a minha boneca anita

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A minha Boneca Anita

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Page 1: A Minha Boneca Anita

A minha Boneca Anita

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A Minha Boneca Anita!

Era uma vez uma menina chamada Eva, que tinha os seus 7 aninhos. A Eva era uma menina muito querida, muito amável e sociável. Como todas as outras crianças tinha as suas preferências, principalmente no que tocava a brincadeiras! A criança gostava de brincar com as suas amigas pela rua, no parque infantil e na escolinha. Mas todos os dias quando chegava a casa a Eva tinha uma amiga muito especial, a sua Boneca Anita! A Anita era a sua boneca desde que nascera, quando era nova, Anita tinha uma cara muito bonita, umas bochechas muito vermelhas, uns olhos muito grandes e um nariz muito perfeito, tinha uns cabelos castanhos, longos e brilhantes. Mas, os anos passaram e Eva cresceu, e Anita foi a única boneca que desde sempre a acompanhou e da qual não se queria afastar nunca! Já lá iam sete anos e Anita estava a ficar velha e feia, mas ainda assim Eva continuava a adora-la como sempre!

— Não leves sempre essa boneca suja contigo para a cama — disse a mãe de Eva.

— A minha Anita não é nenhuma boneca suja — respondeu Eva — A minha Anita é muito querida.

— Mas está muito feia — continuou a mãe. — Olha só para a cara e para os cabelos dela!

Quando se olha para a boneca Anita, assim, sem se gostar dela, tem de se admitir. Bonita, não é. As bochechas estão cinzentas e a esboroar-se de tantos beijos e tantas lavagens. Já não tem propriamente um nariz, apenas uma saliência suja, e dos cabelos castanhos já só ficou um pequeno tufo de cabelos ralos.Isto não incomodava Eva, mas a mãe dizia-lhe constantemente:

— Não queres pedir uma boneca nova pelo Natal? — perguntava-lhe.

Eva apertava a Anita contra si e dizia:

— Não!

— Tenho outra ideia — disse a mãe. — Vamos levar a Anita a um hospital de bonecas e lá põem-lhe cabelo novo e outro nariz.

Eva defendia-se. Não queria entregar a Anita. Sem dúvida que esta menina tem um apego muito grande aquelas que são as coisas e às pessoas que mais bem lhe fazem á sua vida quotidiana, não há realmente dúvidas que Eva e a sua mãe tiveram desde cedo uma relação de vinculação muito forte que transmitiu à criança os valores básicos e a confiança suficiente para se poder relacionar afectivamente com aquilo ou aqueles que a fazem feliz!Devido a toda esta confiança transmitida desde sempre, Eva sentia-se dotada de alguma resiliência, pois mesmo quando todos estavam contra si e contra a sua melhor amiga (a Boneca Anita), nunca desistiu e teve a capacidade de lutar sempre pela continuidade da boneca na sua vida!

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Mas, certo dia, Alex, (que tinha desde cedo, um preconceito muito grande de componente emocional para com a boneca de sua irmã mais nova) disse uma coisa feia, uma coisa muito má:

— A tua boneca é um careca tinhoso!

Eva desatou a chorar. Depois, observou a sua Anita pela primeira vez com olhos de ver. Era verdade! A cara da Anita estava cheia de nódoas a descamar-se, e quase totalmente careca. Se até à data Eva nunca se quis conformar com o facto de a sua querida boneca estar quase a “morrer”, teve nesta altura, de adoptar uma posição conformista e dar razão à sua mãe e ao seu irmão! Foi difícil para a menina conformar-se com uma coisa que seria para si muito triste. Ela não podia perder a sua boneca, mas tinha de admitir que ela não estaria em bom estado e se não fizesse nada por ela (conformar-se com a situação e ouvir as soluções da mãe), acabaria mesmo por perde-la!

Eva correu para a mãe, pois era nela que via todo o seu apoio se perdesse a sua bonequinha.

— Achas — disse a soluçar — que no hospital das bonecas vão ser bons para a minha Anita?

— Mas claro que sim! — sossegou-a a mãe.

— Então… Por mim, podes levá-la…

Logo na manhã seguinte, a mãe foi ao hospital das bonecas. Era o único na cidade, pois já não havia muita gente que mandasse consertar bonecas.No hospital das bonecas, um homem examinou a Anita, a sua primeira impressão, ou seja, a ideia obtida no primeiro contacto, foi sem dúvida a mais esperada pela mãe de Eva devido ao avançado estado de degradação da boneca! O examinador fez uma categorização moral e instrumental:

— Tem pouco que se aproveite. Precisa de uma cabeça nova, e os braços e as pernas também deviam ser substituídos.

Apresentou à mãe diversas cabeças de bonecas, mas não havia nenhuma que fosse igual à da Anita.

— Além disso — continuou o homem — a reparação custa mais do que uma boneca nova.

Vendo que mesmo concertando Anita, ela nunca mais seria a mesma, a mãe de Eva procurou em todas as lojas de brinquedos na expectativa de encontrar uma boneca que, pelo menos, fosse mais ou menos semelhante à antiga Anita. Acabou por comprar uma do mesmo tamanho e com os mesmos cabelos castanhos. No resto, a nova boneca era um pouco diferente, mas encantadora, e tinha uma cara que se podia lavar com água.Quando chegou a casa com as duas Anitas, a nova e a velha, Eva ainda estava na escola. Mas Alex já tinha vindo da escola e descobriu a caixa no cesto de compras da mãe.

— Aha! — disse. — Compras de Natal!

— Uma boneca nova para a Eva — respondeu a mãe. — Mas ela não pode saber. Tem de pensar que é a sua Anita.

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— Aha! — disse Alex. — Mentiras de Natal!

— Não sejas atrevido — disse a mãe. — É o melhor para a Eva.

— Deixa-a lá ficar com o careca tinhoso — disse Alex.

A mãe arrumou a caixa com a nova boneca no armário da roupa.

— Fico contente por finalmente nos vermos livres daquela coisa tão estragada.

Atirou a Alex o saco de plástico com a antiga boneca.

— Toma — disse. — Mete-a no contentor do lixo, mas lá para o fundo.

Alex pegou na boneca e saiu do quarto a assobiar baixinho.

Desde que a Anita desaparecera, Eva perguntava por ela todos os dias.

— A minha Anita ainda está no hospital? O homem é simpático com ela? Ela não tem saudades? Vou mesmo voltar a tê-la pelo Natal?

E a mãe respondia sempre:

— Sim, Eva. Com certeza, Eva. Não te preocupes, Eva.

Para a noite de Natal, a mãe de Eva vestiu à nova boneca o vestido da Anita e pô-la debaixo da árvore. Com esta atitude, de vestir à nova boneca o vestido vermelho da antiga boneca, achava a mãe, ficava mesmo parecida com a Anita.

Mas, quando estendeu a boneca a Eva e disse: — Ora vê como ficou linda a tua Anita! — Eva não aceitou e cruzou as mãos atrás das costas.

— Não! — gritou. — Essa não é a minha Anita!

E olhava decepcionada para a nova boneca:

— Eu quero a minha Anita… a minha Anita! — e começou a chorar baixinho sem parar.

Desta vez a criança adoptou uma posição inconformista, não se conformando com o facto de lhe terem trocado a sua Anita por outra boneca! A mãe não contara com isto e tentou consolar Eva. Mostrava-lhe outras prendas, levava-a à árvore de Natal, mas Eva mantinha os olhos baixos. Não queria ouvir nada nem ver prenda nenhuma. Um sentimento de tristeza assolava o natal de Eva, pois aquela que era a sua verdadeira alegria e com quem mantinha laços de imensa afinidade não estava presente naquele dia tão importante! Mas onde estaria Anita, pensava ela!

— Anita! — queixava-se a menina. — Onde puseram a minha Anita?

Disse então Alex:

— Se não lhe devolverem o careca tinhoso, vai estragar-nos a festa de Natal.

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— Mas… — balbuciou a mãe — tu deitaste…

— Achas? — perguntou Alex.

Correu ao quarto e regressou com um saco de plástico que meteu nas mãos de Eva. Existiu assim, uma dissonância Cognitiva entre filho e mãe, pois o irmão de Eva tomou uma atitude (guardar a boneca, para algum imprevisto que suspeitava acontecer naquela noite), e a mãe tomou outra (deitar a boneca fora, para que não existisse mais nas suas vidas).

— Anita! — gritou Eva, tirando do saco a velha boneca careca.

Alex sorria.

— E o que vais fazer agora à boneca nova?

— Esta? — perguntou Eva. — Vou dá-la a uma menina que eu não conheça.

— A uma menina… — repetiu Alex. — Ah, claro. Ela não pode ficar a saber que tens uma boneca careca fantástica!

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Conceitos:

Vinculação: A Vinculação é a necessidade de estabelecer laços, contacto emocional entre o bebé, a mãe, o pai e outras figuras significativas próximas, tias, tios, primos e avós. A vinculação não é inata o que é inato é o potencial para a desenvolver, logo poder-se-á dizer que é um processo biologicamente determinado. A vinculação entre mãe e filho começa muito antes do seu nascimento. Sendo uma experiência única vivenciada pela mão e pelo bebé que será crucial para o desenvolvimento de capacidades emocionais no seu futuro:

Resiliência: A resiliência é a capacidade que indivíduo tem para lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas;

Preconceitos: O preconceito é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas, lugares ou coisas que consideramos diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente;

Conformismo: Tendência de se conformar com os usos estabelecidos;

Impressão: Perfeição que afecta a mente com grande força e vivacidade. “Esta designação abrange todos os sentimentos, paixões e emoções, quando efectuar a sua primeira comparência perante as nossas mentes”. Pode ser simples e complexos. Devemos também distinguir entre sentido impressões (Originárias) e impressões de reflexão. As impressões de sentido são o fundamento de que todos os nossos conhecimentos, e surgem na alma de causas desconhecidas, inexplicável pela razão humana;

Categorização: É o processo pelo qual ideias e objectos são reconhecidos, diferenciados e classificados. Em linhas gerais, a categorização consiste em organizar os objectos de um dado universo em grupos ou categorias, com um propósito específico;

Expectativa: Esperança de que algo aconteça;

Atitude: Designa em psicologia a disposição ligada ao juízo de determinados objectos da percepção ou da imaginação - ou seja, a tendência de uma pessoa de julgar tais objectos como bons ou ruins, desejáveis ou indesejáveis;

Inconformismo: Atitude de não seguir o que está socialmente estabelecido, não corresponder às expectativas dos outros, o que pode implicar críticas, punições ou até marginalizações;

Dissonância cognitiva: É um termo da psicologia social, que se refere ao conflito entre duas ideias, crenças ou opiniões incompatíveis. Como esse conflito geralmente é

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desconfortável os indivíduos procuram acrescentar "elementos de consonância", mudar uma das crenças, ou as duas, para torna-las mais compatíveis.

Conclusão:

Eva com este seu comportamento ao longo de todo o decorrer da história, demonstrou ter uma grande afectividade com a sua boneca, tendo desta forma lutado sempre para que a sua amiga pudesse estar junto de si, mostra assim, as bases de uma relação afectiva, como a união, a confiança, a entre ajuda entre muitas outras coisas! Eva comprovou que a sua vinculação com a mãe teria sido muito forte por todas as atitudes que demonstrou para com a sua boneca! De entre muitos outros conceitos penso que este tenha sido o principal no desenrolar da história!