a música como forma de comunicação
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Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo sobre o poder da música e a comunicaçãoTRANSCRIPT
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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ
NATÁLIA BENTO DA SILVA
A MÚSICA COMO LINGUAGEM DE COMUNICAÇÃO
VITÓRIA
2011
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NATÁLIA BENTO DA SILVA
A MÚSICA COMO LINGUAGEM DE COMUNICAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Faculdade Estácio de Sá, como requisito parcial para obtenção de Grau de Bacharel em Jornalismo.
Orientadora: Mestre Juliana Zucolotto.
VITÓRIA2011
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NATÁLIA BENTO DA SILVA
A MÚSICA COMO LINGUAGEM DE COMUNICAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade Estácio de Sá, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.
Aprovado em 11 de junho de 2011.
Comissão Examinadora:
________________________________________________Prof. Renato HeitorFaculdade Estácio de Sá
________________________________________________Prof. CláudioFaculdade Estácio de Sá
________________________________________________Prof.ª Juliana ZucolottoFaculdade Estácio de Sá
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A Deus. A minha querida Vovó Valda que sempre acreditou e incentivou esse projeto, mas foi para os braços de Deus antes da conclusão.
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A Deus, por ter proporcionado saúde, sabedoria, força e oportunidade para realizar
esse projeto. Sem o Seu poder nada seria possível.
Aos meus pais, Silvio e Lucy Ana, e irmã Carolina. Obrigada pela paciência e por toda colaboração. Vocês foram fundamentais nesse processo.
Aos meus familiares pelo incentivo e confiança. À Vovó Eunice, pelo carinho.
Ao meu futuro esposo Douglas Rodrigues de Sá. Obrigada pela dedicação e participação ativa na realização desse projeto.
À família Rodrigues de Sá pelo incentivo.
À professora e orientadora Juliana Zucolotto, pela colaboração e apoio.
À professora Cristiane Palma por ter acreditado nessa pesquisa desde o início.
Ao Maestro Helder Trefzger, pela parceria e por ter aceitado prontamente em colaborar com a pesquisa.
À Escola Municipal Maria Madalena, à diretora Eliza, à pedagoga Wanessa, aos professores Márcia, Ezir, Renata e aos alunos do nono ano.
À amiga Denise Micaella que colaborou de forma ativa na realização da pesquisa.
À toda equipe de comunicação da Vale pelo apoio para a realização desse trabalho.
À musicista Márcia Freitas pelo apoio no desenvolvimento.
Aos fotógrafos Gabriel Lordêllo e Fábio Machado por terem participado desse projeto.
Ao Eduardy, da empresa Grafitusa pela parceria.
Ao Fausto Costa, pela realização da arte – peça de apresentação do trabalho.
Às minhas amigas Rany Fernandes e Karine Fernandes que também colaboraram para a realização desse trabalho.
Às minhas professoras de música: Eni, Liu, Aparecida, Claudete e Michelle por todo conhecimento e paciência.
À todas pessoas que colaboraram de forma indireta para a conclusão dessa pesquisa.
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“Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra. Servi ao Senhor com alegria; e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus: foi ele, e não nós que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto. Entrai pelas portas dele com louvor, e em seus átrios com hinos: louvai-o, e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade estende-se de geração a geração”.
Salmos 100
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RESUMO
O presente estudo teve como objetivo investigar quais são os impactos que a música causa enquanto linguagem de comunicação. Para isso, foram utilizadas as metodologias: documental, bibliográfica, estudo de caso e pesquisa em profundidade observacional. O referencial teórico abordou assuntos relacionados à comunicação, linguagem e música. Em parceria com a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes) e a Escola Municipal Maria Madalena foi realizada a pesquisa com alunos do nono ano para a análise dos efeitos que a música clássica pode provocar. Os resultados da pesquisa apresentaram o poder que a música tem como forma de comunicação
Palavras-chave: Comunicação. Música. Linguagem.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Processo de Linguagem............................................................................16
Figura 2 - Quadro sobre signo...................................................................................20
Figura 3 - Pandeiro de Fórmica.................................................................................25
Figura 4 – Instrumento de Percussão........................................................................25
Figura 5 – Moeda.......................................................................................................26
Figura 6 – Harpa........................................................................................................26
Figura 7 – Trombeta..................................................................................................26
Figura 8 - Pedra histórica...........................................................................................27
Figura 9 – Sistro........................................................................................................27
Figura 10 - Reportagem sobre a criação de uma orquestra capixaba.......................32
Figura 11 - Maestro Vítor Marques Diniz...................................................................33
Figura 12 - Reportagem divulgada em "A Gazeta" em 26/05/76...............................34
Figura 13 - Reportagem do jornal "A Tribuna" do dia 04/07/1975.............................35
Figura 14 - Maestro Helder Trefzger..........................................................................35
Figura 15 - Concerto de 25 anos...............................................................................36
Figura 16 - Orquestra Barroca do ano de 1700.........................................................37
Figura 17 - Orquestra Filarmônica de Berlim, considerada a melhor orquestra do
mundo e dirigida por Simon Rattle.............................................................................37
Figura 18 - Instrumentos de uma orquestra...............................................................39
Figura 19 - Alunos respondendo a pesquisa sobre "A música como linguagem de
comunicação"............................................................................................................44
Figura 20 - Entrevistados respondem o questionário................................................44
Figura 21 - Alunos observam a Orquestra Filarmônica.............................................45
Figura 22 - Alunos assistem a apresentação da peça "Novo Mundo", de Antonín
Dvorák....................................................................................................................... 49
Figura 23 - Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes) ensaia a peça "Novo
Mundo".......................................................................................................................49
Figura 24 - Alunos conversam com o maestro Helder Trefzger................................50
Figura 25 - Alunos e colaboradores se reúnem em frente o Teatro Carlos Gomes...50
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Primeira questão da pesquisa.........................................................................45
Gráfico 2 - Segunda questão da pesquisa.......................................................................46
Gráfico 3–Continuação da segunda questão da pesquisa.............................................46
Gráfico 4 - Terceira questão da pesquisa.........................................................................46
Gráfico 5–Continuação da terceira questão da pesquisa...............................................47
Gráfico 6 - Quarta questão da pesquisa...........................................................................47
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2. A RELAÇÃO DA COMUNICAÇÃO COM A MÚSICA 13
3. CONTEXTO HISTÓRICO DA MÚSICA: A RELAÇÃO DO HOMEM PRIMITIVO COM OS SONS 223.1 O PODER E O HISTÓRICO DA MÚSICA NA ANTIGUIDADE 23
3.2 A MÚSICA E A COMUNICAÇÃO NA ATUALIDADE 30
4. A IMPORTÂNCIA DA ORQUESTRA NUMA CONSTRUÇÃO CULTURAL: ORQUESTRA FILARMÔNICA DO ESPÍRITO SANTO 324.1 A HISTÓRIA DA ORQUESTRA 36
4.2 OS INSTRUMENTOS MUSICAIS 38
4.3 O REGENTE 39
5. METODOLOGIA: ANÁLISE PRÁTICA 425.2 A PESQUISA – ENTREVISTA SEMI-ABERTA 50
6. CONCLUSÃO 52
7. REFERÊNCIAS 53
ANEXO A – QUADRO DOS SELECIONADOS PARA A SEGUNDA PESQUISA58
ANEXO B – PESQUISA SEMI ABERTA 59
ANEXO C 62
ANEXO D – CONTRATO DE TRANSPORTE 63
ANEXO E 64
ANEXO F – MODELO DO TERMO 65
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1. INTRODUÇÃO
“Todo fenômeno de cultura (e a música o é) só funciona culturalmente porque se
articula como linguagem” (TOMÁS, 1998, p. 39). Os efeitos que a comunicação por
meio da linguagem musical provocam no ser humano é o principal objetivo desse
estudo. A ideia que uma melodia, mesmo sem palavras, possui um contexto e emite
uma mensagem através do ritmo foi o motivo que impulsionou essa pesquisa.
O trabalho tem como objetivo analisar os impactos da música clássica no público
capixaba. Em parceria com a Orquestra Filarmônica e a Escola Municipal Maria
Madalena, será realizada uma análise fechada com 30 alunos com media de idade
entre 13 e 16 anos. O local escolhido foi o Teatro Municipal Carlos Gomes. Para
obter um resultado completo, será realizada uma segunda pesquisa semi-aberta
com cinco alunos selecionados a partir da primeira parte da análise. O objetivo é
comparar a pesquisa observacional com os resultados e compreender as mudanças
causadas nos adolescentes.
No segundo capítulo desse trabalho será aprofundado o significado da linguagem,
desde o processo de formação entre emissor, mensagem e receptor, além da
relação entre a comunicação e a música. A definição do impacto e da relação da
música como uma língua universal e interação social também serão abordados.
No terceiro capítulo será apresentado um breve contexto sobre a história da música
e a relação que o homem primitivo desenvolveu com os sons e os instrumentos. A
magia e a crença eram resultados de sociedades religiosas que buscavam respostas
na natureza.
A música também representou um papel fundamental na organização das
sociedades da antiguidade. Alguns países desse período chegaram a se estruturar
tendo como referências a linguagem musical “[...] além dos efeitos mais diretos da
música sobre o homem, há que levar em conta também o seu segundo poder, mais
12
extenso e mais potente. Um poder místico, uma força inaudível e invisível [...]”
(TAME, 2006, p. 20).
Com o objetivo de conhecer a importância de uma orquestra para a cultura local, o
quarto capítulo apresentará um breve histórico da Orquestra Filarmônica do Espírito
Santo (Ofes). Para o entendimento sobre a construção de uma orquestra e a sua
importância na história do mundo serão abordados as funções dos instrumentos, o
papel do regente e funcionamento de uma orquestra.
A pesquisa representa uma busca de compreender a curiosidade e o amor pela
linguagem musical. Por meio do comportamento humano, torna-se possível observar
as reações que o som pode provocar influenciando o homem com mudanças de
hábitos, de pensamentos e estilos de vida.
Os principais autores utilizados foram Silvana Contijo, com a obra “O livro de Ouro
da Comunicação”, David Tame com o livro “O Poder Oculto da Música” e José de
Nícola com “Língua, Literatura e Redação”.
A escolha pela Orquestra Filarmônica foi resultado do trabalho didático que esse
conjunto desenvolve em apresentações. O estudo visa contribuir para a percepção
do papel que a música pode desenvolver na sociedade. Essa ferramenta que possui
potencial de transformar culturas é fundamental na construção social.
Um trabalho até mais importante do que simplesmente fazer música, mas de fomentação cultural, educando e elevando os indivíduos de sua sociedade a um outro patamar de existência (MAGALHÃES, 2003, p. 47).
O projeto proposto também poderá colaborar tanto para os profissionais da área da
comunicação e da música bem como, os cidadãos interessados em observar os
impactos de ferramentas que contribuam para o crescimento cultural.
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2. A RELAÇÃO DA COMUNICAÇÃO COM A MÚSICA
A música é uma forma de expressão e de comunicação e é um dos meios que o ser
humano encontra para demonstrar, argumentar e sentir o envolvimento da arte que
abrange outras ciências como, por exemplo, a matemática, a física, a química,
dentre outras. Segundo a autora Sekeff (2002, p. 13), a música é “uma linguagem
que, com seus múltiplos sentidos, fala diretamente ao corpo, à mente, e às
emoções, já que nasce diretamente de nosso corpo”. A autora ainda afirma que a
linguagem musical é uma experiência “fisiológica, psicológica e mental”.
Para o autor Moraes (2008), a música é uma forma de representar e criar novos
mundos. Todo esse processo envolve a teoria transmissionista de Shannon e
Webber: mensagem, emissor, canal, código e receptor. “Todos nós nascemos com a
estrutura geneticamente preparada para a comunicação, porém sem um manual de
instruções que mostre ‘como’ devemos nos comunicar de modo eficaz.” (XAVIER
GUIX, 2008, p.18).
E esse imenso conjunto de utensílios, sons, imagens, estruturas, códigos e narrativas formou o maior patrimônio da humanidade, sua obra coletiva: nossa história, nossa herança cultural (CONTIJO, 2004, p. 14).
No início, as melodias eram apenas sons, que com o tempo se transformaram em
notas e em sequência tornaram-se músicas. “Ao longo do tempo, a humanidade
evoluiu tecnologicamente e ampliou sua capacidade de sobreviver e de produzir
conhecimento” (CONTIJO, 2004, p. 14).
A música é a “arte mestra das artes: ela contém todos os princípios que fundam a
prática; ela assenta o primeiro grau da certeza” e “tem por objetivo final instituir a
louvação de Deus” (TOMÁS, 1998, p. 39). Diversos autores ainda afirmam que a
música é um fenômeno e apresenta inúmeros significados.
[...] o significado de que diferentes gêneros de música são universalmente conhecidos e apreciados, ou de que a música é capaz de elicitar reações
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emocionais em diferentes grupos étnicos, então, poder-se-á chegar à conclusão de que a música é realmente uma “linguagem universal” (AMARAL, 1991, p. 41).
A relação entre a música e a comunicação inicia-se com um processo que envolve
conceitos linguísticos não verbais. A autora Tomás (1998, p. 39) afirma que “[...] a
linguagem verbal não é a única forma de comunicação do homem. Criamos,
produzimos comunicação, informamos, expressamos, por meio de uma rede plural
de linguagens” uma vez que o desenvolvimento da relação entre a arte, linguagem
musical e a comunicação envolvem meios. A linguagem, de acordo com a análise do
autor Nícola (1998, p. 245), é uma “atividade intelectual exclusiva do homem; ao
pronunciar uma palavra, o homem está expressando um determinado estado
mental”.
É impossível dissociar o desenvolvimento social e cultural do desenvolvimento da linguagem (CONTIJO, 2004, p. 15).
Assim como outras línguas, a música não tem como objetivo um mesmo significado
para todo e qualquer ouvinte. Apesar de ser universal, os impactos causados pela
linguagem musical são variados: os resultados dependem das experiências do
receptor, da formação cultural e da formação do indivíduo. “[...] desta forma ela
expressa e propõe várias possibilidades de novas ordenações estruturais e formais,
assim como de novos significados”, (FREIRE, apud RORIGUES, 2010, p.14).
Considerando a música como uma forma de linguagem de comunicação torna-se
necessário observar que também é uma das formas de criar vínculos sociais e
transformar o todo por meio da informação. “A informação é o que permite que a
comunicação não seja somente comunhão ou consenso, mas também um processo
de troca do qual surgem diferentes pontos de vista e identidades” (XAVIER, 2008, p.
21).
[...] a música é, entre outras coisas, uma forma de se representar e de nos relacionarmos com o mundo, como as linguagens estão no mundo e nós estamos nas linguagens, como a música está no mundo e nós estamos na música (TOMÁS, 1998, p. 53).
“Linguagem e técnica contribuem para produzir e modular o tempo”. A autora Tomás
(1998, p.13) cita a semiótica, uma ciência que abrange todos os signos e seus
15
modos de significação tanto os verbais quanto os não verbais. “Ora, antes de tudo,
os signos produzem mensagens, transmitem informações de um ponto a outro no
espaço e tempo, sem o que os processos de cognição, de comunicação, de
significação e de cultura não seriam possíveis”.
[...] levando-se em conta, no caso da semiótica, que ela estabelece ligações entre um código e outro, entre uma linguagem e outra, permitindo a leitura do mundo não-verbal (TOMÁS, 1998, p.13).
A autora ainda afirma que o processo musical enquanto comunicação traz um vazio
que é preenchido pelo ouvinte. “[...] vivemos mergulhados em linguagens, e que
música é linguagem, é signo em ação” (TOMÁS, 1998, p. 13).
Segundo os autores Maria de Andrade e João Medeiros, a comunicação só é
efetivada por meio da linguagem “[...] mas há inúmeras formas de linguagem e nem
todas são necessariamente verbais”.
A comunicação humana é apenas uma parte de um processo mais amplo: o processo da INFORMAÇÃO que, por sua vez, é só um aspecto de um processo ainda mais básico, o processo de ORGANIZAÇÃO (BORDENAVE, 2001, p.15).
O autor Bordenave (2001) ainda afirma que organização é a junção de partes que
interagem entre si. O ser humano tem a capacidade de memorizar e organizar suas
experiências e acrescentar conhecimento pela facilidade de armazenar informações
codificadas. Além disso, sua capacidade de arquivar ideias e de aprendizado não
tem limites.
Por comunicação entendemos o processo pelo qual informação, decisões e diretivas circulam em um sistema social, e as formas em que o conhecimento, as opiniões e as atitudes são formadas ou modificadas. (LOOMIS BEAGLE, apud BORDENAVE, 2001, p. 18)
Para o processo comunicacional, um emissor envia uma mensagem a um receptor,
usando um código para emití-la. Durante o processo de emissão e recepção é
utilizado um canal que é o chamado suporte físico. Segundo a autora Chalhub
(2002), esse processo de comunicação nem sempre foi assim. O psicólogo Karl
Bühler (apud CHALHUB, 2002) compôs esse modelo tríade: destinador (mensagens
de caráter expressivo), destinatário (mensagens de caráter apelativo) e contexto
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(mensagens de caráter comunicativo). No entanto Jakobson (apud CHALHUB,
2002), amplia essas funções complementando com o modelo anterior.
Figura 1 - Processo de LinguagemFonte: José de Nícola (1998)
Os sentidos e as interpretações “[...] estão localizadas primeiramente na própria
direção intencional do fator da comunicação, o qual determina o perfil da mensagem,
determina sua função, a função de linguagem que marca aquela informação”.
(CHALHUB, 2002, p. 6).
Ênfase no fator determina Função da linguagem
Referente______________________________F. Referencial
Emissor__________________________________F. Emotiva
Receptor_________________________________F. Conativa
Canal____________________________________F. Fática
Mensagem________________________________F. Poética
Código_____________________________F. Metalinguística
Fonte: Samira Chalhub (2002, p. 6)
No entanto, nem só de mensagens verbais vive o ser humano. A linguagem participa de aspectos mais amplos que apenas o verbo. O corpo fala, a fotografia flagra, a arquitetura recorta espaços, a pintura imprime, o teatro encena o verbal, o visual, o sonoro, a poesia – forma especialmente inédita de linguagem – surpreende, a música irradia sons, a escultura tateia, o cinema movimenta, etc. (CHALHUB, 2002, p. 6).
Para que o processo de comunicação seja efetivo, é necessário entender como se
entende a formação da linguagem. “A língua cria identidade – e o condicionamento
social da língua – a estrutura da sociedade está “refletida” na estrutura lingüística”
(LANGUE, apud, PULCINELLO, 1981, p. 98). Pulcinello (1981) afirma ainda que a
língua, o social e o histórico se coincidem. A ideia principal é que o desenvolvimento
da linguagem depende da função social, cultural e do sistema que a linguagem está
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inserida (PULCINELLI, 1981). No processo musical, por exemplo, é natural que
existam sons que represente uma cultura específica. Isso se dá pelo fato de que os
homens que convivem com aquela forma de expressão dependeram de seus
antepassados ou de uma história, ou ainda de um contexto para chegarem a
determinado movimento musical. Por esse motivo, determinado estilo pode ser o
preferido de um país, mas não ser compreendido ou visto com o mesmo olhar por
habitantes de outra região. Os ouvintes terão reações e poderão até gostar, mas não
compreenderão da mesma forma, já que há influências históricas, culturais, sociais,
econômicas, políticas e comportamentais diferenciadas.
Segundo Schaff (apud PULCINELLI, 1981, p. 101), “[...] a comunicação efetiva é,
antes de tudo, compreensão (condição necessária, mas não suficiente)”, “[...] para
que haja comunicação efetiva é preciso que os interlocutores partilhem as
convicções relativas a ele”. Chalhub (2002, p.11), afirma que em todo processo
comunicacional é fundamental que haja uma fonte e um destino.
O autor Juan Bordenave (2001) ressalta que, no mesmo instante em que o emissor
está desenvolvendo sua mensagem para o receptor, também se mantém em
“contínuo contato perceptivo com o meio ambiente global que a envolve e, por
conseguinte, a elaboração da mensagem recebe constantemente uma
realimentação”. Dessa forma poderá contribuir para a troca de comunicação.
A música possui uma relação fundamental com a história do ser humano. Os mais
variados gêneros da música são conhecidos pelo mundo e apreciados. Segundo a
autora Kleide Ferreira (1991, p. 41) a música é capaz de provocar os mais diversos
sentimentos e por isso pode ser considerada uma linguagem universal. A autora
Rosana Rodrigues (2010) afirma que, assim como a linguagem, ela é fundamental
para a organização social e participa da formação da vida humana.
A sedução que a linguagem exerce sobre o homem existe desde sempre. A gente pode observar esse fascínio de inúmeras maneiras: através da literatura, da poesia, da religião, da filosofia, etc. Não faltam lendas, mitos cantos, rituais, estórias e até polêmicas muito antigas que revelam a curiosidade do homem pela linguagem (PULCINELLI, 1986, p.8).
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De acordo com o autor Jourdain (1997, p.23) o ser humano é capaz de ouvir e
compreender a música, enquanto os animais não o fazem, porque o cérebro do
homem é capaz de manipular padrões de som muito mais complexos. De acordo
com Hilgard (2002), juntamente com a visão, a audição é nosso principal meio de
obter informações sobre o ambiente. Ou seja, é um dos principais canais de
comunicação do ser humano.
O som origina-se através de uma vibração que gera uma onda sonora captada pelo
ouvido humano. A partir desse momento, a transmissão é conduzida até ao tímpano
fazendo-o vibrar. Diversas vibrações ocorrem até que a mensagem chegue aos dois
lados do cérebro (HILGARD, 2002). Os autores Coll e Teberosky (2000), afirmam
que quando um instrumento é tocado, a superfície ou parte dele vibra fazendo com
que esse movimento se desloque no ar em forma de ondas sonoras que são
captadas pelo nosso ouvido. “Se pudéssemos ver o ar, o movimento das ondas
sonoras seria parecido com o das ondas que se formam em um lago quando
jogamos uma pedra na água. Quando alguém bate em um tambor, a membrana
empurra o ar que a rodeia cada vez que ela vibra” (COLL; TEBEROSKY, 2000,
p.90).
As moléculas vibrantes que transmitem a música de uma orquestra para nossos ouvidos não “contêm” sensação, apenas padrões. Quando um cérebro é capaz de modelar um padrão, surge a sensação significativa. Quando um cérebro não está à altura da tarefa, nada ocorre e a experiência que um animal tem do mundo é, com isso, bem menor do que a nossa (JOURDAIN, 1997, p. 23).
A música também afeta o corpo físico do homem. O autor Tame (1984, p. 146)
explica que as raízes dos nervos auditivos estão mais amplamente distribuídas e
possuem conexões mais extensas que as de quaisquer outros nervos. A música faz
o corpo se comunicar influenciando na digestão, nas secreções internas, na
circulação, na nutrição e na respiração.
A música afeta o corpo de duas maneiras distintas: diretamente, como o efeito do som sobre as células e os órgãos, e indiretamente, agindo sobre as emoções, que, depois, por seu turno, influenciam numerosos processos corporais (TAME, 1984, p. 147).
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A música em sua teoria é dividida em três partes: Melodia: combinação dos sons
sucessivos; Harmonia: combinação dos sons simultâneos; Ritmo: combinação de
valores. “A música cria ordem a partir do caos; pois o ritmo impõe unanimidade ao
divergente, a melodia impõe continuidade ao descosido e harmonia impõe
compatibilidade ao incongruente” (MENUHIM, apud, TAME, 2006).
Dessa forma, as definições sobre a música vão além da consideração dessa
linguagem como sensações sonoras. Kant afirma que “Os três modos do tempo são
a permanência, a sucessão e a simultaneidade” (apud, VICENTE JUSTI, 2009, p.
25).
Rud (1991, p. 24) afirma que a linguagem musical é responsável por alguns
processos perceptivos e mentais como a audição, a memória e a imitação dos sons
do ouvido. Esses processos são fundamentais para o controle motor dos
movimentos físicos (RUD, 1991, p. 24). O autor destaca que a música e a linguagem
têm tantos pontos em comum que podem ser utilizadas como um dos métodos para
ensinar deficientes auditivos. “[...] romper a monotonia verbal e falar de maneira
rítmica e melódica, desenvolvendo e aperfeiçoando, dessa forma, a comunicação
com pessoas de audição normal” (RUD, 1991, p. 25).
Os sons que ainda não se integraram aos padrões musicais, como melodia ou ritmo, ou aos padrões verbais, como linguagem, já contêm elementos de intensidade, duração, altura e entonação. Os quatro elementos característicos podem ser percebidos, a despeito de funcionamento profundamente reduzido do cérebro (RUD, 1991, p. 24).
No entanto, o autor Thayer e Gaston (apud, KELIDE FERREIRA, 1991, p. 41),
ressalta que o receptor da música não pode se comunicar com o autor confirmando
então que a música é uma linguagem não verbal.
Rud (1991, p. 23) afirma também que a música é uma fonte capaz de estabelecer
contatos e o autoconhecimento. Além disso, por ser uma linguagem de comunicação
também pode colaborar nas relações humanas. “A linguística que é a ciência da
linguagem chama signo a combinação do conceito e palavra (escrita ou falada)”
(NÍCOLA, 1998, p. 245).
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Os signos utilizados na linguagem musical reportam-se à rede simbólica presente no momento histórico de sua elaboração, mas também os signos utilizados podem ser investidos de outras significações que não correspondem a esse momento histórico, assim como podem portar, residualmente, significados elaborados em momentos históricos outros, e que, portanto, estão sendo utilizados através de um processo de re-significação (FREIRE, apud, RODRIGUES, 2010, p. 129).
Figura 2 - Quadro sobre signoFonte: José de Nícola (1998)
O autor ainda afirma que a língua não é estática. A linguagem está vulnerável a
possíveis mudanças e evoluções. A música como linguagem pode se dividir entre a
função poética – quando o emissor combina alguns elementos como, por exemplo, o
ritmo, a sonoridade e o belo – e a função emotiva, quando a intenção do emissor é
expressar seus sentimentos e emoções.
Ela transmite emoção ou algo similar a emoção, para aqueles que compreendem seu idioma. O fato de que a música é compartilhada como uma atividade humana por todos os povos pode significar que ela comunica uma determinada compreensão simplesmente por sua existência (MEERIAM, apud, RODRIGUES, 2010, p.223).
O filósofo Schopenhauer (1925) afirma que a invenção da melodia, do íntimo e da
sensibilidade humana é obra do gênio. O compositor revela a essência mais íntima
do mundo e exprime a sabedoria mais profunda. A música não exprime nunca o
fenômeno, mas unicamente a essência íntima de todo o fenômeno, numa palavra a
própria vontade. Portanto não exprime uma alegria especial ou definida, certas
tristezas, certa dor, certo medo, certo transporte, certo prazer, certa serenidade de
espírito, mas a própria alegria, a tristeza, a dor, o medo, os transportes, o prazer, a
serenidade do espírito; exprime-lhes a essência abstrata e geral, fora de qualquer
motivo ou circunstância. E, todavia nessa quinta-essência abstrata, é possível
compreendê-la perfeitamente.
A música é como um banho para o espírito; purifica de toda a mancha, de tudo que é mesquinho e mau; eleva e nos põe em relevo com os maiores pensamentos, fazendo-nos compreender o que valemos, isto é, o quanto poderíamos valer (SCHOPENHAUER, 1925, p. 97).
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A comunicação enquanto linguagem tem como função significativa na existência
humana. Para o autor Juan Bordenave (2001), a comunicação é “o elemento
formador da personalidade. Sem comunicação, de fato, o homem não pode existir
como pessoa humana”. A personalidade de um ser humano se forma a partir da
interação. Ou seja, “a sociedade existe na comunicação e por meio da
comunicação”. Para efeito musical, os sons também podem influenciar de forma
direta na formação.
[...] emoções de toda espécie são produzidas pela melodia e pelo ritmo; através da música, por conseguinte, o homem se acostuma a experimentar as emoções certas; tem a música, portanto, o poder de formar o caráter, e os vários tipos de música, baseados nos vários modos, distinguem-se pelos seus efeitos sobre o caráter – um, por exemplo, operando na direção da melancolia, outro na efeminação; um incentivando a renúncia, outro o domínio de si, um terceiro o entusiasmo, e assim por diante, através da série (ARISTÓTELES, apud, TAME, 2006, p. 19).
Ainda segundo Bordenave (2001), uma das funções da comunicação é de
representar a expressão. Durante o processo de comunicar, o homem utiliza esse
recurso como forma de apresentar suas ideias, raciocínios, emoções e expectativas.
O autor afirma que a o ser humano almeja exteriorizar o seu eu interior já que a
música é uma das formas de expressar os mais diversos sentimentos.
O que de inefável há na música, o que nela nos eleva a um paraíso acessível, que compreendemos sem poder explicar, é que interpreta as nossas mais íntimas aspirações e nossas mais profundas agitações fora de toda realidade, e, por conseguinte, sem causar-nos sofrimento (SCHOPENHAUER, 1925, p. 96).
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3. CONTEXTO HISTÓRICO DA MÚSICA: A RELAÇÃO DO HOMEM PRIMITIVO COM OS SONS
Os sons fazem parte do dia a dia do ser humano. Medaglia (2008) cita que logo que
o homem nasce a primeira coisa que faz é emitir um som através do choro. E ainda
afirma que apesar da música não ser necessidade de sobrevivência, não há relatos
de nenhuma raça ou povo que não cultive a música.
De acordo com Frederico (1999) o ritmo antecedeu o som. Durante a história do
homem primitivo, a noção do ritmo e do compasso foi estimulada com o andar,
correr, cavalgar, exercitar ou qualquer outra atividade que represente uma tarefa
repetitiva.
A origem da música foi sensorial e vocal.
[...] Quando o sentimento e a emoção mexem com o sistema muscular, ele, estimulado pelo prazer ou pela alegria, produz uma contração do peito, da laringe e das cordas vocais. A voz acaba sendo um gesto, e a arte musical veio das exclamações que o homem primitivo usou como sinais (FREDERICO, 1999, p.7).
A música teve uma evolução histórica paralela à do homem. Abrahão (2006) afirma
que a análise de documentos, pinturas e objetos ancestrais mostra que, diversas
civilizações da antiguidade já possuíam uma arte musical relativamente
desenvolvida. A música era utilizada para diversas solenidades e com alguma
variedade de instrumentos.
Os instrumentos utilizados pelos povos da antiguidade tiveram origem com os sons
produzidos pelo corpo humano. Segundo Frederico (2006), da concha da mão o
homem chegou ao vaso para beber. Do braço, chegou ao remo. Assim, o homem da
antiguidade descobre que seu corpo reúne vários recursos sonoros.
Como a garganta e a boca já produziam uma melodia juntou-se o estalar de dedos, palmas, até que braços e pernas acabaram produzindo uma música corporal rítmica (FREDERICO, 2006, p. 7).
23
Os instrumentos que anteriormente eram utilizados apenas para fins de trabalho, se
transformaram em instrumentos de culto e posteriormente em objetos musicais.
Alguns dos povos da antiguidade já possuíam algum tipo de escrita musical.
Segundo Abrahão (2006), materiais arqueológicos antiqüíssimos atestam traços de
indecifráveis notações musicais. Ainda supõe-se que os cantos fossem transmitidos
principalmente pela tradição oral.
Como forma prática do mistério sobre a música, diversos instrumentos na
antiguidade eram fabricados com o objetivo de serem utilizados para fins mágicos.
Frederico (1999) afirma que as civilizações antigas acreditavam que eles tinham
forças misteriosas e alma, por isso eram guardados com solenidade. As peças
também podiam ser construídas com qualquer material e até mesmo com algo que
tivesse pertencido a alguém que pudesse ser visto como uma boa influência.
A pré-história da música só pôde ser reconstruída a partir do repertório musical dos povos como as canções religiosas, guerreiras, funerárias, etc. na paleontologia musical a observação das indicações que nos levam a melodias masculinas, femininas, infantis ou coletivas são de extrema importância. Algumas canções tiveram relação com determinadas datas ou festas do ano (FREDERICO, 1996, p. 12)
Segundo o autor, “algumas formas musicais foram comuns a toda humanidade,
como as canções infantis. O mesmo aconteceu com os instrumentos de percussão,
como os dos primitivos africanos que são iguais aos dos selvagens da Nova Guiné”
(FREDERICO, 1996, p. 12).
3.1 O PODER E O HISTÓRICO DA MÚSICA NA ANTIGUIDADE
A música sempre exerceu um papel sobre as sociedades (TAME, 2006). O autor
ainda afirma que os chineses na antiguidade acreditavam que as civilizações se
organizavam e moldavam de acordo com o tipo de música que nelas era executado.
De acordo com o autor, a música era a base de tudo.
A música de uma civilização era melancólica, romântica? Nesse caso, o próprio povo seria romântico. Era vigorosa, militar? Então, os vizinhos dessa nação deveriam se acautelar. Além disso, uma civilização permanecia estável e inalterada enquanto a sua música permanecesse inalterada. Mas mudar o estilo da música ouvida pelo povo levaria inevitavelmente a uma mudança do próprio estilo de vida (TAME, 2006, p.16)
24
A música influenciava de forma direta medidas estratégicas na administração das
comunidades. Tame (2006) cita o exemplo de um imperador chamado Shun, da
China antiga, que acreditava que se os instrumentos estivessem afinados de forma
diferente ao longo dos territórios presumia-se que logo iriam ter divergências uns
dos outros e entrar em guerra.
O poder da música era claro e nítido nos povos da antiguidade. A mensagem
emitida através dos sons chegava aos receptores e as civilizações acreditavam que
a música possuía uma força que poderia proporcionar mudanças. De acordo Tame
(2006), essas alterações poderiam ser para melhor ou para pior, no caráter do
indivíduo, e de fato na sociedade como um todo.
O resultado dos potenciais da música influenciaram os grandes compositores
clássicos e românticos. “Música e moral. Haverá, na realidade, uma conexão entre
elas? A ideia de que a música exerce influência [...] sobre o caráter do homem
persistiu em ampla escala” (TAME, 2006, p.19).
Pelo que sabemos dos seus caracteres, é claro que cada um deles, motivado por um sincero desejo de servir e espiritualizar a humanidade via a própria música como um dos meios mais poderosos de influir na consciência e na direção da raça humana. As guerras vão e vêm, mas a música subsiste indefinidamente, e nunca deixa de interessar a mente e o coração de quantos a ouvem (TAME, 2006, p. 19).
A Bíblia, o Livro Sagrado, cita que a música era fundamental na cultura do Israel
antigo. A revista Despertai (2011), destaca que trombetas e buzinas eram tocadas
para convocar o povo para a adoração e indicar eventos especiais. “O som de
harpas e liras era usado para tranquilizar a realeza (I Samuel 16:14-23). Usavam-se
tambores, címbalos e chocalhos na comemoração de ocasiões alegres – 2 Samuel
6:5; 1 Crônicas 13;8” (DESPERTAI, 2011, p. 16). Uma das primeiras citações
bíblicas foi sobre um descendente de Caim, chamado Jubal que é mencionado como
o pai de todos aqueles que tocam a harpa e órgãos.
25
Figura 3 - Pandeiro de FórmicaFonte: Revista Despertai (2011)
Sobre os instrumentos de percussão, a revista Despertai (março, 2011) destaca
também o momento em que Deus conduziu Moisés e os israelitas através do mar
Vermelho. Miriã e todas as mulheres saíram com pandeiros e em danças. (Êxodo
15:20). “Embora nunca se tenham achado pandeiros dos tempos bíblicos parecidos
com os atuais, antigas estatuetas de cerâmica de mulheres segurando pequenos
tambores foram encontradas em Israel em lugares como Aczibe, Megido e Bete-
Seã”.
Figura 4 – Instrumento de PercussãoFonte: Revista Despertai (2011)
A harpa, da tradução kinnor, foi um instrumento utilizado por Davi para acalmar o
Rei Saul, no Israel Antigo. Seu formato foi alterado por diversas vezes com o passar
do tempo. Já as trombetas eram utilizadas pelos sacerdotes para anunciar eventos e
festas produzindo sons de acordo com a finalidade.
26
Figura 5 – MoedaFonte: Revista Despertai (2011)
Figura 6 – HarpaFonte: Revista Despertai (2011)
Figura 7 – Trombeta Fonte: Revista Despertai (2011)
27
Figura 8 - Pedra históricaFonte: Revista Despertai (2011)
Os sistros eram utilizados como uma espécie de chocalho. De acordo com a revista
Despertai (2011), são citados no livro Bíblico apenas uma vez, no entanto, “segundo
a tradição judaica, os sistros também era tocados em ocasiões tristes”. (Despertai,
2011, p. 15).
Figura 9 – SistroFonte: Revista Despertai (2011)
Outro relato bíblico a respeito do efeito da música é a destruição da muralha de
Jericó. A cidade de onde habitava um grande mal e que havia fechado as suas
portas se preparando para resistir às forças de Josué. Assim, apareceu um anjo do
Senhor e lhe disse:
[...] rodeareis a cidade, cercando a cidade uma vez: assim fareis por seis dias. E sete sacerdotes levarão sete buzinas de carneiros diante da arca; e no sétimo dia rodeareis a cidade sete vezes, e os sacerdotes tocarão as buzinas. E será que, tocando-se longamente a buzina de carneiro, ouvindo vós o sonido da buzina, todo o povo gritará com grande grito; e o muro da cidade cairá abaixo, e o povo subirá nele, cada qual em frente de si (BÍBLIA SAGRADA, JOSUÉ, 5 e 6).
28
Durante o sétimo dia quando Josué e os sacerdotes rodearam a cidade e o povo
juntamente com o sonido das buzinas gritaram, os muros caíram e eles tomaram a
cidade. Tame (2006, p. 18) afirma que apesar de alguns historiadores insistirem que
o relato não passa de uma lenda, quando as ruínas foram desenterradas houve
indicações de que em certo momento “os muros se desmancharam, caindo de
dentro para fora”.
A música tem muitos sentidos. A melodia é o “[...] elemento central em determinadas
culturas [...]” (SEKEFF, 2002, p. 45). De acordo com Bennett (2007) a música mais
antiga conhecida era formada por apenas uma melodia, a chamada monofônica. Os
gregos chegaram a uma escrita musical após as pesquisas realizadas pelo
matemático e filósofo Pitágoras (540.a.C.) que iniciou os primeiros trabalhos sobre
música (MEDAGLIA, 2008). O autor afirma que pouco se sabe sobre a origem inicial
da música.
Exceto que sonoridades diversas foram usadas para a comunicação entre pessoas, ritmos eram praticados para ordenar trabalhos, músicas específicas faziam parte das solenidades religiosas, mas não como elemento motivador de emoções, ainda que, certamente, sua prática devesse provoca prazer (MEDAGALIA, 2008, p.15).
Os gregos acreditavam que a música purificava a alma. E por consequência do
crescimento cultural da época, muitas teorias foram realizadas em torno desse tema.
Medaglia (2008) afirma que palavras como melodia, harmonia e ritmo têm origem no
idioma grego. A palavra música se origina nas musas, que são as deusas pagãs da
arte, companheiras de Apolo. As próprias tragédias gregas eram sempre envolvidas
por música.
Após a evolução da música nesse período, iniciou-se o processo na Idade Média.
Medaglia (2008) afirma que a Igreja Católica incentivou o emprego da música no
culto. Assim, inicia-se o canto gregoriano ou cantochão utilizado nas liturgias
católicas – missas e solenidades menores. Fora da religião, a música se
desenvolveu pouco. Mas o autor ressalta que a música profana tinha mais ritmos e
incentivava a dança. Diferentemente do canto gregoriano, às vezes tinha algum
acompanhamento.
29
A partir daí, já no século IX, inicia-se o processo da polifonia, que é a união de
diversas vozes que representavam um acompanhamento harmônico. Medaglia
(2008), afirma que um fato colaborou significativamente com a evolução das
técnicas e da música em geral: a criação e implantação de uma escrita musical pelo
padre italiano Guido D’Arezzo (992-1050) no início do segundo milênio. O padre
passou a utilizar as sete primeiras sílabas de um verso religioso para determinar as
notas: ut, re, mi, fa, sol, la, si. Com o tempo a nota ut foi substituída pela sílaba dó,
que vem da palavra Dominus, Senhor em latim. Além disso, foi o criador da pauta
(ou pentagrama) que é utilizada até os dias de hoje para escrever as notas musicais.
Já no final da Idade Média, entre os séculos XII e XIII, o período gótico, presenciou
um movimento musical importante. Medaglia (2008) afirma que Paris, capital cultural
do mundo e que a catedral de Notre-Dame foi um importante centro musical do
período. O século XIV marcado por diversos conflitos na Igreja foi um período que
colaborou para o desenvolvimento das músicas profanas. No século seguinte, houve
a passagem da Idade Média para o Renascentismo. Com a quebra do feudalismo e
o crescimento da classe burguesa, Medaglia (2008) afirma que houve um incentivo
por parte da burguesia para o desenvolvimento da arte. Além de artistas da pintura
como, por exemplo, Leonardo da Vinci e Van Eyck, a música tanto religiosa como a
profana foram incentivadas.
Já o século XVI foi marcado pela descoberta da impressão musical, em 1501, pelo
italiano Ottaviano Petrucci (1466-1539). Outro grande impacto para a música foi a
Reforma Luterana. Martinho Lutero (1483-1546), de acordo com Medaglia (2008),
acreditava no poder da música durante os cultos.
Até o ano 1600 o crescimento musical girava em torno da voz. Medaglia (2008)
afirma que a partir da Renascença que iniciou o interesse pela música instrumental.
Técnicas foram evoluídas e instrumentos sofisticados superaram a música vocal a
partir do século XVIII.
3.2 A MÚSICA E A COMUNICAÇÃO NA ATUALIDADE
30
A música como parte da história do homem passou por diversos processos e
evoluções. Ross (2009, p.539), afirma que com o passar dos séculos “pode-se ter a
impressão de que a música clássica está submergindo no esquecimento”.
Para um observador cético, as orquestras e salas de ópera estão atreladas a uma cultura de museu, atendendo a um grupo cada vez menor de espectadores de idade e pretensos elitistas que apreciam interpretações tecnicamente perfeitas [...] (ROSS, 2009, p. 539).
No entanto, a música clássica observada com outro olhar é um estilo que atinge um
público mais amplo do que em qualquer outra época. Segundo o autor Alex Ross
(2009), pessoas de todo o mundo frequentam teatros de óperas e salas de
concertos. "Grandes novas plateias se materializaram no leste da Ásia e na América
do Sul. Embora apresente uma anormal resistência à mudança, o repertório está
sendo permeado pela música do século XX” (ROSS, 2009, p. 540).
A mudança visível nesse processo foi a evolução da linguagem musical com o
passar dos anos. Oliveira (2005) afirma que som pode ser tudo aquilo que o homem
compõe, não somente nos padrões, mas com a utilização de recursos como o corpo,
a voz e instrumentos “sejam eles acústicos, elétricos ou eletrônicos”.
Não deixa de ser artista aquele que interpreta a obra alheia e também não deixa de ser artista aquele que ouve música ativamente, criativamente, como forma de contemplação da vida ou como ato de resistência. Assim, creio que isto representa uma estética romântica e democrática da música na atualidade (OLIVEIRA, 2005, p. 19).
Com o avanço tecnológico, a comunicação, a cultura e a arte sofreram diversas
transformações como observado em outro livro da autora em parceria com o autor
Ricardo Lima. “Há mudanças no uso e no registro das linguagens musicais. As
novas tecnologias digitais possibilitam novas formas de gravação e armazenamento
de sons musicais”. (LIMA; OLIVEIRA, 2005, p.11). Os autores ainda afirmam que
uma grande transformação foi a alteração no modo de “fazer e experimentar a arte
musical” (LIMA; OLIVEIRA, 2005, p.11).
As mudanças tecnológicas afetam os modos de registro e de difusão da música. As formações subjetivas em torno do MP3 são extremamente ricas e claramente transitórias. A cultura aparece como uma longa construção do presente, que interage com a arte e com a tecnologia na formação de uma produção musical prevalente. As tecnologias digitais de comunicação fazem
31
convergir os modos de produção e os produtos musicais atuais (RICARDO; MARIE, 2005, p. 12).
A possibilidade de diversos estilos para um só ouvinte representa a atualidade no
processo e desenvolvimento musical. Segundo Sekeff (apud VIEIRA, 2011), “pode-
se mesmo dizer que a experiência musical é um processo indivisível do qual artista e
público tem sua cota de criatividade [...] a música se completa... no ouvinte”.
4. A IMPORTÂNCIA DA ORQUESTRA NUMA CONSTRUÇÃO CULTURAL: ORQUESTRA FILARMÔNICA DO ESPÍRITO SANTO
32
A principal escola de música do Espírito Santo foi fundada em 23 de maio de 1954.
O incentivo para a realização dessa etapa na história da música capixaba foi dado
pelo governador da época, Jones dos Santos Neves. No entanto, o empenho para
que a escola, hoje chamada Faculdade de Música fosse iniciada partiu do casal de
músicos Vera e Alceu Camargo (MAGALHÃES, 2003, p. 19).
Segundo o autor, nesse período a maior parte da música erudita era focada no
ensino do piano e no canto lírico. Alguns conflitos eram muito comuns nessa época.
Segundo Magalhães (2003, p. 20), Marlos Nobre que era “[...] dirigente do Instituto
Nacional de Música (INM/FUNARTE), defendeu a ideia da criação de uma Orquestra
Sinfônica”. Em uma entrevista concedida ao jornal A Gazeta na década de 70,
Marlos Nobre “[...] expõe de maneira contundente o atraso cultural do estado e uma
surpreendente falta de auto-estima [...]” (MAGALHÃES, 2003, p. 49).
Figura 10 - Reportagem sobre a criação de uma orquestra capixabaFonte: Magalhães (2003)
Sobre a transcrição da imagem:
Para o maestro Marlos Nobre, a criação de uma orquestra sinfônica estadual no Espírito Santo não representa de forma alguma um luxo, frisando que o projeto conta com todo o apoio da Funarte e do Instituto Nacional de Música (INM), órgão que ele dirige. Novamente em Vitória, desta vez para um recital de piano no qual mostraria parte de sua obra, o maestro dirigente concedeu pela manhã uma entrevista no TCG quando discutiu problemas do compositor e da música erudita brasileira. Ao final, Marlos Nobre, deixou outra boa noticia para os capixabas, informando que o INM já está remetendo alguns instrumentos de sopro fabricados no Brasil, que sofreram melhoria técnica, para serem distribuídos entre as liras do Espírito Santo dentro do Projeto Bandas, do órgão (MAGALHÃES, 2003, p. 21).
33
O trabalho do casal Camargo, unido ao esforço de músicos da Polícia Militar e
outras participantes ativas como, a professora e pianista Sônia Cabral (chefe da
música erudita da Fundação Cultural) e Beatriz Abaurre (diretora da Fundação
Cultural), foram fundamentais no processo de iniciação do projeto da Orquestra
Filarmônica do Espírito Santo (MAGALHÃES, 2003).
O primeiro regente da orquestra capixaba foi Vitor Marques Diniz. “O maestro era
português, de Lisboa, mas havia morado e trabalhado por curto período em Angola e
Moçambique” (MAGALHÃES, 2003, p. 24). Vítor Marques Diniz veio para o Espírito
Santo com a função de reger o Coro da Fundação Cultural que se apresentava
regularmente desde 1972 e era um grupo muito popular.
Figura 11 - Maestro Vítor Marques DinizFonte: Magalhães (2003)
A orquestra era a grande novidade na cultura capixaba. Os jornais da época
publicaram matérias “que na verdade demonstravam a expectativa e a carência que
sentia o povo capixaba de ver finalmente a cultura local progredir” (MAGALHÃES,
2003, p. 26).
[...] a situação formal da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo é a de um órgão cultural do Governo do Estado, assim como são o Teatro Carlos Gomes, a Galeria Homero Massena, O Centro Cultural Carmélia, a Rádio Espírito Santo e outros. O grupo é subordinado a Secretaria Estadual da Cultura – SEC. Porém, esta secretaria já foi o antigo Departamento Estadual de Cultura – DEC e naquele ano de 1976 era ainda denominada Fundação Cultural do Espírito Santo (MAGALHÃES, 2002, p. 27).
34
A orquestra, no entanto, era formada por um grupo do Coral da Escola de Música e
com a participação de músicos. Magalhães (2002) cita que em abril de 1977, a
Fundação Cultural do Espírito Santo juntou-se ao grupo abrindo uma temporada de
concertos. A partir de 1981, “a Fundação Cultural foi extinta, em seu lugar o governo
criou o Departamento Estadual de Cultura” (MAGALHÃES, 2003, p. 29). Foi apenas
em 1986 que foi criada oficialmente a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses)
que passou a contar “com 133 integrantes entre músicos e outros cargos
administrativos”.
Figura 12 - Reportagem divulgada em "A Gazeta" em 26/05/76Fonte: Magalhães (2003)
Em 1981 o Coral foi efetivamente desativado após a separação da Orquestra e após
algumas dificuldades, em 1986, foi inaugurada “oficialmente a Orquestra Sinfônica
do Espírito Santo (Oses), por intermédio do governo José Moraes, que aprovou o
decreto Nº2.343-N, em 29 de Setembro” (MAGALHÃES, 2003, p. 30).
Por razões de direitos autorais “foi decidido que a Orquestra simplesmente voltaria a
ser denominada Filarmônica” (MAGALHÃES, 2003, p. 45). Como responsáveis pela
orquestra passaram alguns regentes como, por exemplo, Jaceguay Lins, Wenceslau
Moreira, Mário Candiani e Leonardo Bruno. A orquestra conta, desde 1992, com o
Maestro Titular, Helder Trefzger. Quando o regente assumiu a orquestra era o mais
jovem do País e de todos os outros maestros é o que permanece há mais tempo.
35
Figura 13 - Maestro Helder Trefzger Fonte: Magalhães (2003)
A atual orquestra é chamada de filarmônica apesar de ser bancada pelo Estado.
[...] muito antes da criação da OFES (na década de sessenta!) uma pianista e promotora cultural chamada Edith Bulhões fundou e registrou a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo. Embora quase ninguém saiba, ela chegou a realizar apresentações com o grupo, como atesta uma reportagem do jornal A Tribuna de 04 de setembro de 1975, cuja manchete, que por sinal destilava uma certa ironia, era: “Nós temos uma ‘Sinfônica’. Alguém sabia?” (MAGALHÃES, 2003, p. 44).
Figura 14 - Reportagem do jornal "A Tribuna" do dia 04/07/1975Fonte: Magalhães (2003)
36
No dia 29 de maio de 2002 a Orquestra realizou um concerto no Teatro Carlos
Gomes em comemoração aos 25 anos de existência.
Figura 15 - Concerto de 25 anosFonte: Magalhães (2003)
A Orquestra tem realizado o seu trabalho como um dos órgãos culturais do Espírito
Santo (MAGALHÃES, 2003) e apresenta programações anuais colaborando para a
cultura capixaba.
4.1 A HISTÓRIA DA ORQUESTRA
Orquestra é uma antiga palavra grega (orkhéstra) que significa lugar para dançar
(BENNETT, 1988, p. 9).
Na Grécia, durante o século V a.C., os espetáculos eram encenados em teatros ao ar livre, chamados anfiteatros. Orquestra era o nome dado ao espaço que se situava em frente à área principal de representação e que se destinava às evoluções do coro, que cantava e também dançava. Era ali que ficavam igualmente os instrumentistas (BENNETT, 1988, p. 9).
Com o passar dos anos, no início do século XVII, na Itália, as primeiras óperas
começaram a ser executadas. Essas peças, de acordo com Bennet (1988),
pretendiam imitar os dramas gregos e por isso a mesma palavra foi utilizada para
designar o espaço. Ao longo dos séculos esse termo passou a ter o mesmo sentido
que o atual: um conjunto com diversos instrumentos que tocam juntos.
Segundo Abrahão (2006, p. 207), “a primeira utilização conhecida de um conjunto de
instrumentos formando uma orquestra no conceito moderno, provavelmente deve-se
37
a Giovanni Gabrieli (1557-1612), em sua Sacrae Simphoniae (1697)”. O autor ainda
afirma que no começo do século XVIII, as orquestras eram formadas por um
conjunto de cordas acompanhadas do cravo ou do órgão. Quando necessário outros
instrumentos como, o oboé, flautas, fagotes ou trompetes acompanhavam as
apresentações.
Muitos compositores contribuíram para o crescimento das orquestras. Conforme cita
Abrahão (2006), concertos foram desenvolvidos por Vivaldi, J.S. Bach, Händel,
dentre outros compositores que colaboraram para a história da música e
permanecem na cultura musical até os dias atuais.
Já no período clássico, Abrahão (2006) afirma que surge um novo gênero musical: a
sinfonia. Algumas orquestras surgiram na época como, a da corte de Mannheim que
foi fundada em 1742 e tinha cerca de 50 componentes.
Figura 16 - Orquestra Barroca do ano de 1700Fonte: Site http://www.mnemocine.com.br/filipe/symphonic.htm. Data de acesso: 31/05/2011
Figura 17 - Orquestra Filarmônica de Berlim, considerada a melhor orquestra do mundo e dirigida por Simon RattleFonte: Site http://www.mnemocine.com.br/filipe/symphonic.htm
38
Data de acesso: 31/05/2011
Abrahão (2006) afirma que uma orquestra moderna com preparo para realizar a
execução de peças de vários períodos e compositores, geralmente tem por volta de
100 a 110 instrumentistas. O termo “orquestra sinfônica” ou “orquestra filarmônica”
não apresenta nenhuma diferença técnica, apenas tem como objetivo diferenciar o
órgão mantenedor que no caso da filarmônica são as instituições privadas e a
orquestra sinfônica é mantida pelo governo.
4.2 OS INSTRUMENTOS MUSICAIS
Uma orquestra é formada por instrumentos que são divididos por famílias e
apresentam funções diferenciadas. A divisão é feita da seguinte forma: cordas,
madeiras, metais e percussão. De acordo com o autor Roy Bennett (1988), as
cordas desempenham o papel mais importante na maior parte das músicas e por
isso são colocadas logo a frente. Os instrumentos que fazem parte da família de
cordas são os violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e harpas.
A família das madeiras executa solos importantes e ficam concentradas no centro da
orquestra. Os instrumentos formados pelas madeiras são: as flautas e flautim, os
oboés e corne inglês, clarinetas e clarineta baixo e os fagotes e contrafagote. Os
metais, que entoam sons poderosos ficam localizados atrás das madeiras para não
abafar os sons mais suaves. São os metais: as trompas, trompetes, trombones e a
tuba. E atrás, na parte mais elevada concentram-se os instrumentos de percussão.
Quando necessário esses instrumentos podem produzir um barulho excessivo para
a execução de determinadas peças. Nessa família podem ser encontrados os
tímpanos, bombo, caixa clara, pratos, triângulo, pandeiro, glockenspiel, xilofone,
celesta, carrilhão, castanholas, blocos de madeira, tantã (ou gongo), chicote e
maracas.
39
Figura 18 - Instrumentos de uma orquestra Fonte: Site http://www.mnemocine.com.br/filipe/symphonic.htm Data de Acesso: 31/05/2011
Abrahão (2006), reforça que a disposição dos instrumentos pode ser modificada de
acordo com as preferências do regente ou com a necessidade específica de uma
determinada obra. De acordo com Bennett (1988) o número e os diferentes tipos de
instrumentos que constituem uma orquestra podem variar, mas para que possa ser
considerada uma orquestra completa, vinte ou trinta instrumentistas podem
participar.
4.3 O REGENTE
O regente é o principal responsável pela interpretação e execução das partituras.
Abrahão (2006) fala sobre o papel do maestro na orquestra. Com o braço direito o
maestro controla, indica os tempos e as variações de ritmo através de gestos. Já o
braço esquerdo indica a entrada dos instrumentos. Lago (2008), afirma que o
regente coordena, controla e dirige os músicos, além do andamento e a dinâmica de
uma orquestra. A função do maestro é ensaiar, corrigir a emissão das notas, cuidar
da expressão e da dinâmica.
O regente expressa a manifestação emocional mais direta e instintiva. Lago (2008)
afirma que o gesto de um diretor de uma orquestra completa um estado de excitação
emocional como, por exemplo, o bater das palmas, o menear da cabeça e o
40
balancear o corpo para marcar um ritmo musical. O autor cita a parte histórica da
função do regente, quando ainda na Grécia antiga, nos dias festivos era comum
cantar hinos de louvores aos deuses. Durante a execução, danças eram realizadas
ao redor da estátua de Dionísio, o deus da festa.
No momento do sacrifício do bode no altar, formava-se um grupo que dava início à interpretação do poema cujo conteúdo era sempre extraído de lendas báquicas. Ao autor do poema, de praxe um corifeu que tomava parte na consagração, dava-se a incumbência de marcar o ritmo batendo fortemente no chão o calçado reforçado de chapa metálica na parte inferior. Ao mesmo tempo, executando essas pancadas, o corifeu dava explicações e realizava toda uma série de movimentos com os dedos e as mãos (LAGO, 2008, p. 710).
Com o passar dos séculos, a função de dirigir uma orquestra torna-se cada vez mais
importante. Após a Idade Média, muitos corais das igrejas eram ensaiados por
maestros que não podiam fazer uso das mãos durante as apresentações públicas.
Lago (2008) afirma que com o passar dos anos foi permitido que usasse um leve
canudo de papelão. Posteriormente tocos de madeira e por fim, enormes bastões
que eram batidos no chão causavam um grande impacto. Além disso, havia também
os pés que marcavam o ritmo musical. Esses movimentos intensos trouxeram
grandes prejuízos a um regente chamado Jean-Baptiste Lully, que se feriu
gravemente ao reger um movimento brusco com um enorme bastão. De acordo com
Lago (2008), o acidente teve como consequência o pé amputado e a morte por
infecção.
O papel do regente inicia-se com novas funções a partir da segunda metade do
século XVIII. No século anterior, sua função era marcar o ritmo e dar instruções de
andamentos para a orquestra. Nesse período, era comum que o regente fosse
também um dos instrumentistas, ou seja, consequentemente exercia mais de uma
função. De acordo com Lago (2008), o regente passa a acumular funções novas.
Esse resultado foi uma das consequências dos avanços instrumentais que exigem
maior atenção no manejo dos novos recursos e novas possibilidades expressivas.
A evolução das formas orquestrais determinou principalmente novas exigências quanto ao método de direção, visando à eficácia e expressão dos novos padrões de interpretação (LAGO, 2008, p.26).
41
Com essa evolução, os regentes passaram a desempenhar um novo método: a
técnica de desenhar os compassos e os tempos das melodias no ar fazendo a
marcação do ritmo. Os movimentos eram realizados com um bastão ou com o arco
do violino. Lago (2008), afirma que no começo do século XIX ainda era comum que
as orquestras fossem dirigidas por um dos músicos, ou com uma dupla, ou ainda
tripla direção, como foi o caso da primeira apresentação da Nona Sinfonia de
Beethoven. Na ocasião, a direção contou com a participação de dois músicos, além
do compositor para indicar o tempo.
O papel do regente é colocado em dúvida quando surge uma orquestra sem maestro
após a revolução de 1917, durante a Rússia Soviética. Lago (2008) afirma que a
orquestra chamada Persimfans, abreviatura de PerviiSimfonitcheskiAnsanble, que
significa “primeiro conjunto sinfônico”, foi fundada em 1922. Conforme ressalta
Mueller (apud, LAGO, 2008, p. 98), “[...] para a execução, o conjunto sentava-se em
círculos concêntricos, sendo o primeiro, ou o círculo exterior, de costas para a
platéia. Cada seção tinha seu líder, que dirigia os ensaios. No ensaio geral, um
elemento do grupo geralmente sentava-se na platéia para julgar o efeito”.
A experiência durou mais de 10 anos. Um escritor da época, Otto Klemperer (apud,
LAGO, 2008, p. 100), em 1929, escreve em uma das suas autobiografias sobre o
Persimfans: “o improviso dá asas a um tipo de execução que, do ponto de vista
artístico, torna indispensável a presença do regente. Sem ele, uma execução se
desenvolve maquinalmente ou mecanicamente, e a música não é parte integrante da
vida?”.
Lago (2008) resume a atividade do regente afirmando que é o resultado da mistura
de técnica e arte, ou ainda, de mente e coração. É necessário que se conheça todos
os instrumentos e saiba sobre a harmonia e ritmo. A partitura afirma Lago, é algo
não revelado. Dessa forma, cabe ao maestro decifrá-la, traduzi-la e interpretá-la.
42
5. METODOLOGIA: ANÁLISE PRÁTICA
Um dos métodos mais eficientes para obter-se resultados na ciência é a pesquisa.
“Ciência é um processo permanente em busca da verdade, da sinalização
sistemática de erros e correções, predominantemente racional” (MARCO ANTONIO
CHAVES, 2003, p. 60).
Para buscar compreender como a mensagem por meio da música atinge o receptor
foram realizadas duas pesquisas de campo.
Pesquisa de campo: é investigação empírica realizada no local onde ocorreu o fenômeno ou que dispõem de elementos para explica-lo. Pode incluir entrevistas, aplicações de questionários, testes e observação participante ou não (CHAVES, 2003, p. 65).
O autor Demo (apud CHAVES, 2003, p. 111) afirma que “[...] pesquisa não é um ato
isolado [...]”, “[...] mas atitude processual de investigação diante do desconhecido e
dos limites que a natureza e a sociedade nos impõem”.
Não há ciência sem pesquisa: sobretudo não há criatividade científica sem pesquisa. Não há emancipação histórica criativa sem pesquisa, compreendida como diálogo crítico com a realidade no seu dia-a-dia e como raiz política da constituição de espaço próprio, com projeto próprio de vida (DEMO, apud MARCO ANTONIO, 2003, p. 111).
O autor ainda afirma que a pesquisa é uma forma de trocar conhecimento, ou seja,
torna-se um “método de comunicação, pois é mister construir de modo conveniente
a comunicação cabível e adequada”. O ato de pesquisar garante ao cientista
material e propriedade para desenvolver um trabalho sem que haja necessidade de
reproduzir ou assistir “à comunicação dos outros”.
[...] a Pesquisa em Comunicação assume a natureza de campo interdisciplinar de estudos, envolvendo não apenas as investigações linguísticas, educacionais, jornalísticas, cibernéticas, etc. – ou seja, as pesquisas próprias das Ciências da Informação – mas englobando também as iniciativas em outras áreas das ciências humanas – sociológicas, psicológicas, históricas, antropológicas, etc (MELO, 1970, p.88).
Segundo Duarte (2006, p.63), “os ‘fatos’ só existem a partir de nossa observação. E
toda observação é orientada por um conjunto de representações e de esquemas,
por intermédio dos quais os seres humanos percebem”.
43
A pesquisa científica, em música, é um caminho pouco conhecido e, pelo que temos observado, uma das barreiras para seu desenvolvimento é a linguagem musical que precisa ser melhor definida, expandindo seu subjetivo poder de comunicação para a realidade buscada pela ciência (AMARAL, 1991, p. 43).
Inicialmente foi realizada uma parceria com a Orquestra Filarmônica do Espírito
Santo (Ofes), e a Escola Municipal Maria Madalena, localizada no bairro de Jardim
Camburi, em Vitória, ES. O objetivo foi realizar uma pesquisa com alunos do ensino
fundamental e média, de idade entre 13 a 16 anos. O método utilizado foi a
entrevista em profundidade. A pesquisa foi dividida em duas partes: 1) Entrevista
fechada; 2) Entrevista Semi-aberta. O autor Jorge Duarte (2006, p. 63), afirma que
“o uso de entrevistas permite identificar as diferentes maneiras de perceber e
descrever os fenômenos”.
Para a primeira parte da análise com a entrevista fechada, 40 alunos foram
convidados a assistir o ensaio geral da “Série Quarta Clássica – Barber e Dvorak –
Música Novo Mundo”. A apresentação realizada no dia 18 de maio, tinha como
convidado o regente Marcelo Ramos, que atualmente reside nos Estados Unidos e
já esteve sob a direção da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais por cinco anos. No
dia do evento, já que a participação dos estudantes era voluntária, 30 pessoas
compareceram, juntamente com o acompanhamento de três professores: de Artes,
de Português e Educação Física, além da pedagoga responsável pelos alunos. Para
complementar o material de pesquisa do estudo, o fotógrafo Fábio Machado e
Gabriel Lordéllo se prontificaram para colaborar com as fotografias no dia do evento.
Além disso, outras duas pessoas se ofereceram como voluntárias para colaborar
neste processo: Silvio Bento da Silva e Denise Micaella dos Anjos.
A pesquisa também tinha como objetivo estimular os alunos para um estilo musical
que não fosse comum à maioria dos jovens. Segundo Snyders, (1997, p. 78) a
escola enquanto educadora poderia desempenhar um papel voltado para a música.
A experiência mais familiar aos jovens é a da música que toma conta deles: sabem bem que a música não os prende apenas de um determinado lado, não os atinge só em um determinado aspecto deles mesmos, mas toca o centro de sua existência, atinge o conjunto de sua pessoa, coração, espírito, corpo (SNYDERS, 1997, p. 79).
44
Durante a pesquisa, vinte e sete alunos responderam já que a participação também
era voluntária. Com quatro perguntas objetivas e duas discursivas, a análise tinha
como principal objetivo verificar o perfil dos entrevistados e quais impactos a música
‘Novo Mundo’ iria causar nos alunos.
Figura 19 - Alunos respondendo a pesquisa sobre "A música como linguagem de comunicação".
Fonte: Fotógrafo Fábio Machado
Figura 20 - Entrevistados respondem o questionárioFonte: Fotógrafo Fábio Machado
45
Figura 21 - Alunos observam a Orquestra FilarmônicaFonte: Fotógrafo Fábio Machado
Sobre a entrevista fechada:
É realizada a partir de questionários estruturados, com perguntas iguais para todos os entrevistados, de modo que seja possível estabelecer uniformidade e comparação entre respostas (MELLO, 1970, P. 67).
A primeira pergunta foi: “Você já assistiu a uma apresentação da Orquestra
Filarmônica?”. O objetivo era identificar os jovens que iriam assistir a uma
apresentação da Ofes pela primeira vez: 74% dos alunos responderam que nunca
tinham assistido.
Gráfico 1 - Primeira questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
Já a segunda pergunta tinha como finalidade entender o perfil musical dos
adolescentes: “Quais tipos de música você costuma ouvir?”. A questão tinha como
alternativas para resposta os estios: pop, sertaneja, axé, funk, mpb, rap, clássica e
outros (quais?). Os entrevistados podiam escolher mais de uma alternativa.
46
Gráfico 2 - Segunda questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
Nessa segunda questão como os jovens tinham a opção de escolher a alternativa
“outros”, havia um espaço para que citassem quais outros ritmos também se
identificavam. Dessa forma, as outras opções propostas pelos alunos foram:
Gráfico 3–Continuação da segunda questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
A terceira questão fala sobre “O que a música representa para você?”. E tinha como
opções de resposta: entretenimento, som, lazer, arte, preenchimento, outros
(quais?).
Gráfico 4 - Terceira questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
47
As opções que os entrevistados apresentaram na alternativa outros foram:
Gráfico 5–Continuação da terceira questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
A quarta e última pergunta objetiva foi: “Que tipo de mensagem você acredita que a
música passou?”. As opções eram: alegria, tristeza, medo, ansiedade, criatividade,
tédio, bem-estar, tranquilidade, perturbação, sonolência, emoção positiva e outros
(quais?).
Gráfico 6 - Quarta questão da pesquisaFonte: Elaborado pelo autor
Como havia a opção outros, 100% dos alunos que marcaram essa alternativa
respondeu “encantamento”.
A quinta pergunta e a primeira discursiva foi: “Que tipo de mensagem você acredita
que a música passou?”. O objetivo era conhecer como os alunos entenderam a
música enquanto linguagem de comunicação. Que tipo de sentimentos ou alterações
eles puderam perceber e qual o impacto causado. Apenas quatro alunos
48
responderam que nada havia mudado ou não sabiam identificar as mudanças. Os
demais alunos pronunciaram que estavam satisfeitos e apresentaram mudanças
após assistirem a apresentação. Um dos entrevistados citou:
Que conhecer outro tipo de música faz bem a vida traz mais conhecimento, me trouxe emoção e fiquei encantada ao ouvir. Não é porque é clássica que ela tem que ser chata, pois não é. Gostei e devemos nos habituar a conhecer outros gostos (ENTREVISTADA, 2011).
Outros alunos citaram sobre a importância de conhecer a música clássica e o
ensinamento aprendido após assistir o ensaio. “De alegria, de prestar atenção e
saber ouvir mais e falar menos” (Entrevistado, 2011). Alguns dos entrevistados não
conseguiram definir com clareza os tipos de sentimentos que a música trouxe. “Ela
uma hora me deixa meio triste e com ansiedade, além de vários outros tipos de
sentimentos. Foi muito bom” (Entrevistado, 2011).
Sabemos da alegria que os jovens encontram em comunicar-se com “outros” jovens, com “outras” pessoas, graças a suas músicas, através de suas músicas: escapando às barreiras das linguagens, vivem a diversidade, acolhem a diversidade, levam em conta as diferenças – e isto lhes parece com frequência ser o valor essencial; na escuta e na atividade musicais, eles conseguem dividir, o que é a sua forma mais satisfatória de respeitar; cada um pode ter a sua parte da música, e é talvez nela que estejamos mais internos. A noção de tolerância é, de longe, ultrapassada (GEORGES SNYDERS, 1997, p. 84).
A sexta e última questão era: “O que você acha que mudou após assistir a um
ensaio geral da Orquestra Filarmônica?”. Os alunos nessa questão apresentaram o
que acreditaram que mudou. “Minha autoestima melhorou e eu aprendi novos tipos
de sons e novos instrumento muito interessante que eu nunca tinha visto antes”
(Entrevistada, 2011).
Outro entrevistado falou sobre a oportunidade de conhecer a orquestra: “[...] eu
nunca tinha assistido uma apresentação da orquestra. Achei legal, uma das coisas
que eu nunca tinha visto e tive essa oportunidade”. A mudança de hábitos também
fez parte das respostas dos entrevistados. “Mudou um jeito meu de ver a música que
era só o que eu ouvia. Música clássica é ótima” (Entrevistada, 2011).
49
A sensibilidade dos alunos também foi aguçada ao assistir a apresentação. “Mudou
a minha criatividade. Quero vir aqui sempre que eu puder” (Entrevistado, 2011). “O
modo de pensar sobre a música. Música clássica é uma música suave e
tranquilizante” (Entrevistado, 2011).
Figura 22 - Alunos assistem a apresentação da peça "Novo Mundo", de Antonín Dvorák.Fonte: Fotógrafo Fábio Machado
O ensaio geral foi realizado com a presença dos músicos da Orquestra Filarmônica
do Espírito Santo (Ofes) e conduzida pelo maestro convidado Marcelo Ramos.
Figura 23 - Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes) ensaia a peça "Novo Mundo".Fonte: Fotógrafo Fábio Machado.
Após os alunos assistirem a apresentação, o maestro Helder Trefzger contou na
recepção do Teatro Carlos Gomes um pouco sobre a história do compositor e da
obra “Novo Mundo”. A obra Novo Mundo foi criada em 1893 pelo compositor Antonín
Dvorák. O autor da obra foi inspirado no estilo das músicas dos negros e dos índios
50
e foi uma encomenda da Orquestra Sinfônica de New York. O nome “Novo Mundo”
simbolizava o continente americano. A obra é tocada até os dias atuais por
orquestras do mundo todo.
Figura 24 - Alunos conversam com o maestro Helder TrefzgerFonte: Fotógrafo Fábio Machado.
Figura 25 - Alunos e colaboradores se reúnem em frente o Teatro Carlos Gomes.Fonte: Fotógrafo Fábio Machado
5.2 A PESQUISA – ENTREVISTA SEMI-ABERTA
Para realizar a pesquisa com a entrevista semi-aberta foram escolhidos cinco alunos
(três do sexo feminino e dois do sexo masculino) que já tinham participado da
primeira parte da pesquisa de campo. Os estudantes foram selecionados a partir dos
depoimentos da entrevista fechada (VER ANEXO A).
Sobre a entrevista semi-aberta, é o
51
Modelo de entrevista que tem origem em uma matriz, um roteiro de questões que dão cobertura ao interesse de pesquisa. Ela “parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante” (TRIVIÑOS, apud DUARTE, p. 66).
Segundo o autor Jorge Duarte (2006, p. 67), esse tipo de pesquisa parte da origem
do problema. A segunda parte da pesquisa foi realizada no dia 24 de maio de 2011.
O objetivo era compreender e apurar quais os efeitos que a linguagem musical
provocou nos alunos após assistirem a um ensaio geral da Orquestra Filarmônica do
Espírito Santo. O roteiro foi desenvolvido com questões semi-estruturadas e a
abordagem foi em profundidade.
Com base na observação, a pesquisa pode comprovar o potencial que a música tem
como linguagem. Uma das entrevistadas citou:
A música transmite em palavras. Não importa qual é a mensagem que ela transmite. Tanto é que eu que gosto de todos os estilos ouço às vezes música japonesa. Mesmo não entendendo completamente o idioma consigo entender a mensagem que a música quer passar. A música me completa (ENTREVISTADA 1, 2011).
Os entrevistados da pesquisa também citaram que a música “é uma forma de
comunicação e de interação”. Ou ainda: “A música é uma forma de comunicar
diferente. Através do ritmo conseguimos identificar o que a música quer te passar”.
Uma das entrevistadas citou o efeito que a música causou: “Antes da apresentação
eu estava muito agitada por conta das provas. Mas depois de assistir a
apresentação fiquei muito calma”.
Para o encerramento da pesquisa semi-aberta, foi solicitado aos alunos que
resumissem a música em apenas uma palavra. Um respondeu comunicação, três
responderam tranquilidade e o último respondeu prazer.
6. CONCLUSÃO
52
Como o próprio título do trabalho sugere, a música é uma linguagem de
comunicação significativa tanto para interação social, quanto para o crescimento da
formação cultural. Foi possível analisar por meio da pesquisa observacional, a forma
que os receptores percebem esse meio de comunicação.
A grande maioria dos entrevistados afirmou que desconheciam o trabalho da
Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes). Durante a realização da pesquisa,
uma das entrevistadas comparou a sensação de ouvir a música com comer
chocolate. Outro entrevistado afirmou que ao assistir a apresentação lembrou-se das
músicas feitas em filme associando a utilização da música clássica no cinema.
Outros alunos que participaram da pesquisa também afirmaram que após assistirem
o ensaio da orquestra tiveram desejo de aprender um instrumento.
A música como uma língua gera impactos significativos no ser humano. Com base
nessa pesquisa, os alunos saíram transformados. Alguns disseram que vão passar a
ouvir música clássica. Ou seja, o som pode transformar realidades, pode enquanto
linguagem de comunicação mudar vidas e transformar hábitos.
Durante a pesquisa foi facilmente observada a reação dos alunos. Pelo fato de a
música “Novo Mundo” ouvida pelos estudantes durante a pesquisa ter partes
tranquilas e outras agitadas, alguns alunos apresentaram reações como, tristeza e
alegria, tédio e ansiedade. Um dos entrevistados informou que não soube definir
qual sentimento ao certo ele identificou.
A música pode ter um papel fundamental no desenvolvimento e crescimento do
homem. Pode-se concluir que a participação das orquestras como, formação cultural
nas escolas, poderá incentivar no interesse da música e o descobrimento de novos
talentos.
7. REFERÊNCIAS
53
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IMPRENSA BIBLICA BRASILEIRA. Disponível na Bíblia Sagrada em: Livro de
Josué. Capítulo 5 e 6. 69ª impressão RJ, 1988. Traduzida em português por João
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56
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WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: Uma outra história das músicas. São
Paulo : Companhia das Letras, 1989.
58
ANEXO A – QUADRO DOS SELECIONADOS PARA A SEGUNDA PESQUISA
Entrevistada 113 anos
Entrevistado 214 anos
Entrevistada 314 anos
Entrevistada 416 anos
Entrevistado 513 anos
Você já assistiu a uma
apresentação da Orquestra
Filarmônica?
Não Sim Não Não respondeu Não
Quais tipos de música você
costuma ouvir?Pop; Rock
Pop; Sertaneja; Axé; Funk; Rap;
ClássicaPagode Pop; Clássica Pop; Rock
O que a música representa para
você?Preenchimento Lazer; Arte Preenchimento Expressão da
almaEntretenimento;
Lazer
Qual sensação você teve ao
assistir a apresentação?
Bem-estar; Tranquilidade;
Emoção positiva
Bem-estar; Tranquilidade;
Emoção Positiva
Criatividade; Tranquilidade;
Sonolência
Alegria; Tristeza; Bem-
estarEmoção positiva
Que tipo de mensagem você acredita que a
música passou?
A música traz uma mensagem
indescritível, uma emoção
capaz de trazer tranquilidade em
um simples acorde. Um
bem-estar que nada mais além
da música é possível sentir.
De alegria, de prestar atenção: saber ouvir mais e falar menos.
Para mim a música
transmite calma e tranquilidade.
Paz e tristeza. Pois lembra
momentos bons e ruins da vida.
Que a música pode
representar qualquer
sentimento
O que você acha que mudou após
assistir a um ensaio geral da
Orquestra Filarmônica?
Não mudou muita coisa pois
eu cresci ouvindo grande parte da música
clássica. Mas ouvir de perto,
ver como é tocado cada instrumento delicado, é
completamente diferente. Agora
eu sinto mais vontade de
aprender a tocar algum
instrumento, ou simplesmente voltar a tocar flauta-doce.
A minha maneira de ver as músicas de orquestras e apreciá-las.
Nada. Pois eu não gosto muito
desse tipo de música.
A maneira de pensar sobre a
música.
Vou passar a ouvir música
clássica.
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ANEXO B – PESQUISA SEMI ABERTA
1) Qual a sua relação com a música? Qual é a importância que ela tem na sua
vida?
Entrevistada 1: A música transmite em palavras. Não importa qual é a mensagem
que ela transmite. Tanto é que eu que gosto de todos os estilos ouço às vezes
música japonesa. Mesmo não entendendo completamente o idioma consigo
entender a mensagem que a música quer passar. A música me completa.
Entrevistado 2: Ela acalma. É uma forma de comunicação e de interação.
Entrevistada 3: Eu gosto muito de música porque ela me faz ficar calma. Ela
geralmente passa mensagens boas e que estão na nossa realidade, só não consigo
ouvir quando estou estudando.
Entrevistada 4: A música traz alegria e tristeza ao mesmo tempo. Sinto a mesma
alegria ao comer chocolate. Eu não passo o dia ouvindo música, mas antes de
dormir eu ouço uma música da Britney Spears três vezes. Eu me sinto melhor.
Entrevistado 5: A música é uma forma de comunicar diferente. Através do ritmo
conseguimos identificar o que a música quer te passar. Eu passo o dia inteiro
ouvindo música, só assim eu consigo me concentrar.
2) Quando você soube que iria participar de uma pesquisa sobre música, o que
você sentiu?
Entrevistada 1: Na mesma hora eu aceitei. Gostei muito.
Entrevistado 2: Assim que soube não tinha certeza se gostaria de ir. Mas depois me
animei e resolvi participar.
Entrevistada 3: Eu pensei a princípio que iria ser chato. Mas acabei aceitando
60
Entrevistada 4: Por ser uma atividade fora da escola me animei.
Entrevistado 5: Eu fiquei muito alegre. Eu nunca tinha ido numa apresentação como
essa.
3) E a sua família o que achou?
Entrevistada 1: Eu sempre fui influenciada pela minha família a ouvir música. Meu
pai é músico e gostou muito e me incentivou.
Entrevistado 2: Minha família reagiu de forma natural.
Entrevistada 3: Minha família achou bem legal. Principalmente porque eu nunca
tinha visto. Quero muito voltar para levar eles para conhecerem também.
Entrevistada 4: Meu pai apenas assinou a liberação. Eu geralmente converso mais
com a minha mãe e ela estava viajando. Acabei não dividindo com a minha família.
Entrevistado 5: Minha mãe gostou muito. Quando voltei contei para ela que tinha
visto como eles fazem as músicas que tocam nos filmes.
4) O que você sentiu ao assistir o ensaio geral da Orquestra Filarmônica?
Entrevistada 1: Eu tinha ficado muito ansiosa para conhecer. Eu reconheci o
instrumento que eu toco (flauta doce), mas acabei conhecendo outros que não
conhecia.
Entrevistado 2: Fiquei calmo e animado ao mesmo tempo.
Entrevistada 3: Antes da apresentação eu estava muito agitada por conta das
provas. Mas depois de assistir a apresentação fiquei muito calma.
Entrevistada 4: Mudou a maneira de ouvir a música.
61
Entrevistado 5: Em mim não mudou. Mas fiquei muito satisfeito pela chance de
conhecer um novo estilo. Agora eu sei como as músicas que tocam nos filmes são
feitas. Sempre que assisto alguma coisa que tenha música clássica eu lembro da
apresentação.
5) Que tipo de instrumento você gostaria de aprender?
Entrevistada 1: Eu gostaria de aprender o violão. O som dele me passa uma
sensação boa.
Entrevistado 2: Eu sempre quis aprender violão.
Entrevistada 3: Eu gostaria de aprender a tocar violão. Porque com esse instrumento
você consegue tocar qualquer tipo de música.
Entrevistada 4: Antes eu aprendia violão. Mas depois de assistir o ensaio eu quero
aprender violino.
Entrevistado 5: Eu já toco um pouco de piano e agora quero começar a aprender
violino.
6) Se você precisasse resumir a música em uma palavra: qual seria?
Entrevistada 1: Comunicação.
Entrevistado 2: Tranquilidade.
Entrevistada 3: Tranquilidade.
Entrevistada 4: Tranquilidade.
Entrevistado 4: Prazer.
62
ANEXO C
63
ANEXO D – CONTRATO DE TRANSPORTE
64
ANEXO E
65
ANEXO F – MODELO DO TERMO TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM
(FOTO E VÍDEO)No próximo dia 18 de maio os alunos da oitava série do período matutino irão
participar de uma pesquisa de campo assistindo a uma apresentação da Orquestra
Filarmônica do Espírito Santo (Ofes), no Teatro Carlos Gomes. O projeto faz parte
de um trabalho de conclusão de curso da aluna Natália Bento da Silva, do curso de
comunicação social – jornalismo, da Faculdade Estácio de Sá Vitória, e tem como
objetivo avaliar qual o impacto que a música tem como forma de comunicação por
meio dos sentidos e das emoções que as melodias provocam nas pessoas.
Dados do (a) Aluno (a)Nome:____________________________________________________________
RG:______________________________________________________________
Telefone:__________________________________________________________
Dados do Responsável:Nome:______________________________________________________________
RG:________________________________________________________________
Telefone:____________________________________________________________
Por esta e melhor forma, autorizo Natália Bento da Silva, com o projeto “A música
como linguagem de comunicação”, em parceria com a Orquestra Filarmônica do
Espírito Santo (Ofes) e EMEF Maria Madalena, a utilizar a imagem do aluno (a)
___________________________________________ com o meu prévio
consentimento, para ilustrar como evidências a pesquisa através de fotos e
filmagens.
A presente AUTORIZAÇÃO, que se faz firme e valiosa, é concedida a título não
oneroso sem qualquer limitação quanto ao tempo, território e será respeitada por
mim.
_____________________________(local), ____ de_____________ de 2011.
__________________________________
Assinatura do Responsável
66
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial deste TCC por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
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Assinatura Local Data