a lÍngua portuguesa e alguns de seus aspectos histÓria, caracterÍsticas e os acordos...
TRANSCRIPT
FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LETRAS
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS
Priscila Loyola Gonzaga Aquino
APARECIDA DE GOIÂNIA 2010
2
PRISCILA LOYOLA GONZAGA AQUINO
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS: HISTÓRIA,CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS
Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da professora Esp. Odália Bispo, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Letras.
APARECIDA DE GOIÂNIA 2010
3
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS:
HISTÓRIA,CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS
Aparecida de Goiânia, ____ de dezembro de 2010.
EXAMINADORES
Orientadora – Esp. Odália Bispo – Nota: ______ / 70
Primeiro examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70
Segundo examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70
Média parcial – Avaliação da produção do Trabalho: ______ / 70
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por mais essa oportunidade de crescimento; a minha família; aos
professores que no decorrer do curso contribuíram para o meu desenvolvimento e,
em especial, à minha orientadora Odália Bispo que me auxiliou na elaboração deste
trabalho, expandindo minhas ideias e enriquecendo-o através de críticas construtivas
que foram responsáveis pelo meu desempenho, abrindo caminhos e pacientemente
me conduzindo a fazer um bom estudo.
Agradeço seu apoio, sua amizade, seu companheirismo, sua simplicidade em
se manter sempre próxima a mim disposta a esclarecer qualquer dúvida.
Fica aqui, minha gratidão e admiração acima de tudo pela excelente
profissional que é, e que se manteve durante o curso, tornando para mim um
exemplo que desejo seguir de inteligência, postura e ética.
5
Dedico este trabalho aos meus pais Hélio e Emília, aos meus irmãos Hélio Júnior e Núbia, aos meus cunhados Pablo e Fabiana e aos meus sobrinhos Maria Eduarda e Pablo Filho, pelo incentivo, cooperação, compreensão e apoio, em todos os momentos desta e de outras caminhadas. Devo mais esse passo da minha vida a grandiosa estrutura familiar que tenho, tudo o que conquisto é reflexo do excepcional convívio que me proporcionam. Um lar que me transmite confiança, respeito, credibilidade e força para batalhar por meus sonhos. Compartilharam comigo momentos de tristezas e também, de alegrias, me fazendo superar mais esta etapa, em que, com a graça de Deus está sendo vencida. Se não fosse esta união e o amor de vocês, eu nada teria! Obrigada por tudo!
6
"A língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente situado."
José Luiz Fiorin
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.. ................................................................................................ 08
1 ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA... ....................................................... 11
1.1 A evolução da língua portuguesa... ................................................ 14
2 O PORTUGUÊS BRASILEIRO... ................................................................... 16
3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL... .......... 20
4 BREVE HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA... ........ 31
5 BREVE CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS EFETUADAS
NA LÍNGUA PORTUGUESA... ......................................................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS... ........................................................................... 39
REFERÊNCIAS.. ............................................................................................... 42
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como propósito colaborar, ainda que modestamente, com
uma reflexão acerca da história, origem, mudanças, características e evolução da
língua portuguesa, bem como fazer um levantamento cronológico dos acordos
ortográficos, desde 1911 até a presente data.
A história da língua portuguesa está ligada a fatos que pertencem à história
geral da Península Ibérica. “Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o
português é o próprio latim modificado”. (COUTINHO, 1972, p. 46).
De acordo com Basso e Ilari (2007), os falantes da língua portuguesa estão
espalhados pelo mundo, sendo o Brasil o maior país de língua portuguesa do mundo
com cerca de 170 milhões de habitantes. Porém, como o português não nasceu no
Brasil e foi implantado por meio da colonização portuguesa e desde então entrou em
contato com povos de várias nacionalidades, apresenta características particulares
em vários aspectos, de acordo com a história, a cultura e as influências das demais
línguas existentes em cada país onde o português foi incorporado.
Tendo em vista que a língua é um organismo vivo, considera-se, portanto,
que ela é fruto de alterações, de contaminações, de enriquecimento e de
empréstimos, que se sucederam e vão sucedendo ao longo do tempo.
Nesse sentido, os acordos ortográficos, desde 1911, geram bastantes
discussões e divergências de opiniões, visto que, cada pessoa, seja ela, um
educador, um linguista ou qualquer outro falante da língua portuguesa, tem uma
visão diferente sobre este assunto. Acordos estes, que visam reajustar a ortografia
de um povo, torná-la única, por fim a duplicidade de normas ortográficas em todos
os países de língua oficial portuguesa.
Nos últimos anos, as críticas referentes às reformas ortográficas cresceram
notavelmente. Sejam elas, feitas por linguistas que analisam questões de sintaxe, de
gramática; por educadores, que além de analisar questões como essas, avaliam a
aplicação deste acordo, quanto às dificuldades do ensino e aprendizagem em sala
de aula; por alguns alunos, que fazem uma auto-avaliação da sua facilidade ou não
na adaptação das novas normas; ou por falantes comuns da língua, que se sentem
prejudicados por tais mudanças.
9
Com base nisso, esta pesquisa aborda a reforma ortográfica do português em
uma perspectiva histórica, assunto de grande relevância social, educacional e
pedagógica, por envolver questões ligadas à língua e a hábitos internalizados.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi feito um levantamento de
bibliografias como: livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita.
A escolha da pesquisa bibliográfica como metodologia do trabalho científico
tem como finalidade colocar o leitor em contato com aquilo que já foi escrito sobre a
língua portuguesa, mais especificamente, o Português do Brasil, de maneira
descritiva. (LAKATOS; MARCONI, 2009).
Assim, esta monografia inicialmente se limitará a fazer referência à origem da
língua portuguesa e sua evolução, fundamentada segundo Ismael de Lima Coutinho
(1972); Manoel Nascimento e Dolores Garcia Carvalho (1981).
No segundo e terceiro capítulo, comentaremos sobre a história do Português
do Brasil e suas principais características, com intuito de relatar a diversidade
geográfica, cultural e linguística existente no Português Brasileiro, como também
apresentar as particularidades desta língua.
E nos últimos capítulos, falaremos da ortografia da Língua Portuguesa, com o
objetivo de historiar a evolução da ortografia da nossa língua, levando o leitor a
reconhecer os períodos em que se divide tal história e que as controvérsias e
discussões sobre a ortografia não são recentes.
Nesse sentido, é nosso objetivo apresentar aqui uma breve cronologia das
reformas ortográficas efetuadas na língua portuguesa, pretendendo assim, expor as
mudanças ocasionadas pelos acordos orográficos em tentativa da unificação da
ortografia portuguesa, destacando suas alterações mediante postulados de Evanildo
Bechara, Terezinha Oppido, Gilverto Scarton, RV Mattos e Silva e Celso Cunha.
Partindo-se da premissa de que a mutabilidade e a variabilidade são
características básicas e inevitáveis de qualquer língua natural, esta pesquisa se
fundamentará na variação diacrônica, que é a comparação que se faz entre as
diferentes fases da história de uma língua. (BAGNO, 2007). Considera-se, então,
que as línguas mudam com o passar do tempo, o que pode ser observado, por
exemplo, quando lemos à carta de Caminha sobre o descobrimento do Brasil, algum
texto de Machado de Assis e outro dos dias atuais.
Nesta monografia, falaremos da especificidade da língua portuguesa e
buscaremos enfatizar a ideia da mutabilidade dessa língua, apresentando elementos
10
inerentes a sua história e características. Logo, a relevância deste estudo está em
demonstrar como a língua portuguesa sofreu influências de várias nações, tornando-
a plural e heterogênea. Objetivamos neste trabalho sistematizar fontes sobre este
assunto.
Visto dessa forma, tal pesquisa se revela como um importante instrumento de
estudo, procurando discorrer este tema em uma perspectiva histórica da língua,
além de enriquecer o estudo sobre a língua portuguesa e contribuir para a
complementação dos estudos realizados nas Faculdades de Letras.
11
1 ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
A língua portuguesa é um prolongamento do latim levado pelos romanos à
Península Ibérica. Por esse motivo, há uma inter-relação entre o seu histórico e a
história da Península. Apesar de que pouco se sabe a respeito dos povos que
habitavam a Península antes da invasão romana (séc. III a.C.), destaca-se que a
Península Ibérica era habitada pelos iberos, povo mais antigo de origem agrícola e
responsável pela nomeação dada à Península pelos historiadores gregos.
(CARVALHO; NASCIMENTO, 1981).
A riqueza da região peninsular em ouro e prata despertou a cobiça de outros
povos, entre eles, fenícios e gregos. O resultado da luta pela posse da região foi a
derrota e expulsão dos gregos no ano de 1100 a.C. Os fenícios, então, se fixaram na
costa meridional da Península, porém como não possuíam características
colonizadoras, pois vivam da navegação e comércio, perderam território aos
indígenas (COUTINHO, 1972).
Conforme Coutinho (idem), em época posterior (séc. V a.C.), deu-se a
penetração dos celtas, povo turbulento e guerreiro. Com o correr dos séculos,
mesclaram-se com os Iberos dando origem aos povos Celtiberos.
Os cartagineses, da mesma raça dos fenícios, estabeleceram colônias
comerciais em vários pontos da Península. Eles falavam o dialeto fenício
denominado púnico e pretendiam dominar a Península. Os celtiberos chamaram em
seu socorro os Romanos. (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981).
Roma em reação ao grande desenvolvimento dos cartagineses declarou, de
acordo com Coutinho (1972), guerra a eles (que se prolongou de 264 a 146 a.C.),
por isso no século III a.C, os romanos invadiram a Península com o intuito de sustar
a expansão de Cartago, que constituía séria ameaça ao domínio do mundo
mediterrâneo, pretendido por Roma.
Vencida Cartago, os romanos dominaram toda a Península, tornando-se ela
província romana em 197 a.C. Conforme Carvalho e Nascimento (1981), inicia-se
assim uma dominação que vai além da esfera político-militar. Roma, paralelamente à
sua conquista territorial, impunha aos vencidos seus hábitos, cultura, suas
instituições, os seus padrões de vida e sua língua: o Latim.
É importante ressaltar o fato de que os romanos impuseram o uso do Latim;
abriram escolas, construíram estradas, templos, organizaram o comércio, o serviço
12
de correio; obrigaram o seu uso nas transações comerciais e nos atos oficiais e na
organização do serviço militar obrigatório.
Segundo Coutinho (1972), os bárbaros, que invadiram a Península no século
V, eram de origem germânica e compreendiam várias nações, cada uma com o seu
dialeto particular (vândalos, suevos, visigodos, alanos), povo essencialmente
guerreiro, porém de cultura inferior a dos que viviam na Península.
Neste século (V), a Península estava completamente romanizada, isto é,
politicamente pertencendo ao Império Romano e linguisticamente falando a língua
de Roma – o Latim. Os bárbaros, mesmo vencedores, adotaram a civilização e a
língua latina. Contudo, causaram a dissolução da unidade do império.
Os bárbaros germanos fecharam escolas, pois julgavam que a instrução
enfraquecia o homem, com isso, a nobreza romana responsável pela cultivação das
letras latinas desapareceu.
Dessa forma, não havia mais os elementos unificadores da língua. O latim
ficou livre para modificar-se, passando a existir duas modalidades do latim: o latim
vulgar: sermo vulgaris, rusticus, plebeius, que segundo Carvalho e Nascimento
(1981), teve a invasão dos bárbaros como causa de sua dialetação. E o latim
clássico (sermo literrarius, eruditus, urbanus).
O latim que se vulgarizou no território ibérico foi o do povo inculto, ou seja, o
latim vulgar, que era somente falado. Era a língua do cotidiano usada pelo povo
analfabeto da região central da atual Itália e das províncias: soldados, marinheiros,
artífices, agricultores, barbeiros, escravos, etc. Era a língua coloquial, viva, sujeita a
alterações frequentes e que apresentava diversas variações. (COUTINHO, 1972).
O latim clássico era a língua falada e escrita, artificial e rígida, era o
instrumento literário usado pelos grandes poetas, prosadores, filósofos; e mais tarde
pelos conventos ou mosteiros que guardavam as tradições da língua latina
(COUTINHO, idem).
A modalidade do latim imposta aos povos vencidos era a vulgar. Tendo em
vista que os povos vencidos eram diversos e falavam línguas diferenciadas, pode-se
destacar que em cada região o latim vulgar sofreu alterações distintas o que resultou
no surgimento dos diferentes romances (latim vulgar modificado), e posteriormente
nas diferentes línguas neolatinas.
Conforme Carvalho e Nascimento (1981), as invasões não pararam por aí. No
século VIII, a península foi tomada pelos árabes, sendo que o domínio mouro foi
13
mais intenso no sul da península. Formou-se então a cultura moçárabe, que serviu
por longo tempo de intermediária entre o mundo cristão e o mundo muçulmano.
Apesar de possuírem uma cultura muito desenvolvida, esta era muito diferente da
cultura local, o que gerou resistência por parte do povo. Sua religião, língua e
hábitos eram completamente diferentes. O árabe foi falado ao mesmo tempo que o
latim vulgar (romance). As influências linguísticas árabes se limitam ao léxico no qual
os empréstimos são geralmente reconhecíveis pela sílaba inicial al- correspondente
ao artigo árabe: alface, álcool, alcorão, álgebra, alfândega... outros: bairro, berinjela,
café, califa, garrafa, quintal, xarope...
Embora bárbaros e árabes tenham permanecido muito tempo na península, a
influência que exerceram sobre a língua foi pequena, ficando restrita ao léxico, pois
o processo de romanização foi muito intenso.
Os cristãos, principalmente do norte, nunca aceitaram o domínio muçulmano.
Organizaram um movimento de expulsão dos árabes (a Reconquista). A guerra
travada foi chamada de “santa” ou “cruzada”. Isso ocorreu por volta do século XI. No
século XV, os árabes estavam completamente expulsos da península.
Durante a Guerra Santa, vários nobres lutaram para ajudar D. Afonso VI, rei
de Leão e Castela. Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha, destacou-se pelos
serviços prestados à coroa e por recompensa recebeu a mão de D. Tareja, filha do
rei. Como dote, conforme Carvalho e Nascimento (1981), recebeu o Condado
Portucalense. Continuou contra os árabes e anexando novos territórios ao seu
condado que foi tomando o contorno do que hoje é Portugal.
D. Afonso Henriques, filho do casal, funda a Nação Portuguesa que fica
independente em 1143. A língua falada nessa parte ocidental da Península era o
galego-português que com o tempo foi diferenciando-se: no sul, português, e no
norte, galego, que foi sofrendo mais influência do castelhano pelo qual foi anexado.
Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola de Direito Gerais e obriga, em decreto, o uso
oficial da Língua Portuguesa. (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981).
A língua portuguesa é transportada para o Brasil, após um longo período de
mudanças na Idade média. Tal fato ocorreu no momento das grandes navegações
entre o século XV e XVI.
Este apanhado desde o início da língua portuguesa foi realizado com intuito
de situar o leitor sobre o assunto e os diversos contatos que esta língua sofreu
desde sua origem. A seguir apresentaremos informações que consideramos
14
relevantes sobre a evolução que o português sofreu no decorrer dos séculos para
uma maior compreensão do presente trabalho.
1.1 A evolução da língua portuguesa
De acordo com Carvalho e Nascimento (1981), a evolução da língua
portuguesa pode ser definida em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica
(que compreende o período do português arcaico e moderno).
A primeira inicia-se com as origens da língua, estendendo-se ao século IX. A
língua falada na região era o romance lusitânico, uma variante do latim que constitui
um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas
(português castelhano, francês...). Este período antecede a invenção da escrita.
A segunda, proto-histórica, estende-se do século IX ao XII. Textos escritos em
latim bárbaro (modalidade do latim usado apenas em documentos e por isso
também chamado de latim tabaliônico); palavras portuguesas eram faladas, mas não
escritas, o que comprova a existência do dialeto galaico-português (COUTINHO,
1972). Dessa fase, os mais antigos documentos são um título de doação, dotado de
874, e um título de vendo de 883.
A fase histórica inicia-se no século XII, em que os textos começam ser
redigidos em português. Esta fase divide-se no período arcaico (séc. XII-XVI) e
período moderno (séc XVI-Hoje).
O período arcaico (séc. XII ou séc. XVI) compreende dois períodos distintos:
Do século XII ao XIV, com textos em galego-português;
Do século XIV ao XVI, com a separação entre o galego e o português.
O primeiro texto escrito em português foi a poesia “Cantiga da Ribeirinha”, no
século XII de Paio Soares de Taveirós dedicado à D. Maria Paes Ribeiro, a
Ribeirinha.
Quanto às composições de caráter literário, João Soares de Paiva, em 1196
escreve cantigas de maldizer. As poesias reunidas nos “cancioneiros” e, ainda, na
prosa dos cronistas como Fernão Lopes, Gomes Eanes Zuara e Rui de Pina são
textos que documentam este período arcaico (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981).
Somente a partir do século XVI, fase do período moderno, a língua
portuguesa se uniformiza e adquire características do português atual.
15
Conforme Carvalho e Nascimento (idem), por influência dos humanistas do
Renascimento, o século XV ficou marcado por um aperfeiçoamento e
enriquecimento linguístico. Ao mesmo tempo em que se procurava, ao nível das
artes e das letras, imitar os modelos latinos, tentava-se igualmente aproximar a
Língua Portuguesa da língua mãe. Aparece, em 1572, a obra de Luis de Camões, os
Lusíadas, marco histórico do nosso idioma e monumento literário e linguístico.
Sobre a publicação dos Lusíadas (1572), Coutinho afirma que:
Constitui esta obra a verdadeira epopéia nacional portuguesa. Nela se acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema. A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para Camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, rica de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo português. (1972, p. 57).
É nesse mesmo século que surgem as primeiras tentativas de
gramaticalização da língua. Fernão de Oliveira edita, em 1536, a primeira Gramática
da língua portuguesa, intitulada “Gramática da Lingoagem Portugueza”. Em 1540,
João de Barros escreve, com o mesmo título, a segunda gramática da língua
portuguesa.
A partir do século XV, através da expansão marítima, os portugueses
descobrem novas terras e a elas levam a sua língua, estendendo deste modo o
espaço geográfico em que a Língua Portuguesa serve, com mais ou menos
alterações relativamente a do povo que a divulgou, de língua de comunicação em
várias nações do mundo.
Discorreremos, no próximo capítulo, sobre alguns aspectos do Português
brasileiro.
16
2 O PORTUGUÊS BRASILEIRO
Português brasileiro ou português do Brasil é o termo utilizado para designar
a variedade da língua portuguesa falada pelos mais de 193 milhões de brasileiros
que vivem dentro e fora do Brasil, sendo a variante do português mais falada, lida e
escrita do mundo.
O português do Brasil formou-se da interação entre a língua do colonizador,
que se refere à língua do prestígio e poder; as numerosas línguas indígenas
brasileiras (principalmente o tupi, língua falada em toda costa brasileira e, por algum
tempo, língua geral do Brasil colônia); as línguas africanas provenientes do tráfico
negreiro e as línguas dos que imigraram da Europa e da Ásia, a partir dos meados
do século XIX.
À medida que foi aumentando o número de portugueses imigrantes, o
português foi se fortalecendo, conseguindo se sobrepor à língua geral.
Souza Oliveira afirma que:
a nossa língua nacional é, em substância a portuguesa, modificada na pronúncia, com leves e pouco numerosas alterações sintáticas, mas copiosamente opulenta no léxico pelas contribuições indígenas e africanas e pelos produtos da criança interna. (apud CARVALHO; NASCIMENTO, 1981, p. 99).
Segundo Oppido (2008), quando os portugueses chegaram ao Brasil, tinham
a intenção de explorar as terras, porém em cada lugar conquistado deixavam a
língua, meio de comunicação e de domínio que, com o tempo, se incorporava às
novas culturas, misturando-se com línguas já existentes e as que viriam através dos
tempos.
De acordo com Naro e Sherre (2007), entre os séculos VIII até o século XI,
bem antes da chegada dos portugueses ao Brasil, uma parte do país era ocupada
por árabes. Provavelmente, os portugueses usavam o sabir como meio de
comunicação.
Este sabir, naturalmente, era um sistema extremamente flexível, podendo comportar itens lexicais de diversas línguas românicas (ou até do árabe). Seus mecanismos sintáticos eram igualmente variáveis de lugar para lugar e de momento para momento. (NARO; SCHERRE, 2007, p. 27).
17
No início do século XVI, época dos primeiros contatos de portugueses com o
Brasil, o sistema verbal conhecido era denominado “língua de preto”, que permitia o
uso variável de flexões verbais e nominais.
Em 1532, com a atribuição de quinze capitanias hereditárias, começa a
colonização portuguesa.
Conforme Teyssier (2004), a história do português no Brasil pode ser
observada em três períodos distintos, considerando como elemento definidor o modo
de sua relação com as demais línguas praticadas no Brasil desde 1500.
O primeiro momento começa com o início da colonização até à chegada de D.
João VI (1808). Neste período, o português convive, no território que é hoje o Brasil,
com as línguas indígenas. Pouco mais de um milhão de indígenas falavam cerca de
300 línguas diferentes.
Segundo Ilari (2001), duas línguas foram descritas no Brasil-colônia, o
tupinambá (língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani), que foi usado como
língua geral na colônia, ao lado do português, graças aos padres jesuítas que
haviam estudado e difundido a língua; e o Kariri, falado no Sergipe em partes da
Bahia e do Pernambuco.
Durante muito tempo, o português e o tupi viveram lado a lado, períodos de
bilinguismo (1533 a 1654) de acordo com Teyssier (2004). Era um tupi simplificado,
gramaticalizado pelos jesuítas, que posteriormente tornou-se língua comum. Nesse
período de bilingüismo, os indígenas, africanos e mestiços aprendem o português,
de maneira imperfeita, pois tiveram que aprender rapidamente a língua dos seus
senhores. Essa necessidade imposta pelo contato social e interliguístico fez com que
se formasse, entre índios, negros e mestiços, uma linguagem rude, porém mais
conservadora, de gente inculta, denominada crioulo ou semicrioulo, que foi
disseminada pelos sertões, tornando-se a linguagem popular do interior brasileiro.
Conforme Ilari (idem), a língua geral entra em decadência entre 1654 a 1808,
limitando-se às povoações do interior e aos aldeamentos dos jesuítas, fortalecendo
o português pela costa, praticando-se falares crioulos, índios e africanos no interior.
Vários fatores contribuíram para o enfraquecimento da língua geral, entre eles a
chegada de numerosos imigrantes portugueses seduzidos pela descoberta das
minas de ouro, o Diretório criado pelo marquês de Pombal em 3 de maio de 1757,
que tinha como um dos principais objetivos ordenar que fosse extinta a distinção
18
entre brancos e índios e a expulsão dos jesuítas em 1759, que afastava da colônia
os responsáveis pelo ensino, disseminação e proteção da língua geral.
Em 1758, a língua portuguesa é imposta por iniciativa do Marques de Pombal,
ministro de Dom José I, proibindo o uso da língua geral na colônia e o seu ensino
nas escolas. Assim, os índios não poderiam usar oficialmente nenhuma outra língua
que não fosse a portuguesa.
O português passa assim a ser tanto a língua oficial do Estado como a língua
mais falada do Brasil.
Incialmente, o português brasileiro herdou cerca de 10 mil vocábulos do tupi-
guarani, palavras estas ligadas à flora e à fauna como: abacaxi, mandioca, caju,
tatu, piranha, bem como nomes próprios e geográficos.
Ainda segundo Ilari (2001), entre 1538 e 1855, dá-se o fluxo de escravos
trazidos da África. Para se ter uma ideia, no século XVI, foram trazidos para o Brasil
100.000 negros. Este número salta para 600.000 no século XVII e 1.300,000 no
século XVIII. Com isso, a língua falada na colônia recebeu novas contribuições.
Estima-se em 300 o número de palavras incorporadas ao léxico do português
brasileiro. A maioria do vocabulário está ligada à religião e à cozinha afro-brasileiras,
palavras como: caçula, moleque e samba.
A influência africana no português do Brasil deve-se principalmente aos
Iorubas, originários da costa oeste africana, vindos da Nigéria.
O segundo momento do português no Brasil começa com a chegada da
família real portuguesa ao Brasil, 1808, que caracteriza o fortalecimento da língua
portuguesa e o fim do bilingüismo. Conforme Teyssier (2004), a família real mais
propriamente, o príncipe regente, que se tornará o rei D. João VI, se refugia no
Brasil, em razão da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, com toda
sua corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da língua falada nas
grandes cidades.
Tais invasões francesas são responsáveis pela vinda de 15.000 portugueses
ao Brasil, que contribuem para “relusitanizar” o Rio de Janeiro. Esse fato lança o
Brasil ao mundo exterior, acelerando seu progresso econômico e sociocultural. O
Rio de Janeiro é transformado em capital do império, propiciando novas relações
sociais no território brasileiro, incluindo a questão linguística. Dom João VI cria a
imprensa no Brasil, funda a Biblioteca Nacional, dando à língua portuguesa um
instrumento direto de circulação, a imprensa. Tais fatos produzem certo efeito de
19
unidade do português para o Brasil, enquanto língua do Rei e da Corte. (TEYSSIER,
idem).
Este período finaliza em 1821 quando D. João VI regressa a Portugal, porém
deixando a colônia pronta para a independência.
A independência do Brasil, por sua vez, acontece em 1822, constituindo-se
como um marco do terceiro momento da língua portuguesa. Após a independência,
o português no Brasil sofreu influências de imigrantes europeus que se instalaram no
centro e sul do país. Isso explica certas modalidades de pronúncia e algumas
mudanças de léxico existentes entre as regiões do Brasil, variando de acordo com o
fluxo migratório que cada uma recebeu.
Teyssier (2004) argumenta que o Brasil afasta-se de suas origens indígenas
como consequência da independência e passa a valorizar a cultura francesa,
acolhendo também imigrantes europeus de outras nacionalidades como alemães e
italianos, fato que contribui para o branqueamento do Brasil. Com a explosão
demográfica e com o crescimento econômico, o antigo Brasil rural transforma-se
num subcontinente, elaborando o português brasileiro nas grandes megalópoles
com cerca de 13 milhões de habitantes.
20
3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Há, hoje, na língua do Brasil, uma diversidade resultante de fatores
geográficos e culturais. O português do Brasil possui particularidades que são
incansavelmente investigadas pelos linguistas.
Segundo Faraco (2005), é importante salientar que a mudança gera contínuas
alterações na estrutura das línguas sem que se perca o seu potencial semiótico;
independente da mudança, continua organizada e oferecendo a seus falantes os
recursos necessários para a circulação dos significados. Além disso, mesmo que a
língua se movimente, nunca perderá seu caráter sistêmico. Isto é, “a língua do Brasil
apresenta notas distintivas do português de ultramar no vocabulário, na fonética, na
morfologia, na sintaxe e na semântica”. (COUTINHO, 1982, p.329).
Conforme Bagno (2007), a grande mudança introduzida pela Sociolinguística1
foi a concepção de língua como um “substantivo coletivo”.
Tal concepção de heterogeneidade se distingue da visão de variação livre.
Toda e qualquer mudança é estruturada, e toda análise sociolinguística passa,
então, a se orientar para essa variação sistemática.
De acordo com Bagno (idem), nada na língua é por acaso, nenhuma variação
é aleatória ou caótica. Pelo contrário, ela é condicionada por diferentes fatores.
As mudanças linguísticas são, segundo Faraco (2005), contínuas, porém
ocorrem de maneira gradual e lenta. Atingindo sempre partes e não o todo da língua
“[...] o que significa que a história das línguas se vai fazendo num complexo jogo de
mutação e permanência, reforçando aquela imagem estática do que dinâmica que
os falantes tem de sua língua” (FARACO, 2005, p.15).
De acordo com o autor supracitado, qualquer parte da língua pode mudar,
desde aspectos da pronúncia até aspectos de sua organização semântica e
pragmática.
Faraco afirma que:
A classificação geral das mudanças é feita utilizando-se os diferentes níveis comuns no trabalho de análise linguística. Assim, na história duma
1 A Sociolinguística tem como principal objetivo a compreensão de como as mudanças se dão nos
sistemas linguísticos. “Surge durante a década de 1960, a partir dos estudos de Willian Labov sobre mudanças em progresso no inglês da ilha de Martha‟s Vineyard (1963) e da cidade de Nova York”. (LUCCHESI, 2004, p. 165).
21
língua, pode haver mudanças fonético-fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas, lexicais e pragmáticas. (FARACO, 2005, p. 34-35).
Por ser a língua um sistema, as mudanças envolvem, muitas vezes, um
conjunto de mudanças correlacionadas, e não um aspecto específico.
Características fonético-fonológicas
A mudança fonética consiste na alteração da pronúncia de uma palavra, ou
seja, a face física como os sons da fala, sua produção e qualidades acústicas são
estudadas. A fonética é a parte da gramática que estuda as múltiplas realizações
dos fenômenos; quanto à fonologia se preocupa além da sonoridade da língua, isto
é, ocupa-se com cada unidade sonora distintiva (os fonemas), estudando a face
estrutural, o sistema de relações entre essas unidades. Além disso, a fonologia
estuda os fonemas de uma língua, isolados ou combinados. (FARACO, 2005).
Assim, a substituição de /l/ por /w/ no fim de sílaba no português brasileiro
alterou a pronúncia de palavras como salta, soldado, malvado, golpe, mas não
alterou o número de fonemas do português (o /l/ continua existindo como unidade
sonora distintiva).
De acordo com Basso e Ilari (2007), o PB2 conta com um sistema fonológico
de 31 fonemas, dos quais 10 são vocálicos e 21 são consonantais.
Os fonemas [O] e [o], [e] e [E] são diferenciados (poço / posso; cesta / sesta).
Geralmente estes fonemas só entram em oposição na posição tônica das palavras,
sendo que são neutralizadas em posição átona final. Nesta posição, o falante
brasileiro pronuncia [u] – o, diz [i] por e, como no exemplo: passo – [pásu]; passe –
[pási].
As cincos vogais do PB podem ser nasalizadas como: cato vs canto(/a/ vs
/ã/), rede vs rende (/e/ vs /~e/) pinto vs pinto (/i/ vs /~i/), troco vs tronto (/o/ vs /õ/, juta
vs junta (/u/ vs /~u/).
Pode-se notar a presença dos fonemas palatais /z/, / /, / /, (como em nojo,
bucho, manha, malha) e dos fonemas róticos (/R/ e /s/) entre consoantes.
2 PB = Português brasileiro
22
No entanto, o nível fonético-fonológico acontece quando uma palavra é
pronunciada de diversos modos, seja pelo acréscimo, decréscimo ou substituição de
um fonema.
Segundo Ilari (2001, p. 245), as características fonéticas são:
a) Fechamento da vogal média átona final (-e > -i, o> u, como em fáli, fálu por
fale, falo), pronúncia que perdurou até o século XVIII em Portugal. As vogais e e o
tônicas são frequentemente pronunciadas fechadas quando a sua pronúncia, em
Portugal, é aberta; Antônio [o tônico muito fechado] (Port. Antônio [o tônico aberto],
prêmio [e tônico fechado] (Port. Prêmio [e tônico aberto] ec.;
b) Pronúncia do ditongo ei como [ej] em lei, e como [e] em primeiro; ou soa
como [o] em vou, ouro. No século XIX, Portugal inovou na pronúncia [aj] de primeiro,
porém o Brasil não acompanhou tais mudanças.
Os ditongos ei e oi, ou se fecham respectivamente em ê e ô: pêxe (por
peixe), bêjo (por beijo), oro (por ouro), tesôro (por tesouro) etc. às vezes, do ditonto
ei se pronunciam ambos os elementos: em tal caso, porém, o e do ditongo é
fechado, enquanto, em Portugal, é aberto. O ditongo escrito em o ens se pronuncia
no Brasil êi ou ê (em Portugal quase ãi): sem [pron. Sê], também [pron. Tambêi] etc.;
c) Rotacismo de l travador de sílaba (marvado por malvado), encontrado nos
falares das pessoas sem instrução escolar.
d) Supressão de –r final de sílaba: falá, contá, deitá, comê. O r final,
principalmente no infinitivo dos verbos, é suprimido no uso popular: (faze‟ (por fazer),
ama‟ (por amar)).
e) Iodização do palatal [ ] (muié, fiyo), também nos falares sem escolarização.
O palatal lh passa, no uso popular, a i semivocálico: muie‟ por (mulher), foia (por
flha) etc.;
Ainda conforme Ilari (2001, p. 246), as características fonológicas são:
a) O PB não opõe timbres abertos a fechados da vogal a seguida de nasal.
No PB fala-se contamos no presente e pretérito, enquanto que, no Português de
Portugal (PP) há duas formas: no presente fala-se contamos e no pretérito -
contámos.
b) O PB ignora as vogais escritas como a, e e o em sílaba pretônica a
oposição de um timbre aberto a um fechado. No PP ocorre esta distinção como:
pregar (um prego) e prégar (predicar).
23
A vogal o pretônica se pronuncia como o fechado, e não [=u] como em
Portugal: Portugal se lê [Portugá] e não [Portugal], automóvel se lê [automóvel] e
não [autumóvel] etc.;
A vogal e pretônico ou postônico final se pronuncia como [i]: senhora [pron.
Sinhora], gente [pron. Genti], monte [pron. Monti], de [pron. Di] etc.; quando se
encontra em posição pretônica, precedido por nasal, e conserva a sua pronúncia
portuguesa: nenhum (pron. Nenhum];
c) No PB ocorreu a semivocalização do l por isso se diz animau por animal,
como l velarizado. Perde-se assim a distinção entre o advérbio mal e o adjetivo mau.
d) Ditongação da vogal tônica final seguida de –s, -z, como em atrás dito
atráis, luz dito luis.
e) Abertura das sílabas terminadas por oclusiva em palavras: advogado, dito
adivogado; psicologia, dito pissicologia.
Os grupos consonatais formados por p, b, t, k (=c gutural) seguidos por outra
consoante, podem ser separados (somente na pronúncia) com a inserção, entre as
duas consoantes, de uma vogal epentética, e ou i: apto (áptu ou ápitu], abstrato
[abstratu ou abistratu], claro [claru ou kelaru], credo [credo ou keredu],
absolutamente [absolutamenti ou abissolutamenti] etc.;
f) Palatização de /t/ e /d/ seguidos de vogal média anterior: tio [t‟iju] e mesmo
[t iju], diferença [d‟iferensa].
As consoantes dentais t e d, em, algumas zonas do Brasil, também a gutural
c, quando são seguidas por i se palatalizam: esta palatização varia de intensidade
conforme a região e o grau de cultura dos falantes, dum mínimo que se aproxima
estas três consoantes às correspondentes consoantes inglesas a um máximo que
transforma t e d respectivamente em c e g palatais italianas de “cima”, “gita”; tive
[tiívi ou civi], noite [noitií ou noici], dia [diía ou gia], verdade [verdadií ou verdagi],
quinze [kiínzi] etc. A pronúncia mais palatalizada [ti = ci, di = gi] é considerada
eminente regional, ou seja, limitada a certas zonas do Brasil;
Conforme Gabas Jr. (apud BENTES; MUSSALIM, 2004), um dos principais
mecanismos de mudança linguística é o de mudança de som. O uso de um ou outro
som não implica diferenças de significado, mas pode implicar diferenças de status
social.
Gabas Jr. (idem) afirma que:
24
É antieconômico para os falantes de uma língua terem duas variantes de uma mesma palavra, a tendência é que apenas uma delas sobreviva. É muito difícil, no entanto, predizer quando ou mesmo se uma determinada forma vai suplantar a outra, e qual delas será a vencedora. Isso se deve principalmente ao fato de que é impossível prever o que uma comunidade linguística irá ou deixará de adotar como forma padrão, já que não é incomum observar caos em fortes tendências a determinadas mudanças não se concretizam. (apud BENTES; MUSSALIM, 2004, p. 81).
Características morfológicas
A morfologia trata dos princípios que regem a estrutura interna das palavras:
seus componentes (morfemas), os processos derivacionais, responsáveis pela
origem de novas palavras e flexionais (as formas de se marcar as categorias
gramaticais como gênero, número, aspecto, voz, tempo, pessoa). (FARACO, 2005).
Segundo Bagno (2007, p. 40), o nível morfológico varia quando existem
modificações na forma das palavras como: pegajoso e peguento, esses termos
expressam a mesma ideia, porém são construídos com sufixos diferentes.
Ilari (2001) aponta as seguintes características morfológicas:
a) Simplificação da morfologia nominal, indicando-se o plural simplesmente
através do determinante.
As características morfológicas, que distinguem o português da América do
europeu, podem produzir-se à tendência, que é limitada ao uso familiar das pessoas
menos cultas, de suprimir o s do plural nos substantivos e, às vezes, nos adjetivos e
nos verbos, sempre que haja um artigo plural, um numeral, um pronome pessoal ou
outro morfema do qual apareça claro o número gramatical: cinco mês (es) mais
tarde, as casa, você não entende nada das lei (s), três dia (s), ele desandou com as
bexiga (s), nôs havemo (s) de anda‟. Tal tendência se nota, também, nos verbos,
nos quais a 3ª pessoa singular substitui praticamente toda as formas plurais,
distinguidas somente pelo pronome sujeito, suja presença, então, se torna
indispensável: nós não pode com tanta dispesa (= despesa).
b) Simplificação da morfologia verbal, que se reduz à oposição “1ª pessoa do
singular / outras pessoas”: eu falo / você, ele, nós, eles fala.
c) Elevação da vogal temática a para e e e para i no pretérito perfeito do
indicativo, para distinção do presente do indicativo: fiquemo por ficamos, bebimo (por
bebemos).
25
d) Perda do valor comparativo de superioridade como em mais mió por
melhor, mais superior.
Características sintáticas
Segundo Faraco (2005), “a sintaxe é o estudo da organização das sentenças
numa língua”.
A variação sintática se dá quando existem diferenças como no caso das
concordâncias verbal e nominal, e também na posição dos termos na construção de
uma frase. Como exemplo, pode-se citar a expressão dê-me um cigarro usado em
Portugal, e me dá um cigarro, no Brasil.
Para Ilari (2001), as características sintáticas são:
a) Estar + ndo em correspondência ao uso europeu estar + a + r.
No Brasil é comum construções como está escrevendo, com estar + gerúndio,
não comum em Portugal, onde se encontram expressões como está a escrever, com
estar a +infinitivo. O gerúndio é usado depois do verbo estar para indicar que uma
certa ação está em curso.
b) Emprego crescente de a gente por nós.
c) Negação dupla do tipo não sei não, com a cliticização, redução e posterior
desaparecimento da primeira negação, num sei não > n‟sei não> sei não. Encontra-
se tal variação nos falares não escolarizados, o falante constrói a negativa: não vai
ninguém não, nem vou aparecer, onde se pode constatar a presença de mais de
uma partícula negativa na mesma frase.
d) Sujeito pronominal da oração infinitiva no caso oblíquo: isto é, para mim
comer em lugar de, isto é, para eu comer. Este uso, inicialmente não escolarizado,
está em processo de expansão.
e) Uso do pronome pessoal nominativo em função acusativa: eu vi ele. No
nível sintático, uma primeira característica geral do português do Brasil é que ele, no
que toca ao funcionamento dos pronomes átonos (me, te, se, lhe, o, a, etc) tem uma
colocação mais proclítica, não sendo encontrável em Portugal, por exemplo, João se
levantou, tão comum no Brasil. Isto faz com que toda a colocação de pronomes
átonos no Brasil seja bastante diferente da de Portugal.
26
Este tipo de diferença tem muito a ver com o fato de que as diferenças
fonético-fonológicas, apontadas antes, levam a um outro ritmo da frase, assim como
uma diferença de tonicidade nesses pronomes.
f) Emprego de ter por haver nas construções, com o significado de existir: tem
muita gente na rua ou hoje tem aula.
g) Construção dos verbos de movimento com a preposição em: vou na feira.
É também comum no Brasil expressões com a preposição em, que em Portugal são
com a preposição a. Tem-se no Brasil: está na janela, chegou no Brasil, quando em
Portugal se tem está à janela, chegou ao Brasil.
h) Colocação do pronome pessoal átono em posição proclítica: me empresta
dinheiro, vou lhe falar. O uso brasileiro oferece liberdade na colocação do pronome
átono, uma questão de estilo pessoal: minha mãe o chamou ou chamou-o, me dá
água ou dá-me água, me desculpe ou desculpe-me. Nota-se que o e destes
pronomes é pronunciado no Brasil como [i]. De regra, nenhuma frase pode começar
com um pronome oblíquo; No Brasil é admitido, na linguagem falada, como em: eu o
chamei, mas chamei-o (em Portugal o pron. átono segue o verbo em ambos os
casos).
Características lexicais
Pode-se estudar historicamente a composição do léxico, observando sua
origem e os diversos fluxos de incorporação de palavras de outras línguas
(empréstimos)
Faraco (2005) afirma que:
Esse tipo de estudo no eixo do tempo se correlaciona normalmente com o estudo mais amplo da história cultural da(s) comunidade(s) linguística(s), na medida em que o léxico é um dos pontos em que mais claramente se percebe a intimidade das relações entre língua e cultura. (FARACO, 2005, p. 42).
O estudo do léxico mostra diferenças entre o português do Brasil e o
português de Portugal. Essas diferenças dizem respeito ao fato de que, no Brasil,
muitas palavras tomaram outros sentidos ou foram incorporados ao português a
partir das línguas indígenas e africanas, com as quais o português esteve e está em
27
relação. Pode-se observar palavras que têm um sentido em Portugal e outro no
Brasil, a partir de exemplos retirados, sobretudo, de Teyssier (2004, p.108):
Portugal
Comboio
Autocarro
Eléctrico
Hospedeira
Cante de tinta permanente
Fato
Metro
Casa de banho
Cuecas femininas
Cancro
Dióspiro
Boleia
Brasil
Trem
Ônibus
Bonde
Aeromoça
Caneta tinteira
Terno
Metrô
Banheiro
Calcinha
Câncer
Caqui
Carona
No entanto, a variação lexical é a mudança de termos para designar um
mesmo objeto. As palavras mandioca, macaxeira, aipim são empregadas para
designar o mesmo tubérculo; as expressões guri, menino e moleque são utilizadas
para designar uma criança do sexo masculino; o que é conhecido como abóbora em
algumas regiões é chamado de jerimum em outras; e a palavra cacete que no sul é
usada para não e no sudeste para porrete.
Há no Brasil um conjunto de palavras de origem indígena, comumente o tupi,
assim como de origem africana.
Derivou-se da língua tupi, alguns sufixos que, segundo alguns autores,
funcionam mais como adjetivos do que sufixos, já que não alteram a constituição
morfológica e fonética da palavra a que se ligam. São exemplos destes sufixos o –
açu (grande), -guaçu (grande) e –mirim (pequeno) nas palavras arapaçou (pássaro
de bico grande), babaçu (palmeira grande), mandiguaçu (peixe grande), abatimirim
(arroz miúdo) ou mesa-mirim (mesa pequena). Existem, no entanto, verdadeiros
sufixos, como –rana (parecido com) e –oara (valor gentílico) nas palavras bibirana
(planta da família das anonáceas), brancarana (mulata clara) ou paroana (natral do
Pará) e marojoara (natural da Ilha do Marajó, Pará).
28
Teyssier (2004) aponta outros exemplos de origem indígena: capim, cupim,
caatinga, curimim, guri, buriti, camaúba, mandacaru, capivara, curió, sucuri, pinha,
urubu, mingau, moqueca, abacaxi, cauju, Tijuca, etc. São, em geral, palavras
relativas à designação da flora, da fauna, de alimentos, assim como de lugares.
O tráfico de escravos, especialmente da África para os engenhos brasileiros,
trouxe consigo, mormente da família banto, toda uma série de termos que em breve
veio a determinar a criação de duas línguas africanas gerais: o nagô ou ioruba –
especialmente na Bahia – e o quimbundo, mais rico de vocabulário e de expressão
no resto do país. (TEYSSIER, idem).
Exemplos de palavras de origem africana: caçula, cafuné, molambo, moleque;
orixá, vatapá, abará, acarajé; bangüê, senzala, mocambo, maxixe, samba. São, em
geral, palavras que designam elementos do candomblé, da cozinha de influência
africana, do universo das plantações de cana, do universo de vida dos escravos, e
mesmo outros de aspectos mais geral. Grandes listas de palavras dessas línguas
que se incorporaram ao português podem ser encontradas em diversos livros de
linguística histórica do português como Silva Neto (1950), Bueno (1946, 1950) e
Coutinho (1936).
Características semânticas
As características semânticas ocorrem a partir das mudanças no significado
das palavras (ou vocabulário) de uma língua.
Gabas Jr. afirma que:
[...] até o presente momento da história linguística, ainda não foi possível formular nenhum modelo abstrato de mudança semântica, como foi feito para as mudanças fonético-fonológicas e gramaticais. Isso se deve, em grande parte, e incapacidade de qualquer modelo de conseguir tratar, de maneira sistemática, todos os casos (ou tipos) de mudanças envolvendo significado [...] (apud BENTES; MUSSALIM, 2004, p. 89).
A semântica trata da significação, sendo abordado o processo gerador de
novas significações. Há processos que reduzem o significado da palavra, como a
palavra arreio que, no português medieval, designava qualquer tipo de enfeite e que
hoje designa apenas o conjunto de peças necessárias à montaria de cavalo. E
outros que ampliam o significado como a palavra revolução, que antigamente
29
designava movimento dos corpos celestes, e que hoje passou a designar também
movimentos sociais no campo semântico da política. (FARACO, 2005).
O semântico é notado quando o significado e/ou o sentido de uma palavra
varia em regiões diferentes, ou seja, o termo é o mesmo, o que modifica é o seu
significado. A ocorrência dessa variação depende de quem fala, para quem fala,
onde e quando a fala acontece. A palavra ata é um exemplo desse tipo de variação,
pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofício; outra palavra nesse sentido é
vexame que pode ser vergonha ou pressa. Essa variação depende, sobretudo, da
origem do falante.
Características pragmáticas
A variação pragmática está ligada ao grau de maior ou menor formalidade do
ambiente e da intimidade entre os interlocutores, podendo ser utilizada pelo mesmo
indivíduo em situações distintas de interação. As expressões „por favor, abram o
livro‟, „abre o livro logo!‟ e „vamos abrir o livro, gente‟ correspondem ao mesmo ato,
porém são empregadas em situações diferentes de interação social. Através dessa
análise, pode-se constatar que, como afirma Marcos Bagno (1999, p. 47), “não
existe nenhuma variedade nacional, regional ou focal que seja intrinsecamente
„melhor‟, „mais pura‟, „mais bonita‟, „mais correta‟ que outra. Toda variedade
linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a
empregam”.
Contudo, a divergência está no fato de existirem pessoas que possuem um
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que consideram
um determinado modo de falar como o “correto”, não levando em consideração
essas variações que ocorrem na língua. Porém, o senso linguistístico diz que não há
variação superior à outra, e isso acontece pelo “fato de no Brasil o português ser a
língua da imensa maioria da população não implica automaticamente, que esse
português seja um bloco compacto coeso e homogêneo” (BAGNO, 1999, p. 18).
Visto dessa forma, pode-se inferir que o falante não é obrigado a usar determinado
modo de falar apenas porque algumas pessoas, ditas importantes, o consideram
como sendo o melhor, pois as variações são mudanças naturais da língua e não são
exclusivas da língua portuguesa, todas as línguas possuem suas variedades,
dependendo da origem e do objetivo do falante ao se expressar.
30
Conforme Faraco (2005),
[...] um exemplo de pragmática histórica é a investigação do uso do termo você no tratamento do interlocutor, observando quem é tratado por esse pronome nos diversos momentos da história do português do fim do período medieval até nossos dias. (FARACO, 2005, p. 42).
Essas mudanças e variações não são controladas pelo falante, elas ocorrem
no inconsciente, em função de diversos fatores. Dependendo do meio em que a
pessoa convive, ela fala de uma determinada forma, porém se o indivíduo convive
em um meio onde existem diversos falares, ele apreende inconscientemente o falar
de todas, ou pelo menos, algumas expressões. É algo além da capacidade
puramente racional do indivíduo.
Após identificar tais características do Português Brasileiro, convém ressaltar
que as mudanças feitas pelas reformas ortográficas não abrangem todo sistema
linguístico, ou seja, as alterações não ocorrem em todos os aspectos da língua
(fonético, fonológico, morfológico, sintático, lexical, semântico e pragmático).
E ainda, que os acordos ortográficos não visam alcançar somente o
Português do Brasil. Tal acordo tem como objetivo unificar a ortografia dos países
lusófonos. Sendo assim, Brasil e Portugal, como também Angola, São Tomé e
Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Maçombique e, posteriormente, o Timor Leste
assinaram esse acordo.
Convém salientar que dentre as mudanças pelas quais passa uma língua,
está a mudança na escrita, no seu sistema que regulamenta a forma correta. Parece
impossível que isso não ocorra, uma vez que, a variação conduz tal mudança.
Nos próximos capítulos, serão relatados, de forma sucinta, a história da
ortografia da Língua Portuguesa e os acordos implantados no decorrer dos anos
com o intuito de esclarecer os períodos da ortografia e de datar as mudanças
ocorridas em consequência dos acordos ortográficos.
31
4 BREVE HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Considera-se oportuno, historiar a evolução da ortografia da nossa língua,
contextualizando assim, o assunto abordado. Os registros a que se tem acesso
revelam que a história da nossa ortografia divide-se em três períodos: o fonético, o
pseudoetimológico e o simplificado. Além de nos fazer perceber que o
desentendimento não é atual quando se fala de língua, isso se dá devido ao grande
número de falantes nos países de Língua Portuguesa e às variantes regionais.
Segundo Coutinho (1969), o período fonético, que vai do século XII ao século
XVI, inicia-se com os primeiros documentos redigidos em português. A escrita neste
período caracteriza-se pela forte tendência em ortografar as palavras como eram
pronunciadas, porém a ausência de uma normalização ortográfica conduzia a uma
variação na representação dos sons da linguagem falada.
Nesta época, não havia um padrão para a escrita, no entanto, em um mesmo
documento podiam aparecer os mesmos vocábulos grafados de formas diversas.
Logo, escrevia-se como se falava.
Quanto a esse período, Bechara afirma:
Por isso, não se deve entender ao pé da letra que o início do sistema gráfico das línguas românico-português, inclusive – era “fonético”; a denominação deve entender-se tão somente como diferente do excesso etimologizante que iria caracterizá-lo sob o influxo do Renascimento, entre os séculos XIV e VVI (BECHARA, 2009, p. 11).
Para exemplificar a ortografia dessa época, que coincide com o período
arcaico da língua, segue um treco da poesia “Cantiga da Ribeirinha”,
aproximadamente do século XII: “No mundo non me sei parelha, mentre me for
como me vai, ca já moiro por vós – e ai! Mia senhor branco e vermelho, queredes
que vos retraia quando vos eu vi em saia! Não dia me levantei, que vos enton non vi
fea!”3
O período pseudo-etimológico inicia-se na segunda metade do século XVI e
prolonga-se até 1911, ano em que é decretada a reforma ortográfica. Em 1904, o
filólogo Gonçalves Viana publica, em Portugal, a Ortografia Nacional, na qual
3 OPPIDO, Terezinha. Nova ortografia da língua portuguesa: conforme o acordo ortográfico para
países lusófonos. São Paulo: SBJ Produções, 2008, p. 05.
32
apresenta proposta de simplificar a ortografia, porém tal proposta não é adotada
neste período.
Com a chegada do Renascimento, de acordo com Coutinho (1972), a língua
portuguesa sofre influência do latim e da cultura grega. Isso levou os eruditos a
aproximarem a língua portuguesa à sua língua-mãe, provocando o abandono da
simplicidade da representação fonética e cedendo lugar a uma escrita que
respeitasse as letras originárias das palavras, isto é, sua origem etimológica.
Assim, grafavam-se poncto (poto), septe (sete), chrystal, philosophia, theatro,
chimica, rheumatismo, lyrio, sepulchro, thesouro. E empregavam-se consoantes
mudas e duplas, como: septembro, enxucto, maligno, approximar e immundos.
Duplicaram-se as consoantes intervocálicas para melhor esclarecer a
natureza da ortografia dessa época, conforme exemplo que se segue.
E a hua molher que he já de dias chamamos-lhe auellada, tomado das castalhas quase setfcas, & para expedir a casca. K dizemos viuer depressa o que se mette em muitos perigos, & arrisca a vida, tomado dos que correm ou andaõ depressa per lugares de que podem cair ou embicar. E dizemos viuer a olha por os homés que viúvem sem ordem, tomado dos que vendem a carne a olho ou aa enxerca, f. sem peso & sem medida. Estas maeiras de fallar que os Latinos tem em muito, quase se perseuera muito nellas naõ se apartando do sentido metaphorico, em que começarão, he tam freqüente aos Portugueses, que algus estarão muito espaço de tempo, fallando sempre metaphoricamente, sem se mudar da mesma metaphora.
4
A instauração da chamada grafia etimológica não conseguiu uma
uniformização, pois alguns buscavam a origem latina da palavra, outros se
reportavam ao grego ou mesmo ao francês. Surge, então, o período simplificado
(1911 até nossos dias) que retoma os princípios estabelecidos por Viana em 1904.
Viana propõe a eliminação dos fonemas gregos th, ph, ch, rh e y, consoantes sem
valor fonético; eliminação das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss: cabello
(=cabelo), communicar (=comunicar), eliminação das consoantes nulas, quando não
influenciam na pronúncia da vogal que as precede: licção (=lição), dacta (=data) e a
regularização da acentuação gráfica.
Viana impulsionou o Governo português a nomear, em 1910, uma comissão
formada por vários linguistas, visando estabelecer uma ortografia simplificada e
4 Trecho do livro Origem, e orthographia da lingoa portugueza do ano de 1784. Disponível em:
http//www.archive.org/origemeorthograp00nuneouoft/origemorthograp00nuneuoft_djvu.txt. Acesso em: 24 jun.
2010.
33
uniforme de modo a ser usada nas publicações oficiais e no ensino. Um ano depois
dá-se a Primeira Reforma Ortográfica, com esse objetivo de uniformizar a escrita.
34
5 BREVE CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS EFETUADAS NA LÍNGUA PORTUGUESA
Conforme Vieira (2004), a palavra ortografia vem do grego, orthós e graphos.
Orthós quer dizer direito, reto, exato (correto) e graphos significa a ação de escrever
(escrita).
A ortografia estuda a ação de escrever de forma correta, através do emprego
adequado das letras e sinais gráficos, que são convencionados e oficialmente
sancionados, no entanto, a ortografia é artificial, ao contrário da língua oral que é
natural.
A transcrição da linguagem oral para a escrita sofre incoerências. Nesse
caso, é feita por aproximação, na tentativa de transcrever os sons de uma língua em
símbolos escritos.
Por ter a língua portuguesa um sistema ortográfico complexo e por não se
conseguir torná-lo exclusivamente fonético, surgem desacordos e discussões
polêmicas sobre o assunto, uma vez que, é comum a existência de palavras com
dois registros distintos: um falado e outro escrito, como: recorde, subsídio, Nobel e
outros, além de existir uma acirrada disputa entre a etimologia, isto é, a história
linguística do português e sua origem e a atualização da língua falada que é
dinâmica e evolui naturalmente.
Segundo Scarton (2008), a língua portuguesa adota, basicamente, dois
critérios:
A ortografia da Língua Portuguesa adota um critério dito simplificado ou misto, ou seja, a fusão de dois critérios, o fonológico e o etimológico (ou histórico). Isso quer dizer que há casos em que as palavras são representadas de maneira aproximadamente fonética, como formas reconhecidas pelos falantes alfabetizados e que não impedem que sejam pronunciadas de modo variável em cada contexto lingüístico. Em outros casos, são representadas mantendo marcas etimológicas, lembrando suas origens. (SCARTON, 2008, p. 1).
Percebe-se que, ao convencionar um sistema ortográfico e ao estabelecer e
proclamar leis e decretos que o regulamentam, tanto a tradição lingüística quanto a
pronúncia das palavras são valorizadas.
Assim, segundo Scarton (idem), a ortografia não obedece a uma regularidade,
já que utiliza-se como critério os princípios do período simplificado ou misto. Desde
este período, 1911, as Academias de Letras do Brasil e de Ciências de Lisboa
35
tentam solucionar divergências ortográficas entre o português do Brasil e o
português de Portugal. Este primeiro acordo ortográfico não teve a colaboração dos
filólogos brasileiros, porém serve de referência até os dias atuais.
Convém salientar ainda que o que acontece nos acordos ortográficos é
sempre resultado de consensos com objetivos distintos, sendo que o principal deles
é que a Língua Portuguesa tenha um padrão ortográfico único no mundo.
Sendo uma convenção, as Academias, os estudiosos definem, de tempos em tempos, a melhor forma de grafar as palavras, levando em conta objetivos diversos, como unificar a maneira de escrever de diferentes nações que utilizam a língua, simplificar ou tornar mais lógico o sistema, etc. (SCARTON, 2008, p. 2)
5.
A questão dos acordos ortográficos da língua portuguesa não é recente.
Houve várias tentativas de acordos e de unificação. Segue abaixo um quadro
histórico6 da ortografia portuguesa.
Quadro histórico da ortografia portuguesa:
Séc. XII – Séc. XVI Período fonético.
Séc.XVI – Séc. XX Período pseudoetimológico.
Séc. XX - ... Período simplificado (também chamado de científico ou
moderno.
1904 – Portugal Surgimento da obra A Ortografia nacional, de Gonçalves
Viana.
1907 – Brasil Surgimento do primeiro projeto de reforma, proposto pela
ABL.
1910 – Portugal Implantação da República e nomeação de comissão para o
estabelecimento de uma ortografia simplificada.
1912 – Brasil/Portugal Conclusão da reforma iniciada em 1910.
1915 – Brasil Depois do fracasso do Acordo interacadêmico, aprovação
pela ABL de projeto de ajustamento da reforma brasileira
aos padrões da reforma portuguesa de 1911, com
5 SCARTON, Gilberto. Critérios que regem a nossa ortografia. Poligrafo Escolar, 2008, p.1.
6 Quadro atualizado a partir de dados retirados de KEMMLER, Rolf. Para a história da ortografia
simplificada. In: Ortografia de Língua Portuguesa: história, discursos e representações. São Paulo: Contexto, 2009, p. 53-94.
36
eliminação de todas as divergências.
1919 – Brasil Revogação pela ABL do estabelecimento em 1915.
1920 – Portugal Adoção oficial da ortografia de 1911.
1929 – Brasil Em continuação dos trabalhos no Diccionário Brasileiro da
Língua Portugueza. A Academia Brasileira de Letras
retornou à grafia de 1907, apenas com algumas alterações.
1931 – Portugal/Brasil Primeiro acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal, com
adoção (praticamente) do regime lusitano.
1934 – Brasil Promulgação da terceira Constituição; revogação dos
decretos anteriores sobre ortografia do português do Brasil:
consequente derrubada do Acordo de 1931 e adoção da
que estava em vigor em 1891.
1938 – Brasil Restauração, no Brasil, do Acordo de 1931.
1939 – Portugal /
Brasil
Envio de um ofício português para a Academia Brasileira –
tentativa de modificações de 25 bases do acordo de 1931.
1940 – Portugal Publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, com base no Acordo de 1931.
1942 – Brasil Estabelecimento das Instruções para a Organização do
Vocabulário Ortográfico da Língua Nacional.
1943 – Brasil Publicação do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (PVOLP), que tinha 1.342 páginas.
1943 –Portugal/Brasil Convenção Ortográfico entre Brasil e Portugal.
1945 – Portugal/Brasil Realização da Conferência Inter-Acadêmica de Lisboa para
a unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, com
proposta de unificação radical, devido à divergência nas
duas publicações anteriores. O Acordo, resultado dos
vocabulários de 1940 e 1943, foi acolhido pelos dois
países.
1945 – Colônias
portuguesas
O Acordo de 1945 foi implantado também nas colônias
portuguesas.
1955 – Brasil Revogação, por parte do Brasil, do Acordo de 1945, com a
volta das disposições do PVOLP. Manutenção do Acordo
por parte de Portugal.
37
1967- Portugal / Brasil Realização de um simpósio Luso-Brasileiro em Coimbra,
com o objetivo de obter a simplificação e a unificação das
grafias da Língua Portuguesa.
1971 – Brasil Supressão do acento circunflexo diferencial da maioria das
palavras, do acento grave e do acento circunflexo da sílaba
subtônica das palavras derivadas e do trema facultativo.
1973 –Portugal Supressão do acento grave e do acento circunflexo que
marcavam a sílaba subtônica das palavras derivadas, a
exemplo do Brasil.
1975 – Portugal /
Brasil
Elaboração de Acordo pelas duas Academias, sem
aprovação oficial, dadas as condições políticas em vigor.
1986 – Países luso-
falantes
Assinatura de Acordo por sete países que têm o português
como língua oficial: não vingou por se tratar de uma
reforma radical.
1990 –Países luso-
falantes
Assinatura de novo Acordo, menos radical, por sete países
que têm o português como língua oficial: Brasil, Portugal,
Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo verde, Guiné Bissau e
Moçambique.
1994 – Países luso-
falantes
Data estabelecida para a entrada em vigor do Acordo de
1990, fato que não ocorreu.
1995 – Brasil Aprovação do Acordo de 1990 pelo Congresso Nacional.
1998 Assinatura do Protocolo Modificado do Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa, que retirou do texto original a data
para sua entrada em vigor.
2004 – Países luso-
falantes
Assinatura do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo
Ortográfico, que permitiu a adesão do Timor Leste e
estabeleceu como suficiente a assinatura de três países ao
Acordo de 1990 para sua entrada em vigor.
2008 – Portugal/Brasil Aprovação do Acordo de 1990 pelo Parlamento Português.
Promulgação do Acordo pelo governo brasileiro que
mandou implementá-lo a partir de 2009.
01/01/2009 – Brasil Entrada em vigor do Acordo de 1990.
2009 – 2012 Período de transição, com a coexistência de duas normas:
38
a anterior ao Acordo de 1990 e a do próprio Acordo.
2013 Vigência tão-somente do Acordo de 1990.
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se notar através desta pesquisa sobre a língua portuguesa que, o
português brasileiro é um reflexo da superioridade cultural dos brancos sobre os
negros e os índios. Diferenciada pela ação de condições geográficas e sociais, as
línguas aqui faladas no período colonial (língua geral dos índios, criada pelos
jesuítas, e a língua dos negros (escravos africanos) influenciaram na constituição do
chamado português brasileiro.
Sem dúvida, a História confirma que o Brasil foi a maior sociedade de
escravos do Novo Mundo e, embora muito ainda deva ser investigado sobre o real
papel das etnias e das línguas em contato no Brasil Colonial, hoje se reconhece que
o papel das línguas africanas foi decisivo para o desenho do vernáculo brasileiro.
(MATTOS; SILVA, 2004).
Em suma, as referências bibliográficas consultadas, colaboram com o
conhecimento da complexidade acerca das origens e transformações do PB.
Como a língua portuguesa no Brasil não se deu em um só momento, mas sim
durante todo o período de colonização, entrando em relação constante com outras
línguas e com portugueses de várias regiões de Portugal, o Português do Brasil
apresenta diversas características, ficando evidente, portanto, que o estudo do
português do Brasil indica a necessidade de aprofundamento em pesquisas
históricas que deem mais destaque à questão das relações do português num
espaço multilingue.
Cunha (1981) afirma que:
É este conhecimento que nos falta do português do Brasil. Cumpre-nos, pois, estudar a realidade presente, não só por ela mesma, nem apenas para dela partimos em busca de uma reconstrução do passado, mas principalmente, para com ela orientarmos, planejarmos o nosso futuro. (CUNHA, 1981, p. 23).
A língua falada e escrita é dinâmica, ou seja, evolui naturalmente consoante
as influências exteriores, culturais, etc. O português, tal qual fala hoje não será
escrito e falado da mesma forma daqui a anos. Portanto, os acordos ortográficos não
conseguem acompanhar a dinâmica dessa evolução, pois não bloqueam as
evoluções naturais linguísticas.
Na perspectiva de Cunha (idem),
40
A língua que utilizamos hoje, como não poderia deixar de ser numa nação que se quer culta e dinâmica, reflete a civilização atual, rápida no enunciado, em virtude da própria rapidez vertiginosa do desenvolvimento material, científico e técnico: processos acrossêmicos, reduções as iniciais de longos títulos, interferências de vocabulários técnicos e científicos, intercomunicação de linguagens especiais, tudo vulgarizado imediatamente pelo jornal, pelo rádio, pela televisão. É uma língua em ebulição. E ainda bem, porque a petrificação linguística é a morte do idioma [...] (CUNHA, 1981, p. 23).
Os interesses norteadores da pesquisa que culmina nesta monografia
emergem em um momento em que o Acordo Ortográfico esteve e está sendo
amplamente discutido pelos falantes da língua – blogueiros, escritos, professores,
especialistas e não especialistas etc. – para refletir sobre alguns aspectos
linguísticos a partir da observação e sistematização da história da língua portuguesa
e de alguns aspectos pertinentes à questão ortográfica.
Para tanto, procedeu-se ao levantamento da origem desta língua, suas
“contaminações”, expansão e evolução, bem como sua vinda para o Brasil, as
peculiaridades e características herdadas, a partir da coleta de diversas fontes que
tratam da Língua Portuguesa e do Acordo Ortográfico.
A partir da pesquisa bibliográfica, pode-se notar a complexidade da língua em
estudo. Todo esse material comprova que a questão ortográfica é uma das questões
mais polêmica da língua, iniciada no século XII, permanecendo viva ao longo de
todo o século XX e que chega até hoje acirrando os ânimos.
A tudo isso importa acrescentar ainda que o Acordo Ortográfico,
principalmente o de 1990, teve o especial mérito de colocar a língua portuguesa e a
ortografia na pauta das discussões das Academias, das universidades, das escolas,
dos canais de comunicação, de professores e dos simples falantes.
A partir da leitura de numerosos textos sobre o assunto, admite-se que o
Acordo gerou a procura de um maior conhecimento da nossa língua, despertou a
curiosidade das pessoas sobre a origem do Português e sua trajetória no decorrer
dos anos.
Admite-se, então, que a língua portuguesa passou, ao longo de sua história,
por diversos períodos: acordos, desacordos e tentativas de acordos, sempre sob
fortes polêmicas. É importante destacar que, falando-se especificamente, na
ortografia, o clamor era impulsionado pelo medo da novidade, pelo patriotismo e
41
nacionalismo, pelo conservadorismo, pelo espírito reacionário, pela emoção e pelo
desconhecimento do assunto.
Nesse sentido, os acordos não são totalmente perfeitos e coerentes, mas isso
não é razão para proferirem ideias distorcidas sobre língua e ortografia, pois os
leitores interessados na questão ortográfica podem ficar possuídos de ideias
errôneas.
Deve-se, então, continuar a busca sobre as condições singulares pelas quais
se deu o processo de implantação da língua portuguesa no Brasil e as suas
transformações em consequência dos contatos por que passou. E ainda, outras
questões que permaneceram em aberto neste trabalho.
42
REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística. 3. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. ______. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 44. ed. São Paulo: Loyola,1999. BECHARA, Evanildo. Em demanda dos enlaces na sistematização ortográfica. In: SILVA, Maurício (org.). Ortografia de língua portuguesa: história, discurso e representações. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-16. COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1969. ______. Gramática histórica. 6.ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1972. CUNHA, Celso. Língua, nação, alienação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. FARACO, Carlos Alberto. Lingüística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2005. GABAS JR, Nilson. Linguística Histórica. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. 4.ed. São Paulo: Cortez,2004 ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. São Paulo: Ática, 2001. ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2007. KANASHIRO, Regina Áurea; RAMOS, Rogério; THAHIRA, Regiane de Cássia. Guia do Acordo Ortográfico. São Paulo: Moderna, 2008. KEMMLER, Rolf. Para a história da ortografia simplificada. In: Ortografia de Língua Portuguesa: história, discursos e representações. São Paulo: Contexto, 2009, p. 53-94.
43
LEÃO, Duarte Nunes de. Origem, e orthographia da lingoa portugueza. Internet Archive,1784. Disponível em: <http//www.archive.org/origemeorthograp00nuneouoft/origemorthograp00nuneuoft_djvu.txt>. Acesso em: 24 jun. 2010. LUCCHESI, Dante. Sistema, mudanças e linguagem: um percurso na história da lingüística moderna. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalho científicos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MATTOS E SILVA, R. V. O português são dois: novas fronteiras, velhos problemas. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Chistina.(orgs) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. NARO, Anthony Julius; SHERRE, Maria Marta Pereira. Origens do português brasileiro. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. NASCIMENTO, Manoel; CARVALHO, Dolores Garcia. Gramática histórica: segundo grau e vestibulares. 13. ed. São Paulo: Ática, 1981. OPPIDO, Terezinha. Nova ortografia da língua portuguesa: conforme o acordo ortográfico para países lusófonos. SBJ Produções Supervisão Pedagógica, 2008. SCARTON, Gilberto. Critérios que regem a nossa ortografia. Poligrafo Escolar, 2008. p. 1-9. SILVA NETO, Serafim da. As três fases da história da língua portuguesa no Brasil. In: Introdução da língua portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1951. ______. A língua portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1960. TEREZINHA. Nova ortografia da língua portuguesa: conforme o Acordo Ortográfico para países lusófonos. São Paulo: SBJ Produções, 2009.
44
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. VIEIRA, Harry. Língua Portuguesa: projeto escolar e cidadania para todos. 1.ed.
São Paulo: Editora Brasil,2004.