a relação entre igreja e estado no livro de atos

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO RENOVADO BRASIL CENTRAL BACHARELADO EM TEOLOGIA PEDRO HENRIQUE CORDEIRO TRINDADE A RELAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO NO LIVRO DE ATOS ANÁPOLIS 2014

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Breve explicação sobre as estruturas estatais presentes na Palestina do primeiro século. Há, também, comentário de diversos textos do livro de Atos onde há a relação entre a Igreja Primitiva e essas estruturas estatais.

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  • SEMINRIO PRESBITERIANO RENOVADO BRASIL CENTRAL

    BACHARELADO EM TEOLOGIA

    PEDRO HENRIQUE CORDEIRO TRINDADE

    A RELAO ENTRE IGREJA E ESTADO NO LIVRO DE ATOS

    ANPOLIS

    2014

  • PEDRO HENRIQUE CORDEIRO TRINDADE

    A RELAO ENTRE IGREJA E ESTADO NO LIVRO DE ATOS

    Trabalho apresentado ao Seminrio Presbiteriano Renovado Brasil central, em cumprimento s exigncias da disciplina de Anlise de Atos, ministrada pelo Prof. Pr. Ivailton Jos Soares.

    ANPOLIS

    2014

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 3

    2 O ESTADO POLTICO ........................................................................................... 4

    3 COMENTRIO BBLICO ........................................................................................ 5

    3.1. O DESTINATRIO TEFILO (1.1) ................................................................ 5

    3.2. PEDRO E JOO PERANTE O SINDRIO (4.1-31) ....................................... 6

    3.3. APSTOLOS PERSEGUIDOS PELOS SADUCEUS (5.17-41) ..................... 7

    3.4. A PRISO DE ESTVO (6.8-8.1) ................................................................ 8

    3.5. O CENTURIO CORNLIO (10) ................................................................... 9

    3.6. PEDRO NA PRISO, A MORTE DE TIAGO E DE HERODES (12.1-25) ...... 9

    3.7. PAULO E BARNAB EM CHIPRE (13.4-12) ............................................... 10

    3.8. PAULO E BARNAB NA ANTIOQUIA DA PSDIA (13.13-31) ..................... 11

    3.9. PAULO E SILAS SO PRESOS EM FILIPOS (16.16-40) ............................ 11

    3.10. PAULO E SILAS SO PRESOS EM TESSALNICA (17.1-9) ................. 12

    3.11. PAULO EM CORINTO E A ACUSAO A GLIO (18.12-17) ................. 13

    3.12. O TUMULTO EM FESO (19.23-41) ........................................................ 13

    3.13. A PRISO DE PAULO EM JERUSALM (21.27-23.35) ........................... 14

    3.14. O JULGAMENTO DE PAULO PERANTE FLIX (24) .............................. 15

    3.15. O JULGAMENTO DE PAULO PERANTE FESTO (25.1-12) .................... 16

    4 CONCLUSO ....................................................................................................... 19

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 21

  • 3

    1 INTRODUO

    Nesse trabalho trataremos da relao existente no livro de Atos entre a igreja e

    o Estado. Vale ressaltar que a igreja raramente aparece como um grande grupo de

    pessoas nesse livro, normalmente, o que vemos so os apstolos atuando em nome

    de Cristo e sua igreja. Essa observao importante para compreendermos a

    relevncia dos textos bblicos discutidos aqui. Com relao ao Estado, teremos um

    captulo especial que nos apresentar algumas informaes introdutrias importantes.

    Desse modo, para cumprirmos nosso objetivo, apresentaremos, inicialmente, o

    funcionamento do Estado no Oriente Mdio do sculo I d.C. a ttulo de

    contextualizao. Em seguida, faremos breves comentrios de cada texto em que

    aparece algum exemplo de convergncia ou divergncia entre as duas instituies

    objetos desse estudo. E, por fim, discutiremos, diante dos textos apresentados, como

    se dava essa relao.

  • 4

    2 O ESTADO POLTICO

    Quando se pensa no livro de Atos, uma boa forma de compreende-lo com

    base na expanso geogrfica do evangelho. Partindo de Jerusalm, passando pela

    Judeia, Samaria, e chegando at os confins da Terra, cuja representao Roma.

    Notamos com isso uma limitao da narrativa ao contexto do Imprio Romano, no

    vemos, por exemplo, a chegada do evangelho ao Egito e ao Oriente. Desse modo,

    cabe-nos compreender como funcionava a poltica romana para, assim, entendermos

    sua relao com a igreja crist primitiva.

    Entretanto, essa no uma tarefa simples. O Imprio Romano, nesse perodo

    narrado por Lucas (29 e 61 d.C.), tinha uma maneira peculiar de controle de seus

    territrios dominados. Alm da administrao centralizada na capital e baseada na

    pessoa do imperador, o controle poltico era redistribudo entre os governadores das

    provncias. Esses governadores eram eleitos pelo senado, no caso das provncias

    mais pacficas, e indicado pelo imperador nos demais casos. Com relao s suas

    funes e autoridade, Albert Bell Jr. (2001) diz o seguinte:

    Eram homens que detinham poder absoluto sobre os habitantes de suas provncias e comandavam as tropas ali aquarteladas. Podiam emendar ou abolir as leis das provncias, dando asas s manias e caprichos do poder.

    Outras importantes funes do governador eram a manuteno da ordem

    pblica, alis essa era sua prioridade mxima, e a atuao como juiz, usando um

    manual de procedimentos legais. Alm disso, eram responsveis pela coleta de

    impostos para o Imprio, atividade que exerciam por meio da contratao dos

    coletores conhecidos como publicanos (caso de Zaqueu, chefe dos publicanos, e o

    apstolo Mateus), odiados pelo povo.

    A administrao da provncia da Judeia, porm, era ainda mais complexa. Roma

    permitia a existncia de outras estruturas tradicionais de poder estatal em suas

    provncias, o caso do Sindrio, muito presente no livro de Atos, e, tambm, da

    dinastia herodiana que reassumiu seu trono sobre a regio entre 41 e 44 d.C na

    pessoa de Agripa I e 53 a 100 d.C. com Agripa II. O Sindrio, bem como o prprio rei,

    eram submissos a Roma e, ainda que essa tenha procurado manter as estruturas

    locais anteriores conquista, a dominao romana implicou a progressiva

    romanizao e helenizao, bem como a cobrana de inmeros impostos diretos e

    indiretos.

  • 5

    As questes internas da comunidade judaica eram resolvidas pelo sindrio. Esse

    era um tribunal presidido pelo sumo sacerdote e formado por 71 membros (ancios,

    sumos sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus e escribas fariseus)

    com sede em Jerusalm. Possua atribuies jurdicas: julgava os crimes contra a

    lei mosaica, fixava a doutrina e controlava todos os aspectos da vida religiosa. O rei,

    por sua vez, tinha autoridade para nomear o sumo sacerdote, planejava e executava

    obras de infraestrutura e cobrava impostos da populao. Alm disso, podia exercer,

    em certos casos, funes jurdicas, por exemplo quando Agripa II ouviu Paulo em Atos

    25.13-22.

    Tendo em mente essas estruturas de poder poltico e a maneira como elas

    funcionam, podemos prosseguir para o estudo do texto bblico. Pois, considerando a

    presena de cada uma dessas esferas dentro da narrativa de Atos, temos agora a

    noo mnima necessria para compreender determinadas passagens que tratem do

    tema aqui proposto.

    3 COMENTRIO BBLICO

    3.1. O DESTINATRIO TEFILO (1.1)

    Em meu livro anterior, Tefilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus comeou a fazer e a

    ensinar... (1.1)

    Tefilo o destinatrio dos dois livros escritos por Lucas, o Evangelho de

    Lucas e Atos dos Apstolos. No evangelho, Lucas trata seu destinatrio por

    Excelentssimo (kratistos), expresso usada para se referir a pessoas com grande

    autoridade ou que ocupam altos cargos. Alm disso, o mesmo tratamento usado

    para Flix e Festo (At 23:26; 24:3; 26:25), ambos governadores da Judeia, oficiais do

    Imprio Romano. Diante disso, podemos inferir com certa segurana que Tefilo era

    um alto oficial do governo de Roma, o que nos apresenta a primeira relao entre a

    igreja primitiva e os poderes polticos de seu tempo.

    Todavia, difcil dizer que tipo de relao essa. Alguns estudiosos defendem

    que Tefilo seria um membro da comunidade crist, outros, porm, dizem ser ele um

    oficial romano hostil. No sabemos ao certo, mas, observando a maneira como a

  • 6

    relao entre o Imprio e a igreja descrita (como veremos a seguir) ao longo do livro,

    parece-nos que Lucas pretende mostrar a inofensividade dessa para com aquele.

    3.2. PEDRO E JOO PERANTE O SINDRIO (4.1-31)

    Enquanto Pedro e Joo falavam ao povo, chegaram os sacerdotes, o capito da guarda do

    templo e os saduceus. [...] Agarraram Pedro e Joo e, como j estava anoitecendo, os

    colocaram na priso at o dia seguinte. (4.1, 3)

    Vemos aqui o primeiro relato onde, objetivamente, h uma relao entre a igreja

    crist, representada pelos apstolos em sua misso evangelstica, e o estado,

    representado pelos lderes judaicos que compunham o Sindrio. O texto, na ntegra,

    nos revela a preocupao desses com a pregao do evangelho e os milagres

    realizados. Por causa disso, se reuniram para questionar os apstolos sobre o poder

    e autoridade usados por eles para fazer tais coisas.

    Saibam os senhores e todo o povo de Israel que por meio do nome de Jesus Cristo, o

    Nazareno, a quem os senhores crucificaram, mas a quem Deus ressuscitou dos mortos, este

    homem est a curado diante dos senhores.

    Diante da resposta dada por Pedro, vemos a nfase no fato de Jesus ter sido

    crucificado pelos que o ouviam. Isso mostra que, quem merece julgamento no so

    os apstolos, mas, quem os questiona. Pedro destaca a inocncia dos cristo em seus

    atos de bondade e a legitimidade de sua pregao.

    Ento, chamando-os novamente, ordenaram-lhes que no falassem nem ensinassem em

    nome de Jesus. Mas Pedro e Joo responderam: "Julguem os senhores mesmos se justo

    aos olhos de Deus obedecer aos senhores e no a Deus. (4.18-19)

    No trecho acima, notamos clara oposio de ideias: os lderes preocupados com sua

    tradio e costumes, mesmo diante dos sinais e da autoridade apostlicos, e a submisso

    dos cristo vontade de Deus. E, como ponto climtico, a fala de Pedro (em negrito) nos

    mostra a quem a igreja deve submeter-se prioritariamente. Isso no implica em desobedincia

    generalizada ao estado, mas, nos pontos em que a vontade de Deus est em oposio as

    das autoridades civis, a igreja deve obedecer, antes, a Deus.

    De fato, Herodes e Pncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta

    cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. (4.27)

  • 7

    Por fim, aps serem libertos, os crentes se renem para orar. A declarao

    acima faz parte da orao que nos apresenta trs coisas, pelo menos: 1) Eles

    reconhecem nesses lderes agentes para o cumprimento de profecias do AT; 2) Diante

    da perseguio imposta pelas lideranas judaicas, eles entendem que Deus

    soberano e est no controle da situao (v. 28); 3) A ao do Sindrio no os

    desmotivou em sua misso, pelo contrrio, clamaram a Deus para que realizasse mais

    por meio da igreja.

    3.3. APSTOLOS PERSEGUIDOS PELOS SADUCEUS (5.17-41)

    Ento o sumo sacerdote e todos os seus companheiros, membros do partido dos saduceus,

    ficaram cheios de inveja. Por isso, mandaram prender os apstolos, colocando-os numa

    priso pblica. (5.17-18)

    Nesse episdio, os apstolos estavam operando sinais e milagres entre o povo

    e os lderes judeus, tomados de inveja, lanam-nos em uma priso. O Sindrio se

    reuniu e mandou buscar os apstolos, porm, um anjo do Senhor os havia libertado.

    Ao ficarem sabendo disso, os lderes voltam a busca-los e os prendem novamente.

    Tendo levado os apstolos, apresentaram-nos ao Sindrio para serem interrogados pelo

    sumo sacerdote, que lhes disse: "Demos ordens expressas a vocs para que no ensinassem

    neste nome. Todavia, vocs encheram Jerusalm com sua doutrina e nos querem tornar

    culpados do sangue desse homem". Pedro e os outros apstolos responderam: " preciso

    obedecer antes a Deus do que aos homens! O Deus dos nossos antepassados ressuscitou

    Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. (5.27-30)

    O questionamento feito pelo Sindrio aos apstolos nos revela um grande

    conflito entre eles. Os lderes judaicos acusam os lderes da igreja de espalhar uma

    falsa doutrina pela cidade e, alm disso, os culparem pela morte de Jesus. De fato,

    em todas as pregaes apostlicas at aqui os judeus, principalmente os lderes, so

    acusados de matar Jesus (2.36; 3.13-15, 17; 4.10, 27). Isso nos revela como a relao

    entre a igreja e as autoridades judaicas era conturbada, justamente porque a

    mensagem dos cristo os confrontava, tanto religiosamente quanto politicamente.

    Portanto, tendo em vista que h um conflito entre os dois grupos, Pedro declara mais

    uma vez preciso obedecer antes a Deus do que aos homens! e reafirma a culpa

    dos ouvintes pela morte do Cristo, deixando claro de que modo eles vo agir: sem

  • 8

    negociar sua mensagem e sem negligenciar sua misso. Isso fica mais evidente no

    trecho a seguir:

    Os apstolos saram do Sindrio, alegres por terem sido considerados dignos de serem

    humilhados por causa do Nome. Todos os dias, no templo e de casa em casa, no deixavam

    de ensinar e proclamar que Jesus o Cristo. (41-42)

    3.4. A PRISO DE ESTVO (6.8-8.1)

    Com isso agitaram o povo, os lderes religiosos e os mestres da lei. E, prendendo Estvo,

    levaram-no ao Sindrio. Ali apresentaram falsas testemunhas que diziam: "Este homem no

    para de falar contra este lugar santo e contra a lei. (6.12-13)

    Assim como nos trechos comentados anteriormente, o confronto que o

    evangelho gera nos judeus os leva a uma profunda ira e revolta contra os pregadores.

    Desse modo, eles se juntam s suas lideranas civis, que tambm so religiosas, para

    conspirar contra os cristos.

    "Povo rebelde, obstinado de corao e de ouvidos! Vocs so iguais aos seus antepassados:

    sempre resistem ao Esprito Santo! Qual dos profetas os seus antepassados no

    perseguiram? Eles mataram aqueles que prediziam a vinda do Justo, de quem agora vocs

    se tornaram traidores e assassinos (7.51-52)

    Outra vez, e esse um assunto que estar presente em quase todos os

    discursos apostlicos, os judeus so acusados de matar o Messias. Esse um fator

    ainda mais agravante na revolta contra os cristos, o que chegou ao cmulo do

    martrio de Estvo.

    Mas eles taparam os ouvidos e, gritando bem alto, lanaram-se todos juntos contra ele,

    arrastaram-no para fora da cidade e comearam a apedrej-lo. (7.57-58a)

    Sobre a execuo de Estvo pelo Sindrio, Marshall (1982) faz um declarao

    interessante:

    Fora julgado pelo Sindrio, mas aquele concilio no tinha a autoridade de mandar executar pessoa alguma (Jo 18:31). Mesmo assim, foi executado pelo apedrejamento, e no pela forma romana de execuo. As possibilidades so: aquilo que aconteceu foi um ato espontneo de violncia da turba, ou Estvo foi legalmente executado pelo Sindrio; quer porque os romanos tenham dado permisso especial, quer porque no havia governador romano na ocasio e aproveitou-se o interregno.

  • 9

    Bem, a ltima possibilidade a menos plausvel dentre as outras devido data

    tardia do interregno (36-37 d.C.). O mais provvel que tenha sido um linchamento

    popular, apesar de ter tido o aval e participao do Sindrio.

    Naquela ocasio desencadeou-se grande perseguio contra a igreja em Jerusalm. (8.1b)

    Finalmente, aps o ocorrido, a igreja passou a ser intensamente perseguida em

    Jerusalm. O texto no nos deixa claro quem foram os autores de tal perseguio,

    porm, ao que tudo indica, foram os mesmos que atacaram Estvo. Vale observar

    que esse evento dispersou os cristos, fazendo-os levar o evangelho a outras regies.

    3.5. O CENTURIO CORNLIO (10)

    Havia em Cesaria um homem chamado Cornlio, centurio do regimento conhecido como

    Italiano. (1)

    Depois que o anjo que lhe falou se foi, Cornlio chamou dois dos seus servos e um soldado

    piedoso dentre os seus auxiliares, e, contando-lhes tudo o que tinha acontecido, enviou-os a

    Jope. (7-8)

    O centurio um oficial responsvel pelo comando de uma centria, sexto na

    cadeia de comando de uma legio romana. Apesar de no haver uma relao direta

    entre o Imprio e a igreja na histria de Cornlio, o fato de um lder militar romano se

    envolver, antes com o judasmo e depois com o cristianismo, nos revela indiferena

    de Roma com relao s questes religiosas. Revela, at, uma passividade visto que

    Cornlio utiliza militares romanos para assuntos religiosos (evidente em 7-8).

    3.6. PEDRO NA PRISO, A MORTE DE TIAGO E DE HERODES (12.1-25)

    Nessa ocasio, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam igreja, com a inteno de

    maltrat-los, e mandou matar espada Tiago, irmo de Joo. Vendo que isso agradava aos

    judeus, prosseguiu, prendendo tambm Pedro, durante a festa dos pes sem fermento.

    Tendo-o prendido, lanou-o no crcere, entregando-o para ser guardado por quatro escoltas

    de quatro soldados cada uma. Herodes pretendia submet-lo a julgamento pblico depois da

    Pscoa. (1-4)

  • 10

    O rei da Judeia, Herodes Agripa I, desejando ganhar prestgio ante os judeus,

    mandou prender Pedro e Tiago. Essa intenso de Agripa fica clara no versculo 4,

    onde diz que ele queria julg-los publicamente aps a Pscoa. Afinal, ele no tinha

    muito zelo pelas questes da lei, seno aos seus prprios interesses. Pedro, por

    interveno milagrosa de Deus, foi liberto de suas cadeias, Tiago no teve a mesma

    sorte, e foi morto espada.

    Pedro, ento, ficou detido na priso, mas a igreja orava intensamente a Deus por ele. (5)

    Visto que Herodes no glorificou a Deus, imediatamente um anjo do Senhor o feriu; e ele

    morreu comido por vermes. Entretanto, a palavra de Deus continuava a crescer e a espalhar-

    se. (23-24)

    O versculo 5 nos mostra um claro contraste entre a forma de agir de Herodes,

    representante do governo judaico, e a da igreja que se pe em orao, clamando a

    Deus pelo livramento de Pedro. Outro trecho que nos mostra essa diferena entre a

    igreja e o estado judaico o dos versos 23-24, onde Herodes morto pela sua no

    glorificao a Deus e a igreja permanece em crescimento intenso.

    3.7. PAULO E BARNAB EM CHIPRE (13.4-12)

    Ele era assessor do procnsul Srgio Paulo. O procnsul, sendo homem culto, mandou

    chamar Barnab e Saulo, porque queria ouvir a palavra de Deus. Mas Elimas, o mgico (esse

    o significado do seu nome) ops-se a eles e tentava desviar da f o procnsul. (7-8)

    Estando Paulo e Barnab em Chipre, so chamados pelo procnsul romano

    para explicar-lhe o evangelho. Todavia, o assessor de Srgio Paulo, um mgico, tento

    tirar-lhe a ateno. Ento, Paulo, como um agente de Deus, declarou que ele ficaria

    cego por um tempo.

    O procnsul, vendo o que havia acontecido, creu, profundamente impressionado com o ensino

    do Senhor. (12)

    Essa uma passagem importante para nossa discusso, pois, citando Albert

    Bell Jr., os procnsules eram automaticamente membros do Senado, portanto, ao

    retornarem a Roma, havia pelo menos uma pessoa na do governo que, se no era um

    cristo comprometido, era algum com experincia de primeirssima mo do

    movimento. No vemos o resultado dessa influncia sendo narrado no livro de Atos,

  • 11

    mas, sem dvida, foi uma grande experincia daquele homem com o evangelho de

    Jesus Cristo que, sem dvida, o tornou uma testemunha favorvel igreja crist.

    3.8. PAULO E BARNAB NA ANTIOQUIA DA PSDIA (13.13-31)

    Depois de rejeitar Saul, levantou-lhes Davi como rei, sobre quem testemunhou: Encontrei

    Davi, filho de Jess, homem segundo o meu corao; ele far tudo o que for da minha

    vontade. "Da descendncia desse homem Deus trouxe a Israel o Salvador Jesus, como

    prometera. (22-23)

    O trecho acima nos mostra algo curioso sobre a viso de Paulo com relao ao

    governo de Jud. Paulo relembra seus ouvintes judeus de que Deus fizera uma

    aliana com Davi e prometera que o seu reino jamais acabaria (Salmo 89.3-4). Cristo

    o descendente de Davi, herdeiro legtimo dessa promessa, no ligada ao governo

    terreno, mas, a um espiritual. Portanto, o povo deve se submeter ao governo do

    Messias ressurreto que veio estabelecer o Reino de Deus.

    O povo de Jerusalm e seus governantes no reconheceram Jesus, mas, ao conden-lo,

    cumpriram as palavras dos profetas, que so lidas todos os sbados. Mesmo no achando

    motivo legal para uma sentena de morte, pediram a Pilatos que o mandasse executar. (27-

    28)

    Paulo ainda refora seu ponto de vista mostrando a rejeio de Jesus pelo povo

    e suas lideranas (judaicas e romanas), o que o levou morte. Novamente, expondo

    que Jesus foi morto injustamente pelas mos daqueles que deviam receb-lo.

    3.9. PAULO E SILAS SO PRESOS EM FILIPOS (16.16-40)

    E, levando-os aos magistrados, disseram: "Estes homens so judeus e esto perturbando a

    nossa cidade, propagando costumes que a ns, romanos, no permitido aceitar nem

    praticar". A multido ajuntou-se contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que se lhes

    tirassem as roupas e fossem aoitados. Depois de serem severamente aoitados, foram

    lanados na priso. O carcereiro recebeu instruo para vigi-los com cuidado. (20-23)

    Os apstolos encontraram, em Filipos, uma mulher possuda por um esprito

    que predizia o futuro. Paulo expulsou o esprito e os donos daquela escrava ficaram

    irritados porque ganhavam dinheiro com as previses. Ento, agarraram Paulo e Silas

  • 12

    e os levaram s autoridades, acusando-os de perturbar a cidade e propagar costumes

    proibidos aos romanos. Essas autoridades aoitaram Paulo e Silas e os prenderam.

    Durante a noite, houve um terremoto e eles foram libertos, porm, ao invs de

    fugir, pregaram para o carcereiro que se converteu. No dia seguinte os lderes da

    cidade mandaram solt-los, porm, Paulo fez a seguinte declarao:

    "Sendo ns cidados romanos, eles nos aoitaram publicamente sem processo formal e nos

    lanaram na priso. E agora querem livrar-se de ns secretamente? No! Venham eles

    mesmos e nos libertem". Os soldados relataram isso aos magistrados, os quais, ouvindo que

    Paulo e Silas eram romanos, ficaram atemorizados. Vieram para se desculpar diante deles e,

    conduzindo-os para fora da priso, pediram-lhes que sassem da cidade. (37-39)

    Pela lei romana, cidados romanos no podiam ser agredidos sem processo

    formal. O que as lideranas fizeram contra Paulo foi algo ilegal e, portanto, gerou medo

    nos magistrados da cidade. Isso gerou um pedido de desculpas e, tambm, um pedido

    para que sassem da cidade. Vemos que, assim como no caso dos judeus, o grande

    conflito das autoridades com o evangelho o confronto aos interesses escusos do

    povo, provocado pela pregao. Nada de errado havia na ao dos apstolos e

    demais cristos.

    3.10. PAULO E SILAS SO PRESOS EM TESSALNICA (17.1-9)

    Contudo, no os achando, arrastaram Jasom e alguns outros irmos para diante dos oficiais

    da cidade, gritando: "Esses homens que tm causado alvoroo por todo o mundo, agora

    chegaram aqui, e Jasom os recebeu em sua casa. Todos eles esto agindo contra os decretos

    de Csar, dizendo que existe um outro rei, chamado Jesus". Ouvindo isso, a multido e os

    oficiais da cidade ficaram agitados. Ento receberam de Jasom e dos outros a fiana

    estipulada e os soltaram. (6-9)

    Como uma espcie de padro recorrente na maioria dos casos anteriores, os

    judeus, movidos por inveja dos cristos os prendem e levam s autoridades locais

    com falsas acusaes. Aqui, a acusao de que eles pregavam a existncia de um

    outro rei alm de Csar, o imperador romano. De fato, a mensagem do evangelho,

    caso mal compreendida, levava a crer em uma revolta contra o imprio por declarar o

    Reino de Cristo. Obviamente, esse reinado pregado pelos cristos no desse mundo

    (Jo. 18.36), mas, quando se deseja acusar falsamente algum, todo argumento til.

  • 13

    Todavia, evitando um processo de julgamento, os acusados pagaram fiana e foram

    libertados.

    3.11. PAULO EM CORINTO E A ACUSAO A GLIO (18.12-17)

    Sendo Glio procnsul da Acaia, os judeus fizeram em conjunto um levante contra Paulo e o

    levaram ao tribunal, fazendo a seguinte acusao: "Este homem est persuadindo o povo a

    adorar a Deus de maneira contrria lei". Quando Paulo ia comear a falar, Glio disse aos

    judeus: "Se vocs, judeus, estivessem apresentando queixa de algum delito ou crime grave,

    seria razovel que eu os ouvisse. Mas, visto que se trata de uma questo de palavras e nomes

    de sua prpria lei, resolvam o problema vocs mesmos. No serei juiz dessas coisas" (12-15)

    Paulo j estava h um ano e meio pregando a Palavra em Corinto quando os

    judeus se reuniram, prenderam-no e levaram-no ao governador Glio. Como Corinto

    era uma cidade fora da Judeia (ficava na provncia da Acaia), no havia o Sindrio

    onde normalmente os judeus iam apresentar suas queixas. Portanto, levaram a

    questo diretamente ao governador romano. Porm, uma poltica de Roma era no

    se envolver em assuntos religiosos locais, exceto em caso de perigo ordem social.

    Definitivamente, esse no era o caso de Paulo, visto que ele j estava na cidade h

    um ano e meio sem problemas. Sendo assim, Glio se negou a julgar o caso e deu

    liberdade aos judeus para resolverem a questo. Eles, ento, se voltaram contra

    Sstenes, chefe da sinagoga e o espancaram diante do tribunal.

    3.12. O TUMULTO EM FESO (19.23-41)

    Se Demtrio e seus companheiros de profisso tm alguma queixa contra algum, os tribunais

    esto abertos, e h procnsules. Eles que apresentem suas queixas ali. Se h mais alguma

    coisa que vocs desejam apresentar, isso ser decidido em assembleia, conforme a lei. Da

    maneira como est, corremos o perigo de sermos acusados de perturbar a ordem pblica por

    causa dos acontecimentos de hoje. Nesse caso, no seramos capazes de justificar este

    tumulto, visto que no h razo para tal". E, tendo dito isso, encerrou a assembleia. (38-41)

    Nessa histria, narrada no captulo 19, vemos mais um conflito entre

    particulares que se torna algo pblico. Um arteso que produzia dolos em ouro e

    prata, sentindo que sua profisso era ameaada pela pregao de Paulo, rene seus

    colegas de profisso para atentar contra Paulo e seus companheiros de viagem. Uma

  • 14

    assembleia publica foi armada espontaneamente e o escrivo da cidade tomou a

    palavra. Entre outras coisas, o ele proferiu o trecho citado acima.

    Na fala do escrivo, fica evidente alguns pontos interessantes com relao

    poltica do local. 1) Como provncia romana havia os procnsules para julgar as

    questes do povo; 2) A perturbao da ordem pblica era um crime grave e passvel

    de punio; 3) A pregao de Paulo no poderia ser considerada ofensiva lei

    romana. Depois desse discurso a assembleia foi encerrada e os representantes da

    igreja saram ilesos.

    3.13. A PRISO DE PAULO EM JERUSALM (21.27-23.35)

    Paulo estava entrando no Templo em Jerusalm quando alguns judeus da

    provncia da sia incitaram o povo contra ele. O caos se instaurou e uma grande

    multido se reuniu com a intenso de matar o apstolo. O comandante das tropas

    romanas na fortaleza Antnia foi at o local com alguns de seus soldados afim de

    acabar com o alvoroo.

    Aps ser colocado em segurana, Paulo pediu permisso ao comandante para

    falar ao povo. Obtendo-a, fez um discurso contando sobre sua converso e pregando

    o evangelho. O povo se irou contra Paulo por causa de seu discurso e mediu que o

    matassem. Diante do quadro que se instaurou, o comandante ordenou que Paulo

    fosse levado fortaleza, aoitado e interrogado. Porm, o apstolo levantou a

    seguinte questo:

    "Vocs tm o direito de aoitar um cidado romano sem que ele tenha sido condenado? "

    (22.25)

    A questo foi muito pertinente pois, como visto no ponto 3.9, um cidado

    romano no podia ser submetido a tortura ou punio fsica sem que fosse

    devidamente julgada. Isso levou o comandante a libert-lo. Contudo, no dia seguinte

    convocou o Sindrio para que resolvessem a questo.

    Diante do Sindrio, o apstolo Paulo acaba se irritando e responde

    grosseiramente o sumo sacerdote. Ao ser repreendido por isso, ele responde:

  • 15 Paulo respondeu: "Irmos, eu no sabia que ele era o sumo sacerdote, pois est escrito: No

    fale mal de uma autoridade do seu povo ". (23.5)

    Esse trecho relevante para nossa discusso por nos mostrar o respeito de

    Paulo pela lei e pelas autoridades (governamentais e religiosas). Inclusive ele aborda

    esse assunto na Epstola aos Romanos (cap. 13).

    Ainda durante a reunio do Sindrio, os nimos se exaltaram devido a

    discusses teolgicas e o comandante, que convocou a reunio, ordenou que Paulo

    fosse levado dali fortaleza. Devido a isso, um grupo de mais de quarenta homens

    se reuniu para conspirar a morte de Paulo, porm, o plano foi descoberto e abortado.

    O comandante Cludio Lsias, preocupado com a segurana de Paulo, prepara

    um grande destacamento para leva-lo a Cesareia Martima, na presena do

    governador Flix. Junto do apstolo, enviou a seguinte carta, que nos ajuda a

    compreender a situao e os procedimentos padres do estado romano.

    Este homem foi preso pelos judeus, que estavam prestes a mat-lo quando eu, chegando

    com minhas tropas, o resgatei, pois soube que ele cidado romano. Querendo saber por

    que o estavam acusando, levei-o ao Sindrio deles. Descobri que ele estava sendo acusado

    em questes acerca da lei deles, mas no havia contra ele nenhuma acusao que merecesse

    morte ou priso. Quando fui informado de que estava sendo preparada uma cilada contra ele,

    enviei-o imediatamente a Vossa Excelncia. Tambm ordenei que os seus acusadores

    apresentassem a Vossa Excelncia aquilo que tm contra ele. (23.27-30)

    3.14. O JULGAMENTO DE PAULO PERANTE FLIX (24)

    Cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias desceu a Cesaria com alguns dos lderes dos

    judeus e um advogado chamado Trtulo, os quais apresentaram ao governador suas

    acusaes contra Paulo. (1)

    A justia romana era bem desenvolvida para o seu tempo, inclusive, contava

    com uso de advogados. Assim, os lderes judeus apresentaram diante do governador

    Flix suas acusaes contra Paulo por meio de um advogado. As acusaes feitas

    por eles eram de que Paulo era um perturbador dos judeus em todo o mundo e de que

    ele havia profanado o Templo. O apstolo fez sua defesa diante do mesmo

    governador.

  • 16

    Entretanto, Flix adiou o julgamento, segundo o texto porque tinha bom

    conhecimento do Caminho, o evangelho de Cristo. Algum tempo depois, convocou

    Paulo para ser ouvido, nessa ocasio acompanhado de sua mulher judia que

    compreendia melhor a questo. Porm, nada foi resolvido, parece-nos que a

    mensagem causava medo em Flix.

    Passados dois anos, Flix foi sucedido por Prcio Festo; todavia, porque desejava manter a

    simpatia dos judeus, Flix deixou Paulo na priso. (27)

    O Imprio Romano tinha uma poltica de paz com suas provncias e, para

    manter a paz com os judeus, em diversas ocasies agiram de forma injusta com os

    cristos. Um exemplo disso o caso de Jesus, que foi condenado mesmo no tendo

    cometido nenhum crime contra a lei romana. Agora, nesse episdio, Paulo passa por

    situao similar.

    3.15. O JULGAMENTO DE PAULO PERANTE FESTO (25.1-12)

    Trs dias depois de chegar provncia, Festo subiu de Cesareia para Jerusalm, onde os

    chefes dos sacerdotes e os judeus mais importantes compareceram diante dele,

    apresentando as acusaes contra Paulo. (1-2)

    Quando Paulo apareceu, os judeus que tinham chegado de Jerusalm se aglomeraram ao

    seu redor, fazendo contra ele muitas e graves acusaes que no podiam provar. (7)

    Aps ficar pelo menos dois anos preso em Cesareia, desde o governo de Flix

    at Festo, Paulo convidado a um novo julgamento. Como demonstrado pelos

    trechos acima, os judeus estavam fazendo uma srie de acusaes grave e

    infundadas. Festo, querendo agradar os judeus, questiona o apstolo se ele estaria

    disposto a se submeter a um julgamento em Jerusalm. Obviamente Paulo rejeita,

    afinal os judeus seriam extremamente imparciais em seu juzo. Ele faz a seguinte

    declarao:

    Paulo respondeu: "Estou agora diante do tribunal de Csar, onde devo ser julgado. No fiz

    nenhum mal aos judeus, como bem sabes. (10)

    Como cidado romano, ele no precisava se submeter s leis da provncia mas,

    somente s do imprio. Alm disso, um de seus direitos era de ser julgado por juzes

  • 17

    romanos e, at mesmo, apelar ao imperador. isso que Paulo faz, notando que seria

    entre a judeus que queriam sua morte, ele apela a Csar e recebe a seguinte resposta.

    "Voc apelou para Csar, para Csar ir! " (12b)

    3.16. PAULO PERANTE O REI AGRIPA (25.13-26.32)

    Alguns dias depois, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia para saudar Festo. Visto

    que estavam passando muitos dias ali, Festo explicou o caso de Paulo ao rei: "H aqui um

    homem que Flix deixou preso. (25.13-14)

    O rei Agripa era descendente de Herodes, o Grande, e rei sobre a Judeia com a

    permisso de Roma. Portanto, estava submisso ao Imprio. Porm, nesse caso, por

    ser ele de origem judaica e estar familiarizado com as questes envolvendo as leis e

    tradies desse povo, Festo o convida a analisar o caso de Paulo. Isso pode ser visto

    no trecho a seguir, onde Festo explica o caso a Agripa.

    Quando os seus acusadores se levantaram para falar, no o acusaram de nenhum dos crimes

    que eu esperava. Pelo contrrio, tinham alguns pontos de divergncia com ele acerca de sua

    prpria religio e de um certo Jesus, j morto, o qual Paulo insiste que est vivo. (25.18-19)

    Mas verifiquei que ele nada fez que merea pena de morte; todavia, porque apelou para o

    Imperador, decidi envi-lo a Roma. (25.25)

    No verso 25, acima, vemos Festo dizer que no h nenhum crime digno de pena

    de morte atribudo a Paulo. Entretanto, convida o apstolo a apresentar-se diante do

    rei, para que esse pudesse entender a situao e explica-la a Festo para que esse,

    por sua vez, a explique ao imperador. Assim sendo, Paulo se apresenta a Agripa com

    as seguintes palavras.

    "Rei Agripa, considero-me feliz por poder estar hoje em tua presena, para fazer a minha

    defesa contra todas as acusaes dos judeus, e especialmente porque ests bem

    familiarizado com todos os costumes e controvrsias deles. Portanto, peo que me ouas

    pacientemente. (26.2-3)

    Pelo que vemos acima, Paulo tinha plena conscincia da situao pela qual

    passava e do que Agripa estava fazendo ali. Portanto, explica seu caso a ele que d

    o seguinte veredito:

  • 18 Agripa disse a Festo: "Ele poderia ser posto em liberdade, se no tivesse apelado para Csar".

    (26.32)

    3.17. PAULO LEVADO PARA ROMA (27.1-28.31)

    O bloco anterior nos leva a esse momento. Paulo transportado de Cesareia

    Martima a Roma numa viagem de navio que rendeu um naufrgio (o captulo 27 narra

    esse episdio que de pouca relevncia para o nosso tema), ele e os demais

    passageiros e tripulantes da embarcao conseguem se salvar na ilha de Malta. Aps

    se recuperarem do acidente, a viagem tem prosseguimento e Paulo chega, ento, a

    Roma.

    Quando chegamos a Roma, Paulo recebeu permisso para morar por conta prpria, sob a

    custdia de um soldado. (28.16)

    A chegada de Paulo a Roma marca o fim do livro de Atos e deixa certo

    desconforto na maioria dos leitores e estudiosos do livro. O fim abrupto no nos revela

    o que houve a Paulo depois de chegar na cidade, alm do que narrado nos

    versculos a seguir.

    Por dois anos inteiros Paulo permaneceu na casa que havia alugado, e recebia a todos os

    que iam v-lo. Pregava o Reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor Jesus Cristo,

    abertamente e sem impedimento algum. (28.30-31)

    Os versos acima nos mostram uma poltica comum de Roma com relao aos

    prisioneiros sob custdia aguardando julgamento. Normalmente, eles ficavam em

    priso domiciliar sendo vigiados por um soldado. Desfrutando desse privilgio, Paulo

    exerceu seu ministrio durante dois anos em Roma, onde escreveu uma srie de

    cartas denominadas Epstolas da Priso. Alm disso, como os prprios versos 30-31

    nos mostram, ele recebia pessoas e pregava o evangelho a muitos.

  • 19

    4 CONCLUSO

    Diante dos diversos episdios apresentados e discutidos acima, podemos tirar

    alguma concluses com relao relao entre a igreja crist e o Estado no seu

    contexto primitivo. Aqui, reforamos a distino entre o Estado Romano e o Estado

    Judaico, retomando as informaes apresentadas no captulo inicial (O estado

    poltico) e aplicadas nos comentrios bblicos.

    Ento, no que se trata da relao entre a igreja e o Imprio Romano, tambm

    representado pelos governadores, podemos concluir que era pacfica e, at mesmo,

    respeitosa. Isso fica evidente na maioria dos textos apresentados acima. Alm disso,

    sempre que oficiais romanos agiram contra os cristos era por causa ou de

    perturbao da ordem pblica provocada pelos judeus, ou para que os judeus

    ficassem satisfeitos.

    Por outro lado, tendo em vista a relao com as autoridades judaicas, podemos

    notar muitos conflitos. Como uma espcie de padro, em quase todos os lugares onde

    o evangelho era anunciado, o povo judeu se levantava contra os pregadores do

    evangelho e os levavam s suas autoridades. Em Jerusalm, onde havia o Sindrio,

    a perseguio se agravava, pois essa instituio detinha muito poder poltico. Onde,

    porm, no havia o Sindrio, os judeus apresentavam suas queixas diretamente a

    Roma. Nesses casos, normalmente, os cristos eram inocentados por no terem

    cometido crime algum.

    Essa tenso se d atravs de todo o livro, a princpio com destaque em Pedro

    e, posteriormente, em Paulo. Nos ltimos captulos, porm, Paulo, apesar de preso,

    conquista uma certa liberdade para pregar o evangelho em Roma, longe da ao das

    lideranas judaicas. A histria nos indica uma mudana na poltica de Roma com

    relao aos cristos no governo de Nero, o que teria levado morte de Paulo nessa

    cidade. Contudo, essa discusso no cabe nesse trabalho.

    Por fim, vimos a relevncia desse tema na compreenso do livro, visto que

    grande parte do contedo de Atos est relacionado a ele. Compreendemos o modo

    como se dava a relao entre as duas principais esferas de poder estatal no contexto

    de Atos. E, como parte disso, tivemos uma viso geral desse to importante livro do

    Cnon bblico.

  • 20

  • 21

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BELL JR., Albert A. Explorando o mundo do Novo Testamento. Traduo de Joo

    A. Souza Filho. Belo Horizonte: Atos, 2001.

    GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Traduo de Joo Marques

    Bentes; Fabiano Medeiros e Valdemar Kroker. 3. ed. So Paulo: Vida Nova, 2008.

    MARSHALL, I. Howard. Atos: Introduo e comentrio. Traduo de Gordon Chown.

    So Paulo: Vida Nova, 1982.