a importÂncia de uma abordagem participativa dos...
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A IMPORTÂNCIA DE UMA
ABORDAGEM PARTICIPATIVA DOS
USUÁRIOS EM UM PROJETO DE
MELHORIA DO POSTO DE TRABALHO:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA
ESCOLA MUNICIPAL DE JOÃO
PESSOA-PB
Helena Thamara Aquino dos Santos (UFPB )
fabio morais borges (UFPB )
Beatriz Pires do Carmo Neta (UFPB )
Jerusa Cristina Guimaraes de Medeiros (UFPB )
Na elaboração de um projeto de posto de trabalho, é essencial a
participação não só dos projetistas, como também dos usuários. Essa
participação é de grande importância para identificação e definição
das premissas e requisitos do projeto dee melhoria do ambiente. Nesse
sentido, este estudo apresenta a importância que o usuário teve em um
projeto de melhoria do trabalho em uma cozinha de uma escola
pública do Município de João Pessoa, Paraíba. Os dados foram
coletados a partir de visitas à escola, entrevistas e questionários
aplicados junto às cozinheiras, além das observações realizadas no
ambiente em estudo, e em seguidas tratados de forma qualitativa. Para
as propostas finais, seguiu-se uma abordagem bottom up, onde foi
realizada a reunião de construção social com a presença da diretora e
das cozinheiras da escola. Os resultados obtidos com o estudo
mostram que a reunião de construção social promove mais aceitação
quanto ao processo de mudança e adequação, além das propostas
sugeridas pelas cozinheiras somarem de maneira positiva na definição
do projeto final.
Palavras-chave: Posto de trabalho. Projeto de trabalho. Projeto
Participativo. Construção Social.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
As relações entre o homem e o posto de têm sido o foco de discursões e preocupações no
âmbito da ergonomia e do projeto do posto de trabalho. A partir análise dessa relação, têm
sido empregadas abordagens, métodos e ferramentas com a finalidade de propor melhorias do
ambiente de trabalho já existentes e no desenvolvimento de postos de trabalhado que já
incluam os conhecimentos dos usuários. O grande propósito das diversas diretrizes de
procedimento é a eliminação ou redução de problemas no processo produtivo não previsto no
projeto do posto de trabalho e que, como consequência, podem causar doenças físicas ou
ocupacionais aos usuários.
O processo de desenvolver as estratégias apropriadas de gerenciamento deve envolver as
partes interessadas de maneira eficaz no decorrer de todo o ciclo de vida do projeto, com base
na análise de suas necessidades, interesse, e impacto potencial no êxito do projeto (PMBoK,
2013).
A participação do usuário é de grande importância para identificação e definição das
premissas e requisitos de um projeto de melhoria do ambiente de trabalho. É muito difícil o
projetista conseguir mensurar tais requisitos, estando fora da realidade e do convívio do
ambiente. Com a colaboração do usuário aliada as competências do projetista, um ambiente
de trabalho sem riscos pode ser proporcionado, atendendo as necessidades e superando as
expectativas. Dessa forma, apresenta-se aqui a importância que o usuário teve em um projeto
de melhoria do trabalho em uma cozinha de uma escola pública do Município de João Pessoa,
Paraíba.
2. Fundamentação teórica
2.1. Projeto
Diversas são as definições para Projeto, desde as mais longas, como “projeto de vida”,
passando por aquelas mais acadêmicas, como “Projeto político pedagógico do curso” e
chegando às definições que acabam por permear áreas da Engenharia de Produção, tais como
Projeto do produto, Projeto do Trabalho e Projeto de Fábrica.
Segundo o PMBoK (2013) um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um
produto, serviço ou resultado exclusivo. Os projetos e as operações diferem, principalmente,
no fato de que os projetos são temporários e exclusivos, enquanto as operações são contínuas
e repetitivas. Segundo a ISO 10006, Projeto: Processo único, consistindo de um grupo de
atividades coordenadas e controladas com datas para início e término, empreendido para
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alcance de um objetivo conforme requisitos específicos, incluindo limitações de tempo, custo
e recursos.
As definições concordam sobre o quesito duração ao incluírem que projetos têm inicio e fim
bem definidos, ou seja, são temporários. Enquanto o PMBoK procura diferenciar projetos e
operações e definir suas características respectivas, a ISO 10006 já indica que projetos podem
estar submetidos á restrições sobre requisitos de tempo, custo e recurso. No mesmo tópico,
3.1 Projetos, a ISO 10006 aponta que um projeto individual pode fazer parte de uma estrutura
de Projetos mais abrangente. Para essa diretriz, o PMBoK (2013) relaciona portfólios,
programas e projetos, onde o mesmo afirma que os programas são agrupados em um portfolio
e englobam subprogramas, projetos ou outros trabalhos que são gerenciados de forma
coordenada para apoiar o portfolio. Os projetos individuais que estão dentro ou fora do
programa são de qualquer forma considerados parte de um portfolio.
2.2. Projeto de Trabalho
Dentro da concepção de espaços de trabalho (postos, setores, unidades, fábricas etc.), analisar
a tarefa que o ser humano recebe e tudo o que, efetivamente, acontece no seu local de
trabalho, ou seja, a atividade, leva à necessidade de inserir o projeto do trabalho dentro do
escopo de qualquer projeto produtivo. Seja projeto de concepção, seja de melhoria.
O projeto de posto de trabalho deve arranjar os elementos do sistema de trabalho de tal
maneira que a tarefa possa ser executada de forma ótima, e as condições de trabalho sejam
adequadas às pessoas (Sell, 2002). Conforme Iida (2005), o projeto do posto de trabalho
apropriado requer conhecimento sobre a natureza da tarefa, o equipamento, as posturas e o
ambiente. Para os novos projetos, tais informações podem ser obtidas por meio de outra tarefa
ou aparelhamento análogo, bastando, para isso, empregar recursos, como entrevistas,
observações, questionários ou filmagens.
De acordo com Sell (2002) o fator determinante para a melhoria das condições de trabalho é o
método. Este define como as pessoas agem e reagem as situações que se lhe apresentam, nos
diversos trechos da tarefa, referindo-se, portanto, à contribuição das pessoas no processo de
trabalho. O método de trabalho é a maneira individual de realizar o trabalho descrevem,
respectivamente, de que forma a pessoa deve participar ou efetivamente participar do decurso
do trabalho (SELL, 2002).
2.3. Projeto Participativo
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A abordagem contemporânea de projeto busca trazer os usuários – no caso de produtos – ou
os trabalhadores, em projetos de trabalho, para dentro do processo de projeto. Fazendo-os
atores do processo, tal qual qualquer outro envolvido ou interessado. Evolui-se da visão top-
down de projeto, com gerenciamento centralizado e poucos envolvidos na construção das
soluções, para uma abordagem bottom-up, organização que surge das relações intrínsecas
entre as partes, as quais agenciam a organização do todo, a partir das camadas inferiores
(VASSÃO, 2008). Sendo estes, no caso, os trabalhadores.
De acordo do Slack (2003), os objetivos e as ações, da abordagem de bottom-up, devem ser
formatados pelo menos em parte a partir do conhecimento adquirido com as atividades
cotidianas. As virtudes fundamentais requeridas para formatar a estratégia de baixo para cima
são a capacidade de aprender com a experiência e a filosofia de melhoria continua e
incremental.
A construção física do espaço de trabalho depende da construção social do projeto (Daniellou,
2004), na qual são estabelecidas relações de cooperação, diálogo e comunicação, permitindo a
confrontação de pontos de vista e necessidade dos agentes. Para Daniellou (2004) não há
limite para os conhecimentos que podem ser recrutados para a interpretação de uma atividade
de trabalho.
3. Metodologia
O presente trabalho trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa e caráter descritivo,
realizado na cozinha de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental localizada em João
Pessoa – PB. Como o foco é apresentar o papel dos trabalhadores nas soluções finais de
Projeto, resumiu-se o caminho até o levantamento e priorização dos problemas a serem
resolvidos, no que tange ao trabalho na cozinha.
A partir de visitas à escola, entrevistas e questionários aplicados junto às cozinheiras, além
das observações realizadas no ambiente em estudo, foram sugeridas propostas de melhoria do
posto de trabalho.
Os problemas identificados foram elencados e avaliados sobre três aspectos (gravidade,
urgência e tendência – Matriz GUT), os níveis de avaliação de cada indicador vão de 1 à 5,
sendo 5 o nível de maior criticidade. Assim, os problemas foram classificados segundo a
prioridade de resolução (Quadro 1).
Quadro 1 – Matriz GUT para os problemas da cozinha
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Fonte: Autoria Própria (2015)
Com a análise da matriz, verificou-se que os riscos destacados em amarelo apresentam
relação, logo, uma única solução seria viável para resolver mais de um problema. Assim, as
soluções propostas para a diminuição ou mitigação desses riscos levantados são apresentadas
no Quadro 2.
Quadro 2 – Problemas identificados e soluções iniciais
Problema Solução Descrição
Arranjo físico inadequado, mobiliário e carregamento
de cargas.
Mudança de posição de
equipamentos
Mudança da geladeira e tambores de lixo, visando melhorar o espaço onde se localiza o
fogão.
Arranjo físico inadequado e mobiliário.
Mudança de estruturas
Mudança de dois armários que estavam próximos ao fogão, e ainda a retirada de
uma parte do balcão (Figura 03);
Temperatura do ambiente.
Instalação de um exaustor industrial
Visando melhorar a circulação do ar e consequentemente a temperatura do
ambiente;
Carregamento de cargas, arranjo físico inadequado
e mobiliário.
Criação de uma ferramenta de
transporte
Elaboração de um carrinho, ilustrado na Figura 04, que facilitará o transporte das panelas e ferramentas no momento de
distribuição da comida.
Iluminação inadequada Instalação de
luminárias
Instalação de luminárias de modo a deixar o ambiente com uma luminosidade mais
adequada para o trabalho. Fonte: Autoria Própria (2015)
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No entanto, além das propostas sugeridas pela equipe, foi de extrema importância à
colaboração dos demais envolvidos no projeto. Seguindo a abordagem bottom up, e visando a
integração de todos os envolvidos foi realizada a reunião de construção social com a presença
da diretora e das cozinheiras da escola com o intuito de apresentar as propostas iniciais e gerar
discursões com a finalidade de igualar as propostas sugeridas com as opiniões dos próprios
trabalhadores, bem como avaliar a aprovação das propostas pela parte interessada.
Na preparação para a reunião de construção social do projeto, foram realizados levantamentos
acerca da atividade (processo), dos aspectos ergonômicos e do conforto do ambiente, com o
propósito de identificar de problemas relacionados a esses fatores que constituíram o projeto.
Foram propostas soluções iniciais para os problemas encontrados (Quadro 2), que foram
discutidas com os usuários nesta reunião A finalidade era nivelar a compreensão sobre as
propostas, explicando aos trabalhadores detalhadamente cada proposição. Dessa forma,
poder-se-ia inseri-los no processo de construção de soluções, de forma, efetivamente,
participativa. As propostas sugeridas e discutidas na reunião de construção social foram:
mudança no layout da cozinha; minimização do carregamento de cargas; e conforto térmico e
luminoso.
4. Resultados
4.1. Mudança no layout da cozinha
O layout atual do posto de trabalho, não favorece a utilização adequada do fogão, os usuários
destacaram que utilização das 6 bodas do fogão é comprometida dado que o mesmo encontra-
se posicionado junto a parede, uma vez que, as panelas utilizadas apresentam dimensões
superiores as panelas do uso diário em cozinhas domésticas, assim a cozinheira só consegue
utilizar as 3 bocas da frente.
Para as cozinheiras, um layout ideal seria ter o fogão afastado da parede, de modo a haver
espaço disponível para movimentação ao redor do mesmo, viabilizando assim a utilização de
todas as bocas do fogão. No entanto, a estrutura física da cozinha não permite a alocação do
equipamento neste modelo.
Questionou-se quanto à utilização dos armários debaixo da bancada, localizada próxima ao
fogão, os usuários disseram que como o fogão bloqueava a abertura das portas dos armários,
os mesmos não estavam sendo utilizados.
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Deste modo, para melhorar o fluxo de movimentação ao redor do fogão, optou-se pela
redução da bancada e realocação dos armários para outro espaço da cozinha. A Figura 2
apresenta o layout atual e a Figura 3 o proposto a partir da resolução acima.
Figura 2 – Layout atual
Fonte: Autoria Própria
Figura 3 – Layout proposto
Fonte: Autoria Própria
4.2. Minimização do carregamento de cargas
Observou-se que os usuários realizam transporte de cargas que podem ser minimizados, a
exemplo tem-se o liquidificador industrial, que fica guardado na dispensa, uma vez que, não
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há espaço na cozinha destinado para alocar o mesmo e por motivos de segurança contra
furtos, apontado pelos usuários, o mesmo é guardado na dispensa.
Para utilizar o equipamento, o mesmo é carregado pelas cozinheiras até a tomada localizada
próxima a pia, após o término da tarefa, o mesmo é carregado de volta para a dispensa. Outras
cargas transportadas são as panelas com comida, do fogão para a bancada de distribuição, está
é improvisada com uma carteira e cadeira da sala de aula.
Deste modo, para minimizar o esforço físico de transporte do liquidificador, foi sugerido à
implantação de rodinhas com travas, a fim de evitar que a vibração do equipamento provoque
seu deslizamento sobre o piso durante a atividade.
Para o problema das cargas transportadas (panelas) foi projetado um carrinho de distribuição,
com dimensões que permitem o mesmo passar pelo corredor da cozinha, altura da base
superior regulável, bandejas de suporte para alocação de pratos e copos, evitando movimentos
de rotação do tronco, e travas de fixação.
A satisfação dos usuários frente às adequações foi bastante positiva, logo essas soluções
foram aprovadas sem nenhuma alteração.
4.3. Conforto térmico e luminoso
A estrutura física apresenta cobogós que permitem as trocas de ar entre o ambiente interno da
cozinha e o externo, e o fluxo de luminosidade do ambiente externo para o interno, todavia,
ambas as variáveis de conforto não estão adequada para o exercício da atividade.
Quando questionadas sobre os pontos da cozinha com sensação térmica de calor elevada, as
cozinheiras destacaram o local próximo ao fogão, uma vez que, nesse ponto tem-se a maior
fonte de emissão de calor.
De modo a melhorar a vaiável térmica foi sugerida inicialmente a instalação de um exaustor,
porém a parte interessada destacou que escola não tem recursos para custos operacionais e de
manutenção do exaustos, discutiu-se também que o exaustor seria uma fonte de ruído. Assim,
para minimizar a sensação de calor na cozinha, optou-se pela instalação de um ventilador de
parede, com regulagem manual da velocidade através de um disjuntor.
Buscando melhorar o conforto luminoso do ambiente se optou pela substituição das
luminárias fluorescentes por luminárias de LED, que oferecem maior eficiência em potência e
vida útil, apresentando também uma maior economia em termos de consumo. A diretora
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aprovou a alternativa, uma vez que, o custo para comprar e instalar lâmpadas de LED será
menor do que instalar uma linha de lâmpadas, dado que seria necessário fazer uma mudança
na rede elétrica, consumindo mão de obra e materiais.
4.4. Projeto de layout
Com a consolidação das soluções para os problemas identificados na construção social,
projetou-se um novo layout para a cozinha, buscando atender as necessidades do usuário e
assim contribuir para uma melhoria nas condições de trabalho, e respeitando restrições da
estrutura física da cozinha que não poderiam ser modificados (vigas e pilares). As Figuras 4 e
5 apresentam o Projeto de layout em dois ângulos distintos.
Figura 4 – Projeto de Layout
Fonte: Autoria Própria
Figura 5 – Realocação dos armários
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Fonte:
Autoria Própria
5. Conclusão
Partindo das informações coletadas de visitas à escola, entrevistas e questionários aplicados
junto às cozinheiras, observações realizadas no ambiente em estudo, além da realização de
reunião de construção social com todos os envolvidos do projeto, buscou-se analisar a
importância do envolvimento dos usuários no projeto de melhoria do posto de trabalho.
Verificou-se que a discursão das soluções, as observações destacadas e as sugestões
pontuadas pelas cozinheiras na reunião de construção social, no projeto participativo,
agregaram de forma positiva para definição do escopo final do projeto. É válido mencionar
também, que as soluções propostas foram construídas com a parceria entre os projetistas e os
usuários do projeto em questão, de modo que ambas estavam em total sinergia com o
trabalho.
Dessa maneira, as soluções finais no projeto de melhoria do posto de trabalho das cozinheiras,
além de atender todas as propostas sugeridas por elas, promove uma maior aceitação quanto
ao processo de mudança e adequação, já que elas fizeram parte do projeto de melhoria do
trabalho.
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