a presença das raízes culturais na educação musical
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abemnumero 5
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Cristina Rolim Wolffenbuttel
Resumo: Este artigo descreve um projeto de resgate das rafzes musicais, desenvolvidojunto aos alunos da disciplina de Elementos da Linguagem Musical (E.L.M.), do Curso Basicoem Educagao Musical da FUNDARTE (Fundagao Municipal deArtes de Montenegro). A propostado projeto fundamentou-se nos objetivos especfficos do setor da Musica, os quais fundamentama educagao musical na FUNDARTE, a saber, "sensibilizar 0 aluno para, atraves dodesenvolvimento progressivo da percepgao e expressao sonora, chegar ao conhecimento dalinguagem musical e apreciagao da obra de arte, dotado de senso crftico e autonomia". Alemdisso, "desenvolver no aluno as habilidades de EXECUTAR, CRIAR eAPRECIAR esteticamentea Musica, tendo por base 0 conhecimento progressivo da Iinguagem musical".Os alunos fizeramentrevistas em seus lares, registrando cantigas que os familiares conheciam de sua infancia.Tudofoi registrado, analisaqo e utilizado para um momento de criagao musical. Houve tambem adivulgagao na FUNOA,RiE, durante as comemoragoes do mes do Folclore, em agosto.
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Para algumas pessoas,bern como professores, a sala deaula parece, em princfpio, urnlugar onde dificilmente se podedesenvolver urn projeto de resgate cultural, de busca das tradigoes e das manifestagoes folcl6ricas de uma determinadacomunidade ou regiao. Alem disso, tampouco e urn lugar ondepossa ocorrer a busca das raizes culturais da comunidade,devido a grande dificuldade dese trabalhar estes aspectos comurn grupo de alunos. Talvez, emurn curso universitario, sim, issoseja possive!!
No entanto, em muitasocasioes, a sala de aula de umaescola regular, ou mesmo de urncurso de musica, e urn local extremamente interessante e produtivo para esta atividade, poise urn espago de grande valor,que contem uma grande riqueza de experiencias advindas da"bagagem cultural" dos variosalunos ali presentes. Somandose a isso, oportuniza a realizagao de pesquisas, de investigagoes, nas quais 0 proprio alunofaz seus registros, analisa e conclui a respeito. Enfim, alem deviabilizar 0 resgate das origens,
da identidade culturaP , desmistifica a pesquisa, atraves do conhecimento dos principais passos que dela fazem parte, e istotudo de urn modo prazeroso emuito interessante.
Este artigo propoe-se adiscorrer sobre a presenga dofolclore na sala de aula, em urncurso de Musica. Procurar-se-adescrever 0 projeto de resgatedas raizes musicais, desenvolvido junto aos alunos da disciplina de Elementos da Linguagem Musical, do Curso Sasicode Educagao Musical da FUNDARTE (Fundagao Municipal de
, "A questao da identidade cUltural, de que fazem parte a dimensao individual e a da classe dos educandos cUjo respe~o eabsolutamente fundamental na pratica educativaprogressista, e problema que nao pode ser desprezado." (Freire, 1999, p. 46)
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Artes de Montenegro). Para auxiliar na contextualiza<;ao do trabalho, e importante mencionar afaixa etMa dos alunos participantes, tendo predominado amedia dos 14 anos de idade,aproximadamente.
A proposta do projeto fundamentou-se nos objetivos especfficos do setor da Musica, osquais fundamentam a educa<;aomusical na FUNDARTE. Nestesentido, vale especificar quepretende-se "sensibilizar 0 aluno para, atraves do desenvolvimento progressivo da percep<;aoe expressao sonora,· chegar aoconhecimento da Iinguagemmusical e aprecia<;ao da obra dearte, dotado de senso crftico eautonomia". Alem disso, tem-secomo meta geral:
"... desenvolver no aluno as ha-bilidades de EXECUTAR, CRIAR eAPRECIAR esteticamente a Musica, tendo porbase 0 conhecimento progressivoda linguagem musical. Desta forma, 0
educando estara alimentando sua inteligencia, memoria e atenyao, ampliandoseu potencial e, consequentemente, suavisao de mundo, tomando-se uma pessoa no sentido completo. Considera-semuito importante 0 aluno, sendo ele umsujeito ativo e capaz de transformayaona sociedade e devendo desempenharpapeis tais como '0 ouvinte', '0 interprete', '0 compositor' e '0 crftico'. Alem disso, a valorizayao do estudo, bem como 0
estfmulo iI 'performance', sao preocupayoes constantes do setor, na medida emque se procura, cada vez mais, a qualidade do ensino."2
,E importante, antes de
discorrer especificamente sobreeste projeto, comentar um pouco a respeito da FUNDARTE,situando-a melhor no trabalho e,principalmente, esclarecendo 0porque do modo de realiza<;aodo mesmo.
A FUNDARTE, localizadaem Montenegro, a aproximadamente 80 quil6metros da capitalgaucha (Porto Alegre), existe ha
cerca de 30 anos, e oferece acomunidade varios cursos nasareas das artes, incluindo asArtes Visuais, a Dan<;a, a Musica e 0 Teatro. A Musica, inserida no Setor de Educa<;ao Musical, conta com um ample currfculo, incluindo disciplinas decarater mais te6rico (apesar dapraticidade necessaria a qualquer trabalho educacional),como Aprecia<;M Musical, Harmonia, Elementos da LinguagemMusical, entre outras. Alem destas, 0 aspecto mais pratico estavinculado ao estudo de um instrumento musical, cujas modalidades abrangem cordas, soprose percussao. A natureza desteartigo Iiga-se mais diretamente,como foi previamente mencionado, a disciplina de Elementos daLinguagem Musical (E.L.M.).Nela, 0 objetivo vincula-se a alfabetiza<;ao musical e ao seuaprimoramento, apresentandodiversos nfveis, os quais saodenominados de m6dulos (estendendo-se do M6dulo Inicialate 0 M6dulo Avan<;ado), desde
. a etapa anterior ao f:.~>nhecimen
to da Teoria MUSfGa.L- aspecto- ",.,',
mais sensorial da musicaliza<;ao-, ate a pratica de composi<;oese analises musicais.
No infcio de 1999, na disciplina de E.L.M., cujos alunosja se encontravam num nfvel umpouco mais aprimorado, os mesmos realizaram um vasto estudo sobre analise musical, envolvenda a fraseologia e a morfologia. Paralelamente, foram feitos exercfcios de percep<;ao,quando da escuta de trechosmusicais ou de musicas completas, propondo-se a transcri<;aopara a partitura musical. Com 0transcorrer do trabalho, devidoao interesse e ao bom aproveitamento alcan<;ado pelos alunos,a proposta foi ampliada, incluindo 0 resgate da cultura musical
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10caP. Com esta inclusao, procurou-se observar as etapas deuma pesquisa, percorrendo algumas bem especfficas. Assim,Coleta de Dados, Analise e Sfntese foram momentos de grande importancia para 0 alcancedos objetivos, sendo que se conseguiu uma boa qualidade,quando da finaliza<;ao.
A Coleta de Dados, etapainicial, foi realizada do seguintemodo. Os alunos de E.L.M. deveriam fazer uma pesquisa junto a sua famflia. Esta pesquisaconstaria de questionamentosaos familiares sobre as can<;oesque eles recordavam, alem dainclusao de alguns dados pessoais, como 0 local e a idade denascimento, a residemcia, etc.Alem disto, os alunos solicitariam informa<;oes pertinentes ascan<;oes entoadas pela familia,tais como: "Com quem aprendeua can<;ao?", "Em quais momentos eram cantadas?". Enfim, perguntas que complementassem afutura analise do material e servissem de subsfdio para a posterior elabora<;ao da sfntese dapesquisa. Juntamente com tudoisso, deveriam registrar sonoramente as informa<;oes, gravando-as em fitas cassete.
Para a realiza<;ao destacoleta de informa<;oes, ofereceuse aos alunos um tempo de tresmeses, aproximadamente. Talvez possa parecer estranho tanto tempo assim. Porem, e oportuna esclarecer que os alunosque participam dos cursos naFUNDARTE - que sao opcionaise fora da realidade de uma escola regula~ - tem diversos outros compromissos escolares oumesmo obriga<;oes diversas narotina de trabalho, alem dos ori:ginarios deste curso. 0 tempo,para eles, tambem e bastanteexfguo. Foi necessaria, portan-
2 Objetivo extraido da proposta do Setor de Educa9ao Musical.'A Carta do Folclore Brasileiro, revisada em dezembro de 1995, no Capitulo III • Ensino e Educa9ao·, recomenda que se deve "considerar a cultura trazida do meio familiar ecomunitario palo aluno no planejamento curricular, com vistas a aproximar 0 aprendizado formal e naD formal, da importancia de seus valores na forma<;:8o do indivfduo".
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to, a previsao de um prazo maior, para que a tarefa fosse realizada a contento. Alem disso,vale esclarecer, tambem, quesempre ha alguns problemas dedisponibilidade de tempo porparte do informante, mesmo queeste seja um familiar ou umapessoa pr6xima ao aluno. Assim,a fim de se conseguir uma boaqualidade e, principalmente, asatisfagao de ter um projeto bemfeito, foi prudente considerareste aspecto, destinando umtempo mais ampliado para a suarealizagao.
Com a finalizagao do registro das informagoes, quandoos alunos ja dispunham da pesquisa de campo (coleta de dados), 0 que ocorreu por volta dofinal do mes de maio de 1999,solicitou-se que os mesmos trouxessem para a aula tudo 0 quetinham conseguido gravar emsuas entrevistas. Foram destinadas algumas aulas para este trabalho de Analise dos Dados,cercade dois perfodos (cadaaula com uma duragao de 50minutos), a fim de fazerem a escuta do material coletado e iniciarem uma especie de analisemusical basica. Este momentafoi interessante, pois, ja af, puderam ser verificadas algumascaracterfsticas presentes nascangoes, que tem semelhangascom as caracterfsticas gerais damusica folcl6rica brasileira. Dentre estas particularidades, valecitar a predominancia dos compassos binarios simples, dos infcios anacrusticos, das terminagoes masculinas, das escalastonais maiores4 , enfim, de particularidades presentes na cultura musical do Brasil, e que foram constatadas na pratica desta investigagao pelos pr6priosalunos.
Ap6s a escuta de todo 0
material sonoro, os alunos esco-
4 Segundo Lamas (1992, p. 141-144).
'A esse respeito, ver Vasconcellos (1994. p. 84).
Iheram cangoes dentre as coletadas, para a realizagao do registro coletivo da partitura, emlinguagem musical. Este momento foi extremamente importante e, acima de tudo, prazeroso. Na verdade, foi a realizagaode um trabalho de grande valoreducacional, fazendo com queas aulas se constitufssem momentos que englobassem os conhecimentos acerca de, praticamente, todos os conteudos daMusica. Este processo envolveualgumas etapas, ocorrendo doseguinte modo:
a) Selegao das cangoes para atranscrigao: como se mencionouanteriormente, foi a etapa deescolha de uma cangao paracada colega, por ele mesmo oupelo pr6prio grupo de alunos,para fazer 0 registro musical. Emalguns casos, os alunos quiseram realizar a transcrigao demais de uma cangao, 0 que 10
gicamente foi atendido e, semduvida, elogiado, na medida emque veio a enriquecer 0 trabaIho, bem como auxiliar ainda....'
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mais 0 aprer:ldizado individual ecoletivo.
b) Transcrig8.o musical da cangao: antes de registrar na partitura, foram feitas inumeras audigoes, auxiliando a memorizagao e estruturando melhor 0 trabalho escrito. Depois, algumasintervengoes por parte da professora fizeram-se necessarias,com vistas ao infcio da transcrigao coletiva, dando um exemplodo trabalho a ser realizado posteriormente. Este momenta ilustra a constante busca, que existiu neste projeto (e continuaocorrendo em todas as agoes nasala de aula), de levar em consideragao a metodologia numaperspectiva dialetica5 , na qual aprodugao do conhecimento ocorreu na ag8.o dos alunos, quandoestes se sentiram problematiza-
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dos diante da necessidade detomar grafico 0 registro sonorodas cangoes. Nesta perspectiva,indagagoes importantes para acontinuidade do processo foramrealizadas, como: "Qual a tonalidade da cangao?", "Quantostempos existem em cada compasso?", "A cangao inicia na tonica, ou em outro grau da escala?", "Existem ritmos que estaose repetindo ao longo da cangao?". Enfim, muitas foram asquestoes que auxiliaram 0 preparo anterior da partitura musical, objetivando-se 0 registromais fiel possfvel.
Vale salientar que as perguntas mencionadas anteriormente foram langadas para todaa turma e, por este coletivo, respondidas, sendo que, em poucos momentos, foi necessario 0
auxflio da professora para sechegar a sua resolug8.o, pois ospr6prios alunos conseguiramchegar a uma conclusao, frutodo debate e do pensar em conjunto. Ao final desta etapa, foipossfvel vislumbrar os primeirosregistros musicais, oriundos deum resgate da cultura local. Poristo mesmo, foi bastante emocionante!
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E oportuno explicar, tam-Mm, que cada aluno coletou junto aos seus familiares, em media, duas ou tres cangoes. Entao, eles ainda tinham, no mfnimo, uma cangao para efetuar atranscrigao musical. Propos-se,assim, um desafio individual.Cada um deveria procurar fazer, sozinho, 0 registro da cangao que havia recolhido na pesquisa junto aos familiares, atecomo um modo de verificagaopessoal do aprendizado. Finalizada a elaboragao da percepgaoindividual dos alunos, fez-se averificagao coletiva de todas,procurando realizar uma avaliagao em grupo, sendo que os alu-
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nos podiam observar 0 trabalhodos dernais colegas e opinar arespeito, procurando contribuirpara a melhoria do registro escrito.
o exemplo apresentado a seguir, a can<;8.o "Olha 0 Circo",recolhida pela aluna Eliana C. doPrado, foi uma das melodias
transcritas coletivamente, emsala de aula, a fim de exemplificar 0 trabalho individual queaconteceria posteriormente.
"Olha 0 Circa"Reeolhido pela aluna Ellana C. do Prado e
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Tres pa - Iha - ~os, bum! En - gra - ya - dos,e
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o conjunto de can<;oescoletadas e transcritas resultouno registro de diversas cantigas,as quais passaram a integrar 0
acervo do Nucleo de Pesquisaem Musica da FUNDARTE, comvistas a uma futura publica<;8.o.o exemplo a seguir, a can<;8.o "A
Barata" recolhida e transcritapelo aluno Andre Machado,ilustra urn pouco da atividadedesenvolvida individualmentepelos alunos.
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"A Barata"Cantiga de Roda
Coletada pelo aluno Andre Machado
a - ra - ta na ca - re - ca do vo -u - ma•VIEu
•
a-sas e vo-
tor - ta - ra - ta -
ba - teu•VIU
•
- . sim que e-Ia me--....-
as•YO,
ou. Seu Jo - a - quim - qui - rim quim - - da per - na
/-•
Seu Joaquim-qui-rim-quimda perna torta-ra-ta
danyando valsa-ra-sacom a Maricota-ra-ta.
•- com a ma - n - co - ta - ra - la -"--"
Eu vi uma baratana careca do vovo,
assim que ela me viubateu asas e voou.
val - sa - ra - sa -
-
- dan - yan - do
-"
c) Analise das canc6es: de posse das partituras musicais, passou-se a analise, ja mencionada anteriormente. A canc;ao escolhida pelo grupo para ser analisada foi "A Barata", mostradaanteriormente.
Procurou-se analisa-Ia dediversos modos, bem comonuma perspectiva morfol6gica,selecionando as frases e assemi-frases musicais.
Nesta analise, pode-seconstatar que as caracterfsticasinerentes a canc;ao folcl6ricabrasileira se apresentam, tambem, na regiao de Montenegro como ja se comentou anteriormente. Via de regra, a estruturabinaria das frases e das semifrases foi uma constante, formando canc;6es igualmente binarias, quanta a forma musical.Em se tratando da analise rftmica, foram selecionados os ritmosque mais se apresentavam nascanc;6es, fazendo com que 0 re-
sultado fosse uma conclusao (0momenta da Sfntese, mencionada como uma das etapas da pesquisa) quanta a maior incidencia de alguns, e a menor freqOencia no aparecimento deoutros.
Melodicamente, verificouse, tambem, os intervalos maispresentes. Ainda, se havia ounao a ocorrencia de grandessaltos de altura, entre outros aspectos. Apontou-se uma serie depossibilidades harmonicas, comvistas ao posterior trabalho decriac;ao musical, intenc;ao decontinuidade deste projeto.
Desde 0 infcio da Coletade Dados, ate 0 final dos Registros, da Analise e da Sfntese,passaram-se cerca de cincomeses, ou seja, isto estava pronto no infcio de agosto de 1999.
Certamente que esta datanao foi uma mera coincidencia.Na verdade, objetivava-se ter um
bom material, para que fossepossfvel, durante 0 mes de agosto - epoca em que se comemora em todo 0 mundo 0 mes doFolclore -, realizar a parte de criac;ao, com os registros dos fatos coletados pelos alunos,como sera abordado no pr6ximoitem, 0 da criac;ao musical.
d) Criacao musical: a partir doregistro e da analise dos dadosobtidos, propos-se a turma que,em duplas, grupos, ou mesmoindividualmente, escolhessemalgo, dentre 0 seu material pesquisado neste projeto, e elaborassem uma criac;ao musical.Isto poderia ser feito usando,apenas, algum dos componen- .tes musicais coletados, como umritmo especffico, uma linha me16dica, ou mesmo uma canc;aona sua totalidade, harmonizando-a com outros instrumentosmusicais. Enfim, algo do folclore, e 0 restante elaborado ao"sabor" de sua criatividade. Farse-ia um aproveitamento artfstico do folclore. Ao se propor esta
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tarefa, procurou-serealizar algumas abordagens sobre criagoesde compositores que tambem tinham utilizado elementos da suacultura como fonte de inspiragao. Assim, Villa-Lobos foi bastante escutado e estudado, a fimde elucidar a tarefa e, de certamaneira, comprovar a importancia da utilizagao do folclore comoum componente de estfmulo criativo. Alem de Villa-Lobos, outros compositores foram lembrados pelos pr6prios alunos, bemcomo artistas de outras areasdas artes, como a pintura e aescultura, entre outras.
o resultado das produgoes foi muito interessante, considerando-se que 0 nfvel dosalunos do curso nao era taoavangado para as produgoesque surgiram. Vale salientar quenao se desenvolveu esta proposta em uma universidade, masno ensino medio.
o resultado foi marcante,pois os alunos estavam trabaIhando com a sua propria realidade, intensificando significativamente 0 nfvel de "interagaoentre educador-educando-objeto de conhecimento-realidade".A proposta de trabalho apresentou-se significativa, com uma"vinculagao ativa do sujeito aosobjetos de conhecimento (...) ea consequente construgao dosmesmos no sujeito". Buscou-seum "conhecimento vinculado asnecessidades, interesses e problemas oriundos da realidade doeducando e da realidade socialmais ampia" (Vasconcellos,1994, p. 22, 51, 52).
Por volta da metade deagosto, estava finalizada estaultima etapa. Partiu-se, por conseguinte, para a realizagao dos
•ensalos.
Aqui, cabe uma parada para outra explicagao.
Todos os anos, no final domes de agosto, a FUNDARTErealiza a "Semana do Folclore"6.Este evento caracteriza-se porser a culminancia do projeto"Resgatando 0 Folclore", iniciado todos os anos por volta domes de margo. No ultimo dia daSemana do Folclore, sempre nasexta-feira, acontece uma festa,de carater comemorativo, emalusao ao dia do Folclore (festejado no dia 22 de agosto, emtodo 0 mundo), e que engaja os 'profissionais de todas as areasda instituigao (Musica, Teatro,Artes Visuais e Danga). Na festa, alem das diversas atragoesja presentes ao longo da semana - como exposigoes de fotografias, contendo registros dofolclore local, regional e nacional, reprodugoes de obras dearte com aproveitamento folcl6rico, decoragao baseada no artesanato folcl6rico -, sao organizadas oficinas diversas e apresentagoes musicais de professores e alunos, cujo m'aterial inclua
"
os aspectos do folclbre e/ou 0
aproveitamento de fatos folcl6-•ncos.
Em fungao de toda a proposta da Semana do Folclore,verificou-se a pertinencia deapresentar as criagoes desta turma em um dos momentos musicais. Propos-se aos alunos queorganizassem esta mostra, selecionando as criagoes que, seriam utilizadas, bem como fazendo ensaios coletivos.
Na mostra musical organizada, foram apresentados osresultados das criagoes paraprofessores, alunos, pais, funcionarios e demais membros dacomunidade que desejassem
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participar, e tudo com entradafranca. Foi muito interessante euma importante experiencia educativa para os alunos, que, acostumados a executarem obras deoutros compositores, agora "defendiam" a sua pr6pria elaboragao. Ficou, assim, bastante evidente que a "aprendizagemacontece quando 0 aluno estaenvolvido ativamente de umamaneira pessoal" (Oliveira,1993, p. 43).
Com relagao aos projetos,tanto da turma de Elementos da,Linguagem Musical, quanta doresgate do Folclore, pode~se finalizar a analise dizendo que asatividades foram muito produtivas e empolgantes. 0 que ocorreu esteve, sempre, contextualizado, nao sendo uma mera jungao de atividades, tampoucoamostragens para 0 publico.Foram atividades musicais quecolaboraram para a manutengaoda cultura (Maffioletti, 1993, p.26). Foi algo que partiu da realidade do grupo, fruto de um anseio de conhecimento, resgatee valorizagao cultural. Por issotudo, foi muito significativo.
No infcio deste artigo, par"tiu-se da afirmagao acerca dagrande importancia da realiza~
gao de projetos de resgate cultural em sala de aula, ao mesmo tempo em que se admitiu queh8. dificuldades no desenvolvimento dos mesmos.
Contudo, espera-seque,com esta breve exposigao do trabalho realizado, seja possfvelvislumbrar possibilidades deefetivar algumas praticas depesquisa que, constantes e en-'gajadas, sejam elementos propulsores do aprendizado, e naosomente atividades organizadasem fungao da proximidade de co-
6 A Carta do Folclore Braslleiro recomenda, ainda no mesma capitulo (III), que deve se "orientar a rede escolarpara que as datas relativas ao Folclore e Cultura sejam comemoradascomo urn conjunto de tematicas que devem constar de conteudos de varias disciplinas, pois figuram expressoes em diferentes linguagens - a da palavra, ada musica, a do corpo- bern como tscnicas, cuja pratica implica acumulagao e transmissao de saberes e conhecimentos hoje sistematizados pelas Ciencias. Instruir professores para que motivem seus'alunos, em tais datas, a estudar manifestagoes do seu proprio universo cultural".
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memoragoes de datas festivas,relacionadas ao folclore e a cultura em geral. A constancia ealgo fundamental no ensino, poisse isto nao ocorrer, sem duvidaos alunos perceberao que seesta forgando, e os objetivos, deextrema relevancia, estarao perdidos. Nao se alcangara 0 conhecimento e, muito menos, avalorizagao das tradigoes, dofolclore e da cultura.
Como consideragoes finais, ainda e pertinente dizerque, para um projeto desta natureza ser bem desenvolvido, 0
professor deve estar preparado.
Referencias Bibliograficas
"Nao ha ensino sem pesquisa epesquisa sem ensino. Essesque-fazeres se encontram um nocorpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,porque indaguei, porque indagoe me indago. Pesquiso paraconstatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer 0
que ainda nao conhego e comunicar ou anunciar a novidade"(Freire, 1999, p. 32). Desta maneira, 0 estudo inicial do docente, .que antecede a propria proposta de resgate com os alunos,e imprescindfvel, sob pena , tam-
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bem, de se perder a objetividade e a clareza do projeto.
Que 0 Folclore, em todoo seu sentir, pensar, agir e reagir, esteJa constantemente permeando os planejamentos dosprofessores em sala de aula,para que se possa, realmente,alcangar um aprendizado baseado na construgao do conhecimento, fundamentado pela realidade e identidade social doeducando. Assim, 0 ensino naosera uma mera transferencia deconhecimentos, mas uma constante criagao de possibilidadespara a sua pr6pria produgao ouconstrugao (Freire, 1999, p. 52).
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessarios apratica educativa. Sao Paulo, Paz e Terra, 1999.
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VASCONCELLOS, Celso dos S, Construr;fio do conhecimento em sala de aula. Sao Paulo, Libertad, 1994.
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