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1 A RELEVÂNCIA JURÍDICA DO TRATADO DA ANTÁRTIDA 60 ANOS DEPOIS THE JURIDICAL RELEVANCE OF ANTARCTIC TREATY 60 YEARS AFTER Jhonathan Baranoski da Silva 1 Ana Cláudia Barroso 2 RESUMO: Este artigo objetiva apresentar uma breve e contextualizada retrospectiva sobre o período compreendido entre a assinatura do Tratado da Antártida, nos Estados Unidos, em 1º de dezembro de 1959, e os dias de hoje; também pretende promover uma reflexão sobre as principais consequências desse instrumento jurídico sobre o mundo do direito e das relações internacionais. Como ferramenta estratégica, esse contrato de amplas escalas jurídica e territorial não foi um ato despretensioso realizado pelos seus signatários: sob o pretexto de uso para fins pacíficos, progressistas e coletivistas, que beneficiariam a Humanidade, o acordo também provoca efeitos concretos sobre objetos de direito difuso como recursos naturais e o espaço geográfico, provavelmente o principal recurso em questão. Nesse sentido, compreende-se que se faz mister aos estudiosos do Direito Internacional dedicar algum esforço para a compreensão desse fenômeno legal e de seus resultados sobre o mundo real contemporâneo para, entre outros fins, subsidiar eventuais prognósticos qualitativos nas mais variadas áreas de conhecimento desenvolvidas pela espécie humana notadamente no Direito. Palavras-chave: Antártida, Direito, Recursos naturais, Relações internacionais. ABSTRACT: This article aims to present a brief and contextualized retrospective on the period between the signing of the Antarctic Treaty, in the United States, on December 1 th , 1959, and nowadays; it also intends to promote a reflection on the main consequences of this legal instrument on the world of law and international relations. As a strategic tool, this large-scale legal and territorial contract was not an unpretentious act by its signatories: under the excuse of use for peaceful, progressive and collectivist purposes that would benefit the Humanity, the agreement also has real effects on objects of diffuse law as natural resources and the geographical space, probably the main resource in question. In this sense, it is understood that it is necessary for scholars of International Law to dedicate some effort to understanding this legal phenomenon and its results about the contemporary real world to, among other purposes, subsidize eventual qualitative prognoses in the most varied areas of knowledge developed by the human species notably in Law. Palavras-chave: Antarctic, Law, Natural resources, International relations. INTRODUÇÃO Em 1º de dezembro de 1959, em Washington D.C., capital dos Estados Unidos, era assinado o Tratado da Antártida, que entraria em vigor somente em 23 de junho de 1961. Seus signatários eram, além do anfitrião: a África do Sul, a Argentina, a Austrália, a Bélgica, o Chile, o Japão, a Nova Zelândia, a Noruega, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, a República Francesa e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Juridicamente, tratava-se de uma reivindicação dos Estados Unidos que remontava ao ano de 1924 (ACCIOLY, NASCIMENTO E SILVA e CASELLA, 2012). Seus outorgantes partiam do princípio do suposto interesse de toda a humanidade no permanente uso da Antártida para fins pacíficos, não tornando aquele território nem em palco 1 Acadêmico do curso de Direito da Faculdade São Lucas/FSL, Ensino Superior em Tecnologia de Gestão em Recursos Humanos pela Claretiano, Porto Velho/RO, E-mail: [email protected]. 2 Professora da Faculdade São Lucas/FSL, Economista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Porto Velho/RO, E-mail: [email protected].

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Page 1: A RELEVÂNCIA JURÍDICA DO TRATADO DA ANTÁRTIDA 60 …...antárticos, objeto do Direito do Turismo, conforme verificado no Artigo 23 do Decreto nº 7.381, de 2 de dezembro de 2010

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A RELEVÂNCIA JURÍDICA DO TRATADO DA ANTÁRTIDA 60 ANOS DEPOIS

THE JURIDICAL RELEVANCE OF ANTARCTIC TREATY 60 YEARS AFTER

Jhonathan Baranoski da Silva1

Ana Cláudia Barroso2

RESUMO: Este artigo objetiva apresentar uma breve e contextualizada retrospectiva sobre o período

compreendido entre a assinatura do Tratado da Antártida, nos Estados Unidos, em 1º de dezembro de 1959, e os

dias de hoje; também pretende promover uma reflexão sobre as principais consequências desse instrumento

jurídico sobre o mundo do direito e das relações internacionais. Como ferramenta estratégica, esse contrato de

amplas escalas jurídica e territorial não foi um ato despretensioso realizado pelos seus signatários: sob o pretexto

de uso para fins pacíficos, progressistas e coletivistas, que beneficiariam a Humanidade, o acordo também

provoca efeitos concretos sobre objetos de direito difuso como recursos naturais e o espaço geográfico,

provavelmente o principal recurso em questão. Nesse sentido, compreende-se que se faz mister aos estudiosos do

Direito Internacional dedicar algum esforço para a compreensão desse fenômeno legal e de seus resultados sobre

o mundo real contemporâneo para, entre outros fins, subsidiar eventuais prognósticos qualitativos nas mais

variadas áreas de conhecimento desenvolvidas pela espécie humana – notadamente no Direito.

Palavras-chave: Antártida, Direito, Recursos naturais, Relações internacionais.

ABSTRACT: This article aims to present a brief and contextualized retrospective on the period between the

signing of the Antarctic Treaty, in the United States, on December 1th, 1959, and nowadays; it also intends to

promote a reflection on the main consequences of this legal instrument on the world of law and international

relations. As a strategic tool, this large-scale legal and territorial contract was not an unpretentious act by its

signatories: under the excuse of use for peaceful, progressive and collectivist purposes that would benefit the

Humanity, the agreement also has real effects on objects of diffuse law as natural resources and the geographical

space, probably the main resource in question. In this sense, it is understood that it is necessary for scholars of

International Law to dedicate some effort to understanding this legal phenomenon and its results about the

contemporary real world to, among other purposes, subsidize eventual qualitative prognoses in the most varied

areas of knowledge developed by the human species – notably in Law.

Palavras-chave: Antarctic, Law, Natural resources, International relations.

INTRODUÇÃO

Em 1º de dezembro de 1959, em Washington D.C., capital dos Estados Unidos, era

assinado o Tratado da Antártida, que entraria em vigor somente em 23 de junho de 1961. Seus

signatários eram, além do anfitrião: a África do Sul, a Argentina, a Austrália, a Bélgica, o

Chile, o Japão, a Nova Zelândia, a Noruega, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do

Norte, a República Francesa e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Juridicamente,

tratava-se de uma reivindicação dos Estados Unidos que remontava ao ano de 1924

(ACCIOLY, NASCIMENTO E SILVA e CASELLA, 2012).

Seus outorgantes partiam do princípio do suposto interesse de toda a humanidade no

permanente uso da Antártida para fins pacíficos, não tornando aquele território nem em palco

1 Acadêmico do curso de Direito da Faculdade São Lucas/FSL, Ensino Superior em Tecnologia de Gestão em

Recursos Humanos pela Claretiano, Porto Velho/RO, E-mail: [email protected]. 2 Professora da Faculdade São Lucas/FSL, Economista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio,

Porto Velho/RO, E-mail: [email protected].

Page 2: A RELEVÂNCIA JURÍDICA DO TRATADO DA ANTÁRTIDA 60 …...antárticos, objeto do Direito do Turismo, conforme verificado no Artigo 23 do Decreto nº 7.381, de 2 de dezembro de 2010

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nem em objeto de discórdia internacional, consoante ao preâmbulo do acordo (THE

ANTARCTIC TREATY, 1959).

Todavia, apesar do mote pacifista já descrito no Artigo I, Parágrafo 1, o Tratado

Antártico (THE ANTARCTIC TREATY, 1959), que proíbe “quaisquer medidas de natureza

militar, tais como o estabelecimento de bases e fortificações, a realização de exercícios

militares, assim como as experiências com quaisquer tipos de armas” [tradução nossa]; o

Tratado não veda o trânsito militar na região, conforme verificado no Artigo I, Parágrafo 2

(THE ANTARCTIC TREATY, 1959): “O presente Tratado não impedirá a utilização de

pessoal ou equipamento militar para pesquisa científica na Antártida e de cooperação para

esse fim [...]”. [tradução nossa]

Em um texto relativamente curto, figurando em 14 (quatorze) artigos, as partes

encontram, no Artigo IV do Tratado, fulcro no pressuposto que dispõe que não poderá haver

pretensão de soberania territorial sobre a Antártida por parte dos Estados signatários – um dos

assuntos mais polêmicos e complexos derivados da assinatura do Tratado da Antártida.

Além disso, no seu Artigo V, o acordo internacional traz à tona inquietações sobre a

incolumidade ecológica do peculiar território antártico (JESUS e SOUZA, 2007;

ANTÁRTICA, 2014), especialmente quando trata de ações que vão desde o despejo de lixo

até a proibição de explosões nucleares na região, que, para efeitos jurisdicionais, inicia-se aos

60 (sessenta) graus de latitude sul, sem prejuízo ao direito internacional aplicável ao mar

nesses limites (THE ANTARCTIC TREATY, 1959).

A resumida descrição de características geográfica região antártica por Vieira (2006, p.

50) permite inferir uma breve noção da sua importância ecológica para o mundo:

A Antártica ocupa um espaço de 14,2 milhões de km2, dos quais 95% são

cobertos por uma camada de gelo com 2.000 metros em média de espessura,

resultante de sua posição geográfica circundante ao Pólo Sul, de mínima

exposição ao Sol comparativamente a outros pontos do globo terrestre. Essa

característica faz com que ali se desenvolva um ecossistema anecúmeno, integrado

por escassa flora e fauna e marcado por rigorosas condições naturais, entre as quais

se incluem as mais baixas temperaturas já registradas no planeta, de até -90º C.

[...]

Um aspecto natural relevante da Antártica é o fato de que o gelo que cobre seu

território equivale, segundo certas estimativas, a até 90% das reservas de água

potável do planeta. Outro é que o continente abriga presumivelmente grandes

reservas minerais, inclusive aquelas de evidente interesse energético, como o

petróleo. Tais reservas encontram-se intocadas, protegidas pela camada de gelo

e por norma internacional.

[grifos nossos]

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Evidentemente, não se trata de um processo de mero rateio territorial, nem de uma

política passiva e desinteressada de conservação de recursos naturais potencialmente

desconhecidos (RODAS, 1976), mas de uma estratégia geopolítica de dimensões ainda não

experimentadas no decorrer da história. A respeito da adesão ao Tratado da Antártida, Andrade

et al (2018, p. 14) informam que

Atualmente, 53 países fazem parte do Tratado da Antártica. Seu principal fórum

decisório, as Reuniões das Partes Consultivas do Tratado da Antártica (ATCM),

ocorre anualmente e conta com a participação dos países-membros, além de

observadores técnico-científicos (como o SCAR [Comitê Científico sobre Pesquisa

Antártica]) e especialistas no tema. Além dos doze países originalmente signatários,

existe uma segunda categoria composta por Estados que, tendo demonstrado

substancial pesquisa científica na região, ganharam direito à participação plena nas

ATCMs, com poder de voto e de veto. [...] [grifo nosso]

Diante das dimensões do direito em questão e da quantidade de Estados envolvidos, o

Tratado da Antártida talvez seja maior operação jurídico-estratégica interestatal, de escala

jamais vista – ou em favor da sustentabilidade econômico-ambiental mundial; ou em favor de

interesses ainda insondáveis de forças políticas igualmente qualificáveis que teriam os

Estados somente por anteparo jurídico (GOODSITE et al, 2016).

Diante do exposto, torna-se necessário compreender mais profundamente algumas

cláusulas desse dispositivo legal no que tange às implicações práticas no universo jurídico e

às afetações mais concretas sobre o espaço geográfico e, por consequência, da dinâmica

geopolítica experimentada em escala mundial e em potências regionais emergentes, como o

Brasil (AGNEW e MUSCARÀ, 2012).

1 DA NATUREZA DO TRATADO DA ANTÁRTIDA

Inicialmente, para o estabelecimento de referência conceitual no âmbito do Direito,

remete-se ao jurista Francisco Rezek (2011, p. 38), que conceitua um tratado como

[...] todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito internacional

público, e destinado a produzir efeitos jurídicos. Na afirmação clássica de Georges

Scelle, o tratado internacional é em si mesmo um simples instrumento; identificamo-

­lo por seu processo de produção e pela forma final, não pelo conteúdo. [grifos do

autor]

Quando há acordo entre duas ou mais partes distintas para consecução de objetivos

comuns é necessário examinar atenciosamente a natureza do contrato acordado entre elas para

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que seja possível uma análise técnico-jurídica sobre o assunto. Independentemente da escala

considerada, é possível aplicar essa mesma lógica ao assunto abordado nestas considerações.

Em termos de análise de constitucionalidade, a adesão do Brasil ao Tratado, em

princípio, não poderia ser considerada inconstitucional, pois alinha-se com premissas

previstas na Constituição (BRASIL, 1988) – outorgada praticamente três décadas depois da

assinatura do Tratado da Antártida – como das que tratam dos princípios gerais da atividade

econômica e da proteção do meio ambiente, por exemplo, nos Artigos 23, inciso VI; 170,

incisos I e VI; e 225, caput – embora não se trate de uma unanimidade no mundo jurídico,

haja vista o disposto no Artigo 49, inciso I, da Constituição (BRASIL, 1988; e SANTOS,

2017, p.107).

Observe-se, ainda nos limites da norma brasileira, que os impactos no mundo jurídico

podem se estender, inclusive, aos direitos relacionados ao usufruto dos recursos paisagísticos

antárticos, objeto do Direito do Turismo, conforme verificado no Artigo 23 do Decreto nº

7.381, de 2 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010):

Em observância aos termos do Decreto no 75.963, de 11 de julho de 1975, que

promulgou o Tratado da Antártida, e aos termos do Decreto no 2.742, de 20 de

agosto de 1998, que promulgou o protocolo ao Tratado da Antártida sobre

proteção ao meio ambiente, os prestadores de serviços turísticos que oferecerem

serviços turísticos, em qualquer das modalidades descritas neste Decreto, a Sul

do paralelo sessenta graus Sul, deverão enviar previamente ao Ministério do

Turismo pedido de autorização para a realização da atividade, contendo, entre

outras informações, o roteiro, as atividades que serão desenvolvidas, o número de

passageiros e o itinerário, observado o preenchimento do formulário específico, cujo

modelo será provido pelo Programa Antártico Brasileiro. [grifo nosso]

Em abordagem ampla e preliminar, o Tratado da Antártida (BRASIL, 19753), Artigo

IX, aduz sobre direitos e deveres inerentes à natureza jurídica do dispositivo legal:

1. Os representantes das Partes Contratantes, mencionadas no preâmbulo deste

Tratado, reunir-se-ão [...] para o propósito de intercambiarem informações,

consultarem-se sobre matéria de interesse comum pertinente à Antártida e

formularem, considerarem e recomendarem a seus Governos medidas

concretizadoras dos princípios e objetivos do Tratado, inclusive as normas relativas

ao:

a) uso da Antártida somente para fins pacíficos;

b) facilitarão de pesquisas científicas na Antártida;

c) facilitarão da cooperação internacional da Antártida;

d) facilitarão do exercício do direito de inspeção previsto no Artigo VII do Tratado;

e) questões relativas ao exercício de jurisdição na Antártida;

f) preservação e conservação dos recursos vivos na Antártida. [grifos nossos]

3 Doravante, será utilizada a tradução constante no Decreto nº 75.963, de 11 de julho de 1975, que promulga o

Tratado da Antártida.

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Em uma breve análise sobre esse trecho do Tratado, pode-se verificar que os tópicos

apresentados têm em comum na sua estrutura direitos e deveres já estabelecidos, elementos

básicos de um contrato de adesão que conduz ao estabelecimento de implicações diretamente

relacionadas ao direito internacional, mais especificamente sobre o tema soberania (RODAS,

1976, p. 152) – compreendido de tantas formas diferentes quanto o número de partes

envolvidas na questão antártica.

2 DA ANÁLISE DOS OBJETIVOS DO TRATADO DA ANTÁRTIDA

Tais pressupostos já apresentados, compreendidos como obrigações contratuais

multilaterais, partindo dos princípios do pacta sunt servanda e da boa-fé (REZEK, 2011, p.

35), gerariam responsabilidades objetivas em torno das seguintes premissas abstratas. À

análise das propostas dispostas nas cláusulas do Tratado:

a) “fins pacíficos” – talvez um dos objetivos mais antigos da Humanidade, e

obviamente não alcançado até o presente, especialmente na dimensão mundial

(MORGENTHAU, 1986; e CLAUSEWITZ, 2010), seja o primeiro propósito apresentado

pelo Tratado e deixa patente sua finalidade e natureza. Sela-se, assim, o compromisso entre as

partes para que não haja conflitos decorrentes da ocupação territorial da Antártida,

independentemente dos recursos que ali forem explorados;

b) “pesquisas científicas” – um dos elementos mais importantes para o

estabelecimento da paz é a superação da ignorância, que vem por meio do conhecimento.

Nesses termos, há um tópico no Tratado que aborda a preocupação com as pesquisas

científicas, que podem ir desde estudos sobre solos e suas propriedades (TEDROW e

UGOLINI, 1966) à produção de alimentos em ambientes antárticos (SUZUKI e SHIBATA,

1990).

Ferreira (2009, p. 64) descreve parte da estrutura orgânica responsável pela

organização das atividades de pesquisa científica na Antártida:

Para promover e coordenar a pesquisa científica na Antártica foi criado, ainda no

âmbito do AGI [Ano Geofísico Internacional], o Scientific Committe [sic.] on

Antarctic Research (SCAR), um comitê do ICSU [Conselho Internacional para

Ciência], cujos membros são organizações de âmbito nacional representantes das

comunidades científicas de seus países, divididos entre membros plenos e

associados, de acordo com o envolvimento na Antártica. Além disso, algumas

associações científicas internacionais (Unions), membros do ICSU, também fazem

parte do SCAR, que conta com um Comitê Executivo e um secretariado, sediado no

Instituto Scott de Pesquisa Polar, Cambridge, Reino Unido.

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Ferreira (2009, p. 90), com vistas a explicar a natureza ética das pesquisas científicas

naquela região, constata ainda que “A proteção do meio ambiente e a importância da Antártica

como laboratório privilegiado para pesquisas científicas são afirmados como valores

fundamentais para quaisquer considerações ou atividades no continente [...]”;

c) “cooperação internacional” – trata-se de um princípio que vem ganhando densidade

desde o término da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente após a criação da Liga das

Nações, esboço da Organização das Nações Unidas (ONU).

Muito mais do que uma ideia abstrata, a expressão tem se consolidado como a ação

necessária para a manutenção das relações internacionais contemporâneas (LACHS, 1994, p.

100-102), visto que confirma o status de interdependência cada vez maior de sujeitos de

direito, público ou privado, ao redor do mundo, visto que o “bem comum” tem que ser levado

em conta nas mais diversas decisões que afetam a disponibilidade de recursos naturais

(SATO, 2010 p. 46-49);

d) “direito de inspeção” – neste ponto, o Tratado faz referência direta ao artigo VII

(BRASIL, 1975):

1. A fim de promover os objetivos e assegurar observância das disposições do

presente Tratado, cada Parte Contratante, cujos representantes estiverem

habilitados a participar das reuniões previstas no Artigo IX, terá o direito de

designar observadores para realizarem os trabalhos de inspeção previstos no

presente artigo. Os observadores deverão ser nacionais das Partes Contratantes que

os designarem. Os nomes dos observadores serão comunicados a todas as outras

Partes Contratantes, que tenham o direito de designar observadores e idênticas

comunicações serão feitas ao terminarem sua missão.

2. Cada observador, designado de acordo com as disposições do Parágrafo 1 deste

artigo, terá completa liberdade de acesso, em qualquer tempo a qualquer e a todas as

áreas da Antártida.

3. Todas as áreas da Antártida, inclusive todas as estações, instalações e

equipamentos existentes nestas áreas, e todos os navios e aeronaves em pontos de

embarque ou desembarque na Antártida estarão a todo tempo abertos à inspeção de

quaisquer observadores designados de acordo com o Parágrafo 1 deste artigo.

4. A observação aérea poderá ser efetuada a qualquer tempo, sobre qualquer das

áreas da Antártida por qualquer das Partes Contratantes que tenha o direito de

designar observadores.

5. Cada Parte Contratante no momento em que este Tratado entrar em vigor,

informará as outras Partes Contratantes e daí por diante darão notícia antecipada de:

a) todas as expedições com destino à Antártida, por parte de seus navios ou

nacionais, e em todas as expedições áreas da Antártida a Antártida organizadas em

seu território ou procedentes do mesmo;

b) todas as estações antárticas que estejam ocupadas por súditos de sua

nacionalidade; e,

c) todo o pessoal ou equipamento militar que um país pretenda introduzir na

Antártida, observadas as condições previstas no Parágrafo 2 do Artigo I do presente

Tratado. [grifos nossos];

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e) “jurisdição na Antártida” – trata-se de uma categoria de análise jurídica aplicada ao

caso concreto, que traz em duas implicações legais: a primeira sobre o território propriamente

dito; e a segunda sobre as ações de cada indivíduo que ali estiver exercendo o interesse do seu

Estado. Sobre este, o Artigo VIII (BRASIL, 1975) dispõe que

1. A fim de facilitar o exercício de suas funções, de conformidade com o presente

Tratado, e sem prejuízo das respectivas posições das Partes Contratantes

relativamente à jurisdição sobre todas as pessoas na Antártida, os observadores

designados de acordo com o Parágrafo 1 do Artigo VII e o pessoal científico

intercambiado de acordo com o subparágrafo 1(b) do Artigo III deste Tratado, e os

auxiliares que acompanhem as referidas pessoas, serão sujeitos apenas à

jurisdição da Parte Contratante de que sejam nacionais, a respeito de todos os

atos ou omissões que realizarem, enquanto permaneceram na Antártida, relacionados

com o cumprimento de suas funções.

2. Sem prejuízo das disposições do Parágrafo 1 deste artigo, e até que sejam

adotadas as medidas previstas no subparágrafo 1 (e) do Artigo IX, as Partes

Contratantes interessadas em qualquer caso de litígio, a respeito do exercício de

jurisdição na Antártida, deverão consultar-se conjuntamente com o fim de

alcançarem uma solução mutuamente aceitável. [grifo nosso]

Note-se que se trata de uma resolução relativamente simples, pois o indivíduo que está

em função do seu respectivo Estado é tratado como se nele ainda estivesse. Sobre as

implicações territoriais, o Tratado expõe no seu Artigo IV (BRASIL, 1975), que

1. Nada que se contenha no presente Tratado poderá ser interpretado como:

a) renúncia, por quaisquer das Partes Contratantes, a direitos previamente invocados

ou a pretensão de soberania territorial na Antártida;

b) renúncia ou diminuição da posição de qualquer das Partes Contratantes quanto ao

reconhecimento dos direitos ou reivindicações ou bases de reivindicação de algum

outro Estado quanto à soberania territorial na Antártida.

2. Nenhum ato ou atividade que tenha lugar, enquanto vigorar o presente

Tratado, constituirá base para proclamar, apoiar ou contestar reivindicação

sobre soberania territorial na Antártida. Nenhuma nova reivindicação, ou

ampliação de reivindicação existente, relativa à soberania territorial na

Antártida será apresentada enquanto o presente Tratado estiver em vigor.

[grifos nossos]

Por conta da atual elasticidade do conceito de “soberania” (REZEK, 2011) nos dias

atuais, acredita-se que os termos dispostos no artigo supracitado não são bastante

autoevidentes acerca das responsabilidades jurisdicionais de cada Estado-parte do Tratado,

conforme pode corroborar Ferreira (2009, p. 46) ao explicar que

Tamanha ambiguidade gerou diversas críticas ao longo dos anos: o Tratado seria

uma não solução à questão territorial, [pois] contém dispositivos ambíguos e pontos

importantes em aberto (como o tema da jurisdição, por exemplo) e não prevê

providências para a exploração de recursos naturais.

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[...] A possibilidade de exploração de recursos naturais estava presente nas mentes

de todos na conferência, mas qualquer referência a esse tema necessariamente

levantaria novamente o imbróglio territorial.

As alternativas ao Tratado seriam uma organização com traços supranacionais ou a

ausência de um regime, ambas obviamente indesejadas pelos países participantes

[...].

f) “preservação e conservação de recursos vivos na Antártida” – outro ponto bastante

sensível disposto no corpo do Tratado da Antártida, mas que é tratado de modo deveras

superficial –, conforme confirma Ferreira (2009, p. 67): “O Tratado não faz menção ao uso de

recursos naturais, a não ser pela breve nota nas atribuições das ATCMs [Reuniões Consultivas

do Tratado da Antártida]”. Contudo, essa lacuna é preenchida de alguma forma por meio de

dispositivos legais ainda incipientes, segundo a Secretaria do Tratado Antártico (2019),

quando trata do tópico “proteção ambiental”:

La protección del medio ambiente ha sido un tema central de la cooperación

entre las Partes del Tratado Antártico. En 1964 la RCTA [Reunião Consultiva do

Tratado da Antártida] adoptó las Medidas Convenidas para la Conservación de la

Fauna y de la Flora en la Antártida. Estas Medidas sentaron las bases de un

sistema regulatorio con reglas generales y normas específicas que

proporcionaban protección adicional en las zonas especialmente protegidas.

Posteriormente, la RCTA adoptó varias medidas sobre diversos asuntos para ampliar,

complementar y fortalecer la protección del medio ambiente antártico.

Quase três décadas depois, em 4 de outubro de 1991, o Protocolo de Madri, foi

assinado por algumas partes (SECRETARÍA DEL TRATADO ANTÁRTICO, 2019) e passou

a entrar somente em vigor em 14 de janeiro de 1988.

Sobre a complexidade das relações jurisdicionais e territoriais, logo políticas em torno

da Antártida, Menegatto e Virgillito (2013, p. 1713) consideram, em caráter sintético, que

Em tempos de grandes preocupações com as questões ecológicas e climáticas, um

continente que abriga fonte abundante de recursos para a sociedade científica e para

as empresas coloca em evidência as relações de apropriação estabelecidas em torno

do tratado. O espírito de cooperação cria uma noção de fluidez espacial, que,

dialeticamente, gera nódulos de tensão territorial, haja vista a divergência de

interesses entre as nações envolvidas.

Waeyenberge (2017, p. 11), partindo de categorias de análise mais amplas, avança nas

considerações sobre as implicações práticas do papel da globalização sobre o mundo jurídico:

O processo de globalização atualmente em curso afeta não apenas a economia e o

nosso modo de vida mas também os próprios fundamentos do nosso direito, das

nossas instituições políticas e da nossa democracia. Ela não se traduz em uma

integração pacífica e gradual, a nível internacional, de regras e instituições

elaboradas no âmbito interno dos Estados. Na verdade, trata-se de um

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movimento duplo onde, de um lado, se tem a fragilização e a destruição das

regras existentes e, do outro, o surgimento e a ascensão ao poder de novos

dispositivos normativos globais, cuja eqüidade [sic.] e legitimidade são

freqüentemente [sic.] questionadas. Na prática, a globalização não leva à criação

espontânea de um direito global, mas sim à competição entre os Estados,

através da concorrência regulatória das ordens jurídicas nacionais [...]. Ao

mesmo tempo, o modelo internacional, baseado no acordo entre os Estados, se

esgotou em um contexto de mundo multipolar, onde os conflitos de interesse

impedem o alcance de consensos sobre boa parte das principais questões políticas

globais, como a regulação das fianças, do comércio e da economia; a partilha menos

desigual da renda e a nova questão social; a proteção do meio-ambiente e a luta

contra o aquecimento global; e a segurança coletiva, a manutenção da paz e a

proteção dos direitos humanos. [grifos nossos]

Note-se que o autor contextualiza geopoliticamente o cenário político-jurídico no qual

foi assinado o Tratado, assim como consequências mais ou menos previsíveis – o que

significa dizer necessariamente que não se trata de um tema jurídica e diplomaticamente tido

por pacífico.

Ainda considerando o fenômeno suscitado por Waeyenberge, convém assinalar que

não há unanimidade, mesmo no século XXI, acerca da legitimidade do Tratado da Antártica,

conforme pode demonstrar o ponto de vista crítico manifestado por Sampaio (2015, p. 84):

O quão fundamental é a democracia para se aferir legitimidades às instituições

internacionais de governança global [...] Este é o caso do Sistema do Tratado

Antártico. Criado a partir da suspensão de reivindicações por soberanias

territoriais na região nos anos 1960, este regime internacional se consolidou e

evoluiu a partir da manutenção de um arranjo institucional que não resolvia a

questão da soberania, mas que garantia uma hierarquia interna entre seus

membros e uma distinção com relação aos atores externos a ele. [...] As razões

que justificam esse isolamento institucional antártico eram relacionados à

necessidade de preservar para melhor conhecer a região, desdobrando-se em

uma forte orientação institucional em prol da pesquisa científica e da

preservação ambiental. Além disso, a potencialidade subjacente de tensões e

conflitos na região levou à preocupação de se manter a paz e isso implicava o temor

de uma participação desenfreada de atores externos e dos diversos interesses

paralelos que inevitavelmente a acompanhariam.

Todavia, a identificação de um déficit democrático no Sistema do Tratado Antártico

não comprometeu seu processo de consolidação. [grifo nosso]

Tratam-se, claramente, dos motivos oficiais e que, por si sós, já seriam o suficiente

para tornar a região em um foco de tensões e de disputas territoriais de magnitudes ainda

desconhecidas.

3 DA PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO TRATADO DA ANTÁRTIDA

Em termos geográficos, o Brasil é um país que apresenta relações climáticas

imediatamente diretas com o continente Antártico. Nesse sentido, o atual plano de ação

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governamental, executado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2013, p. 2) em

relação à Antártida destaca que: “A Antártica é uma das regiões mais sensíveis às variações

climáticas na escala global e os processos atmosféricos, biológicos, criosféricos, geológicos e

oceânicos que ocorrem naquela região afetam diretamente o Brasil” – o que justificaria, por si

mesmo, a presença do Estado brasileiro naquela região.

Em uma análise panorâmica, e em termos constitucionais, a assinatura do Tratado da

Antártida pelo Brasil, quase três décadas anterior à elaboração da Constituição brasileira,

atenderia o disposto no “Título VIII – Da ordem social”, especificamente no “Capítulo VI –

Do meio ambiente”. Trata-se de um tópico supralegal de valor estratégico incalculável,

embora condensado somente no Artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil

(BRASIL, 1988).

Claramente, o Artigo constitucional mencionado trata de ecossistemas circunscritos ao

território nacional, mas não veda a preocupação com a interdependência entre as mais

distintas regiões da superfície terrestre, sejam consideradas as dinâmicas das massas de ar,

seja a disponibilidade de recursos sobre o solo ou no subsolo (BALDRIGHI e PINHEIRO,

2016) na região antártica. Embora não se trate da constituição brasileira, mas da portuguesa,

Canotilho (2010, p.13), partindo de premissas mais amplas e duradouras, daí sua validade,

trata da necessidade do desenvolvimento de um Estado de direito democrático e ambiental:

[...] A articulação de problemas ecológicos de primeira geração [valores relacionados

à liberdade] com os problemas de segunda geração [valores relacionados sociais,

econômicos e políticos] obriga a dar arrimo jurídico-constitucional a novas

categorias dogmático-constitucionais. Aludiremos, em primeiro lugar, à chamada

responsabilidade de longa duração [...] [que] convoca [...] quatro princípios básicos

intrinsecamente relacionados: o princípio do desenvolvimento sustentável [...], o

princípio do aproveitamento racional dos recursos [...], o princípio da

salvaguarda da capacidade de renovação e estabilidade ecológica destes

recursos [...] e o princípio da solidariedade entre gerações [...]. [grifos do autor]

Note-se que os fundamentos apontados por Canotilho fazem parte das discussões

contemporâneas dos mais altos interesses dos Estados, pois tratam-se de conceitos

intrinsecamente ligados ao bem-estar coletivo, no sentido mais amplo, caracterizando um

tema de discussão de longo prazo a ser discutido no âmbito do direito internacional.

Canotilho (2010, p. 14) continua suas considerações apontando que

[...] Como é sabido, o tema da responsabilidade de longa duração ganhou acuidade

depois da Conferência do Rio de Janeiro de 1992 ancorada no princípio de

“Sustainable Development”. Em termos jurídico-constitucionais, ela implica, desde

logo, a obrigatoriedade de os Estados (e outras constelações políticas) adoptarem

medidas de protecção ordenadas à garantia da sobrevivência da espécie humana e

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da existência condigna das futuras gerações. Neste sentido, medidas de protecção e

de prevenção adequadas são todas aquelas que, em termos de precaução, limitam ou

neutralizam a causação de danos ao ambiente, cuja irreversibilidade total ou parcial

gera efeitos, danos e desequilíbrios negativamente perturbadores da sobrevivência

condigna da vida humana (responsabilidade antropocêntrica) e de todas as formas de

vida centradas no equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas naturais ou

transformados (responsabilidade ecocêntrica).

[...] A responsabilidade de longa duração pressupõe a obrigatoriedade não apenas de

o Estado adoptar medidas de protecção adequadas, mas também o dever de

observar o princípio do nível de protecção elevado quanto à defesa dos

componentes ambientais naturais. [grifos do autor]

A visão do autor consiste em uma visão contemporânea dos atuais problemas

ambientais experimentados em escala mundial. Portanto, a lógica jurídica desenvolvida pelo

autor aplica-se prática e irrestritamente sobre o ordenamento normativo brasileiro,

demonstrando que o Brasil, mesmo antes da assinatura do Tratado da Antártida, já estava

alinhado com as preocupações mais recentes sobre a perspectiva jurídico-ambiental e sua

abordagem pelos Estados. Em relação à Constituição brasileira de 1988, Rolim, Jatobá e

Baracho (2014, p. 54) apontam que

Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, que trouxe, de forma

bastante expressiva e inédita, a proteção do meio ambiente, tinha-se pequena

produção legislativa regulando a matéria.

[...] surge a Constituição Federal de 1988, que eleva o tratamento do meio ambiente

ao patamar constitucional, fenômeno esse que a doutrina denomina de

“Constitucionalização do Direito Ambiental”, nascendo um Estado democrático

social de Direito Ambiental.

Rolim, Jatobá e Baracho (2014, p. 55) esclarecem ainda que a preocupação da

Assembleia Constituinte com o meio ambiente consolidou-se no texto constituinte, visto que

o

[...] direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto

no art. 225, caput, da Constituição Federal, é reconhecido como um direito de

eficácia plena e de terceira dimensão, pois estamos tratando de um bem

transindividual, coletivo. Criou-se o dever genérico para todos, Poder Público e

coletividade, na promoção de sua defesa e preservação para as presentes e futuras

gerações. Isso porque, o meio ambiente é de natureza difusa, não estando sujeito à

tradicional classificação dos bens em público ou privado, estando sob a tutela de

toda a coletividade.

Partindo desse contexto, afirma-se que o meio ambiente é um bem jurídico

unitário analisado por uma visão sistêmica e global, conglomerando seus

elementos naturais, artificiais (meio ambiente artificial) e o patrimônio histórico-

cultural, revelando uma interdependência mútua entre todos esses elementos que se

integram, neles incluído o homem. [grifos nossos]

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Trata-se, portanto de um bem comum, por consequência, amplo, e consideravelmente

complexo, pois engloba fatores que independem da ação humana, como o meio ambiente

natural, e de outros atributos que são inerentes à ação humana, como a cultura e a tecnologia,

meios pelo quais o meio ambiente pode ser transformado, seja para a melhoria da qualidade

de vida ou mesmo o seu oposto.

O Brasil tornar-se-ia signatário do Tratado somente quase 16 (dezesseis) anos depois,

sendo publicado por meio do Decreto nº 75.963, de 11 de julho de 1975 (BRASIL, 1975).

Silva (2013, p. 65) faz uma breve abordagem histórico-diplomática no tocante à adesão do

Brasil ao Tratado da Antártida:

O Brasil demorou para adentrar nas discussões a respeito do continente antártico. O

primeiro momento que o governo brasileiro deparou-se com a questão foi em 1956,

quando houve a tentativa de inclusão dela por parte da Índia na Assembleia Geral

das Nações Unidas. Nessa ocasião, foi ressaltada a importância estratégica da

Antártida e também se especulou a respeito de possibilidades de o Brasil realizar

uma reivindicação territorial na região, porém, essa idéia [sic.] logo foi admitida

como inviável.

Novamente, o tema foi tratado pelo governo brasileiro em 1958, devido à realização

da Conferência de Washington. O Itamaraty manifestou-se em resposta à exclusão

do Brasil da Conferência sob a alegação de que este não havia desenvolvido

atividade científica na região, argumentando que esse não era o tema exclusivo

tratado na Conferência. Os brasileiros alegavam o direito de opinar sobre a Antártica

e que por motivos de segurança nacional não estavam obrigados por nenhuma

deliberação sem a sua participação e possuíam o direito de livre acesso à Antártica

como também de apresentar reivindicações que achar convenientes. O real motivo

de o Brasil não ser convidado foi devido ao receio dos EUA de, assim, permitir que

a URSS também convidasse outros países comunistas.

Corroborando Silva, Andrade et al (2018, p. 18) acrescentam ainda que “Internamente,

na segunda metade da década de 1950, houve importantes discussões sobre como deveria ser

a atuação brasileira em relação ao continente antártico. A importância estratégica da Antártica

era ressaltada em círculos acadêmicos e militares”. Doutrinariamente, Andrade et al (2018, p.

19) destacam que a influência sobre o governo brasileiro acerca de

Uma possível reivindicação territorial nas terras antárticas era baseada na teoria da

defrontação, elaborada por professores vinculados ao Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), especialmente Therezinha de Castro e Carlos

Delgado de Carvalho. Segundo a teoria, a Antártica deveria ser dividida pelos

meridianos extremos dos territórios dos países do Hemisfério Sul, de modo que o

Brasil pudesse ter direito a parte do território antártico. Ademais, a forte influência

da região austral no clima brasileiro também foi levantada pelos estudiosos como

motivo para a reivindicação. [...]

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Observe-se como o estabelecimento de um nexo de causalidade climático entre o

Brasil e a Antártida já era tido por estratégico nos anos 50 e sua relação direta com os direitos

ambientais no Brasil já era conhecida.

Em relação ao Protocolo de Madri, seus efeitos jurídicos passaram vigorar sete meses

antes da publicação do Decreto nº 2.742, de 20 de agosto de 1998 (BRASIL, 1998; e

MARINHA DO BRASIL, 2016, p. 5). Silva (2013, p. 79-80) explica que

[...] O Brasil assinou o Protocolo de Madri em 4 de outubro de 1991, o qual foi

incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 2.742 de 1998, após ser

aprovado pelo Congresso em 1995. O país já havia adotado as estipulações do

Protocolo antes mesmo dele [sic.] entrar em vigor: já [em] 1991 todas as atividades

do Proantar eram de acordo com o Protocolo de Madri.

Nos anos 90, as delegações brasileiras receberam instruções para que atuassem nas

ATCMs com vistas a fortalecer o Tratado da Antártica e o Protocolo de Madri. [...]

Ainda em consulta a documento oficial publicado pela Marinha do Brasil (2016, p. 5)

sobre o Protocolo de Madri, compreende-se sucintamente sobre a natureza dessa

regulamentação do Tratado da Antártida:

O Protocolo de Madri concedeu à Antártica o status de “Reserva Natural

Internacional dedicada à Ciência e à Paz” e só poderá ser modificado em 2048, desde que haja acordo unânime dos membros consultivos do Tratado da Antártica.

Além disso, por seu intermédio, foi criado o Comitê para a Proteção Ambiental

(CPA), formado por peritos que se reúnem anualmente, com o propósito de emitir

recomendações a serem apresentadas na ATCM.

O Protocolo de Madri conta, no momento atual, com cinco anexos, os quais

especificam normas de proteção ambiental e retratam as recomendações

devidamente aprovadas ao longo do tempo, todas integradas em um instrumento

jurídico. Dessa forma, novos anexos podem ser criados e os existentes modificados

por meio de Medidas, Decisões e Resoluções aprovadas nas ATCM [sic.].

Efetivamente, o Brasil deu início à sua presença na Antártida por meio do Programa

Antártico Brasileiro (PROANTAR), em 1982, ocasião em que realizou a primeira versão da

“Operação Antártica” (JESUS e SOUZA, 2007, p. 8) – a implantação do PROANTAR era

responsabilidade da Comissão Nacional para Assuntos Antárticos (CONANTAR), conforme o

Decreto nº 88.245, de 20 de abril de 1983 (BRASIL, 1983), revogado pelo Decreto nº 123, de

20 de maio de 1991 (BRASIL, 1991), que se encontra em vigor.

No ano seguinte, o Brasil passa para o status de Membro Consultivo do Tratado. Daí

em diante, foram várias incursões à região antártica realizadas pelo Governo do Brasil

(MARINHA DO BRASIL, 2016, p. 6), nos termos do Tratado, tornando o PROANTAR um

programa interministerial bastante amplo e estratégico para o Estado brasileiro (ANDRADE

et al, 2018).

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Em 6 de fevereiro de 1984, a Estação Antártica Comandante Ferraz, localizada na ilha

King George, baía do Almirantado, foi instalada e a partir dela têm sido desenvolvidas

pesquisas das mais diversas, que têm tomado dimensões cada vez maiores haja vista o

estabelecimento de redes de pesquisa relacionadas à qualidade dos recursos ambientais

analisados, contemplando o intercâmbio de informações (ALVAREZ et al, 2004).

A despeito do incêndio que destruiu cerca de 70% das instalações da única base

brasileira localizada na Antártida, em 25 de fevereiro de 2012, a Estação está em constante

processo de aperfeiçoamento (JESUS e SOUZA, 2007; e ESTAÇÃO, 2019) e de

reestruturação nas mais diversas áreas (MMA, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ramo do Direito Internacional, como subárea de conhecimento autônoma, tem

experimentado um verdadeiro aperfeiçoamento quando levado em consideração o fenômeno

Antártida como problema contemporâneo das relações internacionais, um dos temas mais

relevantes do direito internacional público na atualidade. Dado o exposto, é provável que

conceitos como soberania, jurisdição, Estado, bem comum e paz nunca tenham estado tão em

xeque diante de tal caso concreto.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que é inegável o avanço tecnológico alcançado pela

Humanidade, assim como sua influência sobre os resultados obtidos nas mais diversas áreas

de conhecimento nos últimos sessenta anos sobre e sob o solo antártico – mesmo que se parta

do princípio de que nem todo resultado de pesquisa sobre qualidade do ar, do solo e da água

sejam trazidos a público.

Em tempos de direitos de quarta geração, verifica-se por meio de breve análise das

ações políticas em torno do Tratado da Antártida, que muitos países (na verdade, mais de dois

terços) sequer fazem jus à geração de direitos anterior, pelo simples fato de não terem acesso

aos recursos disponíveis na região da Antártida.

De fato, o Brasil tem se projetado positivamente nas últimas décadas nesse contexto

internacional, torna-se, portanto, um Estado privilegiado, independentemente das dimensões

da área antártica à qual tem tido acesso; mesmo quando comparado seu investimento e seus

esforços econômica e politicamente sensíveis com outros países, como os Estados Unidos, por

exemplo. Em todo caso, ainda há muitos recursos a serem explorados, desde a paisagem –

com vistas ao turismo – até a que se encontra no leito marinho e no subsolo antártico – com

vistas à exploração mineral.

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Pode-se projetar que, diante das condições de disponibilidade de recursos naturais e da

contínua perda da qualidade de vida em diversos países, ou ainda mesmo do seu colapso, é

possível que a Antártida seja muito mais um futuro centro de discórdia do que de união, pois

promoverá privilégios inicialmente a uma oligarquia ou a quem se associar a ela.

Ou seja, de onde se espera atos pacíficos, em prol da coletividade global, é muito

provável que haja disputas pelos seus recursos, cujo potencial ainda é oficialmente

desconhecido. Não obstante a existência de um acordo internacional, não há garantias factuais

de que todas as cláusulas do contrato foram, estão sendo ou serão cumpridas ipsis litteris,

especialmente as que tratam do aspecto pacífico previsto para a Antártida.

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