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Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
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A PESQUISA EM EDUCAÇÃO PRISIONAL EM HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO: LÓCUS DO ESTADO DO CONHECIMENTO
GARUTTI, Selson (UEPG)1.
OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva (Orientadora/UEPG)2.
INTRODUÇÃO
Na área da Educação, muitos estudos têm sido realizados com o propósito de
analisar o movimento, de largo espectro, das reformas e políticas públicas constituídas
no campo educacional, inaugurado em meados do século passado e consolidado no
início do século XXI, no Brasil. Esse movimento vem gerando impactos interessantes
no horizonte educacional brasileiro de um lado, e por outro a preocupação por parte da
comunidade científica e acadêmica devido à imposição sorrateira de uma política
nacional de avaliação em todos os níveis de ensino e a expansão desordenada da oferta
de ensino superior, principalmente, na modalidade de Educação a Distância.
Os pesquisadores da área da educação não se mantêm alheios a esse cenário e
dele participam instaurando debates e pesquisas que possibilitam compreender a
complexidade das políticas públicas instituídas e sua repercussão no âmbito
educacional. Afinal de contas, o debate sobre políticas públicas em educação e a sua
consequente produção ou reprodução do conhecimento sobre o tema tange esferas
socioculturais e econômicas que constituem repercussões tanto políticas, quanto
econômicas, visando uma apreensão / compreensão cada vez mais profunda desse
fenômeno.
1 Licenciado em Filosofia pela USC e História pela UEM, Especialista em Pesquisa Educacional pela UEM e Mestre em Ciências da Religião pela PUCSP. Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Professor de Filosofia pelo Estado do Paraná. [email protected]
2 Doutora em Filosofia e Ciências da Educação o pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Professora do Programa de Doutorado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected]
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Nessa perspectiva, o presente trabalho se inscreve nesse universo de pesquisa do
Estado de Conhecimento sobre a produção das Agências Internacionais para analisar os
documentos produzidos sobre políticas públicas e sobre educação prisional por estas
Agências Internacionais. Nessa pesquisa buscou-se evidenciar as concepções e os
autores envolvidos na formação dos pesquisadores em educação envolvidos com o tema
em análise. A partir desse lócus particular e do exame de todas as bases de dados das
Agências Internacionais, entre os períodos de 1975 a 2012.
MATERIAL E MÉTODOS
Pressupondo-se que a educação prisional seja uma forma de disseminação da
ideologia de uma classe, buscou-se por meio de estudos bibliográficos, realizar a
organização do Estado de conhecimento (ou estado da arte), coletando dados sobre
educação prisional a partir da investigação realizada na base de dados das Agências
Internacionais entre os anos de 1975 e 2012. Utilizaram-se, como fonte primordial, os
documentos produzidos pelas pesquisas constituídas produzidas sobre a educação
prisional na história da educação pelas Agências Internacionais, especificamente com as
bases de dados educacionais. A escolha desse recorte temporal do estado do
conhecimento deu-se em virtude de ser o período do surgimento das primeiras
iniciativas das Agências Internacionais em Educação no Brasil3.
O caminho metodológico escolhido é o Estado do Conhecimento que consiste
em um “balanço do conhecimento, baseado na análise comparativa de vários trabalhos,
sobre uma determinada temática.” (ANDRÉ; SIMÕES; CARVALHO; BRZEZINSKI,
1999, p. 308). Ferreira (2002, p.257) afirma que o estado de conhecimento é uma
pesquisa que visa um aprofundamento da produção acadêmica de uma temática em
especial. Essa forma de investigação proporciona um parâmetro sobre a quantidade das
pesquisas efetivadas e, a partir dessa análise, a aceitação do objeto, as convergências e
divergências, os pressupostos teóricos e as lacunas, bem como as inovações na área e as
3 Há o texto “A imprensa periódica educacional: revistas de ensino e o estudo do campo educacional”, de Denice Bárbara Catani, publicado na Revista Educação e Filosofia, 10(20), 115-130, jul/dez.1996, onde autora expõe trabalhos que utilizam revistas periódicas como objetos de estudo.
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permanências.
O trabalho consiste em averiguar quais documentos discutem a escola prisional,
para a disseminação da ideologia da educação como critério de ressocialização e
reinserção de caráter homogeneizador e de expressão do capitalismo. Para chegar ao
objetivo final da pesquisa, primeiramente fez-se um levantamento preliminar de todas as
pesquisas que têm a escola prisional como fonte primária, independente de qual
modalidade seja tal escola. Para elencar essas pesquisas a fim de verificar a quantidade
de estudos, bem como as Agências Internacionais que têm se dedicado às pesquisas
desse porte, recorreu-se ao banco de dados das Agências Internacionais.
A metodologia de construção do estado de conhecimento apoia-se em duas
dimensões com vistas a identificar diferenças e similaridades no processo de educação
prisional (DALE, 2000. p. 14), Seus fins, ou seja, aquilo que a educação prisional
objetiva alcançar, sua forma, significados e arranjos por meio dos quais se busca
implementar os objetivos. Para a construção do estado do conhecimento sobre a
educação prisional obedeceu-se aos princípios da metodologia do projeto
UNIVERSITAS, que tem como fundamento a análise de conteúdo (GRAWITZ, 1986).
A metodologia do projeto UNIVERSITAS utiliza uma bibliografia
anotada/categorizada/resumida, de documentos publicados que traçam o panorama da
produção científica sobre a educação prisional. A unificação das bibliografias implica
em um trabalho de editoração, visando à homogeneização dos resumos e um trabalho de
programação, para a construção do banco de dados em um ambiente de sistema
multiusuário.
O estado do conhecimento é conceituado como um estudo
quantitativo/qualitativo, descritivo da trajetória e distribuição da produção científica
sobre um determinado objeto, estabelecendo relações contextuais com um conjunto de
outras variáveis como, por exemplo, data de publicação, temas e periódicos, etc.
(UNIVERSITAS, 2002). A construção do Estado do Conhecimento em Educação
Prisional em documentos institucionais tem como foco os temas da educação prisional
e, pesquisar sobre as informações contidas no banco de dados que lhe dão suporte, não
esgotam a questão.
Essa pesquisa compreende quatro etapas no processo de seleção que são:
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1. Levantamento documental: Trabalho aleatório na internet para a
identificação de databases e indexes; database da área da educação; electronics journals
por área de conhecimento – educação prisional pelas Agências Internacionais;
2. Categorização dos trabalhos por temáticas e distribuição entre os temas:
Cruzamento das entradas por banco de dados e palavras-chave: EDUCAÇÃO;
EDUCAÇÃO PRISIONAL; CELA DE AULA; PENITENCIÁRIA;
3. Leitura e análise dos textos: Identificação dos bancos de dados que
continham documentos produzidos sobre educação prisional, integrantes,
principalmente do debate sobre ressocialização e reinserção prisional;
4. Captação dos textos: Elaboração de quadros conceituais e relatório final
<http:www.pucrs.br/faced/pos/universitas>.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A discussão a respeito da educação prisional só recentemente passou a receber
mais destaque efetivo deixando de ser proposição coadjuvante e tornando-se objeto
central de pesquisa acadêmica. Assim, contribuindo com a pesquisa no campo
educacional será confeccionada um levantamento a partir do estudo do tipo “Estado do
Conhecimento”, também chamado de “Estado da Arte”, pelo qual se busca identificar
trabalhos acadêmicos sobre a modalidade da educação prisional para sujeitos privados
de liberdade entre os anos de 1975 a 2012.
SISTEMATIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE APROXIMAÇÃO E
ANÁLISE
Importante aqui é salientar que a não localização de documentos sobre educação
desenvolvida no sistema prisional brasileiro antes da Lei de Execuções Penais nº 7.210,
de 1.984, deve-se a dois fatores que não podem ser desconsiderados: o primeiro é o fato
de não haver mesmo nenhuma ação educativa formal no sistema prisional e, o segundo
fato é que durante o período pesquisado, o Brasil estava sobre a égide do Regime
Militar nos chamados “Anos de Chumbo”.
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Os trabalhos que analisam as práticas educativas no sistema prisional
demonstram que tal tema tem adquirido diferentes contornos, mas, de maneira geral, as
expectativas da educação na prisão recaem sobre o discurso da ressocialização como
(re) conquista da liberdade, mas nunca como possibilidade de alterar as condições de
vida presente, de uma ação efetiva de transformação do real ou como meio de produção
da autonomia para gerar emancipação.
A educação enquanto práxis emancipatória conscientiza os sujeitos
esclarecendo-os acerca de seus direitos e deveres, inclusive daqueles que devem ser
assegurados na prisão. A educação deve ser meio de emancipação como paradigma de
ressocialização por meio de uma reflexão que seja capaz de interferir nas reais
condições de vida das pessoas privadas de liberdade. Há que considerar aqui as
contradições constituídas na práxis educativa empreendida no interior do ambiente
prisional, sendo juízos de valores e de interesses variantes conforme alternância
axiológica de seus agentes promotores.
Entre as várias contradições existem perspectivas enunciadas pelo Estado que
constitui a educação como preparação para o futuro, pela sociedade civil que concebe a
educação como meio esclarecido do exercício pleno dos direitos e deveres para a práxis
diária, inclusive aquele exercida no momento presente (dentro do sistema), e enunciadas
pelos agentes envolvidos no processo direto entendendo a educação como privilégio e
os professores como os precursores dessa manutenção.
Dada à diversidade de grupos de interesses identificados, é pertinente supor que
a intencionalidade também seja variada e confluente em um mesmo espaço prisional de
conflito por excelência, pondo constantemente em xeque os interesses destes grupos
todos.
A confluência no ambiente prisional entre as ações educativas protagonizadas
tanto pelas agências estatais quanto pelas organizações privadas e/ou pessoas da
sociedade civil, também remetem à compreensão do fenômeno educacional ao campo
de análise sobre as ações e relações entre Estado e sociedade civil, entre público e
privado e entre sagrado e profano na formulação e implementação daquilo que se
convencionou chamar de Políticas Públicas para sujeitos privados de liberdade.
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Há que considerar aqui uma séria crítica que se faz sobre as relações entre
sociedade e o Estado quanto à concepção, implementação, gestão e exclusão das ações
das políticas públicas, que tem sido realizadas no sistema prisional ao analisar tais
políticas sob dois diferentes aspectos. De um lado, a ampliação das ações de
participação e controle social sobre as ações do Estado enquanto gestor e primeiro
responsável, tanto pela educação quanto pela segurança e, de outro lado, a crescente
transferência da responsabilidade estatal para setores privados e de ONGS pela garantia
de direitos universais que não possuindo nem condições estruturais e nem vontade
política para realizar essas ações tão necessárias para a melhoria do sistema
penitenciário, sendo isso uma forma afirmativa da inoperância estatal e da justificativa
para legitimar a transferência desse comando todo para o setor privado, tanto o setor da
segurança quanto o setor da educação.
Como as informações existentes nunca são especificadas e, de maneira
assistemática, são propositalmente formuladas para garantir a não compreensão e o não
controle social, sobre quaisquer ações praticadas pelo Estado sobre as ações de políticas
públicas sobre o sistema penitenciário. As informações fornecidas pelos aparelhos
estatais são disseminadoras de informações constituídas em formatos de autopromoção,
com execução de atividades pulverizadas e pontuais, as quais impossibilitam identificar
quais possam ter sido os critérios adotados pelo aparelho estatal no estabelecimento das
relações praticadas e tão poucos apontam quais os objetos e principalmente os interesses
/ intenções das ações e relações efetivadas.
Até o surgimento do Parecer CNE/CEB nº 04/2010, não havia nenhuma
orientação específica por parte dos órgãos responsáveis pela administração das
penitenciárias para a realização das atividades educativas, sendo até então permitida e,
até estimulada, a diversificação das ações pedagógicas, cabendo ações tanto de
educação formal quanto de educação não formal, numa mesma ação pedagógica.
Conforme a tabela 01, a documentação oficial produzida pela ONU tem tratado
sobre a questão da dignidade humana, desde a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (ONU, 1948), passando pelas regras mínimas para o tratamento dos Presos
(ONU, 1955) até a Carta Africana sobre Direitos humanos (ONU, 1981). Sua
preocupação sempre foi com respeito aos direitos humanos, mas não tratou da educação
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como um direito, sempre o fez de forma muito genérica, pois a maior preocupação era
contra a tortura ainda praticada nas cadeias e na manutenção da integridade física e
moral dos sujeitos privados de liberdade.
ANO TABELA 01: ONU TOTAL
1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos; 01
1955 Regras Mínimas para o Tratamento dos Presos; 01
1966 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; 01
1975 Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Inumanos ou Degradantes;
01
1981 Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos; 01
FIM 05
Já a UNESCO, conforme tabela 02, teve uma abertura maior para a questão da
educação, embora tenha produzido documentos desde 1995, a preocupação mais
específica com a educação só se tornou plausível a partir da V CONFITEIA (1999),
reafirmando essa preocupação e efetivando o compromisso da educação para todos em
Dacar (2001).
ANO TABELA 02: UNESCO TOTAL
1995 La educación básica en los establecimientos penitenciarios; 01
1998 Declaração Mundial sobre Educação Para Todos e Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de
Aprendizagem;
01
1999 Declaração de Hamburgo: agenda para o futuro [CONFINTEA V a];
Educación de las personas adultas y los desafíos del siglo XXI [CONFINTEA V b];
02
2001 Educação para todos: o compromisso de Dacar; 01
2004 A UNESCO no Brasil: consolidando compromissos; 01
2006 Educando para a liberdade: trajetórias, debates e proposições de um projeto para a educação nas prisões
brasileiras;
01
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2007 Estratégia a plazo médio para 2008–2013; 01
2008 Educación en prisiones en Latinoamérica: derechos, libertad y ciudadanía;
01
2009 Educação em prisões na América Latina: direitos, liberdade e cidadania;
01
2010 Marco de ação de Belém [CONFINTEA VI]; 01
FIM 11
No Brasil não foi diferente, conforme pode ser verificado na tabela 03. A
primeira documentação produzida oficialmente foi a LEP (1984), destacando a
educação de forma genérica. Depois, a educação prisional passou a ser tratada como
modalidade EJA na resolução CNPCP nº 03 produzida especificamente em 2009 e o
cume da questão educacional no sistema prisional com o parecer CNE/CEB nº 04/2010.
ANO Tabela 03: BRASIL TOTAL
1984 Lei de Execuções Penais nº 7.210, de 1.984; 01
1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988; 01
1994 Resolução CNPCP nº 14/1994; 01
1996 Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional nº 9.394/96,
de 1.996;
01
2001 Plano Nacional de Educação de 2001 (PNE); 01
2009 Resolução CNPCP nº 03/2009; 01
2010 Resolução do CNE/CEB nº 02/2010;
Parecer CNE/CEB nº 04/2010;
Lei nº 12.245, de 25 de maio de 2010 / Lei de alteração do
Artigo nº 7.210, de julho de 1984 / Lei de execução Penal;
03
2011 Lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011. Dispor sobre a
remição de parte do tempo de execução da pena por estudo
ou por trabalho;
01
FIM 10
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Com esse discurso aparente de flexibilização que induz a uma interpretação de
que o Estado seja permeável às intervenções da sociedade civil na organização
educacional do sistema prisional como um todo acaba sendo muito mais um discurso
evasivo do que uma prática concreta.
Como o sistema prisional em sua maioria está sob a responsabilidade dos
Estados da Federação, o Governo Federal “lava as mãos” e os Governos Estaduais
deposita nas direções das Unidades prisionais a responsabilidade sobre a administração
das ações educacionais. Como nem a direção das unidades e nem a equipe de
funcionários ou não querem ou não tem condições de gerenciar e/ou promover essas
ações. Tais ações ficam a cargo das ONGS e da sociedade civil como um todo.
Das várias ONGS que recebem verbas governamentais em nome de ações de
promoção de políticas públicas, muitos acabam não realizando nenhuma atividade
efetiva para a ressocialização e reinserção dos sujeitos apenados, sobrando apenas a
sociedade civil, a qual finalmente, sem nenhuma condição plausível acaba por não fazer
nada e ainda levando a culpa da falência do sistema prisional.
O discurso estatal gera uma falsa impressão de autonomia nas unidades
prisionais conferidas às administrações que acabam por resultar na impossibilidade de
implementação de efetivas ações das políticas públicas propostas pela administração
central da educação penitenciária, sendo razoável supor que as parcelas entre público e
privado sejam uma constante nas ações de efetivação das políticas públicas.
Sendo bem provável que os órgãos responsáveis pela administração
penitenciária não tenha nem controle e nem registro sobre todas as parcerias
estabelecidas nas unidades prisionais, por isto, a compreensão dessas relações, bem
como sua função na educação e qualificação prisional não consiga alcançar sua real
necessidade de qualificação dos apenados, tanto por parte da gestão central de não
efetivação de Políticas Públicas concisas, quanto especificamente, nas ações
administrativas de eficácia nas unidades penais.
Sem parâmetros de orientação convergente e com uma fragmentação generalista
de ações com suas respectivas informações, os agentes executores, ainda que efetivando
atividades pontuais, não tem a mínima condição nem de exercer controle e nem de
intervir na organização do sistema prisional.
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Partindo das questões ora levantadas, o foco deste trabalho se justifica por ser
uma reflexão sobre a ação governamental da tentativa de unificação e atualização dessa
problemática para a compreensão efetiva do funcionamento das prisões brasileiras nessa
nova ordem mundial. Assim, a discussão da educação no sistema prisional passa pela
discussão da reestruturação do capital e a aplicação do conceito de Capital humano
aplicado no sistema educacional prisional como sendo uma educação tecnicista e não
epistemológica.
A penalização foi utilizada pelo poder público durante muito tempo como a
principal forma de repressão das atividades criminais e controle social das pessoas
socialmente criminalizadas e marginalizadas, o encerramento de seres humanos, como
forma de resolver o problema social do desemprego, da marginalização e da violência,
tornou-se um grande problema econômico e social, sendo necessário um novo olhar,
uma nova e real efetivação de Políticas Públicas para essa camada populacional que
cresce sem parar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela confecção dessa pesquisa do estado de conhecimento podem ser analisadas
as quantas andam as pesquisas referentes à educação prisional, usando os documentos
institucionais produzidas como fonte primaria para analisar a produção no campo da
educação, bem como possibilitar indícios necessários para pesquisas ainda não
realizadas sobre o tema tão atual quanto relevante. Concluir que muito pouco foi
produzido.
Conclui-se ainda, que tanto a ONU quanto a UNESCO foram Agências
Internacionais fundamentais para a consecução do Parecer nº 04 de 2010 no Brasil. Pois
foi com a produção de cinco documentos pela ONU e onze documentos pela UNESCO
que se pode culminar na efetivação das Diretrizes Nacionais para a oferta de educação
para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais
(o Parecer nº 04 de 2010). Não se pode perder de vista a difusão das ideologias
dominantes embutidas na documentação produzida tanto pela ONU, quanto pela
UNESCO, bem como consequentemente, a documentação produzida no Brasil.
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Sem perder de vista que a dominação hegemônica do capital oculta às diferenças
sociais proclamando um discurso de igualdade e de homogeneidade, legitimando as
desigualdades sociais, culturais, religiosas e, principalmente, econômicas, por meio da
ideologia de igualdade natural entre os homens e não como característica de classe.
Tanto a Educação quanto a Penitenciária, foram e, ainda são, importantes canais de
disseminação desses conceitos, legitimando e garantido a dominação de uma classe
(capitalista) sobre a outra (proletários).
REFERÊNCIA BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação - PNE. Brasília: INEP, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf>. Acesso em: 13/10/2012. BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Resolução n° 3, de 06 de março de 2009. Institui Diretrizes Nacionais para a oferta de Educação nos Estabelecimentos penais. Brasília, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto promulgado em 05 de outubro de 1988. Brasília, 2010a. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>. Acesso em: 13/10/2012. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB n° 2, de 19 de maio de 2010. Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais. Brasília, DF: MEC, 2010c. BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Resolução n° 03, de 11 de março de 2009. Dispõe sobre estabelecimento das Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educação nos estabelecimentos penais. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 2009. BRASIL. Ministério da Justiça: Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994. Brasília, DF: MJ, 1994. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/services/DocumentManagement/FileDownload.EZ> Acesso em: 10/10/2012.
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