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A Misericórdia e os Maristas de Champagnat

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A Misericórdia e os Maristas de Champagnat

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Concepção e coordenação técnica

Grupo Marista | Assessoria de Comunicação Institucional e Setor de Pastoral

Superior Provincial Irmão Joaquim Sperandio

Vice Provincial Irmão Antônio Benedito de Oliveira

Produção Assessoria de Comunicação Institucional e Setor de PastoralAssessoria de Comunicação Institucional e Setor de PastoralIrmão Antônio Benedito de Oliveira • Angelo Alberto Diniz Ricordi • Bruno Manoel Socher • Cesar Leandro Ribeiro • Fabíola Roes • Irene Elias Simões • José André de Azevedo • Juliana Maria Fontoura

Coordenação editorial Irene Elias Simões • Angelo Alberto Diniz Ricordi

Seleção de Textos Angelo Alberto Diniz Ricordi • José André de Azevedo

Projeto gráfico e diagramação Capitular Design Editorial

Revisão José André de Azevedo • Irmão Ivo Antônio Strobino

Imagens Capa – Sérgio Ceron • Miolo – Irmão José Santamarta

Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem sua autorização expressa por escrito

1a edição 2015

Grupo Marista| Assessoria de Comunicação Institucional | Setor de PastoralRua Imaculada Conceição, 1155, Bloco Administrativo, 9º andar.Curitiba – PR | 41 3271-1153

678 Grupo MaristaA misericórdia e os Maristas de Champagnat / Grupo Marista. – Curitiba : Editora Champagnat, 2015. 83 p. : il.; 18 cm.

ISBN 978-85-7292-375-0 – impresso ISBN 978-85-7292-376-7 – digital

1. Misericórdia. 2. Espiritualidade. 3. Marcelino Champagnat. I. Grupo Marista. CDD: 284.4

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Sumário

Apresentação ............................................... 5

Misericordiae Vultus ......................................... 9

Chave de leitura ........................................... 47

A Misericórdia na tradição Marista ................. 55

1. Misericórdia em Marcelino Champagnat ................................ 57

2. Misericórdia nas cartas de Marcelino Champagnat ............................ 63

3. A Misericórdia em alguns documentos Maristas ................................... 67

Referências .................................................. 81

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Apresentação

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Apresentação

A história de nossa espiritualidade é de paixão e misericórdia, paixão por Deus

e misericórdia pelas pessoas.(Água da Rocha, n.1)(Água da Rocha, n.1)

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Estimados Maristas de Champagnat,Estimados Maristas de Champagnat,

No dia No dia 0808 de Dezembro de 2 de Dezembro de 201015, Solenidade da 5, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e 5Imaculada Conceição de Maria e 500º aniversário de encerº aniversário de encer--ramento do Concílio Vaticano II, o Papa Francisco abriu ramento do Concílio Vaticano II, o Papa Francisco abriu o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ao explicar o o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ao explicar o motivo deste Jubileu, escreveu:motivo deste Jubileu, escreveu:

Escolhi a data de Escolhi a data de 88 de Dezembro porque é cheia de de Dezembro porque é cheia de significado na história recente da Igreja. Com efeito, significado na história recente da Igreja. Com efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II. A Igreja sente a necesConcílio Ecumênico Vaticano II. A Igreja sente a neces--sidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava sidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então, para ela, um percurso novo da sua história. então, para ela, um percurso novo da sua história. Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível. Derrubadas as muralhas que, por demacompreensível. Derrubadas as muralhas que, por dema--siado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela siado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova. (de maneira nova. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.004)4)

Vivemos na Igreja uma redescoberta dos ensinaVivemos na Igreja uma redescoberta dos ensina--mentos do Concílio. Tanto o Papa João XXIII quanto o mentos do Concílio. Tanto o Papa João XXIII quanto o Papa Paulo VI viam o acontecimento do Concílio como Papa Paulo VI viam o acontecimento do Concílio como uma graça especial de Deus para o nosso tempo. O caráter uma graça especial de Deus para o nosso tempo. O caráter eminentemente pastoral do Concílio apresentou-nos uma eminentemente pastoral do Concílio apresentou-nos uma Igreja-Mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia Igreja-Mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia.de misericórdia.

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7Apresentação

Nossa espiritualidade é fruto deste projeto de Igreja. Nossa espiritualidade é fruto deste projeto de Igreja. O Projeto Marista de uma Igreja de Rosto Mariano inseO Projeto Marista de uma Igreja de Rosto Mariano inse--re-se na mais autêntica recepção do Concílio Vaticano II: re-se na mais autêntica recepção do Concílio Vaticano II: uma Igreja uma Igreja servaserva e e mãemãe. Esse é o projeto de Igreja de . Esse é o projeto de Igreja de Francisco; essa é a revolução da ternura à qual todos Francisco; essa é a revolução da ternura à qual todos somos chamados.somos chamados.

Participemos deste Ano Santo nos preparando verParticipemos deste Ano Santo nos preparando ver--dadeiramente para o encontro com Jesus, o rosto da dadeiramente para o encontro com Jesus, o rosto da Misericórdia do Pai. Vivenciemos as celebrações litúrgicas Misericórdia do Pai. Vivenciemos as celebrações litúrgicas da Igreja, aproveitando os momentos de peregrinações, da Igreja, aproveitando os momentos de peregrinações, passando pela Porta da Misericórdia que será escolhida passando pela Porta da Misericórdia que será escolhida em cada diocese, nos preparando por meio do sacramento em cada diocese, nos preparando por meio do sacramento da Reconciliação e sobretudo pelas obras de misericórdia. da Reconciliação e sobretudo pelas obras de misericórdia.

O Papa Francisco nos motiva: O Papa Francisco nos motiva: Há momentos em que soHá momentos em que so--mos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na mimos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na mi--sericórdia para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai sericórdia para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n. 03). , n. 03). Esse é um tempo favorável Esse é um tempo favorável a nós, Maristas de Champagnat, que caminhamos ilumia nós, Maristas de Champagnat, que caminhamos ilumi--nados por Maria, rumo a um “Novo Começo”.nados por Maria, rumo a um “Novo Começo”.

Que Maria, nossa Boa Mãe, fonte da ternura e tesouQue Maria, nossa Boa Mãe, fonte da ternura e tesou--ro da misericórdia de Deus, volte para nós o seu olhar, ro da misericórdia de Deus, volte para nós o seu olhar, Ela que tudo fez e continua fazendo entre nós. Ela que tudo fez e continua fazendo entre nós.

Irmão Joaquim SperandioIrmão Joaquim SperandioProvincial da PMBCS

Irmão Antônio Benedito de OliveiraIrmão Antônio Benedito de OliveiraVice-Provincial da PMBCS

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Misericordiae Vultus

Bula de proclamação do jubileu extraordinário

da misericórdia

Francisco, Bispo de Roma, Servo dos Servos de Deus a

quantos lerem esta carta graça, misericórdia e paz

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11. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mis. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mis--tério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a tério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, “rico atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, “rico em misericórdia” (Ef 2, em misericórdia” (Ef 2, 44), depois de ter revelado o ), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como “Deus misericordioso e cleseu nome a Moisés como “Deus misericordioso e cle--mente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade” mente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade” (Ex (Ex 3434, , 66), não cessou de dar a conhecer, de vários mo), não cessou de dar a conhecer, de vários mo--dos e em muitos momentos da história, a sua naturedos e em muitos momentos da história, a sua nature--za divina. Na “plenitude do tempo” (Gl za divina. Na “plenitude do tempo” (Gl 44, , 44), quando ), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (Cf. Jo O vê, vê o Pai (Cf. Jo 1414, , 99). Com a sua palavra, os ). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.a misericórdia de Deus.

2. Precisamos sempre contemplar o mistério da miseri2. Precisamos sempre contemplar o mistério da miseri--córdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição córdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao noso ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nos--so encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que so encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amaporque nos abre o coração à esperança de sermos ama--dos para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.dos para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

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11Misericordiae Vultus

33. Há momentos em que somos chamados, de manei. Há momentos em que somos chamados, de manei--ra ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórra ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericór--dia para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do dia para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes. O Ano Santo abrir-se-á no testemunho dos crentes. O Ano Santo abrir-se-á no dia dia 88 de dezembro de 2 de dezembro de 2015015, solenidade da Imaculada , solenidade da Imaculada Conceição. Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Conceição. Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa história. Depois do Deus desde os primórdios da nossa história. Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanipecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humani--dade sozinha e à mercê do mal. Por isso, pensou e quis dade sozinha e à mercê do mal. Por isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no amor (Cf. Ef Maria santa e imaculada no amor (Cf. Ef 11, , 44), para que ), para que Se tornasse a Mãe do Redentor do homem. Perante a Se tornasse a Mãe do Redentor do homem. Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado e ninguém pode colocar um limite qualquer pecado e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa. Na festa da Imaculada ao amor de Deus que perdoa. Na festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa. Será Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa. Será então uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pesentão uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pes--soa que entre poderá experimentar o amor de Deus soa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança. No domingo seque consola, perdoa e dá esperança. No domingo se--guinte, III Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta guinte, III Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo dooutras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo do--mingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que mingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta

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12 Francisco

da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de poderá ser aberta também nos Santuários, meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão. Assim, cada Igreja encontram o caminho da conversão. Assim, cada Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência particular estará diretamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual. Portanto, o Jubileu será de graça e renovação espiritual. Portanto, o Jubileu será celebrado, quer em Roma, quer nas igrejas particulacelebrado, quer em Roma, quer nas igrejas particula--res, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.res, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.

4. Escolhi a data de 4. Escolhi a data de 88 de Dezembro porque é cheia de de Dezembro porque é cheia de significado na história recente da Igreja. Com efeito, significado na história recente da Igreja. Com efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II. A Igreja sente do Concílio Ecumênico Vaticano II. A Igreja sente a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então, para ela, um percurso novo da sua Começava então, para ela, um percurso novo da sua história. Os Padres, reunidos no Concílio, tinham história. Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível. Derrubadas as murade modo mais compreensível. Derrubadas as mura--lhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a lhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova. Uma nova de anunciar o Evangelho de maneira nova. Uma nova etapa na evangelização de sempre. Um novo comproetapa na evangelização de sempre. Um novo compro--misso para todos os cristãos de testemunharem, com misso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai. Voltam à mente aquelas palavras, cheias amor do Pai. Voltam à mente aquelas palavras, cheias de significado, que São João XXIII pronunciou na de significado, que São João XXIII pronunciou na

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13Misericordiae Vultus

abertura do Concílio para indicar a senda a seguir: abertura do Concílio para indicar a senda a seguir: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. […] o remédio da misericórdia que o da severidade. […] A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mosEcumênico o facho da verdade religiosa, deseja mos--trar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia trar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela sepade misericórdia e bondade com os filhos dela sepa--rados”.rados”.1 E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do Concílio: “Desejamos notar que a religião do nosso Concílio: “Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade. [...] Aquela Concílio foi, antes de mais, a caridade. [...] Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norantiga história do bom samaritano foi exemplo e nor--ma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. ma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. […] Uma corrente de interesse e admiração saiu do […] Uma corrente de interesse e admiração saiu do Concílio sobre o mundo atual. Rejeitaram-se os erros, Concílio sobre o mundo atual. Rejeitaram-se os erros, como a própria caridade e verdade exigiam, mas os como a própria caridade e verdade exigiam, mas os homens, salvaguardado sempre o preceito do respeito homens, salvaguardado sempre o preceito do respeito e do amor, foram apenas advertidos do erro. Assim se e do amor, foram apenas advertidos do erro. Assim se fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo atual não com presságios Concílio falasse ao mundo atual não com presságios funestos, mas com mensagens de esperança e palavras funestos, mas com mensagens de esperança e palavras de confiança. Não só respeitou, mas também honrou de confiança. Não só respeitou, mas também honrou os valores humanos, apoiou todas as suas iniciativas e, os valores humanos, apoiou todas as suas iniciativas e, depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. […]. Uma outra coisa, julgamos digna de considera[…]. Uma outra coisa, julgamos digna de considera--ção. Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a ção. Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a

1 Discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudet Mater Ecclesia (11/10/1962).

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14 Francisco

isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades”.necessidades”.2 Com estes sentimentos de gratidão pelo Com estes sentimentos de gratidão pelo que a Igreja recebeu e de responsabilidade quanto à que a Igreja recebeu e de responsabilidade quanto à tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa com plena confiança de ser acompanhados pela força com plena confiança de ser acompanhados pela força do Senhor Ressuscitado, que continua a sustentar a do Senhor Ressuscitado, que continua a sustentar a nossa peregrinação. O Espírito Santo, que conduz os nossa peregrinação. O Espírito Santo, que conduz os passos dos crentes de forma a cooperarem para a obra passos dos crentes de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim de ajudá-lo a contemplar o rosto povo de Deus a fim de ajudá-lo a contemplar o rosto da misericórdia.da misericórdia.3

5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de 5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, 2Jesus Cristo, Rei do Universo, 200 de novembro de 2 de novembro de 2016016. . Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimenantes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimen--to à Santíssima Trindade por nos ter concedido este to à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça. Confiaremos a vida tempo extraordinário de graça. Confiaremos a vida da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso à Realeza de Cristo, para que derrame a sua miserià Realeza de Cristo, para que derrame a sua miseri--córdia, como o orvalho da manhã, para a construção córdia, como o orvalho da manhã, para a construção de uma história fecunda com o compromisso de todos de uma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo. Quanto desejo que os anos futuros no futuro próximo. Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura

2 Alocução na última sessão pública (07/12/1965).

3 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 16; Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 15.

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15Misericordiae Vultus

de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.já presente no meio de nós.

6. “É próprio de Deus usar de misericórdia e nisto se 6. “É próprio de Deus usar de misericórdia e nisto se manifesta de modo especial a sua onipotência”.manifesta de modo especial a sua onipotência”.4 Estas Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não se trata, de modo algum, de misericórdia divina não se trata, de modo algum, de um sinal de fraqueza, mas, antes, da qualidade da um sinal de fraqueza, mas, antes, da qualidade da onipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa onipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas coletas mais antigas, convida a rezar assim: das suas coletas mais antigas, convida a rezar assim: “Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quan“Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quan--do perdoais e Vos compadeceis…”.do perdoais e Vos compadeceis…”.5 Deus permanecerá Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso. “Paciente e misericordioso” é santo e misericordioso. “Paciente e misericordioso” é o binômio que aparece, frequentemente, no Antigo o binômio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O fato Testamento para descrever a natureza de Deus. O fato de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concrede Ele ser misericordioso encontra um reflexo concre--to em muitas ações da história da salvação, nas quais a to em muitas ações da história da salvação, nas quais a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição. sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição. Os Salmos, em particular, fazem sobressair esta granOs Salmos, em particular, fazem sobressair esta gran--deza do agir divino: “É Ele quem perdoa as tuas culpas deza do agir divino: “É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura” a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura”

4 Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 30, a. 4.

5 XXVI Domingo do Tempo Comum. Esta coleta já aparece, no séc. VIII, entre os textos eucológios do Sacramentário Gelasiano (1198).

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16 Francisco

(Sl (Sl 103103//10102, 2, 33--44). E outro Salmo atesta, de forma ain). E outro Salmo atesta, de forma ain--da mais explícita, os sinais concretos da misericórdia: da mais explícita, os sinais concretos da misericórdia: “O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista “O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores” (Sl o caminho aos pecadores” (Sl 146146//145145, , 77--99). E, para ). E, para terminar, aqui estão outras expressões do Salmista: terminar, aqui estão outras expressões do Salmista: “[O Senhor] cura os de coração atribulado e trata“[O Senhor] cura os de coração atribulado e trata---lhes as feridas. [...] O Senhor ampara os humildes, -lhes as feridas. [...] O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão” (Sl mas abate os malfeitores até ao chão” (Sl 147147//146146, , 33..66). ). Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até o mais íntimo das se comovem pelo próprio filho até o mais íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor “visceral”. Provém do íntimo como trata de um amor “visceral”. Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.compaixão, de indulgência e perdão.6

7. “Eterna é a sua misericórdia”: tal é o refrão que apa7. “Eterna é a sua misericórdia”: tal é o refrão que apa--rece em cada versículo do Salmo rece em cada versículo do Salmo 136136, ao mesmo tem, ao mesmo tem--po em que se narra a história da revelação de Deus. po em que se narra a história da revelação de Deus. Em virtude da misericórdia, todos os acontecimentos Em virtude da misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem cheios de um valor do Antigo Testamento aparecem cheios de um valor salvífico profundo. A misericórdia torna a história de salvífico profundo. A misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação. O fato de Deus com Israel uma história da salvação. O fato de repetir continuamente “eterna é a sua misericórdia”, repetir continuamente “eterna é a sua misericórdia”,

6 Cf. Homilia 21: CCL 122, 149-151.

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17Misericordiae Vultus

como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor. É como se quisesse dizer que o homem, não do amor. É como se quisesse dizer que o homem, não só na história, mas também pela eternidade, estará só na história, mas também pela eternidade, estará sempre sob o olhar misericordioso do Pai. Não é por sempre sob o olhar misericordioso do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este Salmo – o “grande Salmo – o “grande hallelhallel”, como lhe chamam – nas fes”, como lhe chamam – nas fes--tas litúrgicas mais importantes. Antes da Paixão, Jesus tas litúrgicas mais importantes. Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que “depois atesta o evangelista Mateus quando afirma que “depois de cantarem os salmos” (Mt 2de cantarem os salmos” (Mt 266, , 3030), Jesus e os discí), Jesus e os discí--pulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto pulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este ato supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. ato supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. No mesmo horizonte da misericórdia, viveu Ele a sua No mesmo horizonte da misericórdia, viveu Ele a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz. O fato de saber que o próprio se realizaria na cruz. O fato de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a assumir ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: “eterna é a o refrão na nossa oração de louvor diária: “eterna é a sua misericórdia”.sua misericórdia”.7

8 Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto miseri8 Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto miseri--cordioso, podemos individuar o amor da Santíssima cordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade. A missão que Jesus recebeu do Pai foi a de Trindade. A missão que Jesus recebeu do Pai foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. “Deus é amor” (“Deus é amor” (11 Jo Jo 44, , 88..1616): afirma-o, pela primeira ): afirma-o, pela primeira

7 Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 24.

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18 Francisco

e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalipara com os pecadores, as pessoas pobres, marginali--zadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da zadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele nada há que seja desprovido de compaixão. Vendo que nada há que seja desprovido de compaixão. Vendo que a multidão de pessoas que O seguia estava cansada e a multidão de pessoas que O seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do coração, uma inabatida, Jesus sentiu, no fundo do coração, uma in--tensa compaixão por elas (Cf. Mt tensa compaixão por elas (Cf. Mt 99, , 3636). Em virtude ). Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que Lhe fodeste amor compassivo, curou os doentes que Lhe fo--ram apresentados (Cf. Mt ram apresentados (Cf. Mt 1414, , 1414) e, com poucos pães ) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (Cf. Mt e peixes, saciou grandes multidões (Cf. Mt 1515, , 3737). ). Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas que tinham. Quando encontrou a viúva de autênticas que tinham. Quando encontrou a viúva de Naim que levava o seu único filho a sepultar, sentiu Naim que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em lágrimas e entregou-lhe de novo o filho, ressuscitanlágrimas e entregou-lhe de novo o filho, ressuscitan--do-o da morte (Cf. Lc do-o da morte (Cf. Lc 77, , 1515). Depois de ter libertado ). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta miso endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta mis--são: “Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como são: “Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti” (Mc teve misericórdia de ti” (Mc 55, , 1919). A própria vocação ). A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do posto de cobrança dos impostos, Ao passar diante do posto de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um

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19Misericordiae Vultus

olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos oudaquele homem e, vencendo as resistências dos ou--tros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e publicano, tros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda, o Venerável, ao para se tornar um dos Doze. São Beda, o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e escolheu-o: olhou Mateus com amor misericordioso e escolheu-o: miserando atque eligendomiserando atque eligendo. Sempre me causou impressão esta . Sempre me causou impressão esta frase, a ponto de tomá-la para meu lema. frase, a ponto de tomá-la para meu lema.

9. Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a 9. Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (Cf. Lc os seus dois filhos (Cf. Lc 1515, , 11--332). Nestas parábolas, 2). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobreDeus é apresentado sempre cheio de alegria, sobre--tudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo tudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão. Temos decoração de amor e consola com o perdão. Temos de--pois outra parábola da qual tiramos uma lição para o pois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã. Interpelado pela pergunta nosso estilo de vida cristã. Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt setenta vezes sete” (Mt 1818, 22) e contou a parábola do , 22) e contou a parábola do “servo sem compaixão”. Este, convidado pelo senhor “servo sem compaixão”. Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe dedepois, encontra outro servo como ele, que lhe de--

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20 Francisco

via poucos centésimos; este lhe suplica de joelhos que via poucos centésimos; este lhe suplica de joelhos que tenha piedade, mas aquele se recusa e o faz meter na tenha piedade, mas aquele se recusa e o faz meter na prisão. Então o senhor, tendo sabido do fato, zanga-se prisão. Então o senhor, tendo sabido do fato, zanga-se muito e, convocando aquele servo, lhe diz: “Não devias muito e, convocando aquele servo, lhe diz: “Não devias também ter piedade do teu companheiro como eu tive também ter piedade do teu companheiro como eu tive de ti?” (Mt de ti?” (Mt 1818, , 3333). E Jesus concluiu: “Assim procederá ). E Jesus concluiu: “Assim procederá convosco meu Pai celeste se cada um de vós não perdoar convosco meu Pai celeste se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração”(Mt ao seu irmão do íntimo do coração”(Mt 1818, , 3535). A pará). A pará--bola contém um ensinamento profundo para cada um bola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia porque, primeiro, chamados a viver de misericórdia porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef sobre o vosso ressentimento” (Ef 44, 2, 266). E sobretudo ). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: “Felizes os misericordiosos, porque para a nossa fé: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt alcançarão misericórdia” (Mt 55, , 77) é a bem-aventurança ) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo. Na Sagrada Escritura, como se vê, neste Ano Santo. Na Sagrada Escritura, como se vê,

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21Misericordiae Vultus

a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilios dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabili--dade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja dade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é miseassim também amam os filhos. Tal como Ele é mise--ricordioso, assim somos chamados também nós a ser ricordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros. misericordiosos uns para com os outros.

1010. A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a miseri. A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a miseri--córdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolcórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envol--vida pela ternura com que se dirige aos crentes; no vida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo nada anúncio e testemunho que oferece ao mundo nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja “vive um desejo inexaurível de compassivo. A Igreja “vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia”.oferecer misericórdia”.8 Talvez, demasiado tempo, nos Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que este é apenas sempre e só a justiça fez esquecer que este é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa ir mais além a fim de alcançar uma a Igreja precisa ir mais além a fim de alcançar uma

8 João Paulo II, Carta Encíclica Dives in misericordia, n. 15.

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22 Francisco

meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecuntestemunho do perdão, resta apenas uma vida infecun--da e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. da e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança. com esperança.

1111. Não podemos esquecer o grande ensinamento que ofe. Não podemos esquecer o grande ensinamento que ofe--receu São João Paulo II com a sua segunda encíclica, receu São João Paulo II com a sua segunda encíclica, Dives in misericordiaDives in misericordia, que então surgiu inesperada suscitan, que então surgiu inesperada suscitan--do a surpresa de muitos pelo tema que era abordado. do a surpresa de muitos pelo tema que era abordado. Desejo recordar especialmente dois trechos. No priDesejo recordar especialmente dois trechos. No pri--meiro deles, o Santo Papa assinalava o esquecimento meiro deles, o Santo Papa assinalava o esquecimento em que caíra o tema da misericórdia na cultura dos em que caíra o tema da misericórdia na cultura dos nossos dias: nossos dias:

A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misehomem do passado, parece opor-se ao Deus de mise--ricórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar ricórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenmal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desen--volvimento da ciência e da técnica nunca antes verificavolvimento da ciência e da técnica nunca antes verifica--do na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a do na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a

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23Misericordiae Vultus

dominou (Cf. Gn dominou (Cf. Gn 11, 2, 288). Um tal domínio sobre a terra, ). Um tal domínio sobre a terra, entendido por vezes unilateral e superficialmente, paentendido por vezes unilateral e superficialmente, pa--rece não deixar espaço para a misericórdia. [rece não deixar espaço para a misericórdia. [……] Por esse ] Por esse motivo, na hodierna situação da Igreja e do mundo, motivo, na hodierna situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes guiados por um muitos homens e muitos ambientes guiados por um vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus.por assim dizer, para a misericórdia de Deus.9

Além disso, São João Paulo II motivava assim a urgênAlém disso, São João Paulo II motivava assim a urgên--cia de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo cia de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo contemporâneo: contemporâneo:

Ela é ditada pelo amor para com o homem, para com Ela é ditada pelo amor para com o homem, para com tudo o que é humano e que, segundo a intuição de tudo o que é humano e que, segundo a intuição de grande parte dos contemporâneos, está ameaçado por grande parte dos contemporâneos, está ameaçado por um perigo imenso. O próprio mistério de Cristo [um perigo imenso. O próprio mistério de Cristo [……] ] obriga-me igualmente a proclamar a misericórdia obriga-me igualmente a proclamar a misericórdia como amor misericordioso de Deus, revelada também como amor misericordioso de Deus, revelada também no mistério de Cristo. Ele me impele ainda a apelar no mistério de Cristo. Ele me impele ainda a apelar para esta misericórdia e a implorá-la nesta fase difícil e para esta misericórdia e a implorá-la nesta fase difícil e crítica da história da Igreja e do mundo.crítica da história da Igreja e do mundo.10

Tal ensinamento é hoje mais atual do que nunca e meTal ensinamento é hoje mais atual do que nunca e me--rece ser retomado neste Ano Santo. Acolhamos novamente rece ser retomado neste Ano Santo. Acolhamos novamente as suas palavras: “A Igreja vive uma vida autêntica quanas suas palavras: “A Igreja vive uma vida autêntica quan--

9 João Paulo II, Carta Encíclica Dives in misericordia, n. 13.

10 João Paulo II, Carta Encíclica Dives in misericordia, n. 13.

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24 Francisco

do professa e proclama a misericórdia, o mais admirável do professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora”.ela é depositária e dispensadora”.11

112. A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de 2. A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninde Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir nin--guém. No nosso tempo, em que a Igreja está comproguém. No nosso tempo, em que a Igreja está compro--metida na nova evangelização, o tema da misericórdia metida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e degestos, para penetrarem no coração das pessoas e de--safiá-las a encontrar novamente a estrada para regressafiá-las a encontrar novamente a estrada para regres--sar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira sar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comisericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas co--munidades, nas associações e nos movimentos – em munidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia. poder encontrar um oásis de misericórdia.

11 João Paulo II, Carta Encíclica Dives in misericordia, n. 13.

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25Misericordiae Vultus

1313. Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do . Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista reSenhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista re--fere o ensinamento de Jesus, que diz: “Sede misericorfere o ensinamento de Jesus, que diz: “Sede misericor--diosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc diosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 66, , 3636). ). É um programa de vida tão empenhativo como rico É um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (Cf. Lc quantos ouvem a sua voz (Cf. Lc 66, 2, 277). Portanto, para ). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o valor do silêncio para meditar a Palavra que nos é dirivalor do silêncio para meditar a Palavra que nos é diri--gida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia gida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.

1414. A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, . A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser husua existência. A vida é uma peregrinação e o ser hu--mano é mano é viatorviator, um peregrino que percorre uma estrada , um peregrino que percorre uma estrada até a meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, até a meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empemisericórdia é uma meta a alcançar que exige empe--nho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir nho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco. O Senhor Jesus indica outros como o Pai o é conosco. O Senhor Jesus indica as etapas da peregrinação através das quais é possível as etapas da peregrinação através das quais é possível atingir esta meta: “Não julgueis e não sereis julgados; atingir esta meta: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e senão condeneis e não sereis condenados; perdoai e se--

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26 Francisco

reis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, reis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Lc convosco” (Lc 66, , 3737--3838). Ele começa por dizer para não ). Ele começa por dizer para não julgar nem condenar. Se uma pessoa não quer incorjulgar nem condenar. Se uma pessoa não quer incor--rer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu rer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande mal fazem as palavras, quando são movidas por sentimal fazem as palavras, quando são movidas por senti--mentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua mentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua ausência, equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer ausência, equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer a sua reputação e deixá-lo à mercê das murmurações. a sua reputação e deixá-lo à mercê das murmurações. Não julgar nem condenar significa, positivamente, Não julgar nem condenar significa, positivamente, saber individuar o que há de bom em cada pessoa e saber individuar o que há de bom em cada pessoa e não permitir que venha a sofrer pelo nosso juízo parnão permitir que venha a sofrer pelo nosso juízo par--cial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda cial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda não é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus não é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus pede também para perdoar e dar. Ser instrumentos do pede também para perdoar e dar. Ser instrumentos do perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. Ser generosos para com todos, sabendo que também Ser generosos para com todos, sabendo que também Deus derrama a sua benevolência sobre nós com granDeus derrama a sua benevolência sobre nós com gran--de magnanimidade. de magnanimidade. Misericordiosos como o PaiMisericordiosos como o Pai é, pois, o é, pois, o “lema” do Ano Santo. Na misericórdia, temos a prova “lema” do Ano Santo. Na misericórdia, temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Vem sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Vem em nosso auxílio, quando O invocamos. É significativo em nosso auxílio, quando O invocamos. É significativo que a oração diária da Igreja comece com estas palavras: que a oração diária da Igreja comece com estas palavras: “Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor, socorrei-nos e “Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor, socorrei-nos e salvai-nos” (Sl salvai-nos” (Sl 7070//6969, 2). O auxílio que invocamos é já o , 2). O auxílio que invocamos é já o primeiro passo da misericórdia de Deus para conosco. primeiro passo da misericórdia de Deus para conosco.

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27Misericordiae Vultus

Ele vem para nos salvar da condição de fraqueza em que Ele vem para nos salvar da condição de fraqueza em que vivemos. E a ajuda d’Ele consiste em fazer-nos sentir vivemos. E a ajuda d’Ele consiste em fazer-nos sentir a sua presença e proximidade. Dia após dia, tocados a sua presença e proximidade. Dia após dia, tocados pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos compassivos para com todos.compassivos para com todos.

1515. Neste Ano Santo poderemos fazer a experiência de . Neste Ano Santo poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo conperiferias existenciais, que muitas vezes o mundo con--temporâneo cria de forma dramática. Quantas situatemporâneo cria de forma dramática. Quantas situa--ções de precariedade e sofrimento presentes no mundo ções de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz porque o seu grito foi esmorecendo e já não têm voz porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consoa cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da conso--lação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a lação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo. É meu vivo desejo que o povo hipocrisia e o egoísmo. É meu vivo desejo que o povo

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28 Francisco

cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de micristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de mi--sericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de sericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os prino coração do Evangelho, onde os pobres são os pri--vilegiados da misericórdia divina. A pregação de Jesus vilegiados da misericórdia divina. A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de misericórdia, para poderapresenta-nos estas obras de misericórdia, para poder--mos perceber se vivemos ou não como seus discípulos. mos perceber se vivemos ou não como seus discípulos. Redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar Redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vesde comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, ves--tir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos tir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: aconesqueçamos as obras de misericórdia espiritual: acon--selhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar selhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. Não podemos escapar às Deus pelos vivos e defuntos. Não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgapalavras do Senhor, com base nas quais seremos julga--dos: se demos de comer a quem tem fome e de beber a dos: se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem está doente e preso (Cf. Mt 2está doente e preso (Cf. Mt 255, , 3131--4545). De igual modo ). De igual modo ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar da dúvida, ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar da dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se nos detivemos junto de quem está sozinho e aflito; nos detivemos junto de quem está sozinho e aflito; se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violênformas de ressentimento e ódio que levam à violên--

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29Misericordiae Vultus

cia; se tivemos paciência, a exemplo de Deus que é tão cia; se tivemos paciência, a exemplo de Deus que é tão paciente conosco; enfim se, na oração, confiamos ao paciente conosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes “mais pequeninos”, está presente o próprio Cristo. “mais pequeninos”, está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de novo visível como corpo marA sua carne torna-se de novo visível como corpo mar--tirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... tirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosaa fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosa--mente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João mente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: “Ao entardecer desta vida examinar-nos-ão da Cruz: “Ao entardecer desta vida examinar-nos-ão no amor”.no amor”.12

1616. No Evangelho de Lucas, encontramos outro aspec. No Evangelho de Lucas, encontramos outro aspec--to importante para viver, com fé, o Jubileu. Conta o to importante para viver, com fé, o Jubileu. Conta o evangelista que Jesus voltou a Nazaré e ao sábado, como evangelista que Jesus voltou a Nazaré e ao sábado, como era seu costume, entrou na sinagoga. Chamaram-No era seu costume, entrou na sinagoga. Chamaram-No para ler a Escritura e comentá-la. A passagem era para ler a Escritura e comentá-la. A passagem era aquela do profeta Isaías em que está escrito: “O espíaquela do profeta Isaías em que está escrito: “O espí--rito do Senhor Deus está sobre mim porque o Senhor rito do Senhor Deus está sobre mim porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano de misericórdia do Senhor” para proclamar um ano de misericórdia do Senhor” ((6161,,11-2). “Um ano de misericórdia”: isto é o que o -2). “Um ano de misericórdia”: isto é o que o Senhor anuncia e o que nós desejamos viver. Este Ano Senhor anuncia e o que nós desejamos viver. Este Ano Santo traz consigo a riqueza da missão de Jesus que Santo traz consigo a riqueza da missão de Jesus que ressoa nas palavras do Profeta: levar uma palavra e um ressoa nas palavras do Profeta: levar uma palavra e um gesto de consolação aos pobres, anunciar a libertação gesto de consolação aos pobres, anunciar a libertação a quantos são prisioneiros das novas escravidões da a quantos são prisioneiros das novas escravidões da

12 Ditos de luz e amor, 57.

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30 Francisco

sociedade contemporânea, devolver a vista a quem já sociedade contemporânea, devolver a vista a quem já não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo e restituir dignidade àqueles que dela se viram privae restituir dignidade àqueles que dela se viram priva--dos. A pregação de Jesus torna-se novamente visível nas dos. A pregação de Jesus torna-se novamente visível nas respostas de fé que o testemunho dos cristãos é chamarespostas de fé que o testemunho dos cristãos é chama--do a dar. Acompanhem-nos as palavras do Apóstolo: do a dar. Acompanhem-nos as palavras do Apóstolo: “Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria” “Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria” (Rm (Rm 112, 2, 88).).

1717. A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais in. A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais in--tensamente como tempo forte para celebrar e experitensamente como tempo forte para celebrar e experi--mentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da mentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias podemos do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias podemos também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não Se obstira a iniquidade e perdoa o pecado, que não Se obs--tina na ira mas Se compraz em usar de misericórdia. tina na ira mas Se compraz em usar de misericórdia. Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis ao fundo do mar todos os nossos pecados (Cf. Mq 7, ao fundo do mar todos os nossos pecados (Cf. Mq 7, 1818--1919). As páginas do profeta Isaías poderão ser medi). As páginas do profeta Isaías poderão ser medi--tadas, de forma mais concreta, neste tempo de oração, tadas, de forma mais concreta, neste tempo de oração, jejum e caridade.jejum e caridade.

O jejum que me agrada é este: libertar os que foram O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeaespécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomea--dos, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir dos, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir

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31Misericordiae Vultus

os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente e a glória do cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: “Aqui estou!” Se reatenderá, pedirás auxílio e te dirá: “Aqui estou!” Se re--tirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e tirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na escue matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na escu--ridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. ridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesum jardim bem regado, como uma fonte de águas ines--gotáveis. (Is gotáveis. (Is 5858, , 66--1111).).

A iniciativa “2A iniciativa “244 horas para o Senhor”, que será celebrada horas para o Senhor”, que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Há muitas Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Há muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a apropessoas – e, em grande número, jovens – que estão a apro--ximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequenximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequen--temente, nesta experiência, reencontram o caminho para temente, nesta experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponharedescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponha--mos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, mos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da miseriporque permite tocar sensivelmente a grandeza da miseri--córdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz córdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior. Não me cansarei jamais de insistir com os confesinterior. Não me cansarei jamais de insistir com os confes--sores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia sores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor

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32 Francisco

significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva. Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo e salva. Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado. Não nos cansemos de ir também por o ter reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites. Não hão de fazer perguntas impertinentes, mas, limites. Não hão de fazer perguntas impertinentes, mas, como o pai da parábola, interromperão o discurso precomo o pai da parábola, interromperão o discurso pre--parado pelo filho pródigo porque saberão individuar, no parado pelo filho pródigo porque saberão individuar, no coração de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido coração de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão. Em suma, os confessores são chamados a ser de perdão. Em suma, os confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada situação e apesar de sempre e por todo o lado, em cada situação e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.tudo, o sinal do primado da misericórdia.

1818. Na Quaresma deste Ano Santo é minha intenção en. Na Quaresma deste Ano Santo é minha intenção en--viar os viar os Missionários da MisericórdiaMissionários da Misericórdia. Serão um sinal da soli. Serão um sinal da soli--citude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que citude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão entre em profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como

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33Misericordiae Vultus

o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia porseu perdão. Serão missionários da misericórdia por--que se farão, junto de todos, artífices de um encontro que se farão, junto de todos, artífices de um encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de rescheio de humanidade, fonte de libertação, rico de res--ponsabilidade para superar os obstáculos e retomar ponsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Batismo. Na sua missão, deixar-se-ão a vida nova do Batismo. Na sua missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo: “Deus encerrou a guiar pelas palavras do Apóstolo: “Deus encerrou a todos na desobediência para com todos usar de misetodos na desobediência para com todos usar de mise--ricórdia” (Rm ricórdia” (Rm 1111, , 332). Na verdade todos, sem excluir 2). Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher o apelo à miserininguém, estão chamados a acolher o apelo à miseri--córdia. Os missionários vivam este chamado sabendo córdia. Os missionários vivam este chamado sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, “Sumo Sacerdote que podem fixar o olhar em Jesus, “Sumo Sacerdote misericordioso e fiel” (Hb 2, misericordioso e fiel” (Hb 2, 1717). Peço aos Irmãos bis). Peço aos Irmãos bis--pos que convidem e acolham estes Missionários, para pos que convidem e acolham estes Missionários, para que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da misericórdia. Organizem-se, nas dioceses, “missões misericórdia. Organizem-se, nas dioceses, “missões populares”, de modo que estes Missionários sejam populares”, de modo que estes Missionários sejam anunciadores da alegria do perdão. Seja-lhes pedido anunciadores da alegria do perdão. Seja-lhes pedido que celebrem o sacramento da Reconciliação para o que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de graça, concedido neste Ano povo, para que o tempo de graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar de Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar de novo o caminho para a casa paterna. Os pastores, espenovo o caminho para a casa paterna. Os pastores, espe--cialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam cialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se “do trono solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se “do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça” (Hb graça” (Hb 44, , 1616).).

1919. Que a palavra do perdão possa chegar a todos e o . Que a palavra do perdão possa chegar a todos e o chamado para experimentar a misericórdia não deichamado para experimentar a misericórdia não dei--xe ninguém indiferente. O meu convite à conversão xe ninguém indiferente. O meu convite à conversão

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34 Francisco

dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos homens e muvida. Penso de modo particular nos homens e mu--lheres que pertencem a um grupo criminoso, seja lheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço em nome do Filho de Deus que, embora vida. Peço em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer pecacombatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer peca--dor. Não caias na terrível cilada de pensar que a vida dor. Não caias na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicio além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felici--dade. A violência usada para acumular dinheiro que dade. A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos nem imortransuda sangue não nos torna poderosos nem imor--tais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo tais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar. O mesmo de Deus, do qual ninguém pode escapar. O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmconvite chegue também às pessoas fautoras ou cúm--plices de corrupção. Esta praga putrefata da sociedade plices de corrupção. Esta praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porimpede de olhar para o futuro com esperança, por--que, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos que, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio Corruptio optimi pessimaoptimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, : dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imuquerendo indicar que ninguém pode sentir-se imu--

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35Misericordiae Vultus

ne desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e ne desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúntransparência, juntamente com a coragem da denún--cia. Se não a combatermos abertamente, mais cedo ou cia. Se não a combatermos abertamente, mais cedo ou mais tarde tornamo-nos sua cúmplice e ela nos destrói mais tarde tornamo-nos sua cúmplice e ela nos destrói a vida. Este é o momento favorável para mudar de vida! a vida. Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida. dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus Irmãos a ouvir, e eu também estou, tal como os meus Irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à converbispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conver--são e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece são e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia.a misericórdia.

2200. Neste contexto, não será inútil recordar a relação en. Neste contexto, não será inútil recordar a relação en--tre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em tre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões de uma única contraste entre si, mas duas dimensões de uma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um conceito fundamental para a sociedade civil, normalconceito fundamental para a sociedade civil, normal--mente quando se faz referimento a uma ordem jurídica mente quando se faz referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei. Por justiça entende-se através da qual se aplica a lei. Por justiça entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é detambém que a cada um deve ser dado o que lhe é de--vido. Na Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina vido. Na Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina e a Deus como juiz. Habitualmente é entendida como e a Deus como juiz. Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento de a observância integral da Lei e o comportamento de

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36 Francisco

todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus. Esta visão, porém, levou não poucas vezes por Deus. Esta visão, porém, levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o sentido original e a cair no legalismo, mistificando o sentido original e obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. Para superar a perspectiva legalista, seria preciso lemPara superar a perspectiva legalista, seria preciso lem--brar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida brar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante à essencialmente como um abandonar-se confiante à vontade de Deus. Por sua vez, Jesus fala mais vezes da vontade de Deus. Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da observância da lei. É neste importância da fé que da observância da lei. É neste sentido que devemos compreender as suas palavras, sentido que devemos compreender as suas palavras, quando, encontrando-Se à mesa com Mateus e ouquando, encontrando-Se à mesa com Mateus e ou--tros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que tros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que O acusavam por isso mesmo: “Ide aprender o que sigO acusavam por isso mesmo: “Ide aprender o que sig--nifica: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu nifica: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 99, , 1313). ). Diante da visão de uma justiça como mera observânDiante da visão de uma justiça como mera observân--cia da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e cia da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus, por o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus, por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovacausa desta sua visão tão libertadora e fonte de renova--ção, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da ção, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para serem fiéis à lei, limitavam-se a colocar lei. Estes, para serem fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei a misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a atenção às necessidades que não pode obstaculizar a atenção às necessidades que afetam a dignidade das pessoas. A propósito, é muito afetam a dignidade das pessoas. A propósito, é muito significativo o apelo que Jesus faz ao texto do profeta significativo o apelo que Jesus faz ao texto do profeta Oseias: “Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios” Oseias: “Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios” (Os (Os 66, , 66). Jesus afirma que, a partir de agora, a regra ). Jesus afirma que, a partir de agora, a regra

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de vida dos seus discípulos deverá ser aquela que prede vida dos seus discípulos deverá ser aquela que pre--vê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá vê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá testemunho partilhando a refeição com os pecadores. testemunho partilhando a refeição com os pecadores. A misericórdia revela-se, mais uma vez, como dimenA misericórdia revela-se, mais uma vez, como dimen--são fundamental da missão de Jesus. É um verdadeiro são fundamental da missão de Jesus. É um verdadeiro desafio posto aos seus interlocutores, que se contentadesafio posto aos seus interlocutores, que se contenta--vam com o respeito formal da lei. Jesus, pelo contrário, vam com o respeito formal da lei. Jesus, pelo contrário, vai além da lei: a sua partilha da mesa com aqueles que vai além da lei: a sua partilha da mesa com aqueles que a lei considerava pecadores permite compreender até a lei considerava pecadores permite compreender até onde chega a sua misericórdia. Também o apóstolo onde chega a sua misericórdia. Também o apóstolo Paulo fez um percurso semelhante. Antes de encontrar Paulo fez um percurso semelhante. Antes de encontrar Cristo no caminho de Damasco, a sua vida era dediCristo no caminho de Damasco, a sua vida era dedi--cada a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei cada a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei (Cf. Fl (Cf. Fl 33, , 66). A conversão a Cristo levou-o a inverter ). A conversão a Cristo levou-o a inverter a sua visão, a ponto de afirmar na Carta aos Gálatas: a sua visão, a ponto de afirmar na Carta aos Gálatas: “Também nós acreditamos em Cristo Jesus para ser“Também nós acreditamos em Cristo Jesus para ser--mos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras mos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da lei” (Gl 2, da lei” (Gl 2, 1616). A sua compreensão da justiça muda ). A sua compreensão da justiça muda radicalmente: Paulo agora põe no primeiro lugar a fé, radicalmente: Paulo agora põe no primeiro lugar a fé, e não a lei. Não é a observância da lei que salva, mas a e não a lei. Não é a observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica. A justraz a salvação com a misericórdia que justifica. A jus--tiça de Deus torna-se agora a libertação para quantos tiça de Deus torna-se agora a libertação para quantos estão oprimidos pela escravidão do pecado e todas as estão oprimidos pela escravidão do pecado e todas as suas consequências. A justiça de Deus é o seu perdão suas consequências. A justiça de Deus é o seu perdão (Cf. Sl (Cf. Sl 5151//5050, , 1111--1616).).

2211. A misericórdia não é contrária à justiça, mas expri. A misericórdia não é contrária à justiça, mas expri--me o comportamento de Deus para com o pecador, me o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepenoferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepen--

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38 Francisco

der, converter e acreditar. A experiência do profeta der, converter e acreditar. A experiência do profeta Oseias ajuda-nos, mostrando-nos a superação da justiOseias ajuda-nos, mostrando-nos a superação da justi--ça na linha da misericórdia. A época em que viveu este ça na linha da misericórdia. A época em que viveu este profeta conta-se entre as mais dramáticas da história profeta conta-se entre as mais dramáticas da história do povo judeu. O Reino está próximo da destruição; o do povo judeu. O Reino está próximo da destruição; o povo não permaneceu fiel à aliança, afastou-se de Deus povo não permaneceu fiel à aliança, afastou-se de Deus e perdeu a fé dos pais. Segundo uma lógica humana, e perdeu a fé dos pais. Segundo uma lógica humana, é justo que Deus pense em rejeitar o povo infiel: não é justo que Deus pense em rejeitar o povo infiel: não observou o pacto estipulado e, consequentemente, meobservou o pacto estipulado e, consequentemente, me--rece a devida pena, ou seja, o exílio. Assim o atestam rece a devida pena, ou seja, o exílio. Assim o atestam as palavras do profeta: “Não voltará para o Egito, mas as palavras do profeta: “Não voltará para o Egito, mas a Assíria será o seu rei porque recusaram converter-se” a Assíria será o seu rei porque recusaram converter-se” (Os (Os 1111, , 55). E, todavia, depois desta reação que faz apelo ). E, todavia, depois desta reação que faz apelo à justiça, o profeta muda radicalmente a sua linguagem à justiça, o profeta muda radicalmente a sua linguagem e revela o verdadeiro rosto de Deus: “O meu corae revela o verdadeiro rosto de Deus: “O meu cora--ção dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas ção dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas. Não desafogarei o furor da minha cólera, entranhas. Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti e não me deixo um homem, sou o Santo no meio de ti e não me deixo levar pela ira” (Os levar pela ira” (Os 1111, , 88--99). Santo Agostinho, de certo ). Santo Agostinho, de certo modo comentando as palavras do profeta, diz: “É mais modo comentando as palavras do profeta, diz: “É mais fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia”.fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia”.13 É mesmo assim! A ira de Deus dura um instante, ao É mesmo assim! A ira de Deus dura um instante, ao passo que a sua misericórdia é eterna. Se Deus Se detipasso que a sua misericórdia é eterna. Se Deus Se deti--vesse na justiça, deixaria de ser Deus; seria como todos vesse na justiça, deixaria de ser Deus; seria como todos os homens que clamam pelo respeito da lei. A justios homens que clamam pelo respeito da lei. A justi--ça por si só não é suficiente, e a experiência mostra ça por si só não é suficiente, e a experiência mostra que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco

13 Enarratio in Psalmos, 76, 11.

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de a destruir. Por isso, Deus, com a misericórdia e o de a destruir. Por isso, Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça. Isto não significa desperdão, passa além da justiça. Isto não significa des--valorizar a justiça ou torná-la supérflua. Antes pelo valorizar a justiça ou torná-la supérflua. Antes pelo contrário! Quem erra, deve descontar a pena; só que contrário! Quem erra, deve descontar a pena; só que isto não é o fim, mas o início da conversão, porque se isto não é o fim, mas o início da conversão, porque se experimenta a ternura do perdão. Deus não rejeita a experimenta a ternura do perdão. Deus não rejeita a justiça. Ele engloba-a e supera-a num evento superior justiça. Ele engloba-a e supera-a num evento superior em que se experimenta o amor, que está na base de em que se experimenta o amor, que está na base de uma verdadeira justiça. Devemos prestar muita atenuma verdadeira justiça. Devemos prestar muita aten--ção àquilo que escreve Paulo, para não cair no mesmo ção àquilo que escreve Paulo, para não cair no mesmo erro que o apóstolo censurava nos judeus, seus conerro que o apóstolo censurava nos judeus, seus con--temporâneos: “Por não terem reconhecido a justiça temporâneos: “Por não terem reconhecido a justiça que vem de Deus e terem procurado estabelecer a sua que vem de Deus e terem procurado estabelecer a sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, a justiça seja concedida a todo o que tem fé” (Rm a justiça seja concedida a todo o que tem fé” (Rm 1010, , 33--44). Esta justiça de Deus é a misericórdia concedida a ). Esta justiça de Deus é a misericórdia concedida a todos como graça, em virtude da morte e ressurreição todos como graça, em virtude da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, a Cruz de Cristo é o juízo de Jesus Cristo. Portanto, a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova.oferece a certeza do amor e da vida nova.

22. O Jubileu inclui também o referimento à indulgên22. O Jubileu inclui também o referimento à indulgên--cia. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire cia. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão,

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não Se cansando de oferecê-lo de maneira sempre não Se cansando de oferecê-lo de maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos exnova e inesperada. No entanto todos nós fazemos ex--periência do pecado. Sabemos que somos chamados periência do pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (Cf. Mt à perfeição (Cf. Mt 55, , 4848), mas sentimos fortemente ), mas sentimos fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo que notamos o o peso do pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma, experimentamos poder da graça que nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacraque são consequência dos nossos pecados. No sacra--mento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que mento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de rea agir com caridade, a crescer no amor em vez de re--cair no pecado. A Igreja vive a comunhão dos Santos. cair no pecado. A Igreja vive a comunhão dos Santos. Na Eucaristia, esta comunhão, que é dom de Deus, Na Eucaristia, esta comunhão, que é dom de Deus, realiza-se como união espiritual que nos une, a nós realiza-se como união espiritual que nos une, a nós crentes, com os Santos e Beatos cujo número é incalcrentes, com os Santos e Beatos cujo número é incal--culável (Ap culável (Ap 77, , 44). A sua santidade vem em ajuda da nos). A sua santidade vem em ajuda da nos--sa fragilidade, e assim a Mãe-Igreja, com a sua oração sa fragilidade, e assim a Mãe-Igreja, com a sua oração e a sua vida, é capaz de acudir à fraqueza de uns com a e a sua vida, é capaz de acudir à fraqueza de uns com a santidade de outros. Portanto viver a indulgência no santidade de outros. Portanto viver a indulgência no Ano Santo significa aproximar-se da misericórdia do Ano Santo significa aproximar-se da misericórdia do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre toda a Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre toda a vida do crente. A indulgência é experimentar a santivida do crente. A indulgência é experimentar a santi--dade da Igreja que participa em todos os benefícios da dade da Igreja que participa em todos os benefícios da

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redenção de Cristo, para que o perdão se estenda até redenção de Cristo, para que o perdão se estenda até às últimas consequências em que alcança o amor de às últimas consequências em que alcança o amor de Deus. Vivamos intensamente o Jubileu, pedindo ao Pai Deus. Vivamos intensamente o Jubileu, pedindo ao Pai o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa em toda a sua extensão.em toda a sua extensão.

2233. A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as . A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o judaísmo fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o judaísmo e o islamismo, que a consideram um dos atributos mais e o islamismo, que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus. Israel foi o primeiro que recebeu marcantes de Deus. Israel foi o primeiro que recebeu esta revelação, permanecendo esta na história como esta revelação, permanecendo esta na história como o início duma riqueza incomensurável para oferecer o início duma riqueza incomensurável para oferecer à humanidade inteira. Como vimos, as páginas do à humanidade inteira. Como vimos, as páginas do Antigo Testamento estão permeadas de misericórdia Antigo Testamento estão permeadas de misericórdia porque narram as obras que o Senhor realizou em porque narram as obras que o Senhor realizou em favor do seu povo, nos momentos mais difíceis da sua favor do seu povo, nos momentos mais difíceis da sua história. O islamismo, por sua vez, coloca entre os nohistória. O islamismo, por sua vez, coloca entre os no--mes dados ao Criador o de Misericordioso e Clemente. mes dados ao Criador o de Misericordioso e Clemente. Esta invocação aparece com frequência nos lábios dos Esta invocação aparece com frequência nos lábios dos fiéis muçulmanos, que se sentem acompanhados e fiéis muçulmanos, que se sentem acompanhados e sustentados pela misericórdia na sua fraqueza diásustentados pela misericórdia na sua fraqueza diá--ria. Também eles acreditam que ninguém pode pôr ria. Também eles acreditam que ninguém pode pôr limites à misericórdia divina, porque as suas portas limites à misericórdia divina, porque as suas portas estão sempre abertas. Possa este Ano Jubilar, vivido na estão sempre abertas. Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhetorne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhe--cermos e compreendermos; elimine todas as formas cermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.violência e discriminação.

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2244. O pensamento volta-se agora para a Mãe da . O pensamento volta-se agora para a Mãe da Misericórdia. Que a doçura do seu olhar nos acomMisericórdia. Que a doçura do seu olhar nos acom--panhe neste Ano Santo para podermos todos nós panhe neste Ano Santo para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida tudo foi plasmade Deus feito homem. Na sua vida tudo foi plasma--do pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina porque participou intimamente misericórdia divina porque participou intimamente no mistério do seu amor. Escolhida para ser a Mãe no mistério do seu amor. Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericóre os homens. Guardou, no seu coração, a misericór--dia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. dia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende “de geração em dedicado à misericórdia que se estende “de geração em geração” (Lc geração” (Lc 11, , 5050). Também nós estávamos presentes ). Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto nos naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto nos servirá de conforto e apoio no momento de atravesservirá de conforto e apoio no momento de atraves--sarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da sarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da misericórdia divina. Ao pé da cruz, Maria, juntamente misericórdia divina. Ao pé da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo do amor, é testemunha das palacom João, o discípulo do amor, é testemunha das pala--vras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão vras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou mostra-nos até supremo oferecido a quem O crucificou mostra-nos até onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limique a misericórdia do Filho de Deus não conhece limi--tes e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-tes e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de

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43Misericordiae Vultus

contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus. contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus. E a nossa oração estenda-se também a tantos Santos e E a nossa oração estenda-se também a tantos Santos e Beatos que fizeram da misericórdia a sua missão vital. Beatos que fizeram da misericórdia a sua missão vital. Em particular, o pensamento volta-se para a grande Em particular, o pensamento volta-se para a grande apóstola da Misericórdia, Santa Faustina Kowalska. apóstola da Misericórdia, Santa Faustina Kowalska. Ela, que foi chamada a entrar nas profundezas da miEla, que foi chamada a entrar nas profundezas da mi--sericórdia divina, interceda por nós e nos obtenha a sericórdia divina, interceda por nós e nos obtenha a graça de viver e caminhar sempre no perdão de Deus graça de viver e caminhar sempre no perdão de Deus e na confiança inabalável do seu amor.e na confiança inabalável do seu amor.

2525. Será, portanto, um Ano Santo extraordinário para vi. Será, portanto, um Ano Santo extraordinário para vi--ver, na existência de cada dia, a misericórdia que o Pai, ver, na existência de cada dia, a misericórdia que o Pai, desde sempre, estende sobre nós. Neste Jubileu, deidesde sempre, estende sobre nós. Neste Jubileu, dei--xemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa xemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. A Igreja nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a misericórsente, fortemente, a urgência de anunciar a misericór--dia de Deus. A sua vida é autêntica e credível, quando dia de Deus. A sua vida é autêntica e credível, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio. Sabe que a faz da misericórdia seu convicto anúncio. Sabe que a sua missão primeira, sobretudo numa época como a sua missão primeira, sobretudo numa época como a nossa cheia de grandes esperanças e fortes contradinossa cheia de grandes esperanças e fortes contradi--ções, é a de introduzir a todos no grande mistério da ções, é a de introduzir a todos no grande mistério da misericórdia de Deus, contemplando o rosto de Cristo. misericórdia de Deus, contemplando o rosto de Cristo. A Igreja é chamada, em primeiro lugar, a ser verdaA Igreja é chamada, em primeiro lugar, a ser verda--deira testemunha da misericórdia, professando-a e deira testemunha da misericórdia, professando-a e vivendo-a como o centro da Revelação de Jesus Cristo. vivendo-a como o centro da Revelação de Jesus Cristo. Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do mistério de Deus, brota e flui incessantemente a granmistério de Deus, brota e flui incessantemente a gran--de torrente da misericórdia. Esta fonte nunca poderá de torrente da misericórdia. Esta fonte nunca poderá esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que

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44 Francisco

dela se abeirem. Sempre que alguém tiver necessidade dela se abeirem. Sempre que alguém tiver necessidade poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim. Quanto insondável é a profundidade do não tem fim. Quanto insondável é a profundidade do mistério que encerra, tanto é inesgotável a riqueza que mistério que encerra, tanto é inesgotável a riqueza que dela provém. Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça dela provém. Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Que a e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar: “Lembra-te, Senhor, da com confiança e sem cessar: “Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre” (Sl 2sempre” (Sl 255/2/244, , 66).).

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Abril – véspera do II Domingo de Páscoa ou

da Divina Misericórdia – do Ano do Senhor de 215, o terceiro de pontificado.

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Chave de leitura

A misericórdia de Deus em Cristo é mais do que a absolvição

legal do pecado. O cristão é chamado a se tornar um homem novo e a participar de uma nova

criação que é precisamente obra da misericórdia e não do poder.

(Thomas Merton)(Thomas Merton)

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1. O que é Jubileu/Ano Santo?

Jubileu, no Antigo Testamento (Cf. Ex 2Jubileu, no Antigo Testamento (Cf. Ex 233,,1010--1111; Lv 2; Lv 255, , 11-2-288; Dt ; Dt 1515, , 11--66), era o grande momento da celebração do ), era o grande momento da celebração do “júbilo” pela presença do Senhor na vida e na história. “júbilo” pela presença do Senhor na vida e na história.

A cada sete anos era celebrado o ano sabático, no qual se A cada sete anos era celebrado o ano sabático, no qual se devia perdoar todas as dívidas. E a cada devia perdoar todas as dívidas. E a cada 5050 anos se celebrava anos se celebrava o Jubileu. O tempo do Jubileu era um tempo de paz e o Jubileu. O tempo do Jubileu era um tempo de paz e reconciliação, um tempo de festa e perdão; um tempo de reconciliação, um tempo de festa e perdão; um tempo de graça divina, como anuncia Jesus na sinagoga de Nazaré graça divina, como anuncia Jesus na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc (Cf. Lc 44, , 1818-2-200).).

Apoiada nessa tradição bíblica, a Igreja propõe a cada Apoiada nessa tradição bíblica, a Igreja propõe a cada 5050 anos a celebração de um Jubileu, o que coincide com anos a celebração de um Jubileu, o que coincide com aquilo que ela nomeia por “Ano Santo” (o Ano Santo pode aquilo que ela nomeia por “Ano Santo” (o Ano Santo pode acontecer, também, de 2acontecer, também, de 255 em 2 em 255 anos). O último jubileu anos). O último jubileu celebrado foi o do ano 2celebrado foi o do ano 2000000, convocado por João Paulo II., convocado por João Paulo II.

O Papa Francisco convocou um jubileu extraordinário O Papa Francisco convocou um jubileu extraordinário por meio da bula por meio da bula Misericordiae VultusMisericordiae Vultus..

2. O que é uma Bula?

Documento papal que contém definições sobre fé, moral, Documento papal que contém definições sobre fé, moral, convocação de concílios, criação de dioceses e convocação convocação de concílios, criação de dioceses e convocação de jubileus.de jubileus.

3. Qual a Cristologia apresentada na Bula Misericordiae Vultus?

ǷǷ Jesus é o rosto da misericórdia do Pai (n. Jesus é o rosto da misericórdia do Pai (n. 0101).). ǷǷ Jesus tem como missão revelar a misericórdia do Pai, Jesus tem como missão revelar a misericórdia do Pai, pois tudo Nele fala de misericórdia (n. pois tudo Nele fala de misericórdia (n. 0707).).

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49Chave de leitura

4. O que podemos entender por Misericórdia? (Cf. n. 02)

ǷǷ Fonte de alegria, serenidade e paz.Fonte de alegria, serenidade e paz. ǷǷ Condição de nossa salvação.Condição de nossa salvação. ǷǷ Palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade.Palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. ǷǷ Ato último e supremo pelo qual Deus vem ao Ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.nosso encontro.

ǷǷ Lei fundamental que mora no coração de cada pessoa Lei fundamental que mora no coração de cada pessoa quando vê, com olhos sinceros, o Irmão que encontra quando vê, com olhos sinceros, o Irmão que encontra no caminho da vida.no caminho da vida.

ǷǷ Caminho que une Deus e o homem.Caminho que une Deus e o homem.

5. Qual o objetivo do Jubileu?

ǷǷ Estabelecer um tempo favorável para a Igreja (n. Estabelecer um tempo favorável para a Igreja (n. 003), 3), um tempo de regressar ao essencial (n. um tempo de regressar ao essencial (n. 1010).).

ǷǷ Tornar eficaz o testemunho dos crentes (n. Tornar eficaz o testemunho dos crentes (n. 003).3).

6. Quando começa o Jubileu?

ǷǷ Na Solenidade da Imaculada Conceição (Na Solenidade da Imaculada Conceição (08/12/2015), ), pois essa festa indica o modo de agir de Deus: imapois essa festa indica o modo de agir de Deus: ima--culados no amor (n. culados no amor (n. 0303). ).

ǷǷ Essa solenidade apresenta-nos a pedagogia divina: Essa solenidade apresenta-nos a pedagogia divina: perante a gravidade do pecado, Deus responde com perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão.a plenitude do perdão.

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ǷǷ Essa data também celebra o cinquentenário de encerEssa data também celebra o cinquentenário de encer--ramento do Concílio Vaticano II, momento em que ramento do Concílio Vaticano II, momento em que a Igreja, nas palavras de João XXIII, “preferiu usar a Igreja, nas palavras de João XXIII, “preferiu usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade” mais o remédio da misericórdia que o da severidade” (n. (n. 0404).).

7. Quando termina o Jubileu?

ǷǷ Na Solenidade de Cristo, Rei do Universo Na Solenidade de Cristo, Rei do Universo ((20/11/2016), quando a Igreja será confiada à realeza ), quando a Igreja será confiada à realeza de Jesus (n. de Jesus (n. 0505).).

ǷǷ A realeza de Jesus é sua misericórdia: “É próprio A realeza de Jesus é sua misericórdia: “É próprio de Deus usar de misericórdia e nisso se manifesta de Deus usar de misericórdia e nisso se manifesta de modo especial sua onipotência” (Santo Tomás. de modo especial sua onipotência” (Santo Tomás. Cf. n. Cf. n. 0606).).

8. Qual será o gesto simbólico do início do Jubileu?

ǷǷ A abertura da Porta Santa na Basílica do Vaticano no A abertura da Porta Santa na Basílica do Vaticano no dia dia 0808//112/2/20152015..

ǷǷ No domingo seguinte (No domingo seguinte (1313//112/22/2015015), o Papa abrirá a ), o Papa abrirá a Porta Santa da Catedral de Roma (Basílica de São Porta Santa da Catedral de Roma (Basílica de São João do Latrão) e todos os bispos abrirão a Porta Santa João do Latrão) e todos os bispos abrirão a Porta Santa em suas catedrais e/ou santuários (n. em suas catedrais e/ou santuários (n. 0303).).

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51Chave de leitura

9. Que textos do Antigo Testamento podem ser meditados mais amplamente no Jubileu?

ǷǷ Sl Sl 103103//101022 ǷǷ Sl Sl 146146//145145 ǷǷ Sl Sl 147147//146146 ǷǷ Sl Sl 136136//135135 ǷǷ Is Is 5858,,66--1111 ǷǷ Is Is 6161,,11-2-2 ǷǷ Os Os 66,,66 ǷǷ Os Os 1111,,88--99 ǷǷ Mq Mq 77,,1818--1919

10. Que textos do Novo Testamento podem ser meditados mais amplamente no Jubileu?

ǷǷ Lc Lc 1515 ǷǷ 11 Jo Jo 44,,88..1616 ǷǷ Mt Mt 99,,3636 ǷǷ Mt Mt 1414,,1414 ǷǷ Mt Mt 1515,,3737 ǷǷ Lc Lc 66,,3636 ǷǷ Rm Rm 112,2,88 ǷǷ Hb Hb 44,,1616 ǷǷ Mt Mt 99,,1313

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11. Qual a relação da Igreja com a temática da Misericórdia?

ǷǷ A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho (n. Deus, coração pulsante do Evangelho (n. 112).2).

ǷǷ No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na Nova Evangelização, o tema da misericórdia exina Nova Evangelização, o tema da misericórdia exi--ge ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação ge ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada (n. pastoral renovada (n. 112).2).

ǷǷ Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão (n. anúncio jubiloso do perdão (n. 1010).).

ǷǷ A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a miseriA arquitrave que suporta a vida da Igreja é a miseri--córdia (n. córdia (n. 1010).).

ǷǷ É tempo de regresso ao essencial (n. É tempo de regresso ao essencial (n. 1010).).

12. Qual o “lema” do Ano Santo?

ǷǷ Misericordiosos como o PaiMisericordiosos como o Pai (Cf. Lc (Cf. Lc 66,,3636).).

13. Quais “estratégias pastorais” o Bispo de Roma nos apresenta para celebrarmos o Jubileu?

ǷǷ Escuta da PalavraEscuta da Palavra: “[: “[……] para ser capazes de miseri] para ser capazes de miseri--córdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra córdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus” (n. de Deus” (n. 1313).).

ǷǷ SilêncioSilêncio: “Isso significa recuperar o valor do silêncio : “Isso significa recuperar o valor do silêncio para meditar a Palavra que nos é dirigida” (n. para meditar a Palavra que nos é dirigida” (n. 1313).).

ǷǷ PeregrinaçãoPeregrinação: “A peregrinação é um sinal peculiar : “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência” (n. pessoa realiza na sua existência” (n. 1313).).

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53Chave de leitura

ǷǷ Refletir sobre as Obras de MisericórdiaRefletir sobre as Obras de Misericórdia: “é meu : “é meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritualobras de misericórdia corporal e espiritual” ” (n. (n. 1515).).1

ǷǷ 24 horas para o Senhor24 horas para o Senhor: “A iniciativa : “A iniciativa 24 horas para o 24 horas para o SenhorSenhor, que será celebrada na sexta-feira e no sábado , que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses” (n. 1incrementada nas dioceses” (n. 177).).

ǷǷ Reflexão profunda e vivência do Sacramento da Reflexão profunda e vivência do Sacramento da ReconciliaçãoReconciliação: “[: “[……] ponhamos novamente no centro ] ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque nos permio sacramento da Reconciliação, porque nos permi--te tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia” te tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia” (n. (n. 1717).).2

ǷǷ Acolhida dos Missionários da MisericórdiaAcolhida dos Missionários da Misericórdia: “Serão : “Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar messacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mes--mo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que mo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude de seu mandato. [se torne evidente a amplitude de seu mandato. [……] ] Peço aos Irmãos bispos que convidem e acolham estes Peço aos Irmãos bispos que convidem e acolham estes Missionários, para que sejam, antes de tudo, pregaMissionários, para que sejam, antes de tudo, prega--dores convincentes da misericórdia” (n. dores convincentes da misericórdia” (n. 1818).).

ǷǷ Missões PopularesMissões Populares: “Organizem-se, nas dioceses, : “Organizem-se, nas dioceses, ‘missões populares’, de modo que estes missionários ‘missões populares’, de modo que estes missionários sejam anunciadores da alegria do perdão” (n. sejam anunciadores da alegria do perdão” (n. 1818).).

1 Para relembrarmos as Obras de Misericórdia: Cf. CIC 2447.

2 Para refletir sobre esse Sacramento: Cf. CIC 1420-1498.

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A misericórdia na tradição

Marista

A história de nossa espiritualidade é de paixão e misericórdia, paixão por Deus

e misericórdia pelas pessoas.(Água da Rocha, n.1)(Água da Rocha, n.1)

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O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, instituído pelo O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco, tem como principal motivação a ação de Papa Francisco, tem como principal motivação a ação de graças pelo graças pelo 5050ºº aniversário de encerramento do Concílio aniversário de encerramento do Concílio Vaticano II. Para toda a Igreja, o Concílio foi um momenVaticano II. Para toda a Igreja, o Concílio foi um momen--to de to de aggiornamentoaggiornamento (atualização), de forte manifestação do (atualização), de forte manifestação do Espírito frente aos sinais dos tempos.Espírito frente aos sinais dos tempos.

O Instituto Marista passou por este momento de reO Instituto Marista passou por este momento de re--novação tendo à sua frente um santo homem: Ir. Basílio novação tendo à sua frente um santo homem: Ir. Basílio Rueda. Basílio foi o principal responsável pela recepção Rueda. Basílio foi o principal responsável pela recepção do Concílio Vaticano II dentro do nosso Instituto e, em do Concílio Vaticano II dentro do nosso Instituto e, em um dos seus textos, escreve:um dos seus textos, escreve:

O Concílio Vaticano II não é senão um eco do Espírito O Concílio Vaticano II não é senão um eco do Espírito de Jesus em nosso tempo. Convoca todas as instituições de Jesus em nosso tempo. Convoca todas as instituições a que se examinem diante do espelho do Evangelho. a que se examinem diante do espelho do Evangelho. Faz-nos rezar para pedir a coragem dessa revisão. É preFaz-nos rezar para pedir a coragem dessa revisão. É pre--ciso vigiar para que essa revisão não seja ocasião de cair ciso vigiar para que essa revisão não seja ocasião de cair no farisaísmo ou de trair o Evangelho. Voltamos nosno farisaísmo ou de trair o Evangelho. Voltamos nos--sa vida à procura da vontade de Deus. Se hoje há uma sa vida à procura da vontade de Deus. Se hoje há uma manifestação da vontade de Deus para os homens, é o manifestação da vontade de Deus para os homens, é o Concílio. Não há nenhuma outra forma mais clara de Concílio. Não há nenhuma outra forma mais clara de manifestação da vontade de Deus às pessoas de nosso manifestação da vontade de Deus às pessoas de nosso tempo. É preciso reconhecer que o Vaticano II foi uma tempo. É preciso reconhecer que o Vaticano II foi uma manifestação pentecostal do querer de Deus no hoje de manifestação pentecostal do querer de Deus no hoje de Deus. (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2Deus. (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2013013, p., p.112288).).

Para nós, Maristas de Champagnat, o Concílio se revesPara nós, Maristas de Champagnat, o Concílio se reves--te de uma importância ainda maior: a de entendê-lo como te de uma importância ainda maior: a de entendê-lo como manifestação clara da vontade de Deus em nosso tempo. manifestação clara da vontade de Deus em nosso tempo.

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57A misericórdia na tradição Marista

É também um momento de refundação, de busca daquilo É também um momento de refundação, de busca daquilo que é essencial em nossas vidas. É momento de agradecer que é essencial em nossas vidas. É momento de agradecer a resposta de Maria às nossas preces diante do surgimento a resposta de Maria às nossas preces diante do surgimento e consolidação da vocação laical marista. Por tudo isso nos e consolidação da vocação laical marista. Por tudo isso nos unimos à Igreja e ao Papa Francisco para agradecermos a unimos à Igreja e ao Papa Francisco para agradecermos a Deus por sua misericórdia entre nós. Com Maria, somos Deus por sua misericórdia entre nós. Com Maria, somos chamados a continuar o cântico do chamados a continuar o cântico do MagnificatMagnificat: “Seu nome : “Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração para aqueles que o temem” (Lc para aqueles que o temem” (Lc 11,,4949).).

1. MISERICÓRDIA EM MARCELINO CHAMPAGNAT

Marcelino Champagnat, desde a formação no semináMarcelino Champagnat, desde a formação no seminá--rio até o sacerdócio, já intuía ser ele mesmo um troféu da rio até o sacerdócio, já intuía ser ele mesmo um troféu da misericórdia de Deus e da Virgem Maria. Em sua vida e, misericórdia de Deus e da Virgem Maria. Em sua vida e, sobretudo, nas suas limitações fazia brilhar a ação de Deus. sobretudo, nas suas limitações fazia brilhar a ação de Deus. Sempre acreditou ser um instrumento nas mãos de Deus.Sempre acreditou ser um instrumento nas mãos de Deus.

Meu Deus, prometo, com vosso auxílio, fazer todos Meu Deus, prometo, com vosso auxílio, fazer todos os esforços para ser fiel a essas resoluções. Conheceis, os esforços para ser fiel a essas resoluções. Conheceis, porém, minha fraqueza. Tende piedade de mim, eu porém, minha fraqueza. Tende piedade de mim, eu vo-lo suplico, dai-me a graça de não pecar por palavo-lo suplico, dai-me a graça de não pecar por pala--vras. Virgem santa, rogai por mim. Sabeis que sou vras. Virgem santa, rogai por mim. Sabeis que sou vosso escravo. Na verdade, sou indigno de tão granvosso escravo. Na verdade, sou indigno de tão gran--de favor. Contudo, minha indignidade fará brilhar de favor. Contudo, minha indignidade fará brilhar vossa bondade e vossa misericórdia para comigo. vossa bondade e vossa misericórdia para comigo. (FURET, (FURET, 19991999, p., p.1818).).

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A pessoa chamada à santidade (e todos nós o somos) geA pessoa chamada à santidade (e todos nós o somos) ge--ralmente se conhece diante do espelho da misericórdia inralmente se conhece diante do espelho da misericórdia in--finita de Deus. Por isso, não se detém em suas limitações, finita de Deus. Por isso, não se detém em suas limitações, mas, antes, concentra-se na ação e na transformação de mas, antes, concentra-se na ação e na transformação de Deus. Afirma a bula Deus. Afirma a bula Misericordiae VultusMisericordiae Vultus: “Misericórdia : “Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação de nosso pecado” (n.2).da limitação de nosso pecado” (n.2).

Celebrarmos os 2Celebrarmos os 20000 anos da Promessa de Fourvière anos da Promessa de Fourvière em pleno Jubileu da Misericórdia é aproveitar um temem pleno Jubileu da Misericórdia é aproveitar um tem--po favorável (po favorável (kairóskairós) e renovar, junto com Marcelino, sua ) e renovar, junto com Marcelino, sua consagração pessoal feita um dia depois da promessa de consagração pessoal feita um dia depois da promessa de Fourvière, no mesmo Santuário. Fourvière, no mesmo Santuário.

Virgem Santa, tesouro das misericórdias e canal das Virgem Santa, tesouro das misericórdias e canal das graças, a vós levanto as mãos suplicantes. Instantemente graças, a vós levanto as mãos suplicantes. Instantemente vos peço me tomeis sob vossa proteção e intercedei por vos peço me tomeis sob vossa proteção e intercedei por mim junto ao vosso adorável Filho, a fim de que me mim junto ao vosso adorável Filho, a fim de que me conceda as graças necessárias para me tornar digno conceda as graças necessárias para me tornar digno ministro do altar. Com o vosso amparo quero trabaministro do altar. Com o vosso amparo quero traba--lhar na salvação das almas. Nada posso, ó Mãe de milhar na salvação das almas. Nada posso, ó Mãe de mi--sericórdia! Nada posso, bem sei; mas vós podeis tudo, sericórdia! Nada posso, bem sei; mas vós podeis tudo, por vossas orações; Virgem Santa, deposito em vós toda por vossas orações; Virgem Santa, deposito em vós toda minha confiança. Ofereço-vos, entrego e consagro miminha confiança. Ofereço-vos, entrego e consagro mi--nha pessoa, trabalhos e todas as ações de minha vida. nha pessoa, trabalhos e todas as ações de minha vida. (FURET, (FURET, 19991999, p. , p. 3030).).

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59A misericórdia na tradição Marista

Marcelino, ao subir novamente ao Santuário de Marcelino, ao subir novamente ao Santuário de Fourvière, leva cada um de nós em seu coração, tanto os Fourvière, leva cada um de nós em seu coração, tanto os Irmãos que pensava em fundar como todos os Leigos, Irmãos que pensava em fundar como todos os Leigos, jovens e crianças que teriam contato com esse dom de jovens e crianças que teriam contato com esse dom de Deus, que é o carisma marista na Igreja (Cf. ESTAÚN, Deus, que é o carisma marista na Igreja (Cf. ESTAÚN, 20152015). Como Maristas de Champagnat podemos ver que ). Como Maristas de Champagnat podemos ver que “Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não “Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém” conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém” ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n.2, n.244).).

Marcado profundamente pela misericórdia divina, Marcado profundamente pela misericórdia divina, Marcelino se torna um grande pedagogo e a forma como Marcelino se torna um grande pedagogo e a forma como instruía os primeiros Irmãos era marcada pelo anúncio instruía os primeiros Irmãos era marcada pelo anúncio da misericórdia de Deus e da Virgem Santíssima. Na bioda misericórdia de Deus e da Virgem Santíssima. Na bio--grafia do Ir. Sylvestre podemos ler:grafia do Ir. Sylvestre podemos ler:

Os temas mais frequentes de suas palestras eram: a Os temas mais frequentes de suas palestras eram: a confiança em Deus; a sua grande misericórdia; Jesus confiança em Deus; a sua grande misericórdia; Jesus Cristo, que recebe de braços abertos o filho pródigo; o Cristo, que recebe de braços abertos o filho pródigo; o recurso confiante a Nossa Senhora. Assegurava que a recurso confiante a Nossa Senhora. Assegurava que a devoção sincera para com essa Boa Mãe era sinal certo devoção sincera para com essa Boa Mãe era sinal certo de predestinação, mesmo para quem fosse grande pede predestinação, mesmo para quem fosse grande pe--cador. (SYLVESTRE, cador. (SYLVESTRE, 20142014, p., p.772).2).

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O Jubileu da Misericórdia tem como principal funO Jubileu da Misericórdia tem como principal fun--damentação bíblica o capítulo damentação bíblica o capítulo 1515 do Evangelho de Lucas: do Evangelho de Lucas:

Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (Cf. Lc seus dois filhos (Cf. Lc 1515, , 11--332). Nestas parábolas, Deus 2). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quané apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quan--do perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e do perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão. (com o perdão. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.0909).).

Em um tempo no qual existia um rigor acentuado no Em um tempo no qual existia um rigor acentuado no pecado e uma falta de credibilidade na natureza humapecado e uma falta de credibilidade na natureza huma--na (jansenismo), nos ensinamentos do Padre Marcelino na (jansenismo), nos ensinamentos do Padre Marcelino Champagnat aparecem com grande originalidade o priChampagnat aparecem com grande originalidade o pri--mado do perdão sem limites de Deus:mado do perdão sem limites de Deus:

Quanto mais graças pedirmos a Deus, mais recebereQuanto mais graças pedirmos a Deus, mais recebere--mos. Pedir muito aos homens é o meio de nada receber. mos. Pedir muito aos homens é o meio de nada receber. Para obter deles alguma coisa é preciso pedir pouco. Para obter deles alguma coisa é preciso pedir pouco. Com Deus, porém, é diferente: pedir-lhe grandes coiCom Deus, porém, é diferente: pedir-lhe grandes coi--sas é honrar-lhe a grandeza e bondade... O homem rico sas é honrar-lhe a grandeza e bondade... O homem rico empobrece quando dá. Com Deus acontece o contrário: empobrece quando dá. Com Deus acontece o contrário:

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61A misericórdia na tradição Marista

não se cansa de oferecer. Para ele, favorecer os homens não se cansa de oferecer. Para ele, favorecer os homens constitui uma necessidade. Aliás, continua possuindo constitui uma necessidade. Aliás, continua possuindo aquilo que nos prodigaliza. Diferentemente dos hoaquilo que nos prodigaliza. Diferentemente dos ho--mens, ele nos enriquece sem perder. Pode-se mesmo mens, ele nos enriquece sem perder. Pode-se mesmo afirmar que aumenta suas riquezas aos nos acumular de afirmar que aumenta suas riquezas aos nos acumular de seus dons. As graças que nos distribui achavam-se como seus dons. As graças que nos distribui achavam-se como que sepultadas no seio de sua misericórdia, sem conque sepultadas no seio de sua misericórdia, sem con--tribuir em nada à sua glória externa. Mas, quando em tribuir em nada à sua glória externa. Mas, quando em nossas mãos, servem para glorificá-lo, mediante as boas nossas mãos, servem para glorificá-lo, mediante as boas ações que nos levam a fazer... (FURET, ações que nos levam a fazer... (FURET, 19991999, p.2, p.29393).).

Os ensinamentos de Marcelino encontram eco nas Os ensinamentos de Marcelino encontram eco nas palavras do Papa Francisco ao nos revelar o amor e a mipalavras do Papa Francisco ao nos revelar o amor e a mi--sericórdia incansáveis de Deus:sericórdia incansáveis de Deus:

Deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se Deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração para repecansa de escancarar a porta do seu coração para repe--tir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. tir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus. A sua vida é autêntica e credímisericórdia de Deus. A sua vida é autêntica e credí--vel, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio. vel, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio. ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.0909).).

Uma característica marcante da misericórdia em Uma característica marcante da misericórdia em Champagnat era sua forma de administrar o Sacramento Champagnat era sua forma de administrar o Sacramento da Confissão. Não demorou muito para que os habitantes da Confissão. Não demorou muito para que os habitantes de La Valla e redondeza descobrissem em seu vigário um de La Valla e redondeza descobrissem em seu vigário um instrumento da misericórdia de Deus:instrumento da misericórdia de Deus:

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Aos poucos, o seu confessionário passou a ser muito Aos poucos, o seu confessionário passou a ser muito frequentado; nas grandes festas, ele era obrigado a perfrequentado; nas grandes festas, ele era obrigado a per--manecer atendendo a maior parte do dia. Os penitentes manecer atendendo a maior parte do dia. Os penitentes diziam que ele tinha o dom particular de inspirar-lhes diziam que ele tinha o dom particular de inspirar-lhes vivo arrependimento das faltas. Seus conselhos comovivo arrependimento das faltas. Seus conselhos como--ventes levavam às lágrimas. Muitas vezes, era ele próprio ventes levavam às lágrimas. Muitas vezes, era ele próprio quem chorava, amargurado com as ofensas a Deus ou quem chorava, amargurado com as ofensas a Deus ou maravilhado com a misericórdia divina, que perdoa aos maravilhado com a misericórdia divina, que perdoa aos pecadores arrependidos. (SYLVESTRE, 2pecadores arrependidos. (SYLVESTRE, 2014014, p., p.112200).).

Champagnat é um modelo de confessor e de alguém Champagnat é um modelo de confessor e de alguém atento às menores demonstrações da misericórdia de Deus. atento às menores demonstrações da misericórdia de Deus. Nesse sentido, ao falar sobre o Sacramento da Confissão, Nesse sentido, ao falar sobre o Sacramento da Confissão, nos adverte o Papa Francisco:nos adverte o Papa Francisco:

Não me cansarei jamais de insistir com os confessores Não me cansarei jamais de insistir com os confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão. Nenhum de nós é sepenitentes em busca do perdão. Nenhum de nós é se--nhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão nhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por tê-lo reencontrado. (tê-lo reencontrado. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.1717).).

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63A misericórdia na tradição Marista

2. MISERICÓRDIA NAS CARTAS DE MARCELINO CHAMPAGNAT

As cartas de Marcelino expressam muito da sua personaliAs cartas de Marcelino expressam muito da sua personali--dade. Pode-se dizer que Marcelino é um homem marcado dade. Pode-se dizer que Marcelino é um homem marcado pela ternura e misericórdia de Deus. É nas cartas enviapela ternura e misericórdia de Deus. É nas cartas envia--das aos irmãozinhos de Maria que se derrama o seu mais das aos irmãozinhos de Maria que se derrama o seu mais nobre sentimento; tem a liberdade de um pai ao dizer aos nobre sentimento; tem a liberdade de um pai ao dizer aos seus filhos sobre a potência de amor que transborda do seus filhos sobre a potência de amor que transborda do seu coração.seu coração.

Caríssimos Irmãos nossos, sinto no coração a grata saCaríssimos Irmãos nossos, sinto no coração a grata sa--tisfação de me lembrar de vocês todos os dias e de, no tisfação de me lembrar de vocês todos os dias e de, no santo altar, apresentá-los todos ao Senhor; especialsanto altar, apresentá-los todos ao Senhor; especial--mente hoje não consigo resistir à agradável satisfação mente hoje não consigo resistir à agradável satisfação de expressar a vocês meus sentimentos de afeto e de de expressar a vocês meus sentimentos de afeto e de manifestar minha ternura paternal. Meus queridos e manifestar minha ternura paternal. Meus queridos e bem-amados, vocês são continuamente o objeto espebem-amados, vocês são continuamente o objeto espe--cial de minha terna solicitude. Todos os meus anseios cial de minha terna solicitude. Todos os meus anseios e todos os meus votos têm em mira sua felicidade; isso e todos os meus votos têm em mira sua felicidade; isso certamente vocês já sabem. (CARTAS, n.certamente vocês já sabem. (CARTAS, n.6363).).

A misericórdia de Jesus é o referencial para toda a vida A misericórdia de Jesus é o referencial para toda a vida da Igreja. Como homem que se deixou moldar pelos enda Igreja. Como homem que se deixou moldar pelos en--sinamentos do Evangelho, Marcelino tinha grande apreço sinamentos do Evangelho, Marcelino tinha grande apreço pela passagem do Bom Samaritano. Ao carregar a ovelha pela passagem do Bom Samaritano. Ao carregar a ovelha ferida em seus ombros, Jesus dá exemplo de coração miseferida em seus ombros, Jesus dá exemplo de coração mise--

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ricordioso. Ao falar do samaritano que carrega o homem ricordioso. Ao falar do samaritano que carrega o homem ferido em sua própria montaria, Jesus está dando outro ferido em sua própria montaria, Jesus está dando outro exemplo de atitude misericordiosa:exemplo de atitude misericordiosa:

Mas um samaritano, que estava viajando, quando viu o Mas um samaritano, que estava viajando, quando viu o homem, encheu-se de misericórdia, aproximou-se dele homem, encheu-se de misericórdia, aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e o Depois colocou o homem em seu próprio animal e o levou a uma pensão ... (Lc levou a uma pensão ... (Lc 1010, , 3333--3434) )

Champagnat também fala dessa atitude misericordiosa Champagnat também fala dessa atitude misericordiosa de Jesus, disposto a carregar em seus ombros a cada um de Jesus, disposto a carregar em seus ombros a cada um de nós; a morrer de novo, se preciso fosse, por cada um de de nós; a morrer de novo, se preciso fosse, por cada um de nós. Fala disso numa carta ao Irmão Barthélemy: nós. Fala disso numa carta ao Irmão Barthélemy:

Não se canse de dizer aos seus alunos que eles são os Não se canse de dizer aos seus alunos que eles são os amigos dos santos, da Santíssima Virgem e particuamigos dos santos, da Santíssima Virgem e particu--larmente do mesmo Jesus Cristo [...] que Ele estaria larmente do mesmo Jesus Cristo [...] que Ele estaria disposto, se necessário fosse, a morrer de novo sobre a disposto, se necessário fosse, a morrer de novo sobre a cruz, aí mesmo, em Saint-Symphorien, para salvá-los. cruz, aí mesmo, em Saint-Symphorien, para salvá-los. [...] Diga-lhes ainda que eles podem tornar-se grandes [...] Diga-lhes ainda que eles podem tornar-se grandes santos, até sem muito sacrifício, pois o bom Jesus prosantos, até sem muito sacrifício, pois o bom Jesus pro--mete colocá-los sobre seus ombros, para poupar-lhes mete colocá-los sobre seus ombros, para poupar-lhes esforço. (CARTAS, n.2esforço. (CARTAS, n.244).).

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65A misericórdia na tradição Marista

Essa ternura e misericórdia também se revelam naquela Essa ternura e misericórdia também se revelam naquela que ficou conhecida como a que ficou conhecida como a Carta das LágrimasCarta das Lágrimas, carta enviada , carta enviada ao Vigário Geral de Lion, Padre Cholleton. Nela, ao reao Vigário Geral de Lion, Padre Cholleton. Nela, ao re--memorar as situações mais difíceis de sua vida e também memorar as situações mais difíceis de sua vida e também do nascente Instituto, Champagnat não se volta ao passado do nascente Instituto, Champagnat não se volta ao passado com rancor, mas, antes, vê com os óculos da misericórdia com rancor, mas, antes, vê com os óculos da misericórdia a todos estes acontecimentos terríveis; e assim escreve:a todos estes acontecimentos terríveis; e assim escreve:

Por fim, Deus em sua infinita misericórdia, - ai! que Por fim, Deus em sua infinita misericórdia, - ai! que digo? - talvez em sua justiça, me devolve por fim a saúde. digo? - talvez em sua justiça, me devolve por fim a saúde. Tranquilizo meus filhos; digo-lhes que nada temam, Tranquilizo meus filhos; digo-lhes que nada temam, que eu compartilharei de todos os seus dissabores, parque eu compartilharei de todos os seus dissabores, par--tilhando até o último pedaço de pão. (CARTAS, n.tilhando até o último pedaço de pão. (CARTAS, n.3030).).

Partilhar até o último pedaço de pãoPartilhar até o último pedaço de pão é a expressão concreta de é a expressão concreta de uma misericórdia encarnada na vida e na situação em que uma misericórdia encarnada na vida e na situação em que ele e os Irmãos se encontravam; trata-se de uma miseriele e os Irmãos se encontravam; trata-se de uma miseri--córdia encarnada, como nos diz a córdia encarnada, como nos diz a Bula da MisericórdiaBula da Misericórdia::

Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais ínque se comovem pelo próprio filho até ao mais ín--timo das suas vísceras. É verdadeiramente um caso timo das suas vísceras. É verdadeiramente um caso para dizer que se trata de um amor “visceral”. Provém para dizer que se trata de um amor “visceral”. Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão. feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão. ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.77).).

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Depois da grave doença que sofreu, a saúde do Padre Depois da grave doença que sofreu, a saúde do Padre Champagnat nunca mais voltou a ser a mesma. Uma das Champagnat nunca mais voltou a ser a mesma. Uma das lições que aprendeu com a doença é a entrega de toda a lições que aprendeu com a doença é a entrega de toda a sua vida e seu apostolado nas mãos de Deus. Uma expressua vida e seu apostolado nas mãos de Deus. Uma expres--são que bem traduz essa realidade é o são que bem traduz essa realidade é o Nisi DominusNisi Dominus, reti, reti--rado do Salmo 12rado do Salmo 1277 ( (Se o Senhor não constrói a nossa casaSe o Senhor não constrói a nossa casa…), que …), que pode ser traduzido como um hino de confiança em Deus pode ser traduzido como um hino de confiança em Deus e na Virgem Santíssima. Numa carta enviada ao Padre e na Virgem Santíssima. Numa carta enviada ao Padre Mazelier, Marcelino escreve:Mazelier, Marcelino escreve:

Uma indisposição, que espero não seja muito grave, Uma indisposição, que espero não seja muito grave, acaba de me impedir de prosseguir e me obriga a reacaba de me impedir de prosseguir e me obriga a re--gressar. Seja Deus bendito mil e mil vezes! O Soberano gressar. Seja Deus bendito mil e mil vezes! O Soberano Mestre tem boas razões para agir assim. Não lhe peço Mestre tem boas razões para agir assim. Não lhe peço senão uma coisa: que eu possa cantar eternamente suas senão uma coisa: que eu possa cantar eternamente suas misericórdias! (CARTAS, n. misericórdias! (CARTAS, n. 1122).22).

Também nos momentos difíceis da vida, a Igreja nos Também nos momentos difíceis da vida, a Igreja nos oferece o bálsamo da misericórdia:oferece o bálsamo da misericórdia:

Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericrentes e afastados, possa chegar o bálsamo da miseri--córdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio córdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós. (de nós. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.55).).

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67A misericórdia na tradição Marista

As últimas palavras de Marcelino foram uma profecia As últimas palavras de Marcelino foram uma profecia na misericórdia de Deus, que se realiza na perenidade do na misericórdia de Deus, que se realiza na perenidade do Instituto, cujos 200 anos celebramos:Instituto, cujos 200 anos celebramos:

A gente é apenas um instrumento, ou melhor, não é A gente é apenas um instrumento, ou melhor, não é nada. Deus é quem faz tudo. Você deveria compreennada. Deus é quem faz tudo. Você deveria compreen--der essa verdade, pois está entre os veteranos e presender essa verdade, pois está entre os veteranos e presen--ciou as origens do Instituto. Acaso a Providência não ciou as origens do Instituto. Acaso a Providência não cuidou sempre de nós? Não foi ela que nos congregou cuidou sempre de nós? Não foi ela que nos congregou e nos fez triunfar de todos os obstáculos? Deus a abene nos fez triunfar de todos os obstáculos? Deus a aben--çoará não por causa dos homens que a dirigem, mas çoará não por causa dos homens que a dirigem, mas por causa da sua infinita bondade e dos desígnios de por causa da sua infinita bondade e dos desígnios de misericórdia em favor dos meninos a nós confiados misericórdia em favor dos meninos a nós confiados (FURET, (FURET, 19991999, p. 2, p. 21414).).

3. A MISERICÓRDIA EM ALGUNS DOCUMENTOS MARISTAS

O O Guia das EscolasGuia das Escolas nos ensina que a primeira verdade nos ensina que a primeira verdade para o ensino dos alunos é a formação do coração, que para o ensino dos alunos é a formação do coração, que pode ser entendida como uma forma positiva de apresentar pode ser entendida como uma forma positiva de apresentar Deus às crianças:Deus às crianças:

Formação do coração: Uma das coisas mais importanFormação do coração: Uma das coisas mais importan--tes, na educação religiosa da criança, é fazer com que tes, na educação religiosa da criança, é fazer com que ela ame a religião e cumpra os seus deveres por amor... ela ame a religião e cumpra os seus deveres por amor... Esforçar-se em fazer conhecer bem as características Esforçar-se em fazer conhecer bem as características da lei de Deus e o verdadeiro espírito da religião, que da lei de Deus e o verdadeiro espírito da religião, que é espírito de bondade, misericórdia, doçura e consoé espírito de bondade, misericórdia, doçura e conso--lação (p.lação (p.102102).).

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Tal afirmação vai ao encontro com a missão primeira Tal afirmação vai ao encontro com a missão primeira da Igreja, como relembra o Bispo de Roma:da Igreja, como relembra o Bispo de Roma:

A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.112).2).

Irmão Basílio RuedaIrmão Basílio Rueda, assim com Champagnat, é um , assim com Champagnat, é um enamorado de Deus. Seus escritos transbordam esse amor, enamorado de Deus. Seus escritos transbordam esse amor, essa misericórdia e ternura que marcaram de forma tão essa misericórdia e ternura que marcaram de forma tão radical sua existência. Ao nos descrever Jesus, ele o faz da radical sua existência. Ao nos descrever Jesus, ele o faz da forma como o experimenta: “Um dia descobri que Deus forma como o experimenta: “Um dia descobri que Deus nos tornara tangível seu amor na pessoa de seu Filho e nos tornara tangível seu amor na pessoa de seu Filho e que Jesus Cristo é o beijo de amor e de ternura que o Pai que Jesus Cristo é o beijo de amor e de ternura que o Pai nos dá” (apud BIGOTTO, 2nos dá” (apud BIGOTTO, 2014014). Na realidade, essa é a ). Na realidade, essa é a primeira verdade da Bula da Misericórdia: primeira verdade da Bula da Misericórdia:

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. (clímax em Jesus de Nazaré. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.11).).

Deus é amorDeus é amor: é o aspecto sobre o qual Basílio volta segui: é o aspecto sobre o qual Basílio volta segui--damente porque é o aspecto que ele mais experimenta na damente porque é o aspecto que ele mais experimenta na sua oração e na sua vida. sua oração e na sua vida.

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69A misericórdia na tradição Marista

O amor de Deus é também constantemente miseriO amor de Deus é também constantemente miseri--cordioso... Irmãos, Deus se abaixa até o barro para cordioso... Irmãos, Deus se abaixa até o barro para fazer-nos sair de nossa indignidade... Aquele que nos fazer-nos sair de nossa indignidade... Aquele que nos deu Jesus Cristo como, com Jesus Cristo, não nos daria deu Jesus Cristo como, com Jesus Cristo, não nos daria todas as coisas? Mas nós somos uns imbecis – desculpem todas as coisas? Mas nós somos uns imbecis – desculpem o termo –; se Deus nos dá seu Filho, como é que não o termo –; se Deus nos dá seu Filho, como é que não nos daria o perdão? (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2nos daria o perdão? (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2014014).).

Ao lermos a citação acima de Basílio, parece que estamos Ao lermos a citação acima de Basílio, parece que estamos escutando o Papa Francisco a nos dizer: escutando o Papa Francisco a nos dizer:

Que a palavra do perdão possa chegar a todos e o chaQue a palavra do perdão possa chegar a todos e o cha--mado para experimentar a misericórdia não deixe mado para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à conversão dininguém indiferente. O meu convite à conversão di--rige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas rige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. (vida. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.1919).).

Ir. Basílio nos recorda que a misericórdia nasce do enIr. Basílio nos recorda que a misericórdia nasce do en--contro com Deus. Somente quando nosso coração é preencontro com Deus. Somente quando nosso coração é preen--chido desta Presença é que podemos de fato experimentar chido desta Presença é que podemos de fato experimentar a misericórdia:a misericórdia:

Há ocasiões durante as quais se fazem orações em que Há ocasiões durante as quais se fazem orações em que Deus se revela no coração. Isso é realmente possível: Deus se revela no coração. Isso é realmente possível: é uma prece de tal valor, de tal peso de misericórdia, é uma prece de tal valor, de tal peso de misericórdia, de tal força, que se pode viver três ou cinco dias numa de tal força, que se pode viver três ou cinco dias numa espécie de atmosfera permanente e aí pode-se dizer que espécie de atmosfera permanente e aí pode-se dizer que

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algo faz mal no coração, que há como que um substrato algo faz mal no coração, que há como que um substrato subconsciente, que faz com que a gente se sinta apenas subconsciente, que faz com que a gente se sinta apenas presente, e apenas se dê conta de estar fazendo alguma presente, e apenas se dê conta de estar fazendo alguma coisa. (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2coisa. (BASÍLIO apud BIGOTTO, 2014014).).

Essa experiência de Deus não se fecha em um intimisEssa experiência de Deus não se fecha em um intimis--mo, mas abre-se em atitudes que revelam a misericórmo, mas abre-se em atitudes que revelam a misericór--dia, principalmente àqueles que mais necessitam. Na sua dia, principalmente àqueles que mais necessitam. Na sua intervenção no Sínodo da Família, em intervenção no Sínodo da Família, em 19801980, Basílio , Basílio Rueda afirmou:Rueda afirmou:

Neste momento formulo meu desejo e minha vontade de Neste momento formulo meu desejo e minha vontade de sensibilizar tanto quanto possível minha Congregação, sensibilizar tanto quanto possível minha Congregação, meus Irmãos, as instituições e os outros educadores meus Irmãos, as instituições e os outros educadores com os quais possa ter contato... a fim de responder com os quais possa ter contato... a fim de responder especificamente à tarefa de uma real educação à vida especificamente à tarefa de uma real educação à vida de família e orientar particularmente esse serviço para de família e orientar particularmente esse serviço para os que vêm de famílias incompletas ou desmanteladas, os que vêm de famílias incompletas ou desmanteladas, ou que não têm o amor e qualidades requeridas, por ou que não têm o amor e qualidades requeridas, por serem pobres de dinheiro ou de situação social ou em serem pobres de dinheiro ou de situação social ou em qualidades intelectuais ou físicas e precisam muito de qualidades intelectuais ou físicas e precisam muito de que nossa ação torne tangível o rosto paternal de Deus que nossa ação torne tangível o rosto paternal de Deus e a ternura amorosa da Igreja, mãe e educadora (apud e a ternura amorosa da Igreja, mãe e educadora (apud BIGOTTO, 2BIGOTTO, 2014014).).

A intervenção de Basílio pode ser traduzida como uma A intervenção de Basílio pode ser traduzida como uma mística profética. Há trinta e cinco anos atrás já nos chamística profética. Há trinta e cinco anos atrás já nos cha--mava a atenção para as realidades frágeis das famílias. mava a atenção para as realidades frágeis das famílias. Seu olhar é um olhar de misericórdia e ternura, pois vê Seu olhar é um olhar de misericórdia e ternura, pois vê

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71A misericórdia na tradição Marista

a imagem da Igreja e também do Instituto como mãe e a imagem da Igreja e também do Instituto como mãe e educadora. Essa predileção pelas famílias mais vulneráveis educadora. Essa predileção pelas famílias mais vulneráveis hoje se traduz no apelo do Papa Francisco de uma Igreja hoje se traduz no apelo do Papa Francisco de uma Igreja em saída às periferias existenciais:em saída às periferias existenciais:

Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo conperiferias existenciais, que muitas vezes o mundo con--temporâneo cria de forma dramática. Quantas situatemporâneo cria de forma dramática. Quantas situa--ções de precariedade e sofrimentos presentes no munções de precariedade e sofrimentos presentes no mun--do atual. Quantas feridas gravadas na carne de muitos do atual. Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não tem voz porque seu grito foi esmorecendo que já não tem voz porque seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. A Igreja é chamada ainda mais a cuidar destas feridas, a A Igreja é chamada ainda mais a cuidar destas feridas, a aliviá-las com o óleo da consolação, a enfaixá-las com a aliviá-las com o óleo da consolação, a enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. (devidas. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.1515).).

Nessa mesma esteira, ao escrever aos Irmãos, em Nessa mesma esteira, ao escrever aos Irmãos, em 22003003, sobre o fundamento da espiritualidade de , sobre o fundamento da espiritualidade de Marcelino Champagnat e dos primeiros Irmãos, Marcelino Champagnat e dos primeiros Irmãos, Ir. Séan SammonIr. Séan Sammon afirma: afirma:

O Fundador atingiu finalmente um estágio em que O Fundador atingiu finalmente um estágio em que construiu sua espiritualidade sobre uma base muito construiu sua espiritualidade sobre uma base muito sólida: o amor a Deus e ao próximo. Marcelino amava sólida: o amor a Deus e ao próximo. Marcelino amava a Deus em Sua natureza humana. Sociável por tempea Deus em Sua natureza humana. Sociável por tempe--ramento, Marcelino também amava as pessoas e gostava ramento, Marcelino também amava as pessoas e gostava de ficar com elas. O Fundador, consciente de que Deus de ficar com elas. O Fundador, consciente de que Deus

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se revela nas pessoas e nos acontecimentos da vida, ense revela nas pessoas e nos acontecimentos da vida, en--tendia que o relacionamento com as pessoas era um tendia que o relacionamento com as pessoas era um dos meios para se poder estabelecer um relacionamento dos meios para se poder estabelecer um relacionamento amoroso com Deus. (SAMMON, 2amoroso com Deus. (SAMMON, 2003003, p. , p. 4444).).

Assim se refere o Papa Francisco, ao explicar a parábola Assim se refere o Papa Francisco, ao explicar a parábola da Misericórdia no capítulo da Misericórdia no capítulo 1818 do Evangelho de Mateus: do Evangelho de Mateus:

Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada miviver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada mi--sericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se sericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir (prescindir (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.99).).

Por seu lado, a primeira definição da espiritualidade Por seu lado, a primeira definição da espiritualidade Marista no documento Marista no documento Água da RochaÁgua da Rocha é fortemente mar é fortemente mar--cada pela misericórdia: cada pela misericórdia:

A história de nossa espiritualidade é de paixão e miseA história de nossa espiritualidade é de paixão e mise--ricórdia, paixão por Deus e misericórdia pelas pessoas. ricórdia, paixão por Deus e misericórdia pelas pessoas. ((Água da RochaÁgua da Rocha, n., n.11).).

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73A misericórdia na tradição Marista

Trata-se de uma mística encarnada. Para nós, Maristas Trata-se de uma mística encarnada. Para nós, Maristas de Champagnat, Deus se manifesta por meio do mundo e de Champagnat, Deus se manifesta por meio do mundo e das pessoas com as quais convivemos. Não temos outra lei das pessoas com as quais convivemos. Não temos outra lei em nossas relações que não seja a misericórdia:em nossas relações que não seja a misericórdia:

MisericórdiaMisericórdia: é a lei fundamental que mora no coração : é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa quando vê com olhos sinceros o irmão de cada pessoa quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. que encontra no caminho da vida. MisericórdiaMisericórdia: é o ca: é o ca--minho que une Deus e o homem, porque nos abre o minho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre. coração à esperança de sermos amados para sempre. ((Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n.2)., n.2).

Jesus nos mostra quanto Deus se comove com as neJesus nos mostra quanto Deus se comove com as ne--cessidades e o sofrimento das pessoas, principalmente cessidades e o sofrimento das pessoas, principalmente dos “pequeninos”:dos “pequeninos”:

À medida que nossa vida fica mais centrada no relacioÀ medida que nossa vida fica mais centrada no relacio--namento com Deus, somos também mais tocados pela namento com Deus, somos também mais tocados pela sua misericórdia e passamos a nos dedicar aos necessisua misericórdia e passamos a nos dedicar aos necessi--tados, de modo especial aos jovens. (tados, de modo especial aos jovens. (Água da RochaÁgua da Rocha, n., n.6969).).

O místico Marista é, a exemplo de Maria, alguém que O místico Marista é, a exemplo de Maria, alguém que vê em todos os acontecimentos a mão de Deus. Procura vê em todos os acontecimentos a mão de Deus. Procura enxergar além das aparências:enxergar além das aparências:

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Como místicos, reconhecemos a presença do Senhor Como místicos, reconhecemos a presença do Senhor em todos os acontecimentos. O sentido de nossa fé nos em todos os acontecimentos. O sentido de nossa fé nos faz apreender as dimensões mais profundas de cada sifaz apreender as dimensões mais profundas de cada si--tuação, além das aparências e visões superficiais. Nossa tuação, além das aparências e visões superficiais. Nossa oração se traduz na exclamação: Como é grande o Vosso oração se traduz na exclamação: Como é grande o Vosso amor, Senhor! E, certos da imensidão do amor de Deus, amor, Senhor! E, certos da imensidão do amor de Deus, entregamo-nos confiantes à Sua infinita misericórdia. entregamo-nos confiantes à Sua infinita misericórdia. ((Água da RochaÁgua da Rocha, n. , n. 7373).).

O chamado de Jesus leva cada um de nós a nunca se deO chamado de Jesus leva cada um de nós a nunca se de--ter na superfície das coisas, sobretudo quando estamos ter na superfície das coisas, sobretudo quando estamos diante de uma pessoa. Somos chamados a olhar para diante de uma pessoa. Somos chamados a olhar para além, a fixar o coração para ver de quanta generosialém, a fixar o coração para ver de quanta generosi--dade cada um é capaz. Ninguém pode ser excluído da dade cada um é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus; todos conhecem o caminho para misericórdia de Deus; todos conhecem o caminho para aceder a ela e a Igreja é a casa que acolhe todos e não aceder a ela e a Igreja é a casa que acolhe todos e não rejeita ninguém. (Papa Francisco, Homilia do anúncio rejeita ninguém. (Papa Francisco, Homilia do anúncio do Jubileu).do Jubileu).

A fraternidade tem a sua base na vivência diária do A fraternidade tem a sua base na vivência diária do perdão. A reconciliação é exigência constante para que a perdão. A reconciliação é exigência constante para que a misericórdia possa ser vivida em nossas relações:misericórdia possa ser vivida em nossas relações:

Para garantir uma vida em fraternidade é preciso viPara garantir uma vida em fraternidade é preciso vi--ver um processo permanente de reconciliação. Esse ver um processo permanente de reconciliação. Esse processo permite que retornemos sempre ao centro da processo permite que retornemos sempre ao centro da comunidade – Jesus. Podemos assim sentir-nos sempre comunidade – Jesus. Podemos assim sentir-nos sempre amados e capazes de superar as dificuldades. Na miseamados e capazes de superar as dificuldades. Na mise--ricórdia e na compaixão de Deus, encontramos a força ricórdia e na compaixão de Deus, encontramos a força e a graça necessárias para buscarmos a reconciliação. e a graça necessárias para buscarmos a reconciliação. ((Água da RochaÁgua da Rocha, n. , n. 116116).).

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75A misericórdia na tradição Marista

A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericorsintonia com isto, se deve orientar o amor misericor--dioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também dioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros. (para com os outros. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.99).).

Podemos dizer que todo o documento Podemos dizer que todo o documento Em torno da Em torno da mesma mesamesma mesa foi construído sob uma atmosfera de relações foi construído sob uma atmosfera de relações fraternas baseadas na misericórdia. Contudo, é significafraternas baseadas na misericórdia. Contudo, é significa--tivo a afirmação de que Maria, nossa Boa Mãe, é para nós, tivo a afirmação de que Maria, nossa Boa Mãe, é para nós, Maristas, a personificação dessa misericórdia:Maristas, a personificação dessa misericórdia:

A imagem de Maria que Marcelino escolheu para A imagem de Maria que Marcelino escolheu para seus Irmãos é também o nosso símbolo: a Boa Mãe. seus Irmãos é também o nosso símbolo: a Boa Mãe. Queremos que nossas relações sejam marcadas pela sua Queremos que nossas relações sejam marcadas pela sua ternura e acolhimento. Impregnados dessa misericórternura e acolhimento. Impregnados dessa misericór--dia, apresentamos ao mundo o grande dom de Deus dia, apresentamos ao mundo o grande dom de Deus feito criança. (feito criança. (Em torno da mesma mesaEm torno da mesma mesa, n., n.113113).).

Outro elemento importante do documento em questão Outro elemento importante do documento em questão é a afirmação de que a experiência fraterna, à qual somos é a afirmação de que a experiência fraterna, à qual somos chamados a realizar mediante o carisma Marista, não se chamados a realizar mediante o carisma Marista, não se restringe aos limites da fé cristã:restringe aos limites da fé cristã:

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O carisma marista, dom do Espírito que sopra onde O carisma marista, dom do Espírito que sopra onde quer, toca hoje o coração de homens e mulheres de quer, toca hoje o coração de homens e mulheres de outras religiões ou convicções. Nós, Leigos e Irmãos outras religiões ou convicções. Nós, Leigos e Irmãos Maristas, acolhemos essas pessoas que encontram no Maristas, acolhemos essas pessoas que encontram no carisma de Champagnat um caminho para viver mais carisma de Champagnat um caminho para viver mais profundamente sua própria experiência religiosa e profundamente sua própria experiência religiosa e seu compromisso com a humanidade (seu compromisso com a humanidade (Em torno da mesma Em torno da mesma mesamesa, n., n.113113).).

Da mesma forma, o convite à participação nos frutos Da mesma forma, o convite à participação nos frutos deste Jubileu se estende além dos limites humanos aos deste Jubileu se estende além dos limites humanos aos quais estamos condicionados:quais estamos condicionados:

A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o Judaísmo fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o Judaísmo e o Islamismo, que a consideram um dos atributos mais e o Islamismo, que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus. (marcantes de Deus. (Misericordiae VultusMisericordiae Vultus, n., n.99).).

Exemplo vivo entre nós dessa quebra de fronteiras para Exemplo vivo entre nós dessa quebra de fronteiras para levar o bálsamo da misericórdia aos que mais sofrem é levar o bálsamo da misericórdia aos que mais sofrem é a a Missão dos Maristas Azuis de AlepoMissão dos Maristas Azuis de Alepo, Síria. O Leigo Marista, , Síria. O Leigo Marista, Dr. Nabil Antaki, ao concluir o relato da situação em Dr. Nabil Antaki, ao concluir o relato da situação em Alepo para o periódico Alepo para o periódico Notícias MaristasNotícias Maristas, assim conclui: , assim conclui:

No vazio de vossas vidas, o Senhor deposita a espeNo vazio de vossas vidas, o Senhor deposita a espe--rança. No vazio de vossas mãos, o Senhor deposita seu rança. No vazio de vossas mãos, o Senhor deposita seu amor. No fundo de vossos olhos, o Senhor deposita sua amor. No fundo de vossos olhos, o Senhor deposita sua luz. No fundo de vossos corações, o Senhor deposita luz. No fundo de vossos corações, o Senhor deposita sua paz.sua paz.

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77A misericórdia na tradição Marista

A palavra misericórdia aparece, de maneira explícita, A palavra misericórdia aparece, de maneira explícita, pouquíssimas vezes nos documentos do pouquíssimas vezes nos documentos do Ir. Emili TuruIr. Emili Turu, , entretanto o projeto de uma Igreja, cuja face é a manifesentretanto o projeto de uma Igreja, cuja face é a manifes--tação do rosto mariano por meio do serviço, tem em sua tação do rosto mariano por meio do serviço, tem em sua gênese a misericórdia e a ternura como base:gênese a misericórdia e a ternura como base:

“Aqueles que nos governam deixam-se guiar pelo “Aqueles que nos governam deixam-se guiar pelo espírito da Serva do Senhor. A seu exemplo, ouvem, espírito da Serva do Senhor. A seu exemplo, ouvem, refletem e agem” (refletem e agem” (ConstituiçõesConstituições, , 112200). Essa é a liderança ). Essa é a liderança mariana que todos compartilhamos, uma liderança de mariana que todos compartilhamos, uma liderança de baixo, não com respostas pré-fabricadas, mas com esbaixo, não com respostas pré-fabricadas, mas com es--cuta atenta, com a atitude humilde de Maria, que sabe cuta atenta, com a atitude humilde de Maria, que sabe deixar-se interpelar por Deus e pelos demais. (deixar-se interpelar por Deus e pelos demais. (Deu-nos Deu-nos o nome de Mariao nome de Maria, p., p.5353).).

Essa Igreja de Rosto Mariano (metáfora de uma Igreja Essa Igreja de Rosto Mariano (metáfora de uma Igreja servidora) pode parecer uma novidade para a maioria servidora) pode parecer uma novidade para a maioria daqueles que não viveram o Concílio, ou que não o estudaqueles que não viveram o Concílio, ou que não o estu--daram tão a fundo. Ao fazer este convite, nosso Superior daram tão a fundo. Ao fazer este convite, nosso Superior Geral insere-se na mais viva tradição de recepção do Geral insere-se na mais viva tradição de recepção do Concílio Vaticano II:Concílio Vaticano II:

A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecuménico o facho da verdade religiosa, deseja mosEcuménico o facho da verdade religiosa, deseja mos--trar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia trar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separade misericórdia e bondade com os filhos dela separa--dos. (João XXIII, Discurso inaugural do Concílio dos. (João XXIII, Discurso inaugural do Concílio Vaticano II, Vaticano II, 1111//1111//1961962).2).

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Na mesma linha de raciocínio, o Papa Paulo VI, ao conNa mesma linha de raciocínio, o Papa Paulo VI, ao con--cluir o Concílio, afirmou que todo o escopo da doutrina cluir o Concílio, afirmou que todo o escopo da doutrina e da tradição devem ser submetido, em última análise, ao e da tradição devem ser submetido, em última análise, ao serviço do ser humano: serviço do ser humano:

Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidaem todas as suas fraquezas, em todas as suas necessida--des. (Paulo VI, Alocução na última seção pública do des. (Paulo VI, Alocução na última seção pública do Concílio, Concílio, 0707//112/2/19651965).).

Atendendo a esse chamado de Deus é que se inserem as Atendendo a esse chamado de Deus é que se inserem as escolhas feitas pelo nosso Instituto para os próximos anos:escolhas feitas pelo nosso Instituto para os próximos anos:

Em um contexto de mudança de época e de paradigEm um contexto de mudança de época e de paradig--mas, sentimos com força a necessidade de mudar de mas, sentimos com força a necessidade de mudar de perspectiva, de olhar pelos olhos das crianças pobres perspectiva, de olhar pelos olhos das crianças pobres e de aprender a fazê-lo com a perspectiva da ternura e de aprender a fazê-lo com a perspectiva da ternura e da misericórdia de Deus (TURU, e da misericórdia de Deus (TURU, 20152015, Montagne: , Montagne: A dança da Missão).A dança da Missão).

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79A misericórdia na tradição Marista

Chegamos ao final dessa reflexão sobre a Misericórdia Chegamos ao final dessa reflexão sobre a Misericórdia na Tradição Marista tendo em consideração que a seleção na Tradição Marista tendo em consideração que a seleção dos textos aqui apresentados não são completas e, por isso, dos textos aqui apresentados não são completas e, por isso, representam apenas alguns lampejos do quanto este tema representam apenas alguns lampejos do quanto este tema é central em nosso Instituto:é central em nosso Instituto:

A história de nossa espiritualidade é de paixão e miseA história de nossa espiritualidade é de paixão e mise--ricórdia, paixão por Deus e misericórdia pelas pessoas. ricórdia, paixão por Deus e misericórdia pelas pessoas. ((Água da RochaÁgua da Rocha, n., n.11).).

Ao abrirmos e encerrarmos nossa meditação com a citaAo abrirmos e encerrarmos nossa meditação com a cita--ção inicial do documento ção inicial do documento Água da RochaÁgua da Rocha, queremos sinalizar , queremos sinalizar que, na verdade, a história da misericórdia no Instituto que, na verdade, a história da misericórdia no Instituto Marista é uma página aberta que continua sendo escrita, Marista é uma página aberta que continua sendo escrita, graças à abertura e generosidade de tantos Irmãos, Leigos, graças à abertura e generosidade de tantos Irmãos, Leigos, Leigas e jovens que, fieis à promessa de Champagnat em Leigas e jovens que, fieis à promessa de Champagnat em Fourvière, podem repetir com o Fundador: Fourvière, podem repetir com o Fundador:

Que eu possa cantar eternamente suas Que eu possa cantar eternamente suas misericórdias! (CARTAS, n. misericórdias! (CARTAS, n. 1122).22).

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Referências

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