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A expectativa nos corredores do Congres- so Nacional na volta do chamado recesso branco é sobre a votação da reforma da Pre- vidência em segundo turno na Câmara dos Deputados. Uma possibilidade, que já mo- biliza o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e aliados do governo, é de que novos ruídos na articulação política pos- sam se traduzir em alguma desidratação da proposta de emenda constitucional da Previdência que deve ser votada ainda em agosto. Há relatos de deputados sobre a fal- ta de confiança crescente no cumprimento dos acordos firmados pelo governo Jair Bol- sonaro e que viabilizaram a aprovação da PEC em primeiro turno no final do semestre passado. Os pontos mais delicados da proposta e que vão requerer proteção extra do governo e de seus aliados na Câmara são a redução do patamar para o pagamento do abono sala- rial – que pode ser modificado na votação de apenas um destaque e gerar impacto da ordem de R$ 80 bilhões - e a supressão da regra de pensão proporcional por filhos, com potencial de redução de cerca de 70 bilhões na economia prevista em 10 anos. A votação em segundo turno tem menos etapas, é considerada mais simples do que a anterior, no entanto, mesmo assim ofere- ce riscos e requer a mesma necessidade de coesão dos apoiadores da PEC. Repetidamente os entraves tem sido obser- vados na organização do trabalho da equi- pe de articulação política. Ainda há insegu- rança sobre como vai funcionar a troca do comando dessa área das mãos do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para o gene- ral Luiz Eduardo Ramos, novo titular da Se- cretaria de Governo. Uma inquietação em especial dos parlamentares é a falta de con- fiabilidade na efetivação das emendas obri- gatórias e extraordinárias liberadas pelo Executivo entre os meses de maio e julho e que tiveram grande contribuição na melho- ra do clima político e na aprovação do texto da reforma em primeiro turno. Lembrando que essas emendas são recursos já previs- tos no orçamento para financiar melhorias em estados e municípios indicados pelos deputados por meios das emendas. Luz amarela Um aviso de alerta para os deputados foi o contingenciamento de R$ 1,44 bilhão anun- ciado nesta semana pelo governo, no qual o Ministério das Cidades foi o mais atingido (R$ 619 milhões). A questão é que boa parte Luis Macedo/Câmara dos Deputados A política na semana > Na volta do recesso, Câmara se prepara para a votação em 2º turno da reforma da Previdência e STF reage a vazamentos sobre ministros 3 de agosto XP POLÍTICA 1 A política na semana

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Page 1: A política na semana · fatos relevantes”. Enquanto o STF segue di-vidido nos principais assuntos sda área pe-nal, o presidente do Senado, Davi Alcolum-bre (DEM-AP) recebeu na

A expectativa nos corredores do Congres-so Nacional na volta do chamado recesso branco é sobre a votação da reforma da Pre-vidência em segundo turno na Câmara dos Deputados. Uma possibilidade, que já mo-biliza o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e aliados do governo, é de que novos ruídos na articulação política pos-sam se traduzir em alguma desidratação da proposta de emenda constitucional da Previdência que deve ser votada ainda em agosto. Há relatos de deputados sobre a fal-ta de confiança crescente no cumprimento dos acordos firmados pelo governo Jair Bol-sonaro e que viabilizaram a aprovação da PEC em primeiro turno no final do semestre passado.

Os pontos mais delicados da proposta e que vão requerer proteção extra do governo e de seus aliados na Câmara são a redução do patamar para o pagamento do abono sala-rial – que pode ser modificado na votação de apenas um destaque e gerar impacto da ordem de R$ 80 bilhões - e a supressão da regra de pensão proporcional por filhos, com potencial de redução de cerca de 70 bilhões na economia prevista em 10 anos. A votação em segundo turno tem menos etapas, é considerada mais simples do que

a anterior, no entanto, mesmo assim ofere-ce riscos e requer a mesma necessidade de coesão dos apoiadores da PEC.

Repetidamente os entraves tem sido obser-vados na organização do trabalho da equi-pe de articulação política. Ainda há insegu-rança sobre como vai funcionar a troca do comando dessa área das mãos do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para o gene-ral Luiz Eduardo Ramos, novo titular da Se-cretaria de Governo. Uma inquietação em especial dos parlamentares é a falta de con-fiabilidade na efetivação das emendas obri-gatórias e extraordinárias liberadas pelo Executivo entre os meses de maio e julho e que tiveram grande contribuição na melho-ra do clima político e na aprovação do texto da reforma em primeiro turno. Lembrando que essas emendas são recursos já previs-tos no orçamento para financiar melhorias em estados e municípios indicados pelos deputados por meios das emendas.

Luz amarelaUm aviso de alerta para os deputados foi o contingenciamento de R$ 1,44 bilhão anun-ciado nesta semana pelo governo, no qual o Ministério das Cidades foi o mais atingido (R$ 619 milhões). A questão é que boa parte

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

A política na semana> Na volta do recesso, Câmara se prepara para a votação em 2º turno da reforma da Previdência e STF reage a vazamentos sobre ministros

3 de agosto

XP POLÍTICA

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A política na semana

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desse dinheiro, que vai direto para prefeitu-ras e governos indicados pelos parlamen-tares tinha relação direta com projetos da pasta. A medida foi lida no Congresso como indício de que pode não haver caixa no mi-nistério para cumprir todos os compromis-sos. Mais uma vez, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) vai ter papel im-portante como avalista desses acordos que permitiram o alcance do número de votos necessários para aprovar a reforma.

Para continuar a votação da PEC da Previ-dência na Câmara a partir da próxima se-mana, é preciso contar ainda mais duas sessões do plenário, o intervalo chamado de interstício. Caso seja alcançado o quó-rum mínimo de 51 deputados na segun-da-feira e na terça-feira pela manhã, seria possível já começar a votação em segundo turno no prório dia 6 de agosto à tarde. Este calendário depende, no entanto, de gestos que demonstrem a robustez dos acordos e da disposição dos parlamentares para votar a partir disso.

É importante ressaltar que a expectativa da presença de eventuais ruídos não significa um risco em potencial para votação da re-forma em segundo turno, se trata mais de um alarme de cautela para que o governo e suas lideranças no Congresso Nacional.

Aprovada em segundo turno, a PEC da Pre-vidência segue para o Senado onde tudo in-dica que a tramitação deve ser mais rápida que na Câmara, que levou de fevereiro a pelo menos agosto para analisar a proposta. A expectativa de senadores e do governo va-ria de 40 a 60 dias para a conclusão – o que leva a um cenário de possível promulgação do texto em outubro. Nesta etapa, a princi-pal atenção é quanto a qualquer alteração na proposta. A depender do que os senado-res modificarem no texto, a proposta preci-sará ser analisada novamente pela Câmara.

Vaza JatoOs recentes acontecimentos envolvendo o vazamento de mensagens atribuídas a pro-curadores da força tarefa da Lava Jato do Paraná também estão no radar do Congres-so, ainda como um assunto que tem envol-vido cada dia mais instituições em Brasília, e deve ser acompanhado com cuidado pelo potencial de impacto no ambiente político. Acusados de hackearem os celulares de

centenas de autoridades estão presos e o material fruto dessas invasões foi apreendi-do pela Polícia Federal, por ordem da Justi-ça Federal de Brasília. Entre os hackeados, está o ministro da Justiça, Sérgio Moro e o presidente Jair Bolsonaro.

Após a suspeita de que procuradores de primeira instância teriam tentado apurar supostos ilícitos relacionados a integrantes do Supremo Tribunal Federal, a crise que estava limitada tomou nova proporção. A citação de integrantes da Corte incomodou ministros que ficaram convencidos da ne-cessidade de medidas para demonstrar re-provação. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, suspendeu apurações na Receita Federal sobre 133 contribuintes, incluindo o presidente da Corte, Dias Toffoli, e fami-liares, e afastou auditores fiscais. Na sequ-ência, o Luiz Fux proibiu a destruição das provas colhidas com os hackers e determi-nou que fossem enviadas ao STF. Moraes re-forçou a determinação fixando prazo de 48h para que o material seja encartado também no inquérito que apura a divulgação de “fake news” sobre o STF e seus integrantes. O re-sultado disso foi um fortalecimento dos ar-gumentos da ala do STF que defendem me-didas contra os procuradores da Lava Jato e o aumento da pressão para que o Conselho do Ministério Público determine o afasta-mento de Deltan Dallagnol, coordenador da força tarefa em Curitiba.

As reações de defensores da Lava Jato vie-ram com força pela internet - a hashtag crítica ao Supremo foi o assunto mais co-mentado dos últimos dias da semana nas redes - e podem vir também de dentro do Congresso, principalmente por meio da CPI das Fake News que também vai investigar a atuação do hackers. Dentro do tribunal o cli-ma não é diferente. Em palestra, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que as mensa-gens vazadas trazem mais “fofocas do que fatos relevantes”. Enquanto o STF segue di-vidido nos principais assuntos sda área pe-nal, o presidente do Senado, Davi Alcolum-bre (DEM-AP) recebeu na última semana o pedido de impeachment do presidente do STF, feito pela deputada estadual Janaína Paschoal, e está prevista para a próxima se-mana a votação de uma PEC que restringe a possibilidade de ministros do STF e outros juízes concederam liminares monocráticas (decisões individuais).

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1)Este relatório foi preparado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos”) e não deve ser conside-rado um relatório de análise para os fins do artigo 1º da Instrução CVM nº 483, de 6 de julho de 2010. 2) Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas e análises políticas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra/venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra/venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integri-dade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. A XP Investimentos não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor.3) O responsável pela elaboração deste relatório certifica que as opiniões expressas nele refletem, de forma precisa, única e exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autô-noma, inclusive em relação a XP Investimentos.4) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, in-cluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida a sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos.5) A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. 6) A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710.7) Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor aces-sar o nosso site: www.xpi.com.br.

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