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Universidade Candido Mendes
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Projeto “A Vez do Mestre”
A MÚSICA COMO FACILITADORA DA APRENDIZAGEM
DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Tatiana Pereira Aragão
Orientadora: Profª Ms. Ana Cristina Guimarães
Rio de Janeiro
Janeiro 2005
2
Universidade Candido Mendes
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Projeto “A Vez do Mestre”
A MÚSICA COMO FACILITADORA DA APRENDIZAGEM
DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à
Universidade Cândido Mendes, como
condição prévia para conclusão do
curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Psicopedagogia.
Por Tatiana Pereira Aragão
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, primeiramente, pois foi quem
planejou toda essa experiência para minha vida e, também
por ser o Grande Socorro e Sustento, nas horas de aperto.
E por ter me dado a oportunidade de adquirir novos
conhecimentos.
A meus pais, por terem me colocado no mundo e por
terem proporcionado a minha ida com 1 ano e 8 meses para
a Educação Infantil.
A meus novos amigos, que me proporcionaram estar em
suas companhias e a dar boas gargalhadas, na hora do
desespero. E também, por poder contar com sua Amizade.
Ao Corpo Docente, que participou desse processo,
oferecendo-me subsídios para chegar a essa pesquisa. Em
especial, a Mary Sue, que a cada dia me deixava mais
apaixonada por esse tema e por acreditar em mim. A Ana
Paula Lettieri, que foi meu sustento numa hora difícil,
ajudando-me a aceitar os Planos de Deus para minha vida.
E enfim, a Ana Cristina, que me auxiliou na estruturação
deste trabalho e pela sua paciência.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho acadêmico a todos os
apaixonados por música, por seus efeitos em suas vidas e
que acreditam que ela seja uma grande aliada para a
Educação.
5
RESUMO
Esse trabalho é uma reflexão sobre a prática musical
com crianças da Educação Infantil.
Prática que bem estruturada, traz grandes benefícios
para o desenvolvimento gradativo, processual, global e
pleno desses pequenos indivíduos.
A música é uma grande fonte de conhecimentos que
leva a criança a querer buscar sempre mais outros tipos
de conhecimentos, não só musicais.
Ela é uma grande aliada para os professores, já que
os pequenos têm uma forte ligação com a música, sons,
desde o ventre materno.
Desenvolver esse assunto foi uma forma de revigorar
a minha energia, adquirir novos conhecimentos para
desenvolver um trabalho coerente e significativo para as
crianças que trabalho e que irei trabalhar.
Trabalhar consciente de que a música, com seus usos
e recursos, que são infinitos, é poder acreditar que a
teoria dá certo, que podemos lutar e seguir em frente,
derrubando todos os obstáculos que estão em nosso
caminho.
Palavras-chaves: Educação Infantil, Música, Criança.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, que me levou a um grande aprofundamento no
assunto.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 11
CAPÍTULO II 23
CAPÍTULO III 37
CONCLUSÃO 42
REFERÊNCIAS 44
ÍNDICE 47
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
8
INTRODUÇÃO
Partindo de uma experiência musical vivida por mim e
da experiência também vivida pelas crianças, da Educação
Infantil, que convivo e convivi, despertou-me o interesse
pelo tema: MÚSICA, precisamente para crianças de 0 a 6
anos. Observando seus efeitos e que uso podemos fazer
dela, em todos os seus aspectos, decidi aprofundar o
despertar por este assunto e buscar novos conceitos
referente ao mesmo e tudo o que nos tem a oferecer.
Falar de educação musical para crianças é relembrar
uma experiência de minha própria vida e dos benefícios
que foi proporcionado com a prática da mesma.
Como estamos vivendo numa sociedade cheia de
informações e turbulenta, precisamos direcionar esses
pequenos indivíduos, para que, no futuro, possam ser
capazes de sobreviver em meio a tantos desafios. E a
música é uma grande aliada neste caminhar.
Como esse trabalho foi intitulado de: A música como
facilitadora da aprendizagem da criança na Educação
Infantil, busquei deixa bem claro algumas questões.
No Capítulo I, a Educação Infantil e a Música,
abordei um pouco sobre o que é a Educação Infantil hoje e
o que ela nos traz de referências para essa primeira
educação oferecida às crianças pequenas. Um breve relato
sobre a musicalização como base do começo da educação
musical e como se dá essa mesma educação musical na
Educação Infantil, na escola.
9
Já no Capítulo II, a Criança e a Música, falei um
pouco sobre o desenvolvimento infantil e como a
aprendizagem é despertada; e também, sobre a criança e a
música, como ela reage diante dos sons e de seus usos.
Enfim, no Capítulo III, os efeitos da música,
relatei os poderes da música para o ser humano global, os
seus benefícios e recursos para tratamentos e curas de
doenças.
A relevância educacional deste estudo é mostrar que
a criança uma vez estando em contato com uma experiência
musical, num ambiente escolar desde a sua primeira
infância, estará sendo estimulada a refletir sobre o meio
que a cerca, podendo ser mediada, através de um
profissional capacitado, a levá-la a descobrir,
naturalmente, a verdadeira batalha que irá ter a cada
estágio de sua vida.
Com a pouca discussão sobre o assunto e tendo em
vista a necessidade de conscientizar as pessoas
interessadas sobre a importância da criança de ter
comunicação com essa experiência musical num ambiente que
lhe proporcione novas descobertas e que a leve a
solucionar desafios do cotidiano, procurei apresentar o
tema de maneira sutil e encantadora, para que as pessoas
que forem ler esse trabalho fiquem contagiadas pela mesma
felicidade que senti fazendo essa pesquisa e me lançando
a novas buscas para minha vida.
Falar um pouco sobre a Educação Infantil, a Música e
a Criança é remeter o começo de uma caminhada, ao início
da minha infância.
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Espero que eu possa contribuir com o meu trabalho
com pistas para os velhos e novos educadores, para que se
tenha mais abertura as artes, que são tão significativas
para nossas vidas.
11
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO INFANTIL E A MÚSICA
1.1- A Educação Infantil
Segundo Cuberes (2002), a Educação Infantil é uma
fase na vida do indivíduo que abrange de os 0 aos 6 anos
de idade. Está dividida em dois ciclos: Maternal (de 0 a
3 anos) e Jardim de Infância (de 3 a 6 anos).
A Educação Infantil é um complemento junto à família
no desenvolvimento e na educação das crianças.
Ela surgiu a partir de novas idéias sobre a criança
e a sua infância, e através da educação torná-la um
indivíduo sociável e ajustado à sociedade.
Como os contextos históricos, social e econômico
tiveram uma grande modificação, as mulheres tiveram que
trabalhar para ajudar no orçamento de casa. E as famílias
tiveram que ter uma nova estruturação. A partir dessas
transformações foi criada a Educação Infantil com o
objetivo de compartilhar com as famílias o
desenvolvimento social, cognitivo, psicomotor e emocional
desses pequenos indivíduos.Portanto, a Educação Infantil
não é uma fase que apenas antecede ao Ensino Fundamental,
e sim, uma formação com suas próprias características.
Para Nicolau (1986), a finalidade que a Educação
Infantil tem é de criar condições satisfatórias para
saciar as necessidades básicas da criança, oferecendo-lhe
um ambiente de bem-estar social, emocional, psicomotor e
cognitivo, mediante a realização de atividades lúdicas
12
que promovam a curiosidade e a espontaneidade,
estimulando novas descobertas e estabelecendo novas
relações a partir do que já se conhece.
Segundo Bujes (apud CRAIDY, 2001), para acontecer a
educação da criança na primeira infância são necessários
dois processos complementares e indissociáveis: educar e
cuidar. As crianças nesta faixa de idade necessitam de
atenção, carinho e segurança. E, também, ter contato com
o mundo que a cerca, através de experiências com as
pessoas e o meio. Se não existir atividades voltadas para
o cuidar e o educar, não haverá possibilidades das
crianças se inserirem neste mundo. Então, pode-se ver que
cuidado e educação são entendidos de forma estreita.
“A criança vive um momento fecundo, em que
a interação com as pessoas e as coisas do
mundo vai levando-a a atribuir
significados àquilo que a cerca. Este
processo que faz com que a criança passe
a participar de uma experiência cultural,
que é própria de seu grupo social, é o
que chamamos de educação. No entanto,
esta participação na experiência cultural
não ocorre isolada, fora de um ambiente
de cuidados, de uma experiência de vida
afetiva e de um contexto material que
lhes dá suporte”. (BUJES apud, CRAIDY,
2001, p.16)
Em algumas instituições de classes populares a
prática tem-se voltado para a submissão, o
disciplinamento, o silêncio, a obediência e, também, de
13
forma perversa, ocorre a “escolarização precoce”. As
experiências que podemos ver na maioria das escolas
fundamentais são: atividades com lápis e papel, jogos na
mesa, alfabetização precoce, não flexibilidade dos
horários, rotinas repetitivas e pobres.
A descrição anterior desconhece, na prática, na
dimensão educativa, um modo como devemos ver as crianças
atualmente: como indivíduos que vivem uma realidade que
tem como características o sonho, a fantasia, a
afetividade, a brincadeira, as manifestações de caráter
subjetivo. A infância passa a ser um momento passageiro,
que deve ser apressado, como tudo na vida.
As crianças estão mais ativas e mais capazes de
lidar com as coisas do seu mundo, se lhes forem
oportunizado um ambiente propício.
Como vive-se contextos culturais e históricos em
permanente transformação, as crianças também participam
dessa mudança e são modificadas com as experiências deste
mundo que é dinâmico.
Um grande desafio que temos que enfrentar diante das
crianças é de perceber o quanto são diferentes e que essa
diferença não deve ser desprezada.
“A experiência da Educação Infantil
precisa ser muito mais qualificada. Ela
deve incluir o acolhimento, a segurança,
o lugar para a emoção, para o gosto, para
o desenvolvimento da sensibilidade; não
pode deixar de lado o desenvolvimento das
14
habilidades sociais, nem o domínio do
espaço e do corpo e das modalidades
expressivas; deve privilegiar o lugar
para a curiosidade e o desafio e a
oportunidade para a investigação”.
(BUJES, apud CRAIDY, 2001, p.21)
Por tudo isso, a Educação Infantil é indispensável
para a sociedade. Solução para o novo panorama social,
criado a partir de novas formas de organização familiar e
da participação da mulher na sociedade e no mundo do
trabalho.
É um lugar que por muito tempo vai levar as crianças
a descobrirem o mundo.
Segundo Bassedas (1999), “a entrada na escola supõe
uma ampliação importantíssima do meio da criança; graças
a tal ampliação, pode acender a novas relações, a novas
emoções e a novos conhecimentos.” (p. 283)
Segundo Seber (1995), a criança é social desde o seu
nascimento.
Aos poucos, ela tem necessidade de ter um contato
maior com um número maior de pessoas fora do âmbito
familiar.
Quando a criança vai para a escola é importante que
o professor compreenda que tipo de relação ela estabelece
com o adulto e com as outras crianças. Com os adultos,
ela sofre influências no seu modo de pensar, mas tudo o
que ela assimila é do seu ponto de vista. E com as
15
crianças, ela troca porque há um estreitamento de idéias
já que o seu nível de desenvolvimento é igual. Por isso,
é necessário ressaltar as interações criança-criança.
Para Oliveira (2002), o papel do professor em
relação às crianças é propiciar a elas, diferentes
situações. Comumente, vemos no ambiente de sala de aula a
relação que as próprias crianças atribuem a elas mesmas:
atos cooperativos, imitações, diálogos, disputas de
objetos e mesmo brigas; essas ações são grandes momentos
de desenvolvimento. Portanto, os educadores devem
propiciar as condições necessárias para lidar
positivamente com elas.
A função que as crianças de mesma idade exercem uma
sobre as outras, é a de polarizar as atenções recíprocas,
constituindo fonte de interesse, imitação e percepção das
diferenças, favorecendo a manifestação de saberes já
adquiridos e a construção de um conhecimento partilhado.
Na relação com os parceiros, elas aprendem a
conviver em grupo, desenvolvendo competências e valores.
Essa interação criança-criança é uma valiosa arena de
crescimento pessoal.
A Educação Infantil tem que atender as necessidades
da criança superando a individualidade presente em nossa
sociedade. A criança quando interage com outras crianças
e adultos busca construir sua identidade dentro de um
clima de segurança, exploração e autonomia.
Para acontecer a construção da identidade da criança
é importante considerar a criação de um ambiente cheio de
16
estímulos, priorizando o desenvolvimento da imaginação,
do raciocínio e da linguagem.
Segundo Zagury (2002), além dos ganhos afetivos e
sociais desenvolvidos na Educação Infantil, também vale
ressaltar o trabalho realizado pelos educadores, que
influenciarão por toda a vida da criança na escola e no
seu futuro.
Trabalho esse, que se for bem desenvolvido pode
despertar as potencialidades de cada pequeno indivíduo e
suas habilidades.
Para Meira (2002), é na Educação Infantil que a
criança aprende que nós, os adultos, não somos superiores
a ela. Somos também gente que chora, que ri e que
desenvolve outras atividades, enquanto ela aprende a
descobrir o mundo.
E que para essa descoberta do mundo aconteça, faz-se
necessário dar subsídios e lançar a criança a novas
atividades que propiciem novos saltos, que almejam o
desenvolvimento global de cada indivíduo na idade de 0 a
6 anos. E um desses subsídios que pode ajudar nesse
crescimento é a música.
1.2 – Breve relato sobre a musicalização
Segundo Bréscia (2003), a música desperta prazer
sobre os que a criam, a exercem e a ouvem.
Produz também efeitos nas pessoas, nos aspectos
psicológico, social, emocional e cognitivo.
17
A musicalização nos indivíduos traz uma vasta
vivência e manuseio das habilidades musicais, acrescido
da estimulação do desenvolvimento global dos mesmos.
Para Maffioletti (apud CRAIDY,2001), o homem criou a
linguagem musical para expressar suas idéias e
sentimentos, deixando-a tão perto de todos.
Para Brito (2003), o processo de musicalização
acontece, para bebês e crianças, de maneira espontânea,
intuitiva, por meio do contato com sons do cotidiano em
que vivem.
Quando a criança aprende através da música
combinando sons, ela consegue compreender os sons de sua
cultura e capturar as aprendizagens através das trocas
sociais.
“Quando a mãe ensina para o seu filho a
canção ‘Atirei um pau no gato’ ao mesmo
tempo em que se aproxima dele pelo clima
afetuoso que o canto propicia, está da
mesma forma preparando seu afastamento,
porque sua aprendizagem vai possibilitar
sua integração na cultura. É nesse
movimento de aproximação e afastamento
que a criança aprende a conhecer a si
mesmo e aos outros, utilizando a música
como uma fonte de vínculos e de
aprendizagens afetivas e sociais”.
(MAFFIOLETTI, apud CRAIDY, 2001, p. 130)
18
Com esse lançamento da criança ao mundo, através de
sua mãe, e pela música, constata-se que quando ela inicia
a sua vida escolar, a música é uma grande aliada na
adaptação ao novo espaço e a nova etapa da vida do ser
humano. Ela faz com que se sinta segura e forme os
primeiros vínculos essenciais com o novo ambiente,
tornando-o aconchegante e familiar.
O desenvolvimento da musicalidade nas crianças deve
estar conforme a sua vivência musical. A gênese da
musicalização na criança se dá ainda em casa, quando é
oferecido a ela uma infinidade de ferramentas que a leva
descobrir os sons e seu universo, através canções,
instrumentos, objetos sonoros variados, gravuras
relacionadas, etc. Na escola no entanto, deverá se
realizar um direcionamento deste interesse para o
desenvolvimento de outros aspectos ligados à criança
(criatividade, coordenação motora, lateralidade, lógica,
estética, etc).
1.3- A música na Educação Infantil
Para o RCNEI (1998), a música através de cantos,
brinquedos de roda, parlendas, trava-línguas fazem parte
do brincar do universo infantil e, também, de sua
cultura. Mesmo que tenham sido trocados pela música que a
mídia nos apresenta, ainda está muito presente na vida
das crianças e no dia-a-dia da Educação Infantil. Muitas
vezes, a música é somente utilizada como suporte para a
aquisição de conhecimentos gerais, ou por meio de
formação de hábitos e atitudes, já que existe uma
afinação natural, a identificação da criança com a
linguagem musical e seu envolvimento positivo com as
19
atividades musicais. Mas como a criança tem mecanismos
para expressar-se corporeamente e musicalmente, cabe ao
educador estimulá-la a desenvolver a expressão infantil,
através da música somada ao movimento corporal.
Pode-se perceber que o musical está sempre acrescido
do corporal. E esta sintonia está em constante movimento.
Quando não existe esse movimento, encontramos o silêncio.
Se não existir o silêncio, não há som, pois a música é a
organização entre esses dois elementos: som e silêncio. E
a combinação desses elementos nos permite ter sensações e
emoções, sendo de grande importância para a vida da
criança na criança na Educação Infantil.
“A criança interage ativa e criativamente
com a música, construindo seu percurso e
elaborando seu conhecimento. Aprendendo a
ouvir a cultura musical infantil, ou
seja, conhecendo, entendendo e
respeitando o modo como percebem e se
expressam, será possível ampliar e
enriquecer o trabalho musical que se
pretende desenvolver”.(RCNEI, 1998, p.
174)
Para que o trabalho musical seja bem desenvolvido
por parte do educador, é necessário que o mesmo respeite
como a criança faz a música presente em sua vida, e a
partir desta observação traçar estratégias para
desenvolver um bom trabalho musical.
“A tônica do trabalho pedagógico é
possibilitar um ambiente de descoberta e
20
revelação dos imaginários infantis,
buscando a organização da forma e a
conquista de outros possíveis, a partir
do fazer musical – forma que, inerente à
linguagem musical, deve ser estruturada
no dia-a-dia da sala de aula em sua
totalidade, estou querendo dizer que a
música deve ser desenvolvida na amplitude
de seu acontecer, o que inclui não
somente cantar musiquinhas no dias das
mães ou melodias específicas para lavar
as mãos, sentar, guardar os brinquedos,
mas também, e principalmente, compor,
improvisar, explorar o seu corpo como um
instrumento musical, conhecer, manipular,
classificar, registrar, identificar,
escutar sons e músicas, tocar,
movimentar-se no espaço, apreciar a
literatura universal da música, refletir,
participar de performance enfim, produzir
e pensar música”. (LINO, apud CUNHA,
2002, p. 68)
O professor tem que levar a criança ao fazer
musical, e não somente cantar músicas e pensar que está
fazendo música, vai muito além disso. Para que haja esse
fazer musical, a criança tem que ser levada a descobrir
minuciosamente todos os elementos que a música nos
oferece.
Para Pereira (2002), as atividades musicais deveriam
ser realizadas diariamente, e não só quando são
oferecidas como atividades extras, em uma ou duas vezes
21
por semana e com duração de vinte a trinta minutos.
Vivenciando essas atividades, as crianças podem se
desenvolver individual e coletivamente, despertando os
sentimentos: de solidariedade, cooperação, interação,
socialização, sensibilidade e, principalmente, o de estar
em grupo.
A música enriquece a vida das crianças e desperta
novos conhecimentos para suas vidas.
Com ela pode-se mergulhar em diversas formas de
trabalho, chegando ao maior objetivo, que é o
desenvolvimento global desses pequenos indivíduos. A
música pode ser utilizada através da apreciação musical,
do ouvir; da expressão corporal, através dos efeitos que
ela nos traz, fazendo com que os movimentos sejam livres
e prazerosos; e cantar em conjunto, harmonizando e
desenvolvendo a respiração, a vocalização, a dicção,
enriquecendo o vocabulário e a expressividade.
“Assim como abrimos os olhos e enxergamos
todo um campo visual em nosso redor, o
mesmo acontece com o nosso ouvido:
escutamos quase todo o contexto sonoro
que nos envolve. Educar esse ouvir é a
tarefa principal da escola onde a escuta
se amplia à medida em que promovemos
estratégias que levam as experiências de
produção, percepção, reflexão e
representação musicais. Para que possamos
ser agentes dessa construção, é
necessário que, enquanto professores,
acreditemos que somos capazes de fazer
22
música, ser produtores e pensadores
musicais, capazes de gostar de música,
arriscar-se a descobri-la, investigar,
cantar, dançar, perceber, apreciar,
refletir, etc. O professor deve viver a
experiência sonora, passando por sua
expressão e percepção que levam à
comunicação; afinal, a música é linguagem
e, como tal, um meio de comunicação. O
fundamental é que você, como professor,
tenha paixão de ensinar e aprender”.
(LINO, apud CUNHA, 2002, p. 68-69)
A autora expressa nesta citação, toda a preparação
que o docente tem que ter para desenvolver o trabalho com
a música na Educação Infantil. Se esses passos forem
desenvolvidos pelo educador, logo se pode preparar o
educando para essa experiência apaixonante através da
música.
23
CAPÍTULO II
A CRIANÇA E A MÚSICA
2.1- Desenvolvimento Infantil
Segundo Bassedas et al (1999), o desenvolvimento
está ligado à formação das funções propriamente humanas
(linguagem, raciocínio, memória, atenção, estima). É um
processo que se descobrem as potencialidades dos
indivíduos, isto é, que passamos da dependência para a
autonomia.
O desenvolvimento humano é o resultado da maturação
com o estímulo do meio em que se vive.
Para Oliveira (2002), o desenvolvimento humano é um
processo de construção. Construção do homem em sua
permanente atividade de adaptação a um ambiente. A
criança cria seu próprio meio dando-lhe um significado,
adotando uma maneira de agir que irá transformar sua
maneira de expressar-se, pensar, agir e sentir.
Segundo Gesell (1999), o desenvolvimento é um
processo contínuo com início na concepção avançando
através de fases em seqüência ordenada.
Essas fases representam um grau ou nível da
maturidade do desenvolvimento.
Como não existem crianças iguais, as variações
individuais ligam-se através de características estáveis
do desenvolvimento de acordo com a faixa etária.
24
“Durante a faixa etária de 2 a 7 anos,
aprendem a falar, a desenhar, a
gesticular, a manejar sistemas de mímica,
de número e de música. Além disso,
efetuam esta aprendizagem com tal
velocidade e eficácia que parece razoável
vê-las em sua entrada na escola como
fluentes usuárias de símbolos. Nessa
etapa, as crianças claramente atingiram
habilidade em diversos meios: seus
desenhos, suas histórias, suas melodias e
seqüências gestuais são competentemente
executados e podem, em grande parte, ser
‘lidos’ ou decodificados por outros na
sociedade. Podemos, então, falar neste
momento de um conhecimento ‘primeiro
rascunho’ de certos procedimentos e
normas de prática artística”. (GARDNER,
1999, p. 90)
Segundo Gessell (1999), “os primeiros cinco anos do
ciclo de desenvolvimento da criança são os mais
essenciais e os mais formativos pela razão simples, mas
suficiente, de serem os primeiros. A sua influência sobre
os anos que depois se seguem é incalculável”. (p.17)
“O desenvolvimento humano é um processo
integrado que abrange todos os aspectos
da vida humana. Isto faz com que o ser
condicione o conhecer, o que, por sua
vez, condiciona o ser, a partir de sua
interação com o mundo. Na verdade, não
existe uma aprendizagem formal
25
circunscrita a um determinado momento na
vida e a um lugar específico. O processo
de desenvolvimento é integrado, amplo e
muito mais rico do que se supunha até
então.”(MORAES, 2003, p.49)
Desenvolver é conviver com mundo, com próximo,
havendo a troca com seus pares, é cuidar do outro como
cuida de si próprio. É se inter-relacionar com o meio,
com toda a sua complexidade. É estar conectado com a
grande teia da vida.
“Nos primeiros anos de seu
desenvolvimento, as crianças assimilam o
sistema básico de símbolos de cultura,
porém tal conquista tem uma dimensão
pessoal. Com certeza, as crianças
pequenas exploram as possibilidades de
tais sistemas, experimentando e brincando
ativamente com eles, e, nesse processo,
atingem resultados bastante prazerosos
para si e maravilhosos para os
outros”.(GARDNER, 1999, p.94)
Por isso, segundo Felipe (apud CRAIDY, 2001), o
desenvolvimento infantil é dinâmico. As crianças
interagem com o seu corpo, com outras crianças, com os
adultos e com seu meio. A partir dessa interação
desenvolvem a capacidade afetiva, a sensibilidade e a
auto-estima, o raciocínio, a linguagem e o pensamento. E
esse desenvolvimento se dá de forma simultânea e
integrada, existindo a articulação entre o
desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo.
26
O papel do adulto nesta fase é proporcionar, aos
pequenos, experiências enriquecedoras e diversificadas,
para que possam fortalecer a auto-estima e desenvolver
suas capacidades.
2.2- A Aprendizagem
Para Silveira (2004), o desenvolvimento do cérebro
ocorre mais rápido nos primeiros anos da vida da criança.
O desenvolvimento sadio do mesmo atua sobre a capacidade
cognitiva. Quando esta capacidade é ativada pelas funções
como linguagem, matemática, arte, música ou atividade
física facilitam para que as crianças desenvolvam seu
potencial e sejam futuros adultos inteligentes,
confiantes e articulados.
Os ambientes enriquecidos e estimulados com recursos
materiais, prática de exercícios físicos e uma boa
alimentação influenciam no desenvolvimento da memória e
da aprendizagem.
Para que a memória funcione adequadamente no
processo de informação é necessário que haja uma busca da
integração dos dois hemisférios, equilibrando o uso de
nossas potencialidades. E, também, é de suma importância
manter a atenção ativada, já que o ser humano se distrai
facilmente. Portanto, recorrer a música pode ajudar nesse
processo, pois quando é usada apropriadamente diminui o
ritmo cerebral, e contribui para a equilibração no uso
dos hemisférios cerebrais.
27
Para Maturana e Varela (apud MORAES, 2003), o
cérebro não é a única estrutura responsável pela
construção de conhecimento. Ele é parte da estrutura pela
qual a cognição opera. Cognição é o processo de conhecer.
E conhecer não é somente pensar, raciocinar e medir, esse
processo é muito mais amplo, pois a vida é dinâmica. E
para que essa dinâmica seja perfeita, também, são
necessárias a percepção, a ação e a emoção.
Portanto a música é a grande colaboradora no
processo de construção do conhecimento. Ela desperta
esses elementos que são importantes nesse processo.
Segundo Moraes (2003), para que essa aprendizagem
seja totalizadora é preciso trabalhar a autonomia, a
criatividade, a criticidade, adotar o enfoque reflexivo
na prática pedagógica, para que os educandos possam
evoluir como seres humanos e futuros cidadãos. É preciso,
também, resgatar o prazer em aprender, despertando o
sentimento de satisfação e alegria por estar superando
mais um desafio.
“Daí a importância da educação procurar
desafiar a curiosidade de nossas
crianças, levá-las a refletir, a desejar
e a querer investir a sua energia
psíquica e o seu tempo na descoberta de
algo novo e desafiante, para que elas
possam incorporar em suas memórias as
sensações de prazer e de bem-estar. É
esta memória do prazer em aprender
materializada em seu corpo que,
certamente, a levará a continuar
28
aprendendo ao longo da vida, a estar com
o espírito sempre aberto às
possibilidades de aprendizagem contínua”.
(MORAES, 2003, p. 67)
A citação acima explica o importante papel da
educação nos primeiros anos de vida do indivíduo. É
preciso estar atento aos sinais que as crianças nos
enviam, seja de interesse, seja de desmotivação. É
fundamental viabilizar experiências estimulantes e
prazerosas. É a todo o momento lançar um novo desafio,
pois é a cada fase desse desafio, que perceberão o quanto
temos que aprender para saltarmos um obstáculo e
vencermos na vida,construindo assim um novo conhecimento.
“A música, tanto para aquele que executa
como para o que ouve, é uma informação
auditiva organizada e ajuda a organizar a
mente que escuta, reduzindo assim o
estresse, a entro pia psíquica e a
desordem”. (CSIKSZENTMIHALYI, apud
MORAES, 2003, p. 71)
Nesse processo de novos desafios, a música é bem
vinda, já que ela tem o poder de reorganizar o indivíduo
com o todo.
Para Moraes (2003), escutar certos tipos de música:
relaxa, acalma e enriquece a vida. Se for “saboreada” com
atenção pode evocar sentimentos bastante significativos
para vida do ser humano.
29
“Os momentos de escuta musical atenta
proporcionam a sensação de pertencimento
a um mundo maravilhoso ao qual nos
sentimos integrados, o que nos dá a
sensação de que somos únicos na espécie
humana, especiais em nossa singularidade.
Mas, ao mesmo tempo em que reconhecemos
as nossas especificidades nos diluímos
como personalidade num universo que
transcende a nossa dimensão corporal e
percebemos que somos apenas um fio de uma
teia que tece e é tecida na própria trama
da vida. São momentos de diferenciação e
de integração que fazem com que a
criatura se expanda em direção ao
Criador, e sinta uma sensação única de
gratidão pela vida, fazendo com que o ser
se desprenda de uma série de
mesquinharias do dia-a-dia e se
transforme em pessoa mais consciente,
generosa e feliz”. (MORAES, 2003. p. 72)
A música seria, para nós, uma espécie de
sintonizador, que nos levaria a uma sintonia pura, onde
acharíamos a estação da vida, conseqüentemente elevaria o
nosso ser a novas aprendizagens.
“A música não poderia ser vista como algo
supérfluo no ambiente escolar. Utilizá-la
adequadamente seria uma forma de
trabalhar a energia psíquica dos
sujeitos, ajudando-os a diminuir a
30
agressividade e a violência nas escolas”.
(MORAES, 2003, p. 72)
Se fosse aproveitada de maneira correta, como forma
de aprendizagem, a música seria algo que levasse os
indivíduos a vivê-la além do que é normal, ela nos dá
prazer, nos transforma, quando trabalhada de maneira
séria, harmoniza o ser humano a ordenar a sua
consciência.
“Educar as crianças desde a mais tenra
idade em um ambiente enriquecedor,
estimulando a linguagem falada, cantada,
escrita criando um clima estruturado com
afetividade diversificando positivamente
as sensações, com a presença de cor, de
música, de interações sociais, de jogos
visando o desenvolvimento de suas
capacidades cognitivas e memórias
futuras, favorecendo assim o seu
processo”. (SILVEIRA, 2004, p.2)
Completa Maffioletti (2004), que se a criança canta
e recita versos, ela apreende melhor a estrutura de sua
língua materna e consegue reconhecer o valor da
sonoridade das palavras. Aprende, também, que uma simples
entonação muda o sentido das palavras e que essa relação
é necessária na comunicação.
A escola tem uma importante missão, que é a de
aproveitar o potencial de inteligência de seus alunos
para conquista do sucesso no processo de aprendizagem.Os
educadores são os principais mediadores, por meio do
31
desenvolvimento de projetos de interesse para a realidade
do ensino e aprendizagem. Quando compreendem que
aprendizagem envolve cérebro, corpo e sentimentos, adotam
uma ação mais competente, levando em conta a influência
das emoções para o desenvolvimento na construção de
conhecimento.
2.3- A CRIANÇA E A MÚSICA
Para Bogomoletz (2000), é ainda no útero de sua mãe,
que o bebê inicia a sua aprendizagem musical.
Segundo Lino (apud CUNHA, 2002), a criança começa a
perceber a música a partir do meio e da relação que
estabelece com as pessoas do seu convívio. O primeiro
contato da criança com a música é quando ela ainda está
na barriga de sua mãe, pelo som do seu coração. Depois
ela é lançada a novas experiências, através dos sons
internos de sua mãe e/ou da voz ou de pessoas que
conversam com a criança ainda bebê.
“As crianças que são levadas a explorar
expressões musicais desde os primeiros
meses, ouvindo a voz de seus pais,
balbuciando, gorgolejando, realizando
emissões vocais em diferentes situações,
imitando o fraseado rítmico e melódico de
adultos e crianças a sua volta, sendo
realimentadas sonoramente, bem como
acompanhando essas expressões musicais
com movimentos motores e rítmicos,
estarão mais aptas a organizar
mentalmente os sons de forma a ordená-los
32
num espectro de altura que lhes permita
realizar glissandos ou esboços do
contorno melódico-rítmico de canções”.
(LINO, apud CUNHA 2002, p. 73)
É grande a importância de lançar as crianças no
mundo musical, desde os primeiros meses de vida. Nesse
primeiro momento, é preciso investir em alguns passos,
para que a musicalidade que existe em cada criança desde
a sua concepção seja despertada: cantar para o bebê, pois
a voz humana é insubstituível em sua ternura e expressão,
acarretando uma maior fluência na musicalidade infantil;
realimentar as expressões sonoro-rítmicas do bebê,
repetindo os sons que este produz enquanto fonte preciosa
de comunicação e desenvolvimento da musicalidade; imitar
sons ou ruídos que aparecem no meio ambiente do bebê;
inventar canções para o bebê; escolher uma ou duas
músicas e cantar diariamente para o bebê; colocar o bebê
em contato com outros bebês, para que possa vivenciar as
sonoridades características de cada um; demonstrar
afetividade diante das expressões musicais do bebê,
principalmente seus improvisos vocais; movimentar os
membros do corpo do bebê enquanto canta, acompanhando o
pulso, o ritmo e o estilo de música, ou mesmo percutindo
caminhos de som pelo seu corpo livremente; cantar
acalantos para o bebê; prestar atenção às emissões
sonoras e rítmicas do bebê, pois, mais tarde, serão
idênticas às utilizadas na fala; dançar com o bebê; fazer
massagem no bebê como hábito de relaxamento de todas as
partes do corpo, entoando ou escutando uma música suave;
e cantar e/ou inventar pedaços de música para o bebê,
deixando a deixa para que ele continue a canção.
33
A música está presente na vida das crianças desde o
nascimento. Sua presença nas mais diferentes e variadas
situações do cotidiano faz com que elas iniciem seu
processo de musicalização de maneira muito intuitiva.Nas
interações que se estabelecem com o meio, os bebês
constroem um repertório que lhes permite iniciar uma
forma de comunicação por meio dos sons.
Do primeiro ao terceiro ano de vida, as crianças
ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas
vocais e corporais. Podem articular e entoar um número
maior de sons, explorando gestos sonoros, como bater
palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada
a marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se
acompanhando uma música.
A expressão musical das crianças nessa fase é
caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivos e
afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais
sonoros.
A partir dos 3 anos, o modo de característico desse
idade integra gesto, som e movimento. Ocorre um maior
domínio com relação à entonação melódica. A criança
memoriza um repertório maior de canções. Ela é uma boa
improvisadora “cantando histórias”, misturando idéias ou
trechos dos materiais conhecidos, recriando,
adaptando,...
Aos poucos, começa a cantar com maior precisão de
entonação e a reproduzir ritmos simples orientados por um
pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais (palmas,
34
batidas nas pernas, pés,...) são observados e
reproduzidos com cuidado.
Além de cantar, ela mostra interesse pelos
instrumentos musicais, buscando entender a sua
construção. E, também, pelas músicas veiculadas pela
mídia, demonstrando a sua preferência.
“A criança é um ser ‘brincante’ e,
brincando, faz música, pois assim
relaciona com o mundo que descobre a cada
dia. Fazendo música, ela,
metaforicamente,’transforma-se em sons’,
num permanente exercício: receptiva e
curiosa, a criança pesquisa materiais
sonoros, ‘descobre instrumentos’, inventa
e imita motivos melódicos e rítmicos e
ouve com prazer a música de todos os
povos.” (BRITO, 2003. p.35)
Segundo Gardner (1999), dentro da importância
musical para o ser humano, a criança potencializa durante
o primeiro ano de vida: a capacidade de imitar os padrões
de entonação das estruturas lingüísticas que ouvem ao seu
redor, constituindo um tipo de habilidade básica sobre a
qual a conquista musical final será constituída.
O desenvolvimento musical dificilmente está completo
aos cinco anos de vida, mas as crianças expressam a
música usando a voz, o corpo ou instrumento livremente.
Howard (1984), afirma que em nenhum momento qualquer
ação da criança pode ser desconsiderada. Ela consegue
35
prestar a atenção, quando pensamos que não está. Ela tira
som de qualquer coisa que tem nas mãos, não podendo ser
subestimada. O ato da criança é científico, pois primeiro
estuda os elementos constitutivos daquilo que lhe é
apresentado. Depois, reage aos fenômenos isoladamente
antes de estabelecer relações entre eles.
“O desafio da educação musical é respeitar
e construir sobre as habilidades e o
entendimento da música da própria criança
pequena, em vez de simplesmente impor um
currículo projetado principalmente para
assegurar performances musicais adultas
competentes. A pronta exploração de
segmentos e senso intuitivo da forma e
contorno de uma peça são experiências
preciosas que não deveriam ser
desconsideradas se desejamos que um
desabrochar completo de talento musical
ocorra posteriormente na vida”.(GARDNER,
1999, p.140)
A música, para as crianças, tem a função de
despertar as habilidades musicais que há em cada uma para
que no futuro possam descobrir a verdadeira vocação que
têm para a mesma.
Não é aconselhado para a criança da Educação
Infantil, o aprendizado musical que é através de manuseio
técnico de um instrumento musical, e sim a musicalização
que bem trabalhada desperta na criança o gosto e o
vínculo com a música.
36
Completando a idéia acima, Maffioletti (2004) fala
que se não houvesse atividades espontâneas infantis, o
processo de desenvolvimento seria orientado pelo ponto de
vista dos adultos, isto é, as crianças seriam mini-
adultos, verdadeiros reprodutores das reações e idéias
dos mais velhos. Mas felizmente não é assim, as crianças
produzem e reproduzem sua cultura, uma cultura
direcionada para as sua necessidades psicológicas,
sociais e intelectuais.
“Precisamos reconhecer que a cultura
musical infantil existe e cumpri o
importante papel de promover
aprendizagens essencialmente humanas,
porque estão apoiadas no desenvolvimento
das interações sociais e na musicalidade
que nos caracteriza.” (MAFFIOLETTI, 2004,
p.38)
37
CAPÍTULO III
OS EFEITOS DA MÚSICA
Para Bréscia (2003), não se discute os efeitos da
música sobre o ser humano e a sociedade. Ela tem o poder
de curar, elevar, acalmar, iluminar, nutrir e fortalecer.
A música está acessível a todos, independente de qualquer
coisa, fatores econômicos, sociais, raciais, religiosos e
de idade. Está disponibilizada a todo momento e é
gratuito. Pode ser reproduzida pelo corpo ou através de
instrumentos. Pode ser dada ou recebida. É fonte de
entretenimento e também um recurso de crescimento e
desenvolvimento humano.
“A música constitui ferramenta auxiliar da
educação, da mesma forma que participa de
tratamentos recuperativos, integrando
programas de desenvolvimento de condições
físicas e mentais do indivíduo (sem
prescindir da conclusão racional de
outras disciplinas médicas, paramédicas e
psicológicas)”. (SEKEFF, 2002, p.67)
Segundo o estudo realizado pelo Instituto de
Psicologia da USP(apud Sanchez, 2004),a música desperta a
atenção dos hiperativos, pois quando escutam o heavy
metal, eles se concentrem nas atividades motoras e não
metais.E para os que preferem os clássicos, aumentam as
conexões entre os neurônios e melhora o raciocínio
matemático.
Segundo Sanchez (2004), os efeitos da música são
bons para o nosso corpo.
38
Para Muszkat (apud Sanchez, 2004), ela interage com
as atividades biológicas do organismo.E completa Corrêa
(apud Sanchez, 2004), as vibrações sonoras musicais
entram em ressonância com as do organismo, podendo causar
reações motoras e psíquica, equilibrando o que estiver em
desequilíbrio.
“A influência e o poder que caracterizam
a música como coadjuvante do processo
integral do ser humano aparecerão
especialmente destacados no caso de
indivíduos que apresentam deficiências ou
problemas físicos, afetivos, mentais ou
de integração social. Nesses casos, a
dimensão educativa se amplia para dar
lugar à função terapêutica.”(GAINZA,
1988, p.88)
A musicoterapia está longe de ser apenas um
tratamento para o paciente por meio de melodias.
No caso do mal de Alzheimer, os terapeutas estimulam
a memória com músicas que o paciente reconheça
facilmente. Para o derrame, procuram-se atividades e
músicas que acionem a parte do cérebro afetada. Os
autistas, indiferentes a tudo, reagiram muito bem as
experiências com sons graves e de baixa freqüência, como
os batimentos cardíacos ou de água em movimento.
Os efeitos da música sobre o nosso organismo chegam
a impressionar. Em dois hospitais, em Paris, a música é
utilizada como “anestésico”, pois melodias harmoniosas e
39
reconfortantes acalmam as crianças e ajuda na recuperação
desses pequenos indivíduos.
Ela é também uma grande aliada no tratamento de
psicóticos, já que estes têm dificuldades de comunicação
verbal.Quando tocam um instrumento, sentem necessidade de
conversar.
Enfim, a música é uma grande parceira no tratamento
de pessoas com doenças mentais.
Handsell (apud, Costa, 1989) acredita que na
musicoterapia, a música é usada para liberar pulsões
sexuais e agressivas reprimidas; para ajudar a “eliminar
associações inapropriadas que o indivíduo aprendeu e
substituí-las por outras mais apropriadas”; para ajudar o
indivíduo a desenvolver seu maior potencial como ser
humano; em situações grupais para desenvolver a
capacidade de relacionamento e comunicação; e desenvolver
a capacidade do indivíduo de lidar com uma sociedade em
constante mudança.
Portanto, faz-se necessário a mediação da música
através de um especialista. Ela é facilitadora para se
estabelecer relações inter-pessoais, propiciando um
contato direto com o grupo social.
Gardner (1999), diz que a música tem “poderes”
comunicativos. De modo, que ela pode expressar
sentimentos como: alegria, raiva, conflito, paixão,
orgulho, pompa e circunstância. É claro, que a música não
pode mostrar com clareza essas reações. Mas, funciona de
40
forma simbólica, criando metáforas através de seus
recursos.
Sekeff (2002) descreve a música como recurso
emocional, social, intelectual, pois com a prática
musical o educando aprende a organizar seu pensamento, a
estruturar o saber adquirido, é recurso de prazer e
sublimação, além de ser considerada como auxílio a saúde
física e mental, com a musicoterapia.
A música se relaciona sempre com o homem, pois nasce
na mente, fala de suas emoções e de sua percepção com o
mundo.
Ela é um poderoso agente de estimulação motora,
cognitiva, social e emocional. Tem, também, o poder de
evocar, associar e integrar experiências.
Em termos psicopedagógicos, ela age sobre a
capacidade de atenção do educando.
O poder da música vai ainda mais longe. Ela mobiliza
a nossa atividade motora, devido ao seu ritmo. E a ação
desse ritmo no nosso corpo, age em todo o nosso sistema
respiratório, circulatório, digestivo, por toda a
oxigenação, dinamismo nervoso e do humor, e sobre a nossa
estrutura mental.
“O trabalho de musicalização deve ser
encarado sob dois aspectos: aos aspectos
intrínsecos à atividade musical, isto é,
inerentes à vivência musical:
alfabetização musical e estética e
41
domínio cognitivo das estruturas
musicais; e os aspectos extrínsecos à
atividade musical, isto é, decorrentes de
uma vivência musical orientada por
profissionais conscientes, de maneira a
favorecer a sensibilidade, a
criatividade, o senso rítmico, o ouvido
musical, o prazer de ouvir música, a
imaginação, a memória, a concentração, a
atenção, a auto-disciplina, o respeito ao
próximo, o desenvolvimento psicológico, a
socialização e a afetividade, além de
originar a uma efetiva consciência
corporal e de movimentação”. (BRÉSCIA,
2003, p. 15-16)
A citação acima descreve bem e detalhadamente os
efeitos que a música, como um todo, causa na vida dos
indivíduos, e todo o benefício que ela desperta no ser
humano e na sua relação com o mundo. E também, revela-nos
que, o ser humano que se desenvolve é musical, pois
sempre está sensível aos sons e se deixa tocar e envolver
pela música.
42
CONCLUSÃO
Durante a minha pesquisa para realização deste
trabalho, pude observar que o que está na teoria não é
utopia. Teoria e prática podem muito bem caminhar juntas,
desde que o educador tenha clareza de que é importante
haver essa relação.
Pude perceber também que, o tema: música é bastante
rico e enriquecedor. E que através da música, as crianças
podem se desenvolver em todos os aspectos de sua vida.
Trabalhar conceitos musicais na vida das crianças
pode despertar muitos sentimentos bons, e às vezes ruins,
mas esse tipo de reações pode ajudar a compreender
algumas questões significativas para os pequenos
indivíduos.
Descrevi sobre conceitos norteadores que, quando
somados, auxiliam os educadores a tomarem decisões certas
em relação a musicalização infantil.
Desfiz vários conceitos errôneos com essa pesquisa,
que enriqueceu mais a minha vida e que me faz a cada dia
ficar mais encantada pela música.
Na construção deste “projeto” observei quantos
pontos em comum me deparei através da minha experiência
com os referenciais teóricos.
A cada leitura passava um filme no meu pensamento e
via a importância de perseverar quando acreditamos em
algo.
43
No futuro pretendo me aprofundar mais na educação
musical de crianças com menos de 6 anos e tentar provar o
quanto é importante caminharmos juntos para que o
desenvolvimento dessas crianças não seja parcial, mas sim
global, pleno e processual.
Espero que tenha contribuído com essa pequena
pesquisa para despertar o interesse de outras pessoas
envolvidas com essa causa, para que possam realizar um
bom trabalho e terem um comprometimento maior e digno com
a Educação Infantil.
44
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47
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
Título da Monografia: A música como facilitadora da
aprendizagem da criança na Educação Infantil
Autor (a): Tatiana Pereira Aragão
Data de Entrega: 01/02/2005
Avaliado por: Profª Ms. Ana Cristina Guimarães __________
48
ATIVIDADES CULTURAIS