a transformaÇÃo da superfÍcie tridimesional … · de revisão bibliográfica a fim de orientar...

12
XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq 19 a 23 de outubro de 2015 A TRANSFORMAÇÃO DA SUPERFÍCIE TRIDIMESIONAL APLICADA A UM PROJETO DE DESIGN DE MODA Jéssica Piva Domeneghini Pós graduada em Design de superfície Unirriter [email protected] Camila konradt Pereira Mestre em Ciências sociais Unirriter [email protected] Resumo: O presente artigo tem como objetivo compreender o design aplicado à superfície tridimensional, explorando técnicas de modelagem e visando apresentar uma bolsa de mão que possa ser construída de forma artesanal ou industrial. Durante a pesquisa se explorou diferentes formas de desenvolvimento do produto, o estudo da superfície tridimensional por meio do drapping, além de testes com diferentes materiais para compreender o comportamento e a volumetria alcançada por cada matéria-prima dentro do processo industrial. Também se propõe a avaliar viabilidade dos processos do feito a mão, dentro da gama dos procedimentos possíveis e dos métodos industriais presentes no mercado. Busca-se compreender os conceitos relacionados ao tema através da revisão bibliográfica como suporte para a metodologia de projeto. Também se aplicou a combinação de metodologias para geração de módulos e tratamento de superfície agregado ao desenvolvimento de coleção para embasar todos os eixos explorados ao longo da pesquisa. A soma de todas as análises orientadas pelas metodologias, experimentos e aplicações realizados ao longo do estudo resulta em uma mini coleção de bolsas de mão com uma superfície diferenciada, focada no mercado de moda. 1 Introdução Esse artigo se propõe a apresentar os resultados de pesquisa e projeto desenvolvidos como trabalho de conclusão do programa de pós-graduação em Design de Superfície UniRitter no primeiro semestre de 2015. O intuito foi desenvolver de forma artesanal protótipos com superfície tridimensional, que possam ser transformados em uma mini-coleção de moda e, posteriormente, avaliar a viabilidade de sua produção em escala industrial. O produto que tomamos como base para o tratamento da superfície é uma bolsa feminina de mão. A escolha se deu após a análise de forma e função de objetos passíveis à aplicação de superfície. Ao analisarmos o mercado de moda, podemos observar que as bolsas e acessórios comumente assumem papel funcional e decorativo no código de vestimenta de quem os usa, assim sendo, as alterações em sua superfície não comprometem sua função, mas sugerem diferenciação e agregam valor ao produto final. O principal objetivo do estudo é buscar estabelecer uma relação entre os processos artesanais e industriais através do design de superfície tridimensional.

Upload: vuongquynh

Post on 26-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

A TRANSFORMAÇÃO DA SUPERFÍCIE TRIDIMESIONAL APLICADA A UM

PROJETO DE DESIGN DE MODA

Jéssica Piva Domeneghini Pós graduada em Design de superfície Unirriter [email protected]

Camila konradt Pereira Mestre em Ciências sociais Unirriter

[email protected]

Resumo: O presente artigo tem como objetivo compreender o design aplicado à superfície tridimensional, explorando técnicas de modelagem e visando apresentar uma bolsa de mão que possa ser construída de forma artesanal ou industrial. Durante a pesquisa se explorou diferentes formas de desenvolvimento do produto, o estudo da superfície tridimensional por meio do drapping, além de testes com diferentes materiais para compreender o comportamento e a volumetria alcançada por cada matéria-prima dentro do processo industrial. Também se propõe a avaliar viabilidade dos processos do feito a mão, dentro da gama dos procedimentos possíveis e dos métodos industriais presentes no mercado. Busca-se compreender os conceitos relacionados ao tema através da revisão bibliográfica como suporte para a metodologia de projeto. Também se aplicou a combinação de metodologias para geração de módulos e tratamento de superfície agregado ao desenvolvimento de coleção para embasar todos os eixos explorados ao longo da pesquisa. A soma de todas as análises orientadas pelas metodologias, experimentos e aplicações realizados ao longo do estudo resulta em uma mini coleção de bolsas de mão com uma superfície diferenciada, focada no mercado de moda.

1 Introdução

Esse artigo se propõe a apresentar os resultados de pesquisa e projeto desenvolvidos como trabalho de conclusão do programa de pós-graduação em Design de Superfície UniRitter no primeiro semestre de 2015. O intuito foi desenvolver de forma artesanal protótipos com superfície tridimensional, que possam ser transformados em uma mini-coleção de moda e, posteriormente, avaliar a viabilidade de sua produção em escala industrial. O produto que tomamos como base para o tratamento da superfície é uma bolsa feminina de mão. A escolha se deu após a análise de forma e função de objetos passíveis à aplicação de superfície. Ao analisarmos o mercado de moda, podemos observar que as bolsas e acessórios comumente assumem papel funcional e decorativo no código de vestimenta de quem os usa, assim sendo, as alterações em sua superfície não comprometem sua função, mas sugerem diferenciação e agregam valor ao produto final.

O principal objetivo do estudo é buscar estabelecer uma relação entre os processos artesanais e industriais através do design de superfície tridimensional.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

2

Durante o processo de construção deste projeto foram utilizadas diferentes tipos de análises para compreender os conceitos relacionados ao design de superfície tridimensional. Aplicaram-se também técnicas de drapping1 para que seja possível a construção da volumetria proposta. A correlação de um produto feito de forma artesanal em um modelo de produção manual de baixo volume, mas que, posteriormente, possa vir a ser produzido em escala industrial com fabricação em grande quantidade, são as diretrizes que orientam o desenvolvimento do projeto. Também se busca a compreensão da viabilidade do objeto artesanal quando inserido em um processo de grande escala, percebendo a necessidade do fim da dicotomia entre os processos já citados.

Como resultante desse trabalho obtiveram-se três peças completas, além de amostras com testes, cujos processos serão analisados ao longo deste trabalho.

2 Métodos

A metodologia orienta o designer no desenvolvimento do projeto, guiando os processos teóricos e práticos. Para construção deste trabalho foi empregada a metodologia de revisão bibliográfica a fim de orientar o desenvolvimento de projeto de superfície tridimensional, criado de forma artesanal para ser aplicado em um processo industrial. Essa pesquisa permeia diferentes áreas do processo de design de produto. Fez-se uso da revisão bibliográfica seguindo os conceitos de Prodanov (2009) que apresenta normas técnicas e métodos referentes ao planejamento de investigação científica, tal como sua apresentação, com vistas à compreensão dos principais conceitos que devem guiar o desenvolvimento do projeto. Para o desenvolvimento projetual, optou-se por combinar três autores, usando uma metodologia para cada etapa do processo, isoladamente ou combinadas, metodologia de projeto de produto (BONSIEPE, 1984), desenvolvimento de produto de moda (CHOKLAT, 2012) e design da superfície (RÜTHSCHILLING, 2008).

A investigação do problema proposta por Bonsiepe (1984) engloba uma lista de análises múltiplas, tais como: análise diacrônica, sincrônica, estrutural, funcional e morfológica, ferramentas que auxiliam na investigação do problema proposto. Os resultados desta primeira etapa foram utilizados para observar a viabilidade em se estabelece relações entre processos industriais e artesanais por meio de superfície tridimensional, seguida da criação e geração de alternativas. Por fim, busca-se solucionar o problema, de modo que seja possível gerar alternativas por meio do brainstorming2, métodos de transformação3 e

1 Técnica de modelagem que permite desenvolver formas sobre manequim. (CHOKLAT,2012).

2 Tempestade de ideias em tradução livre, processo criativo de geração de ideias.

3 De acordo com Bonsiepe (1984) o método serve para aumentar a variedade de soluções, utilizando

casos similares em outras áreas, como na natureza ou submetendo os componentes a transformações, tais como adaptar casos paralelos, modificar, aumentar, minimizar, reduzir, substituir ou combinar fatores.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

3

criação de variantes4 , ou outros caminhos, gerando assim subsídios para um esboço do produto final.

A metodologia de pesquisa e desenvolvimento proposta por Choklat (2012) também auxilia nas etapas específicas de projeto de produto de moda. A autora sugere três fases no processo de design (1) inspiração, que é a porção mais abstrata do processo e envolve conceitos, movimentos e influências, que servirão de guia para a temática da coleção; posteriormente, temos a fase de (2) investigação, onde buscamos ampliar nosso repertório visual e imagético através da pesquisa investigativa, processo este que dará origem, posteriormente, ao moodboard5; a terceira etapa do processo consiste no (3) desenvolvimento dos designs do produto pode se dar a partir de diversas formas, dentre as listadas pela autora destacamos o drapping, através do qual podemos nos aproximar mais claramente da forma do objeto final deste projeto.

Uma vez que este projeto tem foco na superfície tridimensional é de extrema importância que façamos uso dos princípios básicos do design de superfície citados por Rüthschilling (2008) e que se compreenda os conceitas de repetição e módulo.

Uma superfície estampada é normalmente composta por repetição de módulos. O módulo é a unidade da padronagem, isto é, a menor área que inclui todos os elementos visuais que constituem os desenhos (RUTHSCHILLING, 2008). A autora Evelise Ruthschilling (2008) apresenta os sistemas de repetição como o processo que define o encaixe dos módulos em ambos os sentidos comprimento e largura. O encaixe é guiado por dois princípios: a continuidade, que consiste na sequência ordenada e interrupta proporcionando efeito contínuo na superfície; e a contiguidade, que preza pela harmonia visual entre um módulo e outro, agregando qualidade à superfície, pois desta forma o módulo desaparece e nos apresenta uma imagem visualmente contínua. Embora tenha como norte os conceitos citados anteriormente, o sistema de repetição pode apresentar variações, sendo elas: os sistemas alinhados, que variam a translação, rotação e reflexão; os sistemas não alinhados, que possibilitam o deslocamento de parte do módulo, além de englobar as aplicações dos alinhados e os sistemas progressivos, onde vemos uma mudança gradual do tamanho da célula, porém, seguindo uma expansão pré- determinada. Podemos ainda verificar a existência de um multimódulo, que surge a partir de um pequeno módulo repetido de diferentes formas.

Após a etapa de geração de alternativas por meio de esboços, o projeto foi desenvolvido primeiramente como um protótipo em diversos materiais maleáveis a fim de possibilitar testes e ajustes até que se chegue ao formato ideal.

Figura 1: Fluxograma da metodologia.

4 Conforme Bonsiepe (1984), serve para gerar possíveis soluções através da combinação de princípios

básicos do projeto. 5 Resumo visual da pesquisa, representa as ideias finais e determina o espírito final da coleção.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

4

Fonte: Elaborado pelos autores.

3 Design de superfície

A pesquisadora e designer Evelise Anicet Ruthschilling define que “As superfícies são objetos ou parte dos objetos em que o comprimento e a largura são medidas significantes superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhes conferir existência” (RUTHSCHILLING, 2008, pag.24). Complementarmente, Rubim (2004) explana a importância de pensar em superfícies contínuas, já que o design de superfície abrange diversas áreas, entre elas o segmento têxtil e a papelaria, campos onde se deve ter muita atenção ao projetar repetições e encaixes, assim visando a criação de um bom desenho.

Marjorie Gubert (2011) acrescenta que o design em sua prática tem como desenvolver de forma criativa um determinado conjunto de soluções, englobando aspectos técnicos e funcionais inseridos num processo produtivo e mercadológico. Também se faz uso de aspectos subjetivos, usando da linguagem visual e tátil, diante dos elementos compositivos (como cor, forma, a textura e o ritmo) considerando questões culturais, psicológicas e sociais, propondo assim um argumento estético à superfície.

A análise do conjunto de elementos sensoriais, visuais e táteis adicionada aos princípios de design de superfície se faz imprescindível para conduzir o processo de desenvolvimento da superfície, pois somente avaliando cada etapa pode-se compreender e gerir o processo produtivo com coerência.

4 Superfície tridimensional

Um objeto ou forma tridimensional é, em primeira análise, tudo o que nos cerca, ou nas palavras de Wong (2010, pg.138), “uma forma tridimensional é aquela em direção a qual podemos caminhar, da qual podemos nos afastar ou em torno da qual podemos andar, pode ser vista de diferentes ângulos e distância.” Assim como uma superfície tridimensional, pois esta é caracterizada por apresentar volume, textura e forma. A superfície também pode ser bidimensional como uma imagem ou pintura.

A modelagem de um protótipo de qualquer ordem pode ser desenvolvida por meio da construção tridimensional, no âmbito do desenvolvimento de produto de moda, seja na área de vestuário, bolsas ou de calçados, pode-se utilizar a técnica de moulage ou

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

5

drapping, definida como “... uma técnica que permite desenvolver [a] forma diretamente sobre um manequim técnico, o qual possui as medidas anatômicas do ser humano, ou mesmo sobre o próprio corpo” (PIRES, 2008, pag.341).

Chamamos de modelagem todo o processo a partir do qual gera-se um molde, uma representação bidimensional em tamanho real da superfície tridimensional (CHOKLAT, 2012). Um produto é composto por diversos moldes, os quando unidos corretamente geram o protótipo em tamanho real escalonado, de acordo com o objetivo ou etapa do processo de construção em que o projeto se encontra.

5 Design artesanato x processos industriais É importante compreendermos a essência da palavra artesanato, para estabelecer

parâmetros entre o que trataremos nesse estudo por processo artesanal e industrial. A definição feita pela Unesco em 1997 se refere a produtos artesanais como aqueles confeccionados por artesãos, sendo feitos totalmente a mão, com uso de ferramentas ou até mesmo por meios mecânicos, preservando a contribuição manual do artesão (BORGES, 2011).

Existem registros do uso de técnicas manuais aplicadas por artesãos desde os primórdios da humanidade, porém os processos foram gradativamente evoluindo e atualmente acabam por se mesclar à outras técnicas, caracterizando quase que um projeto do design. “O designer industrial se transformou no artesão dos tempos modernos, e a palavra design adquiriu um novo significado – “adaptação de um produto à produção em série” (DONDIS, 2007, pg. 211)”. Contrariando os indícios de que o artesanato poderia desaparecer com a chegada da globalização, observa-se um movimento contrário, o objeto passa a agregar outros valores além da função para a qual foi desenvolvido, como o calor humano, singularidade e pertencimento, valores esses presentes nos objetos produzidos artesanalmente (BORGES, 2011). Com essa relação cada dia mais próxima, o mercado de moda tem se especializado e a produção industrial vem apresentando grandes avanços tecnológicos. Esses novos processos industriais resultam num ciclo de produção cada vez mais veloz. A fabricação sendo mais ágil reflete numa redução do preço final do produto e instiga o mercado a apesentar novas estratégias (Feghali e Shmid,2008).

Para compreender o funcionamento da produção industrial, ou seja, uma produção em larga escala, recorremos à Lefteri (2009) que comenta que a tecnologia atual tem efeitos intensos não só nos materiais, mas também nos processos de produção, pois é possível produzir objetos com aparência de artesanais, embora sejam fabricados em uma linha de produção em série e não em um estúdio ou manualmente.

Dentre a gama de opções que o mercado oferece para que a produção se torne cada vez mais rápida buscou-se neste projeto um processo que pudesse reproduzir a forma artesanal, porém em escala industrial. (LEFTERI,2009), combinando esses

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

6

processos de produção com a temática da coleção, obtivemos peças com diferentes superfícies e volumetrias.

6 Problematização

Seguindo a metodologia projetual de Bonsiepe (1984), este projeto tem como intuito desenvolver uma mini coleção de bolsas de mão com diferencial estético, por meio de uma superfície tridimensional. O objetivo é agregar valor ao produto, usando de técnicas artesanais que possam também ser aplicadas na produção em grande escala. Ao longo da pesquisa foram feitas as análises, seguindo a metodologia de Bonsiepe(1984), para embasar a pesquisa.

De acordo com Feghali e Shmid (2008), produtos com aparência artesanal, ainda tem forte apelo junto ao consumidor final, sendo assim, foram utilizadas técnicas artesanais para criação dos objetos a serem desenvolvidos. Visto que o produto feito por meio artesanal tem um valor final maior e consequentemente é menos competitivo no mercado, este trabalho busca soluções para que o mesmo produto possa ser fabricado com o custo menor e volume de produção maior.

Considera-se que atualmente, com a tecnologia de injeção e conformação disponível no mercado é possível recriar o método artesanal, porém em escala industrial, otimizando o tempo de produção e o custo, que se torna menor (DONDIS,2007).

7 Pesquise inicial em Moda Para embasar este projeto e nortear o desenvolvimento de produto de forma mais assertiva e orientada para o consumidor final utilizou-se um guia de tendências. De acordo com Caldas (CALDAS, 2006, p.21-35), a noção de tendência está presente em toda parte na cultura contemporânea. Fala-se de tendência para quase tudo, o conceito é utilizado para compreender hábitos, estilos e formas de consumo, transitando entre campos tão diversos quanto a arquitetura, a moda e a economia. O aspecto mais utilizado desta tendência é aquele ligado à construção de uma visão de futuro, pois quanto mais complexa se torna a sociedade, maior a necessidade de planejamento, enfatiza o autor. O guia escolhido para este trabalho foi desenvolvido pela Usefashion, uma empresa de pesquisa de tendências, cujos relatórios são apresentadas através de um portal de acesso privado e de revistas segmentadas para cada nicho de mercado, como produtos, vitrines, arquitetura de lojas, varejo, entre outros.

Dentre as megatendências apresentadas pelo relatório da Usefashion para o inverno 2016 6 , a escolhida foi Rusticidade brasileira, que usa como fonte de inspiração a rusticidade e a riqueza de detalhes vinda da natureza, a fauna brasileira e a profusão de detalhes em contraponto com a simplicidade. O contraste destes aspectos traz autenticidade às peças e esse contexto serve como ponto de partida para a criação de

6 Relatório disponibilizado pela Equipe Usefashion, com coletânea de referências de megatendências, o documento

abrange diversas áreas, como arquitetura, moda e decoração.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

7

formas que trabalham a volumetria e os ângulos retos, as cores que tendem à uma gama de tons mais escuros e terrosos e diferentes texturas, para o desenvolvimento das peças.

Figura 2: Usefashion: Rusticidade brasileira.

Fonte: Desenvolvida pelos autores.

7.1Temática Ao iniciar o desenvolvimento deste projeto, buscou-se uma conexão entre as informações contidas nos guias de tendência e o desejo de transmitir a ideia de rusticidade, do artesanal. Essa conexão se estabeleceu aos observarmos a rusticidade das paisagens bucólicas da serra. Lá vemos a busca pelo novo e a preservação das origens convivendo em perfeita harmonia, como a tecnologia de um GPS que nos guia por trilhas na mata. A partir desse cenário delineou-se a temática central da coleção, Paradigma do Tempo, que reflete a rusticidade daquelas casinhas, não da matéria em estado bruto, mas daquela proveniente da ação do tempo sobre as coisas. Rusticidade simples dos trabalhos manuais, das paisagens campestres, desgastadas pelos anos transcorridos. A janela da casa esquecida no interior, as madeiras gastas pelas intempéries, tudo tem história, que cada pedaço daquele lugar traz na sua superfície.

Figura 3: Painel de inspiração e cartela de cores.

Fonte: Elaborado pelos autores.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

8

De acordo com os princípios de desenvolvimento de coleção dos quais nos fala CHOKLAT(2012), é importante que a cartela de cores seja definida observando- se o tema escolhido para o projeto. Por se tratar de uma coleção pequena se optou um número reduzido de cores. Em relação aos materiais, o mercado o oferece uma gama diversa de matérias primas, após uma breve pesquisa no mercado, encontramos couros com superfícies já tratadas, com espessuras diversas, porém optou-se por couro lisos, para evidenciar a forma aplicada no produto. 8 Desenvolvimento dos produtos O início do processo de desenvolvimento do produto passa pela coleta de inspirações e a delimitação delas, através do moodboard, de onde provêm as ideias para os primeiros esboços. No entanto “o desenvolvimento do design não deve ser sistemático; ele pode ser livre, com o exame de conceitos e a transformação desses conceitos em design. Isso permite que as ideias sejam levadas o mais longe possível”. (Choklat, 2012, pg.92). Nas figuras 5 e 6 (Apêndice B ) podemos observar os primeiros esboços (figura 5) e as primeiras alternativas de motivos geradas (figura6).

Figura 5: Painel dos esboços. Figura 6: Estudos de módulos.

Fonte: do autor Fonte: do autor

Dentre as alternativas geradas, foram selecionados três motivos para o desenvolvimento da coleção. Os motivos escolhidos deram origem aos módulos, que foram combinados de diversas formas nos testes de repetição. Os módulos foram confeccionados em madeira, para visualização da forma tridimensional, além de servirem posteriormente de suporte para a criação dos moldes. Para a criação dos moldes, os módulos em sua formação final foram forrados com fita crepe, que foi recortada, planificada e transferida para o papel. A forma final proveniente desta montagem deu origem à superfície tridimensional que compõe as bolsas. Esta peça foi combinada com as demais, que seguem o processo de modelagem plana de bolsas descrito por Dal Mas e Proença (2007). Cortamos os modelos no couro e testamos de diversas formas, no primeiro modelo escolhido, os módulos foram costurados à máquina e posteriormente as dobras foram vincadas utilizando o martelo. Já no segundo e terceiro modelos, seguindo o

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

9

processo descrito por Riba e Miró (2007), utilizamos as peças de couro umedecidas, e a união das partes foi feita utilizando-se fita crepe e cola. Como resultado destes testes, observamos que seriam necessários alguns ajustes no motivo para que o fechamento da bolsa fosse possível. Também foram necessários ajustes nas dimensões da forma, a fim de possibilitar os testes de produção industrial. Por fim, foram definidos os modelos das bolsas que receberiam cada forma tridimensional e seus detalhes internos.

Figura 8: Ciclo de desenvolvimento do módulo.

Fonte: do autor.

Durante o desenvolvimento prático dos testes, notou-se que seria necessário testar diferentes processos até chegar ao formato ideal. Um dos processos utilizados foi a usinagem controlada com o apoio de software CAD/CAM. Nele corta-se o material por meio de cabeçotes que giram e se deslocam em até seis direções, para esculpir distintas formas tridimensionais de maneira complexa, usando informações de um arquivo de digital em formato tridimensional. Outro processo utilizado foi a moldagem por compressão, onde é necessário ter um molde bipartido, com o positivo e negativo da forma final. O material escolhido é aquecido e em seguida prensado entre os moldes, conferindo a forma final à peça (LEFTERI, 2009).Os testes do processo industrial foram feitos no Laboratório de Design da Uniritter. O primeiro material testado foi o EVA com dublagem em neoprene, no teste de conformação a frio o resultado não foi satisfatório. Aquecemos a superfície e conformamos

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

10

novamente, desta vez, obtivemos o efeito tridimensional desejado na superfície, porém com altura inferior à projetada. No segundo teste, seguimos o mesmo processo descrito anteriormente, porém o material escolhido foi acetato. Na conformação a frio, o acetato foi prensado entre as formas, adquirindo o formato desejado, no entanto, algumas áreas formaram irregularidades na superfície. Já quando aquecida, em uma temperatura próxima a 200º, e prensada, observamos uma significativa melhora na aparência da superfície, também notamos que conformou mais facilmente, quase atingindo a altura projetada para o módulo. Por fim, o terceiro material testado foi o couro, diferentemente dos demais, neste testamos apenas a conformação à quente. Obtivemos um bom resultado, o couro conformou de forma satisfatória, ondulando visivelmente menos que o acetato nos contornos da forma, no entanto, a altura projetada para o módulo não foi obtida.

Figura 9: amostras de teste de conformação.

Fonte: do autor.

Reunindo todas as informações coletadas ao longo do processo de testes descrito anteriormente, foram confeccionadas as bolsas em sua forma final. Na figura 10 estão as representações dos desenhos técnicos e os matérias, já na figura 11 os resultados.

Figura 11: representação do desenho técnico.

Material: Couro Material: Couro Material: Couro

Forro: Cetim Forro: Cetim Forro: Cetim

Aviamento: Zíper Aviamento: Zíper Aviamento: Zíper

Fonte: Do Autor.

Eva Acetato Couro

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

11

Figura 11: resultado final

Fonte: Do Autor

9 Considerações finais Ao longo de todo o projeto e diante dos estudos e testes realizados, observamos que a reprodução em escala industrial de um processo que emula o fazer artesanal é estruturalmente possível, no entanto, julga-se necessário avaliar as possibilidades fabris disponíveis e desenhar um processo produtivo adequado, para que seja possível alcançar um resultado superior no produto final. Consideramos ainda que somente a partir da estruturação do processo seria possível estabelecer a viabilidade financeira dos projetos, este estudo não se propõe a avaliar este aspecto, uma vez que seu foco principal é a experimentação de processos. No entanto, abre-se uma possibilidade para expansão futura deste estudo. Do ponto de vista técnico, destaca-se a importância do correto dimensionamento das formas a serem aplicadas neste tipo de processo, conforme observamos durante os testes práticos, relevos com alturas demasiadas inviabilizam o processo, pois os materiais testados não sedem a ponto de se obter o resultado esperado. Para testar as formas propostas inicialmente, de alturas elevadas, seria necessário avaliar o processo de injeção, porém se tornou inviável devido ao alto custo de prototipagem. Avaliando este processo produtivo de conformação enquanto processo artesanal, observamos que o método proposto torna-se viável, porém apesar de apresentar um diferencial de mercado representado por seu apelo estética diferenciado, o produto final pode acabar tendo um alto valor de produção considerando a grande quantidade de horas de trabalho manual necessárias até que chegue ao objetivo necessário. Sob este aspecto, a produção em larga escala possibilita um menor valor final da peça. Apresentaram-se algumas limitações para o desenvolvimento dos protótipos ao longo do processo, o que tornou necessárias algumas adaptações dos métodos industriais planejados para serem usados inicialmente. Por se tratar de um estudo que tinha como objetivo testar hipóteses, não obtivemos apoio de empresas que dispunham dos equipamentos necessários para realização de melhores resultados, recorrendo assim aos laboratórios e processos disponíveis que mais se assemelhavam ao processo fabril final. Para estudos futuros, além do já mencionado, é possível ampliar a pesquisa, testando o processo em diversos materiais disponíveis no mercado ou mesmo buscando outros processos que possam atender aos objetivos do estudo.

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

12

Referências BONSIEPE, Guy. Metodologia experimental: desenho industrial. Brasília: Cnpq coordenação Editorial, 1984. BORGES, Adélia. Design + artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2011. CALDAS, Dário. Observatório de Sinais: Teoria e prática de pesquisa de tendências. Rio de Janeiro: Senac, 2004. CHATAIGNIER, Gilda. Fio a fio: moda e linguagem. São Paulo: Estação das Letras Editora, 2006. CHOKLAT, Aki. Design de sapatos; tradução Ilka Maria de Oliveira Santi. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012. COSTA, Dhora. História das bolsas. São Paulo: Matrix, 2010. DAL MAS, Salete; PROENÇA, Jerson. Modelagem de artefatos de couro. Bento Gonçalves, RS: Cep Senai Giuseppe Fasolo, 2007. DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual; Tradução Jefferson Luiz Camargo. 3° ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. FEGHALI, Marta; SHMID, Erika. (Org.). O ciclo da moda. Rio de Janeiro: Ed. Senac Rio, 2008. GUBERT, Lemos Marjorie. Design de interiores: a padronagem como elemento compositivo no ambiente contemporâneo. Porto Alegre 2011. Disponível em: www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/36398/000816063.pdf. Acesso em: dezembro de 2014. LEFTERI, Chris. Como se faz: 82 técnicas de fabricação para design de produtos; tradução Marcelo A. L. Alves. São Paulo: Editora Blucher, 2009. PIRES, Dorotéia Baduy .(Org). Design de moda - olhares diversos. São Paulo. 1º ed. Estação das letras. 2008. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani César de. Metodologia do trabalho científico. Novo Hamburgo: Feevale, 2009. RIBA, Maria Teresa Lladó i; MIRÓ, Eva Pascual i. O couro; tradução Claudete Soares. Lisboa: Editorial Estampa, 2007. RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. São Paulo. Edições Rosari, 2004. RUSTICIDADE brasileira. Usefashion, 03 mar. 2015. Disponível em: <http://www.usefashion.com/Categorias/ListaConteudos>. Acesso em: 22 mar. 2015. RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de superfície. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008. TREPTOW, Doris. Inventando moda: planejamento de coleção. 4 ed. Brusque: D. Treptow, 2007. WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho; tradução Alvamar Helena Lamparelli - 2° ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.