a lÍngua e o comportamento linguÍstico, revisÃo de literatura

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Nome da Revista de Educação Ana Cláudia Moraes Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] André Robson Nogueira Lima Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] autor 2 afiliação autor 2 [email protected] TÍTULO DO TRABALHO TODAS EM MAIÚSCULAS ESTILO <TITULO ARTIGO> DE LITERATURA RESUMO O presente estudo originou-se da constatação de em qualquer comunidade existe um conjunto diverso de variedades linguísticas, essa coexistência não existe no limbo, ela faz parte de um universo de relações socioeconômicas que são definidas pela estrutura politica existente em cada comunidade. Neste contexto, dentro da realidade do convívio social, existe um valor ordenado das diversidades linguísticas usadas e isso faz com que se incorpore uma hierarquia que representa os grupos sociais. Em todas as comunidades ocorrem variedades linguísticas que são definidas como superiores ou inferiores. Esta revisão procurou analisar estudos sobre estas variações linguísticas em artigos e livros já publicados. Esta pesquisa é uma revisão de literatura descritiva. Conclui-se que a língua mãe é dotada de variações ao longo do país, fato este pelas as dimensões continentais e pelas múltiplas imigrações dos povos para diferentes aréas do Brasil. Palavras-Chave: Comunidades; Variações; Linguística; Grupos sociais; Revisão. ABSTRACT The present study arose from the finding in any community there is a diverse set of linguistic varieties, coexistence does not exist in limbo, it is part of a universe of socioeconomic relations that are defined by existing political structures in each community. In this context, within the reality of social life, there is a value used ordered linguistic diversity and this makes it incorporates a hierarchy that represents social groups. Communities occur in all linguistic varieties that are defined as higher or lower. This review sought to analyze studies on these linguistic variations in articles and books already published. This research is a descriptive review of the literature. It is concluded that the mother tongue is 1 Anhanguera Educacional Ltda.

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Monografia do curso de Letras

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Page 1: A LÍNGUA E O COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO, REVISÃO DE LITERATURA

Revista de Educação

Ana Cláudia MoraesFaculdade Anhanguera de Aná[email protected]

André Robson Nogueira LimaFaculdade Anhanguera de Anápolisandré[email protected]

Marcelo Silva PericoliFaculdade Anhanguera de Aná[email protected]

A LÍNGUA E O COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO, REVISÃO DE LITERATURA

RESUMO

O presente estudo originou-se da constatação de em qualquer comunidade existe um conjunto diverso de variedades linguísticas, essa coexistência não existe no limbo, ela faz parte de um universo de relações socioeconômicas que são definidas pela estrutura politica existente em cada comunidade. Neste contexto, dentro da realidade do convívio social, existe um valor ordenado das diversidades linguísticas usadas e isso faz com que se incorpore uma hierarquia que representa os grupos sociais. Em todas as comunidades ocorrem variedades linguísticas que são definidas como superiores ou inferiores. Esta revisão procurou analisar estudos sobre estas variações linguísticas em artigos e livros já publicados. Esta pesquisa é uma revisão de literatura descritiva. Conclui-se que a língua mãe é dotada de variações ao longo do país, fato este pelas as dimensões continentais e pelas múltiplas imigrações dos povos para diferentes aréas do Brasil.

Palavras-Chave: Comunidades; Variações; Linguística; Grupos sociais; Revisão.

ABSTRACT

The present study arose from the finding in any community there is a diverse set of linguistic varieties, coexistence does not exist in limbo, it is part of a universe of socioeconomic relations that are defined by existing political structures in each community. In this context, within the reality of social life, there is a value used ordered linguistic diversity and this makes it incorporates a hierarchy that represents social groups. Communities occur in all linguistic varieties that are defined as higher or lower. This review sought to analyze studies on these linguistic variations in articles and books already published. This research is a descriptive review of the literature. It is concluded that the mother tongue is endowed with variations across the country, a fact by the continental dimensions and the multiple migrations of people to different areas of Brazil.

Keywords: Communities; Variations; Linguistics; Social groups; Review.

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Anhanguera Educacional Ltda.

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1. INTRODUÇÃO

Qualquer língua possui suas variações linguísticas. Estas variações podem ser notadas pela sua história no tempo e no espaço, variação histórica e regional, respectivamente. As variações linguísticas são entendidas por três fenômenos distintos (BAGNO, 1997). Nas sociedades dotadas de complexidade encontram-se diferentes variedades linguísticas, usadas por grupos sociais diferentes, com variados acessos a educação formal, observa-se que as diferenças tem uma afinidade maior com a língua falada que com a escrita (BARBOSA; LOPES; CALLOU, 2008). Indivíduos de um mesmo grupo social exprimem-se com diferentes falas, de acordo com as diferentes condições de uso, sejam elas formais, informais ou outro tipo qualquer (ALKMIN, 2001).

Apesar de grande parte de nossa população falar o português, essa língua mostra um grau alto de diversificação e variabilidade, não só pelas dimensões continentais do Brasil, que gera regionalismos, muito conhecidos e às vezes vitimas de preconceito. As diferenças sociais existentes no país explicam a existência de um abismo linguístico entre os falantes das variedades não padronizadas do português brasileiro, que é a maioria da população e os falantes da língua culta, que é a ensinada na escola (BAGNO, 2002).

Ao estudar a linguagem de uma comunidade qualquer, revela-se um conjunto de variáveis linguísticas, nota-se que a coexistência não existe à toa, pelo contrario, ela é parte integrante de um universo de relações sociais que são definidas pela estrutura politica existente em cada comunidade. Dentro deste contexto a realidade objetiva do convívio social, há uma ordem que valoriza as diversidades linguísticas utilizadas e isto anexa à projeção da hierarquia representativa dos grupos sociais. Sendo assim, e cada comunidade ocorre às variedades linguísticas que são definidas como superiores ou inferiores (SITYA; PREVEDELLO, 2003).

Naturalmente o homem tem a tendência de se identificar com a comunidade da qual convive, isto o leva a comungar e dividir os ideais, vincular-se a um grupo especifico e a identificar valores e crenças comuns a todos do grupo, quando somados, todos esses fatores darão significado e sentido a vida do ser em uma fase e lugar determinado (SOUZA, 2008).

Segundo Oliveira (2003) existe uma variação da língua no tempo, no espaço geográfico, no espaço social e de uma comunicação para outra. Portanto, podemos dizer que existem várias línguas portuguesas, onde cada

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uma delas é uma variação do português. Cada variação da língua, em principio, é um código, que possui seus próprios elementos e regras. Porem não é simples isolar e descrever tais variações, já que não existem fronteiras definidas entre elas. Sempre existirá um componente arbitral em qualquer divisão que se faça, no entanto a descrição linguística não pode dispensar estas divisões.

O movimento de trabalhadores com nível salarial baixos de uma região carente para uma grande centro urbano pode transformar um dialeto geográfico em social. O código linguístico usado pelas velhas gerações e empregado pelas gerações mais jovens são variedades diacrônicas bem próximas. Muitos dos elementos e regras informais utilizadas pela camada culta da população aparecem também nos dialetos sociais das camadas inferiores sócio culturalmente. Também existe por um lado uma tendência de correlação entre a escrita e formalidade e por outro entre a informalidade e a fala (OLIVEIRA, 2003).

Este trabalho analisou através de revisão de literatura a construção da identidade linguística através da sociedade onde o individuo está inserido, a influência da cultura comunitária na forma de expressão linguística do individuo e identificar se a construção da língua reflete o meio social onde é falada e se a língua e a cultura têm um papel importante na identidade do individuo.

2. A LINGUA CULTA

Ramos (1998) define língua como o conjunto de letras que formam palavras com sentidos diversos. E a relação dessas palavras e com suas significações chamamos de sistema. Logo, a língua é um sistema, ou seja, um conjunto de componentes que relacionam entre si e constituem um significado. Nossa língua recebe o adjetivo de “portuguesa” porque veio de Portugal, mas o português de Portugal não permaneceu em nosso país de maneira pura e simples, mas recebeu uma conotação abrasileirada e, por isso, falamos do português do Brasil.

A língua, acima de tudo, é um código social, um acordo de letras, que misturadas entre si adquirem significado para um determinado grupo social. Contudo, há uma convenção linguística, a qual permanece em um grupo social para que o intercurso possa existir entre os falantes. Porém, não quer dizer

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que todo falante vai escrever e falar do mesmo jeito, já que cada um tem a sua particularidade e um objetivo ao se comunicar (VILARINHO, 2007).

Segundo Camacho (1988), há diferenças entre norma culta e coloquial, a primeira é ditada pela obediência a normas e regras da comunicação, enquanto a segunda é àquela mais próxima da fala. Em função dessas diferenças existe o estudo da gramática da língua portuguesa, que é a investigação da correspondência entre o que se fala ou escreve e as normas ou leis para o uso da comunicação de forma culta ou polida.

Para alguns pesquisadores da Língua Portuguesa deve existir flexibilidade no ensino da língua culta:

A norma padrão constitui o português correto, tudo o que foge a ela representa erro. Dentro do ambiente escolar, muitos professores costumam repetir essa frase. Porém, é necessário que eles compreendam que não existe português certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante. Apagar uma modalidade em favor de outra é despersonalizar o indivíduo, pois este ao ingressar na escola, possui um repertório cultural já formado pelo seu meio e, se lhe for dito que tudo o que conhecia (no caso, sua linguagem) é errado, perderá sua identidade verdadeira e poderá adquirir o preconceito. Por isso, é desejável que o aluno não abandone sua modalidade em seu meio. Mas, a prática da norma culta deve ser ensinada para a promoção social do mesmo (BAGNO, 2002, p. 46).

Discute-se muito que um dos compromissos da escola é facilitar a aproximação do ser à competência comunicativa, que supostamente garantiria ao aluno galgar a um patamar superior. Entretanto, ao pensar a linguagem trabalhada na escola como um patrimônio nacional, é difícil concebê-la como um meio de ascensão a distinções, pois se situa como parcela integrante da instituição escolar (Widdowson, 1991).

Bourdieu (1996, p. 34) refere-se à língua culta como algo efêmero e desta forma sem função libertária, mas, servil a um sistema:

...quando surgem usos e funções inéditos motivados pela constituição da nação, entidade inteiramente abstrata e fundada no direito, tornam-se indispensáveis à língua-padrão, tão impessoal e anônima como os usos oficiais a que ela se presta e, ao mesmo tempo, o trabalho de normalização dos produtos dos hábitos linguísticos.

Na nossa vida a linguagem está presente em cada uma de nossas atividades, sejam elas individuais ou coletivas. As linguagens se cruzam, se completam e a ao acompanhar a transformação do ser humano se modificam. A língua concerne a todos os membros de uma comunidade, com ela é um código aceito convencionalmente, um único falante é capaz de criá-la ou modifica-la. A fala, entretanto, é individual e seu uso depende do desejo de quem fala. Há indivíduos que se expressam de modo diverso por serem de outras cidades ou regiões. Essas diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas (SOUZA, 2000).

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3. AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS

A Língua Portuguesa, usada no Brasil, é acrescentada de variações incontáveis, já que a língua é um fator social e o falante, presumidamente tem autonomia no uso dela. A variação linguística do nosso português vem de uma variedade de fatores extrínsecos a língua, por exemplo, os aspectos sociais, etários, gênero e contexto social, isto forma uma diversidade nacional. O ser apresenta estas modalidades na utilização da língua naturalmente, de acordo com suas experiência e cultura e conforme o meio em que está inserido (FARACO, 1991).

Segundo Visioli (2004, p. 21), “O reconhecimento da língua como constitutivamente heterogênea e o consequente foco na diversidade linguística iniciou-se apenas com os estudos desenvolvidos pela Sociolinguística, a partir da década de 60, que encaravam a língua como fato social, heterogêneo como a sociedade”.

Não se podem negar as diferenças linguísticas existentes dentro de uma mesma comunidade. A partir de um ponto as diferenças vão se assinalando à medida que se progride no espaço geográfico. Do mesmo modo há a constatação de diferenças linguísticas dentro de um mesmo espaço geográfico, resultante das diferenças sociais, como a educação do individuo, sua ocupação, grupos de convivência, enfim, sua identidade. Tudo isso interfere e opera como modelador da fala de alguém (ASSUNÇÃO, 2004).

2.1 A variação histórica

Conforme explica Preti (2002), a língua, com um fato social, é uma manifestação dinâmica e ao mesmo tempo conservadora. Conservadora porque precisa assegurar certo grau de invariabilidade para que possa haver a comunicação em uma comunidade linguística, é dinâmica porque se altera ao longo do tempo, estando submetida às influências regionais, sociais e estilísticas autoras das ações da variação da língua.

Segundo Mateus (2005), as variações observadas na língua ao longo do tempo tem comparação na alteração dos modos de vida de uma sociedade, nas mudanças das artes, da filosofia, ciência e nas mudanças da própria natureza. Essa evolução no tempo é um dos aspectos mais aparentes da variação que ocorre em qualquer língua. A língua varia também no espaço, o português exibe variedades nacionais de Portugal e do Brasil, onde é língua nacional e alguns países africanos onde foi adotado como língua oficial.

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Observa-se esta variação histórica em duas estrofes do poema do século 18 do poeta Gonçalves Dias:

Se se morre de amor! – Não, não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;

Quando luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n’alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,

Graciosa postura, porte airoso,

Uma fita, uma flor entre os cabelos,

Um quê mal definido, acaso podem

Num engano d’amor arrebentar-nos.

Mas isso amor não é; isso é delírio

Devaneio, ilusão, que se esvaece

Ao som final da orquestra, ao derradeiro

Na primeira estrofe, verso três, nota-se o uso da palavra “sarau”, usualmente pouco usada e conhecida atualmente. No verso cinco a palavra “assomos” já não se encontra no falar dos brasileiros e foi substituída por “arremessos”. Na terceiro verso da segunda estrofe a expressão “airoso” foi substituída pelas palavras “elegante”, “bonita” ou “esbelta”.

2.2 A variação geográfica

A língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em todo o Brasil, segundo Cunha (1984, p. 24):

Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número de diferenciações.(...) Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção."

Para Santos (2000), sempre que se encontram comunidades de fala que usam certas marcas de vocalidade, para se analisar a sociolinguística, é

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necessário respeitar as características peculiares a cada região. Esta variação é muito presente na fala brasileira, é considerado um fator de enriquecimento linguístico. Abaixo se exemplifica os diferentes falares em diversas regiões do Brasil:

O jeito nordestino de falar (de autor desconhecido disponível em http://daniellavirmes.wordpress.com):

Se é miúdo é pixototinho

Se é pequeno é cotôco.

Se é alto é galalau.

Se é franzino é xôxo.

Tudo que é bom é massa.

Tudo que é ruim é peba.

Rir dos outros é mangar.

O bobo se chama leso.

E o medroso chama frouxo.

Tá torto é tronxo.

Vai sair diz vou chegar.

Dar a volta é arrodeio.

Segundo o Portal de Tradições Gaúchas (2010), o gaúcho tem “o sotaque mais xucro, grosso e assustador de todo o universo conhecido........(e do desconhecido também) é o nosso, oriundo do gaúcho bravio, meio italianado.” Abaixo descrê-se algumas dessas expressões:

Atorá: cortar Atucanado: ocupado, atarefado

Baita: grande Bem Capaz: jamais, negação enfatizada

Cagar a pau: bater

Camassada de pau: apanhar

Campiá: procurar Capaz: verdade?

Chumaço: conjunto de alguma coisa

Cóça de laço : apanhar

Crêendios pai: exclamação quando algo dá errado

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De revesgueio: de um tal jeito

Fincá: cravar

Garrão: calcanhar

Incebando: enrolando, fazendo cera

Ingrupi: enganar

Nas diferentes regiões do Brasil há diferentes variações da língua, nos exemplos acima nota-se nitidamente as diferenças entre o nordestino e o gaúcho, cada um tem suas particularidades, mas todos falam português, a língua modificada e estruturada pela vivência do povo.

2.3 A variação estilística

De acordo com Assunção (2004) as variações estilísticas se fazem presentes na expressão individual da língua e contempla um mesmo falante em diferentes situações de diálogos, se é em ambiente familiar, profissional, se existe um grau de intimidade, qual tipo de assunto é tratado e que são os receptores deste diálogo. Existem dois limites do estilo, o informal que é utilizado num mínimo de reflexão do falante sobre as normas linguísticas e é utilizado na conversação imediata do cotidiano. O outro é o formal em que o grau de reflexão utilizado é o máximo, é utilizado nas conversas não coloquiais e o conteúdo é mais elaborado e complexo.

No poema “Pronominais” de Oswald de Andrade esta variação linguística é bem explorada:

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

As pessoas tendem a mostrar desvios maiores das normas gramaticais na língua falada, isto talvez pela rapidez com que flui a comunicação.

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Contrariamente, observa-se que ao se registrar a língua de forma escrita há mais cuidado e preocupações em obedecer às normas gramaticais, sem contar que na escrita os desvios ficam mais nítidos do que na fala.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diversidade linguística brasileira é uma riqueza cultural, ela representa o povo e entre sua maior riqueza está a língua, que dizemos portuguesa, mas que dela já se diferencia muito, hoje seguramente existe uma língua Brasileira que possui seus dialetos regionais, sotaques, escritas e vocabulário próprio. Em cada estado ou região existe um jeito de se expressar formado esse universo de variedades linguísticas existente no país.

A linguística atual revela que uma língua não é homogênea e deve ser entendida justamente pelo que caracteriza o homem, a diversidade e a possibilidade de mudanças. É preciso compreender que tais mudanças, como se pensava no início, não se encerram somente no tempo, mas também se manifestam no espaço, nas camadas sociais e nas representações estilísticas.

A citação de Santos (2000), resume este estudo: “A variação linguística, porém, não torna a língua melhor ou pior nem mais bonita. Simplesmente aproxima o indivíduo de uma melhor compreensão do mundo e sua relação no meio em que vive.”

REFERÊNCIAS

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MATEUS, Maria Helena Mira. A mudança da língua no tempo e no espaço. ILTEC – Instituto de Linguística Teórica e Computacional, 2005. Disponível em http://www.iltec.pt/pdf. Acesso em 18 nov 2011.OLIVEIRA, Helênio F.; Língua padrão, língua culta, língua literária e contrato de comunicação. Cadernos do CNLF, Série VII, n.10, 2003.PRETI, D. Oralidade e gíria: como tratá-las no ensino. In: BASTOS, N. B. (Org.). Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: EDUC, 2002.RAMOS, Jânia (1998) “História social do português brasileiro: perspectivas”, in CASTILHO, A (org.) Para uma história do português brasileiro, SP: Humanitas.SANTOS, Sebastião Lourenço dos. VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS: O confronto das equivalências e choque dos contrários. Revista Eletrônica do Curso de Letras - E-Letras, v. 1, n. 1, 2011.SITYA, Celestina V. Moraes; PREVEDELLO, Tatiana. A interferência das diferenças sociais e níveis culturais do falante no registro da língua. 2008. Disponível em: <www.fw.uri.br/letras/artigos>. Acesso em: 06 jun 2011.SOUZA, M. A. Variação Lingüística e Alfabetização no Brasil: o estado da arte de 1980 a 1994. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo 2000.SOUZA, Viviam Lacerda. Linguagem, Oralidade e Comunicação Local: O Alto-Falante na Comunidade Mineira de Senhora de Oliveira. 2008. 190 p. Dissertação (Mestrado em Educação, Administração e Comunicação). São Paulo. Universidade São Marcos.VILARINHO, Sabrina. Língua portuguesa. 2007. Disponível em www.brasilescola.com.VISIOLI, Ângela Cristina Calciolari. Política de ensino de língua portuguesa e prática Docente. Dissertação (Apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Letras). Universidade Estadual de Maringá, Paraná, 2004, 134p.WIDDOWSON, H. G. O Ensino de Línguas para a Comunicação. Campinas: Pontes, 1991.

Ana Cláudia MoraesAcadêmica do Curso de Letras da Faculdade Anhanguera de Anápolis.

Marcelo Silva PericoliProfessor do Curso de Letras da Faculdade Anhanguera de Anápolis.

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