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*Graduandos do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia Campus XI. ** Professor Orientador
A paisagem, o espaço urbano e a influência exercida pelas urbanidades e ruralidades no bairro da Cidade Nova em Serrinha-Ba hia
Anilailton Cardoso da Silva* [email protected]
Lucicléia Silva Cardoso* [email protected]
Cláudio Ressurreição do Santos** [email protected]
Resumo
Perante as novas transformações que vêm ocorrendo nos espaços urbanos e rurais, sobretudo no que se refere ao encontro dessas áreas, bem como da ampliação dos meios de comunicação, capaz de integrar as diversas culturas e modo de vida, não mais é possível falar do rural e do urbano com as mesmas características, essa nova realidade vem dando lugar as chamadas ruralidades e urbanidades, que ocorrem justamente quando esses espaços passam a influenciar no modo de vida, ações e organizações do espaço. Com base nesta discussão este artigo pretende analisar, a partir da paisagem, a existência de ruralidades e urbanidades no bairro da Cidade Nova na cidade de Serrinha-Ba, buscando compreender os fenômenos influenciadores para tal fenômeno e como isto vem se refletindo na dinâmica espacial do bairro, assim como na vida dos moradores. Para tanto foi necessário a realização de visitas ao espaço em estudo, bem como a aplicação de formulários entre alguns moradores para uma posterior reflexão, pautada nos referenciais teóricos elencados. Assim foi possível perceber as mudanças na paisagem do centro do bairro aos limites exteriores da cidade, onde se passa de objetos do mundo urbano para o rural.
Palavras Chaves: Ruralidades e urbanidades; paisagem; bairro; Cidade Nova.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca uma reflexão acerca do bairro da Cidade Nova que faz
parte da cidade de Serrinha-Ba, a partir da perspectiva da categoria geográfica Paisagem,
através da qual será possível identificar alguns elementos reveladores das urbanidades e
ruralidades existentes no mesmo. Tal fenômeno vem ocorrendo, sobretudo, mediante as
transformações impressas no local após a implantação de algumas indústrias, o que
ocasionou um aumento no número de moradores e conseqüentemente a expansão da
área. Esta expansão vem avançando e incorporando áreas do campo gerando assim uma
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grande dificuldade de delimitação de ambas as áreas, principalmente entre os moradores,
os quais definem os limites a partir de seus próprios referenciais. Além disso, como a
cidade de Serrinha não possui uma divisão oficial dos bairros, esta situação torna-se
ainda mais delicada.
A importância deste estudo é o fato de considerar como as ruralidades e
urbanidades influenciam na dinâmica espacial do bairro já que a expansão urbana deste
local não foi orientada por um planejamento integrado e as necessidades de infra-
estrutura são visíveis na paisagem, contribuindo assim para a não delimitação entre
urbano e rural, sendo a parte central do bairro caracterizado por urbanidades e as áreas
periféricas por ruralidades. A percepção de limites entre o rural e o urbano praticamente
desapareceram, deixando apenas marcas de ruralidades em harmonia com as
urbanidades.
Dessa forma, o objetivo principal desse artigo é identificar e analisar elementos das
urbanidades e ruralidades na paisagem do bairro da Cidade Nova, pretendendo, a partir
disso, expor quais características são predominantes e como o modo de vida dos
moradores reafirma uma destas categorias. Para isso, tornou-se necessário analisar a
relação entre rural e urbano in loco, bem como investigar como as ruralidades e
urbanidades influenciam na dinâmica espacial do Bairro. O alcance dos objetivos
propostos se deu mediante a realização de algumas etapas de trabalho, inicialmente com
um levantamento bibliográfico que trata da discussão referente à temática em estudo e
através desse procedimento buscou-se o conhecimento então existente sobre a dinâmica
produzida entre ruralidades e urbanidades, observando a importância do estudo sobre o
tema para a ciência geográfica. Num segundo momento, foi realizado um levantamento
de informações sobre o bairro da Cidade Nova a partir de fontes cedidas por alguns
órgãos públicos como Secretaria de Saúde do município, Embasa e Coelba, seguido de
observação in loco. Tomando como base os dados adquiridos e a partir de referenciais
teóricos, realizou-se a elaboração de formulários e sua aplicação aos moradores de
diferentes pontos do Bairro, buscando apreender a dinâmica da vida social percebida por
seus sujeitos nas relações que estabelecem entre o rural e o urbano e as manifestações
referentes às urbanidades e ruralidades.
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2 A PAISAGEM, O ESPAÇO URBANO E A INFLUÊNCIA EXERCI DA PELAS
URBANIDADES E RURALIDADES
A paisagem na Geografia refere-se às formas, aos objetos materiais que são
perceptíveis à nossa visão humana. Portanto, tudo o que vemos e que é apreensível aos
nossos sentidos pode ser chamado de paisagem. Santos (2008) afirma que “tudo que
nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o
domínio do visível, aquilo que a vista abarca. É formada não apenas de volumes, mas
também de cores, movimentos, odores” (p.67-68).
Ainda em consonância com o autor, a paisagem é um produto da sociedade e é
elemento revelador das relações sociais, dos sentidos e das funções imbricadas nas
formas. Portanto a paisagem demonstra, torna apreensível a partir do que se enxerga,
os significados de símbolos e signos, de como se dá o funcionamento da sociedade,
seria assim o retrato, a fotografia dinâmica, o palpável, a concretude de como o espaço é
produzido.
A paisagem como um produto histórico evidencia através das formas o contexto
social no qual foi produzida, uma paisagem representa diferentes fases do
desenvolvimento de determinada sociedade.
A apreensão da paisagem se dará de forma diferenciada a depender da posição,
localização do observador, do ângulo em que é visualizada, bem como a subjetividade
do observador. Cada pessoa fará leitura diferente de uma mesma paisagem.
A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos. Por isso o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato (IDEM, p.68).
Sendo assim, num estudo mais aprofundado sobre determinada paisagem é
necessário ultrapassar os limites da aparência e interpretar o conteúdo, as reais funções
imbricadas na paisagem para a sistematização do conhecimento sobre o que é
observável.
Deve-se ainda levar em conta a mobilidade e mutabilidade da paisagem que de
acordo com Santos (2008), não é fixa nem imóvel. A paisagem está em contínua
transformação de acordo com os processos, os ritmos de mudança da sociedade,
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criando novas necessidades, tendo que se adaptar e acompanhar as transformações e
necessidades que surgem decorrência e num espaço e tempo específicos. “A paisagem
é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de
ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério. A
paisagem é sempre heterogênea”. (IBIDEM, p.71).
Nessa perspectiva a sociedade vem ao longo do tempo artificializando a
paisagem, aumenta-se dessa forma a densidade técnica e os objetos artificiais tornam-
se cada vez mais predominantes.
As paisagens artificiais são o resultado da evolução dos modos de produção e
esses processos produtivos culminam a “necessidade” de novas formas, da modificação
da paisagem. Sendo assim, a paisagem, mesmo que sua forma não seja inteiramente
modificada, sua função se organiza em consonância com a produção do espaço,
produzir espaço é também produzir e reproduzir paisagens. A paisagem atende a lógica
produtiva do contexto histórico, político e cultural na qual surge e modifica-se para
adaptar-se, acompanhar momentos históricos subseqüentes.
Como a sociedade torna-se cada vez mais complexa, a paisagem torna-se
concomitantemente mais heterogênea, integrada, sistêmica. Em suma a paisagem pode
ser definida como o conjunto de objetos materiais visíveis no espaço, sendo que sua
utilidade e finalidade vão além do que é aparente.
2.1 Espaço Urbano: um produto da sociedade
Falar da cidade ou do espaço urbano tem sido uma tarefa um tanto desafiadora,
não somente no que diz respeito a seu entendimento e abrangência, mas, também por se
tratar de um espaço resultante dos fatores sociais, econômicos, culturais e histórico da
sociedade que o compõe e, portanto com características singulares. A cidade é um
espaço da diversidade, composta por inúmeros atores, por diversas cores e sentidos, é o
locus de reunião dos mais variados grupos sociais, que reúne gente do urbano e também
do rural, pobre e rico, e sendo ela também um produto atual, mas principalmente histórica,
e, portanto difícil de definir. Segundo Harvey a cidade “é a expressão concreta de
processos sociais na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço geográfico”.
(HARVEY, apud SANTOS, 2005. p 121).
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Complementando esta discussão, Corrêa (2002, p. 15), afirma que “o espaço
urbano é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e
engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. Percebe-se assim, que o
espaço urbano, aqui referenciado como a cidade, não surge do nada, ele é produzido ao
longo de uma história e carrega os traços das ações de seus agentes do passado e do
presente, impressas nas suas formas espaciais.
A cidade também é o resultado dos diferentes usos da terra a que é submetida,
definindo desta forma as áreas centrais que na maioria das vezes concentra o comércio,
serviço e gestão pública, áreas industriais, residenciais etc. os mesmos se diferenciam
tanto na forma como no conteúdo. No entanto estes espaços se encontram de alguma
forma correlacionados, como aponta Corrêa (2002), onde ele diz que “o espaço urbano é
simultaneamente fragmentado e articulado: cada uma de suas partes mantém relações
espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável” (p. 07).
Tais espaços se concretizam a partir principalmente dos bairros que compõe a
cidade e conseqüentemente das suas especificidades. Enquanto categoria conceitual, as
discussões a respeito do bairro, ainda é muito ínfima, no entanto, dentre as poucas
discussões,
O bairro está intimamente ligado à evolução e a natureza da cidade: o bairro é uma unidade morfológica e estruturalmente, caracterizado por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por uma função, o bairro é também um fato social baseado na segregação de classe ou de raça, nas funções econômicas (ROSSI, apud, SERPA, 2007 p 28).
Com base na afirmação acima e também a partir das discussões apreendidas por
Corrêa a respeito da segregação do espaço urbano, pode-se ainda acrescentar a esta
categoria “o bairro” a partir de certas uniformidades não só nos aspectos
socioeconômicos e raciais, mas também pela atividade ou perfil de trabalho
desempenhado pelos moradores ou mesmo pela origem de seus moradores, como um
bairro de operários e um bairro de imigrantes, etc.
Os bairros, especificamente de cidades pequenas, não possuem delimitações
oficiais, sendo, portanto, delimitados pelos moradores de forma divergente e indefinida.
Ante a essa indefinição e diferenciação nos limites do bairro Lynch afirma que “os bairros
têm diversas espécies de fronteiras, algumas são fortes, definidas e precisas, outras
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podem ser ligeiras ou incertas” (LYNCH, apud SERPA, 2007, p.27). Souza também
contribui com esta discussão ao afirmar que “as pessoas inconsciente ou
conscientemente sempre demarcam seus bairros, a partir de marcos referenciais”.
(SOUZA, apud SERPA, 2007, p.27)
2.2 A influência exercida pelas ruralidades e urban idades na cidade e no campo
As relações existentes entre campo e cidade são difundidas cada vez mais e
apresentam diversas facetas capazes de dar novos sentidos a esses espaços tão
dinâmicos. Falar de campo e cidade é, portanto, falar sobre espaço “rural” e espaço
“urbano”, em que “Campo e cidade são formas concretas, materializam-se e compõem as
paisagens produzidas pelo homem; ‘urbano’ e ‘rural’ são representações sociais,
conteúdos das práticas de cada sujeito, cada instituição, cada agente na sociedade”
(BIAZZO, 2009, p. 276).
Assim, numa visão imediata, aquilo que se entende por rural são as ações
praticadas pelo homem no espaço do campo e o urbano como aquelas ações
implementadas pelas pessoas no espaço citadino. Porém, atualmente podem ser
encontrados aspectos do urbano no campo e aspectos do rural na cidade e dessa forma,
estão atrelados principalmente através do processo do trabalho, e parafraseando Biazzo
(2009) novamente, “não há como traçar limites qualitativos entre um ‘mundo rural’ e um
‘mundo urbano’, pois estão associados em suas relações” (p. 276). Dessa frma, as
ruralidades e as urbanidades encontram-se entrelaçadas, de modo que as fronteiras entre
elas tornam-se cada vez mais complexas.
A inserção de práticas diversificadas dinamizando as formas de produção, bem
como o surgimento de tecnologias e o alcance destas pelas pessoas em qualquer parte
do mundo têm feito com que trabalhadores em geral e habitantes do campo sejam
influenciados por ritmos novos de trabalho e de vivência, provocando modificações em
seus modos de vida e em conseqüência disso a dinâmica do espaço rural é também
alterada pela incorporação de novas formas e novas funções. O mesmo ocorre com o
espaço urbano, podendo ser encontrados manifestações de vidas atreladas às
características campestres – principalmente nos limites de transição entre urbano e rural –
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devido em boa parte pela inserção de técnicas modernizadas no campo, fazendo com que
algumas pessoas migrem para as cidades em busca de trabalho.
O contexto acima revela a presença de dois fenômenos da geografia: as
ruralidades e as urbanidades, que na visão de Biazzo (2009, p. 276) “são racionalidades
ou lógicas. Manifesta-se por meio de nossos atos, através das práticas sociais,” e
Associadas à economia, as ruralidades seriam a revitalização de práticas de produção orgânica nas atividades agrárias, o turismo rural em espaços campestres e os mercados futuros de comodities em espaços citadinos [...]. Associadas à cultura , envolvem a busca de uma reaproximação da natureza pela população citadina, os hábitos de origem country, o sucesso de músicas sertanejas, entre muitos outros [...]. Por outro lado, as urbanidades associadas à economia se manifesta através de complexa divisão social do trabalho, redes técnicas, de transporte e comunicação, tanto no campo quanto na cidade. (IDEM, p. 276).
Dessa forma, as ruralidades e as urbanidades encontram-se cada vez mais
imbricadas nos espaços, podendo ocorrer com maior ou menor intensidade. Tem-se,
portanto, o fato de que a presença de atividades agrárias em um espaço não se configura
única e obrigatoriamente como um espaço rural e vice-versa.
Sendo assim, numa análise imediata, o fato de se identificar ruralidades no bairro
da Cidade Nova não significa que se trata de um bairro totalmente rural, mas de um
embricamento dos dois conceitos em discussão.
3 CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO DA CIDADE NOVA
Partindo destas discussões a respeito de bairro, buscou-se por meio de uma
pesquisa analisar o bairro da Cidade Nova na cidade de Serrinha, em que a partir de
fontes adquiridas em trabalho de campo (2010), verificou-se que o mesmo tem sua
origem montada em parte devido a função dos seus moradores, estes de origem de
municípios vizinhos, configurando de certa forma em um bairro de imigrantes.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o bairro, possui atualmente cerca de
3.447 habitantes, distribuídos em 1.857 residências, além de 145 estabelecimentos
comerciais como lojas, supermercados, farmácias, etc. e mais 116 outros
estabelecimentos diversos. É possível verificar também a existência de um posto da
policia militar, quatro escolas públicas e um posto 24 h do Banco do Brasil. Estes dados
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enfatizam ainda mais o crescimento do bairro, não só da população como também da
infra-estrutura disponibilizada e que não é verificada em outros bairros, e que este tem
sido um dos fatores determinantes para a existência das ruralidades e urbanidades
verificadas no mesmo.
Com base em entrevista com antigos moradores do bairro (2010), a origem desse
recorte espacial está estreitamente ligada ao surgimento de um bairro vizinho, o bairro da
Urbis, em que os trabalhadores responsáveis pela construção das casas nesse bairro,
(inicialmente casas populares) passaram a viver no bairro da Cidade Nova impulsionando
o seu povoamento, daí sua relação com os bairros operários, discutidos por Corrêa
(2002). Como esses trabalhadores eram originários de outros municípios como Biritinga,
Araci, Lamarão, entre outras e foram eles os primeiros moradores a nomeação das ruas
do bairro da Cidade Nova levam o nome desses municípios, confirmando mais uma vez a
tendência proposta por Corrêa (2002) dos bairros de imigrantes (Figura 1).
Contudo, assim como os demais bairros de Serrinha, a Cidade Nova não possui
limites definidos pelo poder público, mas apenas limites estabelecidos por órgãos como
Figura 1: Croqui do bairro da Cidade Nova em Serrinha
Fonte: www.saude.ba.gov.br/mapa
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Coelba, Embasa e pelos próprios moradores. Mesmo entre os moradores não há
consenso a respeito dos limites do bairro, principalmente em se tratando daqueles que se
encontram nas áreas periféricas em relação aos que vivem nas áreas mais centrais.
4 URBANIDADES E RURALIDADES E SUAS IMPLICAÇÕES NO B AIRRO DA CIDADE
NOVA
A partir do estudo e análise do bairro da Cidade Nova nota-se que a maioria dos
seus moradores possui características de classe com baixo poder aquisitivo,
sobrevivendo com renda que varia de 1 a 3 salários mínimos, típico de bairros
proletariados como mostra o gráfico abaixo.
Elaboração: NUNES, Manuelle.
O bairro não apresenta uma divisão oficial, porém os moradores e alguns órgãos
como a Coelba e a Embasa estabelecem uma divisão, sendo essas definições bem
próximas, principalmente entre os órgãos apontados, os quais estabelecem os seguintes
limites para o bairro: a BR 116, a Avenida ACM, a linha de trem e a ponte conhecida
popularmente como ponte de Zé de Dedé demarcando as principais referências de
limites. Contudo entre os moradores ainda há certa divergência, sobretudo em se tratando
dos moradores situados mais ao centro em relação aqueles que vivem nas áreas
limítrofes, estes últimos muitas vezes se consideram pertencentes à comunidade rural,
mesmo que para os órgãos administrativos (Embasa e Coelba) eles sejam considerados
como pertencentes ao bairro da cidade nova.
Gráfico 1. Renda mensal dos moradores
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Dentre essas referências, ou “marcos referenciais” denominados por Souza (apud
SERPA, 2007), identifica-se que a falta de consenso dos limites do bairro da Cidade
Nova, está associada a um fenômeno não muito conhecido, mas bastante comum, que é
o encontro entre as áreas aparentemente urbanas e áreas rurais. Este fato se dá na
grande maioria pela expansão dos bairros, ou seja, das áreas urbanas que tendem a
invadir o espaço rural, transformando-o em muitos aspectos. Esta tem sido a realidade do
Bairro da Cidade Nova, o qual vem se expandindo a um ponto de apresentar o que vem
sendo discutido como urbanidades e ruralidades, que ocorre à medida que estes espaços
passam a influenciar simultaneamente no modo de vida das pessoas e mesmo na
configuração do espaço.
No que se refere às urbanidades e ruralidades encontradas nesse bairro, nota-se
que à medida que se afasta do centro, há uma tendência no aparecimento de aspectos
condizentes ao modo de vida rural, bem como na infra-estrutura disponibilizada ao
mesmo. Assim, quase toda a atenção em infra-estrutura, comércio e transportes é
direcionada à área central do bairro, o qual é inteiramente asfaltado, com esgotamento
sanitário, água canalizada, entre outros, enquanto a “periferia” possui apenas água
encanada e o esgoto a céu aberto, ou, seja sem infra-estrutura adequada. Tais fatos
podem ser perceptíveis a partir dos aspectos visíveis da paisagem (Santos, 2008) que
revela as formas e funções existentes (Foto 1).
Foto 01. Rua limítrofe no Bairro da Cidade nova
Fonte: SILVA, Lorena
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Outro aspecto que caracteriza as ruralidades pode ser identificado nos modos de
vida dos moradores desta área, na qual percebeu-se hábitos tipicamente rurais como: a
criação de aves engaioladas, porcos, galinhas, além de plantações de hortaliças, milho e
feijão nos limites das próprias residências (quintais), que para Biazzo (2009) manifesta-se
por meio das práticas sociais visando reaproximar a cultura da cidade a hábitos da vida
rural como pode ser vista na foto 2, a criação de galinhas na área urbana da Cidade
Nova.
Alem disso, não só no bairro da Cidade Nova, mas na cidade de Serrinha como um
todo e que está totalmente atrelado ao rural, é o uso de carroças, no transporte de
mercadorias pesadas, em substituição dos carros, esta realidade demonstra como o rural,
penetra no urbano, através de uma prestação de serviço, antes considerada de caráter
rural. Esses elementos reafirmam a presença das ruralidades, existentes no bairro da
cidade nova em que apesar de ter também transporte coletivo, percebe-se que as
relações cotidianas entre motorista e moradores são solidárias e afetivas, como se não
houvesse uma intenção mercadológica.
Os elementos até então analisados, estão em uma perspectiva paisagística, ou
seja, que pode ser percebida a partir dos sentidos, por meio de uma análise visual e,
portanto mais fáceis de serem identificados, mesmo que por diferentes concepções.
Fonte: CARDOSO, Lucicléia.
Foto 02. Criação de Galinhas – Cidade Nova
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Entretanto, existe uma infinidade de elementos, que podem se apresentar invisíveis e que
somente por meio de uma análise mais direta e vivenciada é possível de serem
percebidos.
Assim, a pesquisa revelou também a presença muito forte das ruralidades nos
hábitos de alguns moradores, nos contatos diretos e pessoais da comunidade, na
alimentação, e nas festas. Uma dessas características identificadas diz respeito a
realização da Festa do Bom Pastor, sendo esta uma festa religiosa que reúne fieis de
vários bairros da cidade que fazem parte desta paróquia, além de pessoas de outras
cidades vizinhas. A mesma é caracterizada pelas diversidades de atrações, não ficando
preso apenas a cultos e missas. Bingos, leilões e bandas musicais são algumas das
atrações mais requisitadas, sem falar nas barraquinhas que vendem desde alimentos até
roupas.
Essa festa tem como finalidade arrecadar fundo para a Igreja desenvolver seus
projetos na comunidade. Para isso, conta com a mobilização da comunidade que se une
para a organização dos preparativos, trabalhando em conjunto, traços típicos do “mundo
rural”. Pode ser citada também a festa do São Pedro em que pode ser percebida a
proximidade entre as pessoas, as apresentações dos grupos de quadrilha atraindo tanto
os jovens quanto as crianças e os idosos. Porém, essa festa vem perdendo parte de seu
caráter rural, uma vez que hoje é organizada não mais apenas pelos moradores do bairro,
mas, sobretudo pela Prefeitura Municipal, que vem introduzindo elementos com
características urbanas, como bandas instrumentais, antes de caráter apenas rural.
No entanto, não se pode perder de vista que a lógica capitalista é propulsora e
disseminadora das diversas culturas e que, portanto, as áreas rurais se encontram
altamente influenciadas pelo modo de vida urbano, principalmente no que tange aos
meios de comunicação. Neste sentido é possível verificar no local de estudo, na transição
urbano/rural que este último também é portador de elementos tidos como urbano, tais
como: ar condicionado, TV a cabo, internet, etc, caracterizados enquanto urbanidades.
É plausível assim, inferir que o bairro da Cidade Nova, apresenta elementos rurais
e urbanos, caracterizados enquanto urbanidades e ruralidades, o mesmo é reflexo de
uma tendência do crescimento deste bairro, que teve uma grande contribuição a partir da
implantação da fábrica de calçados, pois atraiu uma grande quantidade de moradores.
Mas, também é necessário salientar que a cidade de Serrinha, é um cenário típico de
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cidades do interior, que costuma reunir objetos, ações e representações peculiares do
urbano e do rural em um mesmo espaço e que esta tendência vem se refletindo na
construção paisagem do bairro em estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto percebe-se que o conceito de paisagem foi de
fundamental importância para o estudo do bairro da Cidade Nova, Serrinha-Ba, uma vez
que a constatação de ruralidades na área urbana e de urbanidades na área considerada
rural, às margens do bairro, deu-se a partir da visão e da percepção. A paisagem como
um produto da sociedade revela as formas e funções existentes, que se apresentam pela
heterogeneidade vista através da imbricação de modos de vida rural no urbano e vice-
versa. A continuidade e descontinuidade do elemento paisagem dá-se a partir da relação
dos moradores com o espaço em questão ultrapassando o que é aparente e
perpetuando os significados que estes moradores dão à Cidade Nova e as delimitações
feitas pelos mesmos. Por situar-se na periferia da cidade e aproximar-e do meio rural o
bairro está segregado espacialmente e seu caráter de periferia social ocorre ante ao
processo histórico-espacial de ocupação por habitantes de cidades circunvizinhas pela
necessidade de trabalho e pelas condições econômicas atuais dos moradores.
As ruralidades são perceptíveis pelos elementos dispostos na configuração dessa
paisagem, por hábitos e modos de vida dos moradores, como afirmação muitas vezes
inconsciente de suas origens, de suas limitações financeiras, como também pela
ausência de uma delimitação oficial entre os limites do bairro que vem se expandindo
para áreas com características predominantemente rurais. Ao mesmo tempo percebe-se
a partir dos mesmos elementos citados acima a presença de urbanidades mesmo nas
áreas mais periféricas do bairro. Em suma não se pode diferenciar urbanidades e
ruralidades nesse bairro como características estanques, dissociadas, mas como
elementos que se constituem simultaneamente e em complementaridade, e, da mesma
forma, não se pode negar a transição de espaço rural e urbano diante dessas
características.
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REFERÊNCIAS
BIAZZO, Pedro Paulo. RIBEIRO, Miguel Angelo (Org). A Metrópole e o Interior Fluminense: Simetrias e assimetrias geográficas. Rio de Janeiro: Gramma, 2009. http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/Lindner_M.pdf
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