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AAMMPPDDFFTT INSTITUÍDA EM 23 DE JUNHO DE 1961
CNPJ 00.718.742/0001-57
ESTUDO SOBRE O PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 156/09
PROJETO DE CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Elaborado pela Comissão instituída pelo Ato nº 1 da Presidência da AMPDFT.
Brasília/DF
Eixo Monumental Ed. Sede do MPDFT 6º andar sala 621 Brasília-DF CEP-70091-900 Tel/Fax:(61) 344-5256
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Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
Gestão do biênio 2007/2009
Presidente: CARLOS ALBERTO CANTARUTTI;
Vice-Presidente: ANTONIO HENRIQUE GRACIANO SUXBERGER;
Diretor-Administrativo: ANTÔNIO MARCOS DEZAN;
1º Secretário: ALI TALEB FARES;
2º Secretário: TRAJANO SOUSA DE MELO;
Tesoureiro: PAULO GOMES DE SOUSA JUNIOR;
2º Tesoureiro: BERENICE MARIA SCHERER;
Diretora-Social: SANDRA DE OLIVEIRA JULIÃO;
Diretora de Relações Públicas: LIZ-ELAINNE DE SILVÉRIO E OLIVEIRA MENDES;
Diretor Extraordinário de Esportes e Lazer: LUCIANO COELHO ÁVILA;
Diretor Extraordinário de Assuntos Legislativos: EDUARDO JOSÉ OLIVEIRA DE ALBUQUERQUE;
Diretora Extr. de Apoio aos Aposentados e Pensionistas: CARMEM MARIA MARTINS GOMES;
Diretor Cultural e Assuntos Institucionais: THIAGO ANDRÉ PIEROBOM DE ÁVILA
CONSELHO FISCAL
Efetivos:
PAULO TAVARES LEMOS
JOÃO ALBERTO RAMOS
MARINITA MARIA DA SILVA
Suplentes:
CLÁUDIA VALÉRIA PEREIRA QUEIROZ TELES
NELSON FARACO DE FREITAS
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Sumário
Apresentação ............................................................................................................................ 3
Livro I – Da persecução penal (art. 1.º a art. 251) ...................................................................... 5
Título I – Dos Princípios Fundamentais .................................................................................. 5
Título II – Da investigação criminal ........................................................................................ 6
Título III – Da Ação Penal (art. 45 a art. 52) .......................................................................... 11
Título IV – Dos Sujeitos do Processo .................................................................................... 13
Título VI – Da Competência ................................................................................................. 20
Título VII – Dos Atos Processuais ......................................................................................... 23
Título VIII – Da Prova ........................................................................................................... 27
Livro II – Do Processo e dos Procedimentos (art. 252 a art. 512) .............................................. 29
Título I – Do Processo .......................................................................................................... 29
Título II – Dos Procedimentos .............................................................................................. 30
Título III – Da Sentença (art. 406 a art. 415) ......................................................................... 41
Título IV – Das Questões e Processo Incidentes ................................................................... 41
Título V – Dos Recursos em Geral ........................................................................................ 43
Livro III – Das Medidas Cautelares (art. 513 a art. 626) ............................................................ 48
Livro IV – Das Ações de Impugnação (art. 627 a art. 663) ........................................................ 62
Livro V – Das Relações Jurisdicionais com Autoridade Estrangeira (art. 664 a art. 674) ............ 66
Livro VI – Disposições Finais (art. 675 a art. 682) ..................................................................... 68
SSÍÍNNTTEESSEE DDAASS AALLTTEERRAAÇÇÕÕEESS PPRROOPPOOSSTTAASS.............................................................................................. 70
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Apresentação
Honrados com a missão de promover estudos sobre o PLS 156/09, que propõe a edição
de novo Código de Processo Penal (Ato nº 1, da Presidência da AMPDFT, de 28 de maio de 2009), no
âmbito da Associação dos Membros do MPDFT, deparamo-nos com a necessidade de compatibilizar
a urgência na apresentação das conclusões do trabalho, com a vontade de produzir um texto que, a
par dos benefícios que o simples pensar sobre o novo propicia a todos os membros do Ministério
Público, valesse de subsídio para os debates que ocorrerão em ambas as Casas Legislativas federais
até a esperada aprovação final do novo Código de Processo Penal.
Em sucessivas reuniões ocorridas ao longo de três meses, logramos atingir nossos
objetivos, apresentando o seguinte relatório que, mercê da exiguidade do tempo, não pôde conter
todas as reflexões pertinentes aos inúmeros temas – alguns extremamente polêmicos – versados no
Projeto.
Tentamos ser objetivos em nossos estudos, concentrando a atenção sobre os pontos de
maior relevo positivados no desenho de lei, de forma abreviada e sem preocupação com possíveis
fundamentações doutrinárias e jurisprudenciais, eis que a matéria é bem conhecida pelos autores da
proposta e pelos nobres parlamentares oriundos das carreiras jurídicas.
A nossa avaliação geral sobre os anteprojetos é positiva, inobstante a existência de
vários dispositivos que, conforme procuramos demonstrar, merecem ser revistos, aperfeiçoados ou
mesmo suprimidos.
Percebemos que os esforços da Comissão de Juristas se dirigiram, tendo sempre a
Constituição da República como norte, ao oferecimento de proposta que traga ao nosso sistema
processual pátrio maior dose de garantismo, eficiência e simplificação dos atos processuais, sob a
égide de um sistema acusatório público, em que cada um dos sujeitos principais da persecução penal
desempenhe um papel relevante e distinto.
Porém, em alguns pontos do Projeto, conforme tentamos demonstrar, sentimos certo
distanciamento de tais objetivos, sobretudo na distribuição dos papéis desempenhados pelas partes
da relação processual, que, na apregoada guinada para um sistema acusatório mais puro,
continuaram a apresentar-se sob uma regência normativa de cunho mais inquisitorial, opção do
legislador de 1941.
Feitas essas observações, lançadas com o único propósito de, modestamente, colaborar
para o aperfeiçoamento do Projeto, enfatizamos nosso apoio ao fecundo trabalho desenvolvido
pelos juristas que integraram a comissão instituída pelo Senado Federal, a quem se somaram, pelo
espírito democrático de seus membros, contribuições da sociedade civil, como a que ora se
apresenta.
Acreditamos que a eventual aprovação do novo Código de Processo Penal, com os
possíveis ajustes ao seu texto, representará considerável progresso no funcionamento da justiça
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criminal brasileira, algo que é do interesse de todos nós, independentemente das nossas
divergências de cunho jurídico, institucional ou mesmo ideológico.
Brasília, DF, 18 de novembro de 2009.
Procurador de Justiça Rogerio Schietti Machado Cruz
Coordenador dos Trabalhos
Componentes da Comissão
Promotora de Justiça Alessandra Campos Morato
Promotor de Justiça André Vinicius do Espírito Santo de Almeida
Promotor de Justiça Antonio Henrique Graciano Suxberger
Promotora de Justiça Berenice Maria Scherer
Promotor de Justiça Adjunto Daniel Bernoulli Lucena de Oliveira
Promotor de Justiça Fausto Rodrigues de Lima
Promotor de Justiça Jefferson Lima Lopes
Promotora de Justiça Kedyma Cristiane Almeida Silva
Promotor de Justiça José Theodoro Correa de Carvalho
Promotor de Justiça Rodrigo de Abreu Fudoli
Promotor de Justiça Sérgio Eduardo Correia Costa Gomide
Promotor de Justiça Thiago André Pierobom de Ávila
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Livro I – Da persecução penal (art. 1.º a art. 251)
Título I – Dos Princípios Fundamentais
O projeto de lei sob análise elenca um catálogo de princípios que deve informar a
persecução penal do Estado, no âmbito dos ordenamentos jurídicos de corte democrático. Nesse
particular, reputamos de extrema importância a inclusão desse catálogo de princípios, não apenas
como parâmetro para orientar a persecução penal do Estado, mais também para reforçar a
necessidade de interpretação e aplicação do Código de Processo Penal conforme a Constituição de
88. Com efeito, conforme vem sendo reiteradas vezes apontado pela doutrina, continuamos
aplicando dispositivos de lei manifestamente inconstitucionais, pelo simples fato de não haver
legislação que disciplina a matéria. No entanto, esse déficit legislativo não pode ser razão para que os
operadores jurídicos continuem aplicando um modelo de processo penal superado, de corte
inquisitivo, sob o argumento de continuar em vigor tal ou qual dispositivo de lei, em face da ausência
de lei expressa que a revogue. Nesse sentido, setores mais críticos da doutrina e dos operadores
jurídicos, apontam e denunciam o chamado “decisionismo” que impera na realidade dos Tribunais
brasileiros, e que se caracteriza pela falta de critério e o casuísmo das decisões judiciais, fundadas
muitas vezes apenas no argumento da autoridade (nesse sentido, confiram-se as discussões levadas
a efeito no recentemente realizado 15.º Seminário Internacional do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais, no dia 26 ago. 2009, na cidade de São Paulo/SP). Com efeito, apesar de mais de 20 anos de
vigência da Constituição Federal, ainda não superamos a “fase de transição” de um modelo
inquisitivo para um modelo acusatório de persecução penal. Portanto, faz-se necessário imprimir
maior racionalidade e cientificidade ao discurso e, nesse sentido, a apresentação do Código de
Processo Penal, por meio de um catálogo de princípios que devem informar a persecução penal do
Estado, é, a priori, bastante salutar e se amolda à necessidade de reafirmar os direitos fundamentais
já previstos na Constituição Federal.
Digno de nota, o disposto nos arts. 4º, 5º e 6º, que estabelecem como parâmetro de
interpretação e aplicação das normas processuais penais, a observância do modelo acusatório de
processo e a proibição de excesso, privilegiando a máxima proteção dos direitos fundamentais,
considerada, ainda, a efetividade da tutela penal. Nesse particular, nos manifestamos de acordo
com o relator do Projeto, E. Pacelli que, em recente exposição pública (painel do já mencionado 15.º
Seminário do IBCCrim), definiu o processo como “dialética da incerteza”, ou seja, parte-se da
percepção de que a operatividade do sistema é falível e, portanto, requer um esforço dos
operadores jurídicos para sair do imobilismo metodológico. A tal efeito, é preciso, primeiramente, no
âmbito de definição da política criminal do Estado, definir metas, para depois, no âmbito de
aplicação das regras processuais, fazer-se a seguinte pergunta: no caso concreto, a pena se justifica?
Portanto, para tornar efetivas as metas previamente traçadas, deve-se partir de uma interpretação
teleológica dos princípios que informam a política criminal do Estado.
Portanto, nesse particular, o PLS 156/09 é bastante preciso e claro, e, portanto, merece
aplausos, ao estabelecer, logo no início, como parâmetro de interpretação, a observância das
garantias processuais constitucionais, com vistas à máxima proteção dos direitos fundamentais.
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Título II – Da investigação criminal
Inicialmente, a respeito das disposições gerais previstas no Capítulo I do Título em
epígrafe, é digno de nota a omissão acerca de quem é a autoridade competente para conduzir a
investigação criminal. Porém, é fácil deduzir que a omissão é deliberada, tendo os juristas autores do
Projeto optado por não adentrar nesse espinhoso tema, que diz respeito à direção da investigação
pela autoridade policial ou pelo Ministério Público. Essa fórmula de compromisso parece ser a opção
política mais acertada. Desse modo, permite-se que as forças políticas divergentes não obstaculizem
a aprovação do projeto, sem que se comprometa a interpretação que confere ao Ministério Público a
direção da investigação criminal, por ser a mais consentânea com o art. 129, I da Constituição
Federal.
Outro aspecto que merece atenção nesse capítulo, consiste na ampliação do direito de
defesa, na fase de investigação. Nesse ponto, reputamos temerária a previsão do art. 14, de
produção de prova, podendo o investigado, inclusive, entrevistar pessoas.
Sugerimos, portanto, a seguinte redação para esse dispositivo:
Art. 14. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado ou de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes de prova em favor de sua defesa.
Parágrafo único. A autoridade policial responsável pela investigação decidirá
fundamentadamente acerca dos requerimentos mencionados no caput.
Em relação ao capítulo II do Título II do Projeto, é possível afirmar que, inegavelmente,
uma das maiores inovações do Projeto de Lei sob análise, se não a mais significativa alteração
estrutural, consiste na previsão da figura do Juiz de Garantias, na fase prévia à instauração do
processo. Com efeito, a Comissão de Juristas, autora do Projeto, deu um passo decisivo na
construção de um processo penal acorde com os princípios constitucionais que informam a
persecução penal do Estado democrático de Direito, e com a concretização das garantias
processuais, destacadamente a garantia da imparcialidade judicial, um dos corolários do princípio
acusatório.
Entretanto, nesse particular, o Projeto apresenta algumas contradições, merecendo,
portanto, reparos. Particularmente, os incisos VIII e X, do art. 15 extrapolam nitidamente as funções
do Juiz de Garantias, eis que dão poderes ao Juiz sobre a duração e produção de provas no decorrer
das investigações. Com efeito, o próprio Projeto (arts. 33 a 40) prevê o encaminhamento do
inquérito policial diretamente ao Ministério Público, como órgão destinatário da prova produzida na
fase inquisitorial. Além disso, conforme previsão expressa (art. 33) o Ministério Público, como órgão
titular da ação penal, é também o único agente público capaz de aferir “a viabilidade da acusação,
bem como à efetivação de medidas cautelares, pessoais ou reais, a serem decretadas pelo juiz das
garantias”. Portanto, os incisos VIII e X, ao atribuírem ao Juiz de Garantias a função de prorrogar
prazo de duração do inquérito, sem prévio requerimento do Ministério Público (mesmo quando se
trate de réu preso); e requisitar, de ofício, documentos, laudos e informações da autoridade policial
sobre o andamento da investigação, aproximam a sua função mais bem a de Juiz de instrução, pois, à
evidência, usurpam atribuição própria do Ministério Público, de condução do inquérito policial e
destinatário da prova produzida na fase de investigação criminal.
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Em resumo, somente residualmente caberá a intervenção do juiz de garantias para
salvaguardar lesão a direito do investigado, não incumbindo ao Juiz de Garantias, portanto, o
controle sobre a duração ou condução do inquérito policial, eis que além do Ministério Público ser o
único órgão legitimado pela Constituição Federal para exercer o controle externo da atividade
policial, é também o destinatário da prova produzida na investigação policial e, portanto, é o único
órgão que pode aquilatar a necessidade de prorrogação de prazo para duração do inquérito, e
requerê-lo ao poder Judiciário, nos casos de réu preso, ou determinar seu arquivamento, quando
não houver fundamento razoável para sua instauração e, como não poderia ser diferente, requisitar
documentos, laudos e informações da autoridade policial sobre o andamento da investigação.
Conclui-se, portanto, que os incisos VIII e X, do art. 15, extrapolam as funções do Juiz de Garantias,
eis que não só destoam da interpretação sistêmica do Projeto, como também usurpam atribuições
próprias do Ministério Público, padecendo, portanto, de vício de inconstitucionalidade.
Também merece destaque, o disposto no parágrafo único, inciso XIV, que dispõe que:
“estando o investigado preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade
policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar a duração do inquérito por período de 10 (dez) dias,
após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será revogada.” Grifos nossos.
A imprecisão terminológica ora destacada mostra-se inconciliável com o papel do
Ministério Público, eis que na condição de órgão destinatário da prova colhida na fase inquisitorial e
titular exclusivo da ação penal pública, é o único órgão com atribuição constitucional, para requerer
em Juízo qualquer medida ou mesmo dilação de prazo, com vistas à colheita de provas que possam
vir a embasar eventual propositura de ação penal. Portanto, medidas processuais de interesse para
as investigações policiais somente podem ser buscadas em juízo exclusivamente pelo Ministério
Público, sob pena de não se formar uma relação jurídica processual válida.
Daí infere-se que os dispositivos legais anteriores a 1988, que permitem solicitações
policiais ao Poder Judiciário (denominadas “representações”) não foram recepcionados pela
Constituição vigente. Já as normas posteriores à CF/88, que aparentemente autorizam tal iniciativa,
são flagrantemente inconstitucionais, por ofensa ao princípio acusatório e ao processo penal de
partes, de feição contraditória (art. 5º, LV, da CF), nos planos formal e substancial.
Dito de outro modo, representações policiais, de qualquer espécie, devem ser dirigidas
ao Ministério Público, para que este, no exercício do controle externo (concreto) da atividade policial
persecutória, verifique, antes, a necessidade de propor a medida ao Judiciário e também examine a
sua conveniência e utilidade para a futura ação penal, que é de sua exclusiva iniciativa como dominus
litis. Esse primeiro filtro realizado pelo Ministério Público (o filtro cabal e definitivo será sempre
realizado pelo Poder Judiciário) contribui a um só tempo para a harmonia do sistema processual
penal (processo penal contraditório ou adversarial) e para reforço da garantia do promotor natural,
sem deixar de favorecer a segurança jurídica dos cidadãos diante da jurisdição criminal, também na
perspectiva da minoração dos riscos da ocorrência de erros judiciários (art. 5º, LXXV, da CF).
Registre-se, por outro lado, que para equacionar tais questões não basta que o Juiz
abra vista dos autos ao Ministério Público para que se manifeste, anote-se, como mero “parecerista”,
acerca da conveniência ou não da representação policial. Do contrário, situações esdrúxulas e
insolúveis podem ocorrer. Com efeito, se a solicitação da Polícia for indeferida pelo juiz, com base
em manifestação contrária do Ministério Público, não há recurso possível do “autor” do pedido. É
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que o autor criminal somente pode ser o Ministério Público e somente ele pode recorrer das
decisões judiciais desfavoráveis ao Estado-acusação (interesse de agir), além, decerto, da
consideração do assistente do Ministério Público. Por outro lado, se o pedido for deferido contra o
interesse do Ministério Público, qualquer recurso manifestado pela defesa ou qualquer outro
remédio jurídico utilizado em favor do investigado deverá ser respondido pelo Ministério Público
“discordante”, e jamais pela Polícia “requerente”. Sobrecarrega-se, portanto, o órgão de acusação
com uma demanda processual à qual não aderiu e que está fulminada pelo vício de iniciativa.
Portanto, para além da titularidade plena do Ministério Público para as ações penais públicas e seus
incidentes, as situações acima expostas recomendam que se privilegie o processo penal de partes,
inclusive no que diz com as ações cautelares criminais, especialmente porque tais medidas incidem
sobre liberdades individuais, cujos estratos de proteção devem ser sólidos e sistêmicos.
Sugerimos, portanto, a supressão do inciso X, do art. 15, do elenco de atribuições do Juiz
de Garantias, e a seguinte redação para o inciso VIII, e parágrafo único desse dispositivo:
Art. 15. Omissis:
I – *…];
II – *…+;
III – *…+;
VIII – decidir acerca da manutenção da prisão, em caso de continuidade das
investigações e observando-se o disposto no parágrafo único deste artigo;
X - [supressão];
*…+
Parágrafo único. “estando o investigado preso, o juiz das garantias poderá,
mediante requerimento do Ministério Público, prorrogar a duração da prisão por
período de 10 (dez) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será revogada.”
No que se refere ao capítulo destinado ao Inquérito Policial, convém tratar das
diligências investigatórias. A redação do art. 26 do Projeto, ao elencar as atribuições da autoridade
policial, reclama modificação do texto, inciso VI, no que se refere à representação policial acerca da
prisão preventiva ou temporária. Conforme já explicitado anteriormente, é ponto pacífico que a
Constituição Federal confere ao Ministério Público atribuição exclusiva para a ação penal pública. A
mesma titularidade se estende às ações penais cautelares e às medidas criminais instrutórias perante
o Judiciário, como decorrência do art. 129, inciso I, da CF, e dos princípios acusatório, da inércia e do
promotor natural.
A inadequação da representação policial para a provocação da jurisdição criminal se
revela de modo claro em medidas cautelares constritivas de indisponibilidade de bens e de privação
de liberdade, medidas estas que interferem direta e gravemente sobre o patrimônio e o ius libertatis
de suspeitos e indiciados (art. 5º, inciso LIV, da CF), com graves repercussões tanto do ponto de vista
do rompimento de garantias caras à democracia (numa fase em que o titular da ação penal sequer
formou a sua opinião sobre a necessidade ou não da ação penal condenatória), quanto do ponto de
vista da organização, interação e cooperação dos serviços de persecução criminal (law enforcement
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agencies) tendo em mira um fim comum. Muitas vezes, há representações policiais que são deferidas
sem o conhecimento do dominus litis, para a produção de prova que necessariamente deverá ser por
ele analisada antes que o Judiciário possa condenar ou absolver o investigado.
Conclui-se, portanto, que o deferimento de qualquer medida no âmbito da
investigação criminal, por representação direta da Polícia, representa a quebra do princípio ne iudex
sine actore, e, em conseqüência, ne procedat iudex ex officio, e à evidência ofende a saudável inércia
jurisdicional (tão necessária à isenção da magistratura, em especial a criminal), além de vulnerar à
evidência o sistema acusatório (cf., nesse sentido, STF, ADI 1.570, RTJ vol. 192-3, p. 838).
Tome-se em conta ainda o fato de que as autoridades policiais não estão sujeitas ao
regime de suspeição e impedimentos que submete juízes e membros do Ministério Público. Por
óbvio, pode haver prejuízo para o investigado na atuação direta da Polícia em juízo, como se parte
fosse. Limita-se a defesa na medida em que não é possível opor exceções de suspeição ou de
impedimento contra o órgão policial que tomou a “iniciativa processual”. Ao revés, se reservada
apenas ao Ministério Público a faculdade de proposição de medidas cautelares criminais, nenhuma
limitação há ao exercício da defesa processual ou de mérito.
Outras conseqüências esdrúxulas podem advir de representações policiais não
submetidas ao prévio crivo do Ministério Público. Por exemplo, prosseguindo no mesmo ponto, no
caso de prisões temporárias e preventivas, a existência de constrição decretada por representação
policial contrariamente à manifestação do Ministério Público irá constranger o órgão titular da ação
penal a propor a demanda em prazo mais exíguo (em apenas 5 dias para o indiciado preso, em lugar
dos 15 dias que o Parquet teria se estivesse solto o indiciado), de forma açodada e em flagrante
prejuízo à análise profunda da prova, à correta individualização das condutas e à efetividade da
persecução criminal.
É desnecessário relembrar que o açodamento para a realização de prisões policiais
pode redundar em fracasso do processo penal, a cargo do Ministério Público, construindo-se idéias
publicadas e equivocadas de que “a Polícia prende”, “a Justiça solta” e de que o Ministério Público
coadjuva a produção da impunidade. Com efeito, a experiência demonstra às escâncaras que
medidas dessa natureza só geram tumulto processual, provocando mais atropelamentos e correria,
em nome de uma pseudo eficiência policial no combate à criminalidade, que se dá por meio de uma
atuação “processual” da Polícia, a qual não foi submetida ao titular da ação penal ou que foi adotada
contra seu interesse e sua estratégia persecutória.
Daí redunda quando muito o uso meramente simbólico da ação penal, dada início por
meio de denúncias precipitadas ou mal formuladas e, por isso mesmo, fadadas ao fracasso. Isto é, de
duas uma, ou a ação penal é proposta no prazo legal, no estado em que estiver a investigação
(concluída ou não, com clareza de autoria ou não), ou o requerimento de prisão preventiva sem
acusação formal que a respalde deve ser indeferida. Do contrário, pela falta de coordenação da
Polícia com o titular da ação penal, haverá um preço a pagar: o preço da impunidade ou o de
acusações injustas ou fadadas ao fracasso. A responsabilidade processual persecutória será do
Ministério Público, titular da ação penal.
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Portanto, por razões óbvias, não é de boa técnica, no sistema acusatório, atropelar a
valoração da prova pelo dominus litis e autorizar medidas desta ordem sem a sua prévia
concordância, ou melhor, sem a sua iniciativa processual.
A conclusão a que se chega tem duas variantes. Ou as normas processuais que
autorizam representações policiais não foram recepcionadas (dispositivos pré-1988) ou tais normas
são inconstitucionais (dispositivos pós-1988).
Na ordem de idéias acima expostas, a solução sistemática – e que, além disso, não
afronta o juízo de valor realizado pela Polícia Judiciária e que confirma o respeito que as instituições
policiais brasileiras vêm alcançando como órgãos de combate à criminalidade - é estabelecer que as
representações policiais, qualquer que seja a finalidade, sejam dirigidas previamente ao Ministério
Público, e esta instituição, em as acolhendo, por sua utilidade, necessidade, razoabilidade e
proporcionalidade, poderá veiculá-las em juízo para a imprescindível decisão judicial. Essa saída
privilegia a coordenação dos órgãos estatais voltados à persecução criminal e reduz a possibilidade
de restrições desnecessárias a direitos individuais.
Não acolhida a representação pelo dominus litis, em juízo prévio de conveniência
persecutória (opinio delicti preliminar), nada impede que a Polícia Judiciária volte a sugerir ao
Ministério Público a mesma medida em outro momento da investigação criminal. Como bônus pela
adoção deste procedimento, ter-se-á a redução da judicialização de demandas criminais
preparatórias, que passarão a guiar-se pelo princípio da oportunidade e pela idéia de intervenção
necessária, em benefício de todo o sistema criminal. Não há porque dissentir: é legítima a pretensão
do Ministério Público de coordenar as representações policiais, analisando-as previamente e
submetendo-as, se for o caso, a apreciação judicial, tanto em sua função de fiscal da lei (e das
garantias individuais), quanto em sua atividade de titular da persecução criminal.
Sugerimos, portanto, a modificação desse dispositivo, para fazer constar que a
representação policial deve ser dirigida ao Ministério Público, que avaliará a necessidade de requerer
ao poder Judiciário a prisão preventiva ou temporária, bem como sobre outros meios de obtenção de
prova que exijam pronunciamento judicial.
Outro aspecto importante, consiste na necessidade de previsão do controle das
ocorrências policiais registradas, eis que, como é do conhecimento de todos, muitas delas não geram
inquérito policial, ficando a decisão de sua abertura a juízo discricionário da autoridade policial. Faz-
se necessário, portanto, o controle da atividade policial, nesse particular, para fins de evitar abuso de
autoridade na instauração ou não de inquérito policial.
Propomos a seguinte redação para esse dispositivo:
Art. 26. Omissis:
I – *…+;
II – *…+;
III – *…+;
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VI – representar ao Ministério Público acerca da prisão preventiva ou temporária,
bem como sobre os meios de obtenção de prova que exijam pronunciamento
judicial;
VII - *…+;
VIII – encaminhar ao Ministério Público os registros de todas as ocorrências
policiais.
Já no que se refere à seção que versa sobre os prazos de conclusão do inquérito
policial, para fins de melhor sistematização e uniformização do texto, propomos modificação dos §§
2º e 3º, do art. 32, para fazer remissão ao disposto no art. 26, § único (redação sugerida), que trata
do prazo máximo para a prorrogação da prisão, e não do inquérito.
Sugerimos a seguinte redação para esse dispositivo:
Art. 32. Omissis:
§ 2º. Se o investigado estiver preso, o inquérito policial deve ser concluído no prazo
de 10 (dez) dias, podendo ser prorrogado na forma do art. 26, § único.
§ 3º. Caso a investigação não seja encerrada no prazo previsto no § 2º deste artigo,
a prisão será revogada, exceto na hipótese de prorrogação autorizada pelo juiz das
garantias, para os fins do disposto no parágrafo único do art. 15.
Na seção atinente ao relatório e remessa dos autos ao Ministério Público e ao
arquivamento, o Projeto merece apenas elogios, destacando-se a supressão do malfadado art. 28 do
atual CPP e previsão do Ministério Público, como único órgão com atribuição para determinar o
arquivamento da investigação ou do inquérito policial (arts. 35, inciso IV e art. 37), submetendo-se
essa decisão à apreciação da instância de revisão do próprio órgão ministerial, de ofício ou por
iniciativa da vítima ou de seu representante legal.
Além disso, a redação do art. 37 permite uma interpretação mais elástica dos
pressupostos que autorizam o arquivamento do inquérito, para abranger, por exemplo, a aferição da
prescrição em perspectiva, questão que todavia gera polêmica na práxis judicial. Também permite a
incorporação de novos conceitos e princípios, com fundamento em critérios de tipicidade formal e
material; insignificância; ofensividade; ausência de interesse público na persecução penal;
desproporcionalidade da resposta estatal frente à lesão concreta, entre outros institutos que
informam a Dogmática penal contemporânea. Com efeito, as expressões “outras razões de direito” e
“circunstâncias objetivas e subjetivas que orientarão a fixação da pena”, previstas no art. 37,
permitem abarcar outros pressupostos, além da insuficiência de elementos de convicção, que
autorizam o arquivamento.
Título III – Da Ação Penal (art. 45 a art. 52)
No que se refere à ação penal, a Comissão de Juristas autora do Projeto deu um passo
significativo à racionalização do exercício da ação penal e mitigação do princípio/regra da
obrigatoriedade da ação penal, com relação aos delitos patrimoniais, praticados sem violência ou
grave ameaça, bem como considerados de menor expressão econômica. A tal efeito, condicionou a
persecução penal do Estado à representação da vítima. Também instituiu a composição civil do dano
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como causa de extinção de punibilidade, mesmo depois de instaurada a ação penal, ou seja, cria uma
hipótese de antecipação do termo final do processo, sem julgamento do mérito (art. 46, § 2º).
A inovação proposta vai ao encontro da linha de política criminal mais atualizada, que se
orienta à minimização dos danos causados pela persecução penal do Estado, privilegiando a
conciliação entre autor e vitima como meio de solução do conflito penal. E, nesse particular,
portanto, o Projeto merece elogios, pois seus autores denotam clara preocupação com a necessidade
de reformular o modelo tradicional de persecução penal, essencialmente no que se refere à
necessidade de superação do modelo punitivo clássico, e que se traduz na proteção meramente
formal dos Direitos Fundamentais. Além disso, nas bases para a reformulação do modelo de processo
penal que se pretende democrático é preciso adotar novos paradigmas que deverão considerar,
acima de tudo, a efetiva proteção das garantias materiais, as quais se traduzem, entre outras, nos
princípios de igualdade e legalidade, e objetivos de pacificação social e reinserção do imputado,
traduzidos na fórmula da prevenção geral e individual.
Nessa linha de entendimento, não obstante o claro avanço do Projeto, faz-se necessário
tecer algumas considerações críticas. Com efeito, embora na exposição de motivos demonstre
manifesta intenção de “abrir portas para o ingresso de um modelo restaurativo da instância penal”,
observa-se que, nesse ponto, os juristas autores do Projeto foram bastante tímidos. Nesse particular,
avançaríamos sobremaneira não só à racionalização do exercício da ação penal pública, como a
conferir fins de prevenção especial e geral do processo, caso houvesse a regulamentação da
mediação penal, como alternativa à persecução penal, ou mesmo, após instaurado o processo, se
fossem ampliados os pressupostos objetivos que autorizam a extinção da punibilidade ou suspensão
do processo, particularmente naqueles assuntos em que fosse possível um acordo entre as partes
que, implicasse, por exemplo, nos casos de crimes contra o patrimônio em que o autor é toxicômano,
a sujeição a tratamento especializado, para fins de assunção de responsabilidade e reinserção social.
Anote-se, que o modelo de Justiça Restaurativa tem como finalidade específica a
reparação dos danos causados através da responsabilização dos danos causados pelo agente, isto é,
o objetivo da reparação deve ser a (re)apropriação do conflito pelas partes em um contexto de
democratização do processo de regulação social. Portanto, a reparação do dano não pode limitar-se
à reparação material, nem se traduz em maior aflição ao autor do crime. Do contrário, se estaria
incentivando a privatização do conflito e a mercantilização do dano produzido não só à vítima, como
também à sociedade.
Nesse sentido, merece reparos condicionar a extinção da punibilidade à recomposição
civil do dano (art. 46, § 2º). Nesse particular, faz-se necessário destacar que a exigência de reparação
material, em face da hipossuficiência econômica do autor do delito, além de inviabilizar a aplicação
desse dispositivo, na grande maioria dos casos em que se aplica, também aprofunda as
desigualdades sócio-econômicas que caracterizam a sociedade brasileira e que se retratam
sobretudo na prática de delitos de natureza patrimonial. Com efeito, a reparação material tem um
efeito bastante perverso, que se traduz na monetarização do conflito penal, em detrimento dos fins
de prevenção que devem orientar a persecução penal do Estado. Portanto, a extinção da
punibilidade deve ocorrer particularmente com relação aos crimes patrimoniais em que, ante a
manifesta incapacidade econômica do autor, seja possível promover a reparação ao menos simbólica
do dano.
13
Sugerimos, por conseguinte, quando se tratar de valor de menor monta, a supressão
da exigência da prova em juízo da recomposição civil do dano, como condição para extinção da
punibilidade, e propomos a seguinte redação para esse dispositivo:
Art. 46. Omissis:
§ 2º Nos crimes de que trata o caput, deste artigo, em que a lesão causada seja de
menor expressão econômica, ainda que já proposta a ação, a conciliação entre o
autor do fato e a vítima implicará a extinção da punibilidade.
Título IV – Dos Sujeitos do Processo
A redação do art. 54 do Projeto, ao descrever as hipóteses de impedimento ao exercício
da jurisdição, reclama modificação do texto, para que as hipóteses abarquem, de modo expresso, a
figura da união estável, a fim de que não se faça necessário esforço de interpretação analógica para
os casos de suspeição por funcionamento ou interesse do cônjuge. Com isso, a dispositivo passaria a
dispor da seguinte forma:
Art. 54. Omissis:
I – tiver funcionado seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II – *…+;
III – *…+;
IV – ele próprio ou seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
No mesmo sentido, o impedimento nos casos de julgamento colegiado, tal como
prevista no art. 55, igualmente merece alteração redacional:
Art. 55. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si cônjuges, companheiros ou parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
Por igual razão, propõe-se redação que inclua a figura do companheiro nas hipóteses de
suspeição:
Art. 56. Omissis:
I – *…+;
II – se ele, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III – se ele, seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV – *…+;
14
V – *…+;
Parágrafo único. O juiz, a qualquer tempo, poderá afirmar a sua suspeição por quaisquer razões de foro íntimo, caso em que justificará os motivos junto aos órgãos correcionais da magistratura.
O Projeto há de trazer previsão concernente à figura do companheiro também no que se
refere ao Ministério Público.
Art. 59. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
O Projeto, em acertada previsão veiculada no art. 60, parágrafo único, traz preceito
normativo que distingue os casos de hipossuficiência econômica – a reclamar a atuação de
instituição ou equivalente que assegure a assistência judiciária – da hipossuficiência processual –
esta, a reclamar a nomeação de advogado ao acusado que deixa de apontar defensor de sua própria
escolha. Com isso, o Projeto centra a atuação da Defensoria Pública (e das instituições ou órgãos que
lhe façam as vezes) aos casos de atuação precípua, de molde a adequar a exigência de pagamento de
honorários à atípica função de resguardo da indisponibilidade dos princípios processuais da ampla
defesa e do contraditório no processo.
O Projeto, igualmente, demonstra atenção com a celeridade do processo e a efetividade
da persecução, quando estabelece o prosseguimento da marcha processual no caso de não
comparecimento injustificado do defensor do acusado.
Com efeito, o Projeto delineia as dimensões da ampla defesa, distinguindo o exercício da
autodefesa e da defesa técnica. Além disso, com acerto, reserva a atuação do advogado dativo aos
casos de hipossuficiência econômica do acusado, de sorte que venha ele a arcar com os custos do
advogado nomeado para o ato em caso de desídia do causídico constituído. Além disso, o art. 60
veicula preocupação com a celeridade processual, mas igualmente manifesta atenção ao postulado
da ampla defesa, de modo a reclamar fundamentação idônea para o adiamento do ato por razão do
não comparecimento do advogado.
Quando trata do interrogatório, o Projeto fixa a sua natureza de meio de defesa e exige
a presença do defensor para todas as hipóteses em que ele ocorra. Nesse particular, vê-se que a
dicção do dispositivo, ao fixar de modo absoluto o caráter do interrogatório como meio de defesa,
veicula contradição com a própria redação do Projeto, notadamente com o que diz o inciso III do art.
65, que acertadamente traz preceito normativo que evidencia o inafastável caráter de meio de prova
do interrogatório. Além disso, a leitura dos arts. 71 e 72 do Projeto, ao permitirem o exame direto
pelas partes no interrogatório em juízo, uma vez mais, robustece a compreensão de que o
interrogatório também se presta como meio de prova.
Para corrigir tal distorção, sugere-se a inclusão dessa característica do interrogatório, de
modo a se deixar para discussão doutrinária a preponderância desta ou daquela característica.
Art. 63. O interrogatório constitui meio de defesa e meio de prova do investigado ou acusado e será realizado na presença de seu defensor.
15
Demais disso, o Projeto atenta para toda a construção doutrinária atinente à chamada
“cláusula Miranda”, como a entendeu a Suprema Corte norte-americana no célebre caso “Miranda
versus Arizona” de 1966 e a consagrou a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica).
Os parágrafos do mesmo artigo 63 trazem redação inequívoca a respeito da presença de
advogado para acompanhar o interrogatório realizado por ocasião da lavratura do auto de prisão em
flagrante. Demais disso, na impossibilidade da presença do causídico, é elogiável a iniciativa de
encaminhamento do auto de prisão em flagrante ao Juiz de garantias – sem a realização do
interrogatório, no caso, por ausência do advogado. Além de substanciar importante regra de
garantia, tal previsão confere legitimidade ao ato e, em conseqüência, evita eventuais
questionamentos futuros a respeito da veracidade do interrogatório e das circunstâncias em que
realizado.
O art. 64 do Projeto atende à necessidade de se afastar a utilização de métodos ou
iniciativas questionáveis à obtenção de eventual confissão por meio do interrogatório. O § 2.º, nesse
particular, traz importante previsão a respeito do tempo de duração do interrogatório, cuja dilação
excessiva pode vir a configurar detestável sofrimento físico, psíquico ou mesmo pisicológico.
Além disso, ainda que de modo tímido, o Projeto lança as bases para a incidência de
institutos voltados à colaboração do acusado com a investigação ou persecução penal (§ 1.º do art.
64). Nesse particular, proíbe expressamente a “negociação” entre autoridade policial e investigado,
que muitas vezes ocorre na práxis sem qualquer conhecimento do titular da ação penal.
O parágrafo único do art. 65 do Projeto traz advertência relevante a respeito do
exercício da ampla defesa e do resguardo da efetividade da persecução penal, ao minudenciar que o
direito de conhecimento prévio da imputação não abarca o conhecimento de todos os meios de
prova já coligidos por ocasião do interrogatório. É de ver, contudo, que a redação do inciso I do art.
65 está a merecer reparos, pois a leitura desavisada traz a equivocada compreensão de que na
investigação preliminar apenas são produzidos indícios. A valer, consoante dicção consolidada de
escólio doutrinário, indício é espécie de meio de prova. O correto, se se pretende mencionar o
momento da investigação preliminar à persecução penal, é fazer referência, então, a “elementos de
informação”, expressão mais ampla e hábil a abarcar todo o cabedal de conhecimento coligido por
ocasião da apuração preliminar, em conformidade, aliás, com a nova redação dada ao art. 155 do
atual CPP (segundo a alteração promovida pela Lei 11.690, de 2008). Propõe-se, então, a seguinte
redação ao art. 65 do Projeto:
Art. 65. Antes do interrogatório, o investigado ou acusado será informado:
I – do inteiro teor dos fatos que lhe são imputados ou, estando ainda na fase de investigação, dos elementos de informação então existentes;
[...]
O Projeto, para atender às finalidades lançadas na sua exposição de motivos,
especialmente a orientação teleológica no sentido da efetividade da proteção penal, há de fazer
distinção do momento em que seja possível o exercício do direito ao silêncio. A valer, a ausência de
menção pode acabar por banalizar a cláusula do nemo tenetur se detegere ou mesmo evidenciar
contradição com dispositivos penais que resguardam a Administração da Justiça (v. g., art. 68 da Lei
16
de Contravenções Penais, art. 307 do Código Penal). Assim, sugere-se a seguinte redação ao art. 66
do Projeto, para que seja ali incluído novo parágrafo, que esclareça a dimensão e o alcance do direito
ao silêncio do interrogando.
Art. 66. Omissis.
[...]
§4.º Os direitos previstos nos incisos IV e V do art. 65 referem-se à segunda parte do interrogatório.
Sobre a confissão, o Projeto, no art. 69, veicula expressão que igualmente reclama
reparo. A validade da confissão não exige espontaneidade do interrogando; basta a voluntariedade.
A distinção entre o caráter espontâneo (exercício de vontade livre de qualquer incitação) e o caráter
voluntário (exercício de vontade livre e consciente) da conduta é encontrada no Direito Penal, razão
pela qual se aponta medida de rigor que o Projeto guarde redação atenta a essa distinção. Assim,
sugere-se a seguinte redação ao art. 69:
Art. 69. Quando o interrogando quiser confessar a autoria da infração penal, a autoridade indagará se o faz voluntariamente.
Quando menciona o interrogatório do réu preso, o Projeto opta por fixar seu lugar de
realização, como regra, na sede do juízo. Com isso, o Projeto atenta para as severas críticas
doutrinárias dirigidas à redação do § 1.º do art. 185 do atual Código de Processo Penal, cuja dicção é
ignorada na praxe forense. Assim, como regra, o interrogatório do preso se fará na sede do juízo,
sem exclusão da possibilidade que seja realizado também no estabelecimento prisional em que se
encontrar.
As possibilidades de realização do interrogatório por videoconferência estão a merecer
apreciação de ordem prática. Com efeito, as hipóteses do Projeto deixam de mencionar a situação
em que se evidencie inviável à Administração conduzir o preso à presença do juiz por impossibilidade
material (falta de efetivo para escolta, falta de transporte etc.). Parece claro que a exigência de
decisão fundamentada à realização do interrogatório por videoconferência, providência cuja
excepcionalidade é afirmada no texto do Projeto, já evidencia garantia suficiência à observância da
regra geral, que é a realização do interrogatório pessoalmente.
Em atenção a tal percepção, mas principalmente por considerar que muitas das vezes a
inviabilidade da Administração no fornecimento desse transporte implica maior prejuízo à celeridade
do feito em que o réu se encontra preso, sugere-se a inclusão da seguinte locução na redação do
inciso II do § 2.º do art. 73 do Projeto:
Art. 73. Omissis.
*…+
§ 2.º Omissis.
*…+
II – viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou
17
outra circunstância pessoal ou por qualquer outra impossibilidade verificada pelo juiz;
Ademais, em acertada previsão, o Projeto prevê a possibilidade de o preso acompanhar
a audiência única de instrução e julgamento por videoconferência.
O art. 74 do Projeto prevê a possibilidade de o defensor do acusado ingressar no feito
independentemente de procuração. A valer, a previsão apenas sedimenta hipótese já mencionada na
Lei 8.906/94, a título de prerrogativa do advogado. O projeto, contudo, ao mencionar a figura do
defensor – e não do advogado – afirma, ainda que de modo implícito, o dever de o advogado apontar
o acusado pelo qual ingressará no feito.
O Projeto, no capítulo atinente à intervenção civil, traz dispositivos atinentes à figura do
assistente, atualmente mencionado como assistente de acusação e no Projeto nominado como
assistente do Ministério Público. Sua participação se dá por ocasião da persecução penal em juízo,
isto é, quando já proposta a ação penal e poderá perdurar até o trânsito em julgado da sentença. O
Projeto fixa a natureza jurídica da atuação do assistente ao limitar sua atividade recursal ao
reconhecimento da autoria e da existência do fato (§ 3.º do art. 77).
O art. 77 permite expressamente que o assistente pergunte ao acusado (além de às
testemunhas) e participe do debate escrito (além do oral). O § 3º do art. 77 restringe a atuação
recursal: “o recurso do assistente se limitará ao reconhecimento da autoria e da existência do fato.”
Nesse particular, sugere-se modificação redacional, que venha a permitir atuação recursal do
assistente mais ampla, para permitir a ele discutir em juízo questões importantes como
antijuridicidade do fato imputado ao acusado, a culpabilidade deste ou mesmo razões de extinção da
punibilidade. Para tanto, basta fixar que a discussão da existência se refere ao fato criminoso:
Art. 77. Omissis.
*…+
§3.º O recurso do assistente se limitará ao reconhecimento da autoria e da existência do fato criminoso.
Além disso, o Projeto exige a manifestação do Ministério Público a respeito das provas
propostas pelo assistente para, só após tal providência, haver decisão judicial a respeito da
admissibilidade dessas provas.
Embora o Projeto vede a utilização de recurso para a decisão que admita ou indefira o
pleito de intervenção do assistente, nada obsta que tal decisão seja objeto de discussão judicial por
meio de ações autônomas, máxime o mandado de segurança, cuja sistemática atual já evidencia essa
utilização cotidiana.
Quando menciona a intervenção da vítima, para admitir a discutibilidade da reparação
do dano de natureza cível, especificamente o dano moral, decorrente do crime, o Projeto veda a
ampliação da matéria em discussão (“limites da imputação penal”) no feito e exige a notificação da
vítima para que esta manifeste seu interesse em discutir a recomposição civil do dano moral causado
pela infração.
18
O Projeto, então, rejeita a possibilidade de o juiz condenar por danos materiais, mas
aceita a fixação de danos morais, desde que mediante uma ação adesiva da vítima à denúncia. Assim,
reduziu o espectro do atual art. 387, IV (com redação dada pela Lei 11.719/08), que permitia ao juiz
fixar inclusive dano material, sem a necessidade de ação adesiva.
Convém realizar modificação redacional no art. 79 do Projeto, para suprimir a expressão
“no caso de sua ausência ou de morte”, porque redundante.
Art. 79. A vítima, ou, as pessoas legitimadas a ingressar como assistentes, sem ampliar a matéria de fato constante da denúncia, poderá, no prazo de 10 (dez) dias, requerer a recomposição civil do dano moral causado pela infração, nos termos e nos limites da imputação penal, para o que será notificado após o oferecimento da inicial acusatória.
*…+
O Projeto fixa à parte civil os mesmos ônus processuais estabelecidos ao assistente e lhe
atribui autonomia recursal para a matéria objeto de sua intervenção. O parágrafo único do art. 80
traz previsão de deslocamento de competência, para o juízo cível, dos casos em que o arbitramento
do dano moral depender de prova de fato ou circunstância que não conste da imputação penal ou
mesmo que cause transtorno ao regular desenvolvimento da persecução penal. Em qualquer caso, a
sentença penal condenatória prestar-se-á como título executivo judicial e a razão do deslocamento
cingir-se-á ao arbitramento do quantitativo devido (quantum debeatur).
O Projeto, assim, coaduna-se com a tendência de aglutinar a discussão da recomposição
civil do dano com a imputação penal. Inova quando chama a vítima (ou quem a suceda) a deduzir sua
pretensão expressamente no processo penal e atenta para a necessária capacidade postulatória ao
assegurar-lhe a nomeação de causídico para representá-la em juízo.
Demais disso, afirma, como regra geral, a ordem de precedência do julgamento penal
sobre o cível, excetuando tal regra na disposição veiculada no § 2.º do art. 81, para obviar o risco de
julgamentos conflitantes entre os juízos criminal e cível.
No que se refere ao tratamento normativo dos peritos e intérpretes, o Projeto não traz
inovações de conteúdo relevantes: apenas cuida de designar topograficamente capítulo específico
para menção a eles, além de equiparar a figura do intérprete a do perito para todos os efeitos. O
Projeto, igualmente, equipara a disciplina do perito designado, não oficial, à do perito oficial,
positivando entendimento já firme nesse sentido.
Atento às contribuições mais recentes da Vitimologia, o Projeto assegura posição de
destaque à vítima. O Título V do Projeto apresenta alguns direitos das vítimas (palavra que substitui a
expressão “ofendido” do Código atual), aperfeiçoando a redação atual. O conceito de vítima previsto
no art. 88 é muito semelhante ao da Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às
Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder (Resolução 40/34, adotada em 29/11/1985, pela
Assembléia Geral do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos).
O Projeto conceitua o que seja “vítima” no art. 88 e descreve extenso rol de direitos no
artigo seguinte. Nesse particular, além de inovações pontuais, o acerto do Projeto reside em
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concentrar num único dispositivo o rol de direitos assegurados à vítima, num esforço de assegurar-
lhe de modo mais claro o acesso a essas garantias legais.
O Projeto, então, minudencia as hipóteses de comunicação à vítima (inciso V do art. 89),
além de prescrever a necessidade de separação – por data ou por local – da vítima em relação ao
acusado por ocasião da oitiva daquela em juízo ou mesmo pela autoridade policial (inciso VIII do
mesmo artigo).
É preciso reforçar a necessidade de notificar a vítima sobre a possibilidade de requerer a
recomposição civil do dano. A previsão do inciso VII do art. 89 fala de ser “orientada”, mas não
especifica o momento da comunicação, que deve ser concomitante à denúncia. Assim, propomos o
desmembramento do item “b” em dois (“b” e “c”), renumerando-se os seguintes:
Art. 89. (...)
V – ser comunicada:
(...)
b) da conclusão do inquérito policial;
c) do oferecimento da denúncia e da possibilidade de pedir indenização pelos danos sofridos, na forma do art. 79.
d) (...)
e) (...)
O inciso XI do art. 89 assegura a assistência de defensor público à vítima para a
reparação dos danos causados sem qualquer ressalva quanto a eventual qualidade de
economicamente hipossuficiente da vítima. O inciso reclama modificação redacional, para esclarecer
eventual confusão sobre o papel da defensoria pública, destinada precipuamente à assistência
judiciária do economicamente hipossuficiente. Só fará jus a defensor público o quem lhe faça as
vezes, em atribuição típica, aquele reputado como economicamente hipossuficiente. Caso contrário,
se houver a nomeação de defensor, a hipótese terá tratamento diverso, a reclamar, inclusive, o
pagamento de honorários advocatícios. A redação proposta ao inciso XI é a seguinte:
XI – obter do autor do crime a reparação dos danos causados, assegurada a assistência de advogado para essa finalidade;
Os demais incisos minudenciam a disciplina legal dirigira à vítima de acolhimento em
programas de proteção (tanto da vítima quanto de seus familiares), além do recebimento de
assistência financeira do Poder Público nos casos a serem especificados em outros diplomas legais.
É fato que as vítimas de crimes ainda são muito maltratadas pelo sistema público,
incapaz de garantir-lhes proteção e identificar suas necessidades. Por isso, a legislação internacional
prevê (Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de
Abuso de Poder – Resolução 40/34, adotada em 29/11/1985, pela Assembléia Geral do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos):
O pessoal dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal como o dos serviços sociais e o de outros serviços interessados deve receber uma formação que o
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sensibilize para as necessidades das vítimas, bem como instruções que garantam uma ajuda pronta e adequada às vítimas.
Assim, é recomendável prever a capacitação permanente dos agentes públicos que
tratam com as vítimas, para possibilitar uma análise deslumbrada dos fatos e evitar a revitimização
institucional, com especial atenção às discriminações de raça, classe social, gênero, orientação sexual
e outras. Daí se sugere o acréscimo de parágrafo ao art. 89:
Art. 89. (...)
§ 4º Os agentes públicos deverão se submeter à capacitação permanente com o fim de se sensibilizar para as necessidades das vítimas e reconhecer vulnerabilidades, com especial atenção às discriminações de raça, classe social, gênero, orientação sexual e outras.
Em boa hora o Projeto prevê a liberdade de meios de comunicação para os atos
notificatórios e intimações destinados à vítima, além de preservar o endereço e demais dados
pessoais da vítima em todos os casos.
Título VI – Da Competência
Em linhas gerais, o Projeto traz poucas inovações no que diz respeito aos critérios legais
de definição de competência. Aperfeiçoa a técnica legislativa e atualiza a redação de alguns
dispositivos a respeito da definição da competência.
O Projeto, igualmente, esclarece a definição, em caráter absoluto e relativo, de eventual
inobservância de regras de competência, além de fixar o momento adequado para eventual exceção
defensiva.
O Projeto, acertadamente, consagra o entendimento já consolidado na jurisprudência, a
respeito da definição da competência da Justiça federal, para os crimes que envolvam recursos ou
bens que estejam, por lei ou contrato, sob administração, gestão ou fiscalização da União, autarquias
e empresas públicas federais. Assim, é merecedora de elogios a previsão veiculada no art. 95, caput,
do Projeto.
Contudo, a redação do dispositivo, ao optar por previsão diversa do que veicula a
Constituição, pode ensejar dúvidas, notadamente a respeito das empresas públicas e entidades
autárquicas federais. Por isso, sugere-se modificação redacional, para que o dispositivo reproduza a
expressão veiculada no próprio texto constitucional e, assim, não dê azo a quaisquer dúvidas na
intelecção do dispositivo.
Já o § 1.º, in fine, do mesmo art. 95, traz inovação que contraria frontalmente
entendimento consolidado na jurisprudência pátria, sem qualquer razão substancial que justifique tal
alteração. Com efeito, o Projeto inclui na competência jurisdicional federal a infração penal que
tenha sido praticada por índio.
Vê-se contrariedade ao enunciado n.º 140 da Súmula do STJ – “Compete à Justiça
comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vitima”. Ademais,
não se vislumbra razão jurídica suficiente a essa hipótese de deslocamento de competência. A rigor,
21
a verificação da qualidade de indígena, nos casos concretos, ensejaria complexas discussões sobre o
próprio designativo cultural “índio”.
A Constituição da República, sobre o tema, fixa a competência da Justiça federal apenas
para apreciar casos em que haja “a disputa sobre direitos indígenas” (art. 109, inciso XI). A rigor, nem
todo crime cometido por índio envolve, necessariamente, questão indígena, a ponto de atrair a
competência da Justiça federal. Ao contrário, na ausência do elemento normativo
constitucionalmente definido, a regra a ser observada é a competência da Justiça comum estadual,
cuja âmbito de incidência dá-se de modo residual.
Propõe-se, então, nova redação ao dispositivo, para supressão da parte final constante
do § 1.º do art. 95 do Projeto.
Art. 95. Considera-se praticada em detrimento dos interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, além das hipóteses previstas em lei, a infração penal lesiva a bens ou recursos que, por lei ou por contrato, estejam sob administração, gestão ou fiscalização destas entidades.
§1.º Inclui-se na competência jurisdicional federal a infração penal que tenha por fundamento a disputa sobre direitos indígenas.
Quando ingressa no tema da competência territorial, o Projeto afasta-se do critério
estabelecido no atual Código, oportunamente, para definir como regra geral a competência do lugar
em que forem praticados os atos de execução da infração penal e, subsidiariamente, não conhecido
aquele, a competência do lugar em que a infração for consumada. As demais regras de caráter
subsidiário do Projeto atualizam a redação legislativa e trazem clareza na interpretação dos critérios
de definição de competência.
Interessante anotar que o Projeto elimina a figura da distribuição por prevenção,
limitando-se à definição da competência, no mesmo foro, apenas por força da precedência de
distribuição. Embora se possa, a priori, vislumbrar simples atualização da nomenclatura, houve
supressão da referência à prática de atos de natureza cautelar, o que se afigura harmônico com a
ideia de instituição, pelo Projeto, do denominado “juiz das garantias”.
Essa alteração, ademais, produz modificação também no tocante à fixação da
competência territorial em hipóteses de infrações penais continuadas ou permanentes – e, por igual,
em casos de dúvida quanto ao local da ação/omissão ou da consumação do crime. Antes
determinada pela prevenção, a competência passa a ser fixada em favor do Juízo do local em que se
verificar a cessação da continuidade ou permanência, ou, ainda, daquele em que foram praticados os
últimos atos de execução.
Todavia, os dispositivos em questão poderiam ser ainda mais claros, para evitar
definitivamente qualquer dubiedade em sua interpretação, se no § 3º do artigo 96 houvesse
expressa referência à figura da tentativa. Propõe-se, assim, nova redação a esse dispositivo:
Art. 96. A competência, de regra, e com o objetivo de facilitar a instrução criminal, será determinada pelo lugar em que forem praticados os atos de execução da infração penal.
[...]
22
§3.º Nas demais hipóteses, quando os atos de execução forem praticados em lugares diferentes, será competente o foro da consumação ou, em caso de tentativa, o do último ato de execução.
Na definição da competência pela natureza da infração, o Projeto exclui da competência
do Tribunal do Júri as infrações penais conexas aos crimes dolosos contra a vida (vide art. 99 e art.
106, § 1.º), mantendo apenas a reunião por força da continência. Essa abordagem mais restritiva das
regras de reunião de processos, quando se cuida da competência do Tribunal do Júri, insere-se no
escopo do Projeto de simplificação do procedimento, especialmente quando da apreciação da causa
pelo conselho de sentença.
O Projeto mantém, em boa hora, regra de conveniência – veiculada na expressão “por
qualquer outro motivo relevante em que esteja presente o risco à efetividade da persecução penal
ou ao exercício da ampla defesa” – para separação facultativa dos processos, a teor do que dispõe o
art. 108.
O Projeto mantém as regras para definição de conexão e de continência, bem assim as
atinentes à determinação do foro prevalecente; atualiza a redação para uma fórmula simplificada e
adequada, especialmente para a descrição da continência. Quando menciona a desclassificação –
tanto a ocorrida no juízo comum quanto a que se verifica na competência do Júri –, o Projeto inova
para incluir regra de modificação da competência e, com isso, manter a competência para apreciação
de todos os processos (conexos, continentes ou, especificamente no Júri, que não sejam dolosos
contra a vida, se a desclassificação ocorreu ao fim do judicium accusationis).
Ao abordar a competência do foro por prerrogativa de função – foro privativo –, o
Projeto assume posição para esclarecer que eventual separação de processos somente será possível
por decisão do Tribunal competente, isto é, o de maior hierarquia jurisdicional; além disso,
determina a separação de processos, na hipótese de concurso entre o foro privativo e a competência
do Tribunal do Júri, de sorte a bem resolver dissídio doutrinário sobre o tema. O texto do Projeto,
igualmente, assume posição clara no tema da mantença do foro privativo, nos casos de perda de
cargo, renúncia e aposentadoria voluntária do acusado, para fixar que não haverá modificação da
competência se a instrução criminal já tiver se iniciado nos Tribunais.
Em seu capítulo IV, o Projeto pretende consagrar na legislação ordinária o incidente de
deslocamento de competência em caso de grave violação de direitos humanos. Ao discriminar os
requisitos da petição para tanto, o Projeto traz conformação da expressão veiculada no dispositivo
constitucional, para interpretar a locução “inquérito ou processo” de sorte a abarcar não apenas os
procedimentos e processos de natureza criminal, mas também os de natureza cível.
Na redação do caput do art. 120, o Projeto prevê a requisição de informações ao
Tribunal de Justiça, à Procuradoria-Geral de Justiça e à Secretaria de Segurança do Estado onde
ocorreu a apontada violação grave dos direitos humanos. Faz-se necessário, nesse ponto,
modificação redacional, pois diversas unidades da Federação têm criado pastas específicas para os
temas de direitos humanos, nem sempre vinculadas à pasta da segurança pública, além de o tema,
na casuística, nem sempre inserir-se exclusivamente na competência administrativa de eventual
pasta de segurança pública. Melhor, pois, que as informações sejam requisitas do Governo estadual,
o qual remeterá à pasta competente a requisição de informações.
23
Art. 120. Admitido o incidente, o relator requisitará informações por escrito ao Tribunal de Justiça, à Procuradoria-Geral de Justiça e ao Governo do Estado onde ocorreu a grave violação dos direitos humanos.
O Projeto, uma vez mais com acerto, permite a abertura do debate a ser travado no
incidente de deslocamento, ao prever, no § 3.º do art. 120, a manifestação de órgãos ou entidades, a
depender da representatividade que ostentem.
Propõe-se, igualmente, na redação do art. 121, que seja facultado ao Procurador-Geral
da República nova oportunidade de manifestação, à vista das informações prestadas e de eventuais
manifestações de órgãos ou entidades, de sorte a melhor materializar o contraditório na espécie,
bem assim assegurar maior efetividade à atuação do Ministério Público na espécie.
Art. 121. Findo o prazo para apresentação de informações, ainda que estas não tenham sido prestadas, os autos serão encaminhados ao Procurador-Geral da República, que se manifestará no prazo de 10 (dez) dias, e seguidamente serão conclusos ao relator que, no prazo de 15 (quinze) dias, pedirá dia para julgamento.
Ao abordar o conflito de competência, o Projeto esclarece o cabimento ou não de
instrumento próprio para discussão do tema nos Tribunais e minudencia o processamento da
questão. Em boa hora, como se vê da redação do art. 127, o Projeto positiva o critério de juízo
competente para medidas consideradas urgentes, na pendência de solução do conflito de
competência.
Título VII – Dos Atos Processuais
O projeto trouxe uma melhor sistematização com a criação de um capítulo referente aos
atos processuais.
Dentro do título dos atos processuais tem a previsão do Capítulo I – dos atos em geral –
com normas gerais; Capitulo II – se referindo aos prazos; Capítulo III - da citação e das intimações; e,
Capítulo IV – das nulidades.
No Capítulo I – dos atos em geral – há alguns artigos que são trazidos do Código de
Processo Civil, além de construções já previstas na doutrina e na jurisprudência, sem grandes
inovações. O Capítulo II sistematizou uma regra geral em relação aos prazos, explicitou o prazo em
dobro para a Defensoria Pública (137 parágrafo 4º) trouxe regra específica para o Ministério Público
(137, parágrafo 2º). O Capítulo III – Das citação e das intimações – poderia ter corrigido algumas
imperfeições e avançado mais incorporando avanços na área de informática e telemática.
No que se refere ao Capítulo II, sugerimos a retirada do parágrafo 4º do Artigo 137 que
traz o prazo em dobro para recorrer para a Defensoria Pública.O artigo 5o, parágrafo 5o, da Lei
1.060/50, incluído pela Lei n. 7.871, de 1989, estabelece que os prazos recursais só começam a correr
para a Defensoria Pública e Núcleos de Assistência Jurídica a partir da ciência pessoal do Advogado.
Indica, ainda, que tais prazos devem ser contados em dobro. Tal regra também está inscrita no
artigo 89, da LC 80/94, alterado pela LC 132/09, nesses termos: “São prerrogativas dos membros da
Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios: I - receber, inclusive quando necessário,
mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição
ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;” *sem grifo no original].
24
O Supremo Tribunal Federal tem dado sinais claros de que a desigualdade de prazo para
o Ministério Público e a Defensoria Pública somente se justificaria ante a desigualdade das
instituições quanto às respectivas organizações e estruturas. Em 1994 o STF, ao julgar o HC
70514/RS, indicou que “Não é de ser reconhecida a inconstitucionalidade do § 5 do art. 1 da Lei n
1.060, de 05.02.1950, acrescentado pela Lei n 7.871, de 08.11.1989, no ponto em que confere prazo
em dobro, para recurso, às Defensorias Públicas, ao menos até que sua organização, nos Estados,
alcance o nível de organização do respectivo Ministério Público, que é a parte adversa, como órgão
de acusação, no processo da ação penal pública.”.
Muito a propósito, analisando-se a origem do privilégio conferido à Defensoria Pública,
verifica-se sua destinação ao processo cível e não ao processo criminal. De fato, o § 5 do artigo 5º,
da Lei n 1.060, de 05.02.1950, foi acrescentado pela Lei n 7.871, de 08.11.1989, fruto do projeto de
Lei 51/88. Na Justificativa do Projeto de Lei restou claro que o prazo em dobro para a Defensoria
Pública estava na necessidade de conferir paridade de armas entre ela e os outros contendores
específicos (Fazenda Pública e Ministério Público), ambos com prazo privilegiado para contestar e
recorrer. Mas tal privilégio se adstringe ao processo civil, por força do artigo 188, do CPC.
Fere o princípio da isonomia conceder-se prazo em dobro para o Ministério Público
recorrer no processo civil e a Defensoria Pública valer-se de prazo simples. Daí a justificativa
apresentada pelo ilustre Deputado autor do projeto à época. Mas essa justificativa, ressalte-se,
somente se aplicaria ao processo civil. O processo penal deve pautar-se pela paridade de armas.
Nada justifica tratamentos desiguais às partes no processo penal. A Defensoria Pública não pode,
portanto, ter o privilégio de recorrer em dobro, algo que o Ministério Público não pode fazer,
mormente na atual organização estrutural da Defensoria Pública.
Já no Capítulo III, que trata das citações e das intimações, o art. 138, inciso VI, traz uma
inovação com redação adaptada ao novo procedimento em que há previsão de resposta escrita.
Sugerimos a inclusão de parágrafo no artigo 138: prevendo a possibilidade de citação por mandado
em caso de comarca contígua com a seguinte redação:
Art. 138. *…+.
§ 1º. Em caso de comarca contigua a citação poderá ser feita por mandado.
Já nos artigos 139 e 140, sugerimos alteração da expressão “Juiz” por “Juízo”.
Art. 139. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juízo processante, será citado mediante precatória.
Parágrafo único. A precatória indicará:
I – o juízo deprecado e o juízo deprecante;
II – a sede da jurisdição de um e de outro;
III – o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV – o juízo do lugar, bem como o prazo para a resposta escrita e a advertência mencionada no inciso VI do art. 138”
25
Art. 140. A precatória será devolvida ao juízo deprecante, independentemente de traslado, depois de lançado o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juízo deprecado.
§ 1º Verificado que o réu se encontra em território sujeito a jurisdição de outro juízo, a este remeterá o juízo deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.
§ 2º Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, aplicar-se-á o disposto no art. 145.
A alteração no § 2º do artigo 140 tem por objetivo evitar que o réu que se oculta para
não ser citado não seja alcançado pela justiça penal. No art. 141 sugerimos alteração de redação a
fim de incorporar ao texto legal os avanços da tecnologia em benefício do bom andamento
processual. Adotar-se-ia a seguinte redação:
Art. 141. Se houver urgência, a Precatória, que conterá em resumo os requisitos enumerados no art. 139, poderá ser expedida por meio eletrônico, ou por meio que dispuser, adotadas as medidas necessárias para a comprovação da sua autenticidade.
No art. 144 verificamos que há uma falha da redação atual vez que não contempla a
possibilidade da intimação por edital do réu que não tem endereço certo. Também se faz necessária
a alteração do texto do parágrafo único do referido artigo vez que o texto do projeto traz a alusão á
citação por edital “em razão da inexistência de acesso livre ao local identificado como endereço do
acusado”. Tal redação é muito ampla podendo trazer interpretações das mais diversas, até em
prejuízo aos Réus. Pugnamos pela alteração da redação nos seguintes termos:
Art. 144. Se o réu não for encontrado no endereço por ele fornecido, ou nele já intimado anteriormente, ou se não conhecido seu paradeiro, será citado por edital, com prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único: A citação ainda será feita por edital:
I – quando inacessível, em virtude de epidemia, de guerra, ou por qualquer motivo de força maior, o lugar em que estiver o réu;
II – quando for incerta a pessoa que tiver de ser citada.
Verifica-se que, pela sistemática adotada pelo anteprojeto, quando o réu se oculta para
não ser citado, foi excluída a possibilidade de citação por hora certa.
Sugerimos a alteração de texto no Art. 145, para dar uma resposta legal a situações
acima mencionadas que colocam em cheque a credibilidade do poder público, manter a atual
redação do art. 362, que foi alterada pela lei 11.719/2008.
Art. 145. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida no Código de Processo Civil.
O art. 146 trouxe uma boa inovação no inciso IV, referente à constar a advertência no
mandado no sentido da nomeação, pelo juiz, de defensor àquele que não constituir advogado.
Sugerimos a inclusão, no Artigo 147, incluir da expressão “e a oitiva de testemunhas”
depois de “provas consideradas urgentes”, passando o Artigo a ter a seguinte redação:
26
Art. 147. Se o acusado, citado por edital, não apresentar resposta escrita, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a oitiva de testemunhas como a produção de quaisquer outras provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar quaisquer das medidas cautelares previstas no art. 521.
O parágrafo 1º. e o 2º. já tinham sido revogados pela lei 11.719/2008.
No tocante ao § 3º do art. 147, é importante se aproveitar o projeto apresentado para
acabar com uma grande divergência doutrinária e jurisprudencial no que diz respeito ao prazo de
suspensão do processo. Sugerimos a inclusão do § 3º no seguinte sentido:
Art. 147. *…+.
§ 3º. A suspensão do prazo prescricional obedecerá o disposto no art. 109 do CPP.
O art. 150 pode ser suprimido sem prejuízo vez que já há outro dispositivo legal que
trata do tema.
Na Seção II, que trata das intimações, verificamos um erro no que diz respeito à
expressão Capítulo anterior no art. 151. Constatamos, ainda, que o projeto retirou, de forma
prejudicial ao bom andamento do processo, a possibilidade da intimação pessoal feita pelo escrivão.
Apresentamos as seguintes sugestões:
Art. 151. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devem tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto na Seção anterior.
*…+
§ 5º. A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o § 1º.
O Capítulo IV trata das Nulidades. Houve uma mudança substancial no modo de
abordagem e tratamento das nulidades excluindo qualquer situação casuística, conferindo ao tema
tratamento principiológico.
A redação do art. 153 do artigo pode dar margem a entendimento de que a nulidade da
investigação criminal pode ensejar nulidade do processo. Retirar a expressão ou à investigação
criminal, passando a constar a seguinte redação:
Art. 153. O descumprimento das disposições legais ou constitucionais que tenham por objeto matéria relativa ao processo determinará a invalidade dos respectivos atos, nos limites e extensão previstas neste Código.
O art. 154 trata de nulidade relativa sendo que: a) o inciso I já estava previsto nos artigo
563 e 566 do atual Código e, b) o Inciso II estava previsto em parte no art. 572, inciso II.
O art. 155 trata de nulidade absoluta, trazendo uma regra geral de caráter
principiológico que vai ser explicitada pela doutrina e jurisprudência.
Quanto ao art. 156, verifica-se que já havia previsão semelhante no art. 565, tendo se
incluído a ressalva da função custos legis do Ministério Público. O art. 157 encontra-se previsto
27
atualmente no atual 567. O art. 158, é a redação do atual art. 570. O Art. 160 é a regra do atual art.
573, § 1º, e o art. 161 é a regra do atual art. 573, § 2º.
Título VIII – Da Prova
Em matéria de prova o projeto tende basicamente a incorporar algumas das recentes
reformas da legislação processual penal e a adequar, em termos de opções estruturais, os
dispositivos pertinentes aos princípios fundamentais que o norteiam, reafirmando a opção por um
processo penal acusatório, mantendo-se um núcleo de reserva de jurisdição destinado a tutelar as
liberdades individuais.
O tema está estruturado em três capítulos: disposições gerais, meios de prova e meios
de obtenção de prova.
Nas disposições gerais diz que as provas serão propostas pelas partes, mas quem
decidirá sobre sua admissão, pertinência ou relevância é o juiz, sendo facultado a ele esclarecer
dúvidas, observadas as vedações e limites descritos no artigo 4º. Altera, portanto, a disposição do
atual artigo 156, I, que permite iniciativa probatória do juiz até mesmo na fase das investigações.
Não fala mais em prova ilícita (atual artigo 157 do CPP). A redação atual é alterada para considerar
inadmissível a prova obtida, direta ou indiretamente, por meios ilícitos, determinando seu
desentranhamento e arquivamento em pasta sigilosa, ao invés da atual inutilização prevista no artigo
157, § 3º. O livre convencimento é prestigiado dentro de uma discricionariedade racional, motivada e
regrada, com limites para aceitação das declarações do co-autor ou partícipe na mesma infração
penal e para a comprovação da existência do fato por indícios.
Dentro do capítulo dos meios de prova nota-se no artigo 170 a supressão da ressalva
contida no atual artigo 206 e a reafirmação da proteção contra a autoincriminação. O artigo 174
altera a sistemática atual (art. 211) privilegiando, mais uma vez, o sistema acusatório. O artigo 175
inova com o seu §2º que prevê o contraditório sobre os novos fatos ou circunstâncias que surgirem
das perguntas complementares do juiz. O artigo 184 estabelece a necessidade de que as partes
sejam intimadas não só da expedição da carta precatória, mas sim da data em que o depoimento
será prestado na comarca deprecada. O artigo 187 não recepciona as regras contidas no atual artigo
201 e, nesse ponto, merece correção.
Dentro das disposições especiais relativas à inquirição de crianças e adolescentes
merece atenção a ressalva contida no § 2º do artigo 189, não contemplada no PL nº 35/2007. O
projeto em exame não contempla, também, a proposta original contida no PL 4126/2004:
Art. 161- A. [...] Parágrafo único. O juiz solicitará ainda a elaboração de laudo psicossocial pela equipe interprofissional de que trata o art. 151 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, com vistas a apurar outros elementos indicativos do abuso sexual.
Tais omissões, na prática, poderão tornar letra morta todas as alterações propostas para
esse tema. Merece revisão, ainda, a inexistência de previsão para a elaboração de estudo
psicossocial do caso, como uma dos meios de prova admitidos para crimes tão peculiares quanto os
que são cometidos contra crianças e adolescentes. Propomos, portanto, que a elaboração de estudo
psicossocial seja incorporada à praxe da apuração de crime praticado contra criança ou adolescente,
28
tendo em vista a necessidade de que o juiz seja informado, por profissionais especializados, da
extensão dos danos psicológicos e morais que o crime provocou (ver artigo 88 do projeto).
Propomos, ainda, que na impossibilidade de oitiva na forma do artigo 189, a criança seja
ouvida por perito especialmente designado pelo juiz, facultado às partes a apresentação de quesitos,
não sendo admitida sua oitiva em juízo na forma ordinária prevista para a prova testemunhal.
Quanto à acareação e ao reconhecimento de pessoas e coisas, passam a ser tratados dentro da
mesma seção, não havendo mais previsão de acareação envolvendo o acusado. O projeto não exige
que o perito seja necessariamente dos quadros da polícia judiciária, mas sim que tenha
conhecimentos técnicos específicos. Inova com a figura do laudo pericial baseado nos elementos de
prova testemunhal e documental (art. 201). O artigo 211 valoriza o contraditório ao prever a
necessidade de intimação da parte contrária sobre juntada de documentos.
Finalmente, no capítulo dos meios de obtenção da prova estão os regramentos
relacionados à busca e apreensão, ao acesso a informações sigilosas e à interceptação das
comunicações telefônicas. Quanto à busca e apreensão, o art. 221 inova e passa a exigir, a contrario
sensu, que haja mandado de busca domiciliar para cumprir mandado de prisão, se a pessoa a ser
presa está no interior de uma residência ou local não aberto ao público.
Entendemos extremamente prejudicial tamanha restrição à atuação policial, pois
já existe uma ordem judicial amparando a atuação. O art. 224, § 6º, passa implicitamente a permitir
que as duas testemunhas que assinam o auto circunstanciado possam ser os dois vizinhos chamados
a acompanhar a diligência. Todavia, perde-se a possibilidade de disciplinar qual é a sanção caso o
vizinho, ao receber a intimação para acompanhar a diligência, se recuse a acompanhá-la.
Quanto à interceptação das comunicações telefônicas, segundo o art. 238, § 1º,
passa a ser admitido pedido verbal de interceptação telefônica pela autoridade policial, na situação
excepcional de a vida de uma pessoa estar em risco, ou se há mudança do número do telefone
utilizado. Há previsão de redução a termo do pedido policial, decisão imediata pelo juiz, seguida de
manifestação pelo Ministério Público e reapreciação do pedido pelo juiz.
Primeiramente registra-se a impropriedade de se normatizar como pedido o que,
na verdade, é uma representação policial, aliás, conforme já havia previsto o art. 237, caput
(havendo, portanto, uma contradição terminológica e erro na segunda terminologia). Ademais, há
sério receio que esse procedimento venha a se tornar uma praxe usual, dispensando a manifestação
prévia do titular da ação penal e, portanto, do direito à prova. Assim, é recomendável que os §§ 1º e
2º sejam suprimidos.
Quanto ao art. 246, sugerimos a supressão da palavra “investigado”,
permanecendo apenas “acusado”. O art. 248 prevê a divulgação às outras pessoas citadas nas
conversas da existência da interceptação, salvo por decisão do juiz se houver prejuízo à investigação.
Há necessidade de se prever prévia manifestação do Ministério Público nessa situação.
29
Livro II – Do Processo e dos Procedimentos (art. 252 a art.
512)
O projeto tem o mérito de extinguir os procedimentos especiais, com exceção dos
procedimentos do Júri e daquele referente à competência originária dos Tribunais.
Título I – Do Processo
No Capítulo I do Título em epígrafe, o Projeto lista causas de “indeferimento” (“desde
logo”) da inicial, ao invés das atuais causas de “rejeição” da inicial (art. 253, “caput” e incisos). O
inciso II prevê o indeferimento da inicial pela falta de interesse de agir decorrente da “superveniência
provável de prescrição”, o que é de se elogiar, ante a manifesta inutilidade dos processos em que, ab
initio, se antevê futura ocorrência de prescrição retroativa. O parágrafo único do art. 253 pode ter
sua redação melhorada, podendo ser substituída a expressão “resultar dificuldades ao exercício da
ampla defesa” por “resultar em violação à ampla defesa”.
Já no que tange o Capítulo II, a atual “suspensão condicional do processo” passa a ser
denominada “suspensão do processo”. No art. 254, § 2º, prevê-se que, além das condições legais, o
Juízo poderá especificar outras, “vedada a imposição de pena criminal”. Sugere-se a exclusão da
expressão “vedada a imposição de pena criminal”, pois, na redação original do Projeto, ficariam
impedidas condições hoje importantes, como a prestação de serviços à comunidade, a limitação de
final de semana e a prestação pecuniária, o que é ruim e esvazia a suspensão condicional do
processo, tornando-a vantajosa em excesso ao sursitário e, consequentemente, não se prestando à
finalidade original de prevenir e reprimir a prática de crimes, devendo-se esclarecer que a imposição
de prestação de serviços à comunidades e outras medidas não consiste em imposição de pena, tanto
é que a medida não gera reincidência nem anotação na folha penal. Além disso, sugere-se que as
condições sejam eleitas e estabelecidas pelo Ministério Público, o que é compatível com o exercício
da ação penal pelo titular do exercício da ação penal, já que, na suspensão, o Ministério Público abre
mão de perseguir a condenação, tratando-se de mitigação do exercício da ação penal.
O Projeto deixa claro que a suspensão deverá ser aceita pelo acusado e também por seu
defensor (art. 254, § 1º), pondo fim à polêmica sobre a validade do acordo quando somente um
deles concorda com a proposta. Até por causa dessa previsão, seria conveniente alterar a redação do
art. 254, parágrafo§ 7º, do Projeto, substituindo-se a expressão “se o acusado não aceitar” por “se
não for aceita”.
Ao contrário do que está estabelecido hoje na Lei n. 9.099/95, o Projeto não estabelece
se a suspensão condicional do processo se aplica no âmbito da Justiça Militar. Sugere-se essa
previsão de forma expressa.
Seria conveniente a previsão de um parágrafo prevendo-se que, em caso de concurso de
crimes, com a soma das penas mínimas que ultrapasse o patamar de um ano, inviabiliza-se a
suspensão condicional do processo.
No que à extinção do Processo, não se conseguiu compreender o objetivo e a
necessidade do Capítulo III, composto por dois artigos, o primeiro dos quais lista causas de extinção
do processo, sem resolução do mérito, e o segundo deles listando causas de extinção do processo,
30
com resolução do mérito. Debater com o grupo se a diferenciação feita pelo Projeto seria
importante, por exemplo, para definir o que faz coisa julgada e o que não faz.
No art. 256 não se prevê, como causa de extinção do processo, com julgamento do
mérito, a prolação de sentença condenatória ou absolutória, merecendo o referido artigo o
acréscimo de um inciso IV contendo essa previsão. Acrescentando-se esse inciso IV, o inciso III torna-
se desnecessário, pois a “aplicação da pena no procedimento sumário” é uma forma de sentença
condenatória. Sugere-se, pois, a exclusão desse inciso III.
Título II – Dos Procedimentos
No Capítulo I do Título em epígrafe, o “caput” do art. 257 dispõe: “o procedimento será
comum ou especial, aplicável ao Tribunal do Júri e nos tribunais”. A redação ficou truncada, podendo
ser alterada para “o procedimento será comum ou especial.”, destacando-se que, no § 2º, já há a
previsão de que existem regras especiais para o Júri e para os processos de competência originária.
Seria conveniente a criação de um parágrafo do art. 257 (§ 3º), prevendo-se que,
havendo a soma das penas máximas cominadas aos crimes, em caso de concurso de crimes, e desde
que essa soma ultrapasse 8 anos, o procedimento será o ordinário, conforme, aliás, entendimento
jurisprudencial atual.
Já no Capítulo II, o “caput” do art. 258 prevê que a acusação deverá conter “a indicação
de todos os meios de prova que se pretende produzir”. Essa aproximação em relação ao Processo
Civil pode limitar a atuação probatória da acusação, caso o acusador deixe de mencionar um ou
outro meio de prova. E, como se sabe, na prática, para evitar a perda do direito de produzir a prova,
o acusador irá acrescentar à denúncia a fórmula genérica “informa que pretende provar o alegado
valendo-se de todos os meios de prova admitidos em Direito”, ou então, para correr menos riscos
ainda, “informa que pretende provar o alegado valendo-se de prova testemunhal, das declarações da
vítima, do interrogatório do acusado, de perícias, de documentos, de reconhecimento de pessoas, de
interceptações telefônicas, de quebra de sigilo bancário e fiscal e todos os demais meios de prova
admitidos em Direito”.
O art. 261, parágrafo único, prevê que o mandado de citação será acompanhado de
“cópia integral da denúncia e demais documentos que a acompanhem”. Quanto à remessa dos
documentos que acompanham a denúncia, trata-se de providência desnecessária, já que importará
gastos excessivos, destacando-se que o acusado obrigatoriamente terá defensor, o qual poderá
consultar os autos em cartório ou fotocopiá-los para estudo mais detido. Sugere-se, por isso, a
exclusão da expressão “e demais documentos que a acompanham”.
O Projeto prevê a figura da “adesão civil”, mencionada nos arts. 260 e 266 e melhor
regulada nos arts. 79-82.
Conforme se depreende da leitura do art. 261, desaparece a recém instituída “citação
com hora certa” (vide também o art. 145 do Projeto), o que é um retrocesso e favorece a
impunidade. Sugere-se, pois, a alteração dos arts. 261 e 145, mantendo-se a previsão da citação com
hora certa, acrescentando-se ainda um parágrafo ao art. 303, com previsão dessa regra.
31
O art. 263 generaliza a regra, já existente atualmente em alguns procedimentos, de
citação do réu antes mesmo do recebimento da denúncia. Com isso, transporta-se a integração da
relação processual para momento anterior ao Juízo de admissibilidade. A prevalecer a proposta,
deveria ser criada uma causa de interrupção da prescrição da pretensão punitiva estatal (expedição
de mandado de citação ou oferecimento da denúncia), porque haverá casos em que a acusação foi
formulada bem antes do decurso do prazo prescricional, mas, devido a demoras provocadas para a
concretização da citação, a prescrição poderá ocorrer.
Ainda no art. 263, parágrafo único, não se esclarece o que ocorre no caso de ausência
do réu preso em outro Estado. Sugere-se a inclusão de regra que preveja a realização de
videoconferência, em tal situação.
No art. 265, “caput”, sugere-se que seja definido que o prazo de 60 dias se conta “a
partir do recebimento da acusação”, ou “do despacho que designa a audiência de instrução”.
Deve-se elogiar a manutenção da ordem da inquirição das testemunhas, hoje regulada
pelo art. 212 do CPP (vide arts. 265 e 175 do Projeto).
Em um momento em que se procura encurtar o procedimento e acelerar a prestação
jurisdicional, não vem em boa hora a restauração das alegações finais e da sentença escritas,
inclusive com a volta de prazo (de 5 dias) para requerimento de diligências complementares e a
ampliação do prazo para alegações finais para 10 dias para acusação e defesa (e de mais 5 dias para o
assistente e a parte civil). Ao menos deveria ser mantida a possibilidade de requerimento de
diligências, de apresentação de alegações finais e de prolação de sentença, tudo em audiência.
No art. 268, que trata da identidade física do Juiz, sugere-se que, em caso de férias, não
se deve aguardar a volta do Juiz licenciado, quando houver réu preso. Alternativamente, pode ser
previsto no Projeto que, em caso de férias do juiz, estando o réu preso, não se configurará
constrangimento ilegal decorrente de excesso de prazo.
No art. 269, sugere-se a exclusão da expressão “em livro próprio”, por desnecessária.
No art. 270, sugere-se a inclusão do termo “ou réu”, logo após “investigado”.
Ainda quanto ao art. 270, sugere-se, para conferir maior clareza ao texto, a alteração da
redação da expressão “será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital
ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações”, já que
a estenotipia não é meio nem recurso de gravação.
Já no Capítulo III do Título em epígrafe, que versa sobre o procedimento sumário, cria-se
a figura da “aplicação imediata de pena”, para os casos em que há confissão do acusado e a pena
máxima cominada ao crime não ultrapasse o patamar de 8 anos. Essa aplicação imediata de pena
não equivale à transação, pois é verdadeira condenação, inclusive com dosagem de pena a ser feita
pelo Juiz, que irá reduzir substancialmente a reprimenda.
Surgem, no entanto, algumas dúvidas, pelas lacunas constatadas no Projeto. No art. 271,
I, não se explicita se a confissão qualificada enseja a aplicação imediata de pena. Por outro lado, a
previsão de que a confissão parcial enseja a aplicação imediata de pena não é adequada, devendo
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ser merecedor da aplicação de tal instituto apenas o réu que confessa integralmente a prática do
crime. No máximo, deveria ser beneficiário do instituto o réu que confessa integralmente um dos
crimes, mas nega a prática dos outros crimes a ele imputados na denúncia ou queixa.
Pode causar perplexidade o fato de que somente haverá aplicação imediata de pena nos
casos em que há confissão, devendo-se ter em vista que a confissão terá lugar apenas ao final da
instrução, no interrogatório. Questiona-se se poderá haver antecipação de confissão, antes da
instrução, para fins de aplicação do instituto proposto. O projeto deveria deixar isso claro.
Não se esclarece também se o acordo entre o Ministério Público e o acusado se limitará
à aplicação ou não imediata de pena, ou se o acordo envolverá também o “quantum” de pena a ser
aplicado. Outro ponto não esclarecido é aquele referente ao envolvimento ou não do Juiz na
concretização do acordo.
O Capítulo IV versa sobre o procedimento sumaríssimo. No art. 274, sugere-se alterar a
expressão “Justiça Ordinária” por “Justiça Comum”. Ainda no art. 274, sugere-se seja feita referência
ao Juizado Especial Criminal Federal.
Quando versa sobre a competência e os atos processuais, o Projeto traz erro material na
remissão, feita no art. 278, ao art. 97. A indicação correta é “art. 96”.
No art. 281, mantém-se a previsão de que, não encontrado o acusado para citação
pessoal no Juizado Especial Criminal, os autos serão remetidos ao Juízo criminal comum. Sugere-se
que a competência do Juizado seja mantida, ainda que o acusado não seja encontrado para citação
pessoal, pois não há sentido no envio dos autos ao Juízo criminal comum apenas para que eles
fiquem guardados fisicamente lá, sendo que, nas raras hipóteses em que o acusado será
posteriormente encontrado, o processo irá ter prosseguimento e o recurso será apreciado pelo
Tribunal de Justiça, e não pela Turma Recursal dos Juizados, o que não é o ideal, pois a infração penal
praticada é de menor potencial ofensivo.
No art. 284, consta que “a autoridade policial” lavrará termo circunstanciado.
No art. 287, sugere-se a substituição da expressão “pena não privativa de liberdade”
(que repete o erro da lei atual) por “medida alternativa não privativa de liberdade”, pois a natureza
jurídica da medida decorrente da transação penal não é de pena criminal. No art. 291, “caput”,
sugere-se a mesma alteração.
No art. 288, parágrafo único, sugere-se que se preveja a possibilidade de o conciliador
ser portador de diploma de curso de mediação ou de conciliação.
No art. 291, parágrafo primeiro, sugere-se que se retire do Juiz a possibilidade de reduzir
a multa decorrente da transação penal, pois se trata de acordo entre o Ministério Público e o autor
do fato.
Sugere-se sejam acrescentados ao art. 291 os §§ 6º, 7º, 8º e 9º. O § 6º traria a previsão
de que “a prescrição não corre a partir da homologação da transação penal até a revogação do
benefício ou reconhecimento do cumprimento do acordo. O § 7º conteria a regra de que
“descumprida a transação penal por parte do autor do fato, os autos serão remetidos ao Ministério
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Público para formação de seu convencimento jurídico sobre o fato, podendo ser oferecida
denúncia”. O § 8º traria a previsão de que “o prazo prescricional será suspenso a partir da
homologação da transação penal, até a eventual revogação do benefício ou o reconhecimento de seu
cumprimento”. O parágrafo § 9º traria a previsão de que, “cumprida a transação penal, o Juízo
declarará extinta a punibilidade do autor do fato, ouvido previamente o Ministério Público”.
A previsão, contida no art. 295, de que “nenhum ato será adiado”, poderá trazer
prejuízos à ampla defesa e ao contraditório, eis que nem sempre será possível ao Ministério Público
e à defesa produzir toda a prova necessária para a demonstração de suas alegações em audiência, já
que testemunhas podem não ser encontradas, ou podem faltar, só para dar um exemplo. Sugere-se,
então, que a redação seja alterada para “nenhum ato será adiado, a não ser quando imprescindível”.
No artigo 296, § 3º surge a regra de que: Nas infrações penais em que as consequências
do fato sejam de menor repercussão social, o juiz, à vista da efetiva recomposição do dano e
conciliação entre autor e vítima, poderá julgar extinta a punibilidade, quando a continuação do
processo e a imposição da sanção penal puder causar mais transtornos àqueles diretamente
envolvidos no conflito. Inicialmente cabe mencionar que seria necessário criar uma nova hipótese de
causa extintiva da punibilidade no Código Penal, ou considerar que se trata de nova forma de perdão
judicial. Além disso, seria melhor que o benefício fosse aplicado somente quando o processo for
causar mais “transtornos” para a vítima.
Quando o Projeto versa sobre o procedimento na ação penal originária, vê-se que não
há citação com hora certa (art. 303 do Projeto), o que é um retrocesso. A citação com hora certa
pode ser prevista no art. 145 do Código, juntamente com a previsão da citação por edital.
No art. 305, “caput”, estabelece-se que o relator “determinará” a expedição de carta de
ordem para a instrução do processo. Seria melhor facultar ao relator tal providência, podendo ele
expedir a carta de ordem ou realizar diretamente a instrução.
No art. 308, I, prevê-se que a acusação e a defesa terão, cada uma, uma hora para a
sustentação oral, assegurando-se ao assistente ¼ do tempo da acusação. Seria melhor que o projeto
dissesse “15 minutos”.
No parágrafo 3º do art. 309, propomos que, em atenção ao princípio da paridade de
armas, seja especificado que a defesa poderá arrolar até 8 (oito) testemunhas para cada fato
imputado ao acusado, já que a redação constante do Projeto leva à crença de que tal número
independe da quantidade de fatos imputados.
Art. 309 [...]
§ 3º Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, no âmbito penal e cível, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito) para cada fato, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
Diferentemente do atual Código de Processo Penal, o Projeto não previu a oitiva do
Ministério Público ou do querelante em caso de apresentação de preliminares ou de juntada de
documentos com a resposta escrita. Nesse ponto, em respeito à bilateralidade do direito de ação,
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entendemos necessária a inserção de um parágrafo único ao art. 311, nos mesmos moldes do atual
art. 409.
Propomos que a redação do dispositivo seja a seguinte:
Art. 311 [...]
Parágrafo único. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.
O art. 313 do Projeto trata da audiência de instrução na fase preliminar. Embora deva
ser de conhecimento geral a regra de hermenêutica segundo a qual os parágrafos devem ser
interpretados dentro do contexto estabelecido pelo caput do artigo, sugerimos, para evitar indevida
discussão, que o § 2º especifique que as provas a serem produzidas na audiência una são aquelas
mencionadas na cabeça do dispositivo.
O § 3º do art. 313 faz referência à aplicabilidade do art. 410, “se for o caso”. Ocorre que
o art. 317 já contempla a possibilidade de absolvição sumária e especifica as hipóteses de cabimento,
o que torna desnecessária a referência ao dispositivo mencionado. Por outro lado, não se previu a
possibilidade de aplicação da mutatio libeli, o que passa a ser corrigido com a remissão ao art. 408.
Com tais considerações, propomos que o art. 313 seja redigido da seguinte forma:
Art. 313. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações da vítima, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate.
§1º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz.
§ 2º As provas mencionadas no caput serão produzidas em uma só audiência, salvo quando o elevado número de testemunhas recomendar o seu fracionamento, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§3º Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o art. 408.
§4º As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), devendo constar da ata o pedido e o resumo de seu fundamento.
§5º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e para a defesa de cada um deles será individual.
§6º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
§7º Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
§8º A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.
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§9º Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.
Quando menciona os temas da pronúncia, impronúncia e da absolvição sumária, o
Projeto, em seu art. 320, em similitude com o art. 407, prevê a possibilidade de o juiz dar ao fato
definição jurídica diferente da que consta da denúncia, vedando, entretanto, “a alteração substancial
da acusação”. Para evitar discussão acerca do sentido e alcance da limitação imposta ao juiz,
sugerimos que o dispositivo explicitamente faça referência à impossibilidade de modificação dos
fatos imputados ao réu:
Art. 320. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da denúncia, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave, sendo-lhe vedada a modificação dos fatos imputados.
Ao tratar da intimação da decisão de pronúncia, houve omissão acerca da forma com
que o ato de comunicação processual será realizado em relação ao defensor constituído, ao
querelante e ao assistente do Ministério Público. Assim, para que fique claro que tal será por meio de
publicação no órgão incumbido de dar publicidade aos atos judiciais, mesmo no procedimento
especial relativo aos processos de competência do Tribunal do Júri, propomos que seja feita
referência ao § 1º do art. 151, nos mesmos moldes do inciso II do art. 420 do Código de Processo
Penal em vigor.
Art. 322 [...]
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do § 1º do art. 151;
Na hipótese de circunstância superveniente à decisão de pronúncia que venha a alterar
a classificação do crime, como é o caso da morte da vítima, entendemos que, como corolário dos
princípios acusatório e da plenitude de defesa, deve ser aplicado o procedimento da mutatio libelli.
Com isso, diante da ocorrência da nova circunstância, os autos devem ser remetidos ao titular da
ação penal para que decida sobre o oferecimento de aditamento à denúncia, prosseguimento o
processo nos moldes dos parágrafos 1º, 3º e 4º do art. 408:
Art. 323 [...]
§ 1º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo fato superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público para que decida sobre a apresentação de aditamento à denúncia no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 2º Oferecido aditamento à denúncia, observar-se-á, no que couber, os §§ 1º, 3º e 4º do art. 408.
Quando trata do alistamento de jurados, o Projeto, especificamente no § 1º do art. 327,
traz um erro de remissão. Na verdade, a redação correta seria “com as cautelas mencionadas na
parte final do § 3º do art. 328”, razão pela qual sugerimos sua alteração:
Art. 327 [...]
§ 1º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas na parte final do § 3º do art. 328.
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No que se refere à organização da pauta, o art. 333 omite a referência ao modo de
intimação do réu acerca da sessão de julgamento do Tribunal do Júri. O atual art. 431, na sua parte
final, faz expressa referência ao art. 420, que, por sua vez, permite a intimação por edital do acusado
que não for encontrado. O atual art. 420 e o art. 322 do Projeto têm a mesma redação. Diante disso,
a ausência de remissão poderá gerar intensa discussão sobre a possibilidade de o réu ser intimado da
data do julgamento por edital. Deste modo, propomos que a redação do dispositivo seja a seguinte:
Art. 333. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, a vitima, se for possível, as testemunhas e o perito, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando-se, no que couber, o disposto no art. 322 e seu parágrafo único.
Já em relação ao sorteio e à convocação dos jurados, há um equívoco no parágrafo
único do art. 336, que faz indevida remissão aos arts. 442 a 452, quando o correto seria a referência
aos 338 a 348.
Art. 336. [...]
Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão transcritos os arts. 338 a 348.
Quando o Projeto aborda a temática da função do jurado, vê-se que o § 3º do art. 340
está em lugar indevido, pois o tema tratado não guarda relação de pertinência com o caput. Além
disso, a proporcionalidade entre homens e mulheres já foi regulada na parte final do art. 327, que
versa sobre o alistamento dos jurados. Destarte, para o aprimoramento da técnica legislativa,
propomos a supressão do parágrafo em questão:
Art. 340. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.
§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produto, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.
2º O juiz fixará o serviço alternativo de modo a não prejudicar as atividades laborais do cidadão.
O art. 348 faz uma incorreta referência ao art. 451, quando na verdade a
responsabilidade penal dos jurados está prevista no art. 347. Dessa forma, sugerimos a correção do
dispositivo nos seguintes termos:
Art. 348. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis os dispositivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equiparação de responsabilidade penal prevista no art. 347.
A seção atinente à composição do Tribunal do Júri e à formação do Conselho de
Sentença encerra uma importante modificação na composição do Conselho, que, segundo o art. 349,
passa a ser constituído por 8 (oito) jurados. Como conseqüência, haverá a possibilidade de que haja
empate na votação dos quesitos, o que beneficiará o acusado.
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Entendemos que a alteração em questão não deve subsistir. Os órgãos fracionários dos
Tribunais são compostos por número ímpar de membros, e só por exceção as decisões são tomadas
por número par, gerando a possibilidade de empate. Assim, não se pode, sem qualquer fundamento
lógico, sociológico ou filosófico, positivar uma regra criada exclusivamente para incidir em situações
excepcionais. O beneficio do empate acarretará perplexidade mesmo entre os jurados, já que, em
essência, o empate não é favorável a qualquer das partes. Por isso, a regra soará artificial,
representando uma afronta ao sentido de justiça dos cidadãos. Em verdade, o que se deve zelar é
pela correta compreensão dos jurados acerca conteúdo da decisão a ser tomada, e pela liberdade de
decidir. Assim, propomos a manutenção da atual composição do Conselho de Sentença:
Art. 349. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.
O inciso I do art. 350 faz uma desnecessária menção à existência de impedimento para
servir no mesmo Conselho de Sentença ao companheiro e à companheira, já que o § 1º refere-se ao
impedimento em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade
familiar. Para apuração da técnica legislativa, sugerimos a seguinte redação:
Art. 350. [...]
I – Marido e mulher;
A Seção X trata da reunião e das sessões do Tribunal do Júri. A testemunha, desde que
devidamente intimada, tem o dever de comparecer à sessão de julgamento. Sua participação, em
grande parte dos casos, é essencial à decisão. Por outro lado, o custo pessoal e financeiro acarretado
pelo adiamento das sessões de julgamento é alto. Assim, entendemos que além de responder pelo
crime de desobediência a testemunha faltante deve ser condenada ao pagamento da multa prevista
no § 2º do art. 338, nos mesmos termos do atual art. 458 do CPP. Sugerimos que o art. 360 tenha a
seguinte redação:
Art. 360. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, a condenará ao pagamento de multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica dela.
Entendemos que deve ser dada oportunidade à parte de apresentar em plenário,
independentemente de intimação, a testemunha declarada como imprescindível que não foi
localizada no endereço inicialmente declinado. Com isso, e para evitar que seja dada ciência da não-
localização da testemunha apenas por ocasião da sessão de julgamento, propomos que seja
obrigatória a intimação da parte com antecedência mínima de 3 (três) dias:
Art. 363. [...]
§ 2º Se a testemunha declarada como imprescindível não for encontrada no local indicado, a parte deverá ser comunicada com antecedência mínima de 3 (três) dias, para que a apresente independentemente de intimação.
Diante da proposta de alteração do art. 349, que trata da composição do Conselho de
Sentença, devem se adequar o art. 369, caput, e o § 1º do art. 371.
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Ainda quanto ao art. 371, especificamente no que tange aos critérios complementares
de precedência no julgamento, sugerimos que a proximidade da prescrição prevaleça sobre a maior
idade do acusado:
Art. 369. Verificando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.
[...]
Art. 371. [...]
§ 1º A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.
[...]
§ 3º Sendo insuficientes os critérios do art. 331, a precedência no julgamento obedecerá a ordem de maior proximidade da prescrição da pretensão punitiva e, em seguida, da maior idade do acusado.
No que se refere aos debates, no Tribunal do Júri, em que os juízes são leigos, é
fundamental que seja dada oportunidade a ambas as partes de discutir as teses ventiladas. Além
disso, os princípios da bilateralidade do direito de ação e da lealdade processual não se coadunam
com a possibilidade de a defesa, na tréplica, deduzir pretensão nova, impedindo assim que a parte
contrária possa se manifestar acerca dela e de seu fundamento. Com tais considerações, e à vista da
enorme divergência doutrinária e jurisprudencial existente, propomos que se explicite a vedação à
inovação na tréplica:
Art. 378. [...]
§ 5º É vedado à defesa apresentar tese nova na tréplica.
Entendemos que o tempo de meia hora é suficiente e adequado para a réplica e tréplica,
uma vez que tais se destinam à apresentação de reforço à argumentação apresentada por ocasião
explanação já feita pelas partes:
Art. 379. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de meia hora para a réplica e outro tanto para a tréplica.
Por uma questão de coerência com o sistema proposto, a vedação contida no inciso I do
art. 380 deve ser estendida às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação:
Art. 380. [...]
I – aos fundamentos da decisão de pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, ou aos motivos determinantes do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado.
Quando o Projeto trata da votação, é de ver que o art. 384 merece a mesma correção
sugerida em relação ao art. 380, ou seja, deve ser feita expressa referência ao fato de que o Conselho
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de Sentença será questionado sobre a matéria de fato admitida pela pronúncia ou pelas decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação:
Art. 384. Encerrados os debates, o Conselho de Sentença será questionado sobre a matéria de fato admitida pela pronúncia ou pelas decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e a que tiver sido alegada pela defesa em plenário.
O Projeto contempla uma profunda alteração na quesitação, com a supressão das
indagações atinentes à materialidade e autoria do fato imputado. Entendemos que a fórmula
proposta é inconveniente, pois não permite ao julgador analisar as questões submetidas à sua
apreciação de maneira objetiva. Além disso, acreditamos que o quesito absolutório deve ser
submetido aos jurados somente nas hipóteses em que houver pedido fundamentado de qualquer
das partes, impedindo assim a prolação de decisões dissociadas não apenas das provas, mas também
dos pleitos deduzidos.
É interessante, ainda, dispor que o quesito desclassificatório deve ser analisado com
precedência em relação ao pleito absolutório, uma vez que aquele encerra uma questão preliminar,
qual seja, a determinação da competência do Tribunal de Júri para o julgamento do caso. Com tais
observações, propomos a seguinte redação:
Art. 385. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:
I – a materialidade do fato;
II – a autoria ou participação;
III – se o acusado deve ser absolvido;
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo, e tendo sido deduzido pedido fundamentado, será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido antes do quesito absolutório, se for o caso.
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§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas.
Embora haja divergência em sede doutrinária, entendemos que não há como preservar
o princípio constitucional do sigilo das votações sem que o próprio voto seja tido como sigiloso. Além
disso, é interessante lembrar que o jurado brasileiro, por uma razão de segurança, possui medo de
ter o seu voto identificado. Por tais motivos, propomos que não seja mantida no Projeto a
deliberação entre os jurados, devendo o art. 387 ser alterado para os seguintes termos:
Art. 387. Não havendo dúvida a ser esclarecida, os jurados deverão se reunir em sala especial.
Os arts. 388 e 391 devem ser adequados à composição do Conselho de Sentença
proposta, com destaque para o fato de que as decisões devem ser tomadas por maioria de votos.
Para assegurar a observância do princípio constitucional do sigilo das votações, entendemos que a
contagem dos votos deverá se encerrar quando obtida a maioria dos votos:
Art. 388. A seguir, e na presença dos jurados, do Ministério Público, do assistente, do querelante, do defensor do acusado, do escrivão e do oficial de justiça, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não.
Art. 391. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria de votos.
Parágrafo único. A contagem dos votos de cada quesito se encerrará quando obtida a maioria.
No que se refere à sentença, tem-se que a alínea “d” do art. 393 contém um erro de
remissão, que deve ser corrigido nos seguintes termos:
Art. 393. [...]
d) observará as demais disposições do art. 406;
Em relação às atribuições do Presidente do Tribunal do Júri, o inciso XII do art. 398
apresenta modificação substancial. O atual inciso XII do art. 497 do CPP faz referência à possibilidade
de uma parte requerer ao juiz presidente a concessão de aparte. Com a supressão da previsão,
surgirá corrente no sentido de que os apartes não são mais permitidos, o que, segundo acreditamos,
não é saudável para a discussão judiciária. Assim, sugerimos a manutenção da redação existente na
atualidade:
Art. 398. [...]
XII - regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.
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Título III – Da Sentença (art. 406 a art. 415)
Não se evidenciam modificações substancias no tratamento da matéria, a não ser: a) o
art. 406 – incluiu a necessidade de menção ao número dos autos; b) o art. 408 inclui o termo “por
requerimento em audiência” adequando-se ao novo procedimento; c) o art. 409 vedou ao
Magistrado o reconhecimento de qualquer agravante não alegada ou causa de aumento de pena
não imputada; d) o art. 401, inciso VI – substituiu a palavra “crime” do atual Código por “ilicitude”,
para prestar tributo à melhor técnica legislativa.
O artigo 412 inclui “desde que tenham sido alegadas pela acusação”, havendo uma
incongruência no que se refere às atenuantes, vez que estas podem ser reconhecidas pelo Juiz
mesmo que não alegadas pela acusação. Sugestão de modificação de texto:
Art. 412. O juiz, ao proferir a sentença condenatória:
I – mencionará as circunstâncias agravantes definidas na lei penal, desde que tenham sido alegadas pela acusação.
II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto na Lei Penal.
O Artigo 413 é uma novidade e substitui os atuais artigos 388 e 389.
Sugere-se a inclusão da intimação pessoal da vítima, tendo em vista a nova sistemática
penal levar em consideração a importância da vítima no cenário do sistema penal. Sugestão de
modificação do texto:
Art. 414. O querelante ou o assistente, bem como a vítima, será intimado pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 (dez) dias, afixado no lugar de costume.
O artigo 415 é uma novidade e sistematizou melhor as hipóteses de intimação. É
importante constar de forma expressa que o Ministério Público será intimado pessoalmente,
mantendo-se a atual sistemática. Verifica-se que o prazo de edital 90 (noventa) dias é bastante
desarrazoado devendo ser diminuído para 15 (quinze) dias para todos os casos. Sugerimos as
seguintes alterações:
Art. 415. *…+.
§ 2º. O prazo do edital será de 90 (noventa) dias.
§ 5º. O Ministério Público será intimado pessoalmente.
Título IV – Das Questões e Processo Incidentes
Tais dispositivos estavam previstos no Código anterior em 8 (oito) Capítulos que foram
reduzido para 4 (quatro). Foram excluídos os seguintes capítulos: a) Das incompatibilidades e
impedimentos; b) Do conflito de jurisdição; c) Das medidas assecuratórias; e, d) Do incidente de
falsidade.
No Capítulo I que trata “Das questões prejudiciais” - artigos 416 a 418 (antigos 92 a 94) –
não há qualquer sugestão de alteração.
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O Capítulo II trata “Das Exceções” nos artigos 419 a 432 (antigos 95 a 109) havendo
modificações expressivas no modo de se tratar as exceções com as seguintes modificações. O art.
419 exclui a possibilidade de se prever as exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa
julgada e inclui o impedimento que antes estava no art. 112 junto com as incompatibilidades. Com a
sistemática adotada pelo projeto, todas devem ser arguidas em autos apartados.
O art. 427 trouxa importante modificação que simplificou a redação anterior e remeteu
a matéria aos regimentos dos Tribunais. Já o Art. 429 excluiu os “serventuários e funcionários da
justiça”, não havendo qualquer problema na exclusão vez que estão subordinados ao Juiz e não
praticam qualquer ato decisório no feito.
Foi incluído no parágrafo único do art. 429 a possibilidade de haver suspeição ou
impedimento de autoridade policial, sendo bastante positiva a alteração.
Já o art. 431 suprimiu a possibilidade de exceção oral. No referido artigo não há a
necessidade de previsão de ratificação dos atos anteriores sendo sugerida a seguinte alteração:
Art. 431. *…+
§ 1º. Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a declinatória, o feito será remetido ao juízo competente.
O atual art. 112 foi excluído, sendo a matéria tratada nos seguintes artigos: arts. 86 e 87
que estendem aos Peritos e Intérpretes as causas de suspeição ou impedimento. Quanto ao
Ministério Público tais causas estão previstas no art. 59; no tocante aos Magistrados, nos artigos 55 a
57. Não há mais disposição quanto a incompatibilidades e impedimentos de serventuários da justiça.
Ao mencionar o tema da restituição das coisas apreendidas, o Projeto não traz
modificações expressivas. O art. 437 fez menção ao art. 617 e seu parágrafo único quando deveria
fazer menção ao art. 615 e o art. 438 fez menção aos artigos 437 e 617 quando deveria ter feito
menção aos artigos 436 e 615.
Art. 437. No caso de apreensão de cosia adquirida com os proventos da infração, aplica-se o disposto no art. 615 e seu parágrafo único.
Art. 438. Sem prejuízo do disposto nos arts. 436 e 615, decorrido o prazo de 90 (noventa) dias, após transitar em julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for o caso, a perda em favor da União, das coisas apreendidas (art. 91, II, a e b do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal) e ordenará que sejam vendidas em leilão público.
O art. 439 fez menção ao procedimento já previsto na nova lei antidrogas (Lei
11.343/06).
No art. 440 faltou incluir o inciso “b”do art. 91, II, sendo necessária a seguinte alteração:
Art. 440. Os instrumentos do crime, cuja perda em favor da União for decretada, e as coisas confiscadas, de acordo com o disposto no art. 91, II a e b, do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, serão inutilizados ou recolhidos, se houver interesse na sua conservação.
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No que se refere ao incidente de insanidade mental do acusado (Capítulo IV),
especificamente no § 1º do art. 441, sugerimos a exclusão da expressão da autoridade e incluir
representação ao “juiz das garantias”, sendo o seguinte texto sugerido:
Art. 441. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
§ 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase de investigação preliminar, mediante representação ao juiz das garantias.
O artigo 442 trouxe uma inovação melhorou a disposição anterior ao prever o
encaminhamento a um estabelecimento que o juiz entender adequado ao invés de determinar o
estabelecimento em razão da pena prevista no crime.
Nos artigos 443 e 444 sugerimos modificação de redação no seguinte sentido:
Art. 443. Se os peritos concluírem que o acusado era inimputável, o processo prosseguirá com a presença do curador.
Art. 444. No caso do artigo anterior o juiz poderá adotar as medidas cabíveis necessárias para evitar os riscos de reiteração do comportamento lesivo, sem prejuízo das providências terapêuticas indicadas no caso concreto.
No artigo 444 sugerimos, ainda, a retirada dos parágrafos. Tais modificações não trazem
prejuízo ao acusado e tornam mais simples a aplicação das medidas.
Título V – Dos Recursos em Geral
O Projeto, no tratamento jurídico dos recursos em geral, apresenta algumas novidades,
mantendo, porém, a maior parte do regramento vigente. Em destaque: Extinção dos recursos “de
ofício”: art. 449; Incorporação das Leis sobre Repercussão Geral e de Recursos Repetitivos ao
capítulo que trata dos recursos Especial e Extraordinário; Sobrestamento do prazo para o RE e REsp,
relativamente à parte unâmime do julgamento, até a intimação da decisão nos embargos
infringentes: art. 453, § 3º; Previsão expressa de que a resposta do defensor técnico é condição de
validade do recurso, mesmo quando ainda não oferecida a denúncia: art. 455; Modificação de
algumas hipóteses de cabimento do antigo Recurso em Sentido Estrito, que passa a chamar-se
Agravo, e da Apelação (artigos 463 e 471, respectivamente); Positivação das regras da ne
reformatio in pejus (direta e indireta) e da reformatio in mellius: artigo 459; Fixação do prazo para
interpor e, ao mesmo tempo, arrazoar apelação, em 15 dias (art. 471) e 10 dias para o agravo (art.
462); Possibilidade de interposição oral do recurso de Agravo, em audiência, mas sob a modalidade
de Agravo Retido: art. 465, § 2º; Ressalva de que o Agravo retido terá efeito apenas devolutivo; o de
instrumento, também efeito suspensivo, se, em decisão fundamentada, o juiz indicar a possibilidade
de lesão grave ou de difícil reparação: art. 464; Previsão de que o Revisor apenas atuará no recurso
de Apelação e em processos por crimes da competência do Tribunal do Júri: art. 509; Exigência de
que o julgador declare os motivos da demora no julgamento do recurso: art. 511; Restrição aos
Embargos Infringentes (não mais recebem o complemento “e de nulidade”), que passam a caber
apenas quando o acórdão for condenatório, em decisão majoritária, e modificando a decisão do juízo
de primeiro grau: art. 478; Previsão de “manifestação” do MP, em 10 dias, nos recursos de Agravo de
Instrumento e Apelação: art. 507; Previsão de sustentação oral pelos advogados e pelo MP, devendo
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a defesa falar por último, inclusive quando for recorrente: art. 510; Possibilidade do julgador conferir
efeito suspensivo se da decisão recorrida resultar lesão grave ou de difícil reparação: art. 464;
Modificação no cabimento de recurso no juízo de admissibilidade: Decisão que recebe, total ou
parcialmente, a denúncia desafia Agravo: art. 463, I; que rejeita a denúncia ou absolve sumariamente
o réu, Apelação (decisão que extingue o processo, com ou sem resolução do mérito): art. 471;
Fixação de prazo, comum, em dobro quando houver mais de um apelado, com acesso aos autos
assegurado: art. 475, parágrafo único; Concessão de maiores poderes ao relator, para negar
seguimento a recurso, decidir sobre medidas cautelares, concessão ou não de efeito suspensivo e até
para dar ou negar provimento e negar seguimento ao recurso: artigos 497, 505, 506 e 507; Limitação
aos Embargos de Declaração, que só poderão ser opostos uma única vez, eliminando-se, outrossim, a
ambiguidade como motivo para o seu manejo; Admissão de Embargos de Divergência contra
decisões de turma, em RE e REsp, incorporando ao Código de Processo Penal a redação dada ao art.
546 pela L. nº 8.950/94: art. 502; Processamento do recurso de Agravo (não mais de Instrumento) à
inadmissão do RE e do REsp nos próprios autos do processo principal: art. 496;
A Exposição de Motivos reconhece o excessivo número de recursos previstos em nossa
legislação, o que leva os autores do Projeto a adotarem um “critério de recorribilidade mínima das
decisões judiciais”, atentos, porém, à garantia constitucional da ampla defesa. Assim, afirma-se que
“a disciplina legal dos recursos deve buscar, por certo, a celeridade necessária à produção da
resposta penal em tempo razoável e socialmente útil e à tutela dos direitos fundamentais dos
indiciados ou imputados autores de infrações penais.”
Sem embargo dessas afirmações, justas e oportunas, há que se apontar a existência de
alguns pontos do projeto que, segundo nosso entendimento, apresentam-se merecedores de
reflexão, a saber:
O Projeto deixa claro, ao tratar do procedimento nos tribunais (em relação aos recursos
de Agravo e Apelação) que a vista dos autos ao Ministério Público, atualmente referida no art. 610,
caput, do Código de Processo Penal, tem por objetivo colher a “manifestação” desse órgão, em 10
dias (art. 507 do Projeto). O tema merece considerações acerca da incidência do princípio do
contraditório em relação ao parecer do Ministério Público.
Independentemente de considerações sobre a opção de se vincular a atuação do
Ministério Público de 2º grau ao mero oferecimento de uma peça aparentemente com viés
opinativo, a induzir ou reforçar a crença de que aquele órgão deixou de agir como parte da relação
processual, parece-nos indispensável colher a oportunidade da reforma do nosso código para
introduzir o contraditório sobre aquele parecer, promovendo-se a necessária paridade de armas
entre as partes.
Isto porque, além de ser proveniente do órgão acusador – ainda que revestido, segundo
a majoritária doutrina, de função meramente fiscalizadora – o parecer do Ministério Público pode
influir decisivamente no destino do recurso, sendo mister, portanto, oportunizar-se o contraditório,
abrindo-se prazo à defesa para pronunciar-se a respeito das alegações do Parquet, quando este se
coloca de forma contrária aos interesses do acusado.
É de lembrar-se a recente decisão do Pleno do Supremo Tribunal Federal, no HC 87926-
SP, em que se assentou, à unanimidade, o entendimento de que o Ministério Público é parte
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também no segundo grau de jurisdição, devendo a defesa, por conseguinte, sempre falar por último
(DJe-074 p. 25-04-2008), de sorte que não se pode continuar a tratar importante manifestação de
uma das partes da relação processual como se fora proveniente de um órgão estranho a essa relação
e como se não interferisse, potencialmente, na liberdade do acusado.
Sem embargo, para evitar atraso na prestação jurisdicional com essa providência – o
que, aliás, iria de encontro a um dos objetivos do Projeto – e por economia processual, bastaria
prever-se que a já necessária intimação da defesa, em segundo grau, se daria tanto para tomar
ciência da data da sessão de julgamento, já designada, quanto para tomar ciência da manifestação
do Ministério Público.
Por outro ângulo, o Projeto avançou ao prever, no artigo 510, que “o recorrente poderá
sustentar oralmente suas razões, cabendo ao recorrido se manifestar no mesmo prazo. No caso de
recurso da defesa, poderá ela se manifestar novamente, após o Ministério Público”. Assim, tornou-se
inequívoca a regra de que o réu tem o “direito à última palavra”, não importando que tenha sido ele
a iniciar o procedimento em segundo grau, visto que, malgrado tal iniciativa, continua a ser o sujeito
passivo da relação processual penal.
Seria oportuno, destarte, deixar claro que o membro do Ministério Público que atua na
instância recursal continua a representar a parte ativa da relação processual, é dizer, continua a ser o
titular da ação penal, o órgão de acusação que, saliente-se, também é fiscal da correta aplicação da
lei.
A bem da verdade, isso já é reconhecido no Projeto, em seu artigo 58, onde se afirma
que “O Ministério Público é o titular da ação penal, incumbindo-lhe zelar, em qualquer instância e
em todas as fases da persecução penal, pela defesa da ordem jurídica e pela correta aplicação da lei”.
Porém, como estamos a tratar de uma fase da persecução penal na qual a atuação do Ministério
Público sempre foi problematizada por todo um passado de confusão conceitual e funcional, conviria
reforçar a idéia de que ele é parte, estabelecendo-se, em sua inteireza, o contraditório no segundo
grau de jurisdição, tanto na fase argumentativa, quanto nos debates, em sessão de julgamento.
Para tanto, seria mister prever a obrigação de dar-se à defesa do réu a oportunidade,
em paridade de armas com a acusação, de falar após a manifestação do Ministério Público, antes da
sessão de julgamento do Agravo ou da Apelação, assegurando-se também, em complemento ao que
dispõem os artigos 3º e 60 (especialmente este último, quando diz que “Todo acusado terá direito à
defesa técnica em todos os atos do processo penal, exigindo-se manifestação fundamentada por
ocasião das alegações finais e em todas as demais oportunidades em que seja necessária ao efetivo
exercício da ampla defesa e do contraditório.”), que, na sessão de julgamento, se faça presente o
advogado do acusado, ou, na sua ausência, um defensor público ou defensor ad hoc.
Propõe-se, assim, a remodelação do artigo 507, acrescentando-se-lhe quatro parágrafos
para regular o tema, da seguinte forma:
Art. 507. No agravo de instrumento e no recurso de apelação, ressalvado o caso de requerimento expresso de concessão de efeito suspensivo, os autos serão remetidos ao Ministério Público, independentemente de despacho, para manifestação em 10 (dez) dias.
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§ 1º. O relator, ou órgão instituído por norma de organização judiciária, decidirá sobre a concessão ou não do efeito suspensivo, bem como acerca da necessidade de manutenção ou substituição das medidas cautelares, com comunicação da decisão ao juízo e posterior encaminhamento dos autos ao Ministério Público.
§ 2º Se o titular da ação penal oferecer manifestação no segundo grau, em sentido contrário aos interesses da defesa, será esta cientificada do ato, podendo, no mesmo prazo assinado ao Ministério Público, também manifestar-se.
§ 3º A comunicação a que alude o parágrafo anterior ocorrerá juntamente com a ciência da data da sessão de julgamento do recurso.
§ 4º Na Sessão de Julgamento será assegurada ao acusado a assistência de um defensor, caso não esteja presente o advogado constituído.
Embora já incorporado à tradição processual brasileira, o recurso de Embargos
Declaratórios tem-se prestado, em boa parte dos casos, a protrair no tempo a efetiva prestação
jurisdicional, alongando os prazos - já dilatados - para o trânsito em julgado da sentença de primeiro
grau e, mais especialmente, do acórdão do tribunal.
Se parece inafastável o direito, das partes, de obter um provimento absolutamente
isento de dúvida, até para que se possa exercer o direito ao recurso, não se vê necessidade, quando
se tratar de evidente hipótese de não conhecimento ou de improvimento da impugnação, de
submeter o tema novamente ao órgão colegiado.
O Projeto andou bem ao limitar, para apenas uma vez, a oposição de embargos a uma
mesma decisão, suprimindo, ademais, a mera ambiguidade do julgado como fundamento para o
manejo de tal impugnação.
Não obstante, seria saudável, para os fins declarados na exposição de motivos, e em
conformidade com situações semelhantes (artigos 497, 505, 506 e 507 do Projeto), incumbir o
próprio relator do acórdão impugnado por embargos de declaração do exame do pedido de
eliminação da contradição ou de suprimento da omissão, naquelas hipóteses em que não haverá
qualquer alteração no conteúdo ou mesmo nos termos da decisão impugnada.
Tal providência desobstruiria a pauta dos tribunais e agilizaria, em muito, o curso da
ação rumo ao seu natural trânsito em julgado, ressalvando-se, porém, a possibilidade de levar a
decisão dos embargos para o órgão colegiado, a critério do relator.
Propõe-se, destarte, a seguinte redação ao § 3 º do artigo 482:
Art. 482.
(...)
§ 3º No tribunal, o relator responderá monocraticamente ao requerimento, nas hipóteses de não conhecimento ou de improvimento dos embargos, devendo, nos demais casos, levar os embargos para julgamento, em mesa, na sessão subseqüente do órgão colegiado competente, independentemente de intimação.
Convém abordar a temática das contrarrazões em medida de natureza sigilosa. O
projeto, na mesma linha de raciocínio que motivou a edição da Súmula 707, do STF, prevê, no artigo
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455, que “a resposta do defensor é condição de validade do recurso, mesmo que a decisão seja
anterior ao oferecimento da denúncia.”
O comando é salutar, mas há de merecer uma ressalva, necessária para deixar claro que
a iniciativa de ouvir a parte contrária – no caso, o investigado ou acusado – não pode ocorrer nas
hipóteses em que o conhecimento do pedido formulado pela parte contrária já frustre a eficácia da
medida postulada. Referimo-nos, especialmente, à interceptação telefônica, meio de obtenção da
prova cuja eficácia depende de não ter o sujeito passivo da medida conhecimento a seu respeito.
Assim, propõe-se, em consonância com o disposto no artigo 519 do Projeto, que se
acrescente um parágrafo único ao artigo 455, nos seguintes termos:
Art. 455.(...)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput deste artigo nas hipóteses em que a comunicação ao investigado ou acusado torne ineficaz a medida objeto da decisão recorrida.
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Livro III – Das Medidas Cautelares (art. 513 a art. 626)
O Projeto introduz significativas alterações no tratamento jurídico das medidas
cautelares pessoais. Destacamos as seguintes: Possibilidade de adoção de medidas cautelares ex
officio somente na fase processual da persecução penal (513); Explicitação da taxatividade das
medidas cautelares, dos objetivos de qualquer cautela (assegurar os fins da persecução criminal e a
reparação civil) e da própria cautelaridade (permanência dos motivos, também ressaltada no art.
518) da medida (514); Indicação do critério de proporcionalidade como norte na adoção das
cautelares, impedindo aplicação de medida mais gravosa que a pena decorrente de eventual
condenação (515); Possibilidade de aplicação cumulativa das cautelares, por critérios de
necessidade, adequação e vedação de excesso, sempre presentes as exigências cautelares do caso
concreto (517); Possibilidade de prévia oitiva do sujeito passivo da medida cautelar (contraditório),
ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida (519); Reafirmação do dever
de fundamentar a decisão cautelar, com indicação expressa de seu fundamento legal, da presença de
justa causa, das circunstâncias fáticas (concretas) que justificam a medida, da indicação da sua
necessidade e das razões para a escolha da (s) específica (s) medida (s), sendo importante, ainda, a
indicação dos motivos (insuficiência e inadequação) para não aplicar medidas cautelares menos
gravosas (520). No mesmo artigo se reforça a necessidade de fixar-se data para reexame da medida;
Introdução de considerável elenco de medidas cautelares pessoais, que podem ser aplicadas
cumulativamente, desde que se preveja, em relação à infração objeto do processo, pena privativa de
liberdade (521 e 522); Regulamentação do uso de algemas e da força, em moldes similares ao da
Súmula 11 do STF (525); Elenco dos direitos do preso que devem ser a ele informados: silêncio,
identificação dos responsáveis por sua prisão, cópia do mandado, contato telefônico com familiar ou
pessoa indicada, assistência de advogado e recolhimento em cela separada dos presos condenados
(534); Simplificação das hipóteses de flagrante, fundindo as hipóteses, antes distintas, de quem é
encontrado e quem é perseguido, logo após, em situação que faça presumir ser o autor da infração
(538); Vedação à incomunicabilidade do preso (540, § 1º); Possibilidade de não lavratura do auto de
prisão em flagrante em caso de verificação de causa excludente de ilicitude na conduta do conduzido
(540, § 6º); Previsão das providências que o juiz deverá adotar ao receber o auto flagrancial: relaxar a
prisão ilegal, convertê-la em preventiva, arbitrar fiança ou conceder liberdade provisória (543);
Manutenção dos fundamentos atuais para a decretação da prisão preventiva, com idêntica
terminologia, explicitando-se, porém, que não pode ser utilizada como antecipação da pena ou
tendo como móvel a gravidade abstrata do crime; além disso, somente poderá ser aplicada quando
outras medidas cautelares se revelarem inadequadas ou insuficientes (544); Limitação da prisão
preventiva para crimes dolosos punidos com mais de 4 anos, salvo se cometidos mediante violência
ou grave ameaça à pessoa. Se houver razões humanitárias (idade, gestação ou prole pequena),
somente será possível a prisão em casos de descumprimento injustificado de outras medidas
cautelares pessoais ou, na última hipótese (razões humanitárias), se as exigências cautelares de
extraordinária relevância e a insuficiência de outras medidas tornarem necessária a cautela extrema
(545); Estabelecimento de prazos máximos de duração da PRISÃO, por fases processuais, com limite
máximo de 600 dias (546), ou de 3 anos, se contados de forma interrupta, em caso de fuga e
recaptura (547), sem prejuízo de outras medidas cautelares (548); Possibilidade de decretação de
prisão preventiva com prazo certo de duração (como se dá em relação à temporária), observados os
limites máximos (549); Obrigatoriedade de reexame judicial a cada 3 meses, quanto à persistência
dos motivos da prisão preventiva (550); indicação explícita de que a prisão temporária deve ser
49
decretada apenas quando não houver outro meio para garantir a realização de ato essencial à
apuração do crime, tendo em vista indícios precisos e objetivos de que o investigado obstruirá o
andamento da investigação, não se prestando para o fim de interrogar o investigado (551) e que é
cabível para qualquer crime punido com pena máxima igual ou superior a 12 anos, ou de quadrilha
(551, § 1º); Indicação de que o prazo da prisão temporária não excederá a 5 (cinco) dias, com
possibilidade de uma prorrogação, restando claro, portanto, que o prazo poderá ser menor do que 5
dias, porém não maior do que 10 dias, sempre condicionado o decreto à persistência da sua
necessidade para a realização do ato investigativo (552); A fiança poderá ser concedida a
requerimento do interessado ou de ofício pelo juiz ou pela autoridade policial, independentemente
de audiência do Ministério Público (564); modificação da competência e atribuições para
arbitramento de fiança: para o juiz, permite-se o arbitramento de fiança sem limites qualitativos ou
quantitativos da pena; para a autoridade policial, permite-se que fixe a fiança ao preso em crimes
punidos com pena de reclusão, limitada a até 5 anos, ou, sem limite quantitativo algum, nos crimes
punidos com detenção, desde que não cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa (556);
Determinação de que a fiança, a ser prestada em qualquer fase do processo (559), não será
concedida nos crimes referidos na CF, quando presentes os motivos para a preventiva e aos que
houverem quebrado a fiança, não sendo cabível em casos de prisão civil ou disciplinar militar (557 e
558); Possibilidade de aumento do valor da fiança até o décuplo do valor máximo, que é de 100
salários mínimos, o que resultaria, em valores atuais, em R$465.000,00 (560); Manutenção da
possibilidade de dispensa da fiança por insuficiência econômica, com maior rigor, porém, para a
comprovação de tal qualidade (561); Manutenção das obrigações vigentes, para o afiançado,
determinando-se também o quebramento da fiança se o réu vier a praticar alguma infração penal
dolosa, se deliberadamente obstruir o andamento da investigação ou do processo ou se descumprir
medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança (569 e 571), situações que resultam em
perda imediata da metade de seu valor mas não, necessariamente, no imediato recolhimento do réu
à prisão, devendo o juiz avaliar a necessidade de decretação da prisão preventiva ou de outras
medidas cautelares, presentes seus pressupostos legais (572 e 573); Indicação do rol das medidas
cautelares pessoais: recolhimento domiciliar (576/578); monitoramento eletrônico (579/582);
suspensão do exercício de função pública ou atividade econômica (583); suspensão das atividades de
pessoa jurídica (584); proibição de frequentar determinados lugares (585), suspensão da habilitação
para dirigir (586); afastamento do lar ou outro local de convivência com a vítima (587); proibição de
ausentar-se da comarca ou do país (588); comparecimento periódico em juízo (589); proibição de se
aproximar ou manter contato com pessoa determinada (590); suspensão do registro de arma de fogo
e da autorização para porte (591) e suspensão do poder familiar (592); Fixação de prazos de duração
das medidas cautelares, oscilando entre 180 e 720 dias, salvo em caso de extrema e comprovada
necessidade (593); Possibilidade de decretação de prisão preventiva em caso de descumprimento
injustificado de uma das medidas cautelares, podendo haver substituição por outra medida, sempre
ouvindo-se a defesa (596); previsão ainda de liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos do processo, quando não houver fundamento para a conversão da
prisão em flagrante em preventiva ou aplicação de outra medida cautelar pessoal, ou quando
cessaram os motivos que justificaram a prisão provisória ou outra medida cautelar pessoal ou, ainda,
findo o prazo da medida cautelar pessoal aplicada anteriormente; em caso de não comparecimento
injustificado a ato do processo para o qual o réu tenha sido intimado, adotará o juiz a providência do
artigo 596, ou seja, buscará o juiz aplicar outra medida cautelar (597).
50
A Exposição de Motivos indica que a Comissão de Juristas autora do Anteprojeto adotou
quatro diretrizes principais: 1) que a prisão e outras formas de intervenção sobre a pessoa humana
somente se justificam em face da sua concreta necessidade, a ser indicada mediante
fundamentação detalhada, onde se revele a cautelaridade da prisão; 2) que as medidas cautelares,
inseridas em um sistema acusatório, dependem da iniciativa da parte quando ainda inexistir relação
processual, pois, quando já instaurada a lide, não se pode privar o juiz de, excepcionalmente, adotar
providência que traduza o seu dever de zelar pela efetividade da jurisdição; 3) que as medidas
cautelares, por afetarem bens e direitos do acusado, sujeitam-se a critérios de proporcionalidade,
vedando-se o uso de medida inadequada, desnecessária e desproporcional ao bem que se pretende
proteger com a medida, o que exige que, diante das circunstâncias do caso concreto, seja escolhida a
medida – ou as medidas – menos gravosa para o acusado dentre as igualmente idôneas a alcançar o
objetivo cautelar; 4) que a prisão preventiva, bem assim as demais providências cautelares, deve
perdurar por um tempo que não ultrapasse o razoável, o que justifica a fixação de prazos máximos
de duração das cautelas elencadas no anteprojeto.
De um modo geral, o Projeto segue essas diretrizes, inovando, substancialmente, em
alguns pontos e colocando a legislação brasileira dentre as mais modernas do mundo, que já
passaram por modernização similar.
A mais significativa alteração estrutural, inegavelmente, diz respeito à introdução, no
processo penal brasileiro, de medidas cautelares alternativas à prisão preventiva, acabando com o
que denominamos “bipolaridade cautelar” do sistema, mercê do qual o juiz criminal deve optar ou
pela segregação cautelar total, ou pela concessão de liberdade ao indiciado ou acusado, que
simplesmente se obriga a comparecer a atos processuais futuros, sem quaisquer outras condições ou
limitações.
Alguns pontos de Projeto merecem, todavia, reflexão.
O primeiro deles diz respeito à correção conceitual de alguns dispositivos do Projeto,
indispensável para dar à redação do LIVRO III do Código de Processo Penal a desejada coerência
sistêmica; o segundo diz respeito aos fundamentos ou motivos para a decretação da prisão
preventiva, tema em que o Projeto foi bem conservador; o terceiro ponto refere-se ao pretendido
revigoramento do instituto da fiança; por fim, são sugeridas modificações na redação de alguns
dispositivos.
Passa-se à analisar a necessidade de adaptação da redação do Projeto à nova lógica
das medidas cautelares. A leitura do Projeto denota uma clara opção pela permissão a que o órgão
jurisdicional competente, diante de uma situação que, no sistema original, permitiria a decretação da
prisão preventiva, opte por outra (s) medida (s) cautelar (es) com igual idoneidade/eficácia para a
proteção do bem jurídico ameaçado, com menor afetação da liberdade individual.
Porém, faltou ao reformador completar esse intento, não deixando resquícios de uma
lógica que se pretende abandonar – a referida ‘bipolaridade cautelar’ atual – quando se vê, no artigo
558 ainda a vinculação de uma das cautelares alternativas – a fiança – à ausência de requisitos
autorizadores da preventiva, verbis:
Art. 558. Não será concedida fiança:
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I – quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva;
Ora, qualquer das medidas alternativas à prisão preventiva não deve pressupor a
inexistência de motivos ou de requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva , mas sim
a existência de uma providência igualmente eficaz para o fim colimado com a medida cautelar
principal, porém com menor grau de lesividade à esfera de liberdade do indivíduo.
É essa, precisamente, a idéia da subsidiariedade processual penal, ínsita ao princípio da
proporcionalidade, em sua máxima parcial (ou subprincípio) da necessidade: o juiz somente poderá
decretar a medida mais extrema – a prisão preventiva – quando não existirem outras medidas menos
gravosas ao direito de liberdade do acusado por meio das quais seja possível alcançar os mesmos fins
colimados pela prisão cautelar.
Essa idéia, aliás, permeia vários dispositivos do Projeto (artigos 517, par. único, 520, §
2º, VI, 544, § 3º e 545, § 2º, in fine).
Se os requisitos cautelares indicados no art. 514 (“meio absolutamente indispensável
para assegurar os fins de persecução criminal e de reparação civil”) são inerentes a quaisquer das
medidas previstas no Título II do Projeto, é de se indagar o que restará como fundamento ou
supedâneo para justificar, por exemplo, a imposição ao réu de proibição de se aproximar ou manter
contato com pessoa determinada (art. 590), se a proteção a uma fonte de prova (imaginemos a
testemunha ocular do fato, que se sente intimidada pelo rotineiro contato com o acusado), é
precisamente o que justifica a cautela instrumental ante o notório periculum libertatis? E mais, não
surtindo tal medida menos gravosa o pretendido efeito, o caminho a seguir não será a decretação da
prisão preventiva? Logo, o fundamento cautelar é idêntico, o que varia, entre as várias medidas
previstas no art. 521, é apenas o grau de lesividade, ou de gravosidade, de cada uma delas, sendo a
prisão provisória (flagrante, preventiva e temporária), a mais extrema de todas.
É inegável que a prisão preventiva (e a temporária) possui requisitos próprios, que se
agregam às exigências cautelares comuns. Mas, repita-se, não se pode imaginar que qualquer das
medidas cautelares – inclusive a fiança – pressuponha a inexistência de motivos para a preventiva.
Faz-se necessário, então, corrigir essa imperfeição técnica do Projeto, suprimindo o
inciso I do artigo 558.
No que toca à temática da prisão preventiva, o Projeto, em opção conservadora,
mantém a redação do atual artigo 312 do Código de Processo Penal, para indicar os requisitos
específicos dessa espécie de prisão processual.
Art. 544. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Decerto que a redação atual do Código de Processo Penal confere uma liberdade maior
ao magistrado para fundamentar o decreto prisional, visto que a expressão “ordem pública” possui
um grau de abstração dentro do qual diversas situações concretas podem servir como justificativa
para a medida cautelar extrema.
52
Há que se encontrar, então, um ponto de equilíbrio, ou seja, uma redação que atenda
tanto aos interesses do indivíduo contra excessos do poder coercitivo estatal, quanto aos interesses
igualmente legítimos da sociedade contra comportamentos que colocam sob risco grave e concreto o
pacífico e ordeiro convívio social.
Nesse particular, creio devamos nos valer da experiência de outros países –
evidentemente com sua adaptação à realidade brasileira – no trato jurídico dessa delicada questão.
E, nesse particular, é de reconhecer-se que os países centrais com que temos maior
vínculo e afinidade jurídica positivam a matéria de maneira mais consentânea às novas exigências no
tratamento da matéria, ao estabelecerem requisitos mais específicos e concretos para a decretação
da cautela extrema.
Assim é que o art. 503 do Código de Processo Penal da Espanha prevê a prisão
provisional para evitar que el imputado pueda actuar contra bienes jurídicos de la víctima, ou para
evitar el riesgo de que el imputado cometa otros hechos delictivos; o art. 137 do Código da França
fala de raison des nécessités de l'instruction ou à titre de mesure de sûreté, bem como deixa claro
que a decretação de uma détention provisoire deve ter por objetivo mettre fin à l'infraction ou
prévenir son renouvellement ou, ainda, mettre fin au trouble exceptionnel et persistant à l'ordre
public provoqué par la gravité de l'infraction, les circonstances de sa commission ou l'importance du
préjudice qu'elle a cause; na Itália, prevê-se que as medidas cautelares são dispostas (art. 274)
quando sussiste il concreto pericolo che questi [ o investigado ou o acusado] commetta gravi delitti
con uso di armi o di altri mezzi di violenza personale o diretti contro l'ordine costituzionale ovvero
delitti di criminalità organizzata o della stessa specie di quello per cui si procede; por fim, em
Portugal, nossa pátria-irmã, o Código de Processo Penal estabelece, como requisitos gerais para as
medidas de coação pessoal (art. 204), entre outros, o perigo, em razão da natureza e das
circunstâncias do crime ou da personalidade do arguido, de que este continue a actividade criminosa
ou perturbe gravemente a ordem e a tranquilidade públicas.
Pode-se claramente perceber, portanto, que a prisão cautelar também se utiliza em
outros ordenamentos com funções de medida de segurança ou de defesa social, o que é
compreensível ante a necessidade de proteger a sociedade contra investidas criminosas que
perturbam a paz e a ordem públicas.
Convém abordar, a esta altura, a inovação atinente à valorização da fiança. A maior
inovação do PL 4208/01 (que integra o conjunto de projetos de reformas pontuais ao Código de
Processo Penal, algumas das quais já transformadas em lei), quanto ao instituto da fiança, era de
torná-la uma verdadeira cautela pessoal, visto que, atualmente, ela é uma contra-cautela, ou seja,
serve apenas para substituir a prisão em flagrante. Na redação daquele projeto, poderia o juiz valer-
se da fiança, como qualquer outra medida cautelar, para submeter o réu a certas obrigações, mesmo
estando solto. Ou seja, poderia ser arbitrada a fiança para que o réu se mantivesse em liberdade,
porque, na escolha dentre as medidas cautelares possíveis (a prisão preventiva inclusive), a fiança se
mostrava, além de igualmente idônea, suficiente para os fins cautelares desejados (exemplo: evitar a
fuga do réu).
53
Com a redação dada ao artigo 555 do Projeto, mantém-se a sistemática do código
vigente, ou seja, a fiança continua a servir para tão somente “permitir que o preso, após o
pagamento e assinatura do termo de compromisso, seja imediatamente posto em liberdade.”
Há um aspecto que não pode passar em branco na crítica construtiva que se faz ao texto
do Projeto: a manutenção da regra que permite à autoridade policial, no ambiente de uma Delegacia
de Polícia, arbitrar a fiança, "nos crimes punidos com detenção ou prisão simples, qualquer que seja
o limite máximo da pena cominada, ou reclusão, com pena fixada em limite não superior a 5 (cinco)
anos, exceto se praticados com violência ou grave ameaça à pessoa” (art. 556, § 1º)
Vê-se que a proposta confere ainda mais poder à autoridade policial do que a redação
atual do CPP, a qual autoriza a fiança em Delegacia apenas aos crimes punidos com pena de
detenção ou prisão simples (art. 322).
Entendemos que o Fórum é o ambiente mais adequado e seguro para a prática de tão
importante ato processual como o é a concessão de liberdade provisória ao indivíduo preso em
flagrante. Essa tarefa há de cumprir um Juiz de Direito, garante dos direitos do preso, e não quem
exerce suas funções em local destinado à investigação de crimes, nem sempre compatível com a de
tutelar a liberdade humana.
Para obviar eventual e justa crítica de que tal medida redundaria em atraso na soltura
do autuado, quando cabível, bastaria que se estabelecesse o direito do réu em ser conduzido, tão
logo lavrado o auto de prisão em flagrante, à presença da autoridade judicial, para ser ouvido
informalmente e para avaliar-se o cabimento, ou não, de liberdade provisória, com ou sem fiança,
providência, aliás, já passível de ser colocada em prática, bastando aos juízes dar cumprimento ao
disposto no art. 7º, item 5 do Decreto 678/92 (Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
Tal providência, aliás, resultaria ainda em outro benefício para a salutar atividade
persecutória estatal, qual seja, inibir a prática de tortura, tendo em vista o natural receio, por parte
de agentes de segurança pública, de que a visualização do preso pela autoridade judiciária revelasse
a violência empregada além do necessário para a efetivação da prisão do suspeito.
Sem embargo, é de reconhecer-se que, pela extensão continental do território
brasileiro, a atribuição, com exclusividade, a uma autoridade judiciária do poder de arbitrar fiança
poderia resultar em grave prejuízo para o preso, naquelas hipóteses em que, pela sistemática atual,
ou mesmo pela defendida no Projeto, fosse possível, pela menor gravidade da conduta, ser solto por
iniciativa da própria autoridade policial.
Assim, contorna-se tal inconveniente com a possibilidade, em caráter excepcional, de
arbitramento da fiança pela autoridade policial, quando não houver, na comarca, juiz competente a
quem possa o preso ser conduzido, tão logo efetuada sua prisão em flagrante.
No que se refere à liberdade provisória, o Projeto insiste em manter um instituto muito
criticado, não pelo objetivo a que visa alcançar – permitir ao réu responder ao processo em liberdade
– mas pela nomenclatura e, agora, pela falta de sintonia com o sistema mais moderno que se
pretende introduzir.
54
Houve, segundo nossa interpretação, uma incongruência do Projeto, ao incluir a
Liberdade Provisória (por que não se corrigiu o sentido equívoco dessa vetusta expressão?) como
uma das medidas cautelares arroladas no artigo 521, sendo, portanto, passível de ser usada de forma
isolada ou cumulativa, mas, depois, é detalhada em Capítulo próprio (o IV), à parte das demais
cautelares pessoais.
Outrossim, reitera-se o já apontado erro cometido em relação à fiança, qual seja, o de
manter a sistemática atual, em que a fiança e a liberdade funcionam como medida de “contra-
cautela”, cabível apenas para situações de réu ou investigado preso, quando ausentes os motivos
para a prisão preventiva.
Ora, se há motivos para a prisão preventiva e nenhuma das diversas medidas cautelares,
inclusive a fiança e a liberdade provisória, forem suficientes para tutelar o direito ameaçado com a
liberdade do autor do ilícito penal, o caso é mesmo de decretação da prisão preventiva, ou da
conversão do flagrante, na forma preconizada pelo artigo 543 do Projeto.
Mas, como ali se diz expressamente, deverá o juiz “arbitrar fiança ou aplicar outras
medidas cautelares mais adequadas às circunstâncias do caso”, quando a medida extremada,
embora cabível, puder ser substituída por outra, igualmente adequada e eficaz, com carga coativa
menor.
Por que, então, prever-se, em inciso próprio (inciso IV), a possibilidade de o juiz
“conceder liberdade provisória”, se esta medida já está implicitamente referida no inciso III (outras
medidas cautelares)? Parece que a resposta está no fato de que o Projeto não trata a Liberdade
Provisória como uma das medidas cautelares (embora arrolada com as demais), mas como uma
medida de contra-cautela, destinada apenas a dar liberdade a quem foi preso em flagrante,
repetindo o anacrônico modelo em vigor.
A insistência – inclusive com a nomenclatura tão criticada pela doutrina – de assim
tratar o instituto da liberdade provisória não se justifica, mesmo porque, dentre as medidas
cautelares, já existe uma, denominada “comparecimento periódico em juízo”, que se presta à mesma
finalidade da “liberdade provisória”, sendo suficiente apenas acrescentar, à obrigação referida no
artigo 589 do Projeto, que o investigado ou acusado também será obrigado a comparecer aos atos
processuais.
Sob diversa angulação, vê-se que os incisos do artigo 597 não se sustentam no sistema
proposto. Isso porque, se não há fundamento para a conversão da prisão em flagrante em preventiva
ou mesmo a aplicação de outra medida cautelar pessoal, o caso é de puro relaxamento da prisão,
porque ilegal e porque não há nada a tutelar cautelarmente. E se há necessidade, pelo menos, de
assegurar a presença do acusado nos futuros atos processuais, basta que se lhe imponha a obrigação
mencionada no parágrafo anterior, com o acréscimo sugerido.
Igual providência – a simples soltura do réu, sem ônus quaisquer – há de adotar-se
quando cessaram os motivos que justificaram a prisão provisória ou outra medida cautelar pessoal
(inciso II), ou o esgotamento do prazo de duração da medida cautelar anteriormente aplicada,
ressalvada a possibilidade a que alude o § 2º do artigo 593 do Projeto.
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Propõe-se, também, aproveitando a sobra, do artigo 597, que resultará das alterações
propostas mais adiante, que se corrija uma omissão da legislação atual, relativamente à hipótese em
que, antes da citação, o réu é posto em liberdade provisória. Atualmente, pela interpretação que se
dá ao artigo 366 do Código de Processo Penal, se o réu não comparece para o interrogatório, após
haver sido citado por edital, o processo fica suspenso, aguardando seu comparecimento ou a
constituição de advogado. No Projeto, o artigo 147 diz que a suspensão do processo ocorrerá “se o
acusado, citado por edital, não apresentar resposta escrita, nem constituir advogado”.
Pretende-se, então, que não se aplique tal dispositivo, quando o réu, tendo fornecido
endereço para ser cientificado dos atos futuros do processo, se muda sem comunicar o juízo seu
novo endereço, antes de ser citado, o que, segundo entendemos, frustra, deliberadamente, o
exercício da jurisdição, não se podendo premiar o comportamento do acusado e, corolariamente,
punir a sociedade, com a suspensão indefinida do processo, tal qual determina a lei.
A respeito da iniciativa para requerer medida cautelar, pelos mesmos motivos já aduzidos no início deste relatório, quando se criticou a opção do Projeto por manter iniciativas postulatórias da autoridade policial durante a investigação, é mister proceder a ajustes, também no Livro III do Projeto, concernente às medidas cautelares.
Pedindo vênia para reproduzir o que então foi dito, o art. 26 do Projeto, ao elencar as
atribuições da autoridade policial, reclama modificação do texto, inciso VI, no que se refere à
representação policial acerca da prisão preventiva ou temporária. Conforme já explicitado
anteriormente, é ponto pacífico que a Constituição Federal confere ao Ministério Público atribuição
exclusiva para a ação penal pública. A mesma titularidade se estende às ações penais cautelares e às
medidas criminais instrutórias perante o Judiciário, como decorrência do art. 129, inciso I, da CF, e
dos princípios acusatório, da inércia e do promotor natural.
A inadequação da representação policial para a provocação da jurisdição criminal se
revela de modo claro em medidas cautelares constritivas de indisponibilidade de bens e de privação
de liberdade, medidas estas que interferem direta e gravemente sobre o patrimônio e o ius libertatis
de suspeitos e indiciados (art. 5º, inciso LIV, da CF), com graves repercussões tanto do ponto de vista
do rompimento de garantias caras à democracia (numa fase em que o titular da ação penal sequer
formou a sua opinião sobre a necessidade ou não da ação penal condenatória), quanto do ponto de
vista da organização, interação e cooperação dos serviços de persecução criminal (law enforcement
agencies) tendo em mira um fim comum. Muitas vezes, há representações policiais que são deferidas
sem o conhecimento do dominus litis, para a produção de prova que necessariamente deverá ser por
ele analisada antes que o Judiciário possa condenar ou absolver o investigado.
Conclui-se, portanto, que o deferimento de qualquer medida no âmbito da
investigação criminal, por representação direta da Polícia, representa a quebra do princípio ne iudex
sine actore, e, em conseqüência, ne procedat iudex ex officio, e à evidência ofende a saudável inércia
jurisdicional (tão necessária à isenção da magistratura, em especial a criminal), além de vulnerar à
evidência o sistema acusatório.
Tome-se em conta ainda o fato de que as autoridades policiais não estão sujeitas ao
regime de suspeição e impedimentos que submete juízes e membros do Ministério Público. Por
óbvio, pode haver prejuízo para o investigado na atuação direta da Polícia em juízo, como se parte
fosse. Limita-se a defesa na medida em que não é possível opor exceções de suspeição ou de
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impedimento contra o órgão policial que tomou a “iniciativa processual”. Ao revés, se reservada
apenas ao Ministério Público a faculdade de proposição de medidas cautelares criminais, nenhuma
limitação há ao exercício da defesa processual ou de mérito.
Outras conseqüências esdrúxulas podem advir de representações policiais não
submetidas ao prévio crivo do Ministério Público. Por exemplo, prosseguindo no mesmo ponto, no
caso de prisões temporárias e preventivas, a existência de constrição decretada por representação
policial contrariamente à manifestação do Ministério Público irá constranger o órgão titular da ação
penal a propor a demanda em prazo mais exíguo (em apenas 5 dias para o indiciado preso, em lugar
dos 15 dias que o Parquet teria se estivesse solto o indiciado), de forma açodada e em flagrante
prejuízo à análise profunda da prova, à correta individualização das condutas e à efetividade da
persecução criminal.
Vale relembrar que o açodamento para a realização de prisões policiais pode redundar
em fracasso do processo penal, a cargo do Ministério Público, construindo-se idéias publicadas e
equivocadas de que “a Polícia prende”, “a Justiça solta” e de que o Ministério Público coadjuva a
produção da impunidade. Com efeito, a experiência demonstra às escâncaras que medidas dessa
natureza só geram tumulto processual, provocando mais atropelamentos e correria, em nome de
uma apregoada eficiência policial no combate à criminalidade, que se dá por meio de uma atuação
“processual” da Polícia, a qual não foi submetida ao titular da ação penal ou que foi adotada contra
seu interesse e sua estratégia persecutória. Daí redunda quando muito o uso meramente simbólico
da ação penal, dada início por meio de denúncias precipitadas ou mal formuladas e, por isso mesmo,
fadadas ao fracasso. Isto é, de duas uma, ou a ação penal é proposta no prazo legal, no estado em
que estiver a investigação (concluída ou não, com clareza de autoria ou não), ou o requerimento de
prisão preventiva sem acusação formal que a respalde deve ser indeferida. Do contrário, pela falta de
coordenação da Polícia com o titular da ação penal, haverá um preço a pagar: o preço da impunidade
ou o de acusações injustas ou fadadas ao fracasso. A responsabilidade processual persecutória será
do Ministério Público, titular da ação penal. Portanto, por razões óbvias, não é de boa técnica, no
sistema acusatório, atropelar a valoração da prova pelo dominus litis e autorizar medidas desta
ordem sem a sua prévia concordância, ou melhor, sem a sua iniciativa processual.
A conclusão a que se chega tem duas variantes. Ou as normas processuais que
autorizam representações policiais não foram recepcionadas (dispositivos pré-1988) ou tais normas
são inconstitucionais (dispositivos pós-1988).
Na ordem de idéias acima expostas, a solução sistemática – e que, além disso, não
afronta o juízo de valor realizado pela Polícia Judiciária e que confirma o respeito que as instituições
policiais brasileiras vêm alcançando como órgãos de combate à criminalidade - é estabelecer que as
representações policiais, qualquer que seja a finalidade, sejam dirigidas previamente ao Ministério
Público, e esta instituição, em as acolhendo, por sua utilidade, necessidade, razoabilidade e
proporcionalidade, poderá veiculá-las em juízo para a imprescindível decisão judicial.
Esta saída privilegia a coordenação dos órgãos estatais voltados à persecução criminal
e reduz a possibilidade de restrições desnecessárias a direitos individuais. Não acolhida a
representação pelo dominus litis, em juízo prévio de conveniência persecutória (opinio delicti
preliminar), nada impede que a Polícia Judiciária volte a sugerir ao Ministério Público a mesma
medida em outro momento da investigação criminal.
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Sugerimos, portanto, a modificação do artigo 513, para restar claro que, mesmo na
fase de investigação, somente o Ministério Público poderá requerer a decretação de medida cautelar
em desfavor do investigado.
Tendo em vista as considerações anteriores, propõem-se as seguintes alterações no
Projeto, de modo a dotar-lhe de coerência intra-sistêmica e adaptar seus inegáveis avanços a uma
redação que traduza uma concepção mais moderna do processo penal.
No tocante aos ajustes redacionais para conferir unidade sistêmica ao Projeto, julgamos
suficiente suprimir o inciso I do artigo 558 (renumerando-se os demais), de modo a não haver
impedimento a que se conceda fiança quando presentes os motivos que autorizam a decretação da
prisão preventiva, desde que, na forma dos artigos 517, parágrafo único, e 544, § 3º, seja
considerada uma medida cautelar suficiente e adequada para os fins cautelares a que se destina,
sem a mesma carga coativa da medida extrema.
No que concerne à prisão preventiva “para garantia da ordem pública ou econômica”, a
proposta a seguir traduzida em nova redação ao artigo 544 é inspirada na necessidade de encontrar
um ponto de maior equilíbrio entre os interesses sociais e os interesses do indivíduo submetido à
persecução penal.
Assim, valendo-nos de experiências de outros países, mas com a preocupação de
encontrar uma alternativa que atenda às peculiaridades e aos interesses do povo brasileiro, sugere-
se o seguinte texto ao artigo 544 do Código de Processo Penal, também sob a preocupação de
conferir redação mais moderna às demais hipóteses autorizadoras da cautela extrema:
Art. 544. A prisão preventiva poderá ser decretada para:
I – impedir que a liberdade do indiciado ou acusado perturbe gravemente a ordem pública ou econômica, quer pela probabilidade de reiteração criminosa, quer pelas circunstâncias da prática ilícita ou pela gravidade de suas conseqüências;
II – assegurar a aplicação da lei penal, ante o concreto receio de fuga do indiciado ou acusado;
III – evitar a ocultação, alteração, perturbação ou eliminação das fontes de prova relevantes para a comprovação dos fatos objeto da imputação.
Para o pretendido resgate da fiança, como importante meio de cautela no processo
penal, atendendo, por sua vez, à reserva de jurisdição no que diz com a disciplina da liberdade de
pessoas submetidas à persecução penal, propõe-se outra redação para o artigo 556, que passaria a
autorizar o arbitramento de fiança pela autoridade policial apenas quando não fosse possível a
pronta intervenção judicial.
Eis a redação proposta:
Art. 556. Efetuada a prisão em flagrante, o preso deverá ser conduzido, sem demora, à presença da autoridade judiciária, que decidirá, motivadamente, sobre o cabimento e o valor da fiança, se for o caso.
Parágrafo único. Não havendo na comarca, por qualquer motivo, juiz competente para a providência prevista no caput, a fiança poderá ser concedida pela
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autoridade policial, nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos.
Para obviar a incongruência relativa ao instituto da “liberdade provisória”, propõe-se
sua supressão, tanto do rol das medidas cautelares (inciso XV do artigo 521), quanto do Capítulo IV,
do Projeto, com o acréscimo, à medida cautelar de “comparecimento periódico em juízo”, da
obrigação de comparecer aos atos processuais, sendo desnecessário, nesse particular, a
recomendação do parágrafo único do artigo 589, pois a existência de “livro próprio” para registro de
comparecimento do réu é algo que se imagina irá desaparecer em breve, ante a informatização dos
serviços judiciários.
Mister se faz, além disso, a correção de outros dispositivos que se reportam à liberdade
provisória.
A proposta seria, portanto, positivada nos seguintes termos:
Art. 521. São medidas cautelares pessoais:
I – prisão provisória;
II – fiança;
III – recolhimento domiciliar;
IV – monitoramento eletrônico;
V – suspensão do exercício de função pública ou atividade econômica;
VI – suspensão das atividades de pessoa jurídica;
VII – proibição de frequentar determinados lugares;
VIII – suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor, embarcação ou aeronave;
IX – afastamento do lar ou outro local de convivência com a vítima;
X – proibição de ausentar-se da comarca ou do País;
XI – comparecimento periódico em juízo;
XII – proibição de se aproximar ou manter contato com pessoa determinada;
XIII – suspensão do registro de arma de fogo e da autorização para porte;
XIV – suspensão do poder familiar;
XV – liberdade provisória. (SUPRESSÃO DESTE INCISO)
Art. 543. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá:
I – relaxar a prisão ilegal;
II – converter a prisão em flagrante em preventiva, fundamentadamente, quando presentes os seus pressupostos legais; ou
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III – arbitrar fiança ou aplicar outras medidas cautelares mais adequadas às circunstâncias do caso.
IV – conceder liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação. (SUPRESSÃO DESTE INCISO)
Art. 561. O juiz, verificando ser impossível ao réu prestar a fiança, por motivo de insuficiência econômica, poderá conceder-lhe liberdade [provisória], observados todos os demais compromissos do termo de fiança. (SUPRESSÃO DA EXPRESSÃO ENTRE COLCHETES)
Art. 589. O investigado ou acusado poderá ser obrigado a comparecer pessoalmente em juízo para informar e justificar suas atividades, na periodicidade fixada pelo juiz, bem com a comparecer aos atos processuais a que for convocado (acréscimo da parte final).
Art. 597. Não se aplica o disposto no artigo 147, caput, quando o réu, cientificado pessoalmente da obrigação de comparecimento periódico em juízo, muda-se do endereço fornecido nos autos sem comunicar ao juízo, ainda que a cautela pessoal tenha sido efetivada antes da citação do réu. (N.R.)
Para ajustar o Livro III do Projeto ao sistema acusatório, melhor definindo os papéis
dos sujeitos processuais e conferindo maior eficiência e coerência à atividade persecutória, nos
moldes definidos pela Constituição de 1988, impõe-se modificar o parágrafo único do artigo 513, que
passaria a exibir a seguinte redação:
Art. 513. (...)
Parágrafo único. Durante a fase de investigação, a decretação depende de requerimento do Ministério Público, salvo se a medida substituir a prisão ou outra cautelar anteriormente imposta, podendo, neste caso, ser aplicada de ofício pelo juiz.
VI. Propõem-se, ainda, as alterações a seguir propostas são secundárias, tendo como finalidade apenas dar maior precisão técnica ao Projeto, ou o seu aperfeiçoamento à luz das exigências de um processo cada vez mais compatível com a ordem constitucional vigente.
Art. 517. As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, nas hipóteses e condições previstas neste Livro.
Parágrafo único. A escolha será orientada pelos parâmetros da adequação, da vedação de excesso e da proporcionalidade em sentido estrito, atentando-se o juiz para as exigências cautelares do caso concreto, tendo em vista a natureza e as circunstâncias do crime.
A título de justificativa, a mudança na redação desse dispositivo corrige confusão terminológica relativa aos subprincípios ou máximas do princípio da proporcionalidade, quais sejam, a adequação ou idoneidade (da medida cautelar, in casu), a necessidade, subsidiariedade ou proibição de excesso, e a proporcionalidade em sentido estrito, termos que estavam sobrepostos na redação do Projeto.
Art. 538. Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
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II – é perseguido ou encontrado, logo após, pela autoridade, pela vítima ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração;
Parágrafo único. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência. (SUPRESSÃO DESTE PARÁGRAFO)
A explicação materializada no parágrafo único do artigo 538 é totalmente dispensável, visto que não há qualquer dissidência doutrinária ou jurisprudencial quanto à ocorrência de flagrante nos crimes permanentes. Polêmica há, sim, quando se trata de crime habitual, e nem por isso o Projeto cuidou de regular a situação, para dizer sob quais circunstâncias caberia a autuação em flagrante do autor.
Art. 541. Observado o disposto no art. 533, dentro em 24 (vinte e quatro) horas depois da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas.
§1º O advogado ou defensor público que tiver acompanhado o interrogatório a pedido do preso receberá cópia integral do auto, e poderá solicitar à autoridade policial que conduza imediatamente o preso à presença do juiz competente, para vistoria pessoal, se houver sinais de que o preso foi vítima de coação física ilegal, ao ser preso ou interrogado.
§2º No mesmo prazo de 24 (vinte e quatro) horas, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas.
A inserção, no § 1º do artigo 541, da possibilidade de condução imediata do preso à presença do juiz competente, consagra um direito do preso já positivado no artigo 7º, item 5 do Decreto 678/92 (Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
Tal providência resultará em freio para inibir a prática de tortura, tendo em vista o natural receio, por parte de agentes de segurança pública, de que a visualização do preso pela autoridade judiciária revele a violência empregada, além do necessário, para a efetivação da prisão do suspeito. Com isso também, se permite à autoridade judiciária dispor de maior segurança para avaliar a possibilidade de imposição ao preso de uma das medidas cautelares a que alude o artigo 521, em face do que preceitua o artigo 543 do Projeto.
Art. 564. Antes de ser arbitrada a fiança pelo juiz, o Ministério Público, no prazo máximo de 24 horas, se manifestará sobre a concessão ou não da medida cautelar, podendo a manifestação ser colhida por qualquer meio de comunicação.(N.R.)
Não se justifica privar o Ministério Público, titular exclusivo da ação penal, da
possibilidade de ser ouvido sobre o cabimento de fiança, se não foi o próprio a requerê-la.
Decerto que a louvável intenção do Projeto foi a de tornar mais célere a prestação
jurisdicional, quando se trata de providência que implicará a soltura de quem está preso
cautelarmente. Todavia, a importância do ato também há de ser vista sob a ótica do órgão a quem a
Constituição da República, além de outorgar a titularidade da ação penal, incumbiu de velar pela
ordem jurídica e pelos interesses da sociedade e também da vítima da infração penal.
Ainda que, na redação do Projeto, se dê ao Ministério Público a possibilidade de vista
dos autos “a fim de requerer o que julgar conveniente”, pode não mais surtir efeito tal providência,
além do que a observância da regra da bilateralidade de audiência aumenta a chance de total acerto
da decisão judicial, pois será fruto da ponderação de todos os interesses em disputa, igualmente
tutelados pelos respectivos titulares.
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Algumas observações finais sobre as medidas cautelares se fazem necessárias.
Primeiramente, preocupa-nos a possibilidade de a autoridade policial ser autorizada, como previsto
no artigo 540, § 6º do Projeto, a deixar de efetuar a prisão em flagrante diante da aparente
existência de conduta coberta por causa excludente de ilicitude. Entendemos que, sendo a prisão em
flagrante imediatamente comunicada à autoridade judiciária, à Defensoria Pública e ao Ministério
Público, não se justifica outorgar à autoridade policial a decisão sobre a liberdade do autuado.
Também nos preocupa o disposto no artigo 515 do Projeto, que, seguramente, teve
como pano de fundo o princípio da homogeneidade entre a prisão cautelar e a prisão-pena
(proporcionalidade em sentido estrito). A justificativa é plausível, mas esbarra em situações
concretas de absoluta necessidade da cautela, como ocorre, v.g., nos casos de violência doméstica,
em que a prisão provisória pode se mostrar como a única alternativa cautelar para assegurar a
necessária proteção da vítima da agressão, ainda que a pena a ser eventualmente infligida ao
agressor seja quantificada em alguns meses de privação de liberdade ou mesmo substituída por
restritiva de direitos.
Assim, julgamos que a função cautelar da prisão não pode ser descaracterizada ao
condicionar-se sua aplicação – sempre regida por critérios de excepcionalidade, é evidente – a
aspectos relativos à sanção cabível para o crime, sob pena de vincular a prisão processual à
magnitude da pena, conferindo um caráter material à privação da liberdade cautelar, que passaria,
assim, a funcionar, de fato, como pena antecipada.
Quanto às medidas cautelares reais, há erro de redação na parte final do art. 609, I, pois
ao invés de “crime desobediência” deve ser “crime de desobediência”. Não se compreende a razão
pela qual na hipótese de indisponibilidade de bens (medida mais drástica e com requisitos de
cognição mais superficiais) a medida poderá durar por 120 dias até o ajuizamento da ação penal (art.
605), mas no seqüestro (medida menos drástica e com requisitos de cognição mais profundos) a
medida durará por apenas 60 dias até o ajuizamento da ação penal (art. 613, I). Sugerimos o prazo de
120 dias para ambas as situações, mesmo porque é possível que já exista prova da origem ilícita dos
bens mais ainda seja necessária alguma diligência adicional para o ajuizamento da ação penal.
Para as garantias à reparação civil, o projeto afasta a legitimidade do Ministério Público
para formular o pedido de hipoteca legal ou arresto, conforme hoje previsto no art. 142, nas
hipóteses de interesse da Fazenda Pública ou a vítima for pobre. No projeto a iniciativa fica restrita à
vítima (art. 616) ou a Fazenda Pública respectiva (art. 623). A alteração está de acordo com o perfil
constitucional do Ministério Público. A disciplina da indisponibilidade de bens, do seqüestro, da
hipoteca legal e do arresto está adequada.
62
Livro IV – Das Ações de Impugnação (art. 627 a art. 663)
O Projeto inova, em relação ao atual CPP e em aspectos formais, por reunir no Livro IV
os institutos da revisão e do habeas corpus. Ademais, regula em linhas gerais o mandado de
segurança em matéria criminal, talvez a principal novidade no tópico em exame.
Entretanto, há pouco a se dizer em relação a esses institutos.
No que diz respeito à revisão, objeto do Capítulo I, não houve praticamente qualquer
modificação substancial, limitando-se o projeto, num ou noutro ponto, a atualizar a redação dos
dispositivos, agora numerados de 627 a 634.
A novidade aqui introduzida diz respeito à possibilidade de proposição da revisão pelo
Ministério Público, mantido ainda assim o espírito do instituto, o qual somente se volta ao
abrandamento da situação do réu: alteração da desclassificação da infração, absolvição, modificação
da pena ou anulação do processo.
No mais, só cabe mencionar que algumas exceções à indenização que pode ser pleiteada
em desfavor do Estado foram retiradas, sem que, todavia, a supressão do texto importe qualquer
alteração de monta: o dolo do agente evidentemente suprime o direito à indenização; a menção à
acusação privada cede em face da própria sistemática adotada pelo projeto de eliminar a ação penal
privada (salvo a subsidiária em caso de inércia do MP).
Não obstante, não parece haver motivo bastante para não se avançar rumo ao
estabelecimento da revisão pro societas. Embora merecendo previsão mais rigorosa que evidencie o
caráter excepcional da medida, há hipóteses em que se justifica a revisão em desfavor do acusado,
v.g.¸quando se utiliza de documento falso para afirmar a sua morte e assim obter a extinção da
punibilidade.
Ademais, entende-se que em processos de competência do Tribunal do Júri, a decisão
que considera a procedência da revisão somente poderá conduzir à anulação do processo, de sorte a
que outra decisão seja proferida, o que assegurará a soberania das decisões do Júri.
Nesse diapasão, buscou-se sistematizar a revisão pro societas com o acréscimo de
parágrafo único ao artigo 627 e com adequação do artigo 632, nos seguintes termos:
Art. 627 [...]
Parágrafo único. A revisão dos processos findos poderá dar-se ainda em desfavor do réu absolvido na hipótese de sentença absolutória fundada em exames ou documentos comprovadamente falsos.
Art. 632 [...]
§ 1º. Na revisão pro reo não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.
§2º A revisão do processo de competência do Tribunal do Júri somente poderá determinar a sua anulação.
63
Já em relação ao Habeas Corpus, objeto do Capítulo II, o Projeto tentou dar um
tratamento mais ordenado ao instituto, distribuindo a matéria entre quatro seções que, em linhas
gerais, mantêm a mesma disciplina do atual CPP.
Há, contudo, algumas modificações que se pretendeu implantar, na esteira do
anunciado na Exposição de Motivos, com vistas a restringir o habeas corpus somente a hipótese de
ilegalidade da prisão, cuja eficácia, contudo, somente será dado comprovar ao longo do tempo a
partir da orientação dos tribunais.
Nessa linha, percebe-se que o artigo 636 efetivamente buscou restringir as hipóteses de
impetração do HC, o que o fez substituindo a expressão “coação” pela expressão “prisão” e, quando
necessário, esclarecendo que o cabimento pressupõe a prisão (caso do inciso I: “quando não houver
justa causa para a prisão ou para a sua decretação”).
Ademais, expressamente veda a impetração quando houver recurso com efeito
suspensivo, o que, segundo parte da doutrina pátria, não constitui óbice nos termos do atual CPP.
No tocante à competência, houve atualização do CPP vigente para adequar a legislação
à Constituição de 19988 e, ademais, prever expressamente as hipóteses de direcionamento às
Turmas Recursais. Do mesmo modo, de forma harmônica, previu a competência do Juiz das
Garantias realizados no curso da investigação.
De regra, manteve-se igualmente o procedimento já estabelecido no atual código,
acrescendo-se a previsão de impetração por termo, junto à serventia judicial (art. 639, § 2º), bem
como a concessão de alvará de soltura por meio eletrônico ou qualquer outro meio (art. 642, § 5º).
Nesse passo, considerada a realidade prática, sugere-se modificação aditiva a esse dispositivo, para
assegurar a necessidade de verificação da autenticidade como providência prévia à soltura do
paciente:
Art. 642. *…+
*…+
§ 5º Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido por meio eletrônico, ou por via postal, ou por outro meio que dispuser, adotadas as medidas necessárias para a comprovação de sua autenticidade.
A regra do parágrafo único do artigo 640, noutro viés, está a merecer modificação
supressiva, não se justificando, pela simples desobediência, a imediata colocação em liberdade do
paciente, sem outra motivação e sem que se perquiram previamente os motivos que ensejaram o
descumprimento da determinação judicial. Note-se, inclusive, que o comando do caput do artigo em
questão refere-se à hipótese de não concessão de cautela liminar, o que já evidenciaria a maior
gravidade dos fatos ou, quando menos, a menor plausibilidade do pleito. Assim, melhor estaria o
Projeto de Lei prevendo:
Art. 640. *…+
Parágrafo único. Em caso de desobediência, o juiz encaminhará cópias do ocorrido ao Ministério Público para a apuração do ocorrido.
64
Inova-se na previsão do procedimento em 2º grau, com a conferência expressa de prazo
de 48 (quarenta e oito) horas para que a autoridade impetrada preste as informações necessárias.
Todavia, suprimiu-se a referência à possibilidade de dispensa de informações, sendo desejável a
previsão expressa dessa faculdade quando o magistrado verificar a desnecessidade de outra
providência instrutória, como, aliás, ocorre em relação ao mandado de segurança (artigo 658 do
Projeto de Lei). Sugere-se, pois, a seguinte emenda aditiva:
Art. 644. Se a petição contiver os requisitos do art. 639, e sendo necessário, serão requisitadas as informações por escrito [...]
Outra modificação ao Projeto que se entende apropriada guarda relação com a
manifestação do Ministério Público nos procedimentos em 1º grau, mantendo-se harmonia com o
procedimento do Habeas Corpus em 2ª instância. Nesse sentido, sugere-se emenda modificativa ao
artigo 642, caput:
Art. 642. A autoridade apontada como coatora será notificada para prestar informações no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após o que, colhida a manifestação do Ministério Público no mesmo prazo, decidirá o juiz fundamentadamente também nesse prazo.
*…+
Há previsão de recurso de agravo, em dez dias, da decisão do relator que negar ou
conceder liminarmente a ordem.
No que se refere ao mandado de segurança, objeto do Capítulo III, parece-nos que bem
andou a comissão de juristas ao regular o instituto, seguindo em linhas gerais o que os tribunais já
sustentavam sobre o tema. Especialmente no momento em que se busca restringir o habeas corpus,
várias outras possibilidades de lesão de direitos podem ser efetivamente levadas a conhecimento do
Poder Judiciário por meio do mandamus.
O cabimento do mandado de segurança pressupõe a impossibilidade de manejo de
habeas corpus ou habeas data, vedada a tentativa de conferir efeito suspensivo a recurso.
De igual modo, prevê-se regramento harmônico com a Súmula 267 do Supremo Tribunal
Federal (não cabimento quando houver recurso com efeito suspensivo), mas sabe-se que esse
enunciado em vários casos já foi afastado pelos tribunais. O mesmo se diga em face da Súmula 268
(não cabimento em face de decisão judicial transitada em julgado).
Interessante anotar a possibilidade de concessão liminar da segurança quando “a
ilegalidade ou abuso do poder confrontarem com súmula ou jurisprudência dominante” do STF, do
STJ ou do próprio tribunal, passível de correção por meio de agravo, mas a dicção do art. 655 parece
levar à compreensão de que somente nesses casos haveria a concessão de liminar. Assim, deverá ser
eliminada qualquer restrição à compreensão de que, também noutras hipóteses de preenchimento
dos requisitos das medidas cautelares, poderá ser deferida a liminar:
Art. 655. O juiz ou o relator poderá deferir cautela liminar ou conceder a segurança, especialmente quando a ilegalidade ou abuso de poder confrontarem com súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e do próprio tribunal.
65
Além de prever o cabimento do mandado de segurança, o Projeto estabelece
procedimento similar ao do habeas corpus, mas seria interessante e de se esperar que o instituto em
apreço merecesse sistematização mais detalhada, com a mesma divisão de seções ou, ao menos, que
se previsse a competência para conhecimento da impetração.
66
Livro V – Das Relações Jurisdicionais com Autoridade
Estrangeira (art. 664 a art. 674)
No que se refere às relações jurisdicionais com a autoridade estrangeira, o Projeto, nas
disposições gerais, repete expressão anacrônica e vazia de sentido, hoje consagrada no art. 781 do
atual Código. Nesse ponto, sugere-se mudança de redação, para que o enunciado legal seja
consentâneo com o sentido normativo do preceito. Nesse ponto, convém dizer que a própria
Constituição abandonou a redação que menciona “a ordem pública e os bons costumes” como
requisitos à homologação, a teor da modificação operada pela Emenda Constitucional 45, de 2004,
na redação dos artigos 102 e 105 da Carta Política. Além disso, propõe-se redação propositiva, com
descrição de hipótese condicional, de modo a se evitar a redação em forma negativa.
Art. 665. As sentenças estrangeiras serão homologadas e as cartas rogatórias serão cumpridas desde que em conformidade com as disposições de ordem pública do direito pátrio.
O regime da carta rogatória não apresenta modificações no Projeto. Sugere-se, contudo,
redação distinta ao § 2.º do art. 668, apenas para observância da ordem direta na enunciação da
frase.
Art. 668. Omissis.
*…+
§2.º A carta rogatória será remetida pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça aos presidentes dos tribunais, a fim de ser encaminhada ao juiz competente.
§3.º Cópia da carta rogatória permanecerá na secretaria do Superior Tribunal de Justiça.
*…+
Art. 670. O despacho que conceder o exequatur marcará, para o cumprimento da diligência, prazo razoável, que poderá ser excedido, havendo justa causa, que será consignada em ofício dirigido ao presidente do Superior Tribunal de Justiça, juntamente com a carta rogatória.
Também o regime de homologação das sentenças estrangeiras não sofre substancial
modificação no Projeto. Porém, também aqui se faz necessário ajuste na redação. Propõe-se o
seguinte:
Art. 672. A sentença penal estrangeira será homologada, desde que a aplicação da lei brasileira produza na espécie as mesmas consequências e concorram os seguintes requisitos:
I – atendimento às formalidades externas necessárias, segundo a legislação do país de origem;
II – observância da competência do juízo e da regularidade da citação, segundo a legislação do país de origem;
III – o trânsito em julgado da sentença penal estrangeira ou situação de definitividade equivalente, segundo a legislação do país de origem;
IV – autenticação pelo consulado brasileiro;
67
V – tradução realizada por tradução pública.
Na redação do art. 673 do Projeto, faz-se necessário igualmente ajuste, para contemplar
a hipótese de compromisso de reciprocidade, quando não houver acordo de extradição formalizado
entre o Brasil e o país onde proferida a sentença penal estrangeira. Dessa forma, a hipótese prevista
no § 1.º do mesmo artigo se limitará a tratar da hipótese em que o país em que proferida a sentença
penal estrangeira não tiver acordo de reciprocidade ou acordo extradicional.
Art. 673. O procurador-geral da República, sempre que tiver conhecimento da existência de sentença penal estrangeira, emanada de Estado que tenha com o Brasil tratado de extradição ou acordo de reciprocidade e que haja imposto medida de segurança pessoal que deva ser cumprida no Brasil, pedirá ao Ministro da Justiça providências para obtenção de elementos que o habilitem a requerer a homologação da sentença.
68
Livro VI – Disposições Finais (art. 675 a art. 682)
O Projeto, no que diz respeito à legislação penal substantiva, promove modificações
relevantes. Ao modificar o art. 97 do Código Penal, o Projeto colhe o ensejo para positivar o
entendimento já consolidado na jurisprudência de que a imposição de medida de segurança não
poderá se prolongar por tempo superior ao da pena máxima cominada ao crime ensejador da
prolação da chamada sentença de absolvição imprópria.
Além disso, adianta o termo inicial de interrupção do prazo prescricional para a data de
propositura da ação penal, em lugar do atual critério, que é o do recebimento da denúncia, de sorte
a bem tutelar o interesse social na efetividade da intervenção penal do Estado.
É de ver, contudo, que se faz necessário, até mesmo para assegurar harmonia em face
de tal modificação, que se opere igual mudança no que dispõe o art. 110, § 2.º, do Código Penal.
Com efeito, diante da mudança operada no art. 117 do Código Penal, a mesma razão subjacente de
tal alteração impõe igual mudança, de sorte que a redação do § 2.º do art. 110 do Código Penal passe
a consignar, em lugar da expressão “recebimento”, a expressão “propositura” em relação à ação
penal. Além disso, com o fim da ação penal de iniciativa exclusivamente privada, convém promover a
retirada da expressão “queixa” do mesmo dispositivo legal.
Assim, a redação do art. 675 do Projeto passaria a ser assim:
Art. 675. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a vigorar com as seguintes modificações e acréscimos:
“Art. 97. ..............................................................................................
§1.º A internação, ou tratamento ambulatorial, perdurará enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a recuperação do inimputável, não podendo, entretanto, superar o tempo previsto para a pena máxima cominada.
..................................................................................................... (NR)”
“Art. 110. ..............................................................................................
§ 1.º ..............................................................................................
§ 2º A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à da propositura da denúncia. (NR)”
“Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I – pela propositura da ação penal, desde que recebida a denúncia;
..................................................................................................... (NR)”
Art. 129-A. Os crimes de lesão corporal leve (art. 129, caput) e de lesão corporal culposa (art. 129, §6.º) procedem-se mediante representação da vítima.
No que se refere à ação penal, o Projeto leva ao Código Penal a exigência de
representação da vítima para a promoção da ação penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão
69
corporal culposa. Assim, no que se refere ao crime de lesão corporal praticada em situação de
violência doméstica, a ação penal passa a ser incondicionada.
Com efeito, mantida a redação do § 10.º do mesmo art. 129 do Código Penal, vê-se a
conjugação de tipos de delitos distintos – na dicção da doutrina, há distinção entre os chamados
delitos-tipos ou tipos básicos e os chamados tipos de delito ou tipos derivados – no que se refere à
previsão da lesão corporal leve e a lesão corporal em situação de violência doméstica.
Dessarte, o Projeto amplia a opção político-criminal trazida pela Lei 11.340/06 de tornar
de ação penal pública incondicionada o processamento dos crimes de lesão corporal praticadas em
situação de violência de gênero, para que todos os casos de lesões corporais em situação de
violência doméstica – consoante a circunstância descrita no § 9.º do art. 129 do Código Penal – sejam
processados por ação penal pública incondicionada.
Ainda a respeito da ação penal, a uniformização promovida pelo Projeto parece
recomendar seja dado tratamento legislativo à ação penal nos casos de crime contra o patrimônio de
pessoas idosas símile aos demais casos. Assim, sugere-se que o Projeto traga cláusula de revogação
expressa tanto do inciso III do art. 183 do Código Penal quanto do disposto no art. 95 da Lei 10.741,
de 1.º de 2003. Ao final, pois, confira-se a redação proposta para o art. 682 do Projeto.
O art. 678 do Projeto traz mandamento dirigido ao legislador estadual e federal (no caso
da Justiça Federal e da Justiça do Distrito Federal e eventuais territórios), para adequação da
legislação atinente às normas de substituição do magistrado, para resguardo da figura do juiz das
garantias.
Já o art. 679 traz regra clara, de modo a afastar eventuais dúvidas sobre direito
intertemporal, para a incidência do mandamento legal de reexame obrigatório das decisões que
impõem ou mantêm prisão preventiva.
Também o art. 680, em boa hora, traz acertada previsão de direito intertemporal, para
adequação das ações penais em curso à extinção da ação penal de iniciativa exclusivamente privada.
O Projeto, certamente orientado de modo a permitir ampla discussão e divulgação de
suas disposições, bem assim a realização dos necessários ajustes à sua vigência, prevê período de
vacatio legis de 6 (seis) meses.
Ademais, o Projeto, com acerto, adéqua à sua visão as previsões do diploma legal
atinente ao processamento de ações e recursos nos Tribunais Superiores, para retirar da Lei 8.038/90
as previsões ali constantes sobre matéria processual penal. Faz o mesmo em relação às previsões
processuais penais veiculadas pelas Leis 9.099/95 (juizados especiais), 7.960/89 (prisão temporária),
9.296/96 (interceptações telefônicas) e 10.054/00 (identificação criminal). Sugere-se a seguinte
redação ao art. 682:
Art. 682. Revogam-se o Decreto-Lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941, o inciso III do art. 183 do Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, a Lei n.º 7.960, de 21 de dezembro de 1989, os arts. 30 a 32 da Lei n.º 8.038, de 28 de maio de 1990, os arts. 60 a 92 da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, a Lei n.º 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei n.º 10.054, de 7 de dezembro de 2000 e o art. 95 da Lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003.
70
SSÍÍNNTTEESSEE DDAASS AALLTTEERRAAÇÇÕÕEESS PPRROOPPOOSSTTAASS
Art. 14. É facultado ao investigado, por meio de seu advogado ou de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificar fontes de prova em favor de sua defesa.
Parágrafo único. A autoridade responsável pela investigação decidirá fundamentadamente acerca dos requerimentos mencionados no caput.
Art. 15. Omissis.
*…+
VIII – decidir acerca da manutenção da prisão, em caso de continuidade das investigações e
observando-se o disposto no parágrafo único deste artigo;
X - [supressão];
*…+
Parágrafo único. Estando o investigado preso, o juiz das garantias poderá, mediante
requerimento do Ministério Público, prorrogar a duração da prisão por período de 10 (dez) dias, após
o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será revogada.
Art. 26. Omissis.
*…+
VI – representar ao Ministério Público acerca da prisão preventiva ou temporária, bem como
sobre os meios de obtenção de prova que exijam pronunciamento judicial;
VII - *…+;
VIII – encaminhar ao Ministério Público os registros de todas as ocorrências policiais.
Art. 32. Omissis:
§ 2º. Se o investigado estiver preso, o inquérito policial deve ser concluído no prazo de 10 (dez)
dias, podendo ser prorrogado na forma do art. 26, § único.
§ 3º. Caso a investigação não seja encerrada no prazo previsto no § 2º deste artigo, a prisão
será revogada, exceto na hipótese de prorrogação autorizada pelo juiz das garantias, para os fins do
disposto no parágrafo único do art. 15.
Art. 46. Omissis:
*…+
71
§ 2º Nos crimes de que trata o caput, deste artigo, em que a lesão causada seja de menor
expressão econômica, ainda que já proposta a ação, a conciliação entre o autor do fato e a vítima
implicará a extinção da punibilidade.
Art. 54. Omissis:
I – tiver funcionado seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II – *…+;
III – *…+;
IV – ele próprio ou seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Art. 55. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si cônjuges, companheiros ou parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
Art. 56. Omissis:
I – *…+;
II – se ele, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III – se ele, seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV – *…+;
V – *…+;
Parágrafo único. O juiz, a qualquer tempo, poderá afirmar a sua suspeição por quaisquer razões de foro íntimo, caso em que justificará os motivos junto aos órgãos correcionais da magistratura.
Art. 59. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
Art. 63. O interrogatório constitui meio de defesa e meio de prova do investigado ou acusado e será realizado na presença de seu defensor.
Art. 65. Antes do interrogatório, o investigado ou acusado será informado:
I – do inteiro teor dos fatos que lhe são imputados ou, estando ainda na fase de investigação, dos elementos de informação então existentes;
72
[...]
Art. 66. Omissis.
[...]
§4.º Os direitos previstos nos incisos IV e V do art. 65 referem-se à segunda parte do interrogatório.
Art. 69. Quando o interrogando quiser confessar a autoria da infração penal, a autoridade indagará se o faz voluntariamente.
Art. 73. Omissis.
*…+
§ 2.º Omissis.
*…+
II – viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade, quando estiver preso ou outra circunstância pessoal ou por qualquer outra impossibilidade verificada pelo juiz;
Art. 77. Omissis.
*…+
§3.º O recurso do assistente se limitará ao reconhecimento da autoria e da existência do fato criminoso.
Art. 79. A vítima, ou, as pessoas legitimadas a ingressar como assistentes, sem ampliar a matéria de fato constante da denúncia, poderá, no prazo de 10 (dez) dias, requerer a recomposição civil do dano moral causado pela infração, nos termos e nos limites da imputação penal, para o que será notificado após o oferecimento da inicial acusatória.
*…+
Art. 89. Omissis.
*…+
V – ser comunicada:
*…+
b) da conclusão do inquérito policial;
c) do oferecimento da denúncia e da possibilidade de pedir indenização pelos danos sofridos, na forma do art. 79.
d) *…+
e) *…+
*…+
73
XI – obter do autor do crime a reparação dos danos causados, assegurada a assistência de advogado para essa finalidade;
*…+
§ 4º Os agentes públicos deverão se submeter à capacitação permanente com o fim de se sensibilizar para as necessidades das vítimas e reconhecer vulnerabilidades, com especial atenção às discriminações de raça, classe social, gênero, orientação sexual e outras.
Art. 95. Considera-se praticada em detrimento dos interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, além das hipóteses previstas em lei, a infração penal lesiva a bens ou recursos que, por lei ou por contrato, estejam sob administração, gestão ou fiscalização destas entidades.
§1.º Inclui-se na competência jurisdicional federal a infração penal que tenha por fundamento a disputa sobre direitos indígenas.
*…+
Art. 96. [...]
§3.º Nas demais hipóteses, quando os atos de execução forem praticados em lugares diferentes, será competente o foro da consumação ou, em caso de tentativa, o do último ato de execução.
[...]
Art. 120. Admitido o incidente, o relator requisitará informações por escrito ao Tribunal de Justiça, à Procuradoria-Geral de Justiça e ao Governo do Estado onde ocorreu a grave violação dos direitos humanos.
*…+
Art. 121. Findo o prazo para apresentação de informações, ainda que estas não tenham sido prestadas, os autos serão encaminhados ao Procurador-Geral da República, que se manifestará no prazo de 10 (dez) dias, e seguidamente serão conclusos ao relator que, no prazo de 15 (quinze) dias, pedirá dia para julgamento.
Art. 138. *…+.
§ 1º. Em caso de comarca contigua a citação poderá ser feita por mandado.
Art. 139. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juízo processante, será citado mediante precatória.
Parágrafo único. A precatória indicará:
I – o juízo deprecado e o juízo deprecante;
II – a sede da jurisdição de um e de outro;
III – o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV – o juízo do lugar, bem como o prazo para a resposta escrita e a advertência mencionada no inciso VI do art. 138.
74
Art. 140. A precatória será devolvida ao juízo deprecante, independentemente de traslado, depois de lançado o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juízo deprecado.
§ 1º Verificado que o réu se encontra em território sujeito a jurisdição de outro juízo, a este remeterá o juízo deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.
§ 2º Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, aplicar-se-á o disposto no art. 145.
Art. 141. Se houver urgência, a Precatória, que conterá em resumo os requisitos enumerados no art. 139, poderá ser expedida por meio eletrônico, ou por meio que dispuser, adotadas as medidas necessárias para a comprovação da sua autenticidade.
Art. 144. Se o réu não for encontrado no endereço por ele fornecido, ou nele já intimado anteriormente, ou se não conhecido seu paradeiro, será citado por edital, com prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único: A citação ainda será feita por edital:
I – quando inacessível, em virtude de epidemia, de guerra, ou por qualquer motivo de força maior, o lugar em que estiver o réu;
II – quando for incerta a pessoa que tiver de ser citada.
Art. 145. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida no Código de Processo Civil.
Art. 147. Se o acusado, citado por edital, não apresentar resposta escrita, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a oitiva de testemunhas como a produção de quaisquer outras provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar quaisquer das medidas cautelares previstas no art. 521.
*…+.
§ 3º. A suspensão do prazo prescricional obedecerá o disposto no art. 109 do CPP.
Art. 151. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devem tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto na Seção anterior.
*…+
§ 5º. A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o § 1º.
Art. 153. O descumprimento das disposições legais ou constitucionais que tenham por objeto matéria relativa ao processo determinará a invalidade dos respectivos atos, nos limites e extensão previstas neste Código.
Art. 170. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
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[...]
Art. 183. O Presidente, o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado, os membros do Congresso Nacional, os Governadores de Estados e do Distrito Federal e os respectivos secretários de Estado, os Prefeitos, os deputados estaduais e distritais, os membros do Poder Judiciário, os membros do Ministério Público da União, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.
[...]
Art. 184. A testemunha que morar fora da comarca será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes desse ato de expedição.
[...]
Art. 189. [...]
§2.º Não havendo salas ou equipamentos técnicos adequados, nem profissional capacitado para a mediação que se requer, o juiz solicitará a elaboração de laudo psicossocial por perito especialmente nomeado para esse fim, facultado às partes a apresentação de quesitos.
Art. 194. A acareação será admitida entre acusados, entre o acusado e testemunha, entre o acusado e a vítima, entre testemunhas, entre testemunha e vítima e entre vítimas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
[...]
Art. 195. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra que esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Subsistindo a discordância, se o juiz entender conveniente e não importar em retardamento ao processo, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente.
[...]
Art. 201. Sempre que possível, a vítima será qualificada e perguntada sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.
§ 1. Se, intimada para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, a vítima poderá ser conduzida à presença da autoridade.
§ 2o A vítima será comunicada dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem.
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§ 3o As comunicações à vítima deverão ser feitas no endereço por ela indicado, admitindo-se, por opção da vítima, o uso de meio eletrônico.
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para a vítima.
§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar a vítima para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado.
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem da vítima, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.”
[...]
Art. 218. A busca pessoal será determinada quando houver fundada suspeita de que alguém oculte os objetos que possam servir de prova de infração penal.
Art. 219. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.
[...]
Art. 221. Proceder-se-á à busca domiciliar, quando houver indícios suficientes de que pessoa que deva ser presa ou objetos que possam servir de prova de infração penal encontrem-se em local não livremente acessível ao público.
Art. 222. A busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de mandado, exceto no caso de já existir mandado de prisão regularmente expedido pela autoridade competente.
[...]
Art. 238. O requerimento ou a representação será distribuído e autuado em separado, sob segredo de justiça, devendo o juiz competente, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, proferir decisão fundamentada, que atentará para o preenchimento, ou não, de cada um dos requisitos previstos no artigo anterior, indicando, se a interceptação for autorizada, o prazo de duração da diligência.
[...]
Art. 246. Não havendo requerimento de diligências complementares ou após a realização das que tiverem sido requeridas, o juiz intimará o acusado para que se manifeste, fornecendo-lhe cópia identificável do material produzido exclusivamente em relação à sua pessoa.
[...]
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Art. 248. Finda a instrução processual, dar-se-á ciência a todas as pessoas que tiveram conversas telefônicas interceptadas, tenham ou não sido indiciadas ou denunciadas, mediante prévia manifestação do Ministério Público, salvo se o juiz entender, por decisão fundamentada, que a providência poderá prejudicar outras investigações em curso.
Art. 253. Omissis
Parágrafo único. Considera-se inepta a denúncia ou a queixa subsidiária que não preencher os requisitos do art. 258, ou, quando da deficiência no seu cumprimento, resultar em violação à ampla defesa.
Art. 254. Omissis.
§ 2º O Ministério Público poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
Art. 254. Omissis.
§ 7º Se não for aceita a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
§8º A suspensão do processo não se aplica no âmbito da Justiça militar.
§9º O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
Art. 256. Omissis
III – [supressão]
IV – As sentenças condenatórias e absolutórias.
Art. 257. O procedimento será comum ou especial.
§ 3º Em caso de concurso de crimes, quando a soma das penas máximas cominadas em abstrato aos delitos ultrapasse o patamar de 8 (oito) anos, o procedimento será o ordinário.
Art. 258. A denúncia, observados os prazos previstos no art. 51, conterá a exposição dos fatos imputados, com todas as suas circunstâncias, de modo a definir a conduta do autor, a sua qualificação pessoal ou esclarecimentos plenamente capazes de identificá-lo e a qualificação jurídica do crime imputado.
Art. 261. Omissis
§1º O mandado de citação deverá conter cópia integral da denúncia.
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§2º Se desconhecido o paradeiro do acusado, proceder-se-á à sua citação por edital ou com hora certa, nos termos do art. 145 deste Código.
Art. 263. Estando presentes as condições da ação e os pressupostos processuais, o juiz receberá a acusação e, não sendo o caso de absolvição sumária ou de extinção da punibilidade, designará dia e hora para a instrução ou seu início em audiência, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, determinando a intimação do órgão do Ministério Público, do acusado e de seu defensor ou procurador e das testemunhas que deverão ser ouvidas.
Art. 265. Na audiência, proceder-se-á à tomada de declarações da vítima, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
Art. 267. Encerrada a instrução, as partes apresentação suas alegações finais orais, no prazo de 20 minutos, prorrogáveis por igual tempo, seguindo-se a prolação de sentença, em audiência, podendo, excepcionalmente, tendo em vista a complexidade especial da causa ou o excessivo número de réus, os debates orais ser convertidos em alegações finais escritas, com prazo de 5 dias para cada parte, caso em que a sentença também será escrita.
Art. 268. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença, salvo se estiver convocado, licenciado, promovido, aposentado ou afastado por qualquer motivo, inclusive férias.
Art. 269. Do ocorrido em audiência será lavrado termo, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
Art. 270. Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado ou réu, vítima e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de estenotipia, gravação magnética, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.
Art. 271. Até o início da audiência a que se refere o art. 265, cumpridas as disposições do rito ordinário, o Ministério Público e o acusado, por seu defensor, poderão requerer, em conjunto, a aplicação imediata de pena nos crimes cuja sanção máxima cominada não ultrapasse 8 (oito) anos, podendo o juiz proferir sentença condenatória, desde que:
I – haja confissão total, em relação aos fatos imputados na peça acusatória, por meio de termo assinado pelo réu e seu defensor ou por interrogatório designado para este fim;
II – a pena seja aplicada no mínimo previsto na cominação legal;
§1º Aplicar-se-á, quando couber, a substituição da pena privativa da liberdade, nos termos do disposto no art. 44 do Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, bem como a suspensão condicional prevista no art. 77 do mesmo Código;
§2o A pena poderá ser diminuída em até 1/3 (um terço) da pena mínima prevista na cominação legal, se as circunstâncias pessoais do agente e a menor gravidade das consequências do crime o indicarem.
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§3o O acusado estará isento das despesas e custas processuais.
Art. 272. Não havendo acordo entre acusação e defesa, o processo prosseguirá na forma do rito ordinário.
Art. 274. Os Juizados Especiais Criminais Estaduais e Federais, órgãos da Justiça comum, serão criados pela União, no Distrito Federal e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.
Art. 278. A competência territorial do Juizado Especial Criminal será determinada pelo lugar em que foram praticados os atos de execução da infração penal, consoante o disposto no art. 96.
Art. 281. A citação será pessoal, por edital ou com hora certa, e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. – [supressão]
Art. 287. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima, se, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade de composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de medida alternativa não privativa de liberdade.
Art. 291. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de medida alternativa restritiva de direitos ou multas.
§ 1º: [supressão]
Art. 291. Omissis.
*…+
§ 6º Descumprida a transação penal por parte do autor do fato, os autos serão remetidos ao Ministério Público para formação de seu convencimento jurídico sobre o fato, podendo ser oferecida denúncia.
Art. 291. Omissis.
*…+
§ 7º O prazo prescricional será suspenso a partir da homologação da transação penal, até a eventual revogação do benefício ou a declaração de extinção da punibilidade ante o reconhecimento do cumprimento do acordo.
§ 8º Cumprida a transação penal, o Juízo declarará extinta a punibilidade do autor do fato, ouvido previamente o Ministério Público.
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Art. 295. O juiz determinará a condução coercitiva de quem deva comparecer, se for necessário.
Parágrafo único. Não sendo possível a condução coercitiva, o ato será adiado.
Art. 296. Omissis.
§ 3º. [suprimir].
Art. 303. Omissis.
*…+
§ 2º. Se desconhecido o paradeiro do acusado, proceder-se-á a sua citação por edital, contendo o teor resumido da acusação, para que compareça ao tribunal, em 5 (cinco dias), onde terá vista dos autos pelo prazo de 10 (dez) dias, a fim de apresentar a resposta prevista neste artigo.
Art. 303. Omissis.
§ 3º Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 227 da Lei n. 5.689, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Art. 305. Recebida a peça acusatória, o relator poderá determinar a expedição de carta de ordem para a instrução do processo, que obedecerá, no que couber, ao previsto para o procedimento ordinário.
Art. 308. Omissis.
I – A acusação e a defesa terão, sucessivamente, nessa ordem, prazo de 1 (uma) hora para sustentação oral, assegurados ao assistente 15 minutos.
Art. 309. [...]
§ 3º Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, no âmbito penal e cível, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito) para cada fato, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
Art. 311. [...]
Parágrafo único. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.
Art. 313. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações da vítima, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate.
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§1º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz.
§ 2º As provas mencionadas no caput serão produzidas em uma só audiência, salvo quando o elevado número de testemunhas recomendar o seu fracionamento, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§3º Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o art. 408.
§4º As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), devendo constar da ata o pedido e o resumo de seu fundamento.
§5º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e para a defesa de cada um deles será individual.
§6º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
§7º Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
§8º A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.
§9º Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.
Art. 320. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da denúncia, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave, sendo-lhe vedada a modificação dos fatos imputados.
Art. 322. [...]
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do § 1º do art. 151;
Art. 323. [...]
§ 1º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo fato superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público para que decida sobre a apresentação de aditamento à denúncia no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 2º Oferecido aditamento à denúncia, observar-se-á, no que couber, os §§ 1º, 3º e 4º do art. 408.
Art. 327. [...]
§ 1º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas na parte final do § 3º do art. 328.
Art. 333. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, a vitima, se for possível, as testemunhas e o perito, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando-se, no que couber, o disposto no art. 322 e seu parágrafo único.
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Art. 336. [...]
Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão transcritos os arts. 338 a 348.
Art. 348. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis os dispositivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equiparação de responsabilidade penal prevista no art. 347.
Art. 349. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.
Art. 350. [...]
I – Marido e mulher;
*…+
Art. 360. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, a condenará ao pagamento de multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica dela.
Art. 363. [...]
§ 2º Se a testemunha declarada como imprescindível não for encontrada no local indicado, a parte deverá ser comunicada com antecedência mínima de 3 (três) dias, para que a apresente independentemente de intimação.
Art. 369. Verificando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.
Art. 371. [...]
§ 1º A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.
[...]
§ 3º Sendo insuficientes os critérios do art. 331, a precedência no julgamento obedecerá a ordem de maior proximidade da prescrição da pretensão punitiva e, em seguida, da maior idade do acusado.
[...]
Art. 378. [...]
§ 5º É vedado à defesa apresentar tese nova na tréplica.
83
Art. 379. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de meia hora para a réplica e outro tanto para a tréplica.
Art. 380. [...]
I – aos fundamentos da decisão de pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, ou aos motivos determinantes do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado.
Art. 384. Encerrados os debates, o Conselho de Sentença será questionado sobre a matéria de fato admitida pela pronúncia ou pelas decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e a que tiver sido alegada pela defesa em plenário.
Art. 385. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:
I – a materialidade do fato;
II – a autoria ou participação;
III – se o acusado deve ser absolvido;
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§ 2º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo, e tendo sido deduzido pedido fundamentado, será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§ 3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
§ 4º Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido antes do quesito absolutório, se for o caso.
§ 5º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§ 6º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas.
Art. 387. Não havendo dúvida a ser esclarecida, os jurados deverão se reunir em sala especial.
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Art. 388. A seguir, e na presença dos jurados, do Ministério Público, do assistente, do querelante, do defensor do acusado, do escrivão e do oficial de justiça, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não.
Art. 391. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria de votos.
Parágrafo único. A contagem dos votos de cada quesito se encerrará quando obtida a maioria.
Art. 393. Omissis.
[...]
d) observará as demais disposições do art. 406;
Art. 398. [...]
XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.
Art. 412. O juiz, ao proferir a sentença condenatória:
I – mencionará as circunstâncias agravantes definidas na lei penal, desde que tenham sido alegadas pela acusação.
II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto na Lei Penal.
Art. 414. O querelante ou o assistente, bem como a vítima, será intimado pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 (dez) dias, afixado no lugar de costume.
Art. 415. *…+.
*…+
§ 2º. O prazo do edital será de 90 (noventa) dias.
*…+
§ 5º. O Ministério Público será intimado pessoalmente.
Art. 431. *…+
§ 1º. Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a declinatória, o feito será remetido ao juízo competente.
Art. 437. No caso de apreensão de cosia adquirida com os proventos da infração, aplica-se o disposto no art. 615 e seu parágrafo único.
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Art. 438. Sem prejuízo do disposto nos arts. 436 e 615, decorrido o prazo de 90 (noventa) dias, após transitar em julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for o caso, a perda em favor da União, das coisas apreendidas (art. 91, II, a e b do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal) e ordenará que sejam vendidas em leilão público.
Art. 440. Os instrumentos do crime, cuja perda em favor da União for decretada, e as coisas confiscadas, de acordo com o disposto no art. 91, II a e b, do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, serão inutilizados ou recolhidos, se houver interesse na sua conservação.
Art. 441. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
§ 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase de investigação preliminar, mediante representação ao juiz das garantias.
Art. 443. Se os peritos concluírem que o acusado era inimputável, o processo prosseguirá com a presença do curador.
Art. 444. No caso do artigo anterior o juiz poderá adotar as medidas cabíveis necessárias para evitar os riscos de reiteração do comportamento lesivo, sem prejuízo das providências terapêuticas indicadas no caso concreto.
Art. 455. (...)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput deste artigo nas hipóteses em que a comunicação ao investigado ou acusado torne ineficaz a medida objeto da decisão recorrida.
Art. 482.
(...)
§ 3º No tribunal, o relator responderá monocraticamente ao requerimento, nas hipóteses de não conhecimento ou de improvimento dos embargos, devendo, nos demais casos, levar os embargos para julgamento, em mesa, na sessão subseqüente do órgão colegiado competente, independentemente de intimação.
Art. 507. No agravo de instrumento e no recurso de apelação, ressalvado o caso de requerimento expresso de concessão de efeito suspensivo, os autos serão remetidos ao Ministério Público, independentemente de despacho, para manifestação em 10 (dez) dias.
§ 1º. O relator, ou órgão instituído por norma de organização judiciária, decidirá sobre a concessão ou não do efeito suspensivo, bem como acerca da necessidade de manutenção ou substituição das medidas cautelares, com comunicação da decisão ao juízo e posterior encaminhamento dos autos ao Ministério Público.
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§ 2º Se o titular da ação penal oferecer manifestação no segundo grau, em sentido contrário aos interesses da defesa, será esta cientificada do ato, podendo, no mesmo prazo assinado ao Ministério Público, também manifestar-se.
§ 3º A comunicação a que alude o parágrafo anterior ocorrerá juntamente com a ciência da data da sessão de julgamento do recurso.
§ 4º Na Sessão de Julgamento será assegurada ao acusado a assistência de um defensor, caso não esteja presente o advogado constituído.
Art. 513. (...)
Parágrafo único. Durante a fase de investigação, a decretação depende de requerimento do Ministério Público, salvo se a medida substituir a prisão ou outra cautelar anteriormente imposta, podendo, neste caso, ser aplicada de ofício pelo juiz.
Art. 517. As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, nas hipóteses e condições previstas neste Livro.
Parágrafo único. A escolha será orientada pelos parâmetros da adequação, da vedação de excesso e da proporcionalidade em sentido estrito, atentando-se o juiz para as exigências cautelares do caso concreto, tendo em vista a natureza e as circunstâncias do crime.
Art. 521. São medidas cautelares pessoais:
I – prisão provisória;
II – fiança;
III – recolhimento domiciliar;
IV – monitoramento eletrônico;
V – suspensão do exercício de função pública ou atividade econômica;
VI – suspensão das atividades de pessoa jurídica;
VII – proibição de frequentar determinados lugares;
VIII – suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor, embarcação ou aeronave;
IX – afastamento do lar ou outro local de convivência com a vítima;
X – proibição de ausentar-se da comarca ou do País;
XI – comparecimento periódico em juízo;
XII – proibição de se aproximar ou manter contato com pessoa determinada;
XIII – suspensão do registro de arma de fogo e da autorização para porte;
XIV – suspensão do poder familiar;
XV – liberdade provisória. (SUPRESSÃO DESTE INCISO)
Art. 538. Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
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II – é perseguido ou encontrado, logo após, pela autoridade, pela vítima ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração;
Parágrafo único. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência. (SUPRESSÃO DESTE PARÁGRAFO)
Art. 541. Observado o disposto no art. 533, dentro em 24 (vinte e quatro) horas depois da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas.
§1º O advogado ou defensor público que tiver acompanhado o interrogatório a pedido do preso receberá cópia integral do auto, e poderá solicitar à autoridade policial que conduza imediatamente o preso à presença do juiz competente, para vistoria pessoal, se houver sinais de que o preso foi vítima de coação física ilegal, ao ser preso ou interrogado.
§2º No mesmo prazo de 24 (vinte e quatro) horas, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas.
Art. 543. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá:
I – relaxar a prisão ilegal;
II – converter a prisão em flagrante em preventiva, fundamentadamente, quando presentes os seus pressupostos legais; ou
III – arbitrar fiança ou aplicar outras medidas cautelares mais adequadas às circunstâncias do caso.
IV – conceder liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação. (SUPRESSÃO DESTE INCISO)
Art. 544. A prisão preventiva poderá ser decretada para:
I – impedir que a liberdade do indiciado ou acusado perturbe gravemente a ordem pública ou econômica, quer pela probabilidade de reiteração criminosa, quer pelas circunstâncias da prática ilícita ou pela gravidade de suas conseqüências;
II – assegurar a aplicação da lei penal, ante o concreto receio de fuga do indiciado ou acusado;
III – evitar a ocultação, alteração, perturbação ou eliminação das fontes de prova relevantes para a comprovação dos fatos objeto da imputação.
Art. 556. Efetuada a prisão em flagrante, o preso deverá ser conduzido, sem demora, à presença da autoridade judiciária, que decidirá, motivadamente, sobre o cabimento e o valor da fiança, se for o caso.
Parágrafo único. Não havendo na comarca, por qualquer motivo, juiz competente para a providência prevista no caput, a fiança poderá ser concedida pela autoridade policial, nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos.
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Art. 561. O juiz, verificando ser impossível ao réu prestar a fiança, por motivo de insuficiência econômica, poderá conceder-lhe liberdade [provisória], observados todos os demais compromissos do termo de fiança. (SUPRESSÃO DA EXPRESSÃO ENTRE COLCHETES)
Art. 564. Antes de ser arbitrada a fiança pelo juiz, o Ministério Público, no prazo máximo de 24 horas, se manifestará sobre a concessão ou não da medida cautelar, podendo a manifestação ser colhida por qualquer meio de comunicação.(N.R.)
Art. 589. O investigado ou acusado poderá ser obrigado a comparecer pessoalmente em juízo para informar e justificar suas atividades, na periodicidade fixada pelo juiz, bem com a comparecer aos atos processuais a que for convocado (acréscimo da parte final).
Art. 597. Não se aplica o disposto no artigo 147, caput, quando o réu, cientificado pessoalmente da obrigação de comparecimento periódico em juízo, muda-se do endereço fornecido nos autos sem comunicar ao juízo, ainda que a cautela pessoal tenha sido efetivada antes da citação do réu. (N.R.)
Art. 609. Sucedendo redução indevida dos bens declarados indisponíveis, seja por ação, seja por omissão do investigado ou acusado, o juiz avaliará a necessidade de:
I – decretação da prisão preventiva ou de outras medidas cautelares pessoais ou reais, quando presentes os pressupostos legais, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência;
[...]
Art. 613. O sequestro será levantado:
I – se a ação penal não for intentada no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contado da data em que ficar concluída a diligência;
*…+
Art. 627. [...]
Parágrafo único. A revisão dos processos findos poderá dar-se ainda em desfavor do réu absolvido na hipótese de sentença absolutória fundada em exames ou documentos comprovadamente falsos.
Art. 632. [...]
§ 1º. Na revisão pro reo não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.
§2º A revisão do processo de competência do Tribunal do Júri somente poderá determinar a sua anulação.
Art. 640. *…+
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Parágrafo único. Em caso de desobediência, o juiz encaminhará cópias do ocorrido ao Ministério Público para a apuração do ocorrido.
Art. 642. A autoridade apontada como coatora será notificada para prestar informações no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após o que, colhida a manifestação do Ministério Público no mesmo prazo, decidirá o juiz fundamentadamente também nesse prazo.
*…+
§ 5º Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido por meio eletrônico, ou por via postal, ou por outro meio que dispuser, adotadas as medidas necessárias para a comprovação de sua autenticidade.
Art. 644. Se a petição contiver os requisitos do art. 639, e sendo necessário, serão requisitadas as informações por escrito [...]
Art. 655. O juiz ou o relator poderá deferir cautela liminar ou conceder a segurança, especialmente quando a ilegalidade ou o abuso de poder confrontarem com súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e do próprio tribunal.
Art. 665. As sentenças estrangeiras serão homologadas e as cartas rogatórias serão cumpridas desde que em conformidade com as disposições de ordem pública do direito pátrio.
Art. 668. Omissis.
*…+
§2.º A carta rogatória será remetida pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça aos presidentes dos tribunais, a fim de ser encaminhada ao juiz competente.
§3.º Cópia da carta rogatória permanecerá na secretaria do Superior Tribunal de Justiça.
*…+
Art. 670. O despacho que conceder o exequatur marcará, para o cumprimento da diligência, prazo razoável, que poderá ser excedido, havendo justa causa, que será consignada em ofício dirigido ao presidente do Superior Tribunal de Justiça, juntamente com a carta rogatória.
Art. 672. A sentença penal estrangeira será homologada, desde que a aplicação da lei brasileira produza na espécie as mesmas consequências e concorram os seguintes requisitos:
I – atendimento às formalidades externas necessárias, segundo a legislação do país de origem;
II – observância da competência do juízo e da regularidade da citação, segundo a legislação do país de origem;
III – o trânsito em julgado da sentença penal estrangeira ou situação de definitividade equivalente, segundo a legislação do país de origem;
IV – autenticação pelo consulado brasileiro;
V – tradução realizada por tradução pública.
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Art. 675. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a vigorar com as seguintes modificações e acréscimos:
“Art. 97. ..............................................................................................
§1.º A internação, ou tratamento ambulatorial, perdurará enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a recuperação do inimputável, não podendo, entretanto, superar o tempo previsto para a pena máxima cominada.
..................................................................................................... (NR)”
“Art. 110. ..............................................................................................
§ 1.º ..............................................................................................
§ 2º A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à da propositura da denúncia. (NR)”
“Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I – pela propositura da ação penal, desde que recebida a denúncia;
..................................................................................................... (NR)”
Art. 129-A. Os crimes de lesão corporal leve (art. 129, caput) e de lesão corporal culposa (art. 129, §6.º) procedem-se mediante representação da vítima.
Art. 673. O procurador-geral da República, sempre que tiver conhecimento da existência de sentença penal estrangeira, emanada de Estado que tenha com o Brasil tratado de extradição ou acordo de reciprocidade e que haja imposto medida de segurança pessoal que deva ser cumprida no Brasil, pedirá ao Ministro da Justiça providências para obtenção de elementos que o habilitem a requerer a homologação da sentença.
Art. 682. Revogam-se o Decreto-Lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941, o inciso III do art. 183 do Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, a Lei n.º 7.960, de 21 de dezembro de 1989, os arts. 30 a 32 da Lei n.º 8.038, de 28 de maio de 1990, os arts. 60 a 92 da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, a Lei n.º 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei n.º 10.054, de 7 de dezembro de 2000 e o art. 95 da Lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003.