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JOSÉ BASÍLIO CERQUEIRA NETO A Inserção do Idoso no Mercado de Trabalho da Região Metropolitana de Salvador.
Salvador 2003
JOSÉ BASÍLIO CERQUEIRA NETO A Inserção do Idoso no Mercado de Trabalho da Região Metropolitana de Salvador.
Versão Preliminar Apresentada no Curso de Graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como Requisito Parcial à Obtenção do Grau de Bacharel em Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Wilson F. Menezes
Salvado 2003
RESUMO Esta monografia tem por objetivo traçar o perfil da relação das pessoas idosas com o mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador observando aspectos como nível de atividade, ocupação e rendimento. A pesquisa foi desenvolvida em fontes primárias e secundárias utilizando dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Salvador – PED/RMS. Observou-se que a inatividade é alta e o desemprego é muito baixo entre os idosos. As diferenças entre homens e mulheres são mais marcantes entre os idosos que entre os adultos e jovens. Os homens são mais ativos e ganham mais que as mulheres, sendo que a situação ocupacional onde é auferida a maior renda média é a de trabalhadores aposentados. Assim, verificou-se que a renda constitui um incentivo para que homens e mulheres parem de trabalhar mais tarde. Palavras-chave: Idoso; Terceira Idade; Mercado de Trabalho; Pensão; Aposentadoria; Envelhecimento Populacional.
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 06
2 A RACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA E A PRECARIZAÇÃO
DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO 09
2.1 A PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO
CAPITALISMO AVANÇADO 09
2.2 MUDANÇAS ESTRUTURAIS, DESEMPREGO E CRISE NO BRASIL 11
2.2.1 A Precarização do Trabalho e o Déficit Previdenciário no Brasil 13
3 A EMERGÊNCIA DA QUESTÃO DA TERCEIRA IDADE 14
3.1 IMPORTÂNCIA E DIFICULDADES DE CONCEITUAR IDOSO 14
3.2 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 16
3.2.1 Queda dos Índices de Fecundidade 18
3.3.3 Aumento da Expectativa de Vida 21
3.3 AMPLICAÇÕES SOCIAIS DO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 24
3.3.1 A Pressão Sobre o Sistema Previdenciário 25
3.3.2 A Reinserção do Idoso no Mercado de Trabalho 26
3.4 A PARTICIPAÇÃO DO IDOSO BRASILEIRO NO MERCADO
DE TRABALHO 27
4 A INSERÇÃO DO IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO
DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR 28
4.1 ASPECTOS E CONCEITOS METODOLÓGICOS 28
4.2 A PARTICIPAÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA 30
4.3 SITUAÇÃO OCUPACIONAL 32
4.4 HORAS TRABALHADAS 33
4.5 OCUPAÇÃO 35
4.6 RENDIMENTO 36
5 CONCLUSÃO 40
REFERÊNCIAS 42
6
1 INTRODUÇÃO
A economia mundial passa por um processo de reestruturação produtiva que visa aumentar
a produtividade das empresas, mas que tende a diminuir os postos de trabalho formal em
todo o mundo. Os trabalhadores que perdem seus empregos, principalmente nas atividades
industriais, reinserem-se no mercado de trabalho através das atividades do setor de serviços
e comércio. As atividades exercidas nesses setores são, primordialmente, de natureza
informal.
Uma das principais conseqüências do crescimento da informalidade é o aumento do déficit
dos sistemas públicos de seguridade social onde a base de contribuintes concentra-se entre
os trabalhadores assalariados com carteira assinada. Além do problema da destruição dos
postos de trabalho formal, um fenômeno de escala mundial que tende agravar a crise dos
sistemas de previdência pública é o envelhecimento populacional. Dada a sua magnitude e
seu caráter de irreversibilidade, esse processo deve alterar não só os parâmetros para os
cálculos de aposentadoria como também modificar a própria estrutura do mercado de
trabalho.
O aumento da proporção de idosos na população é um fenômeno mundial. Segundo
resultados do estudo “Envelhecimento Populacional 2002” realizado pela Organização das
Nações Unidas - ONU, nos últimos 50 anos houve um aumento de 33% da população
mundial com idade igual ou superior a 65 anos. Entre os países desenvolvidos o
crescimento da população idosa foi mais acentuado, 81%, enquanto que entre os
subdesenvolvidos foi de 31%.
No Brasil, o mesmo estudo aponta um crescimento de 70% da população idosa nos últimos
50 anos. Entre 1950 e 2000 a população com idade igual ou superior a 65 anos aumentou
em 7,1 milhões e estima-se que até 2050 aumente em mais 33,3 milhões.
Esse aumento relativo do contingente de idosos é resultado do decréscimo das taxas de
fecundidade observado no Brasil a partir da década de 70. Esse fenômeno, denominado
7
envelhecimento populacional, provoca alterações na estrutura etária onde os jovens perdem
participação relativa para os idosos.
Associado à queda da fecundidade nos últimos 50 anos observou-se na população mundial,
segundo a ONU, uma elevação da expectativa de vida ao nascer da ordem de 18,5 anos.
Nesse mesmo período o Brasil apresentou um acréscimo de 16,3 anos na expectativa de
vida ao nascer em sua população.
A mudança do padrão etário populacional provoca alterações no perfil das demandas
sociais. Com a população envelhecida necessita-se de um sistema de saúde mais adequado
ao tratamento de doenças típicas de pessoas de uma faixa etária mais elevada, o que, por
sua vez, exige gastos com equipamentos e medicamentos mais dispendiosos. O sistema
previdenciário também será pressionado visto que o número relativo de pensionistas e
aposentados cresce.
Com o sistema de seguridade social cada vez mais comprometido, alguns trabalhadores
buscam uma fonte de renda complementar a da previdência pública, fenômeno que os força
a continuar ou buscar reinserção no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, a população ocupada com idade entre 60 e 64 anos
aumentou em 31,5% nos últimos 10 anos.
Utilizando-se da base de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região
Metropolitana de Salvador – PED/RMS, o objetivo deste trabalho é traçar o perfil da
inserção do idoso no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador observando
aspectos como nível de atividade, ocupação, rendimento e participação dos aposentados e
pensionistas.
Serão consideradas idosas, tendo como base a Lei número 8.842 de Política Nacional do
Idoso, as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.
Este trabalho está dividido em 5 capítulos, incluindo esta introdução. As mudanças recentes
ocorridas nas relações de trabalho e suas conseqüências sociais serão abordadas no segundo
capítulo. A emergência da questão da terceira idade tendo em vista as questões
8
demográficas e suas conseqüências sócio-econômicas, principalmente no que tange o
mercado de trabalho brasileiro, é estudada no capítulo 3. A inserção do idoso no mercado
de trabalho da Região Metropolitana de Salvador considerando aspectos como taxa de
atividade, ocupação, rendimento e inatividade é discutida no capítulo 4. No capítulo 5 são
apresentadas algumas conclusões.
9
2 A RACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA E A PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
O recente processo de flexibilização e a emergência da heterogeneidade nos mercados de
trabalho têm provocado mudanças estruturais que sugerem um novo processo de exclusão
social onde a relação emprego/desemprego explica apenas uma parte reduzida do
fenômeno.
2.1 A PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAPITALISMO
AVANÇADO
Em sua fase de consolidação, o modo de produção capitalista buscou a formação de um
mercado de trabalho necessário a acumulação de capital destruindo os modos de produção
até então existentes.
A reincorporação dos excluídos ao mercado de trabalho deu-se através da formação de uma
base institucional que permitiu e sustentou o crescimento do modo capitalista de produção.
A criação e consolidação dos Estados nacionais promoveram a criação de normas de
regulamentação das relações trabalhistas de forma a sustentarem o processo de
oligopolização impulsionado pelos avanços tecnológicos.
Após a fase de consolidação, até meados da década de 70, o problema das crises de
desemprego foi basicamente de natureza conjuntural, de forma que a recomposição do nível
de emprego seria uma conseqüência da reorganização econômica provocada pelas crises.
A atual crise, entretanto, mostra-se incapaz de reorganizar o ambiente econômico de forma
a induzi-lo a reabsorver os excluídos do mercado de trabalho. O processo de incorporação
de novas tecnologias e de novos métodos organizacionais aumenta o grau de terceirização e
heterogeneidade das ocupações e também das relações de desemprego.
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A heterogeneidade das relações trabalhistas se manifesta através da diminuição do número
de empregos estáveis e pelo crescimento dos empregos considerados precários. Por outro
lado, a situação de desemprego também vai ganhando diversidade, fazendo cair a
importância relativa do desemprego aberto. Dessa forma, a pluralidade de situações
ocupacionais termina por descaracterizar a estrutura ocupacional dos mercados de trabalho
vigentes desde o pós-guerra até a década de 70.
A globalização econômico-financeira recente tem exposto os setores privados nacionais a
uma maior concorrência internacional, e os mercados financeiros locais aos movimentos
especulativos dos principais centros financeiros mundiais. Essa situação tem sido usada
pelos governos como justificativa para os desequilíbrios macro e microeconômicos que
impedem a retomada do crescimento dos níveis de emprego.
O déficit público, a deterioração da balança comercial, as pressões inflacionárias, o
desemprego e a perda de produtividade das empresas frente aos elevados custos de
produção têm sido problemas enfrentados pelas economias locais. Para enfrentar essa
situação, o meio mais utilizado tem sido a retração do Estado regulador através da
diminuição dos gastos públicos para permitir a redução dos custos salariais indiretos do
setor privado e a redução da regulação pública sobre as relações de trabalho para permitir
às empresas uma maior adaptação do uso de mão-de-obra às suas situações de demanda.
“[...]as empresas buscam um sistema de relações de trabalho o mais flexível possível com o
objetivo de reduzir os custos do processo de racionalização, e que não restrinja a sua
agilidade no processo de tomada de decisões de produção e de investimento” (DEDECCA,
1996).
A racionalização das relações econômicas tende a causar impacto não somente sobre o
nível de emprego como também sobre a estrutura ocupacional, a organização interna do
trabalho e a composição do desemprego.
As grandes empresas, em que predominam os empregos mais estáveis, tendem a transferir
parte de seu processo produtivo para seus fornecedores diretos - pequenas ou médias
11
empresas, nas quais predominam os contratos por tempo determinado - gerando um
processo de precarização geral da estrutura ocupacional.
Além de piorar a situação das ocupações, a racionalização produtiva gera desemprego
aberto e diversifica as formas de desemprego oculto. Segundo Dedecca, a heterogeneidade
do desemprego oculto pode ser notada inclusive quando “[...]parte dos indivíduos que
perdem seus empregos – na maioria jovens e mulheres – tende a retornar para a inatividade,
dedicando-se exclusivamente às tarefas domésticas ou aos estudos, ou ingressam para a
aposentadoria” (DEDECCA, 1996).
A precarização das ocupações faz com que elas se relacionem intimamente com as
situações de desemprego oculto. Esse fenômeno limita a capacidade explicativa do
desemprego aberto para o problema da desocupação nas economias modernas.
2.2 MUDANÇAS ESTRUTURAIS, DESEMPREGO E CRISE NO BRASIL
A conformação socioeconômica, construída nas décadas de 50-70, com base na
industrialização e na posição do Estado como principal regulador da atividade econômica,
tem sido abalada pela crise econômica que já se arrasta, no Brasil, desde a década de 80.
Esse padrão de desenvolvimento foi caracterizado pela alta desigualdade social, que na
crise dos anos 80 agravou-se sensivelmente, aumentando a concentração de renda e a
pobreza da população. Uma das principais conseqüências sociais da crise tem sido a
precarização das condições de ocupação.
Para reordenar a economia brasileira, optou-se por uma diminuição da participação do
Estado na atividade econômica, principalmente através da privatização de empresas
estatais, e pela abertura do mercado interno à concorrência internacional.
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A racionalização produtiva imposta pela abertura econômica acelerou o processo de
concentração de capital principalmente em segmentos com forte presença de pequenas e
médias empresas nas quais tem-se notado uma acentuada queda dos níveis de emprego.
Entre as grandes empresas do setor produtivo, a utilização de equipamentos
tecnologicamente mais avançados e a adoção de novos métodos organizacionais
acarretaram aumento de produtividade e diminuição do nível de emprego através da
terceirização de atividades secundárias.
A situação geral de emprego também foi agravada pelo processo de privatizações, quando o
controle acionário das empresas estatais passou às mãos de alguns grupos privados
nacionais. Dessa forma, a administração privada, através das inovadoras técnicas
organizacionais, buscando racionalizar a produção e modernizar suas plantas tem enxugado
o quadro de pessoal empregado, agravando a crise do emprego no Brasil.
Com a capacidade de geração de emprego do setor produtivo comprometida, questiona-se a
aptidão do setor terciário em gerar empregos. Com o uso difundido da informática e a
crescente terceirização de diversas atividades, nota-se a incapacidade do setor de serviços
em absorver adequadamente a população ativa.
A manutenção do nível de empregos formais também foi comprometida pela diminuição
dos empregos públicos causada pela incapacidade do governo em sustentar os gastos com o
funcionalismo.
Houve uma pequena compensação para a perda dos postos de trabalho nos setores
produtivos por um aumento do número de empregos gerados pelo setor de serviço e
comércio. Entretanto, além de não conseguir absorver toda a mão de obra desempregada,
esses setores criaram, essencialmente, empregos não-formalizados. “[...]ao trocar empregos
industriais e de serviços formalizados por empregos não-formalizados, permitirá a
consolidação de uma nova forma de exclusão social, tornando ainda mais graves e
profundas as desigualdades sociais no Brasil” (BALTAR, DEDECCA, HENRIQUE, 1996).
13
2.2.1 A Precarização do Trabalho e o Déficit Previdenciário no Brasil
Um dos problemas mais penosos causados pelo aumento da informalidade no mercado de
trabalho brasileiro tem sido o aumento do déficit do sistema previdenciário. Como a
maioria dos contribuintes é constituída pelos empregados assalariados, com a diminuição
do emprego formal, a relação contribuinte-beneficiário cai. Atualmente, no Brasil, existem
2 contribuintes para cada beneficiário. Se comparado a países como Estados Unidos onde
essa relação é de 3,2, Japão 5,5 e França 2,7, nota-se que a situação dos cofres
previdenciários brasileiros é preocupante (THOMPSON,1999). Permanecendo a atual crise
do emprego formal no mercado de trabalho brasileiro, a tendência é que a relação
contribuinte-beneficiário caia ainda mais.
Além do crescimento da informalidade, o processo de envelhecimento populacional é outro
fenômeno que tende a alterar a configuração tanto da base de contribuintes previdenciários
quanto de toda a sociedade brasileira, já que o número relativo de pessoas em faixas etárias
mais elevadas aumenta. Como a maioria dessas pessoas encontra-se fora do mercado de
trabalho, e muitas delas recorrem à aposentadoria, a pressão sobre os cofres previdenciários
cresce.
É importante salientar que o envelhecimento populacional não só pressiona o sistema de
seguridade social como altera de forma estrutural o próprio mercado de trabalho e a
sociedade como um todo.
14
3 A EMERGÊNCIA DA QUESTÃO DA TERCEIRA IDADE
Desde a década de 70, observa-se no Brasil uma queda acentuada dos índices de
fecundidade. Essa mudança provoca alterações na composição etária da população
brasileira que passa a apresentar ritmos distintos de crescimento para os diferentes
segmentos etários da população. Nesse contexto, observa-se uma diminuição do número de
jovens e um aumento relativo da população de idosos.
Estima-se que o Brasil terá em 2025 cerca de vinte e dois milhões de idosos, o que
representará 15% da população total. Haja vista que em 1991 o país possuía apenas onze
milhões de idosos, 7,5% do total, nota-se a significativa ascensão relativa desta população.
Isso tornará o país o primeiro em população idosa na América Latina e o sexto no mundo
(MARTINE, 1994).
3.1 IMPORTÂNCIA E DIFICULDADES EM CONCEITUAR IDOSO
A distinção de um indivíduo idoso de um não-idoso não é tarefa simples. Do ponto de vista
científico e social, entretanto, é de extrema importância para o processo de tomada de
decisões políticas.
O direcionamento de políticas depende de uma estratificação da sociedade em grupos
representativos. É preciso distinguir as pessoas usando critérios impessoais o que implica,
necessariamente, uma simplificação da realidade. As políticas direcionadas ao público
idoso, então, precisam de marco que separem os indivíduos idosos, alvo de políticas
específicas, diferenciadas dos demais grupos.
Do ponto de vista biológico, pode-se determinar a condição de idoso através da observação
do declínio de determinadas funções físicas. Dessa forma, a questão estaria resolvida com a
demarcação de uma idade em que os indivíduos começassem a apresentar sinais de
senilidade.
15
Entretanto, a demarcação de uma idade limite apresenta três problemas: o processo de
envelhecimento varia de acordo com o lugar e a época em que a pessoa vive;
“características biológicas não existem de forma independente das características culturais”
(CAMARANO, 1999); o terceiro diz respeito a finalidade social do conceito de idoso.
Quando se estipula uma idade limite separando indivíduos idoso de não-idosos, corre-se o
risco de julgar homogêneo o envelhecimento de pessoas de lugares e épocas distintas. O
grande problema que se apresenta é que não é possível separar características biológicas de
características culturais. O declínio das funções físicas, que caracterizam o processo de
envelhecimento, estão invariavelmente ligadas às condições de alimentação, trabalho,
função social, etc., portanto, a definição da condição de idoso deve passar, necessariamente,
por uma avaliação tanto de ordem biológica quanto de ordem social.
Tais dificuldades levaram a criação de novos termos de classificação dos indivíduos mais
velhos de forma a tornar menos grosseira a estratificação etária. O termo terceira idade
surgiu para diferenciar pessoas que já não mais apresentam o mesmo vigor para o trabalho
da segunda idade, mas também não mostravam os sinais de senilidade da quarta idade.
Essas pessoas foram beneficiadas pelos avanços da medicina e pelo surgimento de postos
de trabalho mais adequados a sua condição e, por isso, mantêm-se ativas.
Entretanto, para que haja uma distribuição de recursos públicos é necessária uma
estratificação da sociedade em grupos específicos, o que implica distinguir indivíduos
usando critérios impessoais. As políticas orientadas à população idosa exige a delimitação
de uma idade limite que separe indivíduos idosos dos não-idosos.
Em 4 de janeiro de 1994, o Congresso Nacional decretou e o Presidente da República
sancionou a Lei Nº 8.842 da Política Nacional do Idoso. Para efeitos desta lei, considera-se
idoso o indivíduo maior de 60 anos de idade. Portanto, julgou-se coerente, para a
elaboração deste trabalho, adotar o mesmo critério de idade limite de 60 anos para separar
os indivíduos idosos dos não-idosos.
16
3.2 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
Entende-se por envelhecimento populacional o aumento da população idosa em relação ao
total da população de crianças provocado pela queda dos índices de fecundidade.
Conseqüentemente há diminuição do peso dos jovens no total da população (MOREIRA,
2002). O aumento da longevidade observado atualmente também contribui com o processo
de envelhecimento da população.
Segundo as projeções do estudo “Envelhecimento populacional 2002” anunciado pela
ONU, o processo de envelhecimento da população mundial é constante, o que deverá
provocar nos próximos 50 anos a queda do número de pessoas que estarão participando da
força de trabalho e a sobrecarga dos sistemas de saúde, que teriam que gastar mais com
doenças típicas do envelhecimento como diabetes e doenças neurodegenerativas. “As
mudanças que estão ocorrendo não têm paralelo em nenhum outro século” (CHAMIE1 apud
MOREIRA, 2002). Os dados do relatório mostram que 10 % da população mundial (629
milhões de pessoas) tem mais de 60 anos. Mas o índice pode chegar a 20% da população
mundial (2 bilhões de pessoas) em 2050.
Desde 1950 houve um aumento de 33% da população mundial com idade superior a 65
anos. Entre os países mais desenvolvidos o crescimento foi mais agudo, registrando um
aumentado em 81% da proporção de idosos, enquanto que nos países menos desenvolvidos
o crescimento foi de 31%. Entretanto, como pode-se observar no Gráfico 1, a população
idosa brasileira cresceu quase tanto quanto a dos países desenvolvidos: aqui a proporção de
idosos aumentou em 70% de 1950 para 2000.
1 Joseph Chamie é demógrafo e diretor da Divisão de População da ONU
17
azul = Mundo; marrom = América Latina; vermelho = Países mais desenvolvidos; verde = Países menos desenvolvidos; amarelo = Brasil. Fonte: ONU.
Gráfico 1 – Expectativa de vida em anos Fonte: ONU
Entre os países desenvolvidos, o processo de envelhecimento populacional deve-se,
principalmente, ao fato deles terem um sistema de saúde e controle de doenças típicas do
envelhecimento eficaz. No entanto, entre as nações subdesenvolvidas, o fenômeno deve-se,
principalmente, a queda acentuada do número de nascimentos. O caso brasileiro apresenta
algumas peculiaridades:
Entre 1950 e 2000, a população brasileira, que representa aproximadamente um terço do total latino–americano, aumentou de 54 milhões para 170 milhões, estimando-se que em 2050 atingirá 244 milhões. Nos cinco decênios finais do século XX, a população menor de 15 anos incrementou de 22 para aproximadamente 50 milhões, devendo manter-se neste patamar, com pequenas oscilações, até 2050. A população acima de 65 anos, por outro lado, passou de 1,6 milhões, em 1950, para 8,7 milhões, em 2000, e, provavelmente, 42 milhões, em 2050. Assim, enquanto a população jovem pouco mais que duplicaria, a idosa cresceria em aproximadamente 26 vezes em 100 anos. (MOREIRA, 2002)
O envelhecimento populacional no Brasil tem se mostrado mais rápido e mais acentuado
que na maioria dos países desenvolvidos. Observando-se o Gráfico 2, nota-se que a
evolução do Índice de Idoso do Brasil desde 1950 e projetada até 2050, comparado ao de
países como República da Coréia, Japão, Espanha, Estados Unidos e a República
Democrática do Congo, correspondendo ao primeiro e ao último, os processos de
envelhecimento mais intenso e mais lento, respectivamente, entre os 35 países mais
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populosos em 2000, percebe-se que a evolução do Índice de Idosos ocorreu no Brasil de
forma mais acentuada e num espaço de tempo mais curto que nos demais países. Esse tipo
de situação causa problemas de adaptação econômica e institucional da sociedade à sua
nova realidade demográfica.
Gráfico 2 – Brasil e Países Selecionados – Números Índices de Base Fixa do Índice de Idosos – 1950-2050 Fonte: ONU
3.2.1 Queda dos Índices de Fecundidade
Em primeiro de agosto de 2000 a população brasileira atingiu um total de 169.799.170 de
pessoas, segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE. A partir dos resultados desse
último censo, pode-se observar que ao longo do século XX a população brasileira
multiplicou-se quase que por dez vezes.
Entretanto, de acordo com uma série histórica elaborada pelo próprio IBGE, conclui-se que
as taxas de crescimento populacional vêm caindo desde a década de 70. “A taxa de
crescimento demográfico vem se desacelerando desde então, em função da acentuada
19
redução dos níveis de fecundidade e de seus reflexos sobre os índices de natalidade”
(IBGE, 2000).
Bastante diferente do que ocorria nos anos 50, quando a taxa de crescimento da população
girava em torno dos 3% ao ano, na década de 90 essa taxa foi de apenas 1,64%. Segundo
estimativas do IBGE, o nível de fecundidade nessa década passado foi de 2,2 filhos por
mulher em idade fértil. Isso quer dizer que o número de nascimentos no Brasil está
apresentando quedas relativas muito grandes. Pode-se, então, concluir, através de tais
dados, que o crescimento da população a população brasileira encontra-se num acentuado
processo de desaceleração.
Apesar de um leve declínio dos índices de fecundidade observados desde os anos 60 até
meados da década de 80, o Brasil, em virtude da composição de sua pirâmide etária, era
considerado um país de jovens. Entretanto, desde então, a largura da base da pirâmide tem
diminuído.
A partir da análise do Gráfico 3, que é uma síntese das transformações demográficas
ocorridas na população brasileira desde os anos 50 e projeções até o ano 2025, pode-se
observar as alterações no formato das pirâmides etárias a partir da década de 70, que
passam do clássico formato triangular para quase que um retângulo no final do período.
20
Gráfico 3: Brasil – Distribuição Etária Relativa – 1950, 1970, 1990, 2000, 2025, 2050.
21
No país como um todo, a contribuição do segmento de crianças de 0 a 14 anos de idade, no total da população declinou de 34,73%, em 1991, para 29,60% em 2000, ao passo que o grupo de idosos de 65 anos ou mais, no mesmo período, seguiu sua lenta trajetória ascendente (4,83%, em 1991, contra 5,85% em 2000). Da mesma forma, elevou-se a participação do contingente em idade potencialmente ativa (grupo de 15 a 64 anos de idade). Em 1991, essas pessoas correspondiam a 60,45% da população total, passando a representar 64,55 em 2000. (IBGE,2000).
Pode-se concluir, através dessa trajetória, que existe uma tendência para um aumento mais
significativo do contingente de idosos, quando as pessoas que compõem o grupo de
economicamente ativos, hoje passarem a compor o grupo dos idosos.
No caso particular da Região Nordeste os dados revelam que dentre todas as regiões do
país, durante a década de 90, esta é a que apresenta a maior queda no contingente de
crianças (-16,32%) e o maior crescimento da população com idade entre 15 e 64 anos
(10,15%).
A combinação da queda dos índices de mortalidade e de fecundidade observada nas últimas
décadas tem contribuído para modificar a composição etária da população brasileira.
3.2.2 Aumento da Expectativa de Vida
O aumento da longevidade foi uma das grandes conquistas do século XX. Esse fenômeno
tem implicações tão profundas que muitos chamam de “revolução demográfica”. Desde
1950 até 2000 a expectativa de vida da população mundial aumentou cerca de 20 anos e as
projeções são de que continue crescendo por um longo período.
Segundo a ONU, a expectativa de vida desde 1950-1955 até o ano 2000 aumentou de 46,5
anos. O Brasil vem acompanhando essa evolução mantendo-se um pouco acima da média
mundial, mas um pouco abaixo da média latino-americana, como pode ser observado no
Gráfico 4. Nota-se, também que ao longo do período a diferença entre as expectativas de
vida dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos vem caindo, o que é, de certa forma,
22
natural visto que a expectativa de vida dos muito velhos cresce mais lentamente que a dos
demais.
azul = Mundo; marrom = América Latina; vermelho = Países mais desenvolvidos; verde = Países menos desenvolvidos; amarelo = Brasil. Fonte: ONU.
Gráfico 4 - Expectativa de Vida, em anos Fonte: ONU
Para se melhor compreender as previsões de aumento da expectativa de vida deve-se levar
em consideração seus dois componentes fundamentais: a diminuição da mortalidade infantil
e o aumento da qualidade de vida da população idosa.
A queda da mortalidade infantil torna-se fator importante, pois, a expectativa de vida é
calculada através de médias sobre toda a população, de modo que a vida curta das crianças
puxa a média de toda a população para baixo.
Segundo a ONU, o índice mundial de mortalidade infantil é de 86 mortes antes dos 5 anos
para mil habitantes. No Brasil, é de 49 mortes antes dos 5 anos para cada mil habitantes.
Na América Latina o índice cai para 45 mortes para cada mil habitantes. No gráfico 5 pode-
se acompanhar o histórico da mortalidade infantil no Brasil.
23
Fonte: IBGE
Gráfico 5 - Mortalidade Infantil no Brasil (em número de mortes até os cinco anos para cada mil nascimentos.) Fonte: IBGE No Brasil, onde a mortalidade infantil ainda é alta, a expectativa de vida ao nascer é inferior
a de países desenvolvidos. Entretanto, a expectativa de sobrevida nas idades mais
avançadas, que não é muito sensível a mortalidade nos primeiros anos de vida, é bastante
elevada, aproximando-se da dos países desenvolvidos. Isso leva a crer que, ultrapassado
determinado limite de idade, os brasileiros tem uma sobrevida bastante elevada, como
pode-se observar na Tabela 1.
Tabela 1
24
Nota-se que no período considerado a população idosa obteve ganhos expressivos em sua
longevidade. Em 1980, um homem que chegasse a completar 65 anos de idade teria uma
expectativa de viver mais 11,2 anos. Já em 1996 esse homem poderia esperar viver, em
média, mais 13,2 anos. Cabe ressaltar que as mulheres tiveram um ganho de expectativa
média superior aos homens: 2,8 anos para elas e 2 para eles.
A redução da mortalidade entre os idosos proporcionada pela melhoria das condições de
tratamento de saúde também contribuiu para o crescimento da população idosa. A tabela 2
apresenta um exercício onde o incremento do número de idosos causado pela queda da
mortalidade é evidenciado. Se não houvesse queda da mortalidade, o contingente de idosos
do sexo masculino seria 72,8% menor do que era em 1996.
Tabela 2
3.3 IMPLICAÇÕES SOCIAIS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
POPULACIONAL
As modificações ocorridas na distribuição etária da população brasileira nas últimas
décadas, apresentam como conseqüência uma alteração no perfil das demandas sociais. Por
exemplo, a demanda por saúde deve aumentar substancialmente criando uma necessidade
de gastos com equipamentos e medicamentos mais dispendiosos. A diminuição do grupo de
jovens deve desacelerar a demanda por educação. Entretanto, a pressão sobre o sistema
previdenciário deve aumentar consideravelmente.
25
3.3.1 A Pressão sobre o sistema previdenciário
O envelhecimento populacional é um fenômeno observado não apenas no Brasil, mas em
todo o mundo. Porém, o caso brasileiro é especial por alguns motivos básicos. O principal é
que aqui o processo tem-se apresentado de forma mais acelerada que no resto do mundo,
fazendo com que todas as conseqüências sejam potencializadas.
Uma das maiores vítimas do envelhecimento é, sem dúvida, o sistema previdenciário.
Não é necessário uma bola de cristal para prever que daqui a uma das duas décadas, quando a participação relativa da população em idade ativa for do mesmo nível que a de países que ultrapassam o processo de transição demográfico, o governo e as autoridades políticas não saberão como o sistema previdenciário chegou a esse nível de insolvência. O montante relativo e absoluto de aposentados será muito maior do que é hoje. (FERREIRA, 1991)
Durante um lapso de tempo, em que há um decréscimo da população jovem não
compensado por um acréscimo da população de idosos, o país experimenta uma queda da
sua taxa de dependência, que posteriormente voltará a crescer, mas sem atingir os níveis
históricos anteriores. Como resultado dessa transição, observar-se-á uma mudança na
estrutura da taxa de dependência2 que passará a ser maior entre os idosos que entre os
jovens, alterando, assim, as demandas sociais, que pressionará o sistema de saúde e,
principalmente, o sistema previdenciário.
Para esse problema, a solução mais utilizada é a mudança nos regimes de aposentadorias
elevando a idade limite: “Nos Estados Unidos, por exemplo, a idade está passando
gradualmente de 65 para 67 anos. Alemanha, Itália, Japão caminham na mesma direção. Na
Inglaterra, a aposentadoria das mulheres seguirá a dos homens: 65 anos” (PASTORE,
1996).
2 Taxa de dependência = [(Pop.0-09 + Pop.60+) / Pop.10-59) * 100
26
O grande problema dessa solução é que ela empurra o indivíduo idoso ao mercado de
trabalho que, por sua vez, não demonstra interesse em absorver essa oferta de mão-de-obra
com idade mais avançada.
3.3.2 A Reinserção no Mercado de Trabalho
A sociedade brasileira tem questões muito interessantes a resolver, tanto no que diz respeito
a situação de ocupação quanto a manutenção da população idosa, uma vez que se observa
uma crescente participação de pessoas com 60 anos ou mais no mercado de trabalho.
Segundo dados do IBGE, a população ocupada com idade entre 60 e 64 anos cresceu 31,5%
entre 1991 e 1998.
Existe na literatura econômica algumas tentativas de explicar porque esse fenômeno
acontece. Uma delas, diz que o idoso busca inserção no mercado de trabalho para não ficar
ocioso, como forma de terapia ocupacional. Entretanto, a hipótese mais aceita é que o
indivíduo, que tem idade igual ou acima de 60 anos, está em busca da remuneração, que o
mercado pode lhe oferecer, pela venda do seu esforço.
De acordo com Menezes e Carrera-Fernandez (1998), em trabalho publicado sobre a
problemática da inserção do idoso no mercado de trabalho, a renda exógena (ou seja, a
renda não vinculada ao esforço do trabalho atual) pode tanto reforçar quanto restringir a
decisão do idoso participar na força de trabalho.
Especificamente, a renda proveniente de aposentadoria, pensão e seguro-desemprego mostrou-se positivamente correlacionada com a decisão do idoso participar do mercado de trabalho. Isso significa que esses proventos são elementos que reforçam a decisão do idoso em ofertar esforço no mercado de trabalho. (MENEZES; CARRERA-FERNANDEZ, 1998)
A partir desses resultados, chega-se a conclusão de que a renda proveniente de pensões e
aposentadorias é mais um indicativo de pobreza que de renda orçamentária exógena capaz
de cumprir com sua função econômica de proporcionar ao aposentado ou pensionista, o
27
mesmo padrão de vida que este tinha quando era economicamente ativo. Dessa forma, o
idoso vê-se obrigado a continuar, ou retornar ao mercado, de trabalho para obter uma renda
complementar.
3.4 A PARTICIPAÇÃO DO IDOSO BRASILEIRO NO MERCADO DE TRABALHO
Assim como em toda parte do mundo, vem-se observando no Brasil um aumento da
participação da população idosa no mercado de trabalho.
Num dos trabalhos recentes mais completos sobre a questão do idoso, Camarano (1999),
utilizando dados tanto da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar - PNAD de 1986 a
1996 quanto de vários censos demográficos realizados pelo IBGE, traçou um histórico da
recente participação do idoso no mercado de trabalho brasileiro.
Como pode ser observado no Gráfico 6, na semana de referencia da PNAD de 1996 a taxa
de participação da população masculina idosa é inferior a dos adultos. Já entre os idosos
observa-se uma queda brusca de atividade com o avançar da idade. Entre as idades de 65 e
75 anos a taxa de atividade caiu 24,9%.
Gráfico 6: Taxas Específicas de Atividade da População Masculina por Grupos de Idade. Brasil – 1986/1996
28
Nota-se que a partir dos 60 anos, a participação da população idosa na semana de referencia
de 1996 é sempre superior a observada em 1986 o que demonstra a crescente participação
dos idosos no mercado de trabalho no Brasil.
4 A INSERÇÃO DO IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO DA REG IÃO
METROPOLITANA DE SALVADOR
Estima-se que na Região Metropolitana de Salvador a população idosa represente 7% da
população total, como mostra o Gráfico 7 abaixo.
93%
7%
Até 59 anos
60 anos e mais
Gráfico 7: Estimativa percentual da população idosa, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
4.1 ASPECTOS E CONCEITOS METODOLÓGICOS
Para a realização deste capítulo, serão utilizados os dados da Pesquisa de Emprego e
Desemprego na Região Metropolitana de Salvador - PED/RMS. A PED/RMS é uma
pesquisa que tem como instituições responsáveis a Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, a Universidade Federal da Bahia – UFBA, o
Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômico – DIEESE, a
29
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo – SEADE e Secretaria do
Trabalho e Ação Social do Estado da Bahia – SETRAS. A pesquisa tem por objetivo o
levantamento sistemático de dados relativos ao nível de emprego e desemprego na RMS.
A Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Salvador tem como unidade amostral o domicílio da área urbana dos 10 municípios que compõem esta região: Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz. Estes municípios estão subdivididos em 17 distritos, 22 subdistritos, 165 zonas de informação (ZI) e 2.243 setores censitários (SC). As informações de interesse da pesquisa são coletadas mensalmente através de entrevistas realizadas com moradores de 10 anos de idade ou mais, em aproximadamente 2.2000 domicílios, que representam uma fração amostral de 0,35% do total de domicílios da RMS (PED, 2001).
Especificamente para este trabalho, serão consideradas as pessoas com 60 anos de idade ou
mais para os quais serão calculadas as variações dos rendimentos médios, endógenos e
exógenos, subdividindo a população idosa em grupos segundo atributos pessoais.
Serão listados abaixo alguns conceitos utilizados pela PED:
� PIA - População em Idade Ativa = pessoas de 10 anos e mais = PEA + inativos;
� PEA - População Economicamente Ativa = ocupados + desempregados;
� Desemprego Total = desemprego aberto + oculto pelo trabalho precário = oculto
pelo desalento;
� Desemprego Aberto = pessoas que procuraram trabalho nos últimos trinta dias e não
trabalharam nos sete dias anteriores à entrevista;
� Desemprego Oculto pelo Trabalho Precário = pessoas que, em simultâneo a procura
de trabalho, realizaram algum tipo de atividade descontínua e irregular;
� Desemprego Oculto pelo Desalento = pessoas que, desencorajadas pelas condições
do mercado de trabalho ou por razões circunstancias, interromperam a procura,
embora ainda queiram trabalhar;
� Ocupados = pessoas com trabalho remunerado e exercido regularmente; ou com
trabalho remunerado exercido de forma irregular, mas sem procura de trabalho; ou
com trabalho não remunerado de ajuda em negócios de parentes, ou remunerado em
espécie/benefício, sem procura de trabalho;
30
� Inativos = pessoas de 10 anos e mais que não estão ocupadas ou desempregadas.
4.2 A PARTICIPAÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA
Apenas 18 % da população com mais de 60 anos está ocupada ou procurando emprego. A
grande maioria, 82 % dos idosos, não quer ou não pode participar da atividade econômica,
como mostra o Gráfico 8 abaixo.
18%
82%
Inativos
PEA
Gráfico 8: População Idosa Por Condição de Atividade, RMS, 1999-2001
FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
As taxas de atividade dos idosos mostram-se inferiores as dos jovens e a dos adultos, como
pode ser observada no Gráfico 9. Observa-se também uma significativa diferença entre as
taxas masculina e feminina, situação que é acentuada com o envelhecimento.
31
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
18-25 26-59 60-70 71 e mais
Faixa Etária
Tax
a de
Ativ
idad
e
HOMEM
MULHER
Gráfico 9: Taxa de Atividade Por Sexo, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
A população economicamente ativa masculina cresce desde a juventude até a idade adulta.
Entretanto, a taxa de atividade dos indivíduos com idade entre 60 e 70 anos é menor tanto
para os homens, 49,5 pontos percentuais, quanto para as mulheres, 53,3 pontos percentuais
em relação aos indivíduos do mesmo sexo da faixa etária de 25 a 59 anos. Entre os idosos
com mais de 70 anos as taxa de participação continua suas trajetória descendente, a taxa
masculina cai 28,1 pontos percentuais e a feminina cai 13.
Nota-se que a partir dos 60 anos há uma queda brusca nas taxas de atividade, especialmente
das mulheres, onde a participação cai de 69,3% para 16%. Já os homens deixam o mercado
de trabalho principalmente a partir dos 70 anos, onde a taxa de atividade cai de 40,2% para
penas 12,1%. Esse tipo de análise permite observar que a idade é um fator muito importante
na decisão do indivíduo em deixar o mercado de trabalho.
A participação feminina é, em todas as faixas etárias, inferior à masculina e essas
diferenças vão aumentando até o início da terceira idade. Entre os jovens, adultos e idosos
até 70 anos, as diferenças entre as taxas de atividade de homens e mulheres são de 11,4,
20,4 e 24,2 pontos percentuais, respectivamente. Entre as pessoas com mais de 70 anos essa
diferença diminui para 9,1 pontos percentuais em função de uma queda mais acentuada da
32
participação masculina nessa faixa de idade. A acentuação das diferenças entre as taxas de
atividade de homens e mulheres, pode ser atribuída a uma menor participação feminina na
atividade econômica no passado.
4.3 SITUAÇÃO OCUPACIONAL
O desemprego é baixo e tende cair com o avanço da idade devido, principalmente, em
conseqüência do aumento da inatividade entre os mais velhos. A taxa de desemprego aberto
é de 1,7% para os idosos com idade até 69 anos e de 0,2% para os que têm mais de 70 anos,
como mostra a Tabela 3 abaixo. Ainda que baixo para ambos os sexos, o desemprego
aberto é muito menor entre as mulheres onde essa taxa chega a ser nula para as idosas com
mais de 70 anos. É interessante notar que o número de inativos com bico – pessoas que
apesar de inativas realizam algum trabalho ocasional – é sempre superior entre as mulheres
e tende a ser maior, com o avanço da idade, que o número de desempregados.
Tabela 3 Percentual de pessoas com 60 anos e mais, por sexo, segundo situação ocupacional e faixa etária. RMS 1999 – 2001 Idoso Situação
Ocupacional Desemprego
com Bico Desemprego
aberto Desemprego Desalentado
Ocupado Inativo com Bico
Inativo Puro
Total
Homem 1,2 76,8
3,3 79,2
0,8 70,5
36,3 61,5
1,5 30,9
56,9 32,7
100 40,9
Mulher 0,2 23,2
0,6 20,8
0,2 29,5
15,8 38,5
2,3 69,1
80,8 67,3
100 59,1
60 a 69 anos
Total 0,6 100
1,7 100
0,5 100
24,2 100
2,0 100
71,0 100
100 100
Homem 0,1 60,0
0,6 88,2
0,2 83,3
12,6 64,6
1,0 40,7
85,4 31,6
100 34,0
Mulher 0,0 40,0
0,0 11,8
0,0 16,7
3,6 35,4
0,7 59,3
95,6 68,4
100 66,0
70 anos e mais
Total 0,1 100
0,2 100
0,1 100
6,7 100
0,8 100
92,1 100
100 100
FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
O número de ocupados cai abruptamente com o avanço da idade. Entre os idosos com até
69 anos, eles representam 24,2% da população dessa faixa etária e passam a representar
apenas 6,7% da população com mais de 70 anos. Entre os ocupados puros, com idade entre
60 e 70 anos, a presença masculina é muito superior a feminina, 61,5,3% e 38,5%
33
respectivamente. Entre os idosos mais velhos, com mais de 70 anos, a taxa de ocupação
diminui mas a diferença entre os sexos permanece significativa, 9%.
A inatividade grassa entre os idosos. A taxa de inativos puro cresce com o envelhecimento.
As pessoas nessa situação ocupacional representam 71% da população idosa até os 70 anos
e passam a representar 92,1% dos idosos com mais de 70 anos. A inatividade é alta
principalmente entre as mulheres. A taxa de inativos puro chega a 95,6% entre as idosas
com mais de 70 anos.
4.4 HORAS TRABALHADAS
O Gráfico 10 mostra que, os idosos do sexo masculino apesar de terem uma carga horária
menor que a dos adultos, trabalham mais horas semanais que os jovens. O mesmo não
acontece com as mulheres, que diminuem sua carga horária semanal desde a juventude até
a velhice. Tal situação pode ser conseqüência do efeito coorte, devido a uma menor
participação feminina no passado.
0
10
20
30
40
50
18-25 26-29 50-59 60 e +Faixa Etária
Hor
as T
raba
lhad
as
HOMEM
MULHER
Gráfico 10: Jornada Média de Trabalho por Faixa Etária e Sexo, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
34
A Tabela 4 mostra que entre os trabalhadores com uma carga horária menor, em todas as
faixas etárias, a participação feminina é superior a masculina. Com o aumento do número
de horas semanais trabalhadas o número de homens passa a ser maior que o de mulheres.
Entre os jovens, população com idade entre 18 e 25 anos, a participação feminina cai de
57,3%, quando a carga horária é de até 20 horas semanais, para 42,7%, quando a carga
horária é de mais de 40 horas semanais. Com os homens dessa faixa etária a situação é
oposta: a participação sobe de 42,7% para 57,3% quando a carga horária passa de até 20
horas para mais de 40 horas semanais. Essa tendência é mantida entre os adultos, população
com idade entre 26 e 59 anos.
Tabela 04 - Horas Trabalhadas por Faixa Etária e Sexo Região Metropolitana de Salvador 1999-2001 Em porcentagem
Horas Até 20h De 21h até 40h Mais de 40h trabalhadas Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
18-25 42,7 57,3 54,1 45,9 57,3 42,7 26-59 30,9 69,1 48,9 51,1 63,7 36,3 60 e + 42,0 58,0 58,3 41,7 73,5 26,5
FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
As diferenças entre homens e mulheres, decorrentes do aumento da carga horária, tornam-
se mais acentuadas entre a população idosa. Quando a carga horária é de até 20 horas
semanais a participação feminina é 16 pontos percentuais superior a masculina. Quando a
carga horária é entre 21 até 40 horas semanais os homens passam a ter uma participação
16,6 pontos percentuais superior às mulheres. No entanto, quando a carga horária é superior
a 40 horas semanais nota-se uma significativa superioridade na participação masculina em
relação a feminina entre a população idosa. Enquanto que os homens idosos representam
73,5% desses trabalhadores, as mulheres dessa faixa etária representam apenas 26,5%.
4.5 OCUPAÇÃO
35
Observando o Gráfico 11, que mostra a distribuição dos idosos por posição na ocupação,
observa-se que 44,4% dos trabalhadores idosos são autônomos, desses, 62,1% são homens
e apenas 37,9% são mulheres. Os assalariados representam 31,9% dos trabalhadores idosos,
onde a presença masculina é marcante, 66,2%.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Traba
lhado
r Fam
iliar
Empr
egado
r
Assala
riado
Outro
s
Posição Ocupacional
HOMEM
MULHER
Gráfico 11: PEA Idosa Por Posição na Ocupação, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE.
Entretanto, nas ocupações consideradas mais precárias, a presença feminina é
significativamente superior a masculina. Entre os trabalhadores domésticos idosos, 87,7%
são mulheres. 2,1% das mulheres idosas estão ocupadas no trabalho familiar, o que
representa 63,6% dos idosos nessa posição ocupacional. Nota-se que a diferença
proporcional entre homens autônomos e mulheres autônomas é pequena, e que entre os
assalariados a diferença aumenta mas não é tão grande. Entretanto, a situação é bastante
diferente para os empregadores e trabalhadores domésticos. Entre os primeiros, a presença
masculina é maior que o dobro da feminina, e entre os trabalhadores domésticos a
participação das mulheres á quase que 10 vezes superior a dos homens. Como, em termos
36
de remuneração, a natureza dessas ocupações é bastante distinta, talvez essa situação
explique parte das diferenças de rendimento entre os sexos.
Entre os idosos ocupados, os dados revelam que apenas 39% contribuem para o Instituto de
Previdência Social. O trabalho exercido de forma irregular onde o idoso aceita um emprego
com baixas garantias, talvez por já ser aposentado, explica parte dessa situação.
Tabela 05 Pessoas De 60 Anos e Mais, Ocupadas no Período de Referencia, por Contribuição para o Instituto de Previdência Social no Trabalho Principal Segundo o Sexo RMS 1999 – 2001
Contribui Não Contribui Total Homem 40,4%
64,2% 59,6% 60,6%
100% 62,0%
Mulher 36,8% 35,8%
63,2% 39,4%
100% 38,0%
Total 39,0% 100%
61,0% 100%
100% 100%
FONTE: PED/ RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE
Dentre os trabalhadores idosos ocupados do sexo masculino, 40,4% é contribuinte do
Instituto de Previdência Social e apenas 36,8% das mulheres ocupadas fazem a
contribuição previdenciária. Isto revela, talvez, uma maior precariedade no trabalho
exercido pelas mulheres idosas em relação ao trabalho dos homens dessa faixa etária.
4.6 RENDIMENTO
A renda média da população idosa decresce com a idade mas ainda é maior que a renda dos
jovens e dos adultos com idade até 49 anos. O rendimento médio dos idosos é inferior
apenas ao recebido pelas pessoas com idade entre 50 e 59 anos. Observando o gráfico
abaixo, nota-se que a renda média de todas as fontes da população da RMS cresce até os 59
anos, decrescendo a partir daí.
37
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
18-25 26-49 50-59 60 e +
Faixa Etária
Ren
da M
édia
R$
HOMEM
MULHER
Gráfico 12: Renda Média Por Faixa Etária e Gênero, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE * Inflator utilizado - Índice de Preços ao Consumidor - SEI. Valores em Reais de Julho - 2003
Como mostra o Gráfico 12, o comportamento das curvas de rendimento masculina e
feminina é bastante diferenciado. Os rendimentos absolutos da população feminina são
mais baixos, em todas as faixas de idade que o rendimento da população masculina e essa
aumenta com o avanço da idade. A renda média das mulheres idosas residentes na RMS
chega a ser menos da metade da renda média dos homens idosos da região.
Tabela 06 - Fonte de Rendimentos dos Idosos por Sexo Região Metropolitana de Salvador 1999-2001 Em porcentagem
60 anos e mais Trabalho e aposentadoria Aposentadoria
Trabalho ou pensão e/ou pensão
Masculino 17,7 13,3 69,0 Feminino 7,0 5,9 87,2 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE
A Tabela 6 acima revela que a maior parte dos rendimentos dos idosos provem de
aposentadorias e pensões. Essa fonte de renda é especialmente significativa entre as
mulheres idosas, representando 87,2% da renda recebida por elas.
38
Tabela 07 -Fonte de Renda por Idade e Sexo Região Metropolitana de Salvador 1999-2001 Em porcentagem
Faixa Etária 60-64 65-69 70-74
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Trabalho 62,6 37,4 66,4 33,6 62,8 37,2 Trabalho, Aposentadoria ou pensão 57,1 42,9 61,8 38,2 68,8 31,2 Aposentadoria e/ou pensão 38,1 61,9 36,8 63,2 36,5 63,5 Total 47,3 52,7 42,8 57,2 40,0 60,0 Em porcentagem
Faixa Etária 75-79 80 e mais
Homem Mulher Homem Mulher Trabalho 63,3 36,7 85,7 14,3 Trabalho, Aposentadoria ou pensão 60,5 39,5 64,1 35,9 Aposentadoria e/ou pensão 34,8 65,2 28,9 71,1 Total 36,6 63,4 29,9 70,1 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE
Como pode ser observado na Tabela 7, a maior parte dos idosos que auferem renda apenas
do trabalho é constituída por homens e a maioria dos idosos que auferem renda apenas de
pensão e/ou aposentadoria é constituída por mulheres. Ambas as situações são agravadas
com o avanço da idade. Por exemplo, para os idosos com mais de 80 anos com renda
apenas do trabalho, 85,7% é homem e 71,1% dos que recebem renda apenas de pensão e/ou
aposentadoria é mulher.
O idoso do sexo masculino que trabalha e é aposentado aufere um maior rendimento médio
que aquele que apenas trabalha ou aquele que apenas é aposentado. Os dados do Gráfico 13
mostram que se o homem idoso que recebe apenas aposentadoria passar a auferir renda do
trabalho, ele terá seu rendimento médio acrescido em R$ 1365,00. A pior situação de
rendimento para os homens idosos é aquela em que ele é apenas aposentado.
39
0
500
1000
1500
2000
2500
Renda M édia
Trabalho Trab./Apos. Aposentadoria
Categoria Ocupacional
HOM EM
M ULHER
Gráfico 13: Renda Média 60 Anos e Mais Por Sexo e Categorias, RMS, 1999-2001 FONTE: PED/RMS - SEI/ SETRAS/ UFBA/ DIEESE/ SEADE * Inflator utilizado - Índice de Preços ao Consumidor - SEI. Valores em Reais de Julho - 2003
Entretanto, entre as mulheres, a situação em que é auferido menor rendimento médio é
composta pela idosa que apenas trabalha, R$ 501. A melhor situação é aquela em que há
renda de pensão e/ou aposentadoria e renda do trabalho. Diferentemente do que ocorre
entre os homens, o rendimento apenas com pensão e/ou aposentadoria é superior ao
auferido pelo trabalho.
Fica evidenciada, portanto, a significativa redução dos rendimentos médios, tanto para
homens quanto para mulheres, quando da aposentadoria, o que constitui um incentivo a
permanência ou busca de reinserção do idoso ao mercado de trabalho.
40
5 CONCLUSÃO Estudos demográficos apontam que a sociedade brasileira passa por mudanças estruturais
que se caracterizam principalmente por baixas taxas de fecundidade, aumento da
expectativa de vida e acelerada urbanização. Esse processo tem aumentado o número
relativo de pessoas idosas trazendo desafios para o Estado, à sociedade e à família.
Este trabalho estudou a forma como os indivíduos com mais de 60 anos de idade se inserem
no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador tendo como pano de fundo o
processo de envelhecimento populacional por que vem passando a população mundial e
brasileira e as mudanças estruturais dos mercados de trabalho tendo em vista a
reestruturação produtiva.
Fazendo uso da base de dados da PED/RMS concluiu-se, como já era esperado, a taxa de
atividade dos idosos é mais baixa que a dos adultos, especialmente entre os idosos do sexo
feminino.
As mulheres trabalham muito menos horas semanais que os homens e essa diferença
aumenta com o avanço da idade. A participação dos homens é significativamente maior
entre os que trabalham mais de 40 horas semanais como conseqüência, principalmente do
efeito coorte, ou seja, da menor participação das mulheres na atividade econômica no
passado. Entretanto, nota-se que a diferença entre o número médio de horas semanais
trabalhadas não é muito grande entre adultos e idosos, em ambos os sexos.
A grande maioria da PEA idosa do sexo masculino trabalha como autônomo ou
empregador, talvez porque boa parte dessa população já esteja aposentada e por isso busque
inserir-se em atividades de natureza informal. Entre os ocupados, apenas 39% contribui
para o Instituto de Previdência Social. É interessante notar que a participação feminina só é
superior a masculina em ocupações consideradas precárias como no trabalho doméstico e
familiar, fato que irá impactar numa menor remuneração dos indivíduos desse gênero.
41
As pensões e aposentadorias constituem-se nas maiores fontes de renda da população idosa,
principalmente para as mulheres. O fato de a expectativa de vida das mulheres ser maior
que a dos homens, aliado a queda dos nível de atividade com o avanço da idade, contribui
para uma maior presença feminina entre os idosos que auferem renda apenas de pensões e
aposentadorias.
Como já era esperado, a renda média decresce com o avanço da idade. Entretanto, o
rendimento dos idosos situa-se num patamar mais elevado que o dos jovens. O
comportamento da curva de renda média é diferenciado para homens e mulheres. O valor
absoluto da renda masculina é superior em todas as faixas etárias e com o avanço da idade a
diferença entre os sexos torna-se cada vez maior, talvez como conseqüência de uma maior
presença masculina entre os idosos que auferem renda do trabalho apesar de já serem
aposentados, visto que essa é a categoria ocupacional em que se obtém maior renda média.
Assim, verificou-se que a renda constitui um incentivo para que os idosos, principalmente
do sexo masculino, parem de trabalhar mais tarde.
É com uma sociedade cada vez mais envelhecida, em que as atenções se voltam para os
desafios trazidos pelo envelhecimento populacional, que este estudo se preocupa,
enfocando a relação entre o idoso e o mercado de trabalho. Pressões políticas e sociais para
a transferência de recursos na sociedade aumentam a necessidade de novos estudos sobre as
demandas de uma população idosa cada vez mais numerosa e ativa.
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