a humanização no contexto da assistencia ao paciente

10
A HUMANIZAÇÃO NO CONTEXTO DA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE HOSPITALIZADO: UMA BREVE REFLEXÃO 1 BERTOLINO, Karla Cristiane Oliveira 2 ; DIEFENBACH, Grassele Denardin Facin 2 ; COSTA, Rogério Fontana da 3 E-mail: [email protected] 1 Trabalho de reflexão teórica. Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 2 Curso de Enfermagem. Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professor Assistente da UNIFRA. 3 Curso de Fisioterapia do 4º semestre da UNIFRA. E-mail: [email protected] RESUMO Esta reflexão teórica surgiu de discussões realizadas em grupos de pesquisas da UNIFRA e em sala de aula cujo objetivo é realizar uma breve reflexão teórica sobre a humanização do cuidado no contexto hospitalar, especificamente no que tange o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, como forma de humanizar o cuidado ao paciente hospitalizado. Assim, para cuidar de forma humanizada, o profissional da saúde que presta cuidados mais próximos ao paciente, deve ser capaz de entender a si mesmo e ao outro, ampliando esse conhecimento na forma de ação e tomando consciência dos valores e princípios que norteiam essa ação. Neste contexto, respeitar o paciente é componente primordial no tocante aos cuidados humanizados. Respeitar envolve ouvir e interpretar o que o outro tem a dizer, ser tolerante, honesto, atencioso, é entender a necessidade do autoconhecimento para poder respeitar a si próprio e então respeitar o outro. Palavras-chave: Humanização; Programa Nacional de Humanização na Atenção Hospitalar; Profissionais da Saúde. 1. INTRODUÇÃO A temática humanização da assistência é de grande relevância atualmente, uma vez que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem se empenhado, por meio de suas políticas públicas, em aperfeiçoar o atendimento aos seus usuários em âmbito nacional. Esse atendimento se fundamenta nos princípios de integralidade da assistência, equidade e participação social do usuário, dentre outros, fato que se faz repensar as práticas cotidianas, com ênfase na criação de ambientes de trabalho que valorizem a dignidade tanto do trabalhador quanto do usuário do sistema. Ao mesmo tempo, pensar em praticar o que é humano é evidenciar que o momento em que se vive é de profunda desumanização, a ponto de ter de tomar o substantivo “humanização” como um verbo.

Upload: cledione-freitas

Post on 18-Dec-2015

18 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

humanização e assistencia paciente

TRANSCRIPT

  • A HUMANIZAO NO CONTEXTO DA ASSISTNCIA AO PACIENTE HOSPITALIZADO: UMA BREVE REFLEXO1

    BERTOLINO, Karla Cristiane Oliveira2; DIEFENBACH, Grassele Denardin Facin2; COSTA, Rogrio Fontana da3 E-mail: [email protected]

    1 Trabalho de reflexo terica. Centro Universitrio Franciscano (UNIFRA). 2 Curso de Enfermagem. Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professor Assistente da UNIFRA. 3 Curso de Fisioterapia do 4 semestre da UNIFRA. E-mail: [email protected]

    RESUMO

    Esta reflexo terica surgiu de discusses realizadas em grupos de pesquisas da UNIFRA e

    em sala de aula cujo objetivo realizar uma breve reflexo terica sobre a humanizao do

    cuidado no contexto hospitalar, especificamente no que tange o Programa Nacional de

    Humanizao da Assistncia Hospitalar, como forma de humanizar o cuidado ao paciente

    hospitalizado. Assim, para cuidar de forma humanizada, o profissional da sade que presta

    cuidados mais prximos ao paciente, deve ser capaz de entender a si mesmo e ao outro,

    ampliando esse conhecimento na forma de ao e tomando conscincia dos valores e

    princpios que norteiam essa ao. Neste contexto, respeitar o paciente componente

    primordial no tocante aos cuidados humanizados. Respeitar envolve ouvir e interpretar o que

    o outro tem a dizer, ser tolerante, honesto, atencioso, entender a necessidade do

    autoconhecimento para poder respeitar a si prprio e ento respeitar o outro.

    Palavras-chave: Humanizao; Programa Nacional de Humanizao na Ateno

    Hospitalar; Profissionais da Sade.

    1. INTRODUO A temtica humanizao da assistncia de grande relevncia atualmente, uma vez

    que o Sistema nico de Sade (SUS) tem se empenhado, por meio de suas polticas

    pblicas, em aperfeioar o atendimento aos seus usurios em mbito nacional. Esse

    atendimento se fundamenta nos princpios de integralidade da assistncia, equidade e

    participao social do usurio, dentre outros, fato que se faz repensar as prticas cotidianas,

    com nfase na criao de ambientes de trabalho que valorizem a dignidade tanto do

    trabalhador quanto do usurio do sistema. Ao mesmo tempo, pensar em praticar o que

    humano evidenciar que o momento em que se vive de profunda desumanizao, a ponto

    de ter de tomar o substantivo humanizao como um verbo.

  • Assim sendo, indispensvel compreender o porqu e o para que da necessidade

    dessas mudanas de paradigmas da assistncia sade no Brasil, especialmente no que

    tange ao contexto hospitalar, j que neste ambiente atendida uma enormidade de usurios

    com as mais diversas patologias e graus de complexidade. Nas instituies hospitalares, os

    profissionais de sade desempenham papel fundamental no complexo processo de cuidar, e

    por isso discutir humanizao falar de seu instrumento de trabalho: o cuidado, que, se

    configura como uma relao de ajuda e constitui-se em uma atitude humanizada.

    Mas o que levou o SUS a criar um programa nacional que visa humanizar o

    atendimento aos usurios? O que humanizao propriamente dita? A partir de tais

    indagaes, objetiva-se realizar uma reflexo sobre a humanizao do cuidado no contexto

    hospitalar, especificamente no que tange o Programa Nacional de Humanizao da

    Assistncia Hospitalar (PNHAH), como forma de humanizar o cuidado ao paciente

    hospitalizado.

    2. METODOLOGIA Esta reflexo terica surgiu a partir de discusses realizadas em grupos de

    pesquisas da UNIFRA e em sala de aula, efetivadas entre professores e acadmicos. Em

    consequncia, buscaram-se trabalhos que abordassem a temtica humanizao da

    assistncia e PNHAH, de forma aleatria, em bases de dados na Biblioteca Virtual em

    Sade (BVS). Para sua utilizao neste trabalho, foram lidos seus resumos com vistas a

    identificar as temticas estudadas. Posteriormente, aps serem identificados os trabalhos a

    serem includos nesta reflexo terica, procedeu-se leitura dos trabalhos na ntegra no

    intuito de desenvolver a presente discusso.

    3. A HUMANIZAO DO CUIDADO/ASSISTNCIA DE ENFERMAGEM E O RESPEITO AO PACIENTE

    Hoje, tem-se abordado abundantemente a humanizao da assistncia sade. Mas

    aqui residem mltiplos conceitos: alguns autores entendem a humanizao como sendo a

    importncia da relao intersubjetiva entre profissional e paciente durante a invaso da

    tecnologia e massificao dos hospitais; outros estudiosos a entendem como a introduo

    de estudos humansticos, em especial a Psicologia, nos planos de estudos dos cursos

    biomdicos; mas o significado mais profundo consiste no reconhecimento da dignidade de

    pessoa em todo ser humano, que vai desde o nascer at o morrer (SGRECCIA, 2002).

    Se humanizar prtica do ser humano, ento o que realizamos humano, pois visa

    o bem-estar da humanidade, tanto individual como coletivamente. Isso o verdadeiro

    sentido de humanizar, que se identifica ou se evidencia principalmente pelo cuidado, que

    designa amor, amizade, cura (CORBANI, BRTAS e MATHEUS, 2009). Pode-se dizer,

    ento, que a cura no se d unicamente pelo vis tcnico-curativo, mas principalmente

  • pelos sentimentos positivos expressos no cuidado. Da no existiria a possibilidade de

    deixar de cuidar, ou vir a tornar-se rob, pois seria ir contra a prpria natureza.

    Segundo Drane e Pessini (2005), o bom profissional de sade no aquele que

    somente atende s expectativas sociais, mas, sim, aquele cujo comportamento focaliza as

    perdas que a pessoa doente sofre(u), empenhando-se em responder como um ser humano

    a outro ser humano. As obrigaes humansticas dos profissionais de sade perpassam a

    competncia (adquirir as habilidades necessrias para diagnosticar, tratar e curar), a

    compaixo (os pacientes esperam que o profissional sinta e expresse algum sentimento em

    relao a eles e seu sofrimento), a informao e a educao do paciente (explicar ao

    paciente o que est acontecendo e qual o motivo gerador de tal situao, explicar a

    gravidade da doena, as diferentes possibilidades de tratamento etc. Salienta-se que fazer o

    trabalho silenciosamente, sem comunicao com o paciente, ignor-lo da forma mais vil e

    cruel), a proteo da participao do paciente (se a escolha, a iniciativa, a tomada de

    decises e a responsabilidade so ameaadas pela doena, os profissionais tm o dever de

    promover a tomada de decises e a autodeterminao dos pacientes) e, por fim, a amizade

    (contato pessoal que vai alm do relacionamento meramente tcnico com o paciente).

    H quatro aspectos essenciais para a relao de cuidado humanizado, de acordo

    com Corbani, Brtas e Matheus (2009): reciprocidade, presena, imediatez e

    responsabilidade. A reciprocidade a dupla ao mtua, quando a palavra da invocao

    recebe a resposta. Ela vem do e no encontro face a face, a relao imediata, direta, com a

    presena efetiva e no somente com a representao. Da s lhe dar forma, descobrir,

    conduzir, surgindo ento o verdadeiro cuidado humanizado.

    medida que resgata o respeito vida humana, a humanizao entendida como

    valor, abrangendo circunstncias sociais, ticas, educacionais e psquicas presentes em

    todo relacionamento humano. Esse valor definido em funo de seu carter complementar

    aos aspectos tcnico-cientficos que privilegiam a objetividade, a generalidade, a

    causalidade e a especializao do saber (MACIAK, SANDRI e SPIER, 2009).

    Cuidar do outro , antes de tudo, ajud-lo a cuidar de si, a respeitar sua unicidade,

    autonomia e dignidade. O cuidado profissional se apresenta como uma prtica complexa

    cujas aes rompem as barreiras do mundo pblico e do privado, das fragmentaes do ser

    e do contexto em que est inserido. Neste sentido, os valores ticos e polticos, assim como

    outros valores sociais e de cidadania concluem para os valores profissionais do cuidado,

    tornando-o essencialmente humano (SILVA, 2000).

    A humanizao depende de nossa capacidade de falar e ouvir, do dilogo com

    nossos semelhantes. Humanizar garantir palavra a sua dignidade tica. Ou seja, o

    sofrimento humano e as percepes de dor ou de prazer no corpo, para serem

    humanizados, precisam tanto que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas

  • pelo outro, quanto esse sujeito precisa ouvir do outro palavras de seu reconhecimento. Pela

    linguagem fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicao com o outro, sem o

    que nos desumanizamos reciprocamente (BRASIL, 2000).

    Para Silva (2000), perceber o ser humano como algum que no se resume

    meramente a um ser com necessidades biolgicas, mas como um agente biopsicossocial e

    espiritual, com direitos a serem respeitados, devendo ser garantida sua dignidade tica,

    fundamental para comearmos a caminhar em direo humanizao dos cuidados de

    sade. Assim, para cuidar de forma humanizada, o profissional da sade que presta

    cuidados mais prximos ao paciente, deve ser capaz de entender a si mesmo e ao outro,

    ampliando esse conhecimento na forma de ao e tomando conscincia dos valores e

    princpios que norteiam essa ao. Neste contexto, respeitar o paciente componente

    primordial no tocante aos cuidados humanizados. Respeitar envolve ouvir e interpretar o que

    o outro tem a dizer, ser tolerante, honesto, atencioso, entender a necessidade do

    autoconhecimento para poder respeitar a si prprio e ento respeitar o outro. Embora o

    conceito de respeito seja bastante amplo, pode-se pontuar que, ao agir de forma a

    considerar a individualidade e a subjetividade do paciente, tratando-o com ateno,

    considerao e deferncia, o profissional estar agindo de forma respeitosa e, portanto,

    oferecendo cuidados mais integrais e humanizados.

    Respeitar o outro na forma de ao inclui tambm considerar os princpios bioticos

    da autonomia, justia, beneficncia e no-maleficncia. Esses princpios so subsidirios

    dignidade humana, tornando-se um componente essencial da qualidade do cuidado e o

    princpio biotico da autonomia um dos aspectos fundamentais para que se possa agir

    com respeito junto ao cliente. O princpio da justia, quando posto em prtica, faz com que o

    respeito tambm seja praticado. Agir com justia pressupe a assistncia equitativa a todos

    os pacientes, levando em considerao suas condies clnicas e sociais. Isso implica que,

    para ser justo, devem-se entender as necessidades de cada paciente e direcionar os

    cuidados tendo em mente essas necessidades. Assim, ser justo no tratar igualmente

    todos os pacientes, j que cada um possui necessidades, condies clnicas e sociais

    diferentes. Uma das definies para respeitar a de no causar qualquer prejuzo. Assim,

    ao aplicar os princpios da beneficncia e no maleficncia, o profissional respeita o

    paciente. Neste sentido, ele o trata com compaixo e bondade, alm de agir com altrusmo,

    amor e humanidade (SILVA, 2000; BARBOSA e SILVA, 2007).

    Outro ponto importante o processo comunicativo. O profissional, conhecendo as

    tcnicas de comunicao teraputicas adequadas, traz consigo mais um recurso a seu

    favor, dando um enfoque mais humanstico comunicao e s relaes interpessoais que

    mantm. Em um contexto hospitalar, o significado da comunicao para o profissional

    permeia distintos aspectos, por exemplo, a expresso oral, a coleta de dados, a anamnese e

  • exame fsico do paciente, dentre outros. A comunicao alegra os pacientes, pois uma

    maneira de distrao, fazendo com que os mesmos focalizem menos suas doenas e, de

    certa forma, amenizem seu sofrimento. Assim, no resta dvidas de que a comunicao

    exerce um papel fundamental no cuidado humanizado e na demonstrao de respeito por

    parte do profissional.

    Por conseguinte, o cuidado no pode estar desvinculado e descontextualizado, pois

    ele s pode ser exercido se o ser humano for compreendido em sua totalidade, suas

    diferenas, pluralismo e diversidade. necessrio que os profissionais de sade caminhem

    alm das aparncias, valorizando os aspectos qualitativos dos fenmenos da vida humana,

    relacionados com o verdadeiro significado atribudo por quem os vivencia.

    4. PROGRAMA NACIONAL DE HUMANIZAO DA ASSISTNCIA HOSPITALAR

    O SUS, atualmente, tem sua ateno voltada para o desafio de implantar o Programa

    Nacional de Humanizao Hospitalar (PNHAH), pois se defronta com a necessidade de

    melhorar qualitativamente os servios prestados populao. Por isso, vem reestruturando

    suas aes e estratgias para possibilitar o bom contato humano entre profissionais da

    sade e usurios, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade, em busca de

    qualidade e eficcia da ateno dispensada aos usurios. Busca, portanto, a difuso de uma

    nova filosofia de humanizao na rede hospitalar brasileira credenciada ao SUS (MACIAK,

    SANDRI e SPIER, 2009).

    Em 1977, em nvel internacional, j se observava um esboo, mais de fundo tico,

    para se humanizar a assistncia ao paciente hospitalizado, a partir da iniciativa da National

    League for Nursing1, a qual elaborou uma declarao sobre a responsabilidade das

    enfermeiras em assegurar o respeito e os direitos dos pacientes, enfocando,

    essencialmente, aspectos ticos como privacidade, confidencialidade, participao

    informada, autodeterminao e acesso aos registros sobre sua sade (SMELTZER e BARE,

    2002).

    No Brasil, o divisor de guas nesse sentido foi a criao do PNHAH em 2000, uma

    iniciativa do Ministrio da Sade. Mas por que este programa foi idealizado? Simples: pela

    crescente e aberrante desumanizao do atendimento hospitalar nos hospitais pblicos

    brasileiros, como o prprio Ministro da Sade Jos Serra, na poca, afirmou: o PNHAH foi

    criado porque foram identificadas inmeras queixas dos usurios referentes aos diversos

    maus tratos nos hospitais. Com isso, foram convidados profissionais da rea de sade

    mental para elaborar uma proposta de trabalho voltada humanizao dos servios

    hospitalares pblicos de sade (BRASIL, 2000).

    1 Liga Nacional de Enfermagem.

  • O PNHAH tem suas aes fundamentadas no respeito singularidade das

    instituies hospitalares e na integrao e cooperao entre os diversos agentes que

    compem o Sistema de Sade Ministrio da Sade, Secretarias Estaduais e Municipais de

    Sade e instituies hospitalares, estimulando a criao e a sustentao permanente de

    espaos de comunicao que facultem e estimulem a livre expresso, a dinmica do

    dilogo, o respeito diversidade de opinies e a solidariedade (BRASIL, 2000).

    O programa conta com dois importantes instrumentos de apoio ao processo de

    humanizao: a Rede Nacional de Humanizao, com um portal na internet para promover a

    capacitao distncia, intercmbio de idias e a difuso permanente de informaes teis

    coletividade, e a criao de uma poltica de incentivos que incluiu a outorga do prmio

    "Hospital humanizado" em 2002 (BRASIL, 2002).

    A proposta de humanizao da assistncia sade uma conquista para o

    melhoramento do atendimento sade do usurio e das condies de trabalho para os

    profissionais. Uma cartilha explicativa criada pelo Ministrio da Sade diz que o ambiente

    hospitalar se refere ao tratamento dado ao espao fsico, entendido como espao social,

    profissional e de relaes interpessoais, que deve proporcionar ateno acolhedora,

    humana e resolutiva, com elementos catalisadores da interrelao homem versus espao.

    importante que o ambiente seja adequado e confortvel para a recuperao do paciente

    (MACIAK, SANDRI e SPIER, 2009).

    O manual criado do PNHAH aborda as diretrizes bsicas para a implantao de um

    processo de humanizao dos servios de sade nos hospitais. dirigido a gestores e

    profissionais de diferentes especialidades, comprometidos com uma proposta humanizadora

    das relaes que se estabelecem entre profissionais e usurios no atendimento sade

    (BRASIL, 2002).

    Os objetivos do PNHAH so: fortalecer e articular todas as iniciativas de

    humanizao j existentes na rede hospitalar pblica; melhorar a qualidade e a eficcia da

    ateno dispensada aos usurios da rede hospitalar brasileira credenciada ao SUS;

    modernizar as relaes de trabalho no mbito dos hospitais pblicos, tornando as

    instituies mais harmnicas e solidrias, de modo a recuperar a imagem pblica dessas

    instituies junto comunidade; capacitar os profissionais do hospital para um novo

    conceito de ateno sade que valorize a vida humana e a cidadania; conceber e

    implantar novas iniciativas de humanizao dos hospitais que venham a beneficiar os

    usurios e os profissionais de sade; estimular a realizao de parcerias e intercmbio de

    conhecimentos e experincias nesta rea; desenvolver um conjunto de parmetros de

    resultados e sistema de incentivos ao servio de sade humanizado; difundir uma nova

    cultura de humanizao na rede hospitalar credenciada ao SUS (BRASIL, 2000).

  • O PNHAH, conforme assinalam Maciak, Sandri e Spier (2009), descreve que o

    processo de humanizao dos servios de sade nos coloca frente a uma dupla tarefa:

    refletir sobre a realidade do sistema de sade e a particularidade de cada instituio e/ou

    situao, e criar solues para enfrentar os desafios e otimizar as oportunidades.

    Por fim, assistncia humanizada o cuidado que se resgata dos pequenos e

    grandes eventos do dia-a-dia, que tornam o ser humano nico e especial nos diferentes

    espaos e situaes em que se encontra no sentido de prestar um atendimento

    personalizado, voltado no para a doena, mas para o ser humano que adoece.

    5. QUESTES PRTICAS NA ASSISTNCIA AO PACIENTE HOSPITALIZADO

    Como componente fundamental de qualquer ato humano, a racionalidade deve estar

    associada ao sentimento de benevolncia, solidariedade e compreenso. A partir disso, h

    que se prestar uma assistncia mais humanizada, com a criao de cursos para

    desenvolver atitudes humanizadoras e refletir sobre elas, levar em considerao as

    (in)satisfaes dos usurios e trabalhadores e analisar para otimizar o ambiente laboral,

    reconhecer os direitos e deveres de profissionais e pacientes, e refletir sobre o papel dos

    rgos gestores da instituio (SABOGAL, 2000).

    Muitas das restries que os modernos hospitais colocam a seus usurios e

    familiares em termos de regras, horrios etc. no obedecem a razes tcnicas, porm

    constituem parte de uma longa herana, de cunho autoritrio. importante questionar e

    reavaliar as regras que restringem o acesso e a participao de famlias e usurios,

    propiciando formas mais abertas e livres de interao com o hospital. Na medida em que

    esta interao se desenvolve, uma fora criativa de aliana se estabelece, beneficiando

    tanto aos usurios e suas famlias, como aos funcionrios e profissionais que passam a

    contar com uma rede de ajuda maior para o desenvolvimento de suas tarefas (BRASIL,

    2000).

    Com base nas afirmaes anteriores e no que preconiza o PNHAH, pode-se

    identificar algumas das muitas aes concretas, e que podem ser realmente resolutivas, no

    cuidado ao paciente hospitalizado, seja em situaes crticas de vida ou em quaisquer

    outras circunstncias, tais como: sensibilizao e treinamento das equipes: reunies,

    leituras de textos e discusses, grupos de estudos; valorizao e conscientizao do

    cuidado humanizado: escuta ativa, encontro face a face, individualizao, cumprimento,

    chamada pelo nome, estabelecimento de dilogos francos etc.; fornecimento de informaes

    corretas que sanem as dvidas de pacientes e seus familiares: conhecimento e verdade por

    parte da equipe geram tranquilidade e autonomia do paciente; criao de grupos de apoio e

    orientao famlia: servios de psicologia, equipe de enfermagem etc.; desenvolvimento

    de atividades de recreao e confraternizao: ludicidade, comemorao de datas festivas,

  • decorao do ambiente; flexibilizao de horrios e rotinas hospitalares; melhoramento da

    estrutura de salas de estar: televiso, lazer e socializao entre pacientes e familiares;

    promoo de eventos: tanto para equipe quanto para usurios; valorizao do funcionrio

    como ser humano: se o cuidador no se cuida, no possvel cuidar humanamente do

    outro; comunicao efetiva: compreenso da comunicao verbal, comunicao no-verbal

    e para- linguagem; otimizar as condies de acesso e presteza dos servios: facilitao do

    andamento do atendimento; melhorar a qualidade das instalaes, equipamentos e

    condies ambientais do hospital: adequao/criao de reas de espera, sinalizao das

    reas e servios do hospital, instalaes fsicas e aparncia do hospital, limpeza; manter os

    equipamentos em timas condies de uso; tornar as refeies mais agradveis; tornar o

    leito hospitalar um espao individualizado, permitindo, na medida do possvel, que o

    paciente possa trazer ao hospital algum objeto que o identifique como ser humano nico que

    ; proporcionar meios para efetivao de queixas e sugestes: ouvidoria hospitalar; adequar

    clareza das informaes oferecidas aos usurios: identificao dos profissionais que estaro

    em contato com o paciente hospitalizado e sua famlia, fornecer informaes aos familiares

    sobre todos os aspectos sobre o atendimento ao usurio, informaes sobre preveno de

    doenas e educao em sade, ou quaisquer outros assuntos que se fizerem necessrios

    no processo de hospitalizao etc.

    Para humanizar a assistncia ao paciente hospitalizado, assim como para qualquer

    outro usurio do sistema de sade, pode-se aprender a se relacionar com o paciente a partir

    de habilidades herdadas ou aprendidas. Miranda (1996), no livro Atendendo o paciente,

    aborda vrias formas de como auxili-lo em momentos nos quais se encontra fragilizado. A

    autora afirma que muitos pacientes relatam melhora apenas depois de serem escutados.

    Para tanto, deve-se levar em conta o respeito (valorizao do outro simplesmente pelo fato

    dele existir), aceitao (acolher o outro sem restries, exatamente como ele ), empatia

    (ser capaz de se colocar no lugar do outro) e compreenso (ter conscincia de que as

    vivncias do outro tm uma razo de ser). Uma atitude humanizadora preparar o

    ambiente, chamar o paciente pelo nome, cumpriment-lo, individualiz-lo, assumir uma

    postura fsica adequada etc. Ao final, o importante no o que est sendo feito, mas como

    est sendo feito. No o exame ou o procedimento que importa, mas como ele est sendo

    conduzido.

    6. CONCLUSO

    A humanizao uma necessidade atual, que exige que o profissional (re)pense na

    sua ao. No se est referindo apenas ao cuidado ao adulto, de forma singular, nem a

    situaes muito complexas, a grandes dilemas que eventualmente possam ocorrer na

  • realidade do profissional, mas, sim, a todas as situaes, principalmente as mais cotidianas,

    visto que so as que mais acontecem em termos quantitativos.

    As situaes em que o profissional percebe que o respeito, o humano, um conceito

    presente na sua prpria rotina so aquelas mais simples, como na hora de prestar cuidados

    de higiene, de administrar medicaes, explicar procedimentos, no simples bom dia, dentre

    inmeros outros. Porm, h necessidade de que o profissional reavalie seu cuidado, de

    maneira a perceber que os princpios bioticos devem reger sua prtica sempre, de forma a

    auxiliar no respeito ao paciente e no cuidado humanizado, fazendo com que o cuidado no

    se torne apenas a aplicao de tcnicas rotineiras e mecanicistas, mas sim, uma prtica

    complexa que considera que aquele a quem se presta o cuidado um ser digno, com

    necessidades no apenas biolgicas, mas psicolgicas, sociais e espirituais.

    Como referem Corbani, Brtas e Matheus (2009), acredita-se no ser humano como

    profissional da sade, ou vice-versa, resgatado totalmente em sua humanidade. Se no

    assim hoje, cr-se que ainda ser amanh. Para isso temos de voltar nossa humanidade e

    do outro, de modo que ambas se expressem espontnea e mutuamente. Na troca. No

    olhar. No ouvir. Essa a verdadeira humanizao da assistncia em sade.

    REFERNCIAS

    BARBOSA, I. de A.; SILVA, M. J. P. Cuidado humanizado de enfermagem: o agir com

    respeito em um hospital universitrio. Rev Bras Enferm, Braslia, v. 60, n. 5, p. 546-551,

    set./out. 2007.

    BETTINELLI, L. A.; WASKIEVICZ, J.; ERDMANN, A. L. Humanizao do cuidado no

    ambiente hospitalar. In: PESSINI, L.; BERTACHINI, L. (Orgs.) Humanizao e Cuidados

    Paliativos. So Paulo: Loyola, 2004. p. 87-100.

    BRASIL. Programa Nacional de Humanizao da Assistncia Hospitalar. Braslia, 2000,

    69 p. Disponvel em: . Acesso em: 01 set. 2009.

    ________. Manual do Programa Nacional de Humanizao da Assistncia Hospitalar.

    Braslia, 2002, 16 p. Disponvel em: . Acesso em: 01 set. 2009.

  • CORBANI, N. M. de S.; BRTAS, A. C. P.; MATHEUS, M. C. C. Humanizao do cuidado

    de enfermagem: o que isso? Rev Bras Enferm, Braslia, v. 6, n. 3, p. 349-354, maio/jun.

    2009.

    DRANE, J.; PESSINI, L. O que uma medicina mais humana? In: _______. Biotica,

    medicina e tecnologia. So Paulo, Loyola, 2005. p. 53-65.

    MACIAK, I.; SANDRI, J. V. de A.; SPIER, F. D. Humanizao da assistncia de enfermagem

    em uma unidade de emergncia: percepo do usurio. Cogitare Enferm, Curitiba, v. 14, n.

    1, p. 127-135, jan./mar. 2009.

    MIRANDA, C. F. de. Atendendo o paciente: perguntas e repostas para o profissional de

    sade. Belo Horizonte: Crescer, 1996. 255 p.

    SABOGAL, J. A. Humanizacin em los servicios prestados em el Hospital Central. Persona

    y Bioetica, Santaf de Bogot, n. 9, p. 146-150, jan./ago. 2000.

    SGRECCIA, E. A pessoa humana e seu corpo. In: ________. Manual de Biotica

    Fundamentos e tica biomdica. 2 ed. So Paulo: Loyola, 2002. p. 111-138.

    SILVA, A. L. da. A dimenso humana do cuidado em enfermagem. Acta Paul Enf, So

    Paulo, v. 3, n. especial, parte 1, 2000, p. 86-90.

    SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Servios de Ateno Sade e Prtica de Enfermagem. In:

    Tratado de enfermagem mdico-cirrgica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

    2002. p. 2-13.