a produÇÃo de materiais em relevo tÁtil …os materiais em relevo tátil são recursos...
TRANSCRIPT
ISSN 2176-1396
A PRODUÇÃO DE MATERIAIS EM RELEVO TÁTIL COM O USO DA
FUSORA TÉRMICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Maíra Vasconcelos da Silva Padilha1 - IFPA
Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho apresenta os resultados obtidos nas aulas de Matemática e Geografia
através de uma das atividades do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades
Educacionais Especiais – NAPNE, do Instituto Federal do Pará –IFPA, Campus Tucuruí, com
o uso da fusora térmica Teca Fuser na produção de materiais gráficos em relevo, capazes de
serem reconhecidos pelo tato. Isto foi possível através do tratamento de imagens visuais em
função de uma releitura de seus componentes como contornos e disposição de texto e
imagens, na perspectiva de superações de dificuldades do processo de ensino-aprendizagem
de pessoas com deficiência visual. Através dos relevos e texturas obtidas pela fusora térmica
Teca Fuser e sua capacidade de representações gráficas no plano bidimensional em relevo,
deficientes visuais (DV’s) cegos e com baixa visão, podem se valer da percepção háptica para
o reconhecimento de figuras, mapas, diagramas e gráficos, produzidos com essa tecnologia,
tendo assim o direito à inclusão nas aulas de Matemática e Geografia especificamente. Para se
alcançar o melhor reconhecimento háptico dos desenhos, foram realizados seis experimentos,
sendo três destinados às aulas de Matemática e três destinados às aulas de Geografia, com a
impressão de figuras geométricas planas e composição de mapas, respectivamente. São
oferecidas neste trabalho, noções de como fazer uso desse dispositivo e de como usar
configurações básicas para a produção de materiais em relevo capazes de serem
compreendidos numa leitura tátil através do uso da fusora térmica. O uso dessa tecnologia de
impressão em relevo para a sala de aula é essencial para a inclusão e ensino-aprendizagem dos
alunos DV’s, pois são instrumentos capazes de transmitir conceitos que dantes não tinham
como serem repassados ao aluno DV.
Palavras-chave: Fusora Térmica. Deficiência Visual. Leitura Tátil
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, especialista em Psicologia Educacional
com Ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, Auxiliar em Assuntos
Educacionais do Núcleo de Atendimento às pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NAPNE/ IFPA/
Campus Tucuruí. E-mail: [email protected]
12371
Introdução
No Brasil, conforme os dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2010), considerando a população residente no país, 23,9%, cerca de
45.606.048 de brasileiros possuem pelo menos uma das deficiências, porém a deficiência
visual (DV) apresenta a maior ocorrência, afetando 18,6%, da população brasileira. Tais
dados justificam o empenho da sociedade em geral e principalmente do setor da educação na
criação e na disposição de meios que possibilitem a inclusão dessas pessoas na sociedade da
informação (ALMEIDA; NOGUEIRA, 2009).
O Instituto Federal do Pará – IFPA/ Campus Tucuruí - PA, estruturou o Núcleo de
Apoio à Pessoa com Necessidades Educacionais Específicas - NAPNE, no ano de 2012 com o
objetivo de contribuir na implementação de políticas de acesso, permanência e conclusão com
êxito dos alunos com necessidades específicas e de auxiliar esses alunos bem como aos seus
professores. Dessa forma, pretende-se assegurar os princípios da LDB (BRASIL, 1996), que
segundo o art. 59: “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades
especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,
para atender às suas necessidades”. E ainda, o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,
que regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989 que dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência em seu art. 29, onde “as
escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio
especializado para atender às peculiaridades da pessoa portadora de deficiência”.
Muitos os desafios de uma educação especial dentro da atual tendência de educação
inclusiva, afim de que educadores de escolas públicas brasileiras não se surpreendam com a
presença de alunos com deficiência visual matriculados em suas turmas, mas sim dêem a eles
a oportunidade de superarem suas dificuldades, fomentando a política de construção de
“sistemas educacionais inclusivos”. Na perspectiva de superações de dificuldades do processo
de ensino-aprendizagem de pessoas com DV, a equipe do NAPNE/ IFPA Campus Tucuruí,
procurou compreender a forma como os deficientes visuais se percebem e se relacionam com
o mundo, afim de tornar possível que sejam conhecidas as reais necessidades dessas pessoas
para subsidiar o desenvolvimento de alternativas que possam contribuir com a melhoria da
qualidade de vida. Essa mesma equipe, vem se apropriando do uso das Tecnologias Assistivas
e acreditando na implantação de uma política de “ educação inclusiva”, se propondo a
desenvolver metodologias adaptando recursos para discentes DV’s.
12372
O usuário dos Materiais em Relevo Tátil
Entende-se por deficientes visuais (DV’s), as pessoas que apresentam impedimento
total ou parcial da visão, decorrente de imperfeição do sistema visual. Para Kirk e Gallagher
(1991), a classificação para deficiência visual na área educacional é baseada em um padrão de
eficiência visual, que é de certo modo abstrato. Sendo utilizado, cada vez mais, uma definição
funcional que enfatiza os efeitos da limitação visual sobre a habilidade crítica da leitura.
De acordo com Brasil (1993), a pessoa cega é aquela que possui perda total ou resíduo
mínimo de visão, necessitando do método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros
métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino-aprendizagem.
pessoa com baixa visão é aquela que possui resíduos visuais em grau que permitam ler textos
impressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais,
excluindo as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes.
É necessário pensar que antes de se apresentar uma imagem a uma pessoa cega é
relevante refletir em transpor a realidade da imagem, ou seja, o visual, em uma realidade que
possa ser interpretada e conhecida pelas mãos. Segundo Rodrigues & Barni (2009), boa parte
dos recursos didáticos, com os alunos DV’s são iguais aos utilizados com os demais alunos.
No entanto, certos procedimentos devem passar por algumas adaptações para atender as
necessidades de aprendizagem desses alunos.
As aulas dialogadas podem não ser suficientemente claras na compreensão do aluno
DV, logo descrever um determinado conceito, situação, imagem, pode se tornar algo
frustrante tanto para o professor que vai descrever como para o aluno que vai imaginar.
Assim, uma vez que a descrição não contemple as reais informações do objeto descrito, esta
não será eficaz para o ensino-aprendizagem dos alunos DV’s.
Sistema Háptico
Segundo Nicholas (2011), o tato em humanos é o primeiro sentido a ser desenvolvido.
As informações captadas por este sentido são organizadas em três grupos: a sensação tátil, a
percepção tátil e a cognição tátil. Do primeiro grupo faz parte a recepção da estimulação do
ambiente que, em decorrência da história de experiências do indivíduo passa a compor a
percepção tátil. No do último grupo trata-se da capacidade de armazenar, reconhecer,
classificar etc, a informação por meio do tato ativo ou háptico que estará acionado nos
momentos em que houver exploração e manipulação de objetos.
12373
Sendo assim, conforme afirma Jiménez (1999), é possível falar em sistema háptico que
é multidimensional, uma vez que para reconhecer as informações utiliza tanto as modalidades
sensoriais quanto as perceptivas, permitindo captar as diferentes propriedades dos objetos, tais
como, tamanho, forma, textura, dureza. Contudo conforme afirma Millar (1997) tais
informações táteis são completadas também pela audição, organização do movimento e
explicações verbais. Assim, quando se fala no desenvolvimento do sistema háptico e em
aprendizagem tátil, McLinden (2004) chama a atenção para o período sensório motor descrito
por Piaget como o primeiro período do desenvolvimento da criança.
A dupla denominação – sensorial e motora, faz referência a uma particularidade da
inteligência dos bebês, uma vez que, de acordo com Piaget (1971), há o predomínio das
percepções e as ações do próprio corpo em relação aos objetos que o tocam e o cercam. Nesta
fase do desenvolvimento, em se tratando de crianças com deficiência visual, as interações
com os objetos podem ser enriquecidas a fim de que as informações sejam apreendidas de
maneira global, isto é, não só pelo tato, mas por todos os outros sentidos. A aprendizagem
tátil de crianças com DV poderá ser mais lenta na captação dos estímulos e até mesmo na
conduta manipulativa visto que, por não enxergarem, poderão ter mais dificuldade para captar
de forma integrada as informações que lhe oferece um ambiente organizado sobretudo em
função dos sinais visuis (BARDISA, 1992). Contudo para explorar objetos, as crianças com
deficiência visual utilizarão as mesmas classes e a mesma forma do tato que são utilizadas por
crianças videntes.
Os materiais em relevo tátil são recursos indispensáveis para pessoas com deficiência
visual pois possibilitam a ampliação da percepção espacial e criativa e facilitam o processo de
compreensão de imagens, que passa a ocorrer com maior segurança e autonomia. Além de um
importante recurso didático, os materiais em relevo tátil são instrumentos que oferecem novas
vivências e experiências à pessoa com deficiência visual e contribuem para que o processo de
inclusão social e educacional realmente aconteça.
O processo de composição dos materiais em relevo tátil
A técnica de confecção do material permite sua produção através da elaboração de
Layout’s com o uso de editores gráficos como o CorelDraw, impressos com o papel especial
para relevos táteis em impressoras a laser e passados na fusora térmica.
12374
Materiais e Procedimentos
Para a elaboração do material em relevo foi utilizado os equipamentos e materiais a
seguir: impressora a laser, scanner, fusora térmica Teca Fuser, papel microcapsulado tipo
Swellpaper, papel comum tamanho A4, software de uso comercial Corel Draw X7.
Primeiramente se fez necessário instalar no sistema do computador, a fonte
denominada de Braille Normal, de domínio público para poder reproduzir os textos em
Braille no software Corel Draw X7, posteriormente utilizou-se o scanner para digitalizar os
materiais repassados pelos professores. A partir daí foi feita a diagramação, que trata da
disposição das imagens e textos configurados da forma mais apropriada para leitura tátil. O
conteúdo (texto e imagens) foi diagramado dentro do padrão estabelecido, a partir daí foi
gerada a matriz impressa primeiramente em papel comum de tamanho A4, através da
reprodução em impressora a laser, passando esta, por dois corretores videntes. Após a
correção é gerada a matriz para o DV, a qual é impressa com papel microcapsulado tipo
Swellpaper - papel que contém em sua superfície microcápsulas de álcool que, quando
exposta ao calor, agem sobre a tinta preta impressa no papel formando o relevo na imagem
impressa em preto e “passada” na fusora térmica.
Escolha do Assunto
O assunto é demandado pelo professor da disciplina do aluno DV e encaminhado ao
NAPNE com todas as explicações e detalhes necessários ao escopo do trabalho a ser
reproduzido. As disciplinas que inicialmente demandaram o material em relevo tátil foram
Geografia e Matemática, devido as mesmas apresentarem como recurso de ensino-
aprendizagem assuntos que exigem a visualização de figuras, gráficos e mapas.
Diagramação
A diagramação é o primeiro passo para a composição do material, pois trata-se de um
trabalho em braile e para tanto, requer um cuidadoso estudo e sensibilidade do vidente para
transcrever o texto e posicionar figuras, para que fique compreensível a uma leitura tátil. A
diagramação é muito importante para prever possíveis dificuldades de interpretação do
conteúdo transcrito, considerando que o leitor cego é o principal alvo, senão o único do
trabalho que está sendo transcrito. Portanto, para conseguir um bom resultado em termos de
12375
aproveitamento do leitor, eventuais dúvidas foram sanadas no decorrer do processo, sendo os
alunos DV’s questionados durante o processo de produção.
Experimento na Matemática
As aulas de Matemática do professor que demandou o trabalho consistem basicamente
na exposição dos conteúdos matemáticos, no método comum de “lousa” e na realização de
exercícios. Para tanto é essencial que o aluno detenha um material exclusivo para manipular
em sala de aula e compreender as exposições orais do professor. O assunto demandado
inicialmente foi Geometria Plana. Assim, foi feito um formulário (Figuras 1, 2 e 3) resumindo
as fórmulas necessárias, com os respectivos nomes e o desenho das formas geométricas para
que o aluno pudesse perceber as figuras e aprender as fórmulas necessárias para realizar as
atividades quanto a área das figuras. É interessante ressaltar que o Braille possui uma
decodificação para as figuras geométricas simples, porém os discentes e principalmente
docentes desconhecem e preferem representá-las em relevo para que o aluno possa saber
identificar que figura é representada.
Figura 1- Área de Figuras Geométricas Planas Figura 2- Área de um Polígono
Fonte: Os autores. Fonte: Os autores.
12376
Figura 3- Área do círculo e suas partes
Fonte: Os autores.
Para trabalhos de matemática existem normas específicas sobre a transcrição de textos,
de acordo com o Código Matemático Unificado. Os símbolos matemáticos se escrevem,
geralmente, de forma contínua, isto é, sem celas vazias intermediárias. Há situações,
entretanto, em que por questões de clareza, se faz necessário deixar uma cela ou meia cela em
branco antes e depois de determinados símbolos:
Diferente de texto (que tem natureza linear e padrões unificados, como acontece na
codificação Braille), a representação matemática possui estruturas intricadas que dificultam a tradução e retenção por parte de DV. Com efeito, a complexidade de
expressões, as múltiplas dimensionalidades, a não-linearidade, as inúmeras
semânticas e notações, a natureza espacial e as variadas formas de se expressar uma
ideia são o grande desafio para DV representarem, interpretarem e manipularem a
matemática (BORGES, 2013, p.64).
A proposta em tabular o esquema, surgiu como uma forma de tornar o material mais
didático à compreensão dos alunos DV’s e tirar a linearidade da escrita Braille, para que
possam ler as respectivas fórmulas com mais facilidade e agilidade.
12377
Experimento na Geografia
As aulas de Geografia do professor que demandou o trabalho consistiu também na
exposição dos conteúdos teóricos da Geografia, no método comum de “lousa” e na realização
de exercícios. Porém a disciplina requer a visualização de muitos mapas corriqueiramente:
O exagero de informações pode dificultar a leitura do mapa pelo usuário. A
experiência mostra que a quantidade de informação que você pode incluir no mapa
tátil é muito limitada. O melhor modo de alcançar mapas com detalhes suficientes é
a produção de uma série de mapas que cobre a mesma área contendo diferentes
informações em cada mapa (ROWELL e UNGAR, 2003, p. 141).
O conteúdo abordado nos materiais reproduzidos em relevo foi: “As Mesorregiões do
Estado do Pará” (Figuras 5 e 6). De acordo com disposição padrão criada pelo NAPNE, a
primeira linha sendo o título do trabalho, logo abaixo o mapa e por fim estarão as informações
referentes ao mapa. A confecção dos mapas táteis foi feita primeiramente a partir da
digitalização de imagens extraídas da apostila base do professor da disciplina de Geografia do
IFPA. A imagem digitalizada no formato jpeg foi exportada para o Corel DrawX7, onde o
mapa foi modelado através da função mão livre, e o texto foi configurado com a fonte Braille
Normal, assim todo o conteúdo foi disposto e adaptado para a geração da matriz no formato
pdf. A matriz foi impressa em uma folha de papel comum, tamanho A4, passando pelas
devidas correções e novamente impressa, mas desta vez, em papel microcapsulado para a
produção da matriz tátil. Por fim, a matriz impressa foi passada na fusora térmica Teca Fuser
(Figura 4). Depois, foram feitos testes de percepção tátil.
Figura 4 – Microcapsulado sendo passado na fusora Térmica
Fonte: Os autores.
12378
Figura 5- Mapa Mesorregiões do Pará Figura 6- Mapa Sudoeste do Pará
Fonte: Os autores. Fonte: Os autores.
Resultados e Discussões
Logo no início do processo de produção do material já foram encontradas limitações
que dificultaram a confecção do layout do mesmo, devido a carência de fontes em Braille que
tivessem caracteres que representassem números, letras maiúsculas e símbolos. Esta foi a
primeira dificuldade a vencer. Como a plataforma Corel Draw é de fácil manuseio para criar
gráficos de qualquer espécie, foi desenhada uma "cela2” e o ponto com tamanho idêntico ao
da fonte utilizada para os demais textos. Dessa forma cada simbologia inexistente foi
desenhada para reproduzir todos os caracteres necessários a leitura do Braille para os DV’s.
Ainda quanto a produção, diante da pesquisa bibliográfica, verificou-se a mínima
quantidade de materiais reproduzidos utilizando-se a fusora térmica. Após o desenvolvimento
do trabalho, pôde-se compreender o porquê da dificuldade e pouca acessibilidade deste
material, pois este trabalho exige o manuseio do papel microcapsulado, este que possui valor
2 Espaço retangular onde se produz um símbolo Braille. De uma ou mais "cela(s)" damos origem a todos os
símbolos possíveis para representar letras do alfabeto, códigos matemáticos, numerais, sinais de pontuação,
simbologia química, musical e informática, do sistema Braille totalizando 64 combinações.
12379
de mercado muito alto, comprometendo a aquisição deste material em órgãos, entidades,
empresas e principalmente escolas.
Quanto à impressão do material, observou-se que a fusora térmica não fundiu
igualmente o papel Microcapsulado, com a temperatura nível 5, necessitando assim aumentar
a temperatura para 8. Com isso foi possível obter um bom relevo para a leitura tátil, porém
não deixando muito legível à leitura em Braille nas extremidades do papel, necessitando
passar na fusora mais de uma vez.
O material produzido foi testado de forma tátil e utilizidado pelos 3 alunos DV’s do
IFPA que utilizam o sistema Braille em seu dia a dia e sala de aula. Esses estão matriculados
em cursos técnicos integrado do IFPA, sendo 2 no curso Técnico Integrado ao Ensino Médio
de Suporte e Manutenção em Informática e um em Técnico em Saneamento Básico.
Na análise do material pelos alunos DV’s, verificou-se que o tamanho da fonte
utilizada (Braille Normal nº 20), é o equivalente a grafia da máquina de datilografia em
Braille. Durante o manuseio do material , de acordo com o relato dos discentes DV’s, as letras
ficam mais difíceis de serem identificadas, porém com uma leitura mais lenta é possível se
identificar todo o conteúdo do material. Quanto ao relevo nas figuras e nos mapas, a
interpretação foi instantânea. No caso das formas geométricas (quadrado, círculo, trapézio,
losango, retângulo) já conhecidas pelos alunos, automaticamente as mesmas foram
identificadas, no caso dos mapas, a inovação motivou-os a ter maior interesse em entender o
espaço geográfico, diante da leitura tátil de mapas.
No primeiro trabalho (Figura 3) a espessura do contorno da tabela foi de 0,2 mm, o
que dificultou a identificação do desenho da tabela, comprometendo a interpretação do
conteúdo presente nela. A partir disso, foi verificado a importância da espessura do contorno
da tabela, o que para o vidente é só uma questão de estética, para o DV é imprescindível que o
contorno tenha uma espessura que o relevo possa ser facilmente identificado. Dessa maneira,
para os posteriores trabalhos usou-se a espessura de 0,5 mm, o que proporcionou a melhoria
na identificação do desenho da tabela por parte do aluno DV.
Outro ponto interessante a ser destacado na observação do manuseio do material da
disciplina de Matemática, é que dois alunos não tinham a conceituação do que era tabela.
Tornando difícil o acesso às informações presentes nos formulários de Matemática e legendas
dos mapas. Após a exposição do conceito de tabelas instruindo-os de forma tátil, levando o
dedo dos alunos no ato da descrição, definindo dessa forma as linhas e respectivas colunas da
tabela. Abrindo assim, um novo horizonte de interpretação do material.
12380
O costume de só ler (a escrita Braille) em auto relevo devido a maior facilidade de
aquisição dos instrumentos de escrita, utilizados corriqueiramente pelos DV’s: como a pulsão
e a reglete, ou a máquina de datilografia em Braille, sempre separadamente das imagens, pois
geralmente se confecciona um material a parte para que o aluno DV compreenda o conteúdo.
Esse material é confeccionado de forma artesanal utilizando-se de cola 3D, EVA, barbante,
papel camurça, fios diferenciados, entre outros. Material que muitas vezes não fica ao acesso
do aluno DV, produzido geralmente pelo professor e para tanto fica sob posse do professor,
ou produzido na sala do NAPNE, que também deixa o material para o seu acervo próprio,
principalmente se confeccionado de forma mais complexa.
Quanto ao material produzido para a disciplina de Geografia, não foram identificados
muitos problemas, sendo o material produzido de grande relevância para a interpretação de
mapas dos alunos DV’s. Já para a disciplina de Matemática observou-se uma maior
dificuldade de compreender o conteúdo escrito em Braille devido o desconhecimento por
parte de 2 alunos em relação a simbologia matemática em Braille. Observou-se que pelo fato
do conteúdo nunca ter sido estudado pelos mesmos e sempre lido (e/ou ditado), eles criaram
uma simbologia própria a eles para que conseguissem realizar as atividades de Matemática, o
que no ato da interpretação do formulário causou uma certa dificuldade, fato este que
motivou-os a conhecerem melhor o sistema de grafia que utilizam no dia a dia, fazendo com
que os mesmos buscassem se aperfeiçoar mais em relação a grafia Matemática Braille.
As informações acima apresentadas nos permitem pontuar algumas exigências
estruturais para a fabricação de materiais em relevo tátil. As principais delas são:
Torna-se importante evitar possíveis ambiguidades na interpretação dos
desenhos. Para isso, o desenho deve conter todos os elementos necessários para
a conceitualização do objeto representado. E a informação da descrição em
Braille do que trata o texto deve vir preferencialmente antes da imagem.
O excesso de detalhes torna a leitura confusa ao tato e exige um grande esforço
cognitivo para a compreensão.
Os desenhos precisam ser fabricados em um tamanho específico. Figuras muito
pequenas podem atrapalhar o discernimento das linhas e a identificação de
determinadas formas geométricas. Figuras muito grandes reforçam a apreensão
analítica do tato e dificultam a percepção global da forma, uma mapa
desenhado em tamanho A4 traz uma boa representação ao DV.
12381
Enfim, pôde-se perceber, pelas interpretações conferidas pelas pessoas cegas, que
certas representações gráficas, que a visão nos permite considerar extremamente simples e
evidentes, podem ser também facilmente reconhecidas por pessoas cegas devido a uma série
de fatores mencionados no decorrer desse artigo. A facilidade ou não de interpretar as
representações vai depender além das instruções orais de um vidente, vai depender também
bastante da experiência de vida de cada pessoa cega.
Conclusões
O desenvolvimento deste trabalho é relevante visto que se trata de um tema pouco
explorado, tanto no contexto científico quanto na prática, e há uma grande necessidade na
produção deste tipo de material para ajuda aos portadores de deficiência visual.
O insucesso que acontece ou vier acontecer por parte da interpretação dos relevos
táteis por parte dos DV’s, não está na sua incapacidade de definição do sistema tátil, como
reconhecer ou não figuras e mapas em relevo, mas sim no fato de que aos sujeitos cegos ou
com baixa visão não tem sido permitido o acesso aos padrões bidimensionais (desenhos em
relevo) com a mesma frequência que as pessoas que enxergam. Além disso, esses padrões,
quando oferecidos, não são adequadamente ensinados àqueles indivíduos; e os desenhos em
relevo são produzidos como transcrição da imagem visual para o registro tangível,
desconsiderando-se modalidades específicas do sistema háptico e da transcrição pictórica
capturada por esse sentido.
Os materiais em relevo tátil, além de um importante recurso didático, são instrumentos
que oferecem novas vivências e experiências à pessoa com deficiência visual e contribuem
para que o processo de inclusão social e educacional realmente aconteça. Pois o processo de
ensino aprendizagem passa a ocorrer com maior segurança e autonomia.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. C.; NOGUEIRA, R. E. Iniciação cartográfica de adultos invisuais. In:
NOGUEIRA, R. E. (Org.). Motivações hodiernas para ensinar Geografia: representação do espaço para visuais e invisuais. Florianópolis: LabTATE/CNPq, 2009.
BARDISA, L. Como enseñar a los niños ciegos a dibujar. Madrid: Gráficas Man/ONCE,
1992.
BORGES, J. A. Ensinando Geometria a Deficientes Visuais: o ambiente dinâmico Geometrix. Revista Brasileira de Informática na Educação, Volume 21, Número 2, 2013.
12382
BRASIL, LDB. Lei 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível
em<www.mec.gov.br>. Acesso em: 05 mar. 2015.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Especial. Subsídios
para a formulação da política nacional de educação especial. Brasília, 1993.
Brasil. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de
outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 21 dez. 1999. Seção 1, p. 10.
COREL. Version CorelDRAW Graphics Suite X7, Corel Corporation, 2014. CDROM.
JIMÉNEZ, S. Evaluación de las habilidades hápticas. Integración, 31, 5-13, 1999.
KIRK, S. A.; GALLAGHER, J. J.Educação da criança excepcional.2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
MCLINDEN, M. Haptic exploratory strategies and children who are blind and have additional
disabilities. Journal of visual impairment and blindness (JVIB). Nova York. V. 98, n. 2, p. 1-33, fev 2004.
MILLAR, S. La compreension y la representation del espacio: teoria y evidencia a partir
de estúdios com niños ciegos y videntes. Madrid: Gráficas man/ONCE, 1997.
NICHOLAS, Jude. Do tato ativo à comunicação tátil: o que a cognição tátil tem a ver com isso?; tradução Roberto Alexandre Machado Albornoz. São Paulo: Grupo Brasil, 2011.
PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Coleção Plural, 1971.
RODRIGUES, K. G., BARNI, E. M., A Utilização de Recursos Tecnológicos com alunos
Deficientes Visuais no curso superior a distância de uma instituição de ensino de
Curitiba-PR, Disponível em
<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3537_ 2058.pdf> Acesso em: 24 mar. 2015.
ROWELL, J.; UNGAR, S. Feeling your way: a tactile map user survey. In: International
Cartographic Conference, 21, Durban. Proceedings... Durban. South África, 2003.