço de comida enquanto os maca-cos se aproximavam e iam comer à sua mão.

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PRIMEIRA PARTE > A SOMBRA DO MONTE ELGON

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Ao final do dia recolhia-se ao seu bangaló. Tinha uma empregada, uma mulher chamada Johnnie, que lhe limpava a casa e preparava as refeições. Andava a aprender a identificar as aves africanas. Numa árvore perto de sua casa vivia uma colónia de tecelões e Monet obser-vava-os enquanto construíam os seus ninhos, semelhantes a malas de senhora. Dizem que certo dia, na altura do Natal, levou um pássaro doente para dentro de casa, onde morreu, talvez nas suas mãos. A ave podia ser um tecelão – ninguém sabe – e pode ter morrido com um vírus de Nível 4 – também ninguém sabe. Tinha ainda uma amizade com um corvo. Era um corvo branco, um pássaro branco e negro que muita gente em África adota como animal de estimação. O corvo era inteligente e amistoso, e gostava de pousar no telhado do bangaló de Monet, enquanto observava as suas andanças lá em baixo. Quando tinha fome aterrava na varanda, entrava em casa e Monet servia-lhe restos da sua comida.

Ia a pé todos os dias para o trabalho, atravessando os campos de cana-de-açúcar, um percurso de mais de três quilómetros. Nessa época de Natal, os campos estavam negros e calcinados depois das queima-das feitas pelos trabalhadores. A norte da paisagem carbonizada, a quarenta quilómetros de distância, podia avistar-se o monte Elgon. A montanha variava constantemente de aparência consoante o tempo e a sombra, a chuva e o sol, e era um perfeito espetáculo de luz afri-cana. Ao nascer do Sol, o monte Elgon parecia uma pilha de escarpas cinzentas a desaparecer na bruma, encimado por dois picos, que são os lábios opostos do cone do vulcão desgastado pela erosão. À medida que o Sol se erguia, a montanha vestia-se de verde prateado, a cor da floresta húmida do monte Elgon, e com o avançar do dia chegavam as nuvens, ocultando a montanha. Ao final da tarde, já quase ao pôr do Sol, as nuvens adensavam-se e formavam-se cúmulos em forma de bigorna que se incendiavam com relâmpagos silenciosos. A base da nuvem era de um carvão negro e o seu topo desfazia-se suavemente num laranja desmaiado. Por cima da nuvem, o céu era azul profundo e luzia com algumas estrelas tropicais.

Monet mantinha amizade com algumas mulheres que viviam na cidade de Eldoret, a sudoeste da montanha, uma cidade onde as pessoas

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eram pobres e viviam em barracas, feitas de tábuas e placas de zinco. Dava-lhes dinheiro e elas, em troca, davam-lhe amor. Quando chega-ram as suas férias de Natal decidiu ir acampar para o monte Elgon e convidou uma dessas mulheres de Eldoret para o acompanhar. Nin-guém parece recordar-se de quem era ela.

Monet e a sua companheira seguiram num Land Rover por uma longa estrada reta, de terra batida vermelha, que levava a Endebess Bluff, um penhasco saliente na encosta leste do vulcão. A estrada era de pó vulcânico vermelho, como sangue seco. Subiram até à encosta, na base do vulcão, atravessaram campos de milho, plantações de café e, por fim, uma zona de pastagens. Depois, a estrada passava por quin-tas coloniais inglesas meio arruinadas, escondidas por detrás de áleas de eucaliptos. O ar arrefecia à medida que ganhavam altitude e viam-. O ar arrefecia à medida que ganhavam altitude e viam--se águias de crista a sobrevoar os cedros. Poucos turistas visitavam o monte Elgon. Monet e a amiga estariam no único carro que se encon-trava na estrada, embora se cruzassem com hordas de pessoas a cami-nhar a pé, camponeses que cultivavam pequenas hortas no sopé da montanha. Aproximaram-se das franjas do extremo da floresta tropi-cal do monte Elgon, cruzaram bosques de árvores e passaram pelo Lodge do monte Elgon, uma estalagem de estilo inglês construída no início do século, agora arruinada, com as paredes estaladas e a pin-tura a descascar pelo efeito do sol e da chuva.

O monte Elgon ergue-se entre as fronteiras do Uganda e do Qué-nia, e não fica longe do Sudão. A montanha é uma ilha biológica de floresta tropical no centro de África, um mundo isolado que emerge das planícies secas, com oitenta quilómetros de extensão, atapetado com árvores, bambu e prados alpinos.

É uma vértebra na coluna da África Central. O vulcão formou-se há sete a dez milhões de anos, produzindo fortes erupções e explosões de cinza, arrasando repetidamente a floresta que crescia nas suas encos-tas, até atingir uma altura impressionante. Antes de começar a erodir pode ter sido a mais alta montanha africana, ultrapassando a altitude atual do monte Kilimanjaro. É ainda a montanha mais extensa. Quando nasce o Sol, a montanha estende a sua sombra para oeste, bem dentro do Uganda e no ocaso a sua sombra prolonga-se para leste, pelo Quénia.

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PRIMEIRA PARTE > A SOMBRA DO MONTE ELGON

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À sombra do monte Elgon acolhem-se aldeias e cidades habitadas por vários grupos tribais, incluindo os Elgon Masai, um povo de pastores criadores de gado, chegados do Norte e que se estabeleceram à volta da montanha há alguns séculos. As encostas mais baixas são regadas por chuvas leves, o ar mantém-se fresco todo o ano e o solo vulcânico produz colheitas de milho generosas. As aldeias formam um anel de ocupação humana que circunda o vulcão, um garrote que se aperta progressivamente e que estrangula o habitat selvagem da montanha. A floresta está a ser progressivamente arrasada, as árvores são corta-das para servir de lenha ou para dar lugar a pastagens e os elefantes estão a desaparecer.

Uma pequena parte do monte Elgon faz parte de um parque nacional. Monet e a amiga pararam no portão do parque para pagar as entradas. Um macaco, ou talvez um babuíno – ninguém parece recordar-se –, costumava vadiar nos portões do parque à espera de comida e Monet convenceu-o a subir-lhe para o ombro, oferecendo-lhe uma banana. A amiga riu-se e mantiveram-se ambos perfeitamente imóveis enquanto o animal comia. Continuaram a viagem de carro, subindo um pouco mais a montanha e montaram a tenda numa clareira inclinada de erva húmida que terminava num riacho. A corrente saía em gorgole-ía em gorgole-a em gorgole-jos do interior da floresta tropical com uma estranha cor leitosa de pó vulcânico. A erva mantinha-se curta pelo pasto dos búfalos do Cabo e estava pejada dos seus excrementos.

A floresta Elgon erguia-se, majestosa, à volta do local onde estavam acampados: uma teia de oliveiras africanas deformadas, cobertas de musgo e pintalgadas de azeitonas negras, venenosas para os humanos. Ouviram uma zaragata de macacos enquanto comiam nas árvores, um zumbido de insetos e um ou outro uivo de chamada de macacos. Eram macacos columbus e, de vez em quando, um deles descia das árvores e saltitava entre a vegetação perto da tenda, observando-os com olhos inteligentes e alerta. Bandos de estorninhos irrompiam das árvores numa explosão, lançando-se em voos de mergulho a enorme veloci-dade, a sua estratégia para escaparem aos falcões que os perseguiam e os podiam derrubar com um golpe de asa. Havia árvores de cân-fora, teca, cedros africanos e ameixeiras vermelhas africanas. Aqui e

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ali, uma nuvem escura de folhas verdes elevava-se como cogumelos por entre a copa das árvores. Eram as copas das árvores podocarpus, as maiores de África, quase tão grandes como as sequoias californianas. Milhares de elefantes ainda viviam na montanha e sabia-se quando se deslocavam na floresta, pelos estalidos dos ramos a quebrar, enquanto comiam as folhas.

Durante a tarde terá chovido no monte Elgon, como habitualmente, e por isso Monet e a amiga terão ficado na tenda e talvez tenham feito amor, enquanto a tempestade fustigava a lona. Escureceu e a chuva esvaiu-se pelo chão. Acenderam uma fogueira e prepararam o jantar. Era noite de Ano Novo. Talvez tenham celebrado bebendo champanhe. As nuvens desapareceriam dentro de algumas horas, como habitual-mente, e o vulcão terá emergido como uma sombra negra sob a Via Láctea. Talvez Monet tenha ficado na relva, ao bater da meia-noite, a olhar para as estrelas, com o pescoço inclinado para trás e desequili-brado pelo efeito do champanhe.

Na manhã de Dia de Ano Novo, depois do pequeno-almoço – uma manhã fria, com a temperatura do ar nos quatro graus e a relva húmida e gelada –, continuaram a subir a montanha por uma picada lamacenta e estacionaram num pequeno vale, sob a gruta Kitum. Continuaram a pé, escalando o vale pelo meio dos arbustos, seguindo o trilho dos ele-fantes ao lado de um curso de água que regateava por entre oliveiras e pastagens de erva. Estavam atentos aos búfalos do Cabo, um animal perigoso que não convém encontrar na floresta. A gruta abria-se no cimo do vale e o curso de água fazia uma cascata por cima da entrada. Os vários trilhos dos elefantes juntavam-se à entrada da gruta e diri-giam-se para o seu interior. Monet e a amiga passaram todo o dia de Ano Novo dentro da gruta. Provavelmente terá chovido e terão espe-rado sentados na entrada durante horas, enquanto o pequeno riacho escorria como um véu. Observando o vale viam-se elefantes e híra-xes – furões do tamanho de castores – a correr de um lado para outro perto da boca da gruta.

As manadas de elefantes entram na gruta Kitum durante a noite para conseguirem sais minerais. Nas planícies é fácil para os ele-fantes encontrar sal na terra gretada e nas poças de água secas, mas

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PRIMEIRA PARTE > A SOMBRA DO MONTE ELGON

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na floresta tropical trata-se de um bem escasso e precioso. A gruta é suficientemente larga para acolher até setenta elefantes em simultâ-neo. Passam a noite no seu interior, dormitando de pé ou a minar a pedra com as presas. Raspam e retiram pedras da parede e mastigam--nas, com os dentes transformam-nas em fragmentos mais pequenos e comem-nos. Os excrementos de elefante à volta da cave estão cheios de pedaços de pedra.

Monet e a sua companheira tinham uma lanterna e voltaram à gruta para ver até onde ia. A entrada da gruta é enorme – cinquenta metros de largura – e ainda se alarga mais depois da entrada. Atraves-saram uma zona coberta de pó de excremento de elefante seco, levan-tando nuvens de pó com os pés à medida que avançavam. A luz foi-se tornando mais ténue e o chão da caverna elevava-se numa série de socalcos, cobertos de verdete pegajoso. O verdete eram dejetos de mor-, cobertos de verdete pegajoso. O verdete eram dejetos de mor-cego, uma pasta verde resultado da digestão de vegetais, expelida pela colónia de morcegos da fruta pendurados no teto. Os morcegos zum-biam ao sair dos seus buracos, cruzando o feixe de luz das lanternas e voavam em círculos à volta das suas cabeças, emitindo silvos agudos. As lanternas perturbavam-nos, despertando cada vez mais morcegos. Centenas de olhos de morcego, como rubis vermelhos, observavam--nos do teto da gruta. Os ruídos do seu voo propagavam-se no teto e ecoavam de parede em parede, um som seco e estridente como se esti-vessem a abrir-se dezenas de pequenas portas com as dobradiças per-ras. Viram depois a coisa mais assombrosa da gruta Kitum. A caverna é uma floresta tropical petrificada. Troncos fossilizados pendiam do teto e das paredes, pedaços de diversos tipos de árvores transforma-dos em pedra. Uma erupção do monte Elgon há cerca de sete milhões de anos enterrara a floresta tropical sob as cinzas e os troncos trans-formaram-se em opalas e fósseis, rodeados de cristais como agulhas minerais brancas que cresciam nas rochas. Os cristais eram incisivos como seringas e brilhavam com o feixe das lanternas.

Monet e a sua amiga vaguearam pela gruta, apontando as lanternas à floresta tropical petrificada. Terá Monet passado as mãos sobre os troncos de árvore fossilizados e cortado um dedo num cristal? Encon-traram ossos petrificados espetados no teto e nas paredes. Ossos de

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crocodilo, de antigos hipopótamos e dos antepassados dos elefantes. Entre os troncos havia algumas aranhas penduradas nas teias, à espera de traças e insetos.

Chegaram a uma zona com uma leve inclinação, onde a caverna principal se alargava mais de noventa metros, uma extensão superior à de um campo de futebol. Deparam com uma fenda e apontaram as lanternas para o fundo. Havia algo de estranho ali – uma massa de matéria cinzento-acastanhada. Eram os corpos mumificados de bebés--elefante. Quando os elefantes entram pela gruta à noite, guiam-se pelo tato e vão sentindo o chão com a ponta da tromba. Os bebés por vezes despenham-se no abismo.

Monet e a companheira continuaram o seu passeio pelo interior da gruta, descendo uma escarpa até chegarem a um pilar que pare-cia suster o teto. O pilar estava desbastado e golpeado pelas presas dos elefantes. Se continuassem a fazê-lo poderiam derrubá-lo, pro-vocando assim o colapso do teto da gruta Kitum. Na parte de trás da gruta encontraram outro pilar, desta vez partido. Por cima pendia uma massa aveludada de morcegos que tinham coberto o pilar com guano preto – dejetos diferentes da massa verde pegajosa à entrada da caverna. Estes morcegos comiam insetos e o guano era o resultado da digestão. Terá Monet posto a mão nesse lodo?

A amiga de Monet desapareceu de circulação durante anos após essa viagem ao monte Elgon. Depois, inesperadamente, apareceu num bar de Mombaça, onde trabalhava como prostituta. Por mero acaso, um médico queniano que tinha investigado o caso Monet estava a beber uma cerveja nesse bar e entabulou conversa com essa mulher, mencio-nando o nome de Monet. Ficou espantado quando ela lhe respondeu:

– Eu conheço esse caso. Venho do Quénia Ocidental e eu era a mulher que estava com Charles Monet.

Começou por não acreditar nela, mas a história que ouviu tinha tantos detalhes que ficou convencido de que estaria a dizer a verdade. Depois desse encontro no bar, ela voltou a desaparecer, perdida nos labirintos de Mombaça e terá provavelmente morrido de sida.

Charles Monet regressou ao seu emprego na casa das máquinas da fábrica de açúcar. A caminho do trabalho, todos os dias percorria os

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PRIMEIRA PARTE > A SOMBRA DO MONTE ELGON

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campos de cana queimados, admirando as vistas sobre o monte Elgon. Quando a montanha ficava submersa nas nuvens, provavelmente ainda conseguia sentir a força da sua atração, como a gravidade de um pla-neta invisível. Entretanto, alguma coisa andava a fazer cópias de si próprio dentro de Monet. Uma forma de vida tinha-o adotado como hospedeiro e estava a replicar-se.

Tipicamente, a dor de cabeça começa no sétimo dia depois da expo-sição ao agente. No sétimo dia depois da visita de Ano Novo à gruta Kitum – a 8 de janeiro de 1980 –, Monet sentiu uma dor a latejar por detrás dos globos oculares. Decidiu não ir trabalhar e ficar em casa, e enfiou-se na cama. A dor de cabeça era cada vez mais intensa. Doíam-lhe os olhos e, quando se alastrou às têmporas, a dor parecia desenhar círculos à volta da sua cabeça. Não só não desaparecia com aspirina como lhe atacou também as costas. Como a sua empregada, Johnnie, ainda estava de férias de Natal, tinha contratado uma empre-gada temporária que tentou cuidar dele mas não sabia o que fazer. Ao terceiro dia após o início da dor de cabeça, ficou com febre e come-çou a ter náuseas e a vomitar, cada vez com maior intensidade, até já só ter espasmos sem nada para vomitar. Ao mesmo tempo, tornou--se estranhamente passivo. O rosto perdeu a aparência de vida, uma máscara inexpressiva, de olhos fixos, paralisados, fitando o vazio. As pálpebras estavam ligeiramente caídas, o que lhe conferia uma apa-rência peculiar, uma vez que ao mesmo tempo os olhos saltavam das órbitas e estavam semicerrados. As pupilas vermelho-vivo pareciam congeladas. A pele do rosto amareleceu, polvilhada de pontos verme-lhos, brilhantes, como pequenas estrelas. Começou a parecer-se com um zombie e o seu aspeto assustava a empregada. Não compreendia aquela transformação. A sua personalidade mudou. Começou a ficar irascível, desconfiado, zangado e a sua memória parecia ter desapare-cido. Não estava em delírio. Conseguia responder a perguntas, embora não tivesse a noção exata de onde se encontrava.

Quando deram conta de que Monet faltara ao trabalho e não tendo notícias dele, os colegas acabaram por ir a sua casa saber se estava tudo bem. O corvo branco e negro estava pousado no telhado e observou-os

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ZONA CRÍTICA

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enquanto entravam. Olharam para Monet e decidiram que teria de ir para o hospital. Como estava incapaz de conduzir um carro, um dos companheiros levou-o até um hospital privado em Kisumu, nas mar-gens do lago Victoria. Os médicos que o examinaram no hospital não conseguiram encontrar uma explicação para o que teria acontecido aos seus olhos, ao rosto ou à mente. Pensando que poderia estar com algum tipo de infeção bacteriana, administram-lhe injeções de anti-bióticos, mas estes não tiveram qualquer efeito na sua doença.

Os médicos sugeriram então que deveria ir para o Hospital Nairobi, o melhor hospital privado da África Oriental. A rede telefónica quase não funcionava e não parecia sequer necessário telefonar a algum médico para avisar que Monet ia a caminho. Ainda podia andar e parecia capaz de viajar sozinho. Tinha dinheiro e percebeu que teria de chegar a Nairobi. Puseram-no num táxi para o aeroporto e embar-cou sozinho num voo da Kenya Airways.

Um vírus contagioso da floresta tropical vive apenas a vinte e qua-tro horas de avião de qualquer cidade do mundo. Todas as cidades do planeta estão ligadas por uma teia de rotas aéreas. A teia é uma rede. Quando um vírus atinge a rede, pode catapultar-se para qualquer lugar em apenas um dia – Paris, Tóquio, Nova Iorque, Los Angeles, qual-quer local para onde voe um avião. Charles Monet e a forma de vida dentro de si tinham entrado na rede.

O avião era um Fokker Friendship com hélices, um avião para peque-nas distâncias com trinta e quatro lugares. Ligou os motores e levantou voo sobrevoando o lago Victoria, de um azul resplandecente e seme-ado de pequenas canoas de pescadores. O Friendship (Amizade) virou dirigindo-se para leste, por cima das colinas onde se podiam ver, como uma manta de retalhos, as plantações de chá e pequenas quintas. Os aviões domésticos que percorrem África vão geralmente atafulhados de gente e este provavelmente não era exceção. Sobrevoou manchas de floresta e povoações de cabanas redondas e aldeias com telhados de zinco. No seu percurso atravessa o Estearn Rift Valley, uma depressão em que o terreno cai abruptamente em escadaria e ravinas profun-das, no fundo das quais o solo passa de verde a castanho. Os passa-geiros espreitavam pelas janelas, para o local onde surgiu a espécie