a ressiginicação da res pública como instrumento de gestão escolar
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FACULDADE DE JUAZEIRO DO NORTE - FJN
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR
JOSÉ MARIA TAVARES DE CASTRO JÚNIOR
A RESSIGINIFICAÇÃO DA “RES PÚBLICA”
COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO ESCOLAR
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2013
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FACULDADE DE JUAZEIRO DO NORTE - FJN
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR
JOSÉ MARIA TAVARES DE CASTRO JÚNIOR
A RESSIGINIFICAÇÃO DA “RES PÚBLICA”
COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO ESCOLAR
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2013
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JOSÉ MARIA TAVARES DE CASTRO JÚNIOR
A RESSIGNIFICAÇÃO DA “RES PÚBLICA”
COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO ESCOLAR.
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
faculdade de Juazeiro do Norte - FJN, como parte
dos requisitos para obtenção do título de
especialista em Gestão Escolar.
Orientador: Prof(a). Maria Socorro Oliveira Cavalachy
JUAZEIRO DO NORTE - CE
2013
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AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Juazeiro do Norte –
FJN, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Gestão
Escolar.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________
Examinador 01
___________________________
Examinador 02
____________________________
Examinador 03
________________________
Local e Data
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A RESSIGNIFICAÇÃO DA “RES PÚBLICA”
COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO ESCOLAR.
CASTRO JÚNIOR, José Maria Tavares¹
Prof.(a). Cavalachy, Socorro ²
RESUMO: Este artigo busca uma reflexão sobre a relação da comunidade:
Gestores, professores, pais, alunos, funcionários e demais indivíduos com a escola pública. Um bem comum, um espaço público, um lugar, a coisa do povo, a coisa pública, um patrimônio. O estudo realizado pela PESB (pesquisa social brasileira) identifica o brasileiro como patrimonialista e com pouco espírito público, levando a um descaso e corrupção com esses espaços. A ressignificação do espaço público permite a comunidade escolar valorizar, preservar e conservar o patrimônio material e imaterial da escola, construída através de práticas de gestão patrimonial, ambiental e artístico cultural, de modo coletivo, levando a noção de público como algo que pertence a todos e cuidado por todos na escola. A metodologia utilizada
neste estudo foi a pesquisa bibliográfica, fazendo uso de autores como Almeida, Tuan, Demo, Dayrell. Espera-se Nesse artigo ressignificar a noção de público, para junto à comunidade, modificar suas atitudes e valores, objetivando garantir uma gestão realmente democrática e participativa e não meramente ilustrativa, através de sua prática como instrumento de gestão escolar.
Palavras-chaves: Espaço Público, res pública, gestão, ressignificação.
ABSTRACT:
This article seeks to reflect on the relationship of the community: Managers, teachers, parents, students, employees and other individuals to public school. A common good, a public space, a place, a thing of the people, public affairs, a heritage. The study conducted by PESB (Brazilian social research) identifies the Brazilian as patrimonial and with little public spirit, leading to neglect and corruption in these spaces. The redefinition of public space allows the school community to value, preserve and conserve the material and immaterial heritage of the school, built through asset management practices, environmental and cultural artistic, so taking the notion of collective public as something that belongs to everyone and care of everyone at school. The methodology used in this study was a literature search, using authors like Almeida, Tuan, Demo, Dayrell. It is hoped this article reframe the notion of public, in the community, change their attitudes and values, aiming to ensure a truly democratic and participatory management, not merely illustrative through his practice as a tool for school management
Key words: public space, res publica, management, resignification
_________________ ¹ Professor efetivo do Estado na E.E.M. Dona Antônia Lindalva de Morais, graduado em geografia – UECE, pós-graduado em Planejamento e Gestão Ambiental – UECE. Especialista em Ensino de Geografia – FJN Email: [email protected] .
² Professora orientadora dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Juazeiro do Norte.
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INTRODUÇÃO
A escola pública é um espaço que pertence a toda a comunidade. Sua
infraestrutura, seus objetos, suas realizações. Porém a noção de público, “res
pública”, coisa do povo, não é percebida muitas vezes pela ampla maioria dessa
comunidade formada por professores, alunos, pais, gestores e demais cidadãos
como algo que pertença a todos, construído coletivamente. Há uma confusão em
relação ao espaço público construindo pelos impostos de todos e o construído como
patrimônio material e imaterial, com representatividade para a comunidade. A escola
como espaço de construção do conhecimento, deve buscar ampliar sua teia de
relações junto a comunidade até dilui-se nela, transformando-a em um lugar, espaço
vivido, com identidade, construído coletivamente e cuidado e por todos.
A percepção do significado da coisa pública influencia na gestão da escola. A
conservação de seus equipamentos, infraestrutura, o sentimento da comunidade em
relação à escola, constrói uma imagem que reflete no seu cotidiano para o bem ou
para o mal. Por tanto, o objetivo desse artigo é construir dentro dos instrumentais de
gestão escolar já existentes uma ressignificação da coisa pública, permitindo uma
gestão realmente democrática e participativa, capaz de fazer com que a comunidade
se aproprie da escola como coisa pública e manifeste para todos os demais espaços
a consciência política construída a partir dessa relação.
No primeiro momento desta reflexão: “O brasileiro e a coisa pública” busca-se a
partir de um estudo único realizado no Brasil, apresentado no livro a cabeça do
brasileiro, mostrar que existe uma percepção sobre a coisa pública no Brasil: O
brasileiro é patrimonialista e com pouco espírito público. Caso se tome como
verdadeira essa afirmação, como mudar essa realidade que contribui para corrupção
e depredação do patrimônio público?
No segundo momento busca-se fundamentar a relação da escola enquanto
espaço público como lugar. Pois quem não tem memória não tem identidade, quem
não tem identidade não se reconhece no lugar. Quem não se reconhece no lugar
não valoriza, não conserva, não preserva.
No terceiro ponto, busca-se refletir sobre as estratégias para ressignifação do
espaço público, não como uma definição rígida dos métodos científicos que
estruturam as ciências, pois todas são bem vidas enquanto práticas durante o
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processo, mas como possibilidades, dentro da necessidade de uma mudança de
paradigmas que definem os sistemas de produção, educacionais, científicos e
políticos que afetam a relação da percepção e cultura que define a noção da coisa
pública.
Um novo significado da “res pública” como instrumento de gestão escolar
definirá a estratégia na teia de relações com a comunidade, pois deverá está
inserido no projeto político pedagógico, no regimento escolar, no plano anual de
trabalho, garantindo uma gestão democrática e participativa.
Por fim a escola poderá exercer a sua verdadeira missão: formar cidadãos
preparados para continuar seu aprendizado em cada experiência, sem reproduzirem
as desigualdades provocadas pelo sistema neoliberal, conscientes de suas ações,
construindo valores que poderão inspirar gerações, assumindo a responsabilidade
para si das ações individuais e coletivas, construindo finalmente um novo significado
da coisa pública.
1 O BRASILEIRO E A COISA PÚBLICA
No livro a cabeça do brasileiro, a partir da afirmação: “Cada um cuida do que é
seu e o governo cuida do que é público” o autor apresenta um perfil da relação do
brasileiro com a coisa pública, mostrando através da PESB (pesquisa social
brasileira), realizada em todas as capitais do Brasil e mais 75 cidades acima de
20.000 habitantes das cinco regiões brasileiras, que o brasileiro é patrimonialista e
com pouco espírito público. A pesquisa foi realizada no ano de 2002 e aplicou 2.363
entrevistas mostrando, segundo DaMatta, dois Brasis em conflito, um arcaico e outro
moderno, tendo a escolaridade e o processo de urbanização realizado forte pressão
rumo a um país mais democrático e moderno, mas que precisa rever seu famoso
“jeitinho brasileiro” afim de alcançar a verdadeira democracia.
Na pesquisa realizada, tomou-se a noção de público como algo de todos, e o
privado/particular, como algo que diz respeito a cada indivíduo. Buscou-se captar a
noção de público como tudo aquilo que não diz respeito, ou não pertence
exclusivamente, ao indivíduo em questão. Já a noção patrimonialista refere-se a
perda do princípio da impessoalidade na administração da coisa pública, atribuindo
aos políticos a tomada de decisões sem contar com o apoio social, o que facilita a
corrupção e o descaso com os espaços públicos.
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O espírito público está relacionado a capacidade do brasileiro em dar sua cota
de sacrifício, em colaborar com o governo no cuidado com o que é público. O que
parece prevalecer a famosa lei de talião: “olho por olho, dente por dente”. A maioria
dos brasileiros só está disposta a colaborar se o governo fizer sua parte.
Almeida (2007,p 98) afirma:
A rua é o ambiente público – na maioria das vezes, inóspito, autoritário e desolador. A casa é o ambiente privado do sentimento, do afeto da família e do que é pessoal. A rua é o espaço público de regras impessoais e a casa, o espaço privado do particularismo. Toda vez que a casa engloba a rua, a consequência é a utilização privada do que é público.
Assumindo a premissa como verdadeira desse estudo sobre a visão do
brasileiro em relação a apropriação privada dos espaços públicos, levando a um
descaso com os espaços que pertencem a todos os brasileiros e, portanto, que
deveriam ser cuidados por todos. Procura-se nesse artigo refletir sobre a
necessidade de ressignificar a “res pública”, a coisa pública, coisa do povo junto à
comunidade como um instrumento de gestão escolar.
Leonardo Boff acredita que o cuidado é essência do ser humano, como no mito
grego de Higino, o indivíduo perde o status de cidadão na polis, a “res pública” muda
sua administração para as mãos do império Romano, mas o ato de cuidar,
permanece, voltando para o indivíduo, cuidar de si mesmo. Boff (1999) nos diz que
“O que vale para o indivíduo vale também para a comunidade local.” O indivíduo
deve cuidar da biodiversidade, cuidar, das praças, igrejas, suas casas e escolas e
lugares públicos, assim como da história e memória do povo.
2 ESCOLA “PÚBLICA”: UM NOVO SIGNIFICADO AO “LUGAR”
A escola é um espaço público onde sua função social é a aprendizagem. Não é
contraditório que espaços de construção do conhecimento, conscientização e
formação cidadã sejam vítimas da desvalorização da coisa pública? Há como
valorizar a coisa pública sem politizar as pessoas? A gestão da escola poderá ser
democrática se as pessoas não possuírem o conhecimento necessário para fazer
parte do processo? Por que os espaços públicos são degradados pela própria
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comunidade a que pertencem? Quais seriam os resultados de levar um novo
significado da coisa pública à comunidade?
A hipótese aqui levantada é a de que quando a população abre mão do
conhecimento, abre mão do poder inerente à condição de cidadão. Valorizar a
participação de cada membro da comunidade, sem transferir a responsabilidade
para outra esfera de poder, que não o povo, consolidaria a verdadeira democracia e
cidadania, fazendo melhor uso do poder do povo na escolha de seus
representantes, responsáveis por cuidar do patrimônio de todos. Esse mesmo povo
deve zelar por ele, conservando, preservando e fiscalizando.
Para que isso aconteça a comunidade deve construir uma nova imagem, uma
representação, um novo sentido ao público. O signo, o símbolo na percepção da
comunidade deve mudar. Ressignificar é atribuir "novo significado" a acontecimentos
pela mudança de sua visão de mundo. Na programação neurolinguística, o uso de
técnicas pode fazer com que as pessoas percebam o mundo de uma maneira mais
agradável, proveitosa e eficiente.
A ressignificação é um elemento-chave para o processo criativo, que significa a
habilidade de situar o evento comum num filtro útil ou capaz de propiciar prazer. Na
teoria da comunicação geral, um sinal somente possui significado em termos de
filtros ou contexto no qual se manifesta. Através da ressignificação, podemos
aprender a pensar de "outro modo" sobre as coisas, ver "novos pontos de vista" ou
levar "outros fatores" em consideração. Para que esse novo significado do que é
público possa ser usado como instrumento de gestão escolar, é preciso
compreender que um instrumento de gestão deve estabelecer melhorias nas
relações das instituições com seus alunos, docentes, especialistas, servidores e
famílias.
O Conselho de Educação do Ceará (CEC) normatizou os instrumentos de
gestão escolar por meio da Resolução 395/2005, que estabelece diretrizes para
elaboração do projeto pedagógico, regimento escolar e plano de trabalho anual,
porém o Estado estabelece as diretrizes para a ação pedagógica na escola,
cabendo a comunidade a responsabilidade de cuidar efetivamente desse bem
comum, de responsabilidade de todos. De acordo com o código civil art. 98, “São
públicos os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem”. As empresas públicas e as sociedades de economia, embora sejam
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pessoas jurídicas de direito privado, integram as pessoas jurídicas de direito público
interno, assim os bens destas pessoas também são públicos. Ainda no (art. 23, I da
CF) “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
democráticas e conservar o patrimônio público”.
São Bens de uso comum aqueles destinados ao uso indistinto de toda a
população. Ex: Mar, rio, rua, praça, estradas, parques (art. 99, I do CC). O uso
comum dos bens públicos pode ser gratuito ou oneroso, conforme for estabelecido
por meio da lei da pessoa jurídica a qual o bem pertencer (art. 103 CC). Ex: Zona
azul nas ruas e zoológico. O uso desses bens públicos é oneroso. A escola, assim
como bibliotecas, teatros, fóruns, museus etc. são bens de uso especial destinados
a uma finalidade específica. (art. 99, II do CC). Já os bens dominicais não estão
destinados nem a uma finalidade comum e nem a uma especial. “Constituem o
patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal
ou real, de cada uma dessas entidades” (art. 99, III do CC).
Assim, destinar a responsabilidade, o cuidar da coisa do povo sem o apoio do
povo, sem a consciência do mesmo sobre sua legitimidade sobre esses espaços
não dá a esses espaços a identidade necessária para sua proteção e integração. A
simples conservação dos bens públicos não se configura a apropriação de sua
imaterialidade, ou seja, o que ele representa na vida da comunidade escolar e dos
que a cercam. Também o uso nocivo do patrimônio público pela comunidade, de
forma predatória, sem cuidados, sem conservação, também não dá a estes a
apropriação de sua própria imaterialidade constituída, pois ao fazer o simples uso do
patrimônio público material (quadras esportivas, salas de aula, bibliotecas etc), sem
a preocupação como bem comum, coletivo, e atribuindo a si o dever como cidadão
de proteger o que não é seu exclusivo, não constrói uma identidade como lugar.
Um novo significado da coisa publica, conscientizando a comunidade que o
que é de todos deve ser cuidado por todos, leva a uma valorização dos espaços
públicos, criando uma identidade desses espaços através das memórias coletivas
que são construídas socialmente. Os bens comuns sejam materiais ou imateriais
passam a assumir o verdadeiro sentido de patrimônio. Portanto, pode-se
compreender:
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o espaço público é um espaço da política, porque nele se exercem as vozes cidadãs, participantes de direito na decisão política e com função de avaliação permanente do poder – o contrário da sociedade anônima, massificada, à margem da política ou duma «opinião pública» sem dimensão e eficácia política.
(PINTASILGO apud MAGALHÃES, 2010, p.42)
Demo (2000) diz que, na sociedade do conhecimento, deve-se combater à
pobreza, primeiramente, a pobreza política, muito mais forte do que a pobreza
natural, já que o seu centro é fenômeno de exclusão social, e não apenas de
carência. Afirmando ainda que ser cidadão não é ser beneficiário da proteção
estatal:
Se ignorância é o problema social mais devastador, seu enfrentamento não se dará, sobretudo, pelo acesso a benefícios, mas pela capacidade individual e, sobretudo, coletiva de fazer e fazer-se oportunidade, ou de se emancipar (DEMO, 2000, p.23).
A atuação de professores, alunos, pais, funcionários, gestores e demais
membros da comunidade, compartilhando experiências, alegrias, tristezas, vitórias e
derrotas, aprendendo com os erros e acertos no cotidiano escolar, buscando na
própria escola um espaço de formação e construção de identidade, faz desses
espaços um lugar.
Tuan (1983) define lugar como “qualquer objeto estável que capta nossa
atenção.”, mas “[...] muitos lugares, altamente significantes para certos indivíduos e
grupos, Têm pouca notoriedade visual. São conhecidos emocionalmente, e não
através do olho crítico ou da mente.”
Cada indivíduo desenvolve sua própria relação com os espaços. A escola
como símbolo público só será um lugar quanto mais complexo for a teia de relações
na comunidade. “Com o tempo a maioria dos símbolos públicos perdem seu status
como lugar e simplesmente obstruem o espaço” (TUAN,1983). Isso mostra a
intrínseca relação entre cultura, espaço e percepção. “A cidade é um lugar, um
centro de significados, por excelência. Possui muito símbolos bem visíveis, mas
ainda a própria cidade é um símbolo”. (TUAN,1983)
Por fim ainda afirma:
Uma cidade não se torna histórica simplesmente porque ocupa um mesmo sítio durante um longo tempo. Os acontecimentos passados não produzirão impactos no presente se não forem gravados em
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livros de história, monumentos, desfiles e festividades solenes e alegres que todos reconhecem fazer parte de uma tradição que se mantêm viva. Uma cidade antiga guarda uma acervo de fatos nos quais as sucessivas gerações podem se inspirar e recriar sua imagem de lugar. (TUAN, 1983,P.193)
A escola para constituir-se como lugar, como símbolo dentro da cidade, dentro da
comunidade, deve construir e registrar sua própria história como parte da própria
comunidade, diluindo-se nela até que não se percebam limites entre a comunidade e a
instituição.
3 UMA ESTRATÉGIA DE RESSIGNIFICAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO
A percepção do que é publico é algo impregnado de valores, hábitos,
costumes, memórias, que ao longo do tempo definem de modo coletivo seu
significado. A história vai ajudar a construir seus sentidos, assim como seu registro.
Da mesma forma, para ressignificá-lo, deve-se reconstruir valores, através de novos
hábitos, onde ao longo do tempo possam traduzir-se em memórias que construam
uma imagem, uma representação do conceito de público, representado em seus
objetos, que são os próprios espaços públicos, escolas, praças etc.
A educação patrimonial tem contribuído nesse sentido, pois tem como
propósito ensinar aos indivíduos de todas as idades, a conhecer a si mesmo, a seu
grupo, e seu patrimônio e a compartilhar esse conhecimento com o outro. A escola é
um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio
democrático com a diferença, traduzindo os significados de uma verdadeira cidadania.
A educação patrimonial, em termos teórico-metodológicos, se utiliza dos
lugares e suportes da memória como arquivos, bibliotecas, sítios históricos, vestígios
arqueológicos, museus, monumentos históricos etc. Desenvolvendo no processo
educativo a sensibilidade e a consciência dos educandos e dos cidadãos para a
importância da preservação desses bens culturais.
Sem essa teia de relações nos diz Ferrara (1996, p.74-75):
[...] “o espaço público (a rua, a praça, o quarteirão) apresenta-se abandonado como se fosse hostil ao indivíduo que a ele não se atreve senão como caminho indispensável aos seus deslocamentos. [...] O anonimato e a irresponsabilidade do espaço público agasalham e estimulam a ação igualmente desobrigada [...] o espaço
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público não é percebido como coletivo, como o lugar de práticas associativas e o indivíduo resiste a organizar-se como cidadão.”
Ainda segundo Ferrara (1999, p. 76)
[...] cidadania é um exercício. Por outro lado, essa prática se alicerça na participação de uma comunidade às voltas com interesses coletivos. Reconhecê-los é condição que leva o cidadão a superar o limite do privado e a segurança individual, obrigando a olhar para fora de si, a fim de encontrar, no coletivo ou por meio dele, uma
realização pessoal mais exigente.
A estratégia para concretização de um novo significado da coisa pública
envolve práticas dentro dos instrumentais de gestão já citados, de projetos de
educação ambiental, patrimonial, formação política e artística cultural.
A problemática ambiental, como sintoma da crise de civilização da modernidade, coloca a necessidade de criar uma consciência a respeito de suas causas e suas vias de resolução. Isto passa por um processo educativo que vai desde a formulação de novas cosmovisões e imaginários coletivos até formação de novas capacidades técnicas e profissionais; desde a reorientação dos valores que guiam o comportamento dos humanos para a natureza, até a elaboração de novas teorias sobre as relações ambientais de produção e reprodução social e a construção de novas formas de desenvolvimento. (LEFF, 2001, P. 254-255)
A escola se percebendo como comunidade e construindo saberes para sua
realidade, sem agir como mero reprodutor do sistema neoliberal incorporado pelo
Estado pode separar o patrimonialismo da verdadeira noção da “res pública”, da
coisa do povo. Essas estratégias poderão fortalecer a existência da associação de
pais e mestres na gestão da escola, na participação dos conselhos e na politização
e ação efetiva dos grêmios estudantis que tem muitas vezes função meramente
ilustrativa.
Além disso, a verdadeira preservação, conservação e valorização do nosso
patrimônio é construídas no nosso dia a dia, nas pequenas coisas, no cuidado com
os livros da biblioteca, na manutenção adequada da escola e uso eficiente dos
recursos financeiros, assim como nos registros em fotos, vídeos, murais, painéis,
projetos da escola, eventos e festas em que a comunidade se envolva
completamente. Pode ser útil na construção e apropriação da identidade da escola
pela comunidade nomear os espaços que são compartilhados por todos, como uma
espécie de toponímia, a fim de humanizá-los. Muitos professores, funcionários,
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pessoas de modo geral que participaram ativamente da vida da escola ao longo dos
anos, construíram sua história junto a comunidade, sendo percebidos como
símbolos, deveriam ser homenageados, atribuindo aos espaços de convivência seus
nomes. Ao invés de simplesmente sala da biblioteca, chamá-la, por exemplo, de
biblioteca professora Lurdes Cunha, pois todos lembrarão a importância da
contribuição da professora junto à comunidade, fazendo com que suas ações
possam motivar, estimular, conscientizar as novas gerações. Assim como as salas
de aulas, laboratórios e demais ambientes. Halbwachs (1990) atribui uma relação da
memória individual ao grupo. As lembranças do indivíduo são forjadas na interação
social, com seus grupos e instituições. É no contexto destas relações que
construímos as nossas lembranças. Assim, a memória coletiva contribui para o
sentimento de pertencimento a um grupo de passado comum, que compartilha
memórias. Ela garante o sentimento de identidade, uma construção simbólica do
espaço.
Certamente que as condições ambientais também devem ser favoráveis, o que
em muitas escolas não acontece como: Salas de aula numerosas, carteiras
desconfortáveis, quentes e arquitetonicamente desfavoráveis, onde o barulho de
uma sala interfere na outra colada a ela; iluminação inadequada, fatores que
diminuem o rendimento da turma e podem construir um sentimento de aversão ao
lugar, depredação das carteias com pichações, fugas da escola etc.
Como afirma Dayrell (2001, p. 147), “[...] a arquitetura e a ocupação do espaço
físico não são neutras [...] O espaço arquitetônico da escola expressa uma
determinada concepção educativa”.
Tuan (1980) Ao falar dos sentimentos de afetividade e aversão aos lugares
criou os termos topofilia e topofobia, respectivamente. Para considerarmos atitudes
e valores sobre o meio ambiente escolar, todas as relações construídas pela
comunidade devem ser percebidas. Além destes dois conceitos, ele também usa o
conceito de “topocídio”, cujo significado é a destruição que o homem efetua sobre as
paisagens naturais e culturais.
Portanto, é possível compreender que esses sentimentos de aversão e
afetividade também se manifestam nos espaços da escola, prejudicando o
rendimento, contribuindo para evasão e depredação do patrimônio escolar. Se faz
necessários um estudo da percepção ambiental, uma tentativa de compreender as
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experiências vividas por professores, alunos e comunidade em geral que afetam
essa teia de relações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dias de hoje é comum o discurso da gestão democrática e participativa nas
escolas, mas não se pode pensar que essa democracia limite-se na escolha do
diretor. Também não se pode pensar a participação apenas na presença da
comunidade em eventos ou contribuindo na preservação e conservação dos
espaços físicos, mas pensar a gestão da educação, definindo os espaços políticos
que contribuam para representação efetiva da comunidade.
Muitos desses canais de representação efetiva existem como diretriz, mas na
prática muitas vezes servem apenas para cumprimento das normas, sem
envolvimento efetivo, simplesmente porque não há a devida vontade política, que
passa pela educação, pela compreensão do significado da coisa pública.
É com essa percepção que a gestão escolar encontrará na valorização do
significado da “res pública” um instrumento capaz de transformar a relação da
comunidade no seu cotidiano, pois de posse de um sentimento de pertencimento a
um lugar que é seu e de todos, com direitos e obrigações sobre ele, pode-se
alcançar uma identidade nesse espaço público, que inspira gerações a continuar
construindo coletivamente seu patrimônio imaterial, apropriando-se adequadamente
do material, planejando, fiscalizando, avaliando, protegendo memórias que
ressignificam os laços que definem a escola como patrimônio público.
Há escolas construídas com os mesmo padrões arquitetônicos, com diferentes
condições de uso, manutenção e conservação, pois depende da localização, da
participação da comunidade, da forma de planejamento e organização da gestão na
escola, que deve conciliar recursos humanos e materiais.
A gestão escolar que busca ser democrática e participativa, cultivando um
espírito público, afastando o patrimonialismo, tem como resultados professores e
funcionários motivados, pois como servidores públicos, são os primeiros defensores
da coisa do povo, sendo eles próprios parte do povo, da comunidade, porém
exaltados como líderes desse movimento de participação coletiva.
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O diretor, fonte de inspiração, incentivo e apoio técnico, mantém contato
permanente com os docentes, funcionários, alunos e familiares, valorizando-os,
fazendo com que se sintam parte fundamental do processo do cuidar, estimulando a
criatividade, mas estabelecendo padrões, confrontando, corrigindo, capacitando.
Valoriza o desempenho dos professores, sabendo que receber reconhecimento os
motiva a fazer cada vez melhor o seu trabalho. Por isso, é capaz de extrair o máximo
de sua equipe de profissionais.
Essa reflexão sobre a ressignificação da “res pública” não se esgota em
qualquer nível de estudo, pois os espaços que tecem a teia dessas relações
comunitárias são dinâmicos, exigindo de cada um de nós uma auto-avaliação
constante. Faz-se necessário que o gestor da escola pública transforme essa
reflexão em prática e que a prática leve a novas reflexões e ressignificações no
exercício da nossa cidadania.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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15
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LEFF, Enrique. Saber Ambiental – Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Trad. Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis:Vozes, 2001.
MAGALHAES, Isabel Allegro de. A dimensão do cuidar e a ressignificação do espaço público no pensar e agir de Maria de Lourdes Pintasilgo. Ex aequo, Vila Franca de Xira, n. 21, 2010 . Disponível em <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.. acesso em 24 de fevereiro de 2013.
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TUAN, Y. Topofilia: Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente. Trad. Lívia de Oliveira. Rio de Janeiro: Difel, 1974. 288p.
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