a intervenção do assistente social no fenômeno da codependência
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O presente projeto de pesquisa resultou das ações realizadas nos campos de estágio, primeiro no estágio voluntário no Ministério Público do Paraná e, em seguida, no estágio obrigatório na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. O interesse pelo tema se originou devido aos acompanhamentos dos atendimentos aos familiares dos adictos1. Pôde-se perceber que o uso nocivo de drogas e/ou do alcoolismo é uma doença que afeta não somente o usuário, mas também a família, muitos se encontravam mais doentes que o próprio adicto, retardando assim a recuperação do mesmoTRANSCRIPT
FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI
KARLA LUS CHUGAM HONÓRIO
A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO FENÔMENO DA
CODEPENDÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ENCONTRADOS
NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA COMUNIDADE VALE DO SOL
CURITIBA 2013
KARLA LUS CHUGAM HONÓRIO
A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO FENÔMENO DA
CODEPENDÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ENCONTRADOS
NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA COMUNIDADE VALE DO SOL
Trabalho de conclusão do curso apresentado a banca examinadora do Curso de Graduação de Serviço Social da Faculdade Padre João Bagozzi como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social sob a orientação da Professora Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini.
CURITIBA 2013
DEDICATÓRIA
Ao Yahweh Jireh, que me levanta e sustenta
todas as manhãs e às pessoas que me
compõem.
AGRADECIMENTOS
À professora Claúdia C. B. Cobalchini, com grande estima, por ter aceitado o
desafio de orientar este trabalho e por oportunizar produzir ao seu lado.
Ao amigo e supervisor de estágio Marco Aurélio Afornali, por dividir o
conhecimento e pelo exemplo de amor e dedicação com que exerce a
profissão.
Ao professor Leandro J. Araújo, por todo apoio e compreensão dispensados ao
longo do curso.
À professora Ana Paula Barrios (in memoriam), pela presença marcante em
minha vida acadêmica.
À Kelley e a Luciana, por terem aberto as portas da Comunidade Vale do Sol.
Aos amigos e tantos outros que acrescentaram e continuam dispostos a
acrescentar mais um tijolo na construção de um mundo melhor, e que de
alguma forma colaboraram para o meu aprendizado, minha eterna gratidão.
“A educação será libertadora na medida em que
incentivar a reflexão e a ação consciente e criativa das classes oprimidas em relação ao
próprio processo de libertação.”
Paulo Freire
RESUMO
Esta pesquisa é fruto do acompanhamento dos atendimentos realizados pelo Assistente Social na Comunidade Terapêutica Vale do Sol, partindo da prática de estágio na mesma. Mobilizaram-se reflexões acerca da dependência química, do papel da família na drogadição, consequentemente o fenômeno da codependência. Com foco na abordagem qualitativa, apresenta-se o olhar dos familiares de dependentes químicos e a intervenção do Serviço Social na codependência, os desafios e as possibilidades encontrados na práxis da profissão. Pode-se dizer que a prática profissional neste fenômeno está em processo de construção, embasada no projeto ético-político da profissão. Palavras chaves: Dependência Química; Codependência; Serviço Social.
ABSTRACT This report by the Social Assistant is the result of her accompanying the services rendered by the Therapeutic Community Vale do Sol, during her period of graduate training. Data was gathered concerning chemical dependency, the role of the family in drug addiction, and the phenomenon of codependency. Concentrating on the qualitative approach, this research presents the point of view of the family of chemical dependants, as well as the intervention of the Social Service in co-dependency, with its challenges and possibilities. We can say that professional praxis in this area is in the process of formation, in accordance with the ethics and practice of the profession. Keywords: Chemical Dependency; Codependency; Social Service.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – COMPARAÇÃO ENTRE DSM-IV E CID-10...............................................21
TABELA 2 – POPULAÇÃO E AMOSTRA DE PESQUISA............................................42
TABELA 3 – PERCEPÇÕES DA FAMÍLIA QUANTO À ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL....................................................................................................43
TABELA 4 – O QUE SE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA.......................................45
TABELA 5 – O PAPEL DA FAMÍLIA...............................................................................47
TABELA 6 – RESPONSABILIDADES DOS FAMILIARES DE UM DEPENDENTE QUÍMICO.........................................................................................................................48
TABELA 7 – MUDANÇAS NA FAMÍLIA APÓS ATENDIMENTOS COM O ASSISTENTE SOCIAL...........................................................................................................................50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AA - Alcoólicos Anônimos
AE - Amor Exigente
AS – Assistente Social
CAPS - Centro de Apoio Psicossocial
CAPS AD - Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas
CID-10 - Classificação Internacional de Doenças
DQ – Dependente Químico
DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
MS - Ministério de Saúde
OMS – Organização Mundial de Saúde
RD - Redução de Danos
SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas
SNC - Sistema Nervoso Central
SUS - Sistema Único de Saúde
SUAS – Sistema Único da Assistência Social
PNAS – Política Nacional da Assistência Social
SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................12
1 DEPENDÊNCIA QUÍMICA......................................................................................15 1.1 Dependência: uma relação química e psicológica..................................................15 1.2 Cultura socialmente “lícita”......................................................................................16 1.3 A presença das substâncias psicoativas na cultura brasileira................................18 1.4 Drogas: Classificação e efeitos no organismo........................................................19 1.5 Dependência Química: detectação, prevenção e tratamento.................................21 1.5.1 Reforma Psiquiátrica no Brasil...............................................................................22 1.5.2 Política de Saúde Brasileira...................................................................................24 1.5.3 Rede Assistencial para usuários de álcool e outras drogas...................................26 1.6 O papel da família no uso de drogas......................................................................27 2 A FAMÍLIA E SEUS ATORES: PROTAGONISMO E SEUS PAPEIS..................29 2.1 Breve relato sobre a gênese da família..................................................................29 2.2 As funções da família.............................................................................................30 2.3 A família na contemporaneidade............................................................................31 2.4 A família como questão social................................................................................32 2.5 Família e dependência química..............................................................................34 2.6 Família: uma relação de dependência emocional e química.................................35 2.7 Família e codependência.......................................................................................36 3 O FENÔMENO DA CODEPENDÊNCIA................................................................37 3.1 Quem é o codependente?......................................................................................38 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................40
4.1 Histórico da Instituição...........................................................................................41 4.2 População e Amostra da Pesquisa........................................................................42 4.2.1 Percepções da família quanto à atuação do profissional de Serviço Social..........43 4.2.2 O que se entende por Codependência...................................................................45 4.2.3 O papel da família..................................................................................................47 4.2.4 Responsabilidades dos familiares de um dependente químico.............................48 4.2.5 Mudanças na família após atendimentos com o Assistente Social........................50 5 SERVIÇO SOCIAL E CODEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO EM CONSTRUÇÃO...52
5.1 Desafios e dificuldades encontradas no desenvolvimento do trabalho com famílias de dependentes químicos...............................................................................................53 5.1.2 Sendo a codependência algo relativo à subjetividade do ser, qual a visão do A.S sobre este tema e de que forma orienta o exercício da profissão neste fenômeno........55 5.1.3 Metodologia utilizada no acompanhamento das famílias......................................56 5.1.4 Formas assertivas de realizar os atendimentos....................................................57 5.1.5 Em meio às adversidades e contradições do exercício da profissão, possibilidades apresentadas ao longo do trabalho realizado.................................................................58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................62 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS.........................................................................66
APÊNDICES.........................................................................................................67 ANEXOS..............................................................................................................70
GLOSSÁRIO........................................................................................................72
12
INTRODUÇÃO
O presente projeto de pesquisa resultou das ações realizadas nos campos de
estágio, primeiro no estágio voluntário no Ministério Público do Paraná e, em seguida,
no estágio obrigatório na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. O interesse pelo tema
se originou devido aos acompanhamentos dos atendimentos aos familiares dos
adictos1. Pôde-se perceber que o uso nocivo de drogas e/ou do alcoolismo é uma
doença que afeta não somente o usuário, mas também a família, muitos se
encontravam mais doentes que o próprio adicto, retardando assim a recuperação do
mesmo.
A pesquisa tem como objetivo conhecer o papel e a importância da intervenção
profissional do Assistente Social no fenômeno da codependência2 e, por meio dessa,
analisar, segundo o profissional, os desafios e as possibilidades encontrados para a
capacitação da família acerca da dependência química. Com as famílias, a
caracterização dos processos que envolvem a intervenção do profissional e a
representação sobre a dependência química.
A fim de viabilizar o estudo proposto, com desígnio de obter subsídios teóricos, a
metodologia foi desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica, mediante consulta de
materiais impressos – documentos oficiais, teses, livros, periódicos, revistas, entre
outros –, e informações disponíveis na internet.
Após a delimitação do universo a ser estudado, optou-se por investigar quatro
famílias que foram acompanhadas pelo Assistente Social da Instituição. A pesquisa
realizar-se-á por meio de entrevistas baseadas em roteiro aberto3 e semiestruturado. A
1 Adicto (latim addictus, -a, -um, particípio passado de addico, -ere, aprovar, dar assentimento a, ser
favorável, adjudicar, vender, consagrar, dedicar) adj 1. Que está com outro ou se lhe junta por afeição. = AFEIÇOADO, DEDICADO 2. Que depende de ou se submete a. = DEPENDENTE, SUBMISSO adj. s. m. 3. Que ou quem depende de algo, geralmente de alguma substância química. = DEPENDENTE (Disponível:< http://www.priberam.pt>. Acesso em 31 mai.2012). 2 Com base na Organização Mundial de Saúde (2006, OMS), “codependente é um parente, amigo
próximo ou colega de uma pessoa alcoolista ou dependente de drogas, cujas reações são definidas por este termo como tendendo a perpetuar a dependência daquela pessoa e, daí, retardam o processo de recuperação”. 3 Para Minayo (1993), a entrevista aberta é utilizada quando o pesquisador deseja obter o maior número
possível de informações sobre determinado tema, dando ênfase à visão do entrevistado e também para obter um maior detalhamento do assunto em questão. Segundo a autora, a entrevista é utilizada
13
fim de proporcionar melhor compreensão acerca do fenômeno e da atuação profissional
do Assistente Social, levantaram-se algumas indagações, as quais subsidiarão a ideia
deste estudo. Destacam-se as seguintes questões:
Tratando-se a codependência assunto que se refere à subjetividade do ser,
qual o papel do Assistente Social nesse contexto?
Quais os desafios e as possibilidades do Serviço Social no atendimento às
famílias?
Qual o entendimento da família acerca da codependência e a percepção em
relação ao trabalho do Serviço Social?
Portanto, o objetivo geral da pesquisa é o de compreender a atuação do Serviço
Social no fenômeno da codependência junto às famílias acompanhadas pelo Assistente
Social na Comunidade Terapêutica Vale do Sol.
E os objetivos específicos são de: analisar o papel e as ações do Serviço Social
junto às famílias codependentes; identificar a percepção da família quanto ao
comportamento codependente; investigar o entendimento da família no que se refere ao
trabalho do Serviço Social; caracterizar os desafios e as possibilidades da intervenção
profissional.
Na atuação do Serviço Social, no que se refere à dependência química, entende-
se como uma das diversas expressões da questão social4. Na reconceitualização do
objeto do Serviço Social, ao eleger as situações problemas, Kisnerman (1978) retrata
que existem três alternativas de ação frente às problemáticas: racioná-la sem tocá-la;
contornar o problema - porém isso o tornará vigente; ou enfrentá-la frontalmente, ou
seja, assumir refletir e resolver o problema, valendo-se do auxilio de um profissional
para ajudar na solução. Segundo o ponto de vista do autor, acredita-se que a
intervenção do Serviço Social, no objeto da Codependência, se dá na terceira
alternativa, por meio de orientações, e encaminhamentos aos equipamentos e aos
respectivos profissionais, conforme demanda apresentada. Todavia sabe-se que o
geralmente na descrição de casos individuais, na compreensão de especificidades culturais para determinados grupos e para comparabilidade de diversos casos. 4 Questão social é o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que
tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2000, p. 27).
14
profissional não pode assumir a responsabilidade de “resolver” o problema, o uso da
reflexão é viável, porém a resolução da questão vai além da relação imediata da
família, pois se trata das expressões da questão social, que é fruto do sistema
capitalista, o que implica muita responsabilidade para a profissão, resultando em uma
responsabilidade messiânica. Assim, a fim de realizar o viável, no decorrer da pesquisa
concentrar-se-ão esforços para refletir parte da complexidade sobre o tema.
A presente pesquisa está divida em cinco capítulos. O primeiro capítulo traz um
panorama sucinto sobre a Dependência Química - contexto cultural, classificação das
drogas e seus efeitos - Reforma Psiquiátrica, Política de Saúde Brasileira e Rede
Assistencial. O segundo capítulo aborda, de forma breve, a representação social da
chamada família, o protagonismo dos atores e os seus papéis dentro desse contexto, a
família na questão social, na dependência química e codependência. No terceiro
capítulo apresenta-se o fenômeno da Codependência, o perfil e as funções do
codependente. No quarto capítulo, constam os procedimentos metodológicos, a
amostra da pesquisa e a análise de dados. No quinto capítulo, o olhar do Serviço Social
acerca da Codependência.
15
1 DEPENDÊNCIA QUÍMICA
1.1 DEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO QUÍMICA E PSICOLÓGICA
Dependência, em latim adictere, significa estar preso ou escravizado. O ser
humano escolhe formas de dependência, e tem uma gama de opções – financeira,
emocional, relacional, química. Toda dependência tem um componente biológico,
psicológico, social, familiar ou espiritual (AFORNALI, 2011).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) através da Classificação Internacional
de Doenças (CID-10) preconiza que a dependência química é uma
enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência.
Definido pela CID-10 (1993) como um conjunto de fenômenos comportamentais,
cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem, após repetido consumo de uma
substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à
dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas
consequências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento
de outras atividades e obrigações.
A dependência química é uma doença que atinge 10% (dez por cento) da
população mundial, é uma doença totalmente democrática que não escolhe raça,
religião, estada social ou região do mundo, ocorre nos palácios, nas favelas e na classe
média (GONÇALVES, 2010).
Para Afornali (2011, p.16), a dependência química abrange todos os
componentes envolvidos nas demais dependências, sendo, assim, um problema de
ordem biológica, psicológica, familiar e espiritual, e ainda carrega consigo um fenômeno
chamado codependência5.
Para uma melhor compreensão acerca da dependência química, é preciso
entender que ela pode se apresentar em duas formas de dependências: física e a
psicológica. A dependência física, segundo Tiba, citado por Ferreira (2008), é causada
pelas drogas que funcionam da forma em que entram no metabolismo do indivíduo,
5 Segundo o autor, tal fenômeno propicia e intensifica a dependência emocional, relacional, financeira do
dependente químico com os seus.
16
fazendo parte das reações bioquímicas, de tal forma que o organismo já as tem como
parte necessária para seu funcionamento adequado. Em Schuckit (apud FERREIRA,
2008.), a manifestação da dependência física só dá quando existe interrupção no uso, o
que acarreta o desenvolvimento dos sintomas, uma vez que o corpo está adaptado
fisiologicamente ao uso contínuo da substância. Paula (ibid.) comenta ser preciso
distinguir para poder prevenir a síndrome de abstinência6, e no que refere à
dependência psicológica, a autora aponta a droga como sendo o centro da vida do
indivíduo, que tem influência em seus pensamentos, atividades e emoções diárias, de
tal forma que resistir à vontade constante e parar de usá-la seria algo de grande
dificuldade, seus sintomas são manifestados por meio de ansiedade e dificuldade de
concentração, porém é variável em cada sujeito.
1.2 CULTURA SOCIALMENTE “LÍCITA”
Sielski (1999, p. 17) relata que, desde que o homo sapiens ficou mais sabido,
descobriu e passou a utilizar as diversas substâncias químicas que a generosa
natureza colocou à sua disposição, parte como alimento, parte como suplemento. Para
o autor, a falta de registros deixados pelos antepassados impede de saber na íntegra
como tudo começou.
Desde a antiguidade os povos primitivos já faziam uso de drogas e
medicamentos para o alívio e tratamento dos enfermos; no primeiro milênio,
6 O ato de renuncia a droga pode causar sérias perturbações ao organismo dependente, desde
alterações comportamentais até sensações físicas. Os sintomas são:sofrimento mental; sofrimento físico
e mal-estar. A Síndrome pode se dividir em: SAA – Síndrome de Abstinência Aguda e a SAD –
Síndrome de Abstinência Demorada. A primeira pode ocorrer na ausência do composto viciante entre
3 a 10 dias do último uso, já a segunda se difere nos sintomas, que podem ser visualizados entre a
sobriedade do indivíduo ocorrendo no intervalo de meses ou até anos após o uso. Alguns sintomas
provenientes da SAD são: mente confusa, problemas de coordenação motora, problema de memória,
reação emocional exagerada ou apatia e distúrbio do sono ou alteração. A SAD, portanto, é a mais
severa e preocupante, pois dela pode resultar danos cerebrais importantes e até mesmo recaídas. Fonte:
<http://www.infoescola.com/drogas/sindrome-de-abstinencia/> acesso em: 14 jun. 2013
17
documentos administrativos e inventários de imóveis descreviam que se consumia
álcool em tâmaras fermentadas. Na Idade Média as tribos discutiam suas questões
durante os banquetes, o álcool soltava as línguas e fazia com que todos se
expressassem sem esconderem a essência de um pensamento, porém as decisões
eram deixadas para o dia seguinte, quando os vapores do álcool não toldavam mais os
espíritos (AFORNALI, 2007).
Percebe-se que desde os primórdios, as relações sociais se compunham de tais
“rituais”: Afornali (2007) cita a relação existente entre a Igreja, os fiéis e seus
banquetes, como sendo uma comunhão, e também uma “barganha”, pela ideia de que
os homens aceitariam com mais constância efetuar dada tarefa se obtivessem algo em
“troca”.
Vários concílios surgidos eram contra o abuso do vinho, para os clérigos e para
os leigos; Carlos Magno (742-814) não bebia e pregava a sobriedade a todos,
combatendo os abusos, os beberrões eram chibateados e se recaíam eram levados ao
pelourinho (SIELSKI, 1999). Ainda hoje é marcada na história da Igreja uma linha tênue
entre as festas dedicadas aos santos patronos, à venda de bebida alcoólica e as
diversas pastorais que trabalham na prevenção ou tratamento contra o uso e abuso de
álcool, percebe-se uma via de duas mãos, um tanto paradoxal.
Além dos filmes, novelas, revistas, jornais e outdoors que incentivam ao uso de
alguma “coisa” (sic), desde a tenra idade é passado na literatura infantil, talvez não
intencionalmente, mas serve como incentivo a fazer uso de alguma substância, por ex.
A Tia Nastácia faz uso do pó de pirlimpimpim para fazer uma viagem; Alice toma algum
chá e come cogumelos para se sentir mais feliz e ir ao País das Maravilhas; Peter Pan
faz uso de algo para viajar à Terra do Nunca (GONÇALVES, 2010).
A produção de bebidas, cigarros e de drogas de todos os tipos é fantástica em
todo o mundo, tal produção conta com a ajuda da mídia que é especialista em seduzir o
espectador e levá-lo ao consumo desenfreado, apoiando assim os grandes grupos que
aí investem e agradecem pelos astronômicos lucros que obtêm por meio da escravidão
daqueles que se tornam alienados para se sentirem aliviados dos seus problemas,
sejam sociais, emocionais ou de qualquer outro cunho (SIELSKI, 1999).
18
1.3 A PRESENÇA DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NA CULTURA BRASILEIRA
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, segundo Andrade (1996), no inicio
da colonização, descobriram os costumes indígenas de produzir e beber uma bebida
forte fermentada a partir da mandioca, denominada cauim. A mesma era utilizada em
rituais, festas, dentro de uma pauta cultural bem definida. O uso do tabaco também era
habitual no costume indígena, porém, desconhecido dos portugueses e de outros
europeus. Com o passar do tempo, aprenderam a fazer a cachaça, no processo de
fabricação do mosto7, acabaram descobrindo um melaço que colocavam no cocho para
os animais e escravos, denominado de “Cagaça8”.
De acordo com Darci Ribeiro, citado por Andrade (1996), o açúcar era para
adoçar a boca dos europeus, da amargura da escravidão; a cachaça para alterar a
consciência, para calar as dores do corpo e da alma, para açoitar espíritos em festas,
para atiçar a coragem em covardes e para aplacar as traições e ilusões. Se fizermos
uma analogia com os tempos atuais, perceberemos que a história se repete, para os
que estão à margem, que buscam justificativa no uso de entorpecentes para aliviar a
realidade desigual que permeia a sociedade.
O uso da maconha foi introduzido no Brasil pelos escravos africanos e foi
difundida também entre os indígenas, consumida com propósito medicinal e nas
atividades recreativas como a pesca e nas rodas de conversas (ANDRADE, 1996).
Havia duas classes de “vícios”: os “elegantes” que eram o da morfina, heroína e
cocaína, consumidas pelas elites; e os “deselegantes”, destacando-se o alcoolismo e o
maconhismo, próprios das camadas pobres, em geral, segundo o autor, formadas por
negros e seus descendentes. Ainda hoje a sociedade reproduz parte deste estigma,
inclui-se também o crack, como sendo parte desta classe marginalizada (ibidem).
Um fato incontestável, essa realidade nacional em que permanece a associação
“pobre-preto-maconheiro-marginal-bandido” traduzida assim nas abordagens policiais
dirigidas às pessoas autuadas pelo porte de maconha, sendo muito mais severas nas
periferias do que em áreas mais ricas e socioeconomicamente mais favorecidas (ibid.).
7 Caldo em processo de fermentação que é extraído na produção do açúcar a partir da cana-de-açúcar
(anotações do autor). 8 Que depois veio a ser Cachaça, destilada em alambique de barro, mais tarde, de cobre (ibidem).
19
Quando se descobre que o comércio da droga é um dos três maiores negócios
no mundo – petróleo, armamento e as drogas -, e o que fomenta este mercado é uma
atividade “empresarial” altamente organizada, envolvendo empresas que investem em
pesquisas e desenvolvem constantemente novas drogas sintéticas, tais preconceitos e
ignorâncias acerca do assunto acabam sendo desmistificados (GONÇALVES, 2010).
1.4 DROGAS: CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS NO ORGANISMO
Segundo a definição da OMS (2006), droga é qualquer substância não produzida
pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,
causando alterações em seu funcionamento.
Do ponto de vista psicológico, pode-se entender como sendo uma grande
muleta, qual pode ser usada para fugir e não enfrentar um problema. Fazemos parte de
uma geração que foi criada e treinada para não sentir nenhum tipo de dor, nem física,
muito menos emocional, psicológica (GONÇALVES, 2010).
A CID-10 (1993) em seu capítulo V, sobre Transtornos Mentais e de
Comportamento, incluiu em sua lista de substâncias o álcool, opioides (morfina,
heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas), canabinoides (maconha), sedativos
e hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos), cocaína, estimulantes (anfetaminas e
substâncias relacionadas à cafeína), alucinógenos, tabaco e solventes voláteis.
Diante do ponto de vista legal, classificam-se as drogas em lícitas9 e ilícitas10. No
interesse didático, existe uma classificação que se baseia nas ações aparentes das
drogas sobre o sistema nervoso central (SNC), conforme as modificações observáveis
na atividade mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a substância, sendo
elas drogas depressoras11, estimulantes12 e perturbadoras13 da atividade mental
(SENAD, 2011).
9 Comercializadas de forma legal, podendo ou não estar submetidas a algum tipo de restrição, como o
álcool e alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial. 10
Proibidas por lei. 11
Substâncias que diferem em suas propriedades físicas e químicas tendem a reduzir a atividade motora, a dor e ansiedade, efeito euforizante no inicio e, posteriormente, aumento de sonolência. Sendo elas: álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, opioides, solventes e inalantes.
20
Duarte (2011, p. 93) relata que os aspectos associados à saúde só foram
estudados e discutidos nos últimos dois séculos, sendo que, anteriormente, o que
predominava eram as visões do senso comum e de preconceitos, pelas quais os
usuários eram vistos como “possuídos por forças do mal”, desprovidos de “força de
vontade” e portadores de falhas de caráter, “sem vergonha”.
Para melhor diagnosticar o uso abusivo14 e a dependência, existem alguns
conceitos, que, para Andrade (2009) ajudam a entender a epidemiologia15 do uso de
substâncias psicoativas. Segundo a CID-10 (1993), o “uso de drogas” é
autoadministração de qualquer quantidade de substância psicoativa, o termo “uso
nocivo” é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), “abuso” engloba
consequências sociais.
Para melhor compreensão observe-se na tabela I, que se segue, a comparação
entre os critérios referidos no DSM-IV e na CID-10.
12
Capazes de aumentar a atividade de determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos. Ex.: tabaco, anfetaminas e cocaína. 13
Provocam alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, como delírios e alucinações. Por ex.: maconha, alucinógenos – LSD, ecstasy – e diversas plantas. 14
Há uma diferença entre os padrões de consumo, entre eles, uso/abuso/dependência, podemos definir como uso o consumo de qualquer substância, o uso experimental, que se dá poucos episódios infrequentes ou não persistentes, o uso recreativo, acontece em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações de problemas, o uso controlado é a manutenção, não compulsivo e que não interfere no funcionamento habitual do indivíduo e o uso social, é aquele em companhia de outras pessoas de maneira socialmente aceitável. O abuso pode ser definido como qualquer consumo de drogas que cause dano, ou ameace causar dano à saúde física, mental ou no meio social, de um individuo ou na sociedade em geral. A dependência é um estado psíquico e, as vezes físico resultante da interação de um organismo vivo e uma droga, caracterizado por um conjunto de respostas comportamentais que incluem a compulsão a consumir a substância de forma continuada (DENARC, 2012). 15
A palavra vem do grego epideméion (aquele que visita): epí (sobre), demós (povo), logos (palavra, discurso, estudo). Etimologicamente significa “ciência do que ocorre com o povo” (SENAD, 2011).
21
Tabela 1: Comparação entre DSM-IV e CID-10 Fonte: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD, 2011).
Esses dois sistemas de classificação facilitam identificar o dependente de
substância psicoativa, ficando fácil estabelecer o melhor programa terapêutico para
esses indivíduos, permitindo diagnóstico e classificação da doença.
Ambos, DSM-IV e a CID-10, diagnosticam que, três ou mais manifestações que
ocorrem por períodos menores que um mês de forma repetida durante um ano, são
critérios para deduzir que a pessoa é dependente de substâncias psicoativas, entre eles
estão: tolerância16; abstinência17; a substância é frequentemente consumida em
maiores quantidades.
1.5 DEPENDÊNCIA QUÍMICA: DETECTAÇÃO, PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Para Afornali (2007), com o consumo exagerado, consequentemente houve o
aumento dos problemas de compulsão e começaram a surgir as primeiras
preocupações com a redução de seu uso e indicações de tratamento. Segundo o autor,
16
Necessidade de quantidade progressiva maior para adquirir a intoxicação ou o efeito desejado e redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade (BRASIL, 2004). 17
Síndrome da abstinência característica para a substância; a mesma ou outra substância é consumida para aliviar ou evitar sintomas da abstinência (BRASIL, 2004).
22
“uma das primeiras” medicações utilizadas para o combate do alcoolismo foi o leite de
jumenta com pó de pulmão de aves.
Antes de identificar os serviços de prevenção, tratamento e reabilitação, é
importante conhecer um breve apanhado histórico sobre a reforma psiquiátrica no
Brasil, a política brasileira de saúde e a forma que esses serviços são organizados no
sistema.
1.5.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
O primeiro momento de preocupação efetiva com o doente mental no Brasil foi
em 1841, quando se autorizou, por decreto, a construção do hospício. O motivo de tal
decisão “foi à perturbação do funcionamento do Cais do Rio de Janeiro pelos inúmeros
loucos que por ali perambulavam”. Em 1852, onze anos depois foi inaugurado o
Hospício Pedro II, o qual recebeu, de imediato, 144 pacientes oriundos dos porões da
Santa Casa e de uma instalação provisória que existia na Praia Vermelha (ABP18,
2006).
Com a Proclamação da República, o Asilo, controlado pela Igreja e ligado à
Monarquia, tornou-se responsabilidade do novo Governo. O Hospício Nacional de
Alienados, superlotado e oneroso, entrou em crise agravada pela crescente demanda,
fazendo-se necessárias enérgicas medidas com a finalidade de solucionar problema tão
grave, atenuando assim os elevados custos (ABP, 2006).
Em função destes, surgiu o Serviço Nacional de Doenças Mentais, que mais
tarde se constituiu na Divisão Nacional de Saúde Mental – DINSAM e hoje é a
Coordenadoria Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Na época em que
surgiram as Colônias, elas eram o que de melhor se podia oferecer à população, mas a
partir da década de 1950, com a superlotação, o sistema entra em falência,
principalmente pelo seu gigantismo e elevados custos operacionais, gerando a
incontrolável crise da assistência psiquiátrica estatal, a qual se prolonga até os dias de
hoje (ibid.).
18
Associação Brasileira de Psiquiatria
23
Deste processo resultou um crescimento que chegou a um total de
aproximadamente 350 hospitais psiquiátricos particulares no início da década de 1980,
sendo que cerca de 70% dos mais de 80.000 leitos da iniciativa privada eram custeados
pelo INAMPS19, que ao surgir assumiu modelo assistencial que buscou a substituição
dos grandes asilos por hospitais psiquiátricos particulares de pequeno e médio porte,
cujos serviços contratou, porque eram mais eficientes e econômicos, de fácil acesso
para a população e simples de fiscalizar (ibid.).
Faltou o Estado dar condições para o surgimento de serviços que pudessem
completar o sistema com as demais modalidades de ação terapêutica. Assim, foram
construídos ambulatórios e serviços de emergência, mas não em número suficiente. A
reforma psiquiátrica se originou no início na década de 70, por reivindicações de
médicos e familiares de pessoas com transtornos mentais (ibid.).
Em síntese, o intuito da Reforma Psiquiátrica foi de modificar o sistema de
tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente a internação como
forma de exclusão, modelo este que seria substituído por uma rede de serviços
territoriais de atenção psicossocial, visando à integração da pessoa que sofre de
transtornos mentais à comunidade/sociedade. Assim, a reforma psiquiátrica propõe a
desativação gradual dos manicômios, para que aqueles que sofrem de transtornos
mentais possam conviver livremente na sociedade - diga-se de passagem, muitos
sequer têm nome conhecido, documentos, familiares, dificultando a reinserção social e
também não possuem acesso aos benefícios sociais oferecidos pelo Estado, como
a aposentadoria e auxílio-doença (ibid.).
A Reforma representa um salto na história, mas somente em abril de 2001 foi
aprovada a Lei Federal de Saúde Mental, n.° 10.216, que regulamenta o processo da
Reforma Psiquiátrica no Brasil.
A rede territorial de serviços, proposta na Reforma Psiquiátrica inclui Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência e Cultura Assistidos,
Cooperativas de Trabalho Protegido (Economia Solidária), Oficinas de Geração de
Renda e Residências Terapêuticas, descentralizando e territorializando o atendimento
19
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social.
24
em saúde, conforme previsto na Lei Federal que institui o Sistema Único de
Saúde (SUS) no Brasil.
1.5.2 POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA
A política de saúde brasileira foi formulada a fim de viabilizar a garantia
normativa máxima do direito à saúde, pois, na década de 1980, o intenso debate sobre
os direitos humanos teve como ponto culminante a elaboração da Constituição de 1988,
na qual se destaca a saúde como uma das condições essenciais à vida digna, sendo
um direito humano fundamental (BRASIL, 2004).
Organizado pelas Leis 8.080/1990 e 8.142/1990 e com o princípio constitucional,
ocorreu à implantação do SUS, pelo qual a saúde passou a ser pensada como
obrigatoriedade do Estado. O SUS foi concebido com base nos seguintes princípios
doutrinários (BRASIL, 2004):
Universalidade: assegura o direito à saúde a todos os cidadãos, independente de condição de saúde, gênero, idade, região, condição financeira, etc.; Integralidade: considera as diversas dimensões do processo saúde-doença que afetam o individuo e a coletividade, atuando, portanto, na promoção, prevenção e tratamento de agravos; Equidade: garante o direito à assistência de acordo com o nível de complexidade / anuência.
As diretrizes organizativas20 do SUS proporcionam maior efetividade aos
referidos princípios, assegurando assim a saúde como obrigatoriedade do Estado
(ibidem).
Quanto ao uso indevido de drogas, em 2003 foi publicada no Brasil a Política do
Ministério de Saúde (MS) para atenção integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas,
concebida e articulada pela Política da Saúde Mental. Esta concepção da atual política
do MS se baseia nas recomendações básicas para ações na área da saúde mental da
OMS (2006):
20
Descentralização, hierarquização e a participação comunitária.
25
Promover assistência no âmbito de cuidados primários; disponibilizar medicamentos de uso essencial em saúde mental; promover cuidados comunitários; educar a população; envolver comunidades, famílias e usuários; estabelecer políticas, programas e legislações específicas; desenvolver recursos humanos; atuar de forma integrada com outros setores; monitorar a saúde mental da comunidade e apoiar as pesquisas.
O Ministério da Saúde (2003) separa três grupos de portadores de transtornos
mentais:
GRUPO 1: Transtornos mentais graves e persistentes. Este grupo necessita de atenção e atendimento mais intenso, de maior complexidade e contínuo em Saúde Mental. GRUPO 2: Transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Este grupo também necessita de atenção específica e atendimentos constantes. GRUPO 3: Atendimento em Saúde Mental, seja ele contínuo ou eventual. Este grupo, no qual estão incluídos os inadequadamente denominados “males menores”, é o que mais cresce atualmente. Nele estão inseridos os paciente com transtornos depressivos e ansiosos.
Ancorado pela Lei Federal 10.216/2001 e por meio de portarias internas21, o MS
vem estruturando os serviços de atenção a usuários de álcool e outras drogas nos
Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD)22.
Percebe-se que o referido público abordado na presente pesquisa está inserido
no grupo dois, qual é denominado como “transtornos mentais graves e persistentes”, a
pergunta que fica, em meio a um tema de um debate em andamento no Brasil há anos -
e que as resoluções tomadas neste processo ainda não foram totalmente
implementadas -, quais são as estruturas e condições sociais e econômicas que o
Brasil tem para tal? Para alguns estudiosos da área, os parâmetros assistências são
elaborados com base num sistema de ideias que refletem os próprios interesses e nas
disponibilidades orçamentárias e carecem de base científica (ABP, 2006).
21
Portarias que norteiam a atenção aos usuários de álcool e outras drogas: GM/MS 336/2002; GM/SM
816/2002; GM/MS 2.197/2004; GM/MS 384/2005 e GM/MS 1.612/2005. 22
São serviços comunitários ambulatoriais que tomam para si a responsabilidade de cuidar de pessoas
que sofrem de transtornos mentais, especialmente os severos e persistentes. Dentre outras funções e
objetivos, trabalha com atividades de cunho preventivo/educativo.
26
Não obstante, existem muitas críticas acerca desse modelo de tratamento
ambulatorial, pois se mostra adequado para parcela considerável de indivíduos, porém
em si, tais recursos mostram-se insuficientes (SENAD, 2011)23.
1.5.3 REDE ASSISTENCIAL PARA USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
A política de álcool e outras drogas é intersetorial e visa ser inclusiva, com ações
nas mais diversas áreas: saúde, justiça, educação e social. Suas ações preconizam
que a assistência deve pautar-se nas ações de prevenção24, tratamento e reinserção
social (SENAD, 2011).
Quando se fala acerca da prevenção25 ao uso de drogas, pensa-se em dois viés,
um deles mais amplo, que se constitui de políticas públicas – educação, saúde,
proteção, alimentação, moradia, capacitação e geração de empregos. A outra é mais
especifica: está diretamente ligada a conscientização sobre os efeitos das drogas
(DENARC, 2012).
Apoiada pela Lei 10.216/2001, a política de álcool e outras drogas têm como
objetivo viabilizar o apoio aos usuários seja por meio de evidências científicas até o
cuidado integral, o que envolve em outras palavras, práticas de promoção, precaução e
reabilitação (SENAD, 2011).
As estratégias da Redução de Danos (RD)26 como ações que diminuem os riscos
de contaminação por via injetável ou sexual – usuários recebem informações sobre os
23
Segundo referência, os indivíduos que não conseguem se manter abstinentes em tratamento ambulatorial e apresentam risco à sociedade e sua integridade física e/ou mental, deve-se considerar a possibilidade de internação involuntária, amparada pela Lei 10.216/2001. 24 De acordo com especialistas e estudiosos da temática, a prevenção é o melhor combate, acredita-se que prevenir o uso de drogas pressupõe estabelecer um conjunto de medidas, para impedir ou ao menos reduzir o consumo abusivo (SANTOS, 1997). 25
A prevenção pode ser classificada em três níveis: primária: refere-se a todas as maneiras de prevenção, dirigida à população em geral, com intuito de evitar a experimentação de drogas, é o processo informativo para todas as pessoas que ainda não fizeram uso de drogas; secundária: é o nível de prevenção para usuários de drogas, com uso eventual e recreativo, é a prevenção a chamada população de risco; terciária: é a prevenção destinada as pessoas que são dependentes de drogas, a finalidade é de conscientizar as pessoas para que se mantenham em tratamento, e reduzam as consequências adversas da dependência (DENARC, 2012). 26
Constitui uma estratégia de abordagem dos problemas com as drogas que não parte do princípio de
que haver imediata e obrigatória extinção do uso de drogas, seja no âmbito da sociedade ou individual,
27
serviços de saúde, troca de seringa usada por estéreis e descartáveis, distribuição de
preservativos e outros demais serviços-, cujo o objetivo geral é a preservação da saúde
(SENAD, 2011).
Vários são os olhares e opiniões acerca da política da RD, a Federação
Brasileira de Comunidades Terapêuticas (FEBRACT), coloca-se como não favorável a
mesma, pois defende que seu código de ética não aceita a ideia da liberação das
drogas e muito menos as estratégias apresentadas, por acreditar que a proposta pode
significar destruição dos valores que dão dignidade à pessoa e à família, baseando
seus argumentos nos anos de experiência empírica no trabalho com dependentes
químicos (FEBRACT, 2001).
Além dos serviços que compõem a rede do SUS, as comunidades terapêuticas
(CT)27 se configuram como importantes dispositivos para os tratamentos, respondem
por parte significativa dos serviços disponibilizados no país. Surgiram em um contexto
de oposição ao hospital psiquiátrico, com abordagem de ajuda mútua no processo
terapêutico, com linguagem democrática e igualitária (SENAD, 2011).
Segundo a FEBRACT (2001) existem vários modelos de tratamentos –
internação fechada (CT’s), semiaberta (hospitais-dia), tratamentos ambulatoriais e
mistos que combinam os modelos, bem como, há diferenças entre os tempos de
duração e às técnicas utilizadas para o trabalho de recuperação do adicto -, porém
todos têm suas vantagens e desvantagens e uma gama de possibilidades e limites a
serem considerados.
1.6 O PAPEL DA FAMÍLIA NO USO DE DROGAS
A família, no tratamento ao dependente, constitui-se importante aliado na
recuperação, afirmando Afornali (2011, p. 41), que “o trabalho feito com a família
mostra-se importante não só para o início do tratamento, mas para a manutenção dele”,
formula práticas que diminuem os danos para os usuários e para os grupos sociais que convivem (SENAD). 27
No Brasil, a regulamentação desses serviços ocorreu em 2001 e foi atualizada em 2011, com a
publicação da Resolução 29 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
28
reforçando a urgência da capacitação familiar para que o tratamento do adicto seja
assertivo.
Vários estudos na área de prevenção ressaltam a importância do papel da
família, e têm este sistema como umas das principais fontes formadoras de
comportamentos e crenças. Veremos no próximo capítulo a família através dos tempos,
o seu processo evolutivo, essa rede de relações com regras, troca de valores e
principalmente, o papel desempenhado, o que pode ser um meio de proteção ao uso de
drogas ou um fator de risco (SENAD, 2011).
29
2 A FAMÍLIA E SEUS ATORES: PROTAGONISMO E SEUS PAPEIS
2.1 BREVE RELATO SOBRE A GÊNESE DA FAMÍLIA
Família, etimologicamente “famulus” (do latim), significa servo ou escravo.
Segundo a história geral, a organização da família se deu nos tempos pré-históricos,
onde se considerava sendo família um conjunto de escravos e criados de uma mesma
pessoa.
De acordo com Sielski (1999, p. 65), a família se originou em função de três
prerrogativas fundamentais: primeira - inicio do parentesco, que determinou famílias
consanguíneas, estruturadas por meio dos acasalamentos dentro do mesmo grupo; a
segunda é o tabu do incesto que trouxe o impedimento das relações sexuais entre pais,
filhos e irmãos; decorrente disso surgiu à terceira, o casamento fora do grupo familiar
primordial, hoje conhecido como a instituição do matrimonio.
Para Engels (1987, p. 120), a instituição da família “nasceu com a intenção de
perpetuar a acumulação de riquezas - origem da nascente divisão de classes, com
direito da classe possuidora explorar a não possuidora, e o domínio da primeira sobre a
segunda”.
A história ocidental registra que, a partir da Revolução Industrial (1750-1830),
novos movimentos ocorreram nas famílias. Um deles foi a chamada migração –
camponeses que deixaram o campo e suas grandes famílias, para trabalhar nas
grandes cidades e outras regiões. Com a invenção das estradas de ferro (1829),
iniciaram-se os grandes deslocamentos de pessoas e bens de produção, quando
surgiram os proletariados e com eles os seus administradores, o domínio completo da
burguesia sobre os assalariados.
Com tantas inovações, as famílias sofreram um impacto permanente na sua
estrutura primordial, entretanto mantiveram-se os quatro modelos básicos, segundo
Mark Poster, historiador norte-americano, em seu livro Teoria Critica da Família (apud
SIELSKI, 1999). Para Poster, a Família Aristocrática é aquela que concentra o poder
em um pequeno grupo de pessoas, e que tem como objetivo principal o respeito à
hierarquia social. Enquanto a família camponesa tem como prioridade a obtenção do
30
básico para a sobrevivência, como objetivo principal tem a renúncia à individualidade.
Mais próximas ao sistema vigente, encontram-se as famílias burguesas e operárias,
que para o autor uma é o oposto da outra, sendo que a dominante se apropria do
trabalho braçal da dominada.
Diante do ponto de vista de Engels (ibidem), pode-se perceber que dois modelos
de família aproximam-se de sua teoria - a burguesa e a operária, o resultado da força
que uma exerce sobre a outra se perpetua até os presentes dias. Ele analisa a
instituição familiar pela interação entre elas e as instituições sociais e culturais. Assim, o
significado monogamia, as relações entre homens e mulheres, o modo de produção, a
propriedade dos bens de produção e demais.
Para Lima (2008, p.70), a família sempre foi extremamente influenciada pelos
fatores sociais aos quais ela sempre esteve intrinsecamente ligada.
2.2 AS FUNÇÕES DA FAMÍLIA
Para alguns autores, a função que a família exerce sobre os indivíduos se dá por
meio do nutrício, do educacional e da obtenção do básico para a sobrevivência. Bessa
(2003, p. 04), refere à família como sendo o veículo social; para a autora é o local que
viabiliza desde o nascimento até as condições materiais, no exercício de suas funções
acredita que “são aprendidos e repassados os valores morais, sociais, humanitários e
de cidadania”.
As funções básicas da família podem ser desempenhadas de várias maneiras,
dentro dos mais diversos sistemas culturais, para Marconi e Pressoto (1992, p. 106), a
família combina duas funções específicas, como agente educador:
Socializadora – na medida em transmite a herança cultural e social, durante os primeiros anos de vida: linguagem, usos, costumes, valores, crenças, essa preparação da pessoa para o ingresso na sociedade. Social – quando proporciona a conquista de diferentes status, como o étnico, o nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o político e o educacional.
31
Para Prado (1988), as funções de cada família dependem em grande parte da
faixa que cada uma delas ocupa na sociedade, na economia do país ao qual pertence.
Porém a autora acredita que a família pode exercer inúmeras funções, sabendo que
algumas recebem a intervenção do Estado enquanto outras assumem suas funções
com exclusividade – saúde, educação, atividades de lazer entre outras funções.
João Paulo II (1982) acredita que os deveres da família se resumem em quatro
funções: “na formação de uma comunidade de pessoas; o serviço à vida; a participação
no desenvolvimento da sociedade e a participação na vida e na missão da Igreja”.
Diante ao exposto, percebe-se que o papel que a instituição família exerce sobre
o indivíduo vai além dos suprimentos básicos, como refere João Paulo II (ibidem, p.49),
sua função primordial política e social:
O dever social das famílias é chamado ainda a exprimir-se sob forma de intervenção política: as famílias devem com prioridade diligenciar para que as leis e as instituições do Estado não só não ofendam, mas sustentem e defendam positivamente os seus direitos e deveres. Em tal sentido as famílias devem crescer na consciência de serem “protagonistas” da chamada “política familiar” e assumir a responsabilidade de transformar a sociedade: doutra forma as famílias serão as primeiras vítimas daqueles males que se limitaram a observar com indiferença.
Para o autor, ambos - família e sociedade, têm uma função complementar, na
defesa e promoção de todos os indivíduos, porém é dever do Estado subsidiar e
assegurar os direitos da família – econômica, social, educativa, política e cultural.
2.3 A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, art. 16 § 2.) trouxe um
marco evolutivo para a família, “sendo ela um núcleo natural e fundamental, tem o
direito à proteção da sociedade e do Estado”, e a Constituição Federal (1988, cap. VII
art. 226) reforçou este processo evolutivo “como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes”, inclusive na união estável entre
os companheiros e não apenas as uniões constituídas pelo casamento.
Nos dias atuais é perceptível que não existe mais um modelo de família, para
alguns pesquisadores o conceito de família se dá pela caracterização: pela residência
32
em comum, pela cooperação econômica e pela reprodução, bem como, a relação
afetiva. Sielski (1999) acredita que o casamento está em decadência, ou num conflito
circunstancial, para ele muito mais importante que o casamento é a família ou são os
laços familiares.
Sobre a desagregação ou enfraquecimento da família, muitos são os discursos e
pontos de vistas; para Kaloustian (1994, p. 11), a família “é o espaço privilegiado de
socialização, prática de tolerância, divisão de responsabilidades (...), lugar inicial para
exercício da cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos
humanos”. Independentemente do arranjo familiar ou da forma que vem se
estruturando, para o autor a família tem uma dinâmica de vida própria, ou seja, acaba
sendo afetada pelo processo socioeconômico e ações do Estado (ibidem p. 12).
Os valores culturais e sociais, a globalização e a revolução tecnológica
trouxeram para a família atual muitos desafios, desde o enfrentamento da violência
urbana, desemprego e doenças. Pesquisas sobre o funcionamento familiar referem que
muitos dos desafios contemporâneos aumentam o nível de estresse intrafamiliar,
repercutindo diretamente nos vínculos familiares (SENAD, 2011).
2.4 A FAMÍLIA COMO QUESTÃO SOCIAL
O agravamento das manifestações da questão social determinou assim,
mudanças nas formas de proteção social e de intervenção do Estado. Este passou a se
constituir como principal sujeito de regulação das relações entre economia e demandas
sociais (MIOTO, 2008).
Após a II Guerra mundial, especialmente na Europa que havia sido destruída
pelo conflito, se sedimentou a necessidade de reorganização do processo de
intervenção do Estado, dando origem ao Welfare State. Segundo Mioto (2008) nos
modelos de intervenção do Welfare State, existem três tipos de inserção da família,
sendo: do provedor masculino - transferência de benefício ao pai trabalhador que se
incumbirá de transferi aos demais membros; desfamilização: o Estado deve prover
políticas que atendam as necessidades das famílias; familismo: família deve assumir a
responsabilidade pelo bem-estar de seus membros.
33
As mudanças na família, segundo Bessa (2003, p. 08) ocorrem devido às
mudanças que se originam na sociedade, a autora descreve que são imposições
sociais que se processam do maior para o menor, ou seja, sempre da sociedade para a
família, e continua “(...) mudanças que são suscitadas por exigências de âmbito bio-
psico-social” (Ibidem p. 09), gerando, assim, a criação de estruturas extras familiares
que se adaptem às necessidades decorrentes desse embate – social, político e
econômico.
Para Kaloustian (apud COSTA, 1994), a visão transformadora e crítica da
sociedade propiciou a percepção da família em uma questão bem mais ampla,
contraditória e complexa, a do conflito de classes, sujeitando assim o entendimento da
realidade social a todas as determinações, condicionamentos e influências decorrentes
do novo enfoque. Para o autor, o trabalho com a família deve ser relativizado em favor
da atuação junto às comunidades e movimentos sociais.
Ante o ponto de vista do autor, a família exerce o caráter nucleador, ou seja, está
no centro, tanto do âmbito dos movimentos sociais quanto das políticas públicas, sendo
assim, a família é o ponto de confluência das realidades, seja do idoso, da criança, da
pessoa com deficiência, da mulher, do homem ou do dependente químico. Além das
discussões e debates, promover a família nas políticas públicas significa, segundo
Costa (ibidem p.24), enfatizar ações em favor das implementações das leis, estatutos e
diretrizes, articulando e mediando os conflitos existentes, conforme demandas.
A família, na maioria das vezes, é acusada de ser responsável quando dela
resultam indivíduos desviantes, ou seja, aqueles que estão à margem da sociedade.
Para Lima (2001, p.81), as famílias não se veem livres da culpa que a sociedade lhes
impõe, porém a questão vai, além disso, os fatores socioeconômicos são variáveis
determinantes no desenvolvimento familiar e na vida de cada individuo.
A atual Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em relação família e
Estado é pensada da seguinte maneira (CF, 1988):
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
34
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) propõe a organização do sistema
descentralizado e participativo de Assistência Social, com seus serviços, programas,
projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e
indivíduos. Um dos eixos estruturantes do SUAS é a “matricialidade sociofamiliar”28.
Pode ser dizer que no SUAS não há distinção no atendimento para a forma que a
família é constituída, o que importa é incluir os membros do grupo familiar em
programas, projetos e serviços, para que saiam da situação de exclusão e possam ter
suas principais necessidades atendidas (PNAS, 2004).
2.5 FAMÍLIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA
O Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (OBID) aponta que:
Nas últimas décadas houve um incontestável avanço das ciências que estudam os fenômenos mentais, com descobertas importantes, que a ancestral relação do ser humano com substâncias psicoativas ganhou notoriedade por diversas razões, desde o aumento e banalização do uso, até questões econômicas, nesse contexto, considera-se uma questão social a dependência química e que são cada vez maiores as consequências na vida social das pessoas, causando impacto na dinâmica familiar.
Conforme pautado acima, percebe-se que o uso de drogas é algo que atinge,
portanto, não somente o indivíduo, mas consequentemente a família e o meio social em
que vive. Apesar da gravidade e relevância do assunto, sabe-se das inúmeras falhas
nas políticas públicas antidrogas e de amparo e tratamento aos dependentes químicos,
ocasionando assim tal impacto.
Para Ferrarini (1980, p. 109), “o dependente químico passa a ser a latrina onde
são depositadas todas as causa das neuroses e desentendimentos entre os demais
membros da família”, ou seja, as inúmeras negações – da doença, dos problemas, da
28 Através do eixo estruturante da Matricialidade Sócio-Familiar, o atendimento na Política de Assistência
Social, passa a ter centralidade na família e seus membros, pois considera-se que nela encontram-se todos os segmentos.
35
falta de limites, da falta de capacitação, faz com que a família trate do adicto como um
bode expiatório, ou como relata Afornali (2011, p. 149),
Ter um dependente químico em casa é como ter um elefante na sala de estar. Todos sofrem e se machucam com os pisões, com o tamanho, o peso e o mau humor do bicho. Suja a sala e a casa toda. Além de incomodar toda a família, ele incomoda os vizinhos. As pessoas que passam em frente a nossa casa, de longe veem o rabo do bicho pela janela, e pela porta veem sua enorme tromba.
De acordo com a CID-10 (1993), a síndrome de dependência caracteriza-se por
um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de
uma substância, ou uma classe de substâncias, alcança uma prioridade muito maior
para um determinado indivíduo que outros comportamentos que antes tinham, para ele,
maior valor, pode-se dizer que suas relações tornam-se fragilizadas, e tem seu efeito
desastroso no âmbito do trabalho, da família e das relações econômicas e sociais.
2.6 FAMÍLIA: UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA EMOCIONAL E QUÍMICA
Em estudo realizado, Ballone (apud BROWN, 1959) relata que, em 1959, de
forma cientifica, foi suspeitada a existência de famílias psiquiatricamente mórbidas. As
primeiras conclusões desse estudo apontaram uma associação entre a qualidade das
relações familiares e o desenvolvimento da doença mental do paciente. Nesta
observação se constatou que os pacientes que recebiam alta da hospitalização
psiquiátrica e retornavam para o convívio familiar, tinham uma evolução pior que a
evolução dos pacientes que passavam a viver sozinhos, segundo ele o “defeito” estava
na família desses pacientes.
Para Ballone (ibidem) esse tipo de família, em que certos indivíduos são capazes
de gerar todo esse transtorno em relação aos demais membros, é chamada de Família
de Alta Emoção Expressa, termo que foi adotado inicialmente para indicar as famílias
que favoreciam as recaídas de pacientes psiquiátricos, hoje em dia pode-se bem
empregar o termo para designar as famílias que favorecem a recaída no alcoolismo e
na drogadição.
36
2.7 FAMÍLIA E CODEPENDÊNCIA
Durante um período indeterminado, a família convive com o indivíduo e seu
consumo, dito social, a família vive uma “negação maníaca”, uma “cegueira”, faz vista
grossa às condutas auto e heterodestrutivas do adicto, assumindo assim um “pacto
criminoso” do qual participam ele, a família e consequentemente a sociedade
(FEBRACT, 2001).
Vários estudos evidenciam a relevância dos vínculos familiares – excessiva
permissividade, dificuldades de estabelecer limites, superproteção -, proporcionam e
leva a chamada codependência (SENAD, 2011).
Acredita-se que tal permissividade e demais aspectos tendem a perpetuar a
dependência do adicto e retardar o seu processo de recuperação, para poder entender
com clareza o que significa tal “retardamento” é preciso ter em mente o que é o
fenômeno da codependência (AFORNALI, 2011).
37
3 O FENÔMENO DA CODEPEDÊNCIA
A codependência é um quadro caracterizado por um distúrbio mental
acompanhado de ansiedade, angústia e compulsividade obsessiva em relação ao
dependente químico (FEBRACT, 2001).
O termo surgiu nos anos 40 dentro dos Alcoólicos Anônimos (AA)29, onde um
grupo de pessoas - possivelmente esposas de alcoólicos, formaram grupos de ajuda
mútua e apoio para lidar com as formas com que elas eram afetadas pelo alcoolismo
dos maridos. As esposas dos alcoolistas também queriam um programa e, revendo as
doze tradições do AA criaram o outro grupo de esposas chamado de Al-anon30. Na
psicoterapia e psiquiatria o termo codependente surgiu no fim da década de 70,
definindo claramente as características deste comportamento (BALLONE, 2008).
No grupo Amor Exigente (AE)31 além da dependência química, a codependência
é denominada como doença, é como se o dependente químico passasse a ser a
“droga” dos que o cercam, é também por esta razão que se relata a dificuldade de
recuperação do adicto, é um autêntico círculo vicioso (GONÇALVES, 2010).
Calábria (2007) traz algo que é pertinente em relação ao fato das doenças
serem concomitantes, há tamanho desconhecimento32 por boa parte da sociedade em
relação à codependência, sendo muito maior que em relação à dependência.
Para Gonçalves (2010, p. 31), “a codependência afeta os familiares e as pessoas
envolvidas com o adicto gerando também nos mesmos as três características da
29 AA pode ser descrito como um método para recuperação do alcoolismo, no qual os membros ajudam-se mutuamente, compartilhando entre si uma enorme gama de experiências semelhantes em sofrimento e recuperação do alcoolismo (Disponível em <http://www.alcoolicosanonimos.org.br> acesso em 13 jun, 2013). 30
É um programa de Doze Passos para familiares e amigos de alcoólicos. Seus membros compartilham
suas experiências nas reuniões de grupo e buscam forças e esperança na tentativa de resolver seus problemas comuns (Disponível em <http://www.al-anon.org.br> acesso em 13 jun. 2013). 31
É um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve preceitos para a organização da família, que são praticados por meio dos 12 Princípios Básicos e Éticos, da espiritualidade e dos grupos de auto e mútua-ajuda que através de seus voluntários, sensibilizam as pessoas, levando-as a perceberem a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas (Disponível em <http://www.amorexigente.org.br> acesso em 13 jun. 2013). 32
Para o autor tais grupos de autoajuda, que não têm ligação institucional, serviram de estímulo e modelo
para as metodologias empregadas em instituições religiosas, associações, instituições públicas, todavia tornaram-se herdeiros dos procedimentos e estratégias usados por muitos profissionais da área (ibid).
38
dependência química – progressiva, crônica e fatal”, crônica, porém passível de
tratamento”.
Uma das melhores definições sobre a “codependência” é apresentado por
Afornali (2011, p. 61), “se pensarmos sobre as palavras afins como coautoria ou
coresponsabilidade, já é possível deduzir um pouco do significado da codependência”.
Para Afornali (ibid.), um coautor participa da autoria, é autor conjuntamente; e um
corresponsável, da mesma forma.
Pode-se dizer que não há um critério universal sobre o que é codependência,
alguns pesquisadores tratam como sendo uma resposta complexa à experiência de se
ter um relacionamento íntimo ou compromissado, com alguém que tenha um problema
de dependência química (GONÇALVES, 2010).
A manifestação mais encontrada da codependência é bem exemplificado por
Drumond, citado por Afornali (2011, p. 62), que ressalta que “a codependência leva as
pessoas a acreditarem que, mesmo em detrimento de suas próprias necessidades,
deverão suprir todas as do outro, pois assim irão livrá-lo da dependência”.
3.1 QUEM É O CODEPENDENTE?
Com base na OMS (2006), os adictos costumam obedecer um padrão de
personalidade ao longo do tempo de dependência, para o autor existem traços e
características de comportamento, relacionamento e percepção da realidade comuns
aos dependentes, a diferença é que isso não quer dizer que todos tem a mesma
personalidade, mas que, dentro da individualidade de cada um, eles apresentam
características comuns uns com os outros.
Sobre as Alterações da Personalidade produzidas por dependência química, o
DSM-IV diz que "as alterações da personalidade também podem ocorrer no contexto de
uma Dependência de Substância, especialmente no caso de uma dependência de
longa duração". Dentre as principais características da alteração da personalidade
ocasionada pela drogadição, esta distorção da verdade, e consequentemente leva e faz
parte manipulação. A palavra manipular, do latim manipularis, que significa soldado
raso, manipulação no sentido figurado é o “ato de condicionar, influenciar, tirar proveito
39
próprio”, é o que acontece entre o adicto e o codependente, diga-se de passagem
enquanto o codependente cria vínculo, o adicto, enquanto manipulador, apenas se
relaciona, no intuito de buscar seus próprios interesses, o de usar a droga (AFORNALI,
2011).
Uma expressão que representa tal relação de manipulação é a forma que o
codependente adere à situação/problema sendo como uma atadura emocional. Para
Ballone (2008), atadura emocional é quando uma pessoa se encontra atrelada
emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que o rodeia, para o
autor tais amarras emocionais levam o codependente a se relacionar com o outro
(adicto) de igual para igual, tornando-se outro dependente.
Nas relações interpessoais do dependente químico a manipulação, segundo
Afornali (2011, p. 68), “cria uma espécie de vácuo, que é preenchido por uma ou por
várias pessoas que chamamos, grosseiramente, de ‘mães do dependente químico’,
devido ao seu cuidado maternal”. Para o autor essas relações entre o dependente e o
codependente são vistas por quem está fora da relação, como sendo estranhas, até
patológicas, uma vez que promovem a doença e caminham à destruição.
Ambos, codependente e dependente, compartilham intensamente do mesmo
ambiente, numa relação de grande carga afetiva, suas vidas são muito ligadas, no
adágio poderíamos dizer que seria como uma osmose33 e inevitavelmente um prejudica
e afeta o outro, desse modo acredita-se que se o codependente der o primeiro passo e
buscar tratamento, as alterações do seu comportamento darão margens e ensejo para
diversas crises na relação doentia, o que criara condições mais favoráveis à
recuperação de ambos (CALÁBRIA, 2007).
33
Osmose significa a passagem do solvente de uma solução através de membrana impermeável ao
soluto. Esta é a explicação corresponde à física e a química. Quando ocorre como por um processo de
absorção que sugere o da osmose, diz-se que a pessoa aprendeu "por osmose". No texto acima trata-se
de um sentido figurado, uma analogia (PRIBERAM, 2012).
40
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa utilizou-se de alguns caminhos para alcançar o seu objetivo
geral, uma das opções metodológicas se deu por meio de pesquisa qualitativa, no
intuito de compreender a realidade em sua totalidade, pois os entendimentos dos fatos
ocorrem a partir da interpretação do sujeito em relação à sua vivência cotidiana
(MINAYO, 1993), o que, para Bardin (2011, p. 41), representa “a análise de
significados, embora seja também uma análise dos significantes”.
Os participantes da pesquisa constituíram-se em quatro indivíduos de famílias
que foram acompanhadas pelo profissional de Serviço Social na Comunidade Vale do
Sol, durante o período de tratamento de seus familiares/adictos, sendo que dois
indivíduos participaram de apenas um atendimento com o Assistente Social e os outros
dois receberam o acompanhamento durante os meses de internamento dos adictos, os
quais concluíram o tratamento.
Como instrumento para coleta de dados foi utilizado entrevista semiestruturada
(Apêndice A), com questões que caracterizam as famílias entrevistadas. As dez
primeiras questões referem-se aos dados pessoais, que objetivam identificar a
nacionalidade, religião, grau de instrução e situação econômica.
Foram elaboradas cinco questões abertas: para analisar a percepção da família
quanto à atuação do profissional de Serviço Social (questão 1); identificar o olhar da
família em relação ao fenômeno da codependência (questão 2); conhecer a adesão
das famílias acerca das orientações e instruções que foram prestadas nos
atendimentos junto ao profissional de Serviço Social (questão 3); no intuito de verificar a
visão da função que cada indivíduo exerce em relação à manutenção da doença do
adicto (questão 4); investigar se houve mudanças no comportamento familiar em
relação ao fenômeno da codependência (questão 5).
41
A fim de conhecer os desafios e as possibilidades de avanços na prática
profissional do Serviço Social, ocorridos nos atendimentos aos familiares de adictos em
tratamento na Comunidade, utilizou-se da entrevista aberta34 (Apêndice B).
Cada participante da pesquisa recebeu o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo), explicando o tema da pesquisa e a participação livre, além do
sigilo sobre a identificação.
O procedimento de análise dos dados se deu pela técnica de análise por
categoria, ou seja, por meio da decodificação das respostas das entrevistas, diversos
elementos, os quais foram classificados e formaram agrupamentos analógicos e na
sequência a análise global dos dados (RISHARDSON, 1999).
A seguir o histórico da instituição para que se contextualize a realidade de
partida das possibilidades de ambientação da intervenção do assistente social, assim
como o contato com as famílias.
4.1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO
Fundada em 17 de janeiro de 2007, no Município de Morretes – PR, a
Comunidade Terapêutica Vale do Sol é uma instituição sem fins lucrativos e tem como
objetivo auxiliar na recuperação e reinserção social de dependentes químicos e
alcoolistas.
No intuito de acompanhar o percurso de cada adicto na construção de seu
projeto de vida, priorizando a singularidade de cada um; a Comunidade atende o
número máximo de quinze residentes concomitantemente. O programa do tratamento
é baseado na metodologia dos Doze Passos35 das Irmandades Anônimas, com
34
A entrevista aberta é utilizada para obter maior número de informações sobre determinado tema e
maior detalhamento do assunto em questão, para compreensão de especificidades culturais, para determinados grupos e para comparabilidade de diversos casos (MINAYO, 1993). 35
Os doze passos compõem a metodologia mais eficaz de tratamento conhecida nos dias de hoje. Eles
tiveram seu inicio na década de 30, fase pós guerra e de crash nas bolsas de valores de Nova Iorque. A
população vivia um momento crítico de depressão e abuso, tanto de substancias provindas do ópio como
do álcool. Surgiram então os grupos de Alcoólicos Anônimos, que se expandiu rapidamente, sendo
posteriormente denominados, pelo Papa João Paulo, como um dos maiores milagres do século XX. Na
década de 50 surgiram os grupos de Narcóticos Anônimos. Vieram completar o que A.A. já vinha
42
reuniões de conscientização, psicoterapia de grupo, laborterapia, práticas esportivas,
atendimento psiquiátrico individual, atendimentos de fisioterapia e enfermagem, artes
em geral, ressocialização e atendimentos familiares.
O trabalho do assistente social, integrante da equipe envolvida no tratamento,
consiste em realizar o contato inicial com o paciente ou com a família; media o contato
do paciente com seus familiares e próximos, e orienta os mesmos sobre como será o
tratamento. Atua na conscientização dos dependentes químicos e familiares sobre as
temáticas: dependência química e codependência – na escuta ativa e passiva. Por meio
de avaliações, faz os devidos encaminhamentos para as redes de proteção e para os
profissionais específicos, conforme requer a demanda.
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DA PESQUISA
O universo desta pesquisa se constitui dos atendimentos realizados na área da
codependência, com a amostra de quatro familiares que foram encaminhados para o
atendimento com o Assistente Social.
Sujeito da Pesquisa (SP)
Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4
Gênero Masculino Feminino Feminino Feminino
Idade 70 29 49 34
Profissão Aposentado Diarista Do lar Assistente Adm.
Filhos 5 2 3 1
Grau de parentesco com o
DQ
Pai Companheira Mãe Mãe
Tabela 2: População e amostra de pesquisa
Fonte: Elaboração da autora, 2013.
realizando só que agora de forma mais completa trabalhando profundamente a adicção. (Disponível em
http://www.comunidadevaledosol.com.br – acesso em 27/03/13 às 17h).
43
Ao analisar os dados acima, percebe-se que a faixa etária dos entrevistados
varia entre 29 a 70 anos de idade. Todos são residentes do Município de Curitiba. Os
graus de parentesco têm-se: pai, companheira e mãe. São indivíduos de diferentes
classes sociais, aposentados, do lar, trabalho informal e assistente administrativo, com
renda mensal aproximada de um (1) a nove (9) salários mínimos. O que nos leva
compreender que se trata de uma doença democrática, que não escolhe cor, raça,
classe social e credo.
Para melhor analisar a adesão e empoderamento desses sujeitos, no que se
refere à codependência – se houve mudanças comportamentais que ampliam seus
focos de convivência, bem como, perceber se a capacitação cria autoconsciência nos
indivíduos e desenvolvem certas habilidades e postura técnicas a partir do
conhecimento adquirido, com base neste argumento -, pensou-se em pesquisar duas
pessoas que iniciaram o acompanhamento, e consequentemente irão receber a devida
capacitação e acompanhamento, e outras duas que já foram capacitadas, e são
acompanhadas esporadicamente, quando se faz necessário. Dividiu-se, portanto, em
dois grupos GRUPO I (Sujeito 1 – SP1 e Sujeito 2 – SP2), que iniciaram o
acompanhamento, e GRUPO II (Sujeito 3 – SP3 e Sujeito 4 – SP4), que já efetivaram o
acompanhamento.
4.2.1 PERCEPÇÕES DA FAMÍLIA QUANTO À ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE
SERVIÇO SOCIAL
Tabela 3: Percepções da família quanto à atuação do profissional de Serviço Social Fonte: Elaboração da autora, 2013.
GRUPO I GRUPO II
SP1. “Espero uma oportunidade
de mudança, na vida do meu
filho”.
SP2. “Ajuda”
SP3. “Foi tudo de bom, se não
fossem suas orientações, não sei
onde estaria meu filho uma hora
dessas”.
SP4. “Suas orientações nos
ensinaram a caminhar mais firme”
44
À margem da interpretação pessoal, o discurso do GRUPO I é apresentado de
forma “ingênua”, ambos não demonstram discrição de juízo para diferenciar e conhecer
como se dá a intervenção do profissional do Serviço Social. No relato do SP2, em sua
fala breve, de que quer “ajuda”, percebe-se que os familiares buscam uma solução,
seja ela qualquer, desde que possa sanar o ‘problema’. Vale ressaltar que a família
pode ser um agente mantenedor da doença ou poderá ser tornar um transformador,
desde que capacitada (AFORNALI, 2007).
Confluentes, buscam a resolução de um comportamento-problema, que é o
internamento ou a recuperação do adicto, assim, segundo Afornali (2011), percebe-se
que entrelaçados numa “dependência emocional”, acabam não sabendo diferenciar
papéis.
As falas obtidas no GRUPO II, remetem ao Código de Ética do Assistente Social
(1994)36, é dever do Assistente Social garantir a plena informação: “esgotar os
procedimentos democráticos, informar claramente as consequências e riscos que
podem advir da decisão do usuário”. Uma vez orientados e capacitados, esses
indivíduos, munidos de informações acerca do fenômeno da dependência química, as
famílias poderão arbitrariamente ter noção de uma tomada de decisão sobre a conduta
a ser tomada.
É possível correlacionar o papel do profissional Assistente Social no atendimento
às famílias ao papel de Tutor, que, para Mestres (2010 p. 44), é:
(...) aquele que tem por encargo substituir o papel parental debilitado na família por algum motivo. Assim como o tutor, que deixa sua função formal e legalmente, quando o pupilo atinge a maioridade, o profissional transcende sua função tutorial quando a família se mostra capacitada para lidar com o fenômeno e repete na relação com o dependente o modelo paterno exercido pelo profissional, durante os atendimentos familiares.
Para Mestres (ibid), o objetivo deste modelo de intervenção com as famílias é
que os familiares repitam, na relação com o dependente, o posicionamento diretivo, de
Lei e limites, estabelecido pelo profissional durante os atendimentos à família.
36
Título III - Das Relações Profissionais - Capítulo I – Art°5 b (BARROCO, 2012).
45
4.2.2 O QUE SE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA
Tabela 4:O que entende por Codependência Fonte: Elaboração da autora, 2013.
No quadro acima percebemos que o GRUPO I não sabe identificar o que é a
codependência, todavia, conforme Ballone (2008), o codependente não se percebe
como tal, e permanece facilitando o agravamento do problema, parte pela negação e
em parte porque se convence de que sua postura se justifica por si, uma vez que está
“ajudando” o dependente a não se deteriorar ainda mais, sendo assim, a família não se
desintegra e ele cumpre o seu papel.
No decorrer da entrevista, o SP1 fez a seguinte colocação: “não sei de onde veio
esse ‘vício’ do meu filho, porque eu nunca usei droga, só ‘bebi’ 42 anos, mas hoje não
bebo mais”. É perceptível que existe a negação e a falta de conhecimento de que o
alcoolismo também é considerado uma doença, porém o que nos interessa é a negação
e a falta de conhecimento acerca da codependência, e para complementar a fala, o
SP1 continuou “como meu filho trabalha de pedreiro, sem registro em carteira, eu pago
a ‘previdência particular’ para ele”. Pode-se dizer que o SP1 não sabe definir em
palavras o que é a codependência, porém se mostra inerente em suas atitudes perante
ao seu filho, na minimização das consequências dos problemas.
O SP2, quando questionado sobre a codependência, refere que “nunca ouvi
falar”, porém em seguida exprime que “sinto meu psicológico abalado e não tenho o
que dizer, não tenho ânimo, só vontade de sumir”. Aqui se pode usar a fala de Beattie
(1999, p.49), em outras palavras “o codependente é aquela pessoa que tem deixado o
GRUPO I GRUPO II
SP1. “Não sei do que se trata”
SP2. “Nunca ouvi falar”
SP3. “eu sou isso, sofro muito com a
dependência do meu filho”.
SP4. “é devido à química do usuário,
ele manipula e nós entramos num
círculo vicioso, é como se fosse uma
muleta um alimenta o outro”.
46
comportamento de outra pessoa afetá-la (...)”. Inúmeras são as consequências
negativas geradas pela dependência química nos codependentes, segundo Mestres
(2010) se faz necessário à abordagem multidisciplinar, aqui se aplica no caso da fala do
SP2, a contribuição do campo da psicologia para aprimorar e difundir os conhecimentos
sobre tais sintomas.
No GRUPO II, tanto o SP3 e o SP4, mesmo sem imprecações técnicas,
demonstram certo conhecimento acerca do fenômeno, indicando segundo Afornali
(2011) que a informação e a capacitação têm um caráter preventivo e minimizador de
riscos, pois tal proporciona certa compreensão coletiva e oportuniza uma postura
técnica.
O SP4 refere “(...) ele manipula e nós entramos nesse círculo (...)”; a
manipulação é um sintoma da doença dependência química e, não uma falha de
caráter ou desvio de conduta do paciente em questão. A “extrema” manipulação dos
dependentes, quer seja para com a família, se devidamente compreendida, poderá
deixar de ser um fator impeditivo à recuperação dos adictos e transforma-se numa
ajuda, seria como um indicador do estágio em que a doença está. Sendo assim, seria
mais um norte aos procedimentos profissionais. Quanto mais manipulador, mais doente.
Mas aqui cabe analisar a questão da conscientização acerca da manipulação na
codependência, ou seja, uma vez rompida tal manipulação, o indivíduo passa a
compreender que deve agir de forma que seus atos não sejam permissivos e não
contribuam para a manutenção da doença do adicto e passe a agir de maneira correta,
não mais como um mantenedor (AFORNALI, 2007).
47
4.2.3 O PAPEL DA FAMÍLIA
Tabela 5: O papel da família Fonte: Elaboração da autora, 2013.
Os quatros indivíduos entrevistados demonstraram entender que o papel da
família consiste em buscar ‘ajuda’, porém, no GRUPO I, ambos os sujeitos
apresentaram, em suas respostas, a necessidade de internamento para o adicto. Tal
atitude não resolve o problema em sua totalidade, de forma que os mesmos também
precisam de capacitação acerca do fenômeno. Certas relações impulsivas e de
imediatismo dentro da família têm raízes profundas e por isso têm de ser tratadas
adequadamente, nenhuma família que quer resolver seus problemas com imediatismos
e impulsividades, consegue de imediato mudar seu funcionamento; a raiz do problema
vai além da adicção do DQ (ZEMEL, 2001).
Segundo a fala do SP2, “preciso arrumar um internamento para ele, para poder
respirar mais sossegada, não aguento mais ter de segurar a ‘barra’ sustentando a casa,
pois só eu trabalho”, é latente na relação existente entre os dois indivíduos a
manutenção da doença, uma vez que, segundo o SP2, os pais do adicto o colocaram
para fora de casa, decorrido disso viu-se na obrigação de acolher e sustentá-lo. Embora
tenha duas filhas, seu cuidado maior é com o adicto, pois, segundo seu relato, “não tem
como deixar padecer na rua, então preferi trazer para casa”, colocando em risco a sua
GRUPO I GRUPO II
SP1. “Ajudar ele, arrumando
internamento para ele se tratar”.
SP2. “Ajudar ele, pois sua família
não quer mais ele em casa, a mãe
dele, o colocou na rua”.
SP3. “é de entender que é a DQ é
uma doença, pois quando não se
entende e não se busca tratamento,
toda a família sofre”.
SP4. “na recuperação é muito
importante, para que rompa a
manipulação e para sair do círculo
vicioso, e se conscientizar de que
também precisa de tratamento”.
48
vida e de suas filhas, por sentir-se na obrigação de protegê-lo das consequências das
escolhas da sua drogadição.
Os sujeitos do GRUPO II demonstraram certo conhecimento acerca da função da
família em buscar capacitação e romper os vínculos com a doença. Pode-se dizer que é
o primeiro passo para o tratamento da família, a conscientização acerca do problema,
que, segundo Afornali (2011, p. 41), a família, no tratamento ao dependente, constitui-
se importante aliado na recuperação: “o trabalho feito com a família mostra-se
importante não só para o início do tratamento, mas para a manutenção dele”.
4.2.4 RESPONSABILIDADES DOS FAMÍLIARES DE UM DEPENDENTE QUÍMICO
Tabela 6: Responsabilidades dos familiares de um dependente químico Fonte: Elaboração da autora, 2013.
Os familiares do GRUPO I, quando questionados acerca de suas
responsabilidades, demonstram a necessidade de suprir certas necessidades, por ex.,
o SP1 refere que sua responsabilidade enquanto pai de um dependente químico é de
ajudar a família dele, levando uma cesta básica, ou seja, segundo Afornali (2011, p.
89), “nas dependências químicas, o impulso de cuidado acaba por sustentar o uso de
drogas e por poupá-los das consequências do seu uso”. Representa que a intenção do
SP1 é a melhor do mundo, sem saber, ele é um mantenedor do uso das drogas, o
querer ajudar a família com um cesta básica, tira a responsabilidade do dependente
químico, enquanto pai, de prover o sustento do lar, não sofrendo a consequência do
mau uso empregado do dinheiro, tal, deveria ser revertido para as despesas com a
GRUPO I GRUPO II
SP1. “(...) ‘me’ sinto responsável por ele, por ser meu filho, ajudo a família dele com uma cesta básica”. SP2. “(...) tenho medo que aconteça alguma coisa com ele, medo por conta das minhas filhas, tenho medo que ‘matem’ ele”.
SP3. “Participar dos grupos de mutua ajuda, todos da família devem buscar tratamento em paralelo ao tratamento do adicto”. SP4. “(...) muita responsabilidade, porém quando se busca a sanidade da relação, se consegue enxergar a impotência em meio à adicção”.
49
família, porém, o SP1 não permite que assim aconteça, devido ao ‘impulso’ do cuidado
excessivo.
A SP2 refere, que tem medo, que aconteça algo com o DQ é por conta que
possam matá-lo, ou seja, segundo ela “eu acolho ele em casa ‘drogado’, assim ele
corre menos perigo que ‘estando’ na rua”, como seu cuidado e proteção fosse capaz de
transformar tal situação. Segundo Zemel (2001), dentro das famílias prevalecem às
mentiras que são sempre entendidas como formas de cuidados 'para poupar' ou, então,
as omissões 'para não piorar as coisas'.
Por sua vez, como visto anteriormente, segundo Afornali (2011, p. 125), “os
codependentes (...) abrem mão de si mesmos com a desculpa de cuidar do dependente
químico, sem se darem conta de que estão tão envolvidos na doença quanto o próprio”.
No GRUPO II, ambas as falas demonstram ser conscientes de que precisam de
acompanhamento e que não se sentem ‘capacitadas’ para enfrentar sozinhas a
drogadição. Voltamos à necessidade da capacitação, não só de conhecimentos e
habilidades, mas à necessidade de que ela cumpra sua importante função de forma
menos visível, mas fundamental, que serve para o tratamento e a prevenção ao uso de
drogas (AFORNALI, 2011).
Segundo Afornali (ibid), a proposta da capacitação é para que as famílias
compreendam o fenômeno que os cerca e possam estar conscientes do perigo
eminente. Segundo o autor, uma vez que os familiares abandonem o papel de
‘cuidadores’, deixarão de ser manipulados e, por fim, se iniciará o processo de
tratamento.
Capacitados e libertos da manipulação do dependente químico, Afornali (ibid,
p.163 ) acredita que “ele mesmo poderá experienciar as consequências da sua escolha,
assumindo assim a responsabilidade por seus atos e optará ou não por tratamento”.
50
4.2.5 MUDANÇAS NA FAMÍLIA APÓS ATENDIMENTOS COM O ASSISTENTE
SOCIAL
Tabela7: Mudanças na família após atendimentos com o Assistente Social Fonte: Elaboração da autora, 2013.
Como relatado no início, o GRUPO I é formado por sujeitos que participaram de
apenas um atendimento, sendo assim não obtiveram mudanças na família, pois estão
em busca da mesma. Uma vez questionados sobre quais mudanças futuras que
esperam acontecer na família após os atendimentos, ambos desejam que seus
familiares parem com o uso das drogas. Segundo Afornali (2011), enquanto o
dependente está em uso e a família o coloca no ‘centro’ das atenções, nada pode ser
construído, segundo o autor, tudo pode ser destruído, pois no presente momento todo
foco dos familiares está voltado à dependência química e para o dependente.
Certamente com os demais atendimentos, os sujeitos poderão mudar tal perspectiva,
uma vez que o objetivo dos mesmos é a capacitação dos familiares no tratamento do
doente.
No GRUPO II percebe-se, em seus relatos, que os sujeitos estão conscientes de
que precisam de ajuda profissional, demonstram se sentirem impotentes diante da
doença, e da necessidade da família em paralelo ao tratamento do dependente
químico, buscar capacitação.
O SP3 refere-se à participação da família no grupo de mútua ajuda, pelo qual,
segundo Mestres (2010, p. 33):
GRUPO I GRUPO II
SP1. “que meu filho pare de usar droga” SP2. “se houver alguma mudança, vai ser um ‘prêmio’, isso como se eu ganhasse um prêmio, se ele parar de usar droga”.
SP3. “minha família toda está participando do Amor Exigente. ‘Me’ sinto mais capacitada para entender meu filho”. SP4. “hoje consigo perceber minhas atitudes, entendo que não posso dar conta sozinha da adicção do meu filho”.
51
(...) os grupos contribuem não só com o aspecto espiritual da doença,
mas com o tratamento de forma integral, pois suas reuniões estão constantemente motivando o paciente e confrontando-o com sua doença, de forma a prevenir racionalizações e a fortalecer o paciente como um membro ativo da equipe.
O que nos leva a compreender a fala do SP4, quando comenta que “não dá
conta da doença sozinha”, essa conscientização em relação à impotência, por sua vez,
leva os sujeitos a se emanciparem do círculo vicioso que viviam. A partir do
pressuposto, segundo Mestres (ibid.), nota-se que:
(...) o papel do profissional nos atendimentos familiares é explicitar o pedido de socorro das famílias adictas, penetrando profissionalmente em suas crises, ao oferecer direcionamento, por meio da capacitação; Leis, do manejo de regras decorrentes da abordagem multidisciplinar; e limites, através das intervenções diretivas; conjunto que corresponde ao exercício da função paterna, debilitada no desenvolvimento original da família.
O que para Afornali (2011) se resume no cumprimento da função da capacitação,
que é responsável por um melhor suporte técnico que propõe conhecimentos e
habilidades práticas.
52
5 SERVIÇO SOCIAL E CODEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO EM CONSTRUÇÃO
A profissão do Serviço Social está inserida e regulamentada no Código de Ética
e por uma lei que regulamenta a profissão (Lei nº 8662/93), a qual luta pela autonomia,
emancipação, e plena expansão e inclusão dos indivíduos sociais. Luta pela defesa dos
Direitos Humanos, amplia a cidadania, e se posiciona em favor da universalidade de
acessos, políticas sociais, empenhando-se em combater as mazelas sociais.
Articula coerentemente os elementos do projeto profissional (imagem ideal da
profissão, valores que a legitimam, função social e objetivos, conhecimentos teóricos,
saberes interventivos, normas, práticas, etc.). Sabe-se que é uma articulação complexa
e não se faz em curto prazo de tempo, sendo assim, o projeto profissional requer uma
fundamentação sobre valores de natureza ética – posta nos Códigos, mas que
não se esgota neles, isto é, atravessa o projeto como um todo. Envolve também
escolhas teóricas, ideológicas e políticas das categorias e dos profissionais, de onde
vem à denominação: projetos ético-políticos (NETTO, 1999).
Com a quebra do conservadorismo, consequentemente, o projeto profissional
vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem
social, sem dominação ou exploração de classe, etnia ou gênero. A partir destas
escolhas que o fundam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos
humanos e a recusa do arbítrio e do autoritarismo e dos preconceitos,
contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício
profissional. Em decorrência, o projeto se reclama radicalmente democrático – vista a
democratização enquanto socialização da participação política e socialização da
riqueza socialmente produzida. Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto
implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o
aprimoramento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa formação
acadêmica qualificada, alicerçada em concepções teórico-metodológicas críticas e
sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que
deve abrir o passo à preocupação com a autoformação permanente e estimular uma
constante postura investigativa (ibid.).
53
Além dessa relação de construção, acredita-se que um dos grandes desafios
para a profissão - que se dá diante da dependência química/codependência -, é há
necessidade de ser um profissional versátil, na tentativa de redescobrir alternativas e
com competência crítica para enfrentar as múltiplas expressões da questão social, que
dão origem e espaço para os fenômenos em evidência.
O profissional entrevistado é graduado em Serviço Social pela Instituição
Faculdades Integradas Espírita, pós-graduado em Dependências Químicas pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, atuou como voluntário na Comunidade
Terapêutica Vale do Sol, atualmente exerce o cargo de Assistente Social no
Departamento de Recursos Humanos, do Ministério Público do Estado do Paraná
desde o ano de 1999; produz conhecimento científico na área dependência
química/codependência, autor de vários livros na temática em questão.
Abaixo, por meio da análise de dados, apresenta-se a prática, os desafios e as
metodologias utilizadas/expostas pelo profissional do Serviço Social no fenômeno da
codependência.
5.1 DESAFIOS E DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO COM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS
Para o profissional, os desafios são elencados da seguinte forma:
“Ao longo dos anos, percebemos a necessidade de investigar a ‘aparente falta de escuta’ dos familiares (codependentes) e dos dependentes químicos no tocante aos conflitos socioeconômico-familiares, pois a demanda que se apresenta a estudo e intervenção sempre aumenta sobremaneira.”
Segundo o A.S, a família, quando não capacitada, assume o papel de
‘cuidadora’, e o dependente químico, a postura de alguém incapaz e que precisa ser
cuidado todo o tempo:
54
“(...) aos profissionais da área de saúde, cabe o difícil papel da sensibilização para que os dependentes químicos e seus familiares desejem reencontrar a saúde, a identidade, a esperança e que busquem seus direitos e não sejam omissos quando os mesmos forem violados.”
Não obstante quando refere que cabe ao profissional o papel de conscientizá-
los acerca dos seus direitos, pode-se dizer que a codependência está atrelada à
omissão, por exemplo: mães, esposas, avós que são violentadas e não recorrem aos
seus direitos por medo que o adicto venha sofrer algum dano. O profissional se refere à
falta de conhecimento e capacitação:
“Se não compreender a manipulação inerente à doença, o contexto no qual ela se dá, e a razão pela qual ela ocorre, acaba entrando na relação com o usuário como “inocentes” (“inocentes úteis”), o que, em última análise, seria apenas para garantir-lhe o uso progressivo da droga”.
Para o A.S, é uma espécie de retroalimentação, os dependentes químicos e os
codependentes (geralmente os familiares diretos) não se escutam e, assim, se
relacionam como se o fim último desta relação fosse o conflito:
“por isso mesmo, esse relacionamento interpessoal tóxico gera as doenças, e em toda essa situação há a possibilidade de atuação do profissional assistente social.”
É enfático quando refere ser uma doença progressiva: “quanto mais tardia for a
intervenção profissional, mais difícil será o tratamento e, menor a chance de sucesso”,
tendo em vista as suas multifaces apresentadas:
“(...) como doença não somente física, emocional, psiquiátrica, social e espiritual, mas também familiar, onde a família faz parte integrante e atuante da (e na) doença, faz parte de sua origem, de sua evolução e/ou tratamento e manutenção”.
55
Aqui, segundo o profissional, apresenta-se um dos maiores desafios, pois
diferente do câncer que atinge o físico, a dependência química tem essa abrangência
na totalidade do ser e precisa ser alcançada como tal.
5.1.2 SENDO A CODEPENDÊNCIA ALGO RELATIVO À SUBJETIVIDADE DO SER,
QUAL A VISÃO DO ASSISTENTE SOCIAL SOBRE ESTE TEMA E DE QUE FORMA
ORIENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NESTE FENÔMENO
Para o profissional, a melhor forma de intervir profissionalmente é entrar pelo
viés da família, e, segundo ele,
“O serviço social se insere nesse particular contexto, no econômico-social, também, de interesses e de relações, que lhe atribuem especial significado, e no qual, a profissão pode ter seu nicho, sua utilidade e sua necessidade. O profissional responderá eticamente por seus atos, sua intervenção se voltará segundo seus próprios valores, para o interesse do capital ou a favor da justiça, da cidadania, do ser e da cura. No tocante ao seu papel profissional, quanto às dependências químicas, são os leitores de um amplo contexto. Pode posicionar-se esmerando na abordagem da população-alvo (paciente e família), para, assim cooptar a sua clientela curiosa e desinformada. Para a prevenção, redução e abstinência, para tanto, somando às suas intervenções, a todo instante, estudos, técnicas de abordagens, técnicas, conhecimento e experiência pessoal e profissional, na motivação de uma população específica que tem na surdez flagrante e nos problemas de saúde somatizados ao longo do processo de adição.”
Com base em Afornali (2007), que explica que o espaço físico profissional do
assistente social é um palco que sempre traz consigo a mediação, os conflitos e as
consequências “biopsicosocioespirituais”. Ao profissional não bastará apenas
capacitação constante para a compreensão das relações humanas, mas também,
paralelamente, caberá a ele o movimento de evolução à flexibilidade, que enfrentará a
56
demanda por questões de saúde, que têm origem na ausência de recursos e de
vontade política.
O manejo com o dependente químico e com os seus familiares, numa
intervenção multidisciplinar, aponta quase sempre o profissional da área de saúde
como a ponte necessária entre os interesses do capital, dos dependentes químicos, das
famílias, e dos diversos outros profissionais da área de saúde, ainda, na maioria das
vezes, com os seus pareceres técnicos solitários - disputando consciente ou
inconscientemente qual a maior onipotência, a do profissional ou a dos pacientes
intoxicados (AFORNALI, 2007).
5.1.3 METODOLOGIA UTILIZADA NO ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS
“Atendimentos educativos, intervenções breves, encaminhamentos para diversos profissionais de saúde, em especial psiquiatras, e se necessários internamentos. Trabalha-se na Visão Sistêmica, com veiculação de informações, e multidisciplinaridade. Cabe salientar, que o compromisso do profissional ultrapassa a sua questão pessoal. Situações que revelam conflitos familiares e sociais, toxicomanias, alcoolismo, violência, marginalização e exclusão social, são analisadas a fim das devidas providências na área de saúde e jurídica, prevalecendo o acompanhamento social, a orientação, o encaminhamento, a veiculação de informações sobre os recursos sociais, e o tratamento através das técnicas específicas da profissão.”
O profissional deverá garantir realmente, se necessário for, um atendimento
integral aos usuários do serviço. A integralidade no atendimento de saúde, geralmente
é uma grande chance de busca e recuperação da saúde e a forma de reconhecimento
da profissão. Conjuga-se, assim, a prática profissional, com a prática social. Neste
espaço de inserção dá-se a participação de diversos profissionais de saúde e, também,
de estagiários das mais diversas profissões, promovendo sempre a troca de
experiências, vivências e contextos com os acadêmicos. Essa experiência permite
articular o Serviço Social, na área da saúde, com diversas áreas afins e não afins,
57
formando um campo integrado de atuação profissional para o bem-estar da população.
Esta união propicia uma abertura à forma de ver o homem do novo milênio. Auxilia,
também, os futuros profissionais de diversos cursos, que certamente, depois desta rica
experiência multidisciplinar, despertarão para trabalhar em conjunto e preventivamente
(AFORNALI, 2007).
5.1.4 FORMAS ASSERTIVAS DE REALIZAR OS ATENDIMENTOS
“Os atendimentos são processos de trocas de conhecimentos e experiências. Primeiro se dá o acolhimento e a formação de vínculo profissional-usuário do serviço, depois se trabalha para capacitar a pessoa ou as famílias dentro do modelo doença, e como tal deve receber tratamento especializado. Após o fortalecimento das famílias há os encaminhamentos e acompanhamentos necessários.”
O profissional deve se habilitar, e muito, senão atuará somente para minorar
sintomas, e falará e escutará somente o eco das suas próprias palavras. Onde estiver,
ele se assemelhará à graxa que azeita as engrenagens e que movem um sistema
(família, comunidade, empresa, instituição, etc.)., e é por isso que no campo das
dependências químicas é uma profissão muito estressante, porém, extremamente
necessária, pela sua penetrabilidade no tecido familiar e comunitário. O profissional
parece e aparecerá inserido em conflitos, sejam eles: capital e trabalho, chefias e
trabalhadores, famílias e dependentes químicos, profissionais, infratores e sociedade,
etc., e em busca da saúde mental, orgânica, e da justiça social à comunidade, esta
como meta, ou como propósito final de atuação (AFORNALI, 2007).
58
5.1.5 EM MEIO ÀS ADVERSIDADES E CONTRADIÇÕES DO EXERCÍCIO DA
PROFISSÃO, POSSIBILIDADES APRESENTADAS AO LONGO DO TRABALHO
REALIZADO
“Por ser um profissional que não é um médico psiquiatra e nem um psicólogo, e por isso não ‘assusta’ os dependentes e familiares, pode mais facilmente ser aceito e penetrar através da interelação, tanto com a família, tanto como com o paciente, a fim de quebrar ou modificar o padrão relacional. A negação do problema, a sublimação, a minimização das consequências do uso, e a projeção são características da patologia e não do doente, e são parte do desafio do profissional do assistente social. A profissão assistente social está inserida num contexto econômico-social de interesses e de relações, que lhe atribuem significado e no qual se torna profissão de extrema utilidade e necessidade. Ela não tem uma ciência própria. Não existe a “Ciência Serviço Social”. A profissão, então, se apoia nas demais ciências para, então, dentro dos princípios éticos da profissão, proporcionar projetos e ações voltados à prevenção e qualidade de vida. É comum, para isso, o apoio do Direito, da Estatística, das Ciências Sociais, da Economia, da Psicologia etc., para tal.”
Numa análise macroeconômica, a dependência química aparenta ser o “estado”
(torpor) que denota a falta do “Estado” (poder). Não é somente o consumo das drogas,
e sim, “um produto” dos prejuízos pelo uso abusivo delas; é sim uma condição de
dependência relacional, que se revela, passo a passo, do estudo conjunto, profissional,
familiares e paciente. E não raro, posteriormente, “o produto revelado” é um indivíduo
(ou vários) em solidão, que até aquele momento não tinha(m) a devida atenção
profissional (se a tinham era de forma fragmentada) e nem perdas pelo comportamento
“inadequado e bizarro”, e assim, não tinha(m) motivos para mudar o comportamento.
Na contemporaneidade, a exclusão, o desemprego, o crescimento do setor informal de
trabalho e dos subempregos, o descaso na área da saúde, são uma realidade
crescente a olhos vistos. Caberá então ao profissional da área de saúde, assistente
social, agente este que tem as técnicas, o tempo e a palavra, perceber-se como
“agente-educador-sócio-transformador”, no seu papel de relevância no combate frente
às doenças e as dependências químicas (AFORNALI, 2007).
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve a intenção de compreender a atuação do Serviço
Social no fenômeno da codependência e caracterizar os desafios e as possibilidades
dessa intervenção profissional junto às famílias acompanhadas pelo Assistente Social
na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. Também buscou observar a percepção da
família quanto ao comportamento codependente e o entendimento da família no que
refere ao trabalho do Serviço Social.
Dada realidade, acredita-se que, para o profissional dar conta das demandas
apresentadas é necessária, como refere Vasconcelos (1997, p. 100), a “apropriação
rigorosa dos fundamentos teóricos, metodológicos e históricos, capazes de aprender a
dinâmica do processo de reprodução social, particularmente da sociedade brasileira”.
Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que houve certa dificuldade em encontrar
materiais e referências bibliográficas na temática apresentada, no que se refere ao
Serviço Social, o que nos leva a compreender o projeto ético-político na dimensão da
produção de conhecimento, que certos desafios da profissão implicam ao profissional
esse olhar investigativo e permanente para poder atender os usuários com a devida
competência.
Constatou-se nos acompanhamentos junto às famílias, que o Serviço Social
rompe com a barreira do imediatismo e consegue realizar a prática profissional baseada
nas problemáticas apresentadas pelos mesmos, seguindo uma metodologia capaz de
adentrar de forma dinâmica no contexto trazido. No que refere à ‘capacitação da
família’, pode-se atrelar a uma das atribuições do Assistente Social que é a
democratização das informações e dos direitos.
No que concerne à temática da codependência, a indagação acerca da
subjetividade e a prática do Serviço Social, pode-se averiguar que a atuação do
profissional, por se tratar de um amplo contexto – dependências químicas se dá na
abordagem da população-alvo (paciente e família), na conscientização, na prevenção e
na capacitação acerca da dependência química, e que as referidas especificidades que
se remetem ao subjetivo, são encaminhadas aos respectivos profissionais competentes,
psicólogos e psiquiatras.
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Extrapolando os objetivos da presente pesquisa, observou-se que não se encontrou
nenhum trabalho com a codependência familiar em nenhuma das referências de
tratamento trazidas pelos familiares, assim como, tampouco se pode constatar a
existência de um trabalho multidisciplinar nas mesmas, o que existem são os grupos de
mútua ajuda, cada um com sua especificidade, que no início dessa, foram
mencionados.
Pode-se dizer que a percepção dos indivíduos acerca da codependência é algo
que acontece após a capacitação e a conscientização acerca do fenômeno da
dependência química, ou seja, como alguns autores relatam a negação do dependente
químico em relação à dependência, da mesma forma o codependente não se vê como
tal, e ainda pode-se dizer segundo alguns referenciais, que não existe um dependente
químico, mas dois, ele e o codependente. O que também se pode perceber que há um
rompimento da relação doentia, como se fosse uma emancipação, quando o familiar é
capacitado, tornando-se assim uma ‘mola propulsora’ para a recuperação do adicto.
No que se refere ao olhar dos indivíduos acerca da profissão do Serviço Social e
sua prática, notou-se, no primeiro momento, que as famílias não têm consciência do
papel e atuação do profissional, pois buscam uma solução, diga-se de passagem,
imediata para o problema da adicção. É algo que é ‘desmistificado’ nos atendimentos,
qual o profissional consegue transpor as barreiras dos ranços do ‘assistencialismo’, que
muitos trazem arraigado.
Pode-se entender que no trabalho com dependência química é necessário
trabalhar todos os vértices da doença, por isso a necessidade do trabalho de uma
equipe multidisciplinar, que atenda o ser em sua totalidade, bem como o psiquiátrico,
psicológico, familiar, social e espiritual.
O fato de existir pouca/reduzida produção dentro do Serviço Social acerca do
fenômeno da codependência, tendo em vista a pouca inserção da profissão nesta área,
tal objeto de estudo aguça um estudo mais exploratório neste cotidiano.
Por fim considera-se que os objetivos dessa foram atingidos, acredita-se que a
prática profissional na referida especificidade é umas das formas assertivas para a
produção de conhecimento, agregando aos profissionais e à comunidade, como um
meio de capacitar os indivíduos, quais se apresentaram como objeto da presente
61
pesquisa e servir de referencial teórico ou mesmo modelo de aplicação nas
metodologias para os colegas que atuam na área da dependência química.
62
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67
APÊNDICES
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APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada37
DATA:
NOME:
NOME DO PAI:
NOME DA MÃE:
NACIONALIDADE: NATURALIDADE:
RELIGIÃO: SEXO: □ M □ F
DATA DE NASCIMENTO: IDADE:
ENDEREÇO:
BAIRRO: CIDADE: UF:
TELEFONE:
GRAU DE INSTRUÇÃO:
COMPONENTES DA FAMÍLIA (GRAU DE PARENTESCO):
SITUAÇÃO ECONOMICA/QUEM TRABALHA:
1. COMO VOCÊ PERCEBE O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL ATUANDO JUNTO A SUA
FAMILIA? 2. O QUE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA? 3. QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA?
4. QUAL SUA RESPONSABILIDADE ENQUANTO FAMILIAR DE UM DEPENDENTE QUIMICO?
5. O QUE MUDOU EM SUA FAMÍLIA DEPOIS DO APOIO DO PROFISSIONAL ASSISTENTE
SOCIAL?
37
Questionário elaborado pela pesquisadora.
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APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Aberta38
ASSISTENTE SOCIAL:
CRESS:
TEMPO QUE ATUA NA ÁREA:
1. QUAIS SÃO OS MAIORES DESAFIOS E DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO COM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS?
2. SENDO A CODEPENDÊNCIA ALGO RELATIVO À SUBJETIVIDADE DO SER, QUAL A VISÃO DO AS SOBRE ESTE TEMA E DE QUE FORMA ORIENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NESTE FENÔMENO?
3. QUAL A METODOLOGIA UTILIZADA NO ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS?
4. EM SUA OPINIÃO, QUAIS SÃO OS MEIOS ASSERTIVOS PARA SE REALIZAR OS ATENDIMENTOS?
5. EM MEIO ÀS ADVERSIDADES E CONTRADIÇÕES DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO, QUAIS SÃO AS POSSIBILIDADES APRESENTADAS AO LONGO DO TRABALHO REALIZADO?
38
Questionário elaborado pela pesquisadora.
70
ANEXOS
71
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar na pesquisa de campo referente ao projeto de pesquisa intitulado A Intervenção Do Assistente Social No Fenômeno Da Codependência: Desafios E Possibilidades Encontrados Na Atuação Profissional Na Comunidade Vale Do Sol, de autoria da acadêmica Karla da Lus Chugam Honório do Curso de Serviço Social da Faculdade Padre João Bagozzi. Fui informado(a) que esta pesquisa é coordenada / orientada pela Professora Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini a quem poderei contatar/ consultar a qualquer momento através do e-mail ou telefone da Faculdade: [email protected] - (41)3521-2727. Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para a pesquisa científica. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo. Minha colaboração se fará de forma anônima por meio de gravação de áudio obtido através de entrevista semi-estruturada ou grupo focal. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela pesquisadora e sua orientadoras. Fui informado(a) de que minha participação é livre, não havendo qualquer restrição ou constrangimento por não desejar fazê-lo. Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).
Curitiba, ____ de _________________ de _____
Assinatura do (a) participante:_________________________ Assinatura da pesquisadora
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GLOSSÁRIO
Abuso de drogas – Uso anormal, exagerado de drogas.
Abstinência – Deixar de fazer uso de algo que fazia com frequência;
Adicto – Escravo de; dependente de; que não consegue largar um hábito nocivo;
Crise de Abstinência – O ato de renuncia a droga, que ocasiona perturbações ao organismo dependente, desde alterações comportamentais até sensações físicas. Dependência – Estado de sujeição, depender de determinada coisa ou substância;
Droga – Qualquer substância que altere as funções do organismo;
Narcóticos – Aquilo que produz narcose, isto é, induz ao sono;
Tolerância – Diminuição dos efeitos das drogas no organismo, levando a um aumento
da dose a fim de conseguir os mesmos efeitos;