a justiça do trabalho do ceará na imprensa
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Livro baseado no TCC de Hugo Cardim Pinheiro. Autores: Hugo Cardim Pinheiro & Daniel Dantas LemosTRANSCRIPT
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
2 METODOLOGIA ........................................................................................................4
2.1 Análise do Discurso ......................................................................................................5
3 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA ......................................................................15
3.1 Gêneros Jornalísticos .................................................................................................15
3.2 Teorias do Jornalismo ................................................................................................16
3.2.1 Agenda-setting .............................................................................................................16
3.2.2 Gatekeeper e Newsmaking ..........................................................................................18
3.3 Comunicação Pública e relacionamento com a mídia .............................................21
4 ANÁLISE ....................................................................................................................26
4.1 Posse da nova presidência do TRT-CE ....................................................................28
4.2 Greve de motoristas e cobradores de ônibus ...........................................................32
4.3 Sorteio para definição de vaga para desembargador .............................................38
4.4 Semana da Execução Trabalhista .............................................................................41
4.5 Condenação do Fortaleza no caso Bechara ..............................................................44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................53
ANEXOS .....................................................................................................................54
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1 INTRODUÇÃO
Desde a Constituição Federal de 1988, a comunicação de órgãos públicos tem
ganhado força e incentivos legais que objetivam dar transparência a seus atos e publicidade a
suas ações. A presença do poder público na imprensa está cada vez maior, seja pelo fato do
amadurecimento da democracia brasileira ou pela crescente profissionalização das assessorias
de comunicação dos órgãos que o compõem.
Com o Poder Judiciário não é diferente. Sua atuação na prestação jurisdicional de
causas de interesse público tem elevado consideravelmente sua presença em notícias e
reportagens na grande mídia. Nos últimos anos, julgamentos povoaram o noticiário diário, a
exemplo dos casos do Mensalão, do Goleiro Bruno, de Elize Matsunaga (nacionalmente) e de
Alex Gardenal e do assassinato dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira (regionalmente),
apenas para citar alguns da esfera criminal. Em todos eles, a imagem do órgão judiciário (e às
vezes até mesmo do magistrado julgador, como é o caso notadamente dos ministros do
Supremo Tribunal Federal) é colocada em xeque pela imprensa, que cumpre seu papel ao
analisar a atuação desses entes públicos.
Já a Justiça do Trabalho geralmente é exposta na imprensa no julgamento de
grandes greves (como quando acontece com funcionários dos Correios, de motoristas e
cobradores de ônibus, de bancários, de operários da construção civil, de garis etc.) ou quando
condena grandes empresas por danos morais ou materiais oriundos de relações de trabalho ou
indenizações por acidentes de trabalho. A Justiça trabalhista pode aparecer, ainda, em notícias
de cunho institucional ou administrativo, como toda instituição preocupada em comunicar-se
com seus públicos busca fazer. Por se tratar de um órgão cujo objetivo é a aplicação de leis
para a manutenção das boas relações de trabalho – atividade cerne da economia de um Estado
e da vida social de qualquer cidadão – consideramos tratar-se de uma instituição de ação
fundamental na sociedade.
Ciente dessa importância e do dever da imprensa de divulgar notícias de interesse
público, esta pesquisa tem como objeto o discurso da imprensa local acerca da Justiça do
Trabalho do Ceará durante o biênio 2012/2014. O objetivo geral é analisar de que maneira se
articula esse discurso na formação da imagem midiática do órgão. Como objetivos
específicos, temos como metas identificar se a imprensa utiliza o discurso organizacional da
instituição para formar o seu próprio; e descrever a presença das vozes da Justiça do Trabalho
nos enunciados jornalísticos a partir dos discursos diretos e indiretos, ou seja, de que maneira
o discurso oficial é utilizado nas notícias como elementos argumentativos.
2
Para abarcarmos todos esses temas, utilizaremos referenciais teóricos que
julgamos compreender os conceitos de análise do discurso, gêneros de textos jornalísticos,
agenda-setting, gatekeeper, newsmaking, comunicação pública e assessoria de imprensa, entre
outros desmembrados desses.
Neste trabalho, decidimos nos debruçar nos dois maiores jornais impressos do
Estado: o jornal O Povo, fundado em 1928 e o mais antigo em circulação no Ceará; e o Diário
do Nordeste, fundado em 1981 e que tem a maior tiragem e cobertura de distribuição no
Estado. O jornal O Estado não foi incluído na pesquisa por ter menor relevância comercial no
mercado regional, inclusive tendo sua veiculação restrita aos dias de segunda a sexta-feira.
Já no que se refere ao perfil do tema do nosso trabalho, podemos dizer que Justiça
do Trabalho cearense foi fundada em 1941 e é composta na primeira instância pelas varas do
trabalho e, na segunda instância, pelo Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região - Ceará
(TRT/CE). As varas trabalhistas têm como função primordial julgar litígios individuais,
controvérsias surgidas nas relações de trabalho entre o empregador (pessoa física ou jurídica)
e o empregado. Atualmente, a Justiça do Trabalho do Ceará conta com 37 varas do trabalho,
sendo 18 localizadas em Fortaleza (no Fórum Autran Nunes) e 19 distribuídas nos municípios
de Aracati, Baturité, Caucaia (duas unidades), Crateús, Crato, Eusébio, Iguatu, Juazeiro do
Norte (duas unidades), Limoeiro do Norte, Maracanaú (duas unidades), Pacajus, Quixadá, São
Gonçalo do Amarante, Sobral (duas unidades) e Tianguá.
Já o TRT/CE está localizado na capital e é responsável pelo julgamento de
recursos contra decisões das varas do trabalho ou ainda ações que se originam na própria
Corte, como dissídios coletivos de categorias profissionais organizadas regionalmente. A
jurisdição do órgão abarca todos os municípios cearenses.
A abertura que o Poder Judiciário vem desenvolvendo no uso da transparência de
suas ações por meio da mídia é um fato que já é corriqueiro nos noticiários regional e
nacional. A Justiça trabalhista cearense, por sua vez, não fica atrás em procurar dar maior
visibilidade a seus atos em prol da prestação de seu serviço público, portanto de interesse de
toda a sociedade, ainda mais por lidar com relações de emprego oriundas de crescente
atividade econômica do Estado.
Somado a isso, reforça o interesse no tema o fato de o autor da pesquisa ser
servidor do TRT/CE, lotado na Divisão de Comunicação Social. Assim, espera-se que os
resultados alcançados possam contribuir profissionalmente na compreensão dos aspectos que
influenciam os relacionamentos discursivos entre imprensa e instituição.
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Analisar o discurso da mídia em relação a um órgão público pressupõe
assumirmos o papel da imprensa de fiscalizar o interesse público envolvido nas ações e nos
atos divulgados. Assim, espera-se que os jornais agendem pautas relativas a notícias que
envolvam a atividade-fim do órgão como também a informações de caráter administrativo ou
institucional. Quando a atividade-fim desse órgão está ligada a uma prestação de serviço, que
no caso é a prestação jurisdicional na área trabalhista, supomos que a imprensa se pautará por
informações que envolvam julgamento de grandes greves de categorias organizadas de
trabalhadores e condenação de grandes empresas por danos morais ou materiais oriundos de
relações de trabalho, rescisões contratuais ou indenizações por acidentes de trabalho.
A imagem da instituição estará ligada à avaliação que a imprensa fará de sua
atuação na consecução de sua atividade. Sobre o assunto, Lemos (2013) afirma que, ao
observarmos os processos de produção de notícias, encontraremos elementos discursivos e
argumentativos que manifestam representações e temas da sociedade. Para ele, “conhecer,
portanto, a imagem pública de uma empresa (...) requer analisar as manifestações do
conhecimento do senso comum, estruturadas na forma de representações sociais que se
fundamentam em temas conceituais” (LEMOS, 2013, p. 80-81).
Nesta pesquisa, abordaremos tal hipótese por meio da representação da Justiça do
Trabalho do Ceará nas matérias veiculadas nos jornais O Povo e Diário do Nordeste no
período de junho de 2012 a junho de 2014. Tal intervalo de tempo corresponde à gestão
diretiva do órgão precedente à que está em vigor. Consideramos que este recorte vinculado à
individualização de um período administrativo marcado por um início e um fim claros
contribui positivamente para a análise do nosso objeto. Isso porque acreditamos que, em uma
organização desse porte, o perfil do gestor pode influenciar fundamentalmente a postura que a
instituição terá em relação à imprensa e vice-versa. Independentemente de associarmos esse
perfil diretivo à análise do discurso de um veículo específico, a coleta do material a ser
analisado pode apresentar uma unidade – ou ainda uma tendência à unidade – que facilitará
nossa abordagem.
Ao lado disso, o período em destaque foi contemplado com diversos fatos que
envolveram e impactaram a sociedade cearense, como greve de motoristas e cobradores de
ônibus; greve dos operários da construção civil; implantação de sistema de processo
eletrônico em substituição aos autos em papel; equiparação salarial de professores
universitários da rede estadual, disputa institucional por vaga de desembargador, dentre outros
temas de grande repercussão regional.
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2 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi adotada a pesquisa qualitativa para
analisar valorativamente a representação da Justiça do Trabalho cearense na imprensa local. A
perspectiva teórica da análise do discurso será empregada para atingirmos os objetivos
propostos, assim como, subsidiariamente, os aportes teóricos sobre gêneros jornalísticos,
teorias do jornalismo (mais especificamente sobre as teorias da agenda-setting, gatekeeper e
newsmaking) e comunicação pública e relacionamento com a mídia (assessoria de imprensa),
além de conceitos correlatos a esses temas.
O corpus da pesquisa foi os jornais O Povo e Diário do Nordeste, edições
impressas no período de junho de 2012 a junho de 2014, intervalo de tempo que coincide com
a gestão diretiva da Justiça do Trabalho do Ceará anterior à vigente.
Foi utilizado o procedimento de clipping para identificação das matérias que
citam direta ou indiretamente o órgão tema da nossa pesquisa no período proposto. Após a
coleta, as matérias foram tabuladas e classificadas quanto ao gênero jornalístico a que
pertencem, numa análise quantitativa da pesquisa.
Assim, o objetivo geral da pesquisa é analisar de que maneira se articula o
discurso na formação da imagem midiática do órgão e, especificamente, como a imprensa
utiliza o discurso organizacional da instituição para formar o seu próprio, por meio de análise
da presença das vozes da Justiça do Trabalho nos enunciados jornalísticos a partir dos
discursos diretos e indiretos.
Cientes das limitações espaciais e temporais para esta pesquisa, propusemos esse
olhar investigativo a um escopo reduzido do conjunto, com o intuito de que essa amostragem
pudesse subsidiar considerações conclusivas sobre o tema proposto. Dessa maneira, foram
analisadas quatro matérias com temática administrativa e/ou institucional e quatro com
temática jurídica trabalhista, totalizando oito matérias, quatro de cada veículo. Dessas, seis
são apresentadas aos pares, pois discorrem sobre a mesma pauta em ambos os jornais,
portanto versam sobre três assuntos distintos. Apenas duas – uma de cada veículo – são pautas
que não foram cobertas pelo veículo concorrente. São quatro matérias no ano de 2012
(incluindo a pauta que mostra a posse da nova diretoria, marco temporal do início da nossa
análise), duas de 2013 e mais duas de 2014. A ideia da seleção das matérias é capturar os
discursos dos dois veículos comparativamente (daí a prevalência das pautas aos pares) e
também no decurso do tempo: começo, meio e fim da gestão 2012/2014.
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2.1 Análise do Discurso
Vamos aproximar-se, neste momento, ainda que introdutoriamente, a teorias e
conceitos emprestados da linguística para podermos analisar um discurso.
A noção de discurso a que nos referimos é, segundo Maingueneau (2013),
proveniente da pragmática, doutrina das ciências humanas que apreende a comunicação
verbal para abordar os sintomas de modificação em nossa maneira de conceber a linguagem
(MAINGUENEAU, 2013, p. 58). Entre as características essenciais de um discurso, ele
destaca:
a) O discurso é uma organização situada para além da frase. Ele mobiliza e
submete-se a estruturas de ordem exterior ao enunciado, vigentes em uma dada
sociedade, como regras narrativas, dialógicas, argumentativas, textuais etc.
(MAINGUENEAU, 2013, p. 58-59).
b) O discurso é orientado. Aqui, em dois sentidos: tanto porque é concebido em
função de uma finalidade específica do locutor quanto porque se desenvolve no
tempo de maneira linear. Por tanto, pode ser acometido de digressões,
regressões, antecipações e outros efeitos para garantir o monitoramento dessa
orientação pré-estabelecida pelo locutor (MAINGUENEAU, 2013, p. 59).
c) O discurso é uma forma de ação. Ele não é apenas uma representação do
mundo, mas uma maneira de agir sobre o outro. Uma enunciação corresponde a
um ato, que por sua vez pretende uma situação. Esses atos reúnem-se em
características e objetivos comuns para formar um gênero de discurso
específico (MAINGUENEAU, 2013, p. 59-60)
d) O discurso é interativo. O binômio eu-você é uma marca de qualquer
enunciado, ainda que varie em maior grau (um diálogo oral, por exemplo) ou
menor grau (uma palestra, por exemplo). Essa troca verbal, explícita ou
implícita, “supõe sempre a presença de uma outra instância de enunciação à
qual se dirige o enunciador e com relação à qual constrói seu próprio discurso”
(MAINGUENEAU, 2013, p. 60).
e) O discurso é contextualizado. Qualquer enunciado está inserido em um
contexto, inclusive contribuindo para defini-lo, e só em relação a ele é que se
pode atribuir-lhe um significado. Tanto é que o mesmo texto em cenas distintas
corresponderá a dois discursos diferentes (MAINGUENEAU, 2013, p. 61).
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f) O discurso é assumido por um sujeito. Ele sempre remete a um eu que define a
fonte de referências do texto e indica a atitude desse discurso em relação a seu
coenunciador. É fundamental essa característica no sentido de dar a
responsabilidade pelo enunciado, ainda que em graus de modalização
diferentes (MAINGUENEAU, 2013, p. 61-62).
g) O discurso é regido por normas. Assim como todo comportamento humano, há
regras para a atividade verbal fruir a contento. As leis do discurso servem para
justificar e dar legitimidade aos enunciados. (MAINGUENEAU, 2013, p. 62).
h) O discurso é considerado no bojo de um interdiscurso. Ele só adquire sentido
no interior de um sistema de outros discursos. A interpretação de um enunciado
está condicionada a sua relação com os demais. (MAINGUENEAU, 2013, p.
62).
Maingueneau (2013, p. 64) tem a preocupação de esclarecer as diferenças entre
enunciado e texto. O primeiro é o produto de uma enunciação, precisando estar dotado de
sentido (pois fora de um contexto ele seria apenas uma frase) e estar inserido no âmbito de um
determinado gênero de discurso. Já o texto pode ser entendido como o enunciado em sua
totalidade e coerência, apto a circular longe de seu contexto original.
Em outro momento de sua obra, Maingueneau (2013) aponta para a importância
de avaliarmos o emprego das pessoas nos discursos. Para nossa pesquisa, identificar o uso
delas nos enunciados será fundamental para analisarmos as matérias selecionadas. Para tanto,
devemos ter em mente que “a interpretação dos embreantes de pessoa é indissociável da cena
de enunciação de cada texto” (MAINGUENEAU, 2013, p. 150). Embreante, por sua vez, são
os elementos que, no enunciado, marcam o conjunto de relações entre a enunciação e uma
dada situação. Assim, são considerados embreantes de pessoas os pronomes pessoais,
possessivos e determinantes (MAINGUENEAU, 2013, p. 129-130).
Para Maingueneau (2013), por exemplo, o emprego do nós para designar não uma
soma de pessoas, mas um sujeito coletivo, é uma maneira de remeter a um indivíduo difuso,
qualquer, ainda que a presença desse eu expandido seja marcada pela predominância do eu
singular. Da mesma maneira, o eles coletivo pode ser usado para referir-se a um sujeito
indeterminado, uma pluralidade de indivíduos.
Nessa seara do uso das pessoas num discurso, o que mais nos interessa é o
apagamento desses embreantes, pois veremos que é uma prática contumaz nos discursos do
gênero jornalístico, com a intenção de conceder veracidade ao enunciado. Essa não
embreagem tem origem nas características do discurso científico. “Esse tipo de discurso”, diz
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Maingueneau (2013, p. 157), “é, com efeito, comumente associado ao apagamento dos
coenunciadores: as verdades científicas não estão ligadas a um ‘eu’ e a um ‘você’ particulares,
pois são tidas como verdadeiras em quaisquer circunstâncias”.
Maingueneau (2013, p. 163) avalia também as noções de polifonia no discurso,
pois, para ele, “quando um locutor fala, ele não se contenta em expressar suas próprias
opiniões, ao contrário, ele faz ouvir diversas outras vozes, mais ou menos claramente
identificadas, em relação às quais ele se situa”.
O discurso polifônico é muito comum no texto jornalístico. Esse recurso é
utilizado pelo jornalista para realizar uma afirmação, mas atribuindo a responsabilidade do
conteúdo dela a outra pessoa (MAINGUENEAU, 2013, p. 163). Assim, o coenunciador do
discurso tem a chance de conhecer vozes opostas dentro de um mesmo enunciado, colocadas
em cena por uma terceira voz, a do jornalista, ainda que ele permaneça aparentemente neutro
em relação a elas.
A distinção entre produtor e locutor do enunciado é outra questão importante
trazida por Maingueneau. Não devemos confundi-los. O primeiro é quem elabora
materialmente o enunciado, já o segundo é quem realiza a enunciação. Diz Maingueneau
(2013, p. 166-167) que o
locutor acumula, assim, vários papéis: ele é aquele que constrói a enunciação, aqueleque serve de ponto de referência aos embreantes e também aquele que é responsávelpor seus próprios pontos de vista. (...) Quando um locutor evoca um ponto de vistaem sua enunciação, ele não é obrigado a aderir a esse ponto de vista.
Algumas características são inerentes ao campo da polifonia. O discurso relatado
em estilo direto é uma delas. Nele, o locutor, conscientemente, dá voz a outro locutor, sem, no
entanto, tornar-se responsável pelas palavras. Maingueneau (2013, p. 169) afirma que o
“locutor que cita não se contenta em evocar a palavra citada, ele imita mais ou menos
fielmente o locutor citado, colocando em cena a palavra desse locutor”.
Em outro fenômeno, o da concessão, “o ponto de vista do outro é integrado na
palavra do locutor, não sendo apresentado como autônomo. (...) O ponto de vista concedido
pelo locutor é atribuído implicitamente à voz coletiva” (MAINGUENEAU, 2013, p. 169-170).
Isso reflete na imagem do locutor conferindo-lhe o ethos de um homem de reflexão, que leva
em consideração argumentos opostos.
Ainda sobre responsabilidade enunciativa, surge aqui a noção de arquienunciador,
termo emprestado do campo teatral para relacionar os discursos de um autor de peça (o
arquienunciador) e os diferentes enunciadores, que são os personagens. Em outras palavras, o
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dramaturgo fala, na peça, não diretamente, mas por intermédio dos personagens. Essa
característica é muito marcante na imprensa, quando um jornalista, na feitura de uma notícia,
assume uma posição de arquienunciador invisível ao selecionar as fontes, editar suas falas,
eventualmente as corrigir, ordenar e hierarquizar os textos e compor os títulos
(MAINGUENEAU, 2013, p. 176-177).
Em sua obra sobre análise do discurso, Maingueneau (2013) aprofunda o tema do
discurso direto, o qual vamos abordar aqui por ser de uso corrente no jornalismo. Ele
desmembra o discurso relatado em enunciação citante e enunciação citada
(MAINGUENEAU, 2013, p. 179). A forma mais simples apontada para identificar a
enunciação citada é utilizar um marcador específico que indique que aquele não é o ponto de
vista do locutor, mas de um terceiro. Essa modalização surge com termos como segundo,
para, conforme etc. e também com a conjugação de verbo no futuro do pretérito. Nesse
sentido, o uso de aspas é um artifício utilizado para reproduzir expressões exatas da
enunciação citada, o que gera mais autenticidade ao discurso relatado (MAINGUENEAU,
2013, p. 179-180).
Não bastando ao discurso direto eximir a responsabilidade de um enunciado de
seu locutor, esse tipo de discurso caracteriza-se por dissociar claramente as duas situações de
enunciação: a citada e a citante. Ressalve-se que “é ao discurso citante que cabe explicitar a
referência dos embreantes das falas que ele cita. Como essa explicação é deixada ao encargo
do discurso citante, o grau de precisão dos embreantes pode variar muito de um texto para
outro” (MAINGUENEAU, 2013, p. 181).
Ainda que um discurso direto relate enunciados tidos como de fato proferidos por
um terceiro, esse fenômeno caracteriza-se, na verdade, como uma encenação, cujo objetivo é
criar o efeito de autenticidade (MAINGUENEAU, 2013, p. 182). Esse é um dos motivos pelo
qual um jornalista dispõe desse recurso em seu discurso.
Maingueneau (2013, p. 183) aponta ainda dois outros motivos possíveis: um deles
seria o distanciamento que o discurso direto provoca, o que garante que o jornalista não adere,
necessariamente, ao enunciado reproduzido. Entra em questão aqui a busca pela idealizada
imparcialidade do jornalista. O outro motivo assinalado é para mostrar seriedade e
objetividade.
Para o discurso citante, Maingueneau (2013, p. 184) elenca duas exigências:
“indicar que houve um ato de fala e marcar a fronteira que separa do discurso citado”. A
fronteira entre os discursos é realizada basicamente de forma tipográfica, ou seja, com o uso
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de dois pontos, travessão, aspas e itálicos. Já a indicação da existência de um ato de fala pode
ser feita das seguintes maneiras:
a) Utilizar verbo cujo significado indica que há enunciação (por exemplo:
esclarecer, confessar, contar, acusar, espantar-se etc.).
b) Utilizar grupos preposicionais (como as modalizações já citadas segundo, para
e conforme).
Aqui, Maingueneau (2013, p. 186) observa que esses
introdutores de discurso direto não são neutros, mas trazem consigo um enfoquesubjetivo. Com efeito, o verbo introdutor fornece um certo quadro no interior do qual será interpretado o discurso citado. Se um verbo como “dizer”, uma preposiçãocomo “segundo” podem parecer neutros, não é esse o caso de “confessar” porexemplo, que implica que a fala relatada constitui um erro.
Outra observação do professor francês alerta que, às vezes, em um discurso direto,
pode haver apenas as marcas tipográficas, inexistindo verbo ou grupo introdutor. Observa
ainda que, em sequências de trechos em aspas ou em itálico de enunciadores anteriormente já
mencionadas no texto, essas passagens podem ser-lhes atribuídas de forma natural, sem que
haja necessidade de identificar a cada vez a fonte das falas relatadas (MAINGUENEAU,
2013, p. 186-187).
Além do direto, o discurso indireto também é objeto de análise por Maingueneau
(2013). Ele lembra que cada um desses modos de citação é regido por regras enunciativas
distintas, sendo que no discurso indireto esse sistema é muito mais livre, pois o enunciador
citante não precisa repetir as palavras exatas do enunciador citado, mas apenas transmitir o
conteúdo de seu pensamento (MAINGUENEAU, 2013, p. 191).
Maingueneau (2013, p. 192) observa que, embora o discurso direto tenha seu uso
privilegiado pela imprensa contemporânea – devido às suas características que aproximam ao
máximo o enunciado citado ao que foi dito, provocando uma ideia de fidedignidade –, isso se
configura apenas um artifício, pois o discurso indireto não é menos objetivo que o direto.
Neste ponto, deparamo-nos com o conceito de ilha textual, forma híbrida dos
discursos direto e indireto onde o enunciador citante isola um trecho do enunciado com aspas
ou itálico para indicar que aquelas palavras foram ditas pelo enunciador citado.
(MAINGUENEAU, 2013, p. 193). A ilha textual fica sintaticamente integrada à enunciação
única do discurso indireto, mas, por repetir os termos utilizados pelo enunciado citado, ainda
guarda características do discurso direto.
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Esse conceito de ilha textual nos remete a uma construção de modo de discurso
largamente utilizada pela imprensa escrita, o resumo com citações, como diz Maingueneau
(2013, p. 197):
Esse tipo de discurso relatado é geralmente marcado pela acumulação de itálico easpas. Trata-se do resumo de um texto cujo original aparece apenas em fragmentosno fio do discurso. Sem as aspas, nada distinguiria as palavras do texto original daspalavras do jornalista, uma vez que os fragmentos citados estão integradossintaticamente ao discurso citante.
Conforme Maingueneau (2013), esse recurso é eficaz no jornalismo pois permite
ao leitor apreender o sentido do enunciado ao mesmo tempo em que lê as próprias palavras
proferidas pelo enunciador citado. É uma forma de deixar a voz do discurso citante o mais
discreta possível, característica almejada por textos de jornalismo do gênero informativo.
Ainda sobre o uso das aspas, Maingueneau (2013, p. 206) afirma que “ao colocar
palavras entre aspas, o enunciador (...) delega ao coenunciador a tarefa de compreender o
motivo pelo qual ele está chamando assim sua atenção e abrindo uma brecha em seu próprio
discurso”. Esse vazio será preenchido por ato do leitor-modelo, que, conforme expectativas do
enunciador, deve ser capaz de interpretar corretamente o uso das aspas nesse discurso
(MAINGUENEAU, 2013, p. 208-209).
A partir daqui, entramos na discussão de qual seria o real interesse no uso da
atividade de informar, cujo controle é exercido por um setor específico da sociedade, as
mídias, que se encarregam de nos dizer não apenas o que precisamos saber, mas também
porque elas têm a competência para tal (CHARAUDEAU, 2006). Os aspectos que um
discurso pode tomar na mídia é assunto de interesse de Charaudeau (2006), para quem o ato
de transmissão de uma informação é inerente à comunicação humana por meio da linguagem,
entendida aqui “enquanto ato de discurso, que aponta para a maneira pela qual se organiza a
circulação da fala numa comunidade social ao produzir sentido. Assim, pode-se dizer que a
informação implica processo de produção de discurso em situação de comunicação”
(CHARAUDEAU, 2006, p. 33-34).
Considerando ingênuo o modelo clássico de transmissão de informação (fonte de
informação/instância de transmissão/receptor), Charaudeau (2006) aponta para os problemas
por trás dessas unidades básicas ao nos lembrar das intersubjetividades constitutivas presentes
nas trocas humanas. A comunicação de uma informação não é simplesmente uma transmissão
de sinais.
Com esse raciocínio, Charaudeau (2006) afirma que a informação não existe por si
só, mas é fruto de pura enunciação. “Ela constrói saber”, diz Charaudeau (2006, p. 36), “e,
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como todo saber, depende ao mesmo tempo do campo de conhecimentos que o circunscreve,
da situação de enunciação na qual se insere e do dispositivo no qual é posta em
funcionamento”.
O primeiro aspecto necessário a uma melhor compreensão da problemática posta é
encontrarmos a validade da fonte emissora da informação, ou seja, o seu valor de verdade.
Isso nos levará a perceber a autenticidade, a verossimilhança e a pertinência do fato em
questão (CHARAUDEAU, 2006). O segundo aspecto diz respeito aos critérios de seleção da
informação, pois temos a consciência de que entre os conjuntos de fatos existentes seria
impossível transmiti-los em totalidade. Age sobre essa seleção critérios de importância e
prioridade com elevada significação social (CHARAUDEAU, 2006).
Em relação ao tratamento da informação, Charaudeau (2006, p. 38) impele-nos a
observar
a maneira de fazer, o modo pelo qual o sujeito informador decide transpor emlinguagem (...) os fatos selecionados, em função do alvo predeterminado, com o efeito que escolheu produzir. Nesse processo, está em jogo a inteligibilidade dainformação transmitida, e como não há inteligibilidade em si, esta depende deescolhas discursivas efetuadas pelo sujeito informador. (...) A escolha põe emevidência certos fatos deixando outros à sombra.
As consequências dessas escolhas são o resultado do que Charaudeau (2006)
chama de estratégias discursivas, onde as formas da linguagem podem assumir propriedades
polissêmicas ou sinonímicas e os enunciados podem carregar diferentes valores discursivos:
referencial, enunciativo ou de crença.
A inter-relação entre os fatores extradiscursivos e as realizações intradiscursivas,
para Charaudeau (2006), é o que produz sentido num enunciado. Ele analisa três aspectos
dessa correlação: a mecânica de construção do sentido, a natureza do saber que é transmitido e
o efeito de verdade que produz.
No que se refere à construção do sentido, Charaudeau (2006) afirma que ele será
elaborado pela ação da troca social em um duplo processo: transformação e transação. A
transformação é o ato de converter o mundo a significar em mundo significado. “O ato de
informar”, para Charaudeau (2006, p. 41), “inscreve-se nesse processo porque deve descrever
(identificar-qualificar fatos), contar (reportar acontecimentos), explicar (fornecer as causas
desses fatos e acontecimentos)”.
Já o processo de transação é quando o sujeito produtor do discurso objetiva dar
uma significação psicossocial a seu ato, de acordo com certos parâmetros. Ao participar desse
processo de transação, o ato de informar faz circular “entre os parceiros um objeto de saber
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que, em princípio, um possui e o outro não, estando um deles encarregado de transmitir e o
outro de receber, compreender, interpretar” (CHARAUDEAU, 2006, p. 41).
A partir desses pressupostos, Charaudeau (2006) afirma que todo discurso importa
numa relação. Assim, nenhuma informação deve pretender ser transparente, neutra ou
meramente factual: “sendo um ato de transação, (a informação) depende do tipo de alvo que o
informador escolhe e da coincidência ou não coincidência deste com o tipo de receptor que
interpretará a informação dada” (CHARAUDEAU, 2006, p. 42).
Quanto à natureza do saber, Charaudeau (2006) a divide em dois tipos: saberes de
conhecimento e de crença. O primeiro refere-se às representações racionalizadas da existência
dos seres e dos fenômenos do mundo. Esse conhecimento é construído de maneira dupla:
através de práticas das percepções empíricas e pela aprendizagem técnico-científica.
Charaudeau (2006) nos chama a atenção para a evidente relativização desse tipo de
conhecimento, pois ele está intimamente ligado a experiências sociais, culturais e níveis
civilizatórios. Ainda assim, esse tipo de saber carrega um preconceito favorável de
objetividade e realismo que lhe garante certa estabilidade em relação às estruturas do mundo.
Charaudeau (2006) propõe uma categorização dos saberes de conhecimento. Eles
serão do tipo existencial quando sua compreensão mental é estabelecida pela descrição da
existência de objetos do mundo; do tipo evenemencial¹ quando sua percepção é estabelecida
pela descrição narrativa dos acontecimentos ocorridos; ou do tipo explicativo, quando seu
entendimento é estabelecido pelas causa e finalidades dos acontecimentos, para torná-los
inteligíveis (CHARAUDEAU, 2006, p. 44-45).
O segundo tipo de saber é o de crença. Conforme Charaudeau (2006), refere-se à
apreciação subjetiva do mundo, por meio de uma avaliação quanto à sua legitimidade. Os
sistemas de interpretação acionados nessa situação permitem fazer predições e julgamentos
(baseados em valores éticos, estéticos, hedônicos ou pragmáticos) que representam os grupos
sociais que os criaram e circulam como estereótipos na sociedade. “Quando essas crenças se
inscrevem em uma enunciação informativa, servem para fazer com que o outro compartilhe os
julgamentos sobre o mundo” (CHARAUDEAU, 2006, p. 46).
A partir daqui, surge o que Charaudeau chama de “problemática da representação”
(2006). Esses dois tipos de saberes constroem-se no interior do processo de representação,
sem fronteira definida entre um tipo e outro, para formar uma “organização do real através de
¹Adjetivo traduzido do francês que tem mesma raiz do substantivo “evento”, sem equivalente exato noportuguês. Outra possibilidade de tradução seria algo como “acontecimental”.
13
imagens mentais transpostas em discurso ou em outras manifestações comportamentais dos
indivíduos que vivem em sociedade, (e que) estão incluídas no real, ou mesmo dadas como se
fossem o próprio real” (CHARAUDEAU, 2006, p. 47). Charaudeau (2006) ressalta que são as
palavras usadas no enunciado que apontam para a representação desejada.
Sobre essa representação, temos em Moscovici (2007 apud LEMOS, 2013, p. 73)
que ela é “a unidade básica que constrói todo conhecimento ordinário da sociedade, o senso
comum”. Lemos (2013, p. 73) afirma que as representações sociais localizam-se na base do
senso comum e servem como “princípios organizadores dos entendimentos, das relações
sociais, da própria realidade social intersubjetiva”. Elas funcionam como orientação temática
para manifestação de conhecimentos práticos dos sujeitos, em qualquer sociedade. Daí vem a
importância de termos isso em mente ao realizarmos uma análise do discurso midiático, num
contexto em que
por estar inserida no âmbito do discurso, a linguagem, certamente, estabelece forterelação com as formas de manifestação das representações e seus temas subjacentes. Desse modo, ao observar os processos de produção de notícias, devemos encontrarelementos discursivos e argumentativos que manifestam as representações e temasda sociedade em que se localiza o meio de comunicação (LEMOS, 2013, p. 79).
Em continuidade ao raciocínio exposto, Charaudeau (2006) nos apresenta o
conceito de efeito de verdade. Ele diferencia esse conceito do de valor de verdade. Enquanto
esse último se constrói por meio de explicações elaboradas instrumental e tecnicamente para
produzir um sentido de ser verdadeiro, o primeiro constrói um significado de acreditar ser
verdadeiro. “Diferentemente do valor de verdade, que se baseia na evidência, o efeito de
verdade baseia-se na convicção, e participa de um movimento que se prende a um saber de
opinião” (CHARAUDEAU, 2006, p. 49). Em outras palavras, o valor de verdade busca um
efeito de credibilidade.
Cada discurso modula seus efeitos de verdade de um modo próprio. No contexto
do discurso da informação, ele vai modular-se para atender às razões de por que informar, a
quem informar e quais são as provas dessa informação (CHARAUDEAU, 2006).
Chama-nos a atenção o detalhamento que Charaudeau (2006) fornece para analisar
os tipos de informadores em relação aos graus de engajamento possíveis que eles podem ter.
Afinal, a credibilidade de uma informação vai depender da posição social do informador, do
papel que ele exerce na situação de troca e de sua representatividade para com o grupo por
quem fala.
Sob esse aspecto, a classificação proposta por Charaudeau (2006, p. 52-53) diz
que, quando o informador tem notoriedade, a posição social dele é exigida como
14
condicionante da autoridade que lhe é conferida para fornecer informações de utilidade
pública, dignas de fé (e que pode estar ligada a certas profissões, como a de magistrado, por
exemplo); quando o informador é uma testemunha, ele carrega o pressuposto de mensageiro
da verdade e sua fala terá o objetivo de relatar o que presenciou; quando o informador é
plural, a informação provém de fontes diversas, ora convergindo, ora divergindo, promovendo
a confluência ou o embate de opiniões para que o indivíduo que se informa possa estabelecer
sua própria verdade; e quando o informador é um organismo especializado, suas informações
são menos suspeitas de sofrer manipulação, uma vez que cumpre obrigações institucionais de
coletar, processar e estocar dados.
Além da classificação ora proposta, Charaudeau (2006) também avalia o nível de
engajamento do informador, tal como marcado discursivamente, na produção de efeito
desejado. Nesse sentido, existem, para Charaudeau (2006, p. 54-55), três possibilidades:
O informador não explicita seu engajamento: a informação é dada como evidente,sem contestação possível. Essa posição de apagamento do sujeito e de aparenteneutralidade do engajamento produz efeito de objetivação e de autenticação (...).O informador explicita seu engajamento sob o modo da convicção, afirmando aconfiança que deposita em sua fonte (...).O informador explicita seu engajamento, mas dessa vez sob o modo da distância,expressando reserva, dúvida, hipótese, e mesmo suspeita. (...) O valor de verdadeda informação fica atenuado, mas a explicitação do posicionamento prudente do informador lhe confere crédito.
Finalmente, Charaudeau (2006) detém-se a apontar os tipos de provas que são
apresentadas num discurso. A primeira forma é a autenticidade, quando atesta-se a existência
dos seres e objetos do mundo, sem filtros entre o que seria esse mundo empírico e a percepção
do homem. O meio discursivo utilizado nessa forma é a designação.
Pela forma da verossimilhança, é possível reconstituir analogicamente a existência
possível do que aconteceu ou que acontecerá. O meio discursivo utilizado aqui é o da
reconstituição por meio de sondagens, testemunhos, reportagens e investigações
(CHARAUDEAU, 2006).
A terceira e última forma é a explicação, onde se determina o porquê dos fatos, o
que os motivou, causas e finalidades. O meio discursivo usado para essa forma é o da
elucidação, seja por meio da palavra de especialistas quanto pela exposição de opiniões
diversas, através de entrevistas, confrontos e debates (CHARAUDEAU, 2006).
Buscamos, nesta pesquisa, identificar e descrever todas essas nuances possíveis
apontadas nos enunciados presentes nas matérias avaliadas, para que assim possamos
construir uma análise do discurso da imprensa sobre a Justiça do Trabalho cearense.
15
3 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
Neste momento do trabalho, vamos abordar alguns dos aspectos conceituais
estudados no campo do jornalismo e no de comunicação organizacional que podem nos servir
de parâmetros teóricos para compreendermos melhor a análise do discurso da imprensa
cearense sobre a Justiça do Trabalho, alvo maior desta pesquisa.
Para tanto, elencamos os estudos de gêneros jornalísticos, as teorias do jornalismo
agenda-setting, gatekeeper e newsmaking, comunicação pública e relacionamento com a
mídia, no âmbito de assessoria de imprensa.
3.1 Gêneros Jornalísticos
Quando do momento da análise do discurso da imprensa sobre a Justiça do
Trabalho do Ceará, será fundamental fazermos uma seleção preliminar de quais textos
compõem o escopo necessário para que cheguemos a conclusões coerentes com nosso
objetivo acadêmico. Esse recorte dos textos só é possível a partir de noções de gêneros do
discurso, uma vez que precisamos identificar quais gêneros e formatos do texto jornalístico
podem atender às demandas propostas.
Para tanto, podemos encontrar uma classificação de gêneros e formatos de textos
jornalísticos utilizando as definições sugeridas por José Marques de Melo, professor
recorrente nos estudos desse ramo no Brasil. Em recente obra assinada com Francisco de
Assis, Melo afirma que “o trabalho jornalístico, organizado e normatizado conforme padrões
preestabelecidos, subdivide-se em, pelo menos, dois estágios complementares: os gêneros e
os formatos” (ASSIS & MELO, 2013, p.20).
Assis & Melo (2013) situam o gênero jornalístico no grupo secundário, isto é,
aqueles que são mediados – em contraponto aos gêneros primários, que são os imediatos –, no
caso, por suportes tecnológicos (meios de comunicação), que por sua vez vão condicionar o
uso dos códigos de expressão linguística (ASSIS & MELO, 2013, p. 23-24). Para os
pesquisadores, esses “gêneros midiáticos” apresentam uma promessa de conteúdo (ou
possibilidade de conteúdo), qual seja um contrato previamente acordado entre receptor e
emissor; uma “identidade coletiva” necessária para ser reconhecida entre os interlocutores; a
relação dessa identidade com sua função explícita (compatibilização entre forma e conteúdo);
preservação de padrões culturais através dos tempos por meio de parâmetros consensuais; e
estrutura narrativa (ordenamento sequencial) previsível baseada em estereótipos. Todas essas
16
características servem para fazer o discurso jornalístico entrar em sintonia com as
expectativas da audiência, garantindo assim a manutenção da estrutura industrial midiática
(ASSIS & MELO, 2013, p. 24-25).
Quanto aos formatos dos discursos jornalísticos, eles estariam subordinados ao
seu gênero, sendo variantes destes. “Formatos”, diz McQuail (2003 apud ASSIS & MELO,
2013, p. 28), “são sub-rotinas para lidar com temas específicos dentro de um gênero”.
Subentendem regras e normas implícitas que regulam como se deve processar e apresentar o
conteúdo jornalístico da maneira mais vantajosa em relação a um determinado meio.
Admitindo um caráter funcionalista à sua perspectiva de classificação de gêneros
jornalísticos, Assis & Melo (2013) afirmam que os meios buscam atender a demandas sociais
e assim apresentam um panorama desses gêneros e suas respectivas funções: informativo
(vigilância social); opinativo (fórum de ideias); interpretativo (papel educativo, esclarecedor);
diversional (distração, lazer); e utilitário (auxílio nas tomadas de decisões cotidianas). “Essa
construção”, defendem Assis & Melo (2013, p. 32), “se dá em comum acordo com as
normatizações que estabelecem parâmetros estruturais para cada forma, os quais incluem
aspectos textuais e, também, procedimentos e particularidades relacionados ao modus
operandi de cada unidade”.
No que se refere especificamente à realidade da imprensa brasileira, Assis & Melo
(2013) apresentam a “Classificação Marques de Melo” de distribuição de formatos
jornalísticos. Considerando que a gama de unidades classificadas por eles extrapola as
necessidades para esta pesquisa, vamos reproduzir aqui apenas aquelas cuja imprensa
cearense (a partir de uma perspectiva empírica) costuma utilizar para referir-se à Justiça do
Trabalho. Assim, elencamos os formatos nota, notícia e reportagem dentro do gênero
informativo; e os formatos editorial, artigo, coluna e carta dentro do gênero opinativo (ASSIS
& MELO, 2013, p. 32-33). Conforme conferimos ao fim da coleta e classificação das
matérias, conclui-se que tal rol de formatos abrange todas as manifestações jornalísticas por
nós identificadas no âmbito da nossa pesquisa.
3.2 Teorias do Jornalismo
3.2.1 Agenda-setting
No que tange a efeitos de longo prazo da comunicação de massa, Wolf (2012, p.
138-139) destaca o caráter processual dela, ou seja, o estudo de processos cognitivos ligados à
17
exposição a mensagens cumulativas ao longo do tempo. Para nossa pesquisa, será importante
termos esse olhar para analisar a significação do discurso da imprensa sobre a Justiça do
Trabalho, pois “é a partir desse ponto de vista que a mídia desempenha uma função de
construção da realidade” (WOLF, 2012, p. 141).
Para tanto, o primeiro passo para construirmos esse aspecto de análise é
estudarmos a hipótese da agenda-setting (ou agendamento). Essa clássica teoria afirma que
existe uma tendência de as pessoas excluir ou incluir dos próprios conhecimentos aquilo que a
mídia exclui ou inclui de seu conteúdo. Segundo Shaw (1979 apud WOLF, 2012, p. 143), a
“asserção fundamental da agenda-setting é que a compreensão das pessoas em relação a
grande parte da realidade social é modificada pelos meios de comunicação de massa”. Ainda
que a imprensa não consiga dizer às pessoas o que pensar sobre um determinado tema, ela
consegue dizer sobre quais temas pensar.
A imprensa, assim, dá uma ênfase constante a determinados temas, aspectos e
problemas de modo a formar uma “moldura interpretativa” (ou frame), qual seja um esquema
de conhecimentos – nem sempre de maneira consciente – de dar sentido ao que observamos
(WOLF, 2012, p. 145-146). A hipótese da agenda-setting salienta uma dependência cognitiva
da mídia com impacto direto (mesmo que não imediato) na forma em que os destinatários
elencam os temas, argumentos e problemas na “ordem do dia” e também na hierarquia de
importância desses elementos.
Cabe aqui aprofundarmos alguns dados sobre os efeitos cognitivos de
agendamento. Wolf (2012) leva em consideração as predisposições individuais que
influenciam diretamente no resultado desses efeitos. Ainda que essa teoria sustente que a
mídia é eficaz na construção da imagem da realidade que o indivíduo estrutura para si, essa
imagem, no entanto,
é simplesmente uma metáfora representativa da totalidade de toda a informaçãosobre o mundo, que cada indivíduo tratou, organizou e acumulou – (o que) pode serpensada como um padrão em relação ao qual a informação nova é confrontada paradar-lhe o seu significado. Esse padrão inclui o quadro de referência e asnecessidades, valores, crenças e expectativas que influenciam o que o destinatárioextrai de uma situação de comunicação (WOLF, 2012, p. 152-153).
Assim, quanto menos uma pessoa tiver experiência direta em relação a um tema
qualquer, maior será a influência da mídia no indivíduo na busca por informações e por
maneiras de formar os quadros interpretativos relativos àquele assunto.
Wolf (2012) segue esmiuçando a teoria de agendamento e neste ponto chega-nos a
necessidade de apresentar o conceito de tematização, que é colocar um tema na ordem do dia
18
da atenção do público, isto é, dar-lhe atenção adequada e salientar sua centralidade e sua
representação em relação ao fluxo normal das demais informações, mesmo em relação às não
comunicadas, no intuito de, inclusive, mobilizar a opinião pública para a tomada de decisões.
Sob esse aspecto, surge-nos uma identificação imediata com o tema desta nossa pesquisa, a
Justiça trabalhista, enquanto um ramo do poder público, pois, afirma Wolf (2012, p.166) que
no processo de tematização também parece implícita outra dimensão, que está ligadanão apenas à quantidade de informações e ao tipo de conhecimentos que produzemtematização sobre um acontecimento: é a natureza pública do tema, sua relevânciasocial. Nem todo acontecimento ou problema é suscetível de tematização, apenas osque denotam alguma relevância político-social.
Ainda em se tratando de aspectos da teoria de agendamento que dizem respeito a
nosso tema de pesquisa, Wolf (2012, p. 179) enumera quatro fases do fenômeno. A primeira é
a focalização, no qual a mídia elege um acontecimento para tratá-lo em primeiro plano. A
segunda é o framing, em que o objeto focalizado será agora enquadrado numa delimitação
interpretativa específica sob a qual a cobertura orbitará. A terceira fase é a de vínculo, na qual
o objeto é ligado a um sistema simbólico, de modo a fazer parte de um panorama político-
social reconhecido. Na última fase, a do porta-voz, o tema ganha peso pela possibilidade de
personificar-se em um indivíduo.
Essa observação da divisão de etapas do agendamento de um tema será importante
na nossa pesquisa para percebermos em que fase o discurso da imprensa apresenta o tema da
Justiça do Trabalho em relação a uma determinada matéria e em especial em relação ao uso
direto ou indireto do discurso oficial da instituição por meio (ou não) de seus porta-vozes.
3.2.2 Gatekeeper e Newsmaking
Existe outra corrente de pensamento nas teorias de comunicação (não oposta à
agenda-setting, mas complementar) que também pode nos ajudar a entender por que o
discurso da imprensa sobre a Justiça do Trabalho constrói-se de determinada maneira. Trata-
se do newsmaking, uma abordagem que analisa a lógica dos processos com que é produzida a
comunicação de massa e os procedimentos de organização do trabalho que influenciam a
elaboração das notícias. “Essas determinações – muito complexas – parecem decisivas quanto
ao produto acabado” (WOLF, 2012, p.184).
Antes de prosseguirmos, é importante termos em mente o conceito de gatekeeper,
ou selecionador, termo cunhado por Kurt Lewin em 1947. Segundo ele, uma pessoa (ou grupo
social), numa situação de dinâmica interativa, pode exercer a função de “cancela” ou
19
“porteiro”, isto é, ela “tem um poder de decidir se deixa passar ou interrompe a informação”
(LEWIN, 1947 apud WOLF, 2012, p. 184).
Nos anos 50, David Manning White adapta o termo a estudos de jornalismo e
elabora a teoria de que, no processo de produção da informação, uma série de escolhas
tomadas pelos jornalistas vai decidir se uma notícia passa ou não pelo portão (gate). Traquina
(2005) afirma que, para White, o processo de seleção seria subjetivo e arbitrário e as decisões
do jornalista seriam dependentes de juízos de valor baseados em experiências, atitudes e
expectativas do gatekeeper. Traquina (2005, p. 151) aponta para uma visão limitada que essa
teoria tem sobre o jornalismo, pois “se baseia no conceito de ‘seleção’, minimizando outras
dimensões importantes do processo de produção das notícias”.
Com o desenvolvimento do termo por meio de estudos posteriores aplicados à
comunicação, que incluíram pesquisas dentro de canais organizacionais de aparatos de
informação, ou seja, empresas de jornalismo, percebeu-se que “na seleção e no filtro das
notícias, as normas ocupacionais, profissionais e organizacionais parecem mais fortes do que
as preferências pessoais” (WOLF, 2012, p. 185). Esses estudos definiram onde e em quais
pontos do aparato a filtragem é exercida explícita e institucionalmente. Superou-se qualquer
interpretação subjetiva da ação do gatekeeper para acentuar-se a ideia da seleção de notícias
dentro de um processo ordenado e elaborado em função de uma rede de feedback formada por
um grupo de referência, constituído pelos colegas de profissão (WOLF, 2012).
Segundo essa lógica, critérios como eficiência, velocidade, rotinas de produção e
o contexto profissional-organizacional-burocrático exercem uma influência decisiva nas
opções jornalísticas dos gatekeepers. Para Wolf (2012, p. 190), “as exigências de organização
e de estrutura e as características técnico-expressivas, próprias de cada meio de comunicação
de massa, são elementos cruciais para determinar a representação da realidade social
fornecida pela mídia”.
Ainda discorrendo sobre newsmaking, Wolf (2012) destaca o conceito de
noticiabilidade, ligado intrinsecamente a critérios de relevância que são atribuídos a fatos para
avaliar se eles merecem ou não ser tratados como notícias. Isso porque o mundo é repleto de
acontecimentos e cabe ao aparato de informação selecionar quais deles são eventos
noticiáveis e não uma sucessão casual de coisas. Nesse sentido, os aparatos de informação
devem saber reconhecer tais eventos e conseguir organizar os métodos de trabalho temporal e
espacialmente (TUCHMAN, 1977 apud WOLF, 2012). A noticiabilidade, conforme apregoa
Wolf (2012, p. 196),
20
corresponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais osaparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de umnúmero imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita etendencialmente estável de notícias. Sendo assim, a noticiabilidade estáestreitamente ligada aos processos que padronizam e tornam rotineiras as práticas deprodução.
Dessa forma, o produto informativo final vai ser a consequência de uma cadeia de
negociações, realizadas pelos jornalistas em razão de fatores com graus distintos de
importância e de rigor, tomadas de maneira pragmática em fases variadas do processo de
produção (WOLF, 2012).
Dentro do conceito de noticiabilidade, encontram-se os de valores/notícias,
definidas por Wolf (2012, p. 202) como os componentes que “representam a resposta à
seguinte pergunta: quais acontecimentos são considerados suficientemente interessantes,
significativos, relevantes, para serem transformados em notícias?”. Os valores/notícias podem
ser considerados regras práticas, implícitas ou não, que conduzem a escolha dos fatos
noticiáveis nos procedimentos redacionais.
Por terem uma classificação extensa e estarem relacionados à fase de produção
das notícias, os critérios de noticiabilidade não serão detalhados aqui, uma vez que nossa
pesquisa detém-se a analisar matérias já produzidas e veiculadas.
No entanto, ainda existem alguns aspectos do newsmaking que atraem nossa
atenção em relação ao objeto de nossa pesquisa. Esses aspectos dizem respeito às rotinas de
produção, cujos elementos principais estão relacionados à escassez substancial de tempo e de
meios e que incidem na qualidade da informação (WOLF, 2012).
São três as etapas mapeadas entre essas rotinas de produção. Na primeira delas, a
coleta, analisam-se quais fatores colaboram para que uma informação chegue ao
conhecimento de um jornalista, isto é, que fontes de informações esses profissionais buscam
para produzir seu trabalho. Diz Wolf (2012, p. 229) que os
estudos de newsmaking colocam em evidência como uma das causas da já citadafragmentação e super-representação da esfera político-institucional na informação demassa encontra-se nos procedimentos rotineiros de coleta dos materiais, de onde setiram as notícias. Na enorme maioria dos casos, trata-se de materiais produzidos emoutro lugar, que a redação se limita a receber e a reestruturar em conformidade comos valores/notícia relativos ao produto, ao formato e ao meio.
Wolf (2012) destaca, também, o papel das fontes institucionais nesse processo.
Elas acabam sendo privilegiadas como canais de coleta por satisfazerem exigências
(racionalização de trabalhos, redução de custos, redução de tempo, fidedignidade,
oficialização etc.) que as empresas jornalísticas têm de ter para manter um fluxo constante e
21
seguro de notícias, a fim de conseguir confeccionar o produto informativo exigido. A
importância dessas fontes é tal que se reflete ainda na quantidade e na natureza das notícias.
Para Wolf (2012, p. 232), ainda, a “natureza regular, planificada e repetitiva desse
tipo de canais e de modalidades de coleta das informações e, sobretudo, o caráter
insubstituível das fontes institucionais caracterizam profundamente o tipo de cobertura
informativa”. Wolf (2012) diz que existe um fator determinante no interesse dos jornalistas
pela fonte institucional: a sua capacidade de fornecer informações fidedignas. Organizações
podem programar sua atividade a fim de satisfazer a necessidade contínua da mídia de ter
eventos para cobrir em prazos pré-estabelecidos. Por isso, as fontes institucionais prevalecem
no jornalismo: elas “fornecem os materiais suficientes para confeccionar as notícias,
permitindo, assim, aos aparatos que não precisem mais se dirigir a muitas fontes para obter os
dados ou os elementos necessários” (WOLF, 2012, p. 236).
Quanto à fidedignidade das fontes, Wolf (2012) afirma que no problema da
atribuição de uma afirmação explicitamente citada em uma notícia, as fontes institucionais,
por serem estáveis, acabam assumindo uma fidedignidade adquirida com o tempo e tornada
rotineira.
Assim, na nossa pesquisa, esses aspectos têm bastante relevância quando
identificamos a presença do discurso da fonte institucional da Justiça do Trabalho nas notícias
analisadas.
A segunda e a terceira etapas na rotina de produção são a seleção e a apresentação
(edição) das notícias. Conscientes que os procedimentos empregados em tais etapas também
são racionalizados para reforçar as necessidades de organização dos trabalhos, em prol de
torná-los rotineiros, entretanto, elas não contemplam diretamente os objetivos desta pesquisa,
motivo pelo qual não nos debruçaremos sobre elas.
3.3 Comunicação Pública e relacionamento com a mídia
Para atingirmos nosso objetivo de compreender de que forma a Justiça do
Trabalho cearense está representada na imprensa local, é necessário entendermos, também, os
motivos que levam uma instituição a desejar figurar na mídia e com quais razões e objetivos.
Para isso, abordaremos agora conceitos de Comunicação Pública e relacionamento com a
mídia (assessoria de imprensa).
22
No que diz respeito ao tema “comunicação pública”, não existe consenso na
pesquisa para conceituarmos o termo de maneira resolutiva, provavelmente devido ao caráter
ainda recente de seus campos de estudo na Comunicação Social. Segundo Brandão (2009), a
definição de comunicação pública é bem larga e tem fronteiras embaçadas por conceitos
correlatos, contextos múltiplos e interpretações que variam de acordo com o país em que é
empregada ou com o autor que a estuda.
No entanto, dentro do que Brandão (2009) pesquisou, a expressão abarca pelo
menos cinco concepções distintas, que relacionam comunicação pública com a) comunicação
organizacional; b) comunicação científica; c) comunicação estatal ou governamental; d)
comunicação política; e e) comunicação da sociedade civil organizada.
Ainda de acordo com Brandão (2009, p. 4), a comunicação governamental “é uma
dimensão da comunicação pública que entende ser de responsabilidade do Estado e do
Governo estabelecer um fluxo informativo e comunicativo com seus cidadãos”.
Diante das diversas acepções do termo, cabe nesta pesquisa nos remeter àquela
que melhor se enquadra nas observações de que tratam nosso estudo. Considerando que a
Justiça do Trabalho do Ceará se relaciona com a imprensa para estabelecer um canal de
comunicação dirigido ao cidadão, fica claro que a melhor definição para nossa análise é
aquela que diz que comunicação pública é uma comunicação governamental.
Haswani (2013) concorda que a definição de comunicação pública ainda está em
construção, devido à complexidade do assunto e de sua juventude. Parte disso deve-se à
amplitude do termo “público”. Buscando raízes em aspectos históricos para entender a
questão, Haswani (2013, p. 13) afirma que
a partir da vitória da burguesia sobre os Estados absolutistas, firmaram-se osobjetivos desse novo público de mediar a relação entre Estado e sociedade, fazendocom que o Estado prestasse à sociedade contas do que realizava, por meio dapublicidade disponível.
Haswani (2013, p. 101-102) mostra ainda que muitos autores abordam a
comunicação pública nos “aspectos das relações entre governos e mídia e seus reflexos em
contextos como cidadania, opinião pública e participação política”. Sob essa perspectiva e
embasada nos estudos de Wolton, Haswani (2013, p. 103) traz à tona que a comunicação
“constitui um lugar para o intercâmbio de discussões conflitantes entre três personagens
23
principais, todos indumentados de legitimidade: líderes políticos; jornalistas; opinião
pública”.
Muitos são os autores que Haswani (2013) utiliza para tentar chegar a um
conceito de comunicação pública. A partir de Faccioli, Haswani (2013, p. 120) diz que esse
modelo de comunicação é aquele
destinado ao cidadão em sua veste de coletividade e conota-se, em primeirainstância, como ‘comunicação de serviço’ que o Estado (...) ativa, com o objetivo degarantir a implantação do direito à informação, à transparência, ao acesso e àparticipação na definição das políticas públicas e, assim, com a finalidade de realizaruma ampliação dos espaços de democracia.
Haswani (2013) recorre também a outro pesquisador para propor uma delimitação
ao gênero da comunicação pública, sob três dimensões: os promotores/emissores, a finalidade
e o objeto. Segundo Mancini (apud HASWANI, 2013), a comunicação pública incluiria a
comunicação de entes governamentais cujo objetivo é a atuação sistemática em um campo de
interesses exclusivamente não-privados, isto é, de funções socialmente relevantes e que não
visam ao lucro. Considerando que a comunicação da instituição pública é um dos âmbitos
centrais da comunicação pública, Mancini (apud HASWANI, 2013, p. 130) a descreve como
aquela proveniente das instituições públicas de fato e consideradas pelo objeto dasua atividade. Caracterizam especificamente essa tipologia a comunicaçãoinstitucional (destinada a promover a imagem das instituições) e a comunicaçãonormativa (que veicula as informações sobre as atividades decisórias).
Comungando de mesmo pensamento, Faccioli (apud HASWANI, 2013) lembra
que a comunicação institucional atende a duas demandas: informar os cidadãos sobre seus
direitos e promover as transformações organizacionais, em especial as que tenham impacto
nos serviços prestados à população. Quanto à comunicação normativa, é a modalidade que
pressupõe o dever do Estado de tornar públicas as leis, normas e decretos, além de divulgá-
los, explicá-los e dar instruções pertinentes ao seu uso. Faccioli (2000 apud HASWANI,
2013, p. 134) a considera como sendo a base da comunicação pública “à medida que o
conhecimento e a compreensão das leis é a pré-condição de cada possível relação consciente
entre entes públicos e cidadãos”. Haswani (2013) complementa que a finalidade da
comunicação normativa é levar a informação da lei ao cidadão por meios mais eficazes que a
simples publicação dela num diário oficial, por exemplo, de maneira acessível, clara e
compreensível.
24
Nesse esteio, para Haswani (2013), é obrigação dos organismos estatais
estabelecer com a imprensa um relacionamento para divulgação de informações. Ou seja, a
imprensa é um dos públicos-alvo da comunicação estatal. Assim, diz Haswani (2013, p. 97), a
atividade “de grande credibilidade perante a população, no Brasil, a imprensa tem assumido
cotidianamente o papel de disseminar informações que garantem direitos fundamentais, que
constituem, em tese, dever do Estado”.
Para atingir esse fim, é imprescindível esboçarmos um modelo de diálogo de uma
instituição com a imprensa. Molleda (2011) propõe um marco teórico sobre o assunto baseado
em três vertentes: a teoria do enquadramento; o fornecimento de subsídios informativos por
parte da instituição; e a teoria da agenda-setting. Embora o pesquisador não trate
especificamente de órgãos públicos, esse modelo é sugerido aqui por contemplar um processo
ativo no qual os profissionais de relações públicas (ou assessores de imprensa) podem ter um
controle mínimo sobre as mensagens institucionais que pretendem alcançar um público
específico por meio da imprensa.
A teoria do enquadramento (framing), já abordada preliminarmente neste
trabalho, afirma que existe um esquema de interpretação por meio do qual os indivíduos
organizam informação, de modo a construir simbolicamente uma estrutura de sentido
(MOLLEDA, 2011). Entman (1993 apud MOLLEDA, 2011, p. 149-150) diz que
os enquadramentos selecionam e focam a atenção sobre aspectos particulares darealidade descrita, o que significa logicamente que simultaneamente osenquadramentos desviam a atenção a outros aspectos. (...) O texto contémenquadramentos que se manifestam pela presença ou ausência de certas palavras-chave, frases memoráveis, imagens estereotipadas, fontes de informação e oraçõesque proveem grupos de dados ou juízos reforçados tematicamente.
Molleda (2011) afirma ainda que enquadrar é um aspecto central na construção da
realidade social e a imprensa afeta a maneira como são enquadrados os assuntos por meio de
decisões que vão desde escolhas textuais até a definição das fontes, caracterizando uma
estratégia de construção do discurso noticioso ou mesmo um atributo do próprio discurso.
Quanto ao fornecimento de subsídios informativos, Molleda (2011) assim
denomina o hábito sistemático de as assessorias de imprensa produzirem conteúdos noticiosos
“pré-empacotados” para subsidiar e facilitar a cobertura jornalística sobre um tema de
interesse da instituição, como é o caso do envio de press releases para as redações dos
veículos, por exemplo.
25
Considerando as características da teoria do agendamento, já abordada no tópico
das teorias do jornalismo, cabe-nos apresentar a interconexão entre os três conceitos para um
modelo teórico de diálogo com a imprensa, sobre o qual podemos concluir que, conforme
Molleda (2011, p. 156), “o enquadramento e os subsídios da informação são apenas
ferramentas que os profissionais de relações com a imprensa podem usar para participar no
processo de construção da agenda da imprensa”.
Sob esse mesmo aspecto de vincular o interesse da comunicação organizacional
com os da imprensa, Monteiro (2011) propõe uma análise da construção da notícia
institucional. Apesar de também não se referir exclusivamente a instituições públicas,
Monteiro (2011, p. 116) afirma que “mediante a promoção de acontecimentos e a produção de
notícias para serem divulgadas pela mídia, as instituições inserem-se no espaço público,
construindo não apenas uma representação de si mesma (...), como também a realidade do
campo em que atuam”.
Monteiro (2011) diz ainda que a divulgação das instituições na mídia tem caráter
intencional e negociado, que evidencia o que a instituição considera importante e necessário
para ganhar estatuto de notícia e consequente existência pública.
Um aspecto dessa negociação é que quando os promotores de notícia são fontes
institucionais e credíveis, a imprensa passa a ser dependente dos assuntos noticiosos
fornecidos por essas fontes. Ao nosso entendimento, é o que ocorre com as fontes
provenientes da Justiça do Trabalho, pois, afirma Monteiro (2011, p.120),
em alguns casos, como nas instituições voltadas para (...) atividade (que) envolveconhecimento jurídico ou científico, por exemplo, aos requisitos exigidos de umafonte institucional – afirmações ‘objetivas’, ‘autorizadas’, ‘dignas de crédito’ – estáagregada sua condição de ‘perito’ ou ‘autoridade’ no assunto. Nesses casos, pesamais a atividade desenvolvida do que a posição da fonte ou seu poder derepresentação.
Munidos do arcabouço teórico que julgamos minimamente necessário para
atingirmos nosso objetivo de analisar a maneira como é representada a Justiça do Trabalho do
Ceará no discurso da imprensa local, passemos então ao detalhamento das notícias
pesquisadas no capítulo que segue.
26
4 ANÁLISE
Nossa pesquisa aborda a representação da Justiça do Trabalho do Ceará nas
matérias veiculadas nos jornais O Povo e Diário do Nordeste no período de junho de 2012 a
junho de 2014, por meio de discursos enunciativos. Tal intervalo de tempo corresponde à
gestão diretiva do órgão precedente à que está em vigor. Consideramos que este recorte
vinculado à individualização de um período administrativo marcado por um início e um fim
claros contribui positivamente para a análise do nosso objeto. Isso porque acreditamos que em
uma organização desse porte, o perfil do gestor pode influenciar fundamentalmente a postura
que a instituição terá em relação à imprensa e vice-versa.
A coleta de notícias pelo procedimento de clipping iniciou-se com matérias do dia
15 de junho de 2012, data subsequente à cerimônia de posse da então presidente Roseli
Alencar, e encerrou-se em 13 de junho de 2014, data em que a magistrada passou a
presidência para novo desembargador. O critério para coletar as matérias foi a mera citação à
Justiça do Trabalho cearense, ainda que indiretamente em relação ao tema principal do texto,
seja por meio da menção nominal de sua sede, o Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região,
suas variantes de grafia (TRT da 7ª Região; TRT do Ceará; TRT/CE; TRT7), menção de suas
unidades de primeira instância (fóruns e varas do trabalho), ou simplesmente pela nominação
genérica dos termos Justiça trabalhista, Justiça do Trabalho ou apenas Justiça, contanto que se
referisse a assuntos dentro de sua jurisdição, a saber, o estado do Ceará e seus municípios, e
dentro de sua área de atuação, isto é, disputas envolvendo relação de trabalho. Assim, nossa
coleta totalizou 255 citações, demonstradas no Anexo A.
Esse conjunto de matérias foi classificado segundo a “Classificação Marques de
Melo” (ASSIS & MELO, 2013) e dividido entre os gêneros identificados como informativo
ou opinativo. Quanto aos formatos encontrados, estão dentro do gênero informativo a notícia,
a nota e a reportagem. Já dentro do gênero opinativo foram identificados os formatos coluna,
artigo, carta e editorial. Como detalhamento dessa análise quantitativa, dividimos e
totalizamos o número de matérias por veículo, por gênero e cruzando essas duas categorias
(gêneros por veículos), conforme demonstra o quadro 1.
27
Quadro 1: Total de matérias coletadas por categorias: veículos, gêneros e gêneros x veículos
Categorias Total
Diário do Nordeste 137
O Povo 118
total 255
gênero informativo 149
gênero opinativo 106
total 255
Diário do Nordeste - informativo 80
Diário do Nordeste - opinativo 57
O Povo - informativo 69
O Povo - opinativo 49
total 255
Pela observação do quadro 1, inferimos que o jornal Diário do Nordeste falou
mais vezes sobre a Justiça do Trabalho cearense no período, pois apresenta 137 matérias sobre
o assunto, contra 118 do jornal O Povo. É uma diferença de 19 matérias, o que representa uma
média de cerca de 0,8 matéria a mais por mês, considerando o período dos 24 meses do nosso
recorte.
Observamos também pelo quadro 1 que o gênero informativo é predominante,
pois foi identificado em 149 matérias do conjunto, contra 106 do gênero opinativo. É uma
diferença de 43 matérias, o que significa que o gênero informativo aparece aproximadamente
40% mais vezes que o gênero opinativo no período do recorte. Essa proporção percentual da
diferença entre os gêneros é observada rigorosamente igual, também, quando relacionamos a
manifestação do gênero com cada um dos veículos.
A partir daqui, partiremos à abordagem qualitativa das matérias, isto é, a análise
do discurso propriamente dita. Conforme mencionado antes, há limitações espaciais e
temporais nesta pesquisa que nos impedem de analisar o discurso de todos os textos
coletados. Assim, propusemos esse olhar investigativo a um escopo reduzido do conjunto,
com o intuito de que essa amostragem possa subsidiar considerações conclusivas sobre o tema
proposto.
Desse modo, serão analisadas matérias em que a atividade da Justiça do Trabalho
cearense tem relação direta com a pauta, sendo quatro matérias com temática administrativa
e/ou institucional e quatro com temática jurídica trabalhista, totalizando oito matérias, quatro
de cada veículo. Dessas, seis são apresentadas aos pares, pois discorrem sobre a mesma pauta
em ambos os jornais, portanto versam sobre três assuntos distintos. Apenas duas – uma de
cada veículo – são pautas que não foram cobertas pelo veículo concorrente. Quatro matérias
28
são do ano de 2012, duas de 2013 e mais duas de 2014. A ideia da seleção das matérias é
descrever os discursos dos dois veículos comparativamente (daí a prevalência de pautas aos
pares) e distribuir os temas no decurso do tempo: começo, meio e fim da gestão 2012/2014. O
rol das matérias selecionadas para análise está demonstrado no quadro 2.
Quadro 2: Notícias selecionadas para análise qualitativa
DATA TÍTULO DA MATÉRIA JORNAL EDITORIA GÊNERO FORMATO
15/06/2012 Roseli Alencar assume TRT/CE DN Cidade informativo notícia
15/06/2012 TRT empossa nova diretoria no Ceará OP Política informativo notícia
23/06/2012 MP convoca grevistas e empresas para reunião hojepela manhã
DN Cidade informativo notícia
23/06/2012 Julgamento de pedido de abusividade fica para o dia28
OP Fortaleza informativo notícia
12/07/2013CNJ rejeita sorteio para definição de ocupante devaga OP Política informativo notícia
24/08/2013 TRT faz mutirão para quitar dívida DN Negócios informativo notícia
07/02/2014 Leão sofre derrota fora dos gramados DN Jogada informativo notícia
07/02/2014 TRT condena clube por burlar leis do trabalho OP Esportes informativo notícia
A escolha das matérias seguiu um critério importante: ser do gênero informativo.
Esse recorte vai ao encontro dos elementos da análise do discurso que elegemos
contextualizar teoricamente, a saber, o uso de citações com discursos diretos e indiretos, uma
vez que consideramos suficientes para atingirmos o objetivo da pesquisa. Assim, as matérias
do gênero opinativo, por trazerem enunciados subjetivos, uso de primeira pessoa etc., incluem
aspectos do discurso que vão além do que desejamos investigar, por isso não foram
contempladas dentro do recorte de análise. Já entre os formatos, as notícias foram
privilegiadas em detrimento das notas, pois oferecem maior conteúdo textual para dar corpo à
análise. A única reportagem encontrada na coleta foi descartada da análise qualitativa porque
a Justiça trabalhista cearense era citada indiretamente em relação à pauta, tornando o tema do
texto pouco interessante para os pressupostos desta pesquisa.
4.1 Posse da nova presidência do TRT-CE
Iniciaremos nossa análise com a pauta da posse da então presidência da Justiça do
Trabalho cearense, na matéria veiculada no Diário do Nordeste do dia 15 de junho de 2012,
na editoria Cidade.
Retranca: Nova gestãoTítulo: Roseli Alencar assume TRT-CE
29
Sem “utopias”, enfatizando o desejo de tornar a Justiça do Trabalho mais eficiente e próxima ao cidadão, a desembargadora Maria Roseli Alencar foi empossada, nanoite de ontem, na presidência do Tribunal Regional do Trabalho – 7ª Região (TRT-7). “Estamos entrando numa nova fase do judiciário trabalhista, que envolve umaqueda de paradigmas”, destacou.Como vice-presidente do TRT, tomou posse o desembargador Francisco TarcísioGuedes. Os empossados irão administrar o Tribunal até 2014.A continuidade da luta pela instalação de duas novas varas do trabalho até o fim doano e a implantação de um célere processo judicial eletrônico estiveram no centro dodiscurso da nova presidente do TRT. “Nós estamos trabalhando previamente nacapacitação dos magistrados e na preparação da infraestrutura para a prioridade danossa administração, que é o processo judicial eletrônico”, explicou a recém-empossada.Eleita por unanimidade, a desembargadora terá sob sua responsabilidade um tribunalcom 29 Varas do Trabalho em funcionamento em 13 municípios e autorização parainstalar mais oito. Juntas, as unidades judiciárias de primeira instância recebem, porano, uma média de 45 mil novas reclamações trabalhistas para solucionar.
A matéria inicia-se com uma descrição de uma enunciação citada indiretamente
pela desembargadora seguida de uma citação direta marcada tipograficamente por aspas e
pelo verbo indicador de enunciação “destacou”, no final do primeiro parágrafo. A palavra
“utopias” entre aspas caracteriza o que Maingueneau chama de ilha textual
(MAINGUENEAU, 2013, p. 193), recurso utilizado para que, durante o discurso indireto, a
enunciação citante possa utilizar palavras atribuídas ao discurso direto. Assim, subentende-se
que a palavra “utopias” foi utilizada por Roseli Alencar.
A estrutura de descrever uma enunciação citada indiretamente seguida por uma
citação direta é repetida no terceiro parágrafo. Na primeira frase, a citação indireta fica clara
quando a enunciação atribui seu texto ao “discurso da nova presidente do TRT”. Na
sequência, a citação direta é marcada novamente pelas aspas e pelo verbo indicador de
enunciação “explicou”.
No último parágrafo, não há embreantes que identifiquem o produtor do discurso,
recurso utilizado para conceder efeito de veracidade ao enunciado (MAINGUENEAU, 2013,
p. 157).
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, temos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas três categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo, como nos
parágrafos um e dois); evenemencial (pois há reconstituição de fatos narrados, como no
parágrafo três); e explicativa (pois no quarto parágrafo há a contextualização informativa que
ajuda a explicar a situação do acontecimento, no caso, o fato de a desembargadora tomar a
frente de um órgão público).
Quanto ao tipo de informador utilizado, podemos identificar na fonte utilizada a
categoria da notoriedade (CHARAUDEAU, 2006, p. 52), uma vez que se encontra na matéria
30
apenas a voz da presidente eleita, a chefe de uma instituição pública, ainda que ela utilize
predominantemente o pronome pessoal “nós” e o pronome possessivo “nosso”, numa clara
intenção de designar não uma soma de pessoas, mas um sujeito coletivo (MAINGUENEAU,
2013), no caso, a Justiça do Trabalho cearense.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela matéria
(CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando estão
designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (parágrafos um, dois e quatro); e a
forma da verossimilhança, quando é reconstituído (com enunciações indireta e direta) o
discurso de posse da presidente (parágrafo três).
Na sequência, analisemos a matéria veiculada no O Povo, em mesma data (16 de
junho de 2012), na editoria Política, que trata da mesma pauta.
Retranca: JustiçaTítulo: TRT empossa nova diretoria no CearáO Tribunal Regional do Trabalho (TRT) no Ceará (7ª Região) deu posse ontem ànova diretoria da Corte, em solenidade marcada pela festividade, mas também porcobranças e críticas do Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho e daAssociação dos Magistrados do Trabalho.Em discurso durante o evento, as duas entidades lembraram a nova presidente do TRT, desembargadora Maria Roseli Mendes Alencar, as demandas da Corte, como ainstalação de duas novas varas trabalhistas em Fortaleza e pelo menos cinco nointerior do Estado, além do reajuste salarial das categorias.A presidente afirmou, durante entrevista, que a criação das varas já foi aprovada porlei e que, agora, é preciso aguardar a instalação do Processo Judicial Eletrônico. Adesembargadora afirmou que a metodologia deverá começar ainda este ano.Além de Roseli Alencar, também tomaram posse ontem os desembargadoresFrancisco Tarcísio Guedes Lima Verde Júnior e Maria José Girão, novos vice-presidente e corregedora da Corte, respectivamente.
Diferentemente da maneira em que a pauta foi abordada no Diário do Nordeste, na
qual só observamos o discurso da instituição, na matéria do O Povo, já no primeiro parágrafo,
são introduzidos novos atores no contexto, o Sindicato dos Servidores e a Associação dos
Magistrados, o que vai marcar o texto pela polifonia (MAINGUENEAU, 2013, p. 163). A
presença dessas novas vozes ao discurso será em caráter de antagonismo, explícito no jogo de
contrapeso das palavras “festividade” com “cobranças” e “críticas”, no trecho “solenidade
marcada pela festividade, mas também por cobranças e críticas”.
No segundo parágrafo, a matéria ignora a voz da instituição que dá tema à pauta e
oferta destaque exclusivo para uma enunciação em discurso indireto produzido pelas duas
entidades que realizaram a “cobrança”. Tomando o fato apontado por Maingueneau (2013, p.
31
183) de que o uso do discurso direto provoca um maior distanciamento do jornalista, aqui, a
opção do jornal em utilizar o discurso indireto sugere que seu discurso adere ao enunciado
reproduzido. O verbo de enunciação escolhido – “lembraram” – claramente não foi aplicado
de forma neutra, mas com uma carga de cobrança para o não esquecimento das demandas
pleiteadas pelas entidades produtoras do discurso.
Somente no terceiro parágrafo é ouvida a voz da Justiça do Trabalho, em uma
enunciação em discurso indireto, personificada na figura da presidente, em um tom defensivo,
como forma de responder às demandas cobradas.
No último parágrafo, é empregado o recurso de apagamento de embreantes de
pessoas, cuja intenção é conceder efeito de veracidade ao enunciado (MAINGUENEAU,
2013, p. 157).
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, temos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) em duas categorias:
existencial (no primeiro parágrafo, pois existem formas discursivas descritivas num contexto
informativo); e evenemencial (em todo o texto, pois há reconstituição de fatos narrados).
O tipo de informador utilizado pelo jornal O Povo na matéria foi da categoria do
informador plural, pois o texto abre espaço para discursos distintos, cujas “opiniões contrárias
(...) devem permitir ao sujeito que se informa construir sua própria verdade consensual”
(CHARAUDEAU, 2006, p. 53).
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas como evidentes (notadamente nos
parágrafos um, três e quatro), mas também deixa transparecer, no segundo parágrafo, um
engajamento explícito com distanciamento, quando permite o uso de discurso indireto das
cobranças do Sindicato dos Servidores e da Associação de Magistrados em contrapeso ao
discurso da presidente eleita.
Finalmente, quanto aos tipos de provas de veracidade das informações
(CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56) passadas pela matéria do jornal O Povo, apontamos as
mesmas formas encontradas na matéria do Diário do Nordeste: a autenticidade, quando estão
designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (em todo o texto); e a
verossimilhança, quando são reconstituídos (por enunciações indiretas) os discursos das
instituições presentes (parágrafos dois e três).
O motivo de agendamento desse assunto nos jornais Diário do Nordeste e O Povo
é claro: conforme o conceito de tematização (WOLF, 2012, p. 166), é colocado o tema na
ordem do dia para dar-lhe atenção adequada e salientar sua centralidade e sua representação
32
em relação com a natureza pública do assunto e sua relevância social. Pode-se dizer que,
dentro do contexto de uma ordem natural de sucessão de gestores dentro da Justiça do
Trabalho, o tema da posse de uma presidente em específico estaria na fase chamada de
vínculo (WOLF, 2012, p. 179), uma vez que o fato é ligado a um sistema simbólico, de modo
a fazer parte de um panorama político-social reconhecido.
Da mesma maneira, o agendamento desse assunto na imprensa, para a Justiça do
Trabalho cearense, faz parte da construção de uma comunicação pública do tipo institucional,
que atende a duas demandas: informar os cidadãos sobre os objetivos e as metas da nova
gestão; e promover as transformações organizacionais que podem influir nos serviços
prestados à população (HASWANI, 2013). Para a Justiça do Trabalho cearense, esse aspecto
é ainda maior na abordagem da pauta pelo Diário do Nordeste, uma vez que o protagonismo
de seu representante máximo (a presidente) está presente por meio de discurso predominante
no texto.
Já na abordagem da pauta no O Povo, no que pese a presença de vozes diferentes
no mesmo texto, o interesse da comunicação organizacional da Justiça do Trabalho de Ceará é
evidente ao promover um acontecimento público que ajuda a construir a representação de si
mesma e do campo em que atua (MONTEIRO, 2011).
4.2 Greve de motoristas e cobradores de ônibus
Comecemos a análise desta pauta na matéria veiculada no O Povo do dia 23 de
junho de 2012, na editoria Fortaleza. Ela trata dos desdobramentos da greve de motoristas e
cobradores de ônibus na capital cearense, que se instaurara dias antes.
Retranca: Antecipação NegadaTítulo: Julgamento de pedido de abusividade fica para o dia 28Caberá ao colegiado de desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da 7ªRegião (TRT-7) decidir se a greve de motoristas, cobradores, fiscais e profissionaisde serviços gerais é abusiva.Na tarde de ontem, a presidente do órgão, desembargadora Roseli Alencar, negou opedido do Sindiônibus para a paralisação ser considerada ilegal por meio de tutelaantecipada.Para ela, deferir a solicitação patronal seria “grave ofensa ao devido processo legal”pelo fato de ferir o direito ao contraditório e à ampla defesa do sindicato dostrabalhadores.Por conta disso, Roseli ponderou que a matéria deveria ser votada pelo pleno do TRT-7 na próxima quinta-feira, 28, quando também o órgão tentará mediar umaconciliação entre patrões e empregados. Caso isto não seja possível, inicia-se oprocesso de dissídio coletivo (onde será decidido o percentual de reajuste salarial eoutras cláusulas econômicas e sociais debatidas na convenção coletiva).
33
Em nota, o presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, disse que a entidade“continuará empreendendo esforços junto com as empresas associadas para cumprircom o seu papel de transportar a população de Fortaleza”.
Para dar o efeito de veracidade e objetividade ao enunciado, nos primeiro e
segundo parágrafos são apagados os embreantes de pessoas (MAINGUENEAU, 2013, p.
157). O fato do julgamento é dado como evidente e irrefutável.
No terceiro parágrafo é empregada uma enunciação em discurso indireto,
atribuído à presidente do órgão. Para isso, são utilizados alguns recursos, como a modalização
com a preposição “para”, a modalização do verbo ser no futuro do pretérito (em “seria”), e a
ocorrência da ilha textual “grave ofensa ao devido processo legal”, ou seja, recurso que,
segundo Maingueneau (2013, p. 193), permite ao discurso indireto utilizar enunciados
atribuídos ao discurso direto. Assim, subentende-se que o trecho do texto entre aspas, ainda
que sintaticamente encaixado no discurso indireto, foi proferido diretamente pela presidente
do TRT/CE.
No quarto parágrafo, o discurso indireto é utilizado mais uma vez. Para tal, são
utilizados o verbo de enunciação “ponderou” e o verbo dever modalizado no futuro do
pretérito (em “deveria”). Aqui, a opção do jornal em utilizar o discurso indireto em vez do
direto permite à sua enunciação transparecer uma aproximação com o discurso citado, pois,
conforme Maingueneau (2013, p. 183), o uso do discurso direto provocaria um maior
distanciamento do jornalista. O verbo de enunciação escolhido – “ponderou” – conota um
julgamento com cautela, o que nos permite influir que o jornal O Povo concordou com a
postura da magistrada.
Outra voz no discurso aparece no quinto parágrafo, quando é utilizada uma
enunciação em discurso direto para apresentar uma declaração do sindicato patronal, que
estaria interessado no julgamento que fora negado. Aqui, o recurso textual que marca o
discurso direto são as aspas.
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, temos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas três categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo nos
parágrafos um e dois); evenemencial (pois há reconstituição de fatos narrados nos parágrafos
três, quatro e cinco); e explicativa [pois na segunda frase do quarto parágrafo há a
contextualização informativa que ajuda a explicar a situação do acontecimento: “Caso isto
não seja possível, inicia-se o processo de dissídio coletivo (onde será decidido o percentual de
reajuste salarial e outras cláusulas econômicas e sociais debatidas na convenção coletiva)”].
34
O tipo de informador utilizado pelo jornal O Povo na matéria foi da categoria do
informador plural, pois o texto abre espaço para discursos distintos (do TRT/CE e do
Sindiônibus), cujas “opiniões contrárias (...) devem permitir ao sujeito que se informa
construir sua própria verdade consensual” (CHARAUDEAU, 2006, p. 53). O informador que
representa a Justiça do Trabalho pode ser classificado ainda do tipo notoriedade
(CHARAUDEAU, 2006, p. 52), uma vez que o discurso da desembargadora é o único
autorizado a pronunciar-se sobre o julgamento específico.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Já quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela
matéria (CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando
estão designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (parágrafo um); e a forma da
verossimilhança, quando são reconstituídos (com enunciações indiretas e direta) os discursos
sobre o julgamento do pedido (parágrafos dois, três e quatro) e o discurso da declaração do
sindicato patronal (parágrafo cinco).
Passemos agora ao texto do Diário do Nordeste que trata da mesma pauta,
veiculado em data igual, 23 de junho de 2012, na editoria Cidade. Ela também trata dos
desdobramentos da greve de motoristas e cobradores de ônibus na capital cearense.
Retranca: Diálogo sobre impasseTítulo: MP convoca grevistas e empresas para reunião hoje pela manhãLinha fina: Desembargadora do TRT negou pedido para que a paralisação dosmotoristas fosse considerada abusivaNo terceiro dia de greve de motoristas e cobradores, os sindicatos dos Trabalhadoresem Transportes Rodoviários no Estado do Ceará (Sintro) e das Empresas deTransporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) foram convocados peloMinistério Público, por meio da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT – 7ªRegião-CE), para uma reunião, hoje, às 10h30, na sede do órgão.No encontro, os sindicalistas representantes da classe patronal e laboral vão serouvidos pelo procurador Francisco Gérson Marques de Lima sobre as negociaçõesque já realizaram e propostas serão discutidas. O procurador vai se fundamentar paratrabalhar no ajuizamento do dissídio coletivo da categoria. Gérson Marques poderá,posteriormente, apresentar uma sugestão de acordo que venha acabar com oimpasse.AbusividadeAlém disso, a presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT/CE), desembargadora Roseli Alencar, negou, ontem, em despacho, o pedido feito peloSindiônibus para que a greve fosse considerada abusiva. Também de acordo com odocumento, a decisão sobre a legalidade ou não da greve deve ser tomada pelocolegiado de desembargadores do TRT/CE.Com isso, esse processo foi anexado àquele em que será decidido o percentual dereajuste salarial e outras cláusulas econômicas e sociais debatidas na convençãocoletiva. A audiência está marcada para a próxima quinta-feira, dia 28 de junho.O Sindiônibus informou, em nota, que a desembargadora negou somente aantecipação de tutela, deixando "a decisão sobre a legalidade ou não para o
35
colegiado de desembargadores". Por sua vez, o Sintro afirmou só se pronunciarsobre o assunto após reunião da diretoria da entidade.PrejuízosO Sindiônibus informou, também ontem, que os prejuízos gerados pela greve dosmotoristas e cobradores de ônibus de Fortaleza já somam R$ 2,8 milhões.Ainda de acordo com o sindicato patronal, as despesas com depredações somam R$450 mil e, com a arrecadação, R$ 2,4 milhões.A paralisação, ontem, na cidade, constou de ações rápidas de abandonos de veículosdurante percursos.Nas avenidas de grande fluxo de coletivos, como Bezerra de Menezes, DomingosOlímpio, Duque de Caxias, Tristão Gonçalves, Imperador, da Universidade e nasruas Meton de Alencar, General Clarindo de Queiroz, Antônio Pompeu e 24 deMaio, os transtornos ficaram por conta do congestionamento devido à obstruçãodessas vias por mais de 20 ônibus que tiveram pneus esvaziados.BloqueioNa parte da manhã, o Terminal do Siqueira foi bloqueado pelos grevistas, mas aação durou pouco mais de uma hora. Na Avenida Osório de Paiva, outros 17veículos estavam parados pelo mesmo motivo.Diante disso, a população era obrigada a descer dos coletivos e caminhar para tentarapanhar os poucos transportes alternativos ou seguir a pé. As empresas da Capital e da região metropolitana resolveram, ontem, tentar escaparda ação dos motoristas e trocadores, que consiste em esvaziar os pneus doscoletivos. Para tanto, modificaram os percursos e locais de concentrações de suasparadas para embarque e desembarque. Os ônibus das linhas Parangaba em direçãoao Papicu mudaram trajeto, assim como os de Caucaia que estavam fazendo seuembarque e desembarque próximo ao Marina Park Hotel.
O Diário do Nordeste apresenta a pauta de maneira um pouco confusa na
chamada, pois trata de ações de duas entidades distintas no título (que fala do Ministério
Público) e na linha fina (que fala da decisão do TRT/CE). Essas unidades textuais, por virem
em sequência, podem gerar um entendimento equivocado por parte do leitor, que pode
interpretar que tratam-se da mesma instituição. A despeito disso, o lead e o segundo parágrafo
só tratam de fatos relacionados ao Ministério Público. A Justiça do Trabalho só é citada nos
parágrafos três, quatro e cinco. O restante da matéria (até o parágrafo doze) trata de fatos
relacionados aos grevistas e suas ações.
Para dar o efeito de veracidade ao enunciado, nos primeiro e segundo
parágrafos são apagados os embreantes de pessoas (MAINGUENEAU, 2013, p. 157). O fato
do encontro dos sindicatos com o Ministério Público do Trabalho é dado como evidente.
No terceiro parágrafo a Justiça trabalhista aparece, agora sob a retranca
“abusividade”. Na primeira frase [“Além disso, a presidente do Tribunal Regional do
Trabalho do Ceará (TRT/CE), desembargadora Roseli Alencar, negou, ontem, em despacho, o
pedido feito pelo Sindiônibus para que a greve fosse considerada abusiva”], o enunciado
também omite embreantes de pessoa para garantir o efeito de veracidade ao fato da negação
do pedido. Já na segunda frase, ocorre uma enunciação em discurso indireto, atribuído à
presidente do TRT/CE. O recurso utiliza a modalização da expressão “de acordo com”.
36
No quarto parágrafo, mais uma vez não são utilizados embreantes de pessoas
com o intuito de dar ao fato efeito de veracidade.
Na sequência, o quinto parágrafo apresenta duas enunciações em discurso
indireto, o primeiro atribuído ao sindicato dos patrões e o segundo, ao sindicato dos
empregados. No primeiro enunciado, ocorre o fenômeno de ilha textual (MAINGUENEAU,
2013, p. 193), trecho entre aspas que dá a ideia de que foi proferido, textualmente, ao
sindicato patronal: "a decisão sobre a legalidade ou não para o colegiado de
desembargadores". Como já vimos antes, é um artifício utilizado para aproximar o discurso
indireto do direto.
No sexto e no sétimo parágrafos, há enunciações em discurso indireto
atribuídos ao Sindiônibus. Nos parágrafos restantes, são descritos fatos sem embreantes de
pessoas, recurso que, como já mencionado antes, fornece às informações passadas o efeito de
veracidade.
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, temos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo nos
parágrafos um, dois, oito, nove, dez, onze e doze); e evenemencial (pois há reconstituição de
fatos narrados em todos os parágrafos).
O tipo de informador utilizado na matéria do Diário do Nordeste foi da categoria
do informador plural, pois o texto abre espaço para discursos distintos (dos dois sindicatos e
do TRT/CE). Da mesma maneira que ocorre na matéria do O Povo de mesma pauta, o
informador que representa a Justiça do Trabalho pode ser classificado ainda do tipo
notoriedade (CHARAUDEAU, 2006, p. 52), uma vez que o discurso da desembargadora é o
único autorizado a pronunciar-se sobre o julgamento específico.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes. No entanto, ainda que
revestido desse recurso enunciativo, fica claro que a cobertura do jornal Diário do Nordeste
sobre a greve é favorável ao sindicato dos patrões. Podemos afirmar isso devido a duas
observações:
a) A voz do sindicato patronal está presente no texto em três enunciados, contra
apenas um do sindicato dos trabalhadores. Pelo texto, conhecemos ao menos
uma demanda dos patrões (requisição da abusividade da greve), mas nenhuma
dos empregados. O fato de que a greve ainda pode ser considerada abusiva é
repetido duas vezes: no terceiro e no quinto parágrafos.
37
b) São usadas várias palavras de semântica desfavorável ao movimento grevista, a
começar pelas retrancas intratextuais: abusividade, prejuízos e bloqueio. No
decorrer do texto, são vistos outros termos de caráter negativo, como
transtornos (parágrafo nove) e escapar (parágrafo doze), afinal, quem está em
situação de escape é vista como vítima de um perseguidor. Os fatos narrados
são, na sua totalidade, descritos como problemas que causam prejuízos para os
patrões e para a população que utiliza o serviço de transporte urbano coletivo.
Já quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela
matéria (CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando
estão designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (parágrafos um, dois, quatro,
oito, nove, dez, onze e doze); e a forma da verossimilhança, quando são reconstituídos (com
enunciações indiretas e direta) os discursos das entidades envolvidas no julgamento
(parágrafos três, cinco, seis e sete), isto é, os dois sindicatos e o órgão julgador.
O motivo de agendamento desse assunto em ambos os jornais pode ser
considerado como um pouco diferente das matérias anteriores, que eram
administrativas/institucionais. Neste caso de agora, ainda que a greve dos motoristas e
cobradores de ônibus tenha relevância social, o tema versa sobre a atividade jurisdicional da
Justiça do Trabalho cearense. Note-se, também, que no jornal O Povo, a Justiça do Trabalho
agora não está mais na editoria de Política, mas na editoria Fortaleza, que trata de temas
urbanos, funcionamento da cidade e serviços públicos.
Nesse aspecto de análise sob a perspectiva da teoria do agendamento, podemos
dizer que a pauta encontra-se na fase do porta-voz (WOLF, 2012, p. 179), uma vez que os
personagens da greve já estão personificados por meio das entidades que dão voz às causas
em disputa (sindicato de trabalhadores de um lado, sindicato patronal do outro e a Justiça
mediadora). Wolf (2012) nos lembra que, embora essa seja a última das fases de um tema em
agendamento na mídia, ela não é necessariamente o encerramento dele, mas uma
possibilidade de gerar atenção num processo que repropõe o ciclo de fases.
Observamos também que a representação da Justiça do Trabalho cearense é
extremamente beneficiada, já que é a única fonte institucional - no contexto do Estado
Democrático de Direito brasileiro - que tem legitimidade para tratar do julgamento da
demanda grevista. Assim, a Justiça trabalhista acaba sendo privilegiada como canal de coleta
por satisfazer exigências (racionalização de trabalhos, redução de custos, redução de tempo,
fidedignidade, oficialização etc.) que as empresas jornalísticas têm de ter para manter um
38
fluxo constante e seguro de notícias, a fim de conseguir confeccionar o produto informativo
exigido (WOLF, 2012).
Wolf (2012) nos lembra, ainda, que existe um fator determinante no interesse dos
jornalistas pela fonte institucional: a sua capacidade de fornecer informações fidedignas. Isso
nos leva a inferir que, dentro do contexto de uma paralisação trabalhista que vai a julgamento,
ouvir o discurso da Justiça do Trabalho sobre o assunto é mais que obrigatório para o
jornalista. Em outras palavras, deixar de apresentar a voz do judiciário trabalhista numa
questão como essa seria ignorar a posição da instituição dentro do sistema do conflito e
desperdiçar espaço/tempo na narrativa do assunto, pois, no fim das contas, é a decisão do
órgão julgador que definirá a resolução dos fatos. Neste caso, fica explícito, portanto, “o
caráter insubstituível das fontes institucionais [que] caracterizam profundamente o tipo de
cobertura informativa” (WOLF, 2012, p. 232).
Finalmente, sob o aspecto do interesse da Justiça trabalhista cearense em sua
comunicação pública, podemos apontar, segundo Mancini (apud HASWANI, 2013, p. 130),
que esse tema agendado na imprensa classifica-se como comunicação normativa, uma vez que
veicula as informações sobre atividades decisórias. Tomando o que vimos com Faccioli (apud
HASWANI, 2013), a modalidade da comunicação normativa pressupõe ser dever do Estado
tornar públicas as leis, normas e decretos. Ao nosso entender, divulgar o teor de um
julgamento está enquadrado nessa categoria, portanto.
4.3 Sorteio para definição de vaga para desembargador
Em matéria veiculada no jornal O Povo de 12 de julho de 2013, na editoria
Política, o critério de sorteio, adotado pelo TRT/CE, para definição de quem ocuparia a vaga
de desembargador proveniente do quinto constitucional foi tema da pauta.
Retranca: TRT-CETítulo: CNJ rejeita sorteio para definição de ocupante de vagaLinha fina: Há mais de um ano o processo de provimento de duas vagas paradesembargador do Tribunal Regional do Trabalho estava parado devido àindefinição sobre quem ocuparia umas das vagas do quinto constitucionalO Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu comunicado pondo fim à indefiniçãode mais de um ano sobre quem ocuparia uma das duas vagas abertas paradesembargador no Tribunal Regional do Trabalho no Ceará (TRT-CE). A vaga éoriunda do critério do quinto constitucional (ver quadro). A decisão favoreceu oMinistério Público do Trabalho. O processo de provimento das vagas começou em28 de junho do ano passado, quando o plenário do TRT/CE decidiu que uma delasseria destinada à OAB e outra ao Ministério Público.Um quinto do total de 14 desembargadores do Tribunal equivale a três vagas, umadelas já é ocupada pelo desembargador José Antônio Parente, oriundo do Ministério
39
Público do Trabalho, restando duas a serem preenchidas. Uma delas foi abertadevido à morte do desembargador Manoel Arízio Eduardo de Castro – pelo fato deocupar espaço destinado aos advogados, ficou definido que a indicação ficaria com aOAB – a outra vaga foi criada pela lei nº 11.999/2009, que ampliou de oito para 14 o número de desembargadores da Justiça do Trabalho no Ceará. Ficou definido que oMP ocuparia esse cargo através de sorteio.De acordo com Valdetário Monteiro, presidente da OAB-CE, o órgão recorreu aoCNJ por entender que o sorteio não teve “nenhum” fundamento ou critério jurídico.“Não poderia ter sido decidido dessa forma”. O CNJ decidiu que a “realização dosorteio para ocupar a vaga do quinto constitucional não é critério adequado eseguro” e passará a utilizar a regra de alternância: se a vaga anterior for preenchidapor um membro da advocacia, a próxima deve ser destinada a um membro doMinistério Público e vice-versa, de maneira que a nova vaga seja preenchida semprepela entidade que não foi contemplada antes.Mesmo a OAB tendo entrado com recurso questionando o preenchimento de apenasuma vaga, o TRT optou por só prosseguir o processo após ser publicada a decisão do CNJ. Segundo o secretário geral da presidência do TRT, Rui Soares Lima, a faltados dois desembargadores não prejudica a população porque após a saída de umdesembargador, um juiz de primeira instância é “imediatamente” convocado paraocupar a vaga. “Uma pessoa a menos faz diferença, mas a princípio não causouprejuízos, porque os processos continuaram chegando e nenhum deixou de seranalisado”. A partir de agora as listas sêxtuplas enviadas por OAB e MPT serãoreduzidas para tríplices pelo TRT. Ainda não foi definida a data para a indicaçãodessa lista. Cabe a presidente Dilma escolher o membro de cada órgão que ocupará oposto.
Logo de início é percebido o caráter negativo da pauta em ralação ao TRT/CE,
que teve uma postura condenada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão fiscalizador
da administração do Poder Judiciário brasileiro. No texto, são ouvidas as vozes do CNJ, da
Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará (OAB/CE) e, por último, do TRT/CE.
A primeira frase do primeiro parágrafo pode ser reconhecida como uma
enunciação em discurso indireto, atribuído ao CNJ. O que nos leva a apontar isso é o uso da
expressão “emitiu comunicado”, que, a nosso ver, substitui um verbo de indicação de
enunciação. As demais frases desse parágrafo omitem embreantes de pessoa para garantir às
informações passadas o efeito de veracidade (MAINGUENEAU, 2013, p. 157). A situação da
vaga, o processo de provimento dela e o teor da decisão do CNJ são, assim, tomados como
fatos irrefutáveis.
O mesmo recurso de apagamento de embreantes de pessoas é reutilizado em
todo o segundo parágrafo, para dar às informações apresentadas o efeito de veracidade; os
fatos são dados como evidentes.
No início do terceiro parágrafo, ouvimos a voz da OAB/CE, ora em enunciação
em discurso indireto, ora em discurso direto. A modalização da expressão “de acordo com”
introduz o discurso indireto atribuído ao presidente da entidade. Nesse trecho, há também a
ilha textual (MAINGUENEAU, 2013, p. 193) “nenhum”, o que nos leva a inferir que o termo
foi utilizado textualmente pelo presidente da OAB/CE. Como vimos anteriormente, o recurso
40
é uma forma mista onde um trecho do discurso direto é inserido sintaticamente no discurso
indireto.
Na sequência, aspas marcam toda uma frase, “Não poderia ter sido decidido dessa
forma”, que, mesmo sem o uso de modalizações ou verbos de indicação de enunciação,
entendemos tratar-se de um discurso direto, posto que apresentado logo após um discurso da
mesma pessoa.
Ainda no terceiro parágrafo, voltamos a ouvir a voz do CNJ, mais uma vez em
enunciação por discurso indireto, identificado pela expressão “decidiu” (que faz as vezes de
um verbo de indicação de enunciação). Nesse discurso, o recurso da ilha textual é visto mais
uma vez, no trecho “realização do sorteio para ocupar a vaga do quinto constitucional não é
critério adequado e seguro”, ou seja, o enunciado entre aspas é um trecho de discurso direto
inserido no discurso indireto.
No quarto parágrafo aparece finalmente a voz do TRT/CE, numa sequência de
enunciados em discursos indireto e direto, atribuídos ao secretário-geral do órgão. O discurso
indireto é introduzido pela modalização “segundo” e contém a ilha textual “imediatamente”,
que é usada para dar ao termo a chancela de discurso direto, ainda que sintaticamente
construído no discurso indireto. Em seguida, aparece o trecho “Uma pessoa a menos faz
diferença, mas a princípio não causou prejuízos, porque os processos continuaram chegando e
nenhum deixou de ser analisado”, que, apesar de não conter modalizações ou verbos
indicativos de enunciação, entendemos fazer parte do discurso direto do secretário-geral, visto
que está marcado tipograficamente por aspas e está colocado logo na sequência de seu
discurso indireto. No restante do parágrafo, são apagados os embreantes de pessoa para dar às
informações o efeito de veracidade.
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, temos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas três categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo nos
parágrafos um, dois e final do parágrafo quatro); evenemencial (pois há reconstituição de
fatos narrados em todos os parágrafos); e explicativa (pois há trechos no primeiro e no
segundo parágrafos em que existe contextualização informativa que ajuda a explicar a
situação do acontecimento).
O tipo de informador utilizado pelo jornal O Povo na matéria foi da categoria do
informador plural, pois o texto abre espaço para discursos distintos (do CNJ, da OAB/CE e
do TRT/CE), cujas “opiniões contrárias (...) devem permitir ao sujeito que se informa
construir sua própria verdade consensual” (CHARAUDEAU, 2006, p. 53).
41
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Finalmente, quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas
pela matéria (CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade,
quando estão designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (parágrafos um, dois
e parte final do quatro); e a forma da verossimilhança, quando são reconstituídos (com
enunciações indiretas e direta) os discursos das entidades envolvidas (CNJ nos parágrafos um
e três; OAB/CE no parágrafo três; e TRT/CE no parágrafo quatro).
No que concerne à motivação de agendamento do assunto na imprensa, em
relação ao TRT/CE, consideramos desfavorável, uma vez que o fato expõe uma decisão que
condena um ato de gestão do órgão. De outra maneira, em relação à imprensa, o fato ganha
valor notícia óbvio por tratar de assunto de administração de órgão público em
questionamento por órgão de fiscalização.
Ainda sob essa perspectiva, podemos dizer que o tema da matéria se encontra na
segunda fase do agendamento, o framing, que, segundo Wolf (2012, p. 179), é o momento em
que o objeto focalizado é enquadrado numa delimitação interpretativa específica sob a qual a
cobertura orbitará. A primeira fase do agendamento, a focalização, na qual a mídia elege um
acontecimento para tratá-lo em primeiro plano, já havia sido cumprida meses antes, quando
abriu-se a vaga do quinto constitucional para preenchimento no órgão, cuja cobertura fora
devidamente realizada pela imprensa.
Por fim, sob o aspecto do interesse da Justiça trabalhista cearense em sua
comunicação pública, podemos apontar, segundo Mancini (apud HASWANI, 2013, p. 130),
que esse tema agendado na imprensa classifica-se como comunicação normativa, uma vez que
veicula as informações sobre atividades decisórias. Conforme Faccioli (apud HASWANI,
2013), a modalidade da comunicação normativa pressupõe ser dever do Estado tornar públicas
as leis, normas e decretos. Na matéria em análise, a divulgação da decisão do CNJ enquadra-
se nessa categoria, ainda que desfavorável ao TRT/CE, pois gera impacto no funcionamento
do órgão e põe fim a uma celeuma que durava meses.
4.4 Semana da Execução Trabalhista
No dia 24 de agosto de 2013, a realização, pelo TRT/CE, de um evento
institucional para arrecadar dinheiro para quitação de dívidas trabalhistas de processos em
execução foi pauta do jornal Diário do Nordeste, no caderno Negócios.
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Retranca: A partir de 2ªTítulo: TRT faz mutirão para quitar dívidaA partir da próxima segunda-feira (26) até a sexta-feira (30), o Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT-CE) promoverá mais um mutirão para "encontrar formasde garantir o pagamento de sentenças ou acordos inadimplentes", no que será a 3ªSemana Nacional de Execução Trabalhista.Todas as varas trabalhistas do Estado estarão envolvidas na ação, segundo afirmou otribunal, e serão trabalhados processos que tramitam no 2º grau da Justiça doTrabalho.Além das audiências, as varas do trabalho do Ceará realizarão pesquisas nas contasbancárias dos devedores e irão verificar se eles possuem algum bem registrado emseu nome. No dia 4 de setembro, haverá um leilão com bens penhorados.PedidosO TRT-CE ainda informou via assessoria de imprensa que "até o início da manhãdesta sexta-feira (23), 453 advogados, empresas e trabalhadores haviam solicitado ainclusão de processos na pauta de julgamentos". Dos pedidos recebidos, aproximadamente 70% tratam de processos que tramitam em Fortaleza. No interior,as duas varas com maior número de pedidos são Pacajus (7%) e Maracanaú (6%)."Temos a expectativa de superar os resultados obtidos nos anos anteriores", afirma apresidente do TRT/CE, desembargadora Roseli Alencar.Entre 11 e 15 de junho do ano passado, foram 1,7 mil audiências realizadas noCeará, de acordo com o divulgado pelo TRT-CE, o que garantiu, com o acréscimodos bens penhorados pelos devedores, o pagamento de R$ 6,4 milhões atrabalhadores.ContatosPara mais informações sobre a semana de quitação de dívidas o contato do TRT é o0800 2801771 ou no http://trt7.gov.br.
Nesta matéria de cunho administrativo, a voz do TRT/CE é predominante. A
pauta gira em torno exclusivamente de seu evento institucional e não são ouvidas vozes
conflitantes.
No primeiro parágrafo, é utilizado o recurso do apagamento de embreantes de
pessoas para atribuir às informações o efeito de veracidade (MAINGUENEAU, 2013, p. 157).
Apesar disso, o texto utiliza o recurso de marcar com aspas o trecho "encontrar formas de
garantir o pagamento de sentenças ou acordos inadimplentes", o que nos leva a inferir que,
mesmo sem verbos indicativos de enunciação ou outras modalizações, esse enunciado foi
atribuído como discurso direto do TRT/CE, ainda que sintaticamente inserido à enunciação do
jornal.
No segundo parágrafo, é utilizada uma enunciação em discurso indireto
atribuído ao TRT/CE, marcado pela modalização com a palavra “segundo”.
No terceiro parágrafo, mais uma vez é utilizado o apagamento de embreantes
de pessoas para dar ao trecho o efeito de veracidade.
A enunciação em discurso direto é utilizada no quarto parágrafo, por meio do
recurso do verbo de indicação de enunciação “informou” e da marcação de aspas no trecho
"até o início da manhã desta sexta-feira (23), 453 advogados, empresas e trabalhadores
haviam solicitado a inclusão de processos na pauta de julgamentos". No restante do parágrafo,
43
os embreantes de pessoas são apagados novamente para dar às informações o efeito de
veracidade.
O quinto parágrafo é iniciado por uma enunciação em discurso direto, marcado
pelas aspas no trecho "Temos a expectativa de superar os resultados obtidos nos anos
anteriores" e pelo uso do verbo indicativo de enunciação “afirma”. Pela primeira vez no texto,
o discurso do órgão é personificado na figura de sua presidente.
Uma enunciação em discurso indireto aparece no sexto parágrafo, marcada
pela modalização da expressão “de acordo com”.
Por fim, no sétimo parágrafo, informações são apresentadas sob o efeito de
veracidade, mediante o recurso de apagamento de embreantes de pessoa.
No que se refere à natureza dos saberes empregados na matéria, percebemos que
há predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas três
categorias: existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo,
como nos parágrafos um, dois e três); evenemencial (pois há reconstituição de fatos narrados,
como nos parágrafos quatro e seis); e explicativa (pois há a contextualização informativa que
ajuda a explicar o situação do acontecimento nos parágrafos seis e sete).
O tipo de informador utilizado como fonte da matéria – o TRT/CE – pode ser
considerado como da categoria organismo especializado (CHARAUDEAU, 2006, p. 52).
Neste caso, já que a pauta trata de uma ação da atividade fim do órgão, de competência
exclusiva e pública, a entidade cumpre, assim, obrigações institucionais de fornecer as
informações para o fato.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela matéria
(CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando estão
designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (em todo o texto); e a forma da
verossimilhança, quando é reconstituído (com enunciações diretas e a indireta) o discurso da
Justiça do Trabalho do Ceará.
O motivo de agendamento desse assunto no jornal Diário do Nordeste, conforme
o conceito de tematização (WOLF, 2012, p. 166), é colocar o tema na ordem do dia para dar-
lhe atenção adequada e salientar sua centralidade e sua representação em relação com a
natureza pública do assunto e sua relevância social.
Como o fato de dívidas trabalhistas já fazerem parte de um sistema de pautas
focalizadas em diversas oportunidades na imprensa cearense, consideramos que, agora, pelo
44
enquadramento de uma ação específica da Justiça trabalhista para solucionar tais problemas, o
tema tenha chegado à segunda fase de agendamento (WOLF, 2012, p. 179), o framing,
momento em que o objeto focalizado é enquadrado numa delimitação interpretativa específica
sob a qual a cobertura girará em torno.
No mesmo sentido, o agendamento desse assunto na imprensa, para a Justiça do
Trabalho cearense, faz parte da construção de uma comunicação pública do tipo institucional,
que atende a duas demandas: informar os cidadãos sobre os objetivos e as metas da entidade;
e promover serviços prestados à população (HASWANI, 2013). Sob esse aspecto, o modo
como a pauta é abordada pelo Diário do Nordeste privilegia o TRT/CE, já que, mais uma vez,
o discurso da instituição está presente predominantemente no texto.
Sob o aspecto de vincular o interesse da comunicação organizacional com os da
imprensa (MONTEIRO, 2011), temos que a promoção desse evento institucional divulgado
pelo Diário do Nordeste ajuda a Justiça do Trabalho do Ceará a inserir-se no espaço público,
construindo uma representação de si mesma e a realidade do campo em que atua.
4.5 Condenação do Fortaleza no caso Bechara
Em 7 de fevereiro de 2014, foi divulgada nos jornais Diário do Nordeste e O Povo
a notícia da condenação, em segunda instância, do clube de futebol Fortaleza por ter
desrespeitado leis trabalhistas no contrato com o jogador Bechara Jalkh. Analisemos,
primeiramente, a matéria veiculada na editoria Jogada, do Diário do Nordeste.
Retranca: Justiça trabalhistaTítulo: Leão sofre derrota fora dos gramadosLinha fina: A 3ª Turma do TRT condenou o Fortaleza por fraude em contrato com o ex-atleta Bechara, que havia ajuizado açãoPelo menos até ontem, qualquer referência que houvesse do ex-jogador Bechara aoFortaleza era sempre de algo positivo, mostrando o quanto o atleta colaborou com oclube e o clube com ele, na carreira profissional. Entretanto, ontem, no site do TRT(Tribunal Regional do Trabalho) foi divulgada a decisão de uma ação do ex-volantecontra o Leão, na qual o TRT aponta ter havido fraude no contrato.Diz a informação do site do Tribunal que "a 3ª Turma do Tribunal Regional doTrabalho do Ceará condenou o Fortaleza Esporte Clube por utilizar um contrato dedireito de imagens para burlar a legislação trabalhista. Tomada por unanimidade, adecisão atende a pedido feito pelo ex-meio-campista Bechara Jalkh, que jogou peloFortaleza entre março e novembro de 2010. Ela também confirma sentença anteriorda 14ª vara do trabalho de Fortaleza".Direito de imagemDe acordo com as informações do site do TRT, o contrato de Bechara com oTricolor do Pici previa um salário de R$ 2.000. Esse era o valor que constava nacarteira de trabalho e era com base nesse valor que o Fortaleza calculava a quantia aser paga ao jogador como Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, 13° salários eférias.
45
Mas Bechara recebia outros R$ 8.000 como direito de imagem. Conforme a açãojudicial, ficou constatado que a importância de direito de imagem possuía um valorquatro vezes superior ao recebido a título de salário, "revelando umadesproporcionalidade que deixa patente a manobra fraudulenta do clube com opropósito de minorar encargos", afirmou o desembargador-relator José AntonioParente. Uma das provas apresentadas pelo jogador foi um recibo de adiantamentode salário, em 2010, no valor de R$ 3.500, valor superior à remuneração registradana carteira de trabalho.Contra-argumentoO diretor jurídico do Leão, Daniel de Paula Pessoa, disse que tem 8 dias pararecorrer da decisão, mas de antemão, informou que Bechara não atuou em nenhumapartida em 2010 pelo clube e que portanto, sua imagem não foi utilizada. Dissetambém que o direito de imagem é negociado, normalmente com uma empresa quecuida da carreira do jogador e que sobre esse valor não incidem as obrigaçõestrabalhistas do valor da carteira."É uma prática corriqueira dos clubes brasileiros. Há juízes que entendem que osalário do atleta é a soma dos dois, o da carteira e o direito de imagem, mas háoutros que não", explicou o advogado. Ainda farão a defesa as advogadas VirgíniaTeófilo e Cassandra Arco Verde.
Na primeira frase do primeiro parágrafo, é utilizado o recurso de apagamento
de embreantes de pessoa para atribuir às informações apresentadas o efeito de veracidade
(MAINGUENEAU, 2013, p. 157). A segunda frase também omite embreantes de pessoa com
a mesma finalidade, mas, no trecho final, aparece uma enunciação em discurso indireto (“na
qual o TRT aponta ter havido fraude no contrato”) que caracteriza o fenômeno polifônico da
concessão, que é quando “o ponto de vista do outro é integrado na palavra do locutor (...). O
ponto de vista concedido pelo locutor é atribuído implicitamente à voz coletiva”
(MAINGUENEAU, 2013, p. 169-170). Ou seja, em oposição ao que havia sido mencionado
na primeira frase, de que a imagem do jogador em relação ao clube atraía lembranças
positivas (voz coletiva), agora, a partir da condenação do clube em ação movida pelo jogador,
subentende-se que essa imagem não é mais positiva.
O segundo parágrafo é uma grande enunciação em discurso direto, atribuído ao
TRT/CE, marcado pelo verbo indicativo de enunciação “diz” e o trecho "a 3ª Turma do
Tribunal Regional do Trabalho do Ceará condenou o Fortaleza Esporte Clube (...) da 14ª vara
do trabalho de Fortaleza".
No terceiro parágrafo, mais uma vez ouvimos a voz da Justiça do Trabalho
cearense por meio de uma enunciação em discurso indireto, marcada pela modalização com a
expressão “de acordo com”.
Novamente no quarto parágrafo, a voz da Justiça trabalhista é predominante,
em mais uma enunciação em discurso indireto, marcado pela modalização com a expressão
“conforme”. Desta vez, é inserida no discurso indireto a ilha textual (MAINGUENEAU,
2013, p. 193) "revelando uma desproporcionalidade que deixa patente a manobra fraudulenta
46
do clube com o propósito de minorar encargos", também marcada pelo verbo indicativo de
enunciação “afirmou”. Agora, o discurso do Tribunal é personificado na figura do
desembargador-relator do processo. A última frase desse parágrafo não contém marcações
explícitas de embreantes de pessoa, mas subentendemos tratar-se, ainda, do discurso indireto
da Justiça do Trabalho.
Já no quinto parágrafo, ouve-se a voz do clube Fortaleza, personificado em seu
diretor jurídico. São apresentadas duas enunciações em discurso indireto, marcadas pelo verbo
indicativo de enunciação “disse”.
No último parágrafo, o diretor jurídico continua a falar pelo discurso produzido
do jornal, desta vez por enunciação em discurso direto marcado pelas aspas no trecho "É uma
prática corriqueira dos clubes brasileiros. Há juízes que entendem que o salário do atleta é a
soma dos dois, o da carteira e o direito de imagem, mas há outros que não" e pelo uso do
verbo de indicação de enunciação “explicou”.
Entre a natureza dos saberes empregados na matéria, entendemos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas três categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo, como nos
parágrafos um e dois); evenemencial (pois há reconstituição de fatos narrados, como nos
parágrafos dois, três, quatro e cinco); e explicativa (pois há a contextualização informativa
que ajuda a explicar a situação do acontecimento no parágrafo seis).
O tipo de informador utilizado como fonte da matéria é da categoria informador
plural, pois o texto abre espaço para discursos distintos (do TRT/CE e do clube Fortaleza),
cujas “opiniões contrárias (...) devem permitir ao sujeito que se informa construir sua própria
verdade consensual” (CHARAUDEAU, 2006, p. 53). A Justiça trabalhista cearense, enquanto
fonte informadora, também pode ser considerada como da categoria organismo especializado
(CHARAUDEAU, 2006, p. 52). Neste caso, já que a pauta trata de um caso jurídico,
atividade- fim do órgão, cuja competência é exclusiva e pública, a entidade cumpre, assim,
obrigações institucionais de fornecer as informações para o fato.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela matéria
(CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando estão
designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (em todo o texto); e a forma da
verossimilhança, quando são reconstituídos (com enunciações diretas e indiretas) os discursos
da Justiça do Trabalho do Ceará e do clube Fortaleza.
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Passemos agora à análise de como a pauta foi desenvolvida pelo jornal O Povo,
em matéria veiculada em mesma data (7 de fevereiro de 2014), na editoria Esportes.
Retranca: Disputa judicialTítulo: TRT condena clube por burlar leis do trabalhoA 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará condenou o Fortaleza emsegunda instância sob acusação de burlar a legislação trabalhista, ao minorar saláriode jogador para pagar menos encargos. Ainda cabe recurso da decisão.O caso envolve o ex-jogador Bechara, quando ele atuou pelo clube em 2010. Naação, o atleta questiona a diferença entre os valores recebidos como salário (R$ 2mil), sobre os quais incidem os encargos trabalhistas, e como direitos de imagem(R$ 8 mil).Os advogados de Bechara apresentaram testemunhas e recibo de adiantamento desalário como provas de acusação. Diretor jurídico do Fortaleza, Daniel de PaulaPessoa ainda analisa se o clube vai recorrer. "Temos oito dias para ingressar comrecurso especial".
De maneira bem mais sucinta, o jornal O Povo aborda a pauta sem atribuir
nenhum enunciado ao discurso da Justiça do Trabalho cearense. Diferentemente, nos
parágrafos um e dois são apagados os embreantes de pessoa, como forma de dar aos fatos
narrados o efeito de veracidade (MAINGUENEAU, 2013, p. 157). Entendemos que, assim, os
fatos apresentados como parte da decisão do órgão são irrefutáveis e não carecem de discurso
que os defenda.
Na segunda frase do parágrafo dois, existe uma forma enunciativa que podemos
interpretar como discurso indireto atribuído ao jogador, que fala por meio da ação. O verbo
indicativo de enunciação “questiona” sugere que os fatos narrados na sequência fazem parte
da voz de Bechara.
No terceiro parágrafo, mais uma vez há apagamento de embreantes de pessoa para
dar ao fato de que “os advogados de Bechara apresentaram testemunhas e recibo de
adiantamento de salário como provas de acusação” o efeito de veracidade. No fim do texto, há
um enunciado em discurso direto, atribuído ao diretor jurídico do Fortaleza, marcado pela
aposição de aspas no trecho "Temos oito dias para ingressar com recurso especial".
Sobre a natureza dos saberes empregados na matéria, observamos que há
predominância do saber de conhecimento (CHARAUDEAU, 2006, p. 43) nas categorias:
existencial (pois existem formas discursivas descritivas num contexto informativo, como nos
parágrafos um e dois); e evenemencial (pois há reconstituição de fatos narrados em todos os
parágrafos).
Como no texto só há o tipo de informador utilizado como fonte, no caso,
representado pelo diretor jurídico do Fortaleza e pelo jogador Bechara, podemos classificá-los
48
como da categoria testemunha (CHARAUDEAU, 2006, p. 53), isto é, suas falas terão o
objetivo de relatar o que presenciaram, no caso, como partes interessadas na ação.
O nível de engajamento do discurso (CHARAUDEAU, 2006, p. 54) do jornal não
é explícito, pois as informações dadas são tomadas por evidentes.
Quanto aos tipos de provas de veracidade das informações passadas pela matéria
(CHARAUDEAU, 2006, p. 55-56), encontramos a forma da autenticidade, quando estão
designados no texto os fatos descritivos do evento narrado (em todo o texto); e a forma da
verossimilhança, quando é reconstituído (com enunciação indireta) o discurso do diretor
jurídico do clube Fortaleza.
O motivo de agendamento desse assunto nos jornais Diário do Nordeste e O Povo,
conforme o conceito de tematização (WOLF, 2012, p. 166), é colocar o tema na ordem do dia
para dar-lhe atenção adequada e salientar sua centralidade e sua representação em relação com
a natureza pública do assunto e sua relevância social. Para a Justiça do Trabalho cearense,
colocar em pauta uma decisão jurídica que envolve um jogador de futebol famoso – ainda que
apenas localmente – é aproveitar a notoriedade do personagem para atrair a atenção do
público em geral acerca do respeito aos direitos dos trabalhadores.
Pelo fato de essa disputa trabalhista figurar pela primeira vez no noticiário
cearense, consideramos que o tema esteja na primeira fase de agendamento na imprensa
(WOLF, 2012, p. 179), a focalização, na qual a mídia elege um acontecimento para tratá-lo
em primeiro plano.
Sob o aspecto do interesse da Justiça trabalhista cearense em sua comunicação
pública, podemos apontar, segundo Mancini (apud HASWANI, 2013, p. 130), que esse tema
agendado na imprensa classifica-se como comunicação normativa, uma vez que veicula
informações sobre atividades decisórias. De acordo com Faccioli (apud HASWANI, 2013), a
modalidade da comunicação normativa pressupõe ser dever do Estado tornar públicas as leis,
normas e decretos. Ao nosso entender, divulgar o teor de um julgamento está enquadrado
nessa categoria, portanto.
Ao encerramos, aqui, a análise das oito notícias propostas, percebemos que
existem diversas maneiras de a imprensa articular o discurso da Justiça do Trabalho cearense.
A variação se mostra tão ampla quanto as pautas abordadas, sejam em temas
administrativos/institucionais, sejam em temas jurídicos, e refletem, às vezes mais ou menos
explicitamente, que as construções enunciativas podem guiar a leitura a um alinhamento do
próprio discurso do jornal a discursos reproduzidos selecionados, ainda que seus enunciados
revistam-se estruturalmente de recursos discursivos com apelo à neutralidade.
49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O percurso que tomamos na busca de identificar de que maneira se articula a
formação da representação midiática da Justiça do Trabalho do Ceará nos jornais Diário do
Nordeste e O Povo, por meio de análise dos enunciados jornalísticos a partir de discursos
diretos e indiretos, trouxe-nos a resultados ora esperados, ora instigantes. Percebemos que
esses discursos não se formam por si só, mas atendem a diversas estratégias construtivas da
teoria de análise do discurso e estão interligados a vários preceitos que envolvem teorias da
comunicação, comunicação pública e relacionamento de instituições com a imprensa.
A representação da Justiça do Trabalho do Ceará na imprensa por meio de
citações em discursos indiretos mostrou-se mais corriqueira que pelo discurso direto. Nas oito
matérias analisadas em profundidade, dos 19 enunciados atribuídos ao órgão, doze
articularam-se em discurso indireto. Essa predominância repete-se nos enunciados atribuídos
aos discursos dos demais atores envolvidos nas pautas analisadas. Isso nos leva a crer que a
imprensa cearense, ao adotar essa opção de maneira mais usual, permite deixar transparecer o
seu alinhamento ao conteúdo daquilo que fora enunciado, em oposição ao que seria a
enunciação em discurso direto, que implicaria num maior distanciamento (MAINGUENEAU,
2013).
Outra observação que podemos fazer diz respeito à atribuição da autoria do
discurso da Justiça trabalhista. Em nove dos 19 enunciados identificados, a instituição é
personalizada na figura de sua então presidente, a desembargadora Roseli Alencar. Em outros
sete enunciados, o discurso foi atribuído ao próprio órgão enquanto entidade pública, na
figura do TRT/CE. Em dois outros momentos, o secretário-geral da presidência foi o porta-
voz da instituição e, por fim, um desembargador-relator de uma decisão discursou
representando o judiciário trabalhista cearense.
O uso do recurso de apagar os embreantes de pessoa para dar a um enunciado
específico o efeito de veracidade é largamente usado, especialmente naqueles enunciados que
tratam de dados e podem ser apresentados como informativos. Inferimos que, quando há esse
apagamento, o jornal busca dotar seu discurso de um caráter factual, verídico, irrefutável,
evidente e isento de questionamentos.
Nas matérias analisadas, porque do gênero informativo, há a presença exclusiva
do saber de natureza do conhecimento, especialmente dos tipos existencial e evenemencial,
posto que, de outra forma, o saber de natureza de crença envolveria apreciações subjetivas do
50
conteúdo (CHARAUDEAU, 2006), técnica mais afeita ao gênero jornalístico opinativo, que
não foi contemplado em nossa análise.
Quanto ao tipo de informador, segundo Charaudeau (2006), a Justiça do Trabalho
cearense aparece na imprensa local predominantemente sob a forma de informador plural,
pois seu discurso divide espaço com outras fontes. Nesse viés, existe no discurso da imprensa,
especialmente em pautas protagonizadas por disputas jurídicas, a presença de vozes
antagônicas que disputam espaço no discurso polifônico do jornal. Numa situação que
envolve dois polos formais de litigantes, é ainda mais acentuada a necessidade de ouvir os
dois lados da história, fundamento elementar do jornalismo. No entanto, ainda que revestido
desse recurso enunciativo neutro, ficou claro que a cobertura da imprensa pode tender, mais
ou menos explicitamente, em apoio a um dos lados da disputa.
Ainda sobre o tipo de informador, em segundo lugar, o discurso da Justiça do
Trabalho do Ceará na imprensa aparece sob o tipo de notoriedade, devido à sua posição social
relevante ao fornecimento de informações de utilidade pública. Aparece, ainda, como
organismo especializado, quando fornece informações institucionais de caráter obrigatório.
Assim, a Justiça do Trabalho configura-se, para a imprensa, como a única fonte legítima para
tratar de julgamentos de demandas trabalhistas.
Já em relação às provas, também segundo Charaudeau (2006), a do tipo da
verossimilhança é bastante requisitada, pois ao reconstituir fatos por meio de discursos de
terceiros, diretos ou indiretos, o discurso do jornal veste-se do caráter de observador e de
testemunha da verdade. As provas do tipo da autenticidade também estão presentes em igual
proporção, pois o teor declaratório das informações jornalísticas do gênero informativo
carregam essa característica.
Quanto à teoria do agendamento, que relacionamos com a tematização das pautas
jornalísticas em que os discursos da imprensa sobre a Justiça do Trabalho cearense aparecem,
percebemos que os assuntos abordados encontram-se nas mais variadas fases, abrangendo
todas possíveis: focalização, framing, vínculo e porta-voz (WOLF, 2012), o que indica uma
ampla gama de interesse por pautas diversas provenientes e em relação ao órgão.
Já em relação à classificação do tipo de comunicação pública em que a Justiça do
Trabalho do Ceará busca no agendamento da imprensa, verificamos que se encontram
equilibradamente os dois tipos: institucional e normativa (FACCIOLI apud HASWANI,
2013), revelando mais uma vez que a imprensa pode se interessar por pautas as mais diversas
possíveis em relação ao órgão.
51
Representar a Justiça trabalhista num discurso único e coeso não é tarefa simples,
tampouco o é identificar essa representação. O esforço empenhado nesta pesquisa aponta para
caminhos preliminares tanto quanto divergentes. Primeiro, porque a representação da
instituição pela imprensa e a representação dela própria sofrem interferências ao longo do
tempo que acarretam numa construção permanente de seus discursos. Segundo, porque, ante
os resultados encontrados nesta análise, podemos considerar que o conteúdo desses discursos
varia de acordo com o tema da pauta e com o veículo que realiza a enunciação.
Parte do desafio de focalizar um discurso da Justiça do Trabalho pela imprensa
vem da própria problemática de imagem que esse órgão enfrenta ao lado das demais
especialidades do campo judiciário (Justiças estaduais, Justiça Federal, Justiça Eleitoral,
Justiça Militar, Justiça Desportiva), qual seja, o entendimento, pelo senso comum, de que elas
seriam uma entidade só, a “Justiça brasileira”. Os veículos de comunicação, em especial por
meio de matérias do gênero informativo (recorte da análise desta pesquisa), ao realizarem
uma cobertura pouco profunda, a qual só prioriza a informação factual, objetiva, curta e
inteligível à grande massa, não abrem espaços e oportunidades para a desmistificação do
Poder Judiciário como um todo, o que acarreta num círculo vicioso de conceitos turvos e não-
esclarecedores, o que retroalimenta o senso comum.
Ainda contando contra a representação midiática da Justiça, está uma
característica intrínseca à sua atividade, na qual o conceito de prestação jurisdicional (fornecer
apaziguamento formal de controvérsias sociais à luz da legislação) é confundido com o de
justiça (aquilo que é justo). Em uma disputa judicial, um lado ganha e outro perde. Assim, do
lado vitorioso, segue a representação de que a justiça foi feita. Do lado perdedor, fica a
imagem da injustiça. Como que por uma “maldição”, o Poder Judiciário dificilmente agradará
os dois polos litigantes ao mesmo tempo. Na reprodução pelo texto, tomar partido é esperado,
se não pela imprensa, certamente pelo leitor.
Acreditamos que essas duas características influenciam sobremaneira a forma de
como a mídia – seja ela de qualquer parte do Brasil ou do Mundo – representa o Poder
Judiciário como um todo em seus discursos, e com a Justiça do Trabalho do Ceará não é
diferente. Ao privilegiar, por meio do discurso, um dos lados em disputa judicial, uma matéria
acaba por reforçar esse atributo ambíguo da reputação da Justiça e, consequentemente, sua
imagem.
De toda maneira, entendemos que o papel da imprensa em divulgar pautas da
Justiça do Trabalho que tragam repercussão social deve ser mantido e aprimorado
mutuamente. A construção da representação do discurso do judiciário trabalhista cearense na
52
imprensa não se encerra, todavia, na divulgação de pautas de sua pertinência, mas aguarda
estratégias cada vez mais eficazes de comunicação pública que contribuam de maneira
positiva para a elaboração de enunciados discursivos mais favoráveis à consecução do
objetivo maior das duas instituições.
Nesse sentido, esperamos que os resultados alcançados por esta pesquisa tenham
ajudado a identificar os aspectos mais importantes, ainda que preliminares, dentro do
complexo sistema que rege a divulgação jornalística de fatos que constroem o discurso da
Justiça do Trabalho do Ceará na imprensa, assim como abram espaço e instiguem novas
provocações no âmbito da pesquisa acadêmica.
53
REFERÊNCIAS
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BRANDÃO, Elizabeth P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, Jorge (org.). Comunicação Pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. Traduzido por Angela M. S. Corrêa. SãoPaulo: Contexto, 2006. p. 31-63.
DUARTE, Jorge. Instrumentos de comunicação pública. In: _______. Comunicação Pública:estado, mercado, sociedade e interesse público. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
HASWANI, Mariângela Furlan. Comunicação Pública: Bases e Abrangências. São Paulo:Saraiva. 2013. 200 p.
LEMOS, Daniel Dantas. Discurso e Argumentação no Blog “Fatos e Dados” da Petrobras.Feira de Santana: Curviana, 2013. 297 p.
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos de Comunicação. 6 ed. São Paulo: Cortez,2013. 304 p.
MANIERI, Tiago; ROSA, Elisa C. F. Comunicação pública, cidadania e democracia:algumas reflexões. In: Revista Comunicação Midiática. Vol. 7. N. 1. Goiânia: 2012.
MOLLEDA, Juan-Carlos. Um modelo de diálogo com a imprensa. In: n: DUARTE, Jorge(org.). Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
MONTEIRO, Graça F. A singularidade da comunicação pública. In: DUARTE, Jorge (org.).Comunicação Pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
__________. A notícia institucional. In: DUARTE, Jorge (org.). Assessoria de Imprensa eRelacionamento com a Mídia. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as notícias são como são. 2 ed. Florianópolis: Insular, 2005.
WOLF, Mauro. Teoria das Comunicações de Massa. Traduzido por Karina Jannini. 6 ed. SãoPaulo: Martins Fontes, 2012. 295 p.
ZÉMOR, Pierre. As formas da comunicação pública. In: DUARTE, Jorge (org.).Comunicação Pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
54
ANEXOS
ANEXO A - Matérias coletadas nos jornais O Povo (OP) e Diário do Nordeste (DN) entre15/06/2012 a 13/06/2014 que mencionam a Justiça do Trabalho do Ceará
DATA TÍTULO DA MATÉRIA JORNAL EDITORIA GÊNERO FORMATO
1 15/06/2012 Roseli Alencar assume TRT/CE DN Cidade informativo notícia
2 15/06/2012 Motoristas e cobradores decretam paralisação DN Cidade informativo notícia
3 15/06/2012 TRT empossa nova diretoria no Ceará OP Política informativo notícia
4 15/06/2012 Motoristas: Greve começa na terça-feira OP Política informativo notícia
5 20/06/2012 Motoristas não fazem acordo e iniciam greve DN Cidade informativo notícia
6 20/06/2012 Sindiônibus promete punição para faltosos OP Fortaleza informativo notícia
7 23/06/2012 MP convoca grevistas e empresas para reuniãohoje pela manhã
DN Cidade informativo notícia
8 23/06/2012Julgamento de pedido de abusividade fica parao dia 28 OP Fortaleza informativo notícia
9 26/06/2012 Morre Arízio de Castro, do TRT - 7ª Região OP Política informativo notícia
10 26/06/2012 Morre Manoel Arízio de Castro DN Cidade informativo notícia
11 26/06/2012 Trabalhadores rurais deflagram greve DN Regional informativo notícia
12 29/06/2012 Navio apresenta alagamento e pode naufragar DN Cidade informativo notícia
13 30/06/2012 MP orienta promotores sobre Lei da FichaLimpa
DN Política informativo notícia
14 30/06/2012 Óleo pode contaminar água OP Fortaleza informativo notícia
15 01/07/2012 Mais uma linha de contenção será colocada emtorno do navio que afundou
OP Radar informativo notícia
16 02/07/2012Óleo que vazou de navio é encontrado noPirambu OP Radar informativo notícia
17 03/07/2012 Acordo nos trilhos DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
18 03/07/2012 Uma greve na Del Monte DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
19 03/07/2012 Tensão marca greve de trabalhadores rurais DN Regional informativo notícia
20 03/07/2012 Compensação OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
21 03/07/2012 Justiça homologa acordo milionário OP Fortaleza informativo notícia
22 03/07/2012 Pescadores afirmam que óleo na águaafugentou os peixes
OP Fortaleza informativo notícia
23 04/07/2012 Acordo pagará R$ 116,6 milhões DN Negócios informativo notícia
24 04/07/2012 Ibama acredita que óleo não é proveniente denavio afundado
OP Fortaleza informativo notícia
25 05/07/2012 Canteiro dos Conflitos DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
26 05/07/2012Construção civil é o maior em conflitostrabalhistas OP Economia informativo notícia
27 11/07/2012 Justiça sem papel DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
28 16/07/2012 Justiça na ponta do lápis DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
29 19/07/2012 Bom: TRT no Castelão DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
30 22/07/2012 Os desafios que o novo Reitor da Uece terá pelafrente
OP Fortaleza informativo notícia
31 25/07/2012 Togas em disputa OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
55
32 27/07/2012Justiça Itinerante agiliza ações na vara dotrabalho DN Regional informativo notícia
33 28/07/2012 85 mil litros de óleo são retirados do navio DN Cidade informativo notícia
34 30/07/2012Atendimento foi realizado em 13 cidades do interior do Estado somente este ano OP Ceará informativo notícia
35 30/07/2012 Justiça em nova sede DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
36 02/08/2012 MPT pede rigor no lixão de Juazeiro DN Regional informativo notícia
37 06/08/2012 Vaga da OAB OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
38 10/08/2012 Bom DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
39 13/08/2012 Trabalho Seguro DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
40 15/08/2012 Trabalho Seguro e as obras do Castelão DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
41 17/08/2012 Vaga da OAB OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
42 17/08/2012 Sem deslizes OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
43 17/08/2012 Acidentes de trabalho crescem 103% no Ceará DN Cidade informativo notícia
44 18/08/2012Tribunal do Trabalho faz manifesto parareduzir ocorrências
OP Fortaleza informativo notícia
45 18/08/2012 Hit do aquário OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
46 20/08/2012Cesar Asfor Rocha recebe Medalha BoticárioFerreira DN Cidade informativo notícia
47 22/08/2012 Maratona OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
48 22/08/2012 40 anos de TRT DN Regional informativo nota
49 24/08/2012 Acidentes de trabalho DN Opinião opinativo editorial
50 25/08/2012 Prefeitura vai contestar valor da dívida OP Economia informativo notícia
51 27/08/2012 Visita à escola OP Fortaleza informativo nota
52 28/08/2012 Questão legal OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
53 29/08/2012 Município ganha vara do trabalho DN Regional informativo nota
54 30/08/2012 Escolha de novos nomes acontece hoje OP Política informativo notícia
55 31/08/2012 Eleitos seis procuradores para concorrer à vagano TRT
OP Radar informativo notícia
56 31/08/2012 Voto tecnológico DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
57 01/09/2012R$ 12 mi da PMF retidos para pagarprecatórios DN Negócios informativo notícia
58 01/09/2012 Retidos R$ 12 milhões do Município parapagamento de precatórios
OP Radar informativo notícia
59 05/09/2012 Repasse de verba a Fortaleza continua retido OP Economia informativo notícia
60 05/09/2012 TRE registra a candidatura de Ilário DN Política informativo notícia
61 11/09/2012 A preços de ocasião DN Cidade informativo nota
62 11/09/2012 Tríplice amizade OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
63 13/09/2012 Ventos democráticos OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
64 15/09/2012 Marcelo Uchoa teve candidatura deferida OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
65 17/09/2012 Maratona do trabalho OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
66 21/09/2012 Sobe: TRT/CE OP Fortaleza opinativo coluna
56
(Vertical)
67 21/09/2012 Marcelo Uchôa foi ao Cariri para campanha DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
68 21/09/2012Ex-funcionários de usina aguardamindenizações DN Regional informativo notícia
69 22/09/2012 Bancários conseguem mandado de segurançacontra banco
OP Economia informativo notícia
70 23/09/2012 Jurídicas - Direito DN Empregos informativo nota
71 25/09/2012 Questão de ordem OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
72 27/09/2012 Maratona OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
73 28/09/2012 Advogados elegem 12 nomes DN Cidade informativo notícia
74 28/09/2012 OAB escolhe DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
75 28/09/2012 Sede do Ferroviário é alvo de penhora OP Esportes informativo notícia
76 29/09/2012 Candidatos são eleitos para o QuintoConstitucional
DN Cidade informativo notícia
77 30/09/2012 Só restaram as contas... OP Esportes informativo notícia
78 05/10/2012 O prédio do TRT do Ceará OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
79 12/10/2012 Convênio DN Regional informativo nota
80 17/10/2012 Justiça menos burocrática DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
81 06/11/2012Bancada federal cearense se reúne em Brasíliacom a presença de Roberto Cláudio OP Política informativo notícia
82 07/11/2012 Cid Gomes não vai à reunião de bancada DN Nacional informativo notícia
83 12/11/2012 Por Justiça vapt-vupt OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
84 13/11/2012 Ordem na toga OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
85 17/11/2012 Dinheiro fácil da Justiça pode acabar OP Economia opinativo coluna(Vertical S/A)
86 19/11/2012 Conflitos trabalhistas: soluções DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
87 30/11/2012 OAB escolhe hoje lista sêxtupla para tribunal DN Cidade informativo notícia
88 30/11/2012 O Troco OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
89 01/12/2012OAB indica candidatos ao QuintoConstitucional DN Cidade informativo notícia
90 01/12/2012 Epidemia de dengue ameaça cidades de serra e sertão
DN Regional informativo notícia
91 05/12/2012 Leilão oferta R$ 18 milhões em bens DN Cidade informativo notícia
92 05/12/2012 111 bens penhorados DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
93 07/12/2012 Ministério Público vai à Justiça OP Fortaleza informativo notícia
94 21/12/2012 Questão de voto OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
95 12/01/2013 Decisão do TRT garante eleições para novadiretoria
OP Política informativo notícia
96 14/01/2013 Nascelia Silva é reeleita para presidência OP Política informativo notícia
97 16/01/2013 Grendene condenada por dano moral OP Ceará informativo notícia
98 17/01/2013 Dilma nomeia Quesado para TRT OP Política informativo nota
99 17/01/2013 A presidente... DN Negócios opinativo coluna(Vaivém)
100 19/01/2013 Justiça afasta toda a diretoria OP Política informativo notícia
57
101 21/01/2013 A coluna se associa... DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
102 27/01/2013 Fórum deve ser o 2º mais movimentado OP Ceará informativo notícia
103 13/02/2013 Morosidade DN Opinião opinativo carta
104 18/02/2013 Toga do trabalho OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
105 23/02/2013Servidor é condenado por desvio de R$ 1 milhão no TRT OP Fortaleza informativo notícia
106 06/03/2013 Inauguração em Aracati DN Negócios opinativo coluna(Vaivém)
107 10/03/2013 Casa de ferreiro... OP Política opinativocoluna(Política)
108 16/03/2013 Vara do trabalho DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
109 18/03/2013 TRT inaugura vara do trabalho OP Ceará informativo notícia
110 22/03/2013 Isso dá trabalho DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
111 26/03/2013 É devagar, é devagar OP Fortaleza opinativo coluna(Vertical)
112 02/04/2013 Greve para Pecém I e II DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
113 07/04/2013 Trabalho Seguro OP Economia opinativocoluna(Vertical S/A)
114 07/04/2013 Faltou maior mobilização para salvar o bangalôazul
OP Opinião opinativo editorial
115 09/04/2013 Vem aí a I Semana de Prevenção OP Fortaleza opinativocoluna(Vertical)
116 09/04/2013 I Semana de Acidentes DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
117 12/04/2013 Justiça do Trabalho celebra os 70 anos dodocumento
OP Economia informativo notícia
118 12/04/2013 Justiça inocenta patrocinador OP Economia informativo nota
119 15/04/2013 Em abril... DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
120 16/04/2013 Conversando DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
121 16/04/2013 Hora da prevenção OP Cotidiano opinativocoluna(Vertical)
122 18/04/2013 Construção civil: a questão DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
123 20/04/2013 70 anos da CLT serão comemorados no CE DN Negócios informativo nota
124 22/04/2013 Sessão solene em homenagem aos 70 anos daCLT
OP Política informativo nota
125 24/04/2013 Prevenção DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
126 25/05/2013 Justiça tem novo serviço DN Regional informativo notícia
127 26/04/2013CLT celebra 70 anos de avanço dos direitostrabalhistas no CE DN Cidade informativo notícia
128 26/04/2013 Visitas ao Porto do Pecém OP Economia opinativocoluna (OPovoEconomia)
129 27/04/2013 70 anos da CLT: um documento histórico OP Opinião opinativo artigo
130 30/04/2013Greve poderá atrasar a entrega do VLT naCapital DN Cidade informativo notícia
131 01/05/2013 70 anos da CLT DN Opinião opinativo artigo
132 03/05/2013Ministro cobra retorno das obras no PintoMartins DN Negócios informativo notícia
58
133 09/05/2013 Paralisação de operários segue DN Negócios informativo notícia
134 10/05/2013 Retomadas obras do aeroporto DN Negócios informativo notícia
135 25/05/2013 Novo sistema foi instalado pelo TRT DN Cidade informativo notícia
136 28/05/2013 TRT/CE reintegra funcionário à empresa DN Negócios informativo nota
137 29/05/2013 TRT eletrônico DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
138 01/06/2013Adece pretende adquirir usina de álcoolpertencente a Colonial OP Economia informativo notícia
139 04/06/2013 O jurista e professor... DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
140 06/06/2013 Diretas no Judiciário OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
141 07/06/2013 Produtores propõem cooperativa DN Negócios informativo notícia
142 07/06/2013 40,3 milhões de reais DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
143 07/06/2013 Ações DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
144 07/06/2013Mobilização por eleições diretas no PoderJudiciário OP Opinião opinativo artigo
145 08/06/2013 Governo concretiza compra de usina de etanolno Cariri
DN Negócios informativo notícia
146 09/06/2013 No futuro, Governo poderá fazer cachaça OP Economia opinativocoluna(Vertical S/A)
147 11/06/2013 Terminal do Papicu é fechado em protesto DN Cidade informativo notícia
148 11/06/2013 Ciro Sena ganha liberação do clube tricolor naJustiça
DN Jogada informativo notícia
149 12/06/2013 Há sinceridade nisso? OP Esportes opinativocoluna (AlanNeto)
150 14/06/2013 Sindiônibus aciona Justiça OP Cotidiano informativo notícia
151 14/06/2013 Sindiônibus entra com ação judicial DN Cidade informativo notícia
152 16/06/2013 R$ 35 mi para recuperar usina na região Cariri DN Negócios informativo notícia
153 18/06/2013 Motoristas paralisam atividades no terminal DN Cidade informativo notícia
154 18/06/2013 Motoristas fazem nova paralisação OP Cotidiano informativo nota
155 28/06/2013 Saúde no Trabalho OP Cotidiano opinativocoluna(Vertical)
156 05/07/2013 Unidade da SRTE/CE será desativada OP Cotidiano informativo nota
157 06/07/2013 CNJ anula sorteio do TRT OP Cotidiano opinativocoluna(Vertical)
158 08/07/2013 Sobe: TRT/CE OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
159 12/07/2013CNJ rejeita sorteio para definição de ocupantede vaga OP Política informativo notícia
160 12/07/2013 140 mil reais OP Economia informativo nota
161 24/07/2013 Vara do trabalho DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
162 24/07/2013 Caucaia recebe 2ª vara do trabalho DN Cidade informativo nota
163 26/07/2013 2ª vara do trabalho é inaugurada OP Cotidiano informativo nota
164 01/08/2013 TRT impõe limites para greve de servidores daInfraero
OP Brasil informativo notícia
165 07/08/2013 TRT: execução DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
166 09/08/2013 CSP já admite atraso na obra com paralisações DN Negócios informativo notícia
167 12/08/2013 Luta judicial DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
59
168 24/08/2013 TRT faz mutirão para quitar dívida DN Negócios informativo notícia
169 25/08/2013 O TRT/CE realiza mutirão... OP Economia opinativocoluna(Vertical S/A)
170 27/08/2013Justiça do Trabalho começa mutirão para julgardívidas trabalhistas DN Negócios informativo notícia
171 29/08/2013 Quem dá mais? OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
172 29/08/2013 Bancários realizam ato no Centro de Fortaleza OP Economia informativo notícia
173 31/08/2013 Ferroviários receberão R$ 42 mi de disputatrabalhista
DN Negócios informativo notícia
174 04/09/2013 Semana de Execução rende R$ 45 milhões DN Negócios informativo nota
175 11/09/2013 TRT do CE define listas tríplices OP Política informativo notícia
176 11/09/2013 TRT/CE define lista tríplice da OAB/CE DN Cidade informativo nota
177 15/09/2013 Prejuízo, sai pra lá! OP Esportes informativo notícia
178 16/09/2013 R$ 647 milhões em dívidas trabalhistas pagas OP Brasil informativo nota
179 17/09/2013 Município ganhará vara do trabalho DN Cidade informativo nota
180 19/09/2013 Usina ainda sem perspectiva de funcionamento DN Regional informativo notícia
181 24/09/2013 Os comerciários de São Luiz vitoriosos no TRT OP Opinião opinativocoluna (OPovo ÉHistória)
182 25/09/2013 Posição OP Cotidiano opinativocoluna(Vertical)
183 14/10/2013Corregedor-geral da Justiça do Trabalho,ministro Ives Gandra Martins, estará emFortaleza
OP Política informativo nota
184 16/10/2013 TRT/CE passa por inspeção até sexta-feira OP Política informativo nota
185 18/10/2013 Folha de serviço OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
186 19/10/2013 Corregedor elogia TRT/CE após inspeção OP Política informativo notícia
187 12/11/2013 TRT lança 0800 para marcar conciliações DN Cidade informativo nota
188 17/11/2013 0800 280 1771 OP Economia opinativocoluna(Vertical S/A)
189 21/11/2013 Comissão do Senado aprova vagas OP Política informativo notícia
190 24/11/2013 Vara do trabalho DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
191 24/11/2013 Sobral DN Regional informativo nota
192 03/12/2013 Vara adota processo eletrônico OP Política informativo notícia
193 04/12/2013 Homenagem ao padrinho DN Negócios opinativo coluna(Vaivém)
194 04/12/2013 Agenda em 3 tempos: TRE, Eunício e TR do Trabalho
DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
195 05/12/2013 Julgar ações trabalhistas DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
196 05/12/2013 Posse no TRT DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
197 05/12/2013 Um novo trabalho DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
198 07/12/2013 Leilões resgatam R$ 24,4 mi no Estado DN Negócios informativo notícia
199 07/12/2013 Mérito Judiciário DN Cidade informativo nota
200 09/12/2013 8,93 milhões DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
201 09/12/2013Em todo o Brasil, há 18,2 mil vagastemporárias DN Negócios informativo notícia
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202 13/12/2013 Lembra caso Guto... OP Esportes opinativocoluna (AlanNeto)
203 13/12/2013 Unidade pode ser leiloada devido à dívida deR$ 32 mi
DN Cidade informativo notícia
204 16/12/2013 9,5 milões DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
205 05/01/2014Justiça cobra esclarecimentos sobre calendárioapertado OP Esportes informativo notícia
206 09/01/2014 Contra suspensão, FCF faz defesa OP Esportes informativo notícia
207 09/01/2014Prefeitura de Fortaleza deve pagar dívida deterceirizada OP Política informativo notícia
208 10/01/2014 Correção dos precatórios está indefinida OP Economia informativo notícia
209 13/01/2014 Tudo é novo no prédio do Fórum OP Opinião opinativocoluna (OPovo ÉHistória)
210 13/01/2014 Polícia recaptura acusado de matar servidora do TRT
DN Polícia informativo notícia
211 14/01/2014 Ceará terá que indenizar ex-zagueiro Thiago DN Jogada informativo notícia
212 16/01/2014 Nova greve foi deflagrada na CSP DN Negócios informativo notícia
213 24/01/2014 Pecém: passeata de operários DN Negócios informativo notícia
214 24/01/2014 Renda do Icasa fica retida na Justiça DN Jogada informativo notícia
215 27/01/2014 Estado busca investidor para usina de etanol DN Negócios informativo notícia
216 28/01/2014 Venda preocupa Barbalha DN Regional informativo notícia
217 01/02/2014 Sine/IDT Centro mudará de endereço DN Negócios informativo nota
218 04/02/2014 Entrada de sindicalistas volta a ser proibida OP Cotidiano informativo notícia
219 04/02/2014 Mudança de comando na CSP OP Economia informativo notícia
220 05/02/2014 Contratações do TRT são anuladas DN Cidade informativo notícia
221 06/02/2014 Grupo deve pagar R$ 10 mi de indenização DN Negócios informativo nota
222 06/02/2014 Empresa é condenada a pagar R$ 10 mi OP Economia informativo notícia
223 07/02/2014 Leão sofre derrota fora dos gramados DN Jogada informativo notícia
224 07/02/2014 TRT condena clube por burlar leis do trabalho OP Esportes informativo notícia
225 08/02/2014 Mais lida: Leão sofre derrota fora dos gramados DN Opinião opinativocoluna(Leitores eCartas)
226 09/02/2014 Lições de como vencer o impagável OP DOM informativo reportagem
227 14/02/2014 Empresa é condenada por descumprir cotas OP Economia informativo nota
228 19/02/2014 1- Água / 2- TRT DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
229 21/02/2014 Implantação DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
230 16/03/2014 Sentença OP Economia opinativocoluna(Vertical S/A)
231 20/03/2014 O Tribunal Regional do Trabalho... DN Negócios opinativo coluna(Vaivém)
232 21/03/2014 Para o trabalho DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
233 26/03/2014 35 comarcas DN Cidade opinativocoluna(Comunicado)
234 28/03/2014 Posse no TRT DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
235 29/03/2014 Novos magistrados tomam posse no TRT/CE DN Cidade informativo notícia
236 01/04/2014 Bancários contestam indefinição judicial DN Negócios informativo notícia
237 10/04/2014 Processo Judicial Eletrônico em Iguatu DN Regional informativo nota
61
238 01/05/2014 Leilão DN Negócios opinativocoluna(Vaivém)
239 01/05/2014 Super leilão OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
240 02/05/2014 TRT vai leiloar bens em maio DN Cidade informativo nota
241 07/05/2014 Só precisa caber na garagem DN Cidade opinativo coluna(Comunicado)
242 08/05/2014 Evolutivo e Clube do Advogado vão a leilão,mas não recebem lance
OP Economia informativo notícia
243 28/05/2014 A morosidade da Justiça OP Opinião opinativo artigo
244 04/06/2014 Justiça proíbe bloqueio de terminais de ônibus OP Cotidiano informativo notícia
245 04/06/2014 Terminais deverão ter nova paralisação hoje DN Cidade informativo notícia
246 05/06/2014 Trabalhadores fazem ato na Praça Portugal DN Cidade informativo notícia
247 06/06/2014 Parabéns ao juiz do trabalho EmmanuelFurtado
OP Cotidiano opinativo coluna(Vertical)
248 06/06/2014 Contrato do VLT teve ajuste de R$ 18,6 milhões
OP Política informativo notícia
249 07/06/2014 Motoristas ameaçam parar na Copa DN Cidade informativo notícia
250 11/06/2014 Poder Judiciário DN Política opinativocoluna(EdilmarNorões)
251 12/06/2014 Posse marca momento histórico OP Política informativo notícia
252 12/06/2014 Motoristas e cobradores aprovam greve a partirde segunda
OP Cotidiano informativo notícia
253 12/06/2014 Greve começa meia-noite de segunda-feira DN Cidade informativo notícia
254 13/06/2014 Greve no Pecém DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
255 13/06/2014 Livre mercado DN Negócios opinativocoluna(EgídioSerpa)
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ANEXO D – Fac-símile¹ da matéria do Diário do Nordeste de 23 de junho de 2012
¹ No site do Diário do Nordeste não está disponível a versão impressa dessa edição, por isso a reprodução daversão digital.