a Última chance - karen kingsbury.pdf

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  • Ellie tem quinze anos e um melhor amigo e amor chamado Nolan. Um dia antes de Ellie se mudar para o outro lado do pas com o pai, ela e Nolan escrevem cartas um para o outro e as enterram debaixo de um velho carvalho. O plano se reencontrar no mesmo lugar dali a onze anos para ler o que cada um escreveu. Agora, conforme a data se aproxima, muita coisa mudou. Ellie abandonou sua f e luta para criar a Bilha sozinha. Na correria do dia a dia, ela sempre encontra tempo para ver na TV seu antigo amigo Nolan, hoje um famoso jogador proBissional de basquete, cuja f em Deus conhecida pela nao inteira. O que poucos sabem que as perdas que ele sofreu na vida pesam em sua alma. Mesmo com toda fama e sucesso.Tanto para a desiludida Ellie quanto para o intenso Nolan, o reencontro mais do que uma promessa de adolescncia a ltima chance de descobrir se tarde demais para se entregar ao amor

  • 1Vero de 2002Sua me no voltou para casa para o jantar, pela terceira vez naquela semana.Essa foi a primeira pista que Ellie Tucker teve de que talvez seu pai estivesse certo. Talvez sua

    me estivesse fazendo algo to terrvel dessa vez que ameaasse a unio de sua famlia. E nada nemningum seria capaz de uni-los novamente.

    Ellie estava com quinze anos naquele vero quente e mido em Savannah, e a tarde de sexta-feiracorreu rapidamente. Seis horas viraram seis e meia, e ento ela se juntou ao pai na cozinha e o ajudoua preparar o jantar. Sanduches de atum com um novo pote de maionese, um pouco quente por estarno armrio da cozinha. Eles prepararam o jantar sem falar nada, a ausncia da me pesando nosilncio dos minutos que se passavam. No havia muita coisa na geladeira, mas seu pai achou umsaco de minicenouras e as colocou em uma tigela. Com a comida mesa, ele se sentou na cabeceira,e Ellie ao lado dele.

    O lugar em frente ao dela, onde sua me costumava se sentar, permaneceu gritantemente vazio. Vamos rezar. O pai de Ellie pegou sua mo e esperou vrias batidas do corao antes de

    comear. Senhor, obrigado por nossa comida e por nossas bnos. Ele hesitou. O Senhorsabe de todas as coisas. Revele a verdade, por favor. Em nome de Jesus, amm.

    A verdade? Ellie mal conseguia engolir os pedaos secos de seu sanduche. A verdade em relaoa qu? sua me? Ao motivo pelo qual ela no estava em casa, quando o consultrio mdico em quetrabalhava tinha fechado fazia uma hora? Nenhuma palavra foi dita durante a refeio, embora osilncio gritasse na mesa de jantar. Quando terminaram de comer, seu pai olhou para ela com osolhos tristes.

    Ellie, voc poderia lavar a loua, por favor? Ele se levantou e a beijou na testa. Vou parao meu quarto.

    Ela fez o que o pai pediu. Vinte minutos depois, ainda estava terminando de lavar a loua quandoouviu a me passar sorrateiramente pela porta da frente. Ellie olhou por cima do ombro, e os olharesdas duas se encontraram. Ultimamente, Ellie se sentia mais no papel de me, da forma como uma mese sente quando tem filhos adolescentes. Sua me estava com as roupas de trabalho cala preta ecamisa branca , como se o expediente tivesse acabado de terminar.

    Onde est o seu pai?Os olhos da me de Ellie estavam vermelhos e inchados, e a voz carregada. No quarto. A garota piscou, sem saber o que mais dizer.Sua me comeou a caminhar na direo do quarto, ento parou e se voltou novamente para Ellie. Desculpe. Seus ombros caram um pouco. Por perder o jantar. Ela soava como

    algum que Ellie no conhecia. Me desculpe.Antes que Ellie pudesse lhe perguntar onde tinha estado, sua me se virou e atravessou o

    corredor. Ellie conferiu as horas no relgio do micro-ondas. Sete e meia. Nolan tinha mais uma horano ginsio, mais uma hora fazendo cestas. Ento Ellie iria de bicicleta at a casa dele, como fazia

  • quase todas as noites. Especialmente naquele vero.Desde que seus pais tinham comeado a brigar.Ela secou as mos, foi at seu quarto e fechou a porta. Um pouco de msica e algum tempo com

    seu dirio, e ento Nolan estaria em casa. Ligou o rdio, e o som dos Backstreet Boys encheu o ar.Instantaneamente, ela abaixou um pouco o volume. Seu pai dissera que lhe tiraria o rdio se elaficasse ouvindo msica mundana. Ellie achava que mundano era uma questo de opinio, e a sua erade que a msica dos Backstreet Boys estava to prxima do cu quanto ela chegaria no futuroprximo.

    Os meninos estavam cantando sobre ser maior que a vida quando o primeiro grito pareceuchacoalhar a janela do quarto. Ellie deixou o rdio sem som e ficou em p num pulo. Por mais quehouvesse muita tenso entre seus pais ultimamente, nenhum dos dois jamais gritava. No assim. Seucorao bateu to alto a ponto de ela ouvir. Ento correu at a porta do quarto, mas, antes de chegarl, mais gritos ecoaram pela casa. Dessa vez ela conseguiu entender o que seu pai estava dizendo, osxingamentos horrveis que ele estava usando contra sua me.

    Da forma mais silenciosa possvel, Ellie atravessou sorrateiramente o corredor e cruzou a sala deestar para chegar mais prximo da porta do quarto dos pais. Outra onda de gritos, e agora ela estavaperto o suficiente para ouvir algo mais: sua me estava chorando.

    Voc vai arrumar suas coisas e ir embora daqui. Seu pai nunca soara daquele jeito, como seestivesse atirando balas a cada palavra que dizia. Ele no tinha terminado. No vou ficar com vocgrvida de um filho dele... e vivendo sob o meu teto! A voz dele parecia fazer tremerem as paredes. No vou aceitar isso!

    Ellie se apoiou na parede do corredor para no cair. O que estava acontecendo? Sua me estavagrvida? De outro homem? Ela sentiu o sangue sumir de sua face, e o mundo comeou a girar. Ascores, os sons e a realidade se misturaram, e ela achou que fosse desmaiar. Corra, Ellie... corrarpido! Ela ordenou que seu corpo se movesse, mas seus ps no seguiram o comando.

    Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, seu pai abriu a porta e olhou feio para ela, com arespirao ofegante.

    O que voc est fazendo a?A pergunta ficou parada no ar. Ellie olhou alm dele, para a me, sentada na cadeira do quarto

    com as mos na cabea. Levante-se, Ellie queria gritar. Fale para ele que mentira! Defenda-se, me!Faa alguma coisa. Mas sua me no fez e no disse nada.

    Os olhos de Ellie se voltaram rapidamente na direo do pai de novo. Ela tentou se afastar, sairdali o mais rpido possvel, mas tropeou e caiu para trs, apoiando-se com as mos estiradas nocho. Sentiu os pulsos doerem, mas se afastou ainda mais do pai, como um caranguejo escapando darede.

    Demorou muito para a expresso no rosto de seu pai se suavizar. Ellie. Me desculpe. Ele deu um passo na direo da filha. Eu no queria que... Voc no

    devia ter ouvido isso.E, naquele instante, Ellie soube de duas coisas. A primeira era que as palavras horrveis que seu

    pai tinha gritado pela casa eram verdadeiras. A segunda era que a vida como ela a conhecia estavaacabada. Jazia estilhaada, em pedaos, no carpete gasto do corredor, desfeita em um milho de

  • pedacinhos. Ela se arrastou e se ps de p. Ento virou o rosto para o outro lado. Eu... eu tenho que ir.Seu pai estava lhe dizendo algo sobre como isso era mais do que uma garota da idade dela

    poderia entender e que ela precisava voltar para o quarto e rezar, mas tudo que Ellie conseguia ouvirera seu corao espancando o peito. Ela precisava de ar, precisava respirar. Em um movimentodesesperado, saiu correndo em direo porta da frente. Um minuto depois, Ellie estava em suabicicleta, pedalando o mais rpido possvel naquela noite de vero.

    Ele ainda estaria no ginsio, mas no tinha problema. Ellie adorava ver Nolan jogando basquete.Adorava, estivesse o lugar cheio de alunos da Escola de Savannah ou estivessem apenas os dois e oeco da bola batendo no cho de madeira reluzente. A cada pedalada, ela tentava afastar a realidade desua mente, mas a verdade a sufocava como uma coberta molhada. Sua me tinha chegado tarde emcasa de novo, como vinha fazendo desde o incio da primavera. E hoje... hoje ela provavelmenteadmitira o que seu pai suspeitara o tempo todo.

    Sua me estava tendo um caso. E no era s isso: ela estava grvida.A verdade se revirava no estmago de Ellie e a sufocava, at que, por fim, ela largou a bicicleta

    no arbusto mais prximo e se rendeu dor que a consumia. Sentindo uma onda de repulsa, esvazioutudo o que tinha na barriga, at restar apenas a mgoa... Mgoa que ela sabia que no a deixariajamais.

    Exausta, Ellie se sentou no meio-fio e deixou que as lgrimas cassem. At ento, o choque haviamantido a tristeza em um canto de seu corao. Mas agora ela chorava tanto que mal conseguiarespirar. Sua me no amava seu pai, o que significava que tambm no a amava. Ela queria mais doque Ellie e o pai. No havia outra forma de ver a situao. A vergonha se somava mistura deemoes a me de Nolan nunca teria feito algo assim.

    Ellie ergueu a cabea para o cu que escurecia. Nolan. Ento secou o rosto e inspirouprofundamente. Precisava chegar at ele antes que ficasse tarde, precisava encontr-lo antes que elesasse do ginsio. Sua bicicleta era velha, mas isso no a impediu de chegar escola a tempo. O somda bola batendo no cho aliviou sua alma. Ela seguiu at a porta dos fundos e apoiou a bicicleta aolado da dele, na parede de tijolos.

    Nolan deixava a porta aberta para a brisa entrar. Ellie passou sorrateiramente pela entrada e sesentou na primeira fileira da arquibancada. Ele pegou a bola e olhou fixamente para ela, com osolhos danando e um sorriso nos lbios.

    Voc chegou cedo.Ela assentiu com um movimento de cabea. No confiava em sua voz, no quando tudo que queria

    fazer era chorar.Uma sombra de preocupao tomou conta do rosto bronzeado dele. Ellie? Voc est bem?Ningum a consolava tanto quanto ele, seu melhor amigo, Nolan Cook. Mas, por mais que ela

    desejasse seu conforto e sua compreenso, no queria que ele soubesse. No queria lhe contar porque estava chateada, pois, se fizesse isso, aquilo se tornaria verdadeiro. E no haveria como negar averdade uma vez que tivesse contado a histria a Nolan.

    Ele colocou a bola no cho e foi andando at ela. O suor escorria de sua testa, e a regata e o short

  • estavam ensopados. Voc estava chorando. Ele parou perto dela. O que aconteceu? Meus pais.Ela sentiu os olhos ficarem marejados e as palavras se afogarem em um oceano de tristeza. Mais brigas? . Das feias. Ahh, Ellie. A respirao de Nolan estava voltando ao normal. Ele secou o rosto com o

    antebrao. Sinto muito. Continue jogando. At para os prprios ouvidos, sua voz soava forada, por causa de tudo

    que ela estava deixando de dizer. Ela fez um movimento com a cabea, apontando para a cesta. Voc ainda tem mais meia hora.

    Ele ficou olhando para ela por longos segundos. Tem certeza? A gente pode conversar mais tarde. Eu s... Umas poucas lgrimas rebeldes deslizaram pelo

    seu rosto. Eu preciso ficar aqui. Com voc.Mais uma vez ele estreitou os olhos, preocupado. Por fim, assentiu devagar, no muito certo

    daquilo. A gente pode ir embora quando voc quiser. Quando voc tiver terminado. Por favor, Nolan.Ele olhou pela ltima vez nos olhos dela, depois se virou e foi andando devagar em direo

    quadra. Com a bola nas mos, ele a fez saltitar para a direita e para a esquerda, conduzindo-a at acesta. Em um movimento to fluido e gracioso quanto qualquer coisa que Ellie aprendera em trsanos de dana, Nolan se ergueu no ar e encestou a bola. Pisou no cho de leve e a pegou novamente,fazendo com que quicasse para trs. Driblou rivais imaginrios com uma manobra e repetiu a jogada.Dez cestas seguidas, e ele foi correndo at o bebedouro. Em seguida, viriam os arremessos de trspontos.

    Nolan jogava basquete com o corao, a mente e a alma. A bola era uma extenso de sua mo, etodos os movimentos, todos os passos, eram to naturais para ele quanto respirar. Observando-o,Ellie sentiu os olhos secos, celebrando o dom do amigo de jogar basquete, algo que ela fazia todas asvezes em que tinha o privilgio de v-lo jogar. O sonho de Nolan era to simples quanto impossvel.

    Ele queria jogar na nba. Era algo pelo qual rezava e trabalhava todos os dias para conseguir. Semtrgua. Das notas altas que ele se esforava para obter at as longas horas que ficava ali todas asnoites. Se Nolan no conseguisse jogar basquete profissional, no seria por falta de tentar ouacreditar.

    Quando ele acertou cinco cestas em todo o arco da linha de trs pontos, correu at o bebedouronovamente, enfiou a bola debaixo do brao e foi andando at Ellie. Usou a camiseta para secar o suordo rosto.

    Esto to mido. . Ela sorriu e olhou para a porta dos fundos, aberta. No tem muita brisa.

  • No. Ele assentiu para ela. Venha, vamos at a minha casa. Vou tomar um banho e depoisa gente pode ir at o parque.

    Isso era tudo que Ellie queria, algumas horas sozinha com Nolan no Parque Gordonston. O lugaronde eles tinham um carvalho favorito e grama macia para deitar e contar estrelas cadentes em noitesde vero como aquela. Ela no tinha contado a ele, ainda no. Eles saram em silncio pela porta dosfundos, e Nolan a trancou. Seu pai era o treinador da Escola de Savannah e tinha dado a chave doginsio ao filho fazia um ano. Era muito trabalho ter que abrir o ginsio todas as vezes em que Nolanqueria treinar.

    Os dois foram de bicicleta at a Pennsylvania Avenue e tomaram o atalho descendo a Kinzie at aEdgewood. A casa de Nolan ficava a menos de um quilmetro da de Ellie, mas poderiam pertencer amundos separados, pela forma como as vizinhanas eram diferentes. A dele tinha vaga-lumes egramados perfeitos na frente das casas, os quais se estendiam at o infinito. A de Ellie era constitudade casas do tamanho da garagem de Nolan, com cercas de arame e vira-latas no quintal.

    O tipo de casa em que Ellie e seus pais moravam.Ela se sentou com a me de Nolan na cozinha enquanto ele tomava banho. Os olhos dela estavam

    secos agora, ento no foi preciso se explicar. A conversa era leve, com a me de Nolan falandosobre o novo grupo de estudos bblicos a que tinha se juntado e quanto estava aprendendo.

    Ellie queria se importar, queria se sentir to ligada a Deus quanto Nolan e os pais dele. Mas, seDeus a amava, por que sua vida estava se despedaando? Talvez ele amasse apenas algumas pessoas.Pessoas boas, como a famlia Cook. Alguns minutos depois, o garoto desceu com um short e umacamiseta limpinhos. Pegou dois cookies de chocolate de um prato no balco da cozinha e beijou abochecha da me.

    Ellie piscou e se deu conta, como vinha acontecendo bastante ultimamente, de que Nolan estavacrescendo. Eles eram amigos desde o terceiro ano e voltavam caminhando juntos para casa desde oprimeiro dia de aula na escola de ensino fundamental. No entanto, em algum momento, ambosfizeram algo que no tinham previsto.

    Eles ficaram mais velhos. No eram mais crianas.Nolan j estava com um metro e oitenta e cinco, bronzeado por causa das corridas matinais, os

    cabelos loiros cortados rente cabea, do jeito como ficava todos os veres. Ele tinha comeado afazer musculao, ento talvez fosse isso. A forma como os ombros e os braos pareciammusculosos na camiseta verde-clara enquanto ele pegava os cookies.

    Ellie sentiu que enrubescia e desviou o olhar. Era estranho ver Nolan assim, mais homem quemenino. Sua me se virou para Ellie com um sorriso simptico e genuno.

    Passe aqui quando quiser, Ellie. Voc sempre bem-vinda. Voc sabe disso. Sim, senhora. Obrigada.Ellie e Nolan no precisavam conversar sobre aonde iriam. O lugar era o mesmo todas as vezes.

    A faixa de grama que se estendia ao lado do maior carvalho do parque, talvez o maior da cidade.Aquele carvalho de onde pendiam musgos-espanhis, com razes antigas e retorcidas, grandes osuficiente para sentar nelas. Caminharam lado a lado e se acomodaram ali.

    Ellie e Nolan iam at l para conversar sobre a vida desde o vero que antecedeu o sexto ano. Napoca, brincavam de esconde-esconde entre as rvores, com o imenso carvalho servindo de

  • referncia. Durante o ano letivo, quando estava muito quente, iam fazer a lio de casa l. E, emnoites como aquela, faziam o que vinha mais fcil.

    Simplesmente abriam por completo o corao e partilhavam tudo. Muito bem, agora me conte comeou Nolan, assumindo o lugar mais perto do tronco da

    imensa rvore. Ele se inclinou e analisou a amiga. O que aconteceu?Ellie ficara pensando nesse momento desde que sara do ginsio da escola. Precisava contar a ele,

    porque lhe contava tudo, mas talvez no tivesse de faz-lo naquele exato minuto. Sentia a gargantaseca, e as palavras demoraram para sair.

    Minha me... Ela chegou tarde em casa de novo.Ele esperou e, depois de alguns segundos, piscou. isso? . Ela odiava adiar a verdade, mas no conseguia contar ainda. Meu pai ficou muito

    bravo.Ele se reclinou de encontro rvore. Vai passar. .Ela foi at o lado dele e pressionou as costas no tronco da rvore. Os ombros deles se tocaram,

    um lembrete de tudo que havia de bom e real na vida dela. Um dia, quando estivermos velhos e casados, vamos voltar aqui e lembrar desse vero

    disse Nolan. Como voc sabe?Ele olhou para ela. Que vamos lembrar? No. Ela abriu um largo sorriso. Que vou casar com voc. fcil. Ele a encarou e deu de ombros. Voc nunca vai encontrar ningum que te ame

    tanto quanto eu.No era a primeira vez que ele dizia isso. Seu tom de voz era suave, e ela no tinha como acus-lo

    de ser srio demais ou de tentar mudar as coisas entre eles. Ela costumava dar risada e balanar acabea, como se ele tivesse sugerido algo muito maluco, por exemplo eles fugirem e se juntarem aocirco.

    Mas dessa vez ela no riu. S ergueu os olhos para as rvores distantes e para os vaga-lumes quedanavam entre elas. Sentiu alvio por no ter contado a ele sobre sua me, que ela havia dormidocom outro homem e ficado grvida. Isso mudaria tudo. Nolan sentiria pena dela, e no haveria maisprovocaes sobre casamento. No quando os pais dela tinham estragado tanto o casamento deles.

    Ellie soltou o ar, odiando sua nova realidade. Sim, as notcias podiam esperar.Naquele exato momento, ela s queria ficar ali sentada ao lado de Nolan Cook, debaixo do

    grande carvalho no parque, numa noite de vero que era s deles, e acreditar... acreditar por mais uminstante naquilo que ela ansiava mais que a prpria respirao.

  • Que eles poderiam ficar assim para sempre.

  • 2Com todos os seus pertences numa velha mala a seu lado, Caroline Tucker estava parada na noiteescura, do lado de fora de sua casa na Louisiana Avenue, tentando no pensar em tudo que estavaperdendo. Ele a teria matado se ela tivesse ficado. Caroline tinha certeza disso. De uma forma ou deoutra, sua vida tinha acabado, mas, em nome do beb em seu ventre, ela precisava partir, precisavaencontrar outra sada.

    A parte mais difcil era Ellie.Sua filha tinha sado. Estava na casa de Nolan, sem sombra de dvida. Isso queria dizer que, no

    dia seguinte, em algum momento quando seu marido estivesse fora, Caroline teria de achar um jeitode voltar para l, vindo do oeste de Savannah, sem carro. Para explicar a situao. Para que Ellie noa odiasse.

    Sua amiga Lena Lindsey estacionou em um Honda prata novo e saiu do carro. Por um instanteficou ali, apenas observando Caroline, os olhos das duas travados uns nos outros. Lena sabia de todaa histria, todos os detalhes srdidos, exceto um: o fato de que Caroline estava grvida.

    Por fim, Lena levou as mos aos quadris. Ele descobriu sobre o Peyton? Sim. Caroline olhou por cima do ombro. Todas as luzes na casa estavam apagadas, e ela

    manteve a voz baixa. Ele me ps para fora de casa.Lena chegou mais perto da amiga e a abraou. Ela era to negra quanto Caroline era branca. Em

    pleno ano de 2002, para algumas pessoas em Savannah, a amizade das duas quebrava regras tcitas.Mas elas nunca se importaram com o que os outros pensavam. Eram como irms, e fora assim desdea escola.

    Venha. Lena abriu a porta do lado do passageiro do Honda. Vamos pensar numa sada.Lena e o marido moravam no lado oeste de Savannah, em um sobrado elegante, com os trs

    filhos pequenos. Seu marido, Stu, era dermatologista, e Lena cuidava da linha de frente doconsultrio dele. Quando Lena e Caroline se reuniam para tomar caf ou fazer as unhas, no haviafim para as histrias que compartilhavam sobre os consultrios mdicos de que cuidavam. Mais umamaneira de permanecerem conectadas.

    Quando chegaram rodovia, Lena se voltou para a amiga e perguntou: Voc est grvida, no ?O olhar de Caroline recaiu sobre seus dedos, e ela comeou a torcer a aliana. Deus nos ajude! As palavras saram num pesado suspiro. Eu falei para voc ficar longe

    daquele homem. Lena no se conteve. Cantor famoso de country? Ela balanou a cabea. Deve ter uma Caroline Tucker em cada cidade. O tom ficou mais brando. Querida, por qu?Por que voc fez isso?

    Essa era uma pergunta que martelava a cabea de Caroline. Uma pergunta que, na verdade, elapodia responder.

    Eu o amava.

  • Lena tirou os olhos da estrada e olhou para Caroline. Ela no precisava frisar que o cara nuncaamara Caroline de verdade, nunca se importara com ela. Ou que ela no passara de mais uma tiete.Mais uma transa casual em sua turn pelo pas. Lena no precisava dizer nenhuma palavra sobre isso.

    Seus olhos diziam tudo.Nos ltimos meses, ela questionara quanto tempo Caroline passava em casa. Havia at se

    oferecido para arrumar um terapeuta para ajudar a acertar as coisas entre Caroline e Alan, mas aamiga evitou as tentativas de Lena e negou o caso at poucos dias atrs. Agora elas seguiam viagemem um silncio triste e pesado.

    Caroline fitava o cu noturno pela janela. Quando os problemas comearam? Como sua vidatinha sado tanto de controle? Quando analisou onde havia errado, um fato lhe veio mente. O showque acontecera dois anos atrs, em janeiro, quando Peyton Anders veio cidade para a turn deWhatever Youre Feeling. A cidade inteira de Savannah sabia do show. Peyton era famoso. Naquelapoca, ele tinha vinte e seis anos. Tinha um rosto jovem e bonito, e o porte de um jogador de futebolamericano. Por trs anos consecutivos, fora considerado o melhor vocalista masculino naConferncia de Msica Country e, naquela primavera, ganhara o ttulo de Artista do Ano.

    Voc est pensando nisso? A voz de Lena interrompeu os pensamentos de Caroline, que sevoltou para a melhor amiga.

    Tentando. J um comeo. Eu e o Alan... Faz tanto tempo que as coisas andam ruins entre ns, Lena. A voz de Caroline

    falhou, e a dor do corao partido a sufocou. Ele... no me quer. At parece que eu no te conheo, Carrie Tucker! Era assim que Lena sempre a chamava:

    Carrie. Eu estava l. Ela olhou para a amiga de relance, depois voltou a olhar para a estradaescura sua frente. Lembra? E fez novamente uma pausa, mas a intensidade permanecia no ar. Continue pensando, Carrie. Tente lembrar de cada detalhe e descubra onde est o n. S assimvoc ter uma chance de desfaz-lo.

    .Caroline desviou o olhar de Lena. Acertar as coisas no era uma opo, mas ela no podia dizer

    isso. No para Lena. Sua amiga acreditava no casamento. Ponto-final. Mesmo agora, quando ocasamento de Caroline e Alan acabara fazia tempo.

    Ela fitou mais uma vez o cu noturno. Os ingressos para o show naquele ms de janeiro tinham seesgotado, mas Stu conhecia o promotor do evento. O cara deu a ele entradas para dois assentos naprimeira fileira. O marido de Lena no curtia msica country, ento ela convidou Caroline para ircom ela ao show.

    O convite tinha sido o ponto alto daquele ano na vida de Caroline.De sbito, uma imagem surgiu em sua mente. Alan e ela entrando em uma igreja do interior,

    apaixonados e completamente certos de que aquela unio era para a vida toda. Ela era bela e jovemnaquela poca, tinha vinte anos, longos cabelos loiros e olhos inocentes. No comeo do casamento,cada instante com Alan era marcado por uma esperana mais profunda que o mar.

    A lembrana se esvaiu. No havia como medir a distncia entre eles naquela poca e agora. Quemela havia sido e quem havia se tornado. Caroline sentiu as lgrimas ardendo nos olhos. Quem os dois

  • haviam se tornado.Ento se voltou para Lena. Eu e o Alan... Esse caos que estamos vivendo. Ela secou o canto dos olhos com os dedos.

    minha culpa tambm. No estou inventando desculpas. Espero que no. Lena manteve o olhar frente. Casada com um cara e aparece grvida

    de outro? Ela ergueu uma sobrancelha. No h muito espao para desculpas. Ento parou defalar por um bom tempo, depois apertou com ternura a mo de Caroline. Desculpe, eu no quis teofender.

    Eu sei. As coisas esto ruins agora. Lena apertou o volante e virou esquerda para entrar em seu

    bairro. Deus te ama, Carrie. Ele quer que voc e o Alan deem um jeito de resolver isso.Caroline assentiu. No era a primeira vez que Lena dizia isso. Ela era crist. De verdade. Nunca

    pregava, mas no tinha receio de chamar a ateno de Caroline. J fizera isso antes, pois amavamuito a amiga.

    Elas chegaram casa de Lena, e, enquanto saam do carro, um surto de culpa atingiu adeterminao de Caroline.

    Eu no acho que a gente possa dar certo juntos. Acabou. E j faz anos, Lena. Ela parou defalar por um instante e respirou rapidamente. Talvez seja melhor eu ir para um hotel.

    Lena olhou para ela. Terminou seu discurso?Caroline hesitou. Eu no sei o que fazer... Carrie Tucker. Lena deu a volta no carro e colocou as mos nos ombros de Caroline.

    Pegue sua mala. Ento fez um movimento de cabea e se dirigiu porta da frente da casa, semolhar para trs. O quarto de hspedes est arrumado.

    A discusso estava encerrada. Caroline pegou sua bagagem no porta-malas do Honda e o fechou.Cinco minutos depois, estava sentada na beirada da cama do quarto de hspedes dos Lindsey. Ela sesentia a pior esposa e a pior me do mundo. A pior. O que Ellie pensaria? Ela chegaria em casa,voltando da casa do Nolan, e descobriria que sua me tinha ido embora. Grvida de outro homem. Sde pensar nisso, Caroline ficava enjoada.

    De repente, ela se lembrou de uma coisa.Seu corao bateu mais rpido enquanto ela pegava a bolsa e enfiava a mo no fundo, passando

    pelos recibos de compras do Walmart e da Target e pelas embalagens vazias de chiclete, at encontraro que estava procurando: um frasco de Vicodin. Doze comprimidos, pelo menos. Naquele dia, maiscedo, um paciente j curado pedira que ela os descartasse, mas, em vez de jog-los fora, Caroline oscolocara sorrateiramente na bolsa.

    Para o caso de precisar deles a fim de lidar com a prpria dor.Mas os comprimidos poderiam fazer mais do que isso. Muito mais. Eles pareciam pesados em sua

    mo. Ela abriu o frasco e o levou perto do rosto. Pde sentir a fora deles. O amargor. No seriam

  • necessrios os doze comprimidos. Ela poderia mastigar alguns e pronto. Nada de maridodesinteressado. Nada de filha envergonhada. Nada de beb prestes a nascer em um mundo feio.

    O som de passos a fez pr o frasco de lado. Ela o tampou novamente e o jogou dentro da bolsa.Suas mos tremiam, e ela no conseguia respirar direito. Em que estava pensando? Como podiapensar em se matar?

    Oi. Lena enfiou a cabea dentro do quarto. Ajeite suas coisas. Eu e o Stu estaremos nacozinha. Seus olhos pareciam ter uma expresso mais terna do que antes. Quando voc estiverpreparada para conversar.

    Lena saiu sem esperar a resposta de Caroline. A questo no era se Caroline queria conversar,mas quando. Enquanto ela permanecesse ali, Lena e Stu fariam tudo o que estivesse ao alcance delespara que Caroline e Alan se reconciliassem. Era assim que eles estavam acostumados a agir. Carolinese levantou e largou a bolsa o mais longe possvel. Ela ainda amava Alan. O velho Alan. Sempre oamaria. Se ao menos eles conseguissem voltar a ser como antes...

    Reze, Caroline. Voc precisa rezar. Assim que o pensamento passou por sua cabea, ela o refutou.Caroline havia rezado durante toda a sua jornada com Alan. E em que isso havia resultado? Umasrie de momentos passou como um filme em sua mente, quando ela pedira a ajuda de Deus, suasabedoria e seu entendimento. Seu consolo. Mas seu casamento s piorava.

    Ela fechou os olhos e pde v-lo novamente. Alan Tucker, o amor de sua vida. Voltando para casada ilha Parris, a uma hora de distncia, entrando pela porta da frente do apartamento deles em ForsythPark com seu uniforme de fuzileiro naval, sorrindo para ela.

    Consegui! Sou um instrutor militar! Comeo na segunda-feira.A mente de Caroline ficou a mil, imaginando o que aquilo significava para ela, para os dois. O expediente... vai ser mais longo?Alan hesitara, a expresso nebulosa com a confuso repentina. Sou um fuzileiro naval, Caroline. Se tiver que trabalhar mais horas, isso que vou fazer.Pela primeira vez de inmeras, passou pela mente de Caroline que ela nunca seria a coisa mais

    importante na vida de Alan Tucker. A carga extra de trabalho o mantinha na base de segunda a sexta-feira, e ele voltava para casa apenas aos fins de semana. E, de alguma forma, a ausncia dele faziacom que ele duvidasse dela. Ele voltava para casa na sexta-feira e lhe perguntava onde ela estivera e oque tinha feito. Se ela demorasse muito para responder, o tom dele deixava transparecer impacincia.

    No uma pergunta to difcil assim, Caroline. Onde voc esteve?O que ele realmente queria saber era que homens ela andara vendo. Nunca houve nenhum outro

    homem naquela poca, mas Alan costumava lembr-la quase todos os fins de semana que no eracerto que ela usasse regatas ou shorts curtos, ou que ficasse olhando por muito tempo para umhomem que estivesse empacotando as compras no mercado ou cobrando a conta no lava-rpido.

    pecado fazer um homem vacilar, Caroline. Ele sorria para ela, como se aquela fosse umaconversa perfeitamente normal entre marido e mulher. Fico feliz por voc entender isso.

    Caroline comeou a ponderar sobre o homem que voltava para casa todo fim de semana e o queele tinha feito com o cara que ela amava. S quando eles estavam na cama ela via vislumbres daqueleAlan. Sua pacincia e seu toque terno faziam com que ela se sentisse maluca por duvidar dele.

  • O desfile de lembranas continuou. Meses depois da promoo de Alan, Caroline estava voltandocom Ellie da maternidade para casa, e o marido a preveniu de que ela teria de se virar sozinha com osafazeres. Ele sentia muito por no poder ajud-la, mas queria uma nova promoo na ilha Parris.

    A qualquer custo.A solido causada pela falta de Alan fora amenizada da noite para o dia pela presena de sua

    filhinha. Conforme Ellie crescia, tornaram-se um hbito as caminhadas no parque todas as tardes.Caroline soprava bolhas de sabo com uma varinha plstica, e Ellie corria atrs delas, rindo eenchendo o ar mido da Gergia. As duas estavam sempre juntas. Caroline costumava ler para Ellietodas as noites, primeiro Dr. Seuss, depois Junie B. Jones, e ambas conheciam as histrias de cor.Alan gostava de lembrar que elas deveriam ler mais C. S. Lewis e menos livros frvolos.

    Caroline podia ouvir a voz de Ellie naquela poca dizendo: Papai, a gente tambm l os livros dele. O leo, a feiticeira e o guarda-roupa o meu favorito.

    E, com os olhos reluzindo para Caroline, emendava: Mas os livros da Junie B. Jones nos fazemrir, no , mame?

    Cinco anos de momentos felizes com Ellie se passaram rapidamente, todos marcados porsanduches de pasta de amendoim, cochilos vespertinos e o cheiro de cookies com gotas de chocolateassando no forno. Com os filmes da Disney, a prtica da caligrafia e os desenhos para colorir, todosos dias eram igualmente maravilhosos. Mas ento Ellie foi para o jardim de infncia.

    No comeo, Caroline tinha apenas as manhs solitrias para lembrar que Ellie estava crescendo,porm, um ano depois, a filha comeou a estudar em tempo integral. No primeiro dia de aula,Caroline voltou para casa sozinha, ficou fitando a si mesma no espelho e, com olhos marejados, seperguntou:

    O que voc vai fazer agora?Alan no podia receber telefonemas no trabalho e, embora ligasse para casa todas as noites, as

    conversas deles eram sobre assuntos triviais. Que contas tinham chegado, quais foram pagas, comoestava Ellie, o que ela estava aprendendo na escola. Apenas os fins de semana eram marcados porintimidade e alegria entre Caroline e Alan. Eles caminhavam em silncio ao longo do rio e tomavamcafs exticos em uma cafeteria no centro da cidade. Ela estava apaixonada por Alan, ainda que elestivessem apenas os fins de semana para ficar juntos. Mas isso no tornava os dias de semana menossolitrios.

    O nico raio de luz, aquele que lhe dava um motivo para acordar todas as manhs de segunda-feira, era o tempo que ela ainda tinha com Ellie. Caroline se apresentou como voluntria na escola dafilha, ajudando nos dias de artesanato e nas excurses, e, tarde, Ellie tinha aulas de dana e ginsticana Associao Crist de Moos. As duas ficavam mais prximas a cada ano que se passava. Ela podiaouvir a voz de Ellie de novo, mais velha dessa vez.

    Voc a minha melhor amiga, me... Voc e o Nolan. Ningum me entende como vocs.No entanto, conforme Ellie avanava nos estudos, ela e Caroline passavam cada vez menos tempo

    juntas. Por fim, os encontros aconteciam apenas de vez em quando. O divisor de guas foi quandoCaroline aceitou um emprego no consultrio do dr. Kemp, no ano em que ela e o marido se deramconta de que haviam contrado dvidas. Fosse pelo tempo em que Caroline passava fora trabalhandoou pela habilidade de Ellie de sentir a tenso entre os pais, a garota comeou a passar a maior partedo tempo livre na casa de Nolan.

  • E, inesperadamente, o desfile de lembranas teve fim.No era de admirar que Caroline tivesse agarrado a oportunidade de ver Peyton Anders com sua

    amiga Lena naquele janeiro. A mesmice de sua vida, a falta de interao e diverso com Alan ou comEllie a estavam deixando louca. O show seria uma oportunidade para se sentir viva novamente.

    Isso era tudo que Caroline Tucker esperava daquela noite.Ela era uma boa moa, vinda de um bom lar. Frequentava a igreja todos os domingos com o

    marido e a filha, mesmo durante as piores fases. Nunca em toda sua vida Caroline poderia terimaginado o que estava prestes a acontecer.

    Aquilo que mudaria sua vida para sempre.

  • 3Alan Tucker pensou em pegar o carro e ir ao encontro de Ellie, para traz-la de volta para casa. Oparque era perto da casa de Nolan. Mas, se fizesse isso, a filha saberia que sua vida estava prestes amudar. No fim das contas, foi por esse motivo que ele no foi at l. Ellie merecia uma ltima noiteantes do incio do resto de sua vida.

    Uma vida em outro lugar. Sem a me.A notcia daquela noite mudara tudo. Ele no criaria Ellie em uma cidade onde as pessoas

    falariam eternamente sobre a me dela, sobre o terrvel caso que ela tivera e com quem. Naquelanoite, enfim, Alan teve as respostas s perguntas que o atormentavam havia tanto tempo. Ele aindatinha dificuldade para acreditar. Peyton Anders.

    Alan suspirou, e o som pareceu chacoalhar seu peito apertado. Entre todas as pessoas possveis,Caroline o estava traindo com um famoso cantor de msica country. Pior ainda, isso acontecia pelassuas costas fazia dois anos. Ele deitou sobre as cobertas e fitou o teto remendado do quarto em meio escurido. No sabia ao certo o que era pior: o fato de Caroline o haver trado ou de ter entregadoseu corao ao cara fazia dois anos. Dois anos. Ele soltou o ar e rolou na cama, ficando de lado. Elequeria apenas o melhor para sua famlia. Em todos aqueles anos na base, nunca tinha tomado aomenos um gole de lcool. Quando os rapazes saam para beber, ele ficava no quarto lendo a Bblia ouassistindo a reprises de A ilha dos birutas e I Love Lucy.

    Ele havia perguntado a Caroline mais de uma vez com quem ela estava se encontrando, mas nuncarealmente esperara por isso. Que a nica mulher que ele havia amado na vida tivesse outra pessoa. Ouque ela mentiria para ele. Que o trairia dessa forma. Seu estmago se revirou, e ele se perguntou sealgum dia haveria de se sentir bem novamente. Era verdade que eles no dormiam juntos haviameses, mas, antes de a intimidade dos dois se esvair, eles tiveram seus bons momentos.

    Agora... agora ele odiava lembrar at mesmo esses momentos. Ela dormia com ele noite eflertava com Peyton na manh seguinte, no trabalho dela. Ele nunca deveria ter se apaixonado poruma mulher to bonita quanto Caroline. Especialmente sendo um fuzileiro naval. Alguns amigos oavisaram dezesseis anos atrs, quando ele anunciou que se casaria com ela. At a me de Alan tinhaficado preocupada.

    Ela muito bonita dizia, com ares de questionamento. Ela sabe que voc vai ficar forapor bastante tempo? Mulheres como ela... Bem, algumas podem ser egostas.

    Alan cerrou o maxilar. Ele tinha ficado com raiva da me por causa desse comentrio na poca. Eagora... ele no conseguiu concluir o pensamento a verdade sobre sua mulher era dura demais.Mas uma coisa era certa: Caroline iria se arrepender daquilo enquanto vivesse. Ele j tinha um plano.Havia algumas semanas seu comandante lhe falara sobre uma promoo que o levaria Base deFuzileiros Navais do Acampamento Pendleton, em San Diego. Ele continuaria atuando comoinstrutor militar, mas para classes maiores. Se as coisas corressem bem, acabaria trabalhando napriso militar adjacente, regida pela Marinha.

    O cargo de instrutor militar em San Diego era para incio imediato. At essa noite, ele no haviarealmente pensado em aceitar. Ellie estava no primeiro ano do ensino mdio na Escola de Savannah,e Caroline trabalhava no consultrio do dr. Kemp. A vida seguia um certo ritmo.

  • Mas tudo isso mudara essa noite.Cinco minutos depois de Caroline sair, ele ligou para seu comandante. Quando posso comear em San Diego? Na semana que vem. O homem no hesitou. Me diga quando estiver pronto e estar

    ajeitado. Tem alojamento temporrio na base at voc achar alguma coisa.Alan fez os clculos. Ele e Ellie poderiam fazer as malas no dia seguinte e partir no domingo de

    manh. Se aguentassem longas horas na estrada, poderiam chegar Califrnia em trs dias. Eu posso me apresentar na quarta-feira. E estar pronto para trabalhar na segunda seguinte. Feito. O homem parecia surpreso. Eles vo ficar felizes. Pendleton est precisando muito

    de instrutores. E hesitou alguns segundos. Voc o melhor, Tucker. Fico feliz com suaascenso, mas odeio te perder.

    Se ao menos sua mulher se sentisse assim...Sim, ela lamentaria. Ele haveria de se mudar dali com Ellie e criaria a filha sozinho. Deixaria que

    ela tentasse entrar com uma ao, brigar pela guarda da filha. Ela no se atreveria, no com ossrdidos detalhes dos ltimos anos. Se ela era capaz de fazer isso com ele e com a filha, ento no seimportava de qualquer forma. Ele no sujeitaria a filha a uma vida de vergonha. Caroline no queriaser me. No, se foi capaz de fazer isso.

    O corao de Alan parecia pesado no peito. Ele ainda tinha que contar a Ellie. Ela poderia ficarbrava no comeo, mas com o tempo acabaria entendendo. Sentiria falta de Caroline, claro, mas,quando fosse madura o bastante, ele lhe contaria a verdade. Que sua me fora uma pessoamaravilhosa, bondosa e meiga, o amor de sua vida, mas que, por fim, escolhera outro homem em vezde ser a mulher dele e a me dela. Aquelas futuras conversas seriam de partir o corao, mas Alanno conseguia ver outra maneira de lidar com tudo aquilo. Ellie teria que entender. Ela tambmsentiria falta de Nolan, seu melhor amigo, mas com o tempo o esqueceria da mesma forma.

    San Diego teria um mundo inteiro de novos amigos para ela.Alan sentiu sua determinao endurecer como cimento fresco em um dia de vero. No importava

    o que Ellie pensasse nem quo chateada ficasse, eles iriam embora de Savannah. No havia outrojeito. Ele ouviu o barulho da bicicleta dela na garagem e olhou para o relgio. Ainda no eram onzehoras, o horrio-limite para que Ellie chegasse em casa. Ele ouviu quando a porta da frente se abriu enovamente se fechou. Por um instante, comeou a se levantar. Seria melhor contar agora, para que elativesse mais tempo para se preparar.

    Mas ele parou no meio do caminho.Agora ela j teria se esquecido da briga dos pais. Provavelmente tivera uma tima noite com

    Nolan, conversando debaixo das rvores, ouvindo msica e sendo criana. Ellie tinha direito a umaboa noite de sono, a bons sonhos. A notcia de que sua me estava grvida de outro homem e de queEllie teria de se mudar para San Diego com o pai faria com que ela amadurecesse antes da hora. Alansentia dor pela filha. Ele lhe contaria no dia seguinte. No interromperia a santidade daquelemomento.

    A ltima noite da infncia de sua filha.

  • A conversa com Lena e Stu foi breve. Eles queriam que Caroline ligasse para um terapeuta pelamanh. Que buscasse interveno de imediato para que, de alguma forma, por algum milagre, seucasamento pudesse ser salvo. Caroline ouviu o que eles tinham a dizer e assentiu. Mas a conversa eraintil. No havia volta. Alan Tucker nunca a amaria novamente.

    Ela se retirou para o quarto de hspedes e deixou que as lembranas viessem tona mais umavez, at que estivessem plenamente claras em seu corao. E, de repente, l estava ela de novo,naquela primeira vez no show de Peyton Anders.

    Desde o minuto em que Peyton subira no palco naquela noite no Centro Cvico de Savannah, eleparecia cantar s para ela. Os olhares dos dois se encontraram e, no incio, at Lena achou que erauma brincadeira inofensiva, um flerte sem maiores consequncias entre um artista e uma f. O tipo decoisa que um cara como Peyton provavelmente fazia todas as noites.

    Caroline pensou que aquela troca de olhares seria algo de que ela e Lena dariam risada algumdia, quando ficassem velhas. A noite em que o famoso Peyton Anders escolhera Caroline Tucker emmeio a todo o pblico e fizera sua cabea girar.

    Porm, depois de algumas canes, os breves olhares deram lugar a uma ocasional piscadela, e,conforme o show prosseguia, Caroline se permitiu acreditar que ela e Peyton eram as nicas pessoasno auditrio. Perto do final do set, ele fez um gesto para que ela fosse at a lateral do palco. Aomesmo tempo, dois caras da equipe dele apareceram perto dos degraus e acenaram para que ela seaproximasse enquanto Peyton fazia um breve intervalo. Ele bebeu meia garrafa de gua e entosorriu para o pblico.

    Dizem que Savannah tem as mulheres mais bonitas do sul do pas.Caroline se lembrou de como se sentiu, com o corao na boca, enquanto esperava na lateral do

    palco. Peyton continuava falando. Desde o comeo da noite eu notei uma moa muito bonita. Ele deu de ombros, com seu

    largo sorriso de garotinho, mais do que charmoso. De alguma forma, ele conseguia parecer ummenino que tem uma queda pela irm mais velha do amigo. O que posso dizer? No vouconseguir cantar a prxima msica sem ela.

    A multido aplaudiu, e o som foi ensurdecedor. quela altura, os dois homens tinham levadoCaroline para cima do palco. Ela ainda podia se ver nos bastidores, vestindo uma blusa branca, suamelhor cala jeans e botas de caubi. Seus joelhos tremiam.

    Vem, doura, vem c.Caroline sentiu como se estivesse em um sonho. Isso no pode estar acontecendo, disse a si

    mesma. Ele era famoso e oito anos mais novo que ela. Ela era membro da Associao de Pais eMestres, no do f-clube de Peyton Anders. Mas o que ela poderia fazer? Hesitante, foi at ele, comos aplausos e gritos chacoalhando seus nervos.

    Qual o seu nome, querida? Ele esticou o microfone para ela responder. Caroline. Ela piscou, cega pelo brilho dos holofotes. Caroline Tucker.Peyton deu risada e olhou para o pblico. Caroline Tucker, senhoras e senhores. Ela linda, no ?Mais aplausos e clamores. Caroline tentou soltar o ar. Tinha que estar sonhando. Era a nica

  • forma de explicar aquilo. Naquela poca, as palavras carinhosas que Alan costumava usar com ela jhaviam dado lugar conversa funcional. Como a Ellie est indo na escola? Por que a roupa no foilavada? Quando ela chamaria o encanador para consertar o cano quebrado na pia do banheiro? Essetipo de coisa. Alan vinha para casa cansado e distrado. Em alguns dias, mal olhava para ela quandopassava pela porta. Assim, no era nenhuma surpresa que ela no se sentisse bonita. Pelo contrrio,ela se sentia velha e cansada, solitria e incerta. Esgotada e usada. Tudo isso.

    Mas no bonita.Um dos caras da equipe de Peyton trouxe uma banqueta, e o cantor segurou a mo dela enquanto

    ela se sentava. Ento ele cantou a cano ttulo de seu mais novo lbum. A cano que tinha inspiradoa turn: Whatever Youre Feeling. As luzes, a multido e os aplausos se esvaneceram enquantoPeyton cantava, e Caroline prendeu a respirao. Cada verso, cada palavra parecia ter sido escritapara ela e aquela estranha conexo entre eles, uma ligao que acontecera no nfimo tempo de umrespiro. Mesmo agora a letra era to familiar quanto o prprio nome de Caroline.

    Now that were both hereNothing left to fearWe could have it allSo let your heart fallHere in this moment that were stealingBaby, I am feelingThe same thing you are feelingWhatever you are feeling.*

    Quando terminou a cano, ele a abraou e, de uma forma muito discreta, sussurrou: D o nmero do seu telefone para os meus rapazes. Ento sorriu para o pblico e disse:

    Caroline Tucker, senhoras e senhores.Ela saiu do palco zonza, animada e com nuseas. Dois pensamentos a consumiam. O primeiro: ela

    havia cometido o que julgava ser um pecado imperdovel sentira-se atrada por outro homem. E osegundo: nada a impediria de dar seu telefone a um daqueles caras. Peyton Anders tinha esse tipo deefeito intoxicante sobre ela.

    Antes que Caroline pudesse voltar para seu assento, Peyton terminou o set e se juntou a ela nosbastidores escuros. E l, entre caixas acsticas e fios eltricos, suado e respirando com dificuldade,ele foi at ela sem hesitar.

    Aquilo foi incrvel disse, colocando a mo em seu rosto.Mesmo no escuro, ela pde ver o desejo nos olhos dele.Ainda sem flego por causa do show e sem esperar nem mais um instante, ele a beijou.Peyton Anders a beijou.Ela no precisou dizer nada a Lena quando voltou para o seu lugar. Sua expresso deve t-la

    entregado. Todo o pblico provavelmente notou a mesma coisa. Lena fez uma cara feia enquanto osfs de Peyton pediam bis. Sobre o barulho ensurdecedor, ela se inclinou para perto da amiga e gritou:

    Voc o beijou, no foi?

  • Caroline no conseguiu mentir. Tambm no se sentia mal em relao a isso. No quando tinhaacabado de ter a noite mais incrvel dos ltimos anos. Talvez de sua vida toda. Ela e Lena discutiram acaminho de casa, e Caroline minimizou suas aes. A culpa era de Alan. Fora ele quem parara deam-la. Alm disso, Peyton Anders no era uma ameaa a seu casamento.

    Ele nunca vai me ligar. Foi um lance de f, s isso. E sentiu que estava corando enquantojustificava a ocorrncia do beijo. Uma coisa de momento, sabe?

    Voc no precisa de um beijo de Peyton Anders, Carrie. Precisa de terapia de casal.A conversa das duas no teve fim at que Lena a deixou em casa. Caroline achou que seria

    somente aquilo, mas estava errada. O primeiro telefonema de Peyton foi s duas da manh. Carolineestava acordada, no lado mais afastado da cama, revivendo cada minuto do show. Como era sexta-feira, Alan estava em casa. Caroline agarrou o telefone e olhou de relance para o marido. Ento saius pressas do quarto e entrou na cozinha, do outro lado da casa.

    Al? sussurrou, olhando por cima do ombro.Mesmo agora ela se lembrava de ter ficado aterrorizada com a possibilidade de Alan acordar. Baby, sou eu, Peyton. As palavras dele saam arrastadas, como se ele estivesse bebendo.

    Hoje foi o paraso. Quando posso ter ver de novo?Numa deciso que ela questionaria at o ltimo dia de sua vida, Caroline pensou em Alan no

    quarto, em como ela o havia amado e quanto ansiara se casar com ele. Depois pensou em como ele adeixava se sentindo solitria com tanta frequncia. Ela cerrou os dentes por meio segundo e passoupara Peyton um nmero diferente do consultrio onde trabalhava. Disse-lhe trs coisas: emprimeiro lugar, que ele poderia telefonar apenas para o trabalho dela. Em segundo, que ela eracasada, ento eles precisavam tomar cuidado. E, em terceiro, que mal podia esperar para v-lo denovo.

    Desde aquele instante, no havia dvidas em relao aos sentimentos dos dois. A intensidade e aimpossibilidade daquela paixo os tornavam mais prximos a cada vez em que se falavam. Carolinenunca pde realmente acreditar que Peyton Anders estava ligando para ela. Ele devia ter dezenas detietes em cada cidade. Por que a procuraria? Ela se deixou levar pela emoo, convencida de que noresultaria nada daquilo tudo. Os telefonemas continuaram por um ano, at que Peyton voltou aSavannah em janeiro seguinte. Ele arranjou para que ela ficasse nos bastidores durante o show, e elano contou nada daquilo a Lena. Depois do show, Caroline e Peyton deram uns amassos durante meiahora em uma sala privada nos bastidores. Caroline se lembrou de dizer a Peyton que precisava irembora, que no podia perder o controle. Uma coisa era flertar com o cantor ao telefone, outra erabeij-lo nos bastidores. Aquelas coisas eram apenas uma distrao para sua vida amorosa inexistente.

    Mas ela se importava demais com Alan para ter um caso de verdade.Quando ela se despediu de Peyton naquela noite, ele sussurrou: Um dia desses vou parar com as turns, e vamos ser s eu e voc. Vou te levar para Nashville

    comigo, e vamos comear uma vida juntos.Caroline apenas sorriu. Ela nunca teria considerado tal coisa, mas no devia explicaes a Peyton.

    O fascnio por ele no passava de uma fantasia.No dia seguinte, Lena ligou para ela no consultrio. Voc foi ao show dele na noite passada, no foi?

  • Lena, isso no hora para... Escuta. Voc vai destruir tudo que importa na sua vida, Carrie. Pense na Ellie... e no Alan. Voc

    jurou quele homem que seria para sempre. Ela esperou. Est me ouvindo? Sim. Caroline suspirou. Como foi o jantar com o Stu? Carrie. Eu no quero falar sobre isso. Ele foi embora hoje de manh. s um amigo. Voc no pode mentir para mim.E assim as coisas continuaram. Mais adiante, naquela primavera, quando Alan disse a ela que

    ainda a amava e que os dois deveriam fazer terapia de casal, Caroline sentiu um raio de esperana,mas, seis meses depois, eles ainda no tinham encontrado nem tempo nem um terapeuta.

    No prximo aniversrio de casamento dos dois, Alan a levou para jantar, mas a noite toda eleparecia derrotado. Ela estava certa de que sua expresso no estava muito diferente da dele.

    Eu sinto... como se estivesse te perdendo. Ele se sentou diante dela, esforando-se para fazercontato visual com a mulher. Como se estivssemos nos perdendo. Ele esticou a mo para tocara dela, e, por um instante, ambos pareceram lembrar quanto haviam perdido. Se tenho sido umpssimo marido, Caroline, eu peo desculpas. Nunca quis ser assim.

    Ela tentou sorrir. Eu fico pensando que as coisas vo melhorar. Voc merece coisa melhor.Caroline pensou em Peyton. Sim, ela e Alan, os dois mereciam coisa melhor. Naquela noite, Alan

    prometeu coisas que fizeram com que Caroline esquecesse todo mundo, menos seu marido. Mas, namanh seguinte, ele se fora novamente, para mais uma semana de trabalho. Um ms depois, aspromessas de Alan haviam sido esquecidas por completo. Naquela poca, Ellie passava mais tempona casa de Nolan que na prpria casa. Em certas noites, Caroline olhava para as fotos de seucasamento e chorava pelo amor que eles tinham naquela poca, o amor que se perdera no meio docaminho. Os dois eram culpados disso, e parecia no existir respostas.

    Caroline continuou a receber telefonemas de Peyton, e, quando ele voltou cidade, apenas quatromeses atrs, insistiu que ela chegasse ao show mais cedo. Eles trocaram mensagens de texto at omomento em que se encontraram, na porta dos bastidores. Ento entraram no camarim e seabraaram por um longo tempo.

    Eu te amo, Caroline. Penso em voc o tempo todo.As palavras dele a deixaram assustada. Amor, Peyton? Ela recuou, buscando o rosto dele. Isso no tem nada a ver com amor. Tem sim. Eu te amo. De verdade. Ele parecia magoado. No tem ningum na minha vida

    como voc, baby. Eu penso em voc todas as horas de todos os dias. Ele a beijou, um beijoperigosamente apaixonado, que fez com que ela se esquecesse de tudo, menos do homem que a tinhanos braos. Ele ficou encarando-a, sem flego. Voc precisa acreditar em mim, baby.

    Nos prximos dez minutos, as defesas dela foram vencidas. Ela no havia visualizado aquelasituao, nunca imaginara aquilo. Mas, muito antes de seguir at o palco, ele a convencera de que

  • estava falando a verdade. Ela no era uma distrao, uma fantasia ou um jogo. Peyton Andersrealmente a amava.

    Ento ele soltou a novidade. Tenho quatro dias livres. E ergueu a sobrancelha, nervoso e hesitante. Ele tremia enquanto

    olhava fundo nos olhos dela, diretamente em sua alma cansada. Reservei um quarto pra gente. O qu? Um quarto. Ele se aproximou dela. Vamos, Caroline. No podemos parar agora.E a beijou novamente, um beijo mais longo dessa vez.A combinao de seu casamento, frio como o gelo, com o beijo apaixonado de Peyton fez com

    que Caroline perdesse o controle. Ela recuou, sem flego e sem conseguir raciocinar. Depois do show... me leve at l.E ento ele fez o que ela pediu, e aquilo virou rotina. Ela passava todas as horas do dia com ele, e

    eles nunca saam do quarto do hotel. Era como se nada nem ningum existisse. Ela pediu licena notrabalho, alegando estar doente, e chegava tarde em casa todas as noites. Durante as poucas horas quepassava em casa, preparava comida para Ellie e, pela manh, conversava alguns minutos com a filha,por quanto tempo a vergonha lhe permitisse. Ento, partia para o hotel.

    Foram apenas quatro dias, e ela achava que nunca seria pega.Mas, naquela sexta-feira, Alan voltou mais cedo da base e questionou Ellie. Quando descobriu que

    Caroline no tinha chegado em casa antes das dez da noite nos ltimos trs dias, assumiu sua posioperto da porta da frente da casa. Os olhos do marido foram a primeira coisa que Caroline viu quandoentrou sorrateiramente em casa naquela noite.

    Ele olhou feio para ela, com os dentes cerrados, e a chamou de coisas que permaneceramgrudadas nela. Nomes de que ela no poderia escapar. E, todos os dias desde ento, eles brigavam elanavam acusaes um sobre o outro, como se fossem granadas. A tenso preenchia a casa, e Elliepermanecia mais tempo fora do que jamais o fizera. Ela havia crescido, e agora era um belo lembretede tudo que a prpria Caroline fora quando adolescente. Mas a intimidade que partilhavam quandoEllie era pequena se fora, assim como o dia de ontem.

    Caroline voltou seu corao e suas esperanas para Peyton. Com todo o seu ser, ela sabia queestava agindo mal, mas no conseguia evitar.

    Ele no era mais uma distrao, um motivo para se levantar pela manh. Ele era o futuro dela. Asligaes continuaram, e Caroline se importava cada vez menos com a possibilidade de Alandescobrir o caso deles. Por esse motivo, ela no ficou muito preocupada por sua menstruao estaratrasada h trs semanas. Se estivesse grvida, ela e Peyton poderiam simplesmente comear umavida juntos mais cedo. Ento ela ligou para Peyton para lhe dar a notcia, e seu mundo se desfez. Eleficou em silncio durante meio minuto antes de dizer algo que ela nunca vai esquecer.

    Voc no pode provar que o filho meu. Ningum vai acreditar em voc.E, simples assim, o jogo entre ela e o famoso Peyton Anders estava acabado. Ela fez um teste de

    gravidez e ficou encarando o resultado positivo. Em um borro de medo, terror e incerteza, noconseguiu se lembrar de respirar, porque o teste representava duas coisas. O comeo de uma novavida.

  • E o fim da sua.Nota:

    * Agora que ns dois estamos aqui/ Sem nada mais a temer/ Poderamos ter tudo/ Ento deixe seu corao cair/ Aqui, nestemomento que estamos roubando/ Baby, estou sentindo/ O mesmo que voc/ Seja l o que estiver sentindo. (N. da T.)

  • 4Ellie nunca tinha corrido to rpido em toda sua vida. Qualquer coisa para ficar longe da terrvelnotcia.

    A mochila balanando nos ombros continha tudo o que ela poderia precisar. Talvez ela nuncamais voltasse. Talvez fosse at a casa de Nolan para se despedir dele e continuasse correndo. Atesbarrar na vida de outra pessoa. Qualquer pessoa que no fosse ela mesma.

    Relampejou ao longe, e o ar ficou mais quente e mido. Ellie respirava com dificuldade, mas nose importava com isso. A cada passada, sentia que estava mais longe da terrvel verdade, de sua novarealidade. Sua me estava grvida de outro homem. Seu pai no falava sobre o pai do beb, mas havialhe contado a pior parte cinco minutos atrs.

    Eles se mudariam para San Diego pela manh. O que significava que ela no poderia se despedirde sua me.

    No houvera tempo de Ellie pegar a bicicleta. Assim que ela entendeu que o pai estava falandosrio e que aquela seria sua ltima noite em Savannah, apanhou suas coisas e comeou a correr. Eno diminura o ritmo desde ento. Passos mais longos, mais rpidos. Suas pernas doam, mas elacontinuava correndo. Talvez cruzasse a cidade at a casa de Lena para poder ao menos dar um ltimoabrao na me e se despedir. Ellie nunca havia amado e odiado algum tanto assim em toda sua vida.Ela sentiu lgrimas escorrendo pelas bochechas e as limpou com fora. Sua me no se importava.Ela havia trado seu pai. Todas aquelas noites, quando chegava tarde em casa, ela estava... com ooutro cara.

    Quando poderia estar com Ellie.Ela se sentiu fraca e achou que fosse desmaiar e morrer na calada. E da se isso acontecesse? Ela

    iria para o cu e poderia evitar esse pesadelo, do qual ela no podia correr.Por fim ela chegou casa de Nolan, bem quando sentiu que no poderia dar mais nenhum passo.

    Chorando e com a respirao ofegante, bateu porta. Ela no pensou em como devia estar suaaparncia nem no que a famlia dele iria pensar. S sabia que no conseguiria passar mais nem umminuto sem ele.

    Nolan atendeu a porta, e seu sorriso se transformou em espanto. Ele se importava com ela etalvez fosse a nica pessoa.

    Ellie... Ele saiu at a varanda e fechou a porta. O que foi? O que aconteceu?A respirao difcil de Ellie deu lugar a soluos, e ela no sabia ao certo se conseguiria tomar

    flego. Definitivamente, no conseguia falar. Em vez disso, abraou Nolan durante um longo tempo,como se estar ali com ele pudesse salv-la.

    Shhh... Est tudo bem. Ele acariciou seus cabelos loiro-escuros e tambm a abraou.Ellie no queria mais solt-lo. Mesmo em meio ao horror daquela noite, ela sabia, sem sombra de

    dvida, que se lembraria daquele momento para sempre. Ainda que Nolan a provocasse a respeito deeles se casarem um dia, eles nunca tinham se abraado daquele jeito. Ento, mesmo no pior dia de suavida, ela sempre teria essa recordao.

    A sensao de estar nos braos de Nolan Cook.

  • Quando por fim conseguiu falar, Ellie recuou um passo e buscou os olhos dele. Eu vou me mudar. Amanh de manh. O qu? Claramente, a resposta de Nolan saiu mais alta do que ele pretendia. Amanh?

    Ellie, isso loucura! v-v-verdade. Ela foi tomada por soluos. A minha me... ela est grvida.Nolan passou a mo nos cabelos e deu um passo para trs. Ele se virou para a porta e depois

    voltou novamente para Ellie. Isso uma coisa boa, certo? Quer dizer... ela no to velha assim. O rosto dele estava

    plido, e suas palavras soavam secas. Vocs vo se mudar porque ela vai ter um beb?Ellie odiava dizer aquelas palavras, odiava acreditar nelas, mas era tarde demais para qualquer

    coisa que no fosse a verdade. O meu pai no... ele no o pai do beb.O ar da noite estava completamente parado, sem nenhuma brisa vinda do mar. O nico som que se

    ouvia era o de um distante coro de rs e nada mais. Chocado, Nolan caminhou lentamente at ela. Voc quer dizer... . Dessa vez, as lgrimas que acharam caminho at o canto dos olhos de Ellie estavam

    quentes de vergonha. Como aquilo podia estar acontecendo? Ela traiu o meu pai. por isso quevamos nos mudar.

    Novamente Nolan recuou, dessa vez se apoiando na parede, como se pudesse cair se algo no omantivesse em p.

    Voc quer dizer... que vocs vo se mudar para uma casa nova. Longe da sua me? Nolan... Ela sentiu o corao parar de bater por um instante e a cabea girar. Vamos nos

    mudar para San Diego. Eu e o meu pai. Amanh.Rapidamente os olhos de Nolan ficaram escuros e raivosos. Ele balanou a cabea em negativa. No. E socou o pilar que sustentava a varanda da frente da casa. Ento saiu para o gramado

    e gritou novamente: No!Ellie ficou de braos cruzados, secando as lgrimas que escorriam pelo rosto. Eu... no quero ir. Ento voc pode ficar aqui. Ele foi rapidamente at ela, com a respirao mais acelerada.

    Meus pais vo te deixar ficar aqui. Voc pode pelo menos terminar a escola. . Ellie mordeu o lbio e assentiu. Talvez.No importava o que eles decidissem ou o que ela quisesse fazer seu pai nunca sonharia em

    deixar que ela ficasse. Ele sempre ia busc-la se ela no chegasse em casa na hora marcada. San Diego? A raiva dele diminuiu um pouco, como se seu plano fosse suficiente para

    convencer a ambos de que, de alguma forma, de manh, eles ainda estariam morando a poucas ruasum do outro. Por que San Diego?

    Acampamento Pendleton. Eles ofereceram um emprego para o meu pai. Ela deu de ombros,

  • e um calafrio desceu por sua coluna, apesar do calor do vero. Antes de o meu pai descobrir sobrea minha me. Ele no ia aceitar o emprego, mas a...

    Nenhum dos dois disse nada por um bom tempo. Nolan colocou as mos nos ombros de Ellie, eeles olharam um para o outro. Nos olhos dele, Ellie podia ver as lembranas de quase uma dcadados dois crescendo juntos. Ele balanou a cabea.

    Voc no pode ir embora, Ellie. Eu sei. Ela estremeceu um pouco, incerta quanto a seus sentimentos. Vem aqui. Ele estendeu os braos, e ela foi at ele. Mais uma vez, ele a abraou e a embalou

    devagar, como se o fato de estarem abraados fosse capaz de evitar o que viria pela frente. Emseguida ele recuou, e parte da tristeza no estava mais em seus olhos. Eu tenho uma ideia.

    O qu? Ela olhou para baixo, desejando que ele a abraasse de novo. Vem. Ele segurou a mo dela. Vem comigo.A sensao dos dedos dele em volta dos seus dominou os pensamentos de Ellie, e ela desejou

    ardentemente que o tempo parasse. Eles correram at os fundos da casa e passaram por uma portalateral na garagem. Nolan acendeu a luz.

    Por aqui.Ele deu a volta em uma pilha de caixas e armrios de arquivos e foi at uma rea cheia de varas e

    equipamentos de pesca. Ento soltou a mo dela e procurou em volta at encontrar uma velha caixade metal do tamanho de uma caixa de sapatos, empoeirada e com teias de aranha. Nolan pegou umjornal velho e tirou as teias dali.

    O que isso? perguntou Ellie, segurando as tiras da mochila. Minha primeira caixa de equipamentos de pesca. Ele abriu um largo sorriso. Eu

    costumava levar para toda parte. E chutou de leve uma caixa de plstico maior, vermelha. Euuso essa agora. Tem mais espao.

    Ellie estava confusa. Sei.Ele olhou ao redor. Eu preciso de uma p.Ela avistou uma pequena p na bancada de trabalho do pai dele. Aquela ali? Perfeito.Ele pegou a p e entregou a ela. Os olhos dele danavam enquanto ele enfiava a caixa debaixo do

    brao, como sempre fazia com a bola de basquete. Ento ele pegou a mo de Ellie novamente. Vem. Confie em mim.Nolan levou Ellie para fora da garagem, e juntos eles correram at a frente da casa. Espere aqui. Ele colocou a caixa no cho da varanda e ergueu a mo. No saia da. Eu j

    volto.

  • Fosse l o que ele estivesse fazendo, estava ajudando. Ellie adorava aquela sensao de aventura,at mesmo em uma noite como aquela. Ela olhava para as estrelas e tentava se imaginar partindo paraSan Diego pela manh. Por favor, meu Deus... No permita que seja o fim. Por favor...

    Nolan voltou, dessa vez com um bloco de papel amarelo, uma caneta e uma lanterna. Colocoutudo dentro da caixa, a enfiou debaixo do brao e, com a mo livre, pegou a de Ellie mais uma vez.

    Vamos.Ela no precisou perguntar para onde. Ele a estava levando para o parque, onde eles sempre

    acabavam indo parar juntos. A Edgewood Street estava vazia, e a estrada, completamente silenciosa.Eles a cruzaram e entraram no parque pelo velho porto de ferro. O lugar era aberto apenas aosmoradores da regio, mas Ellie e Nolan sempre sentiram que o local lhes pertencia. Simplesmenteparecia ser assim.

    Ele fechou o porto sem fazer barulho, pegou a lanterna e a acendeu. s vezes a lua iluminavatudo perfeitamente bem, mas no naquela noite. O cu estava mais escuro que carvo, e as estrelasque pontilhavam o cu no brilhavam o bastante para iluminar o caminho dos dois.

    Como sempre, eles correram pelas rvores menores at a maior, a uns trinta metros do porto. Arvore deles. Nolan colocou a caixa e a p ao lado da maior raiz, aquela que eles usavam comobanco.

    Este o plano. Ele estava sem flego, provavelmente por estar to animado com a ideia.Nolan se sentou, desligou a lanterna e colocou o bloco em cima do joelho. Cada um de ns vaiescrever uma carta para o outro e colocar na caixa. Ele pensou por um instante. Hoje dia 1 dejunho. Vamos enterrar nossas cartas aqui, ao p da rvore, e daqui a onze anos... ele sorriu ... nodia 1 de junho, vamos nos encontrar aqui e ler o que escrevemos.

    Ellie franziu o cenho, mas no conseguiu ficar sria com a expresso que Nolan tinha no rosto. Arisada a pegou desprevenida, aliviando o desespero em seu corao.

    Por que onze anos? Porque, na aula de ingls, estamos lendo um livro chamado As respostas. um livro sobre o

    futuro. de fico cientfica e fala que, daqui a onze anos, vai acontecer uma convergncia esquisitaou algo do gnero, e da noite para o dia teremos todas as respostas. As palavras dele saamrapidamente, como se estivessem tentando acompanhar o ritmo de sua mente, que estava a mil.

    Respostas para qu? Ela riu de novo. Ellie nunca tinha visto Nolan daquele jeito. Voc sabe. Ele olhou ao redor, tentando encontrar a explicao certa. De que cor o

    vento, qual a profundidade do oceano, por que sonhamos, um monte de coisas. Esse tipo de respostas. E fez uma pausa. Quer dizer, coisas que s Deus capaz de saber. Ento abriu um sorrisobobo para Ellie. Sei l. Onze anos parece mais fcil de lembrar.

    Humm... T bom. Ela mordeu o lbio inferior para se impedir de rir de novo. Por mais queestivesse agindo como um doido, Nolan estava visivelmente srio. Ento vamos escrever umacarta um para o outro... e no vamos ler at l.

    . Ele hesitou, e seus ombros caram um pouquinho. A menos que seu pai mude de ideiae voc no se mude para San Diego amanh.

    A tristeza abalou a magia do momento.

  • Onze anos, Nolan. tanto tempo... Bom... a gente vai se ver antes disso. Vamos escrever e ligar um para o outro, eu vou te visitar,

    mas...Ela sabia aonde ele queria chegar. S para o caso de acontecer alguma coisa... . O entusiasmo dele diminuiu, e seus olhos ficaram marejados. Para o caso de

    acontecer alguma coisa, vamos nos dar essa chance.Ela assentiu devagar. Uma chance. S como precauo. A ideia parecia to triste que ela mal podia

    se aguentar em p. Ela tirou a mochila das costas, a largou no cho e se sentou ao lado dele no troncoda rvore.

    O que devemos dizer na carta? Humm... Ele olhou em volta, como se estivesse apanhando ideias do ar pesado da noite. Aos

    poucos, seus olhos encontraram os dela. At sob a parca iluminao, ela podia ver que Nolan estavanervoso. Ele manteve o olhar no dela durantes vrias batidas do corao. Vamos escrever comonos sentimos em relao ao outro.

    Ela estreitou os olhos. Voc j sabe. Bom... na verdade, no sei no. Ele encontrou seu largo sorriso mais uma vez. Quer

    dizer, voc sabe como eu me sinto. Que eu vou casar com voc algum dia. E deu uma piscadelapara ela. srio. s escrever como voc se sente, Ellie.

    Geralmente essa era a parte da conversa em que Ellie dizia a Nolan que ele no haveria de secasar com ela. Ele iria embora e se tornaria um jogador de basquete famoso, e ela escreveria umromance best-seller. Naquela noite, porm, em que os minutos se passavam com tanta rapidez, ela nopde dizer nada disso. Ellie esticou a mo para pegar o bloco de papel.

    Eu escrevo primeiro. Tudo bem. Ele parecia aliviado, e entregou a ela papel e caneta. Depois acendeu a lanterna.

    Aqui, use isso.Ela apoiou a lanterna para que iluminasse diretamente o papel. No olhe. No vou olhar. Ele deu risada. O objetivo esse. Ns no podemos saber o que est

    escrito nas cartas. S daqui a onze anos. .Ele parecia satisfeito. Ellie ficou com o olhar fixo no papel em branco. Olhou de relance para

    Nolan e viu que ele estava olhando atentamente para cima, para as estrelas em meio ao musgo-espanhol. Muito bem, disse a si mesma. Como eu me sinto? Um turbilho de emoes passou atravsdela, e ela se forou a no chorar. No ali. De repente, ela queria escrever aquela carta mais do quequalquer coisa que eles pudessem fazer naquela noite.

  • Ellie pousou a caneta no topo da pgina.

    Querido Nolan,Em primeiro lugar, s estou fazendo isso porque voc no vai ler

    esta carta por onze anos. Haha! Tudo bem, l vou eu. Voc quer sabercomo eu me sinto em relao a voc?

    Ela parou e ficou com o olhar fixo naquele mesmo cu. Eles no estavam com pressa. Passava umpouco das nove, o que queria dizer que eles ainda tinham duas horas. Como ela se sentia? Seus olhosse depararam com o papel, e ela comeou a escrever novamente.

    Estas so as coisas que eu tenho certeza que sinto. Eu amo o fato devoc ser o meu melhor amigo e de eu poder vir aqui sempre quequiser. Amo o fato de voc ter me defendido na hora do recreio, noterceiro ano, quando Billy Barren tirou sarro das minhas marias-chiquinhas. Sinto muito por voc ter se metido em encrenca por fazercom que ele tropeasse... Na verdade, no sinto muito no. Eu ameiaquilo tambm.

    Eu amo a sua coragem de defender quem precisa, como quandoaqueles babacas do time de futebol americano jogaram Coca na cabeadaquele menino magricela. Voc foi o primeiro a levar um punhado deguardanapos para ele. Realmente, Nolan, eu amo isso.E adoro ver voc jogando basquete. como se... sei l... como se voctivesse nascido para jogar. Eu poderia ficar olhando voc naquelaquadra de basquete o dia inteiro.

    O que mais?...Ellie olhou para Nolan novamente e tentou se imaginar dizendo adeus a ele dentro de poucas

    horas. Lgrimas fizeram seus olhos arderem. Agora no, Ellie. No pense nisso. Ela fungou econtinuou a escrever.

    Agora a parte que eu nunca poderia lhe dizer neste momento, porque muito cedo ou talvez muito tarde, j que estou indo embora amanhde manh. Eu amei a forma como me senti hoje noite, quando vocme abraou. Eu nunca tinha me sentido assim antes. E, quando vocme levou at a sua garagem e de l viemos at o parque, eu amei sentira minha mo na sua. Para dizer a verdade, Nolan, eu amo quando voc

  • diz que vai se casar comigo. O que eu realmente no entendia at estanoite era que essas no so as nicas coisas que eu amo.

    Eu amo estar aqui, eu e voc, e ficar ouvindo o som da suarespirao. Eu amo ficar sentada debaixo dessa rvore com voc.Ento, acho que isso. Se ns no nos vermos durante onze anos,quero que voc saiba como eu realmente me sinto.

    Eu te amo.Pronto, falei.No se esquea de mim.

    Com amor,Ellie

    Somente quando assinou seu nome, Ellie sentiu as lgrimas escorrerem e notou que uma delashavia cado no papel. Ela a secou com os dedos, dobrou a folha e entregou o bloco a Nolan.

    Sua vez.Ele deve ter percebido as lgrimas dela, mas no disse nada. Em vez disso, colocou o brao em

    volta dos ombros dela e a abraou por um bom tempo. A gente vai se ver. Vai sim.Ela ficou mais calma e assentiu, porque no havia palavras. Por fim, Nolan a soltou, se encaixou

    no tronco da rvore e pegou a lanterna. Ele a colocou debaixo do brao e comeou a escrever. Elano queria ficar encarando-o, mas, fosse o que fosse que ele estivesse colocando no papel, era algoque saa com facilidade. Ele parou de escrever e abriu um largo sorriso.

    Venho esperando uma oportunidade de dizer isso faz tempo.Ela deu risada, porque esse era o efeito que ele tinha sobre ela. A carta de Nolan no era muito

    longa. Tinha uma pgina, mas ele no fez nenhuma outra pausa enquanto escrevia. Quando terminou,dobrou o papel do mesmo jeito que ela fizera. Ento ergueu a velha caixa de pesca at o colo e aestendeu para Ellie.

    Ela sentiu uma onda de dvida. Voc no vai voltar e ler minha carta, n? Ellie. Ele ergueu a sobrancelha. Vamos enterrar a caixa. Nenhum de ns vai poder tirar

    as cartas daqui durante onze anos. Acontea o que acontecer.Ela passou o polegar sobre o papel amarelo pautado e jogou sua carta dentro da caixa. Ele fez o

    mesmo com a dele e ento fechou a tampa. Em seguida pegou a p e se levantou, com o olhar fixo nocho.

    Que tal bem aqui? Entre as razes da rvore? Onde geralmente colocamos os ps. Exatamente.

  • Nolan entregou a Ellie a lanterna, ficou de joelhos e comeou a cavar. Ela mirou com a luz olocal onde o buraco deveria ser feito. O solo estava macio, e ele cavou rapidamente.

    Pronto. Ento se levantou e limpou a testa com o dorso da mo. J o suficiente.Ele colocou a p no cho e pousou a caixa no espao que cavara. Perfeito. Ele limpou a terra das mos. Voc enterra.Ellie passou a lanterna para ele, pegou a p e a deslizou para dentro da terra solta. Em seguida,

    jogou a terra em cima da caixa. A cada punhado, ela tentava visualizar o futuro. Escavando e tirando acaixa do buraco dali a onze anos. Ela estaria com vinte e seis anos, teria se formado na faculdade eestaria a caminho de concretizar sua carreira de escritora. Talvez at j tivesse publicado um livro.Aos poucos, ela preencheu o espao nas laterais e em cima da caixa. Quando ela terminou, Nolan fezpresso com o p em cima da terra e nivelou o solo. Ellie acrescentou mais um pouco de terra, e elesrepetiram o processo at que o cho ficasse bem aplainado e slido.

    Eles se sentaram, e Nolan desligou a lanterna. No consigo acreditar que voc est indo embora. Nem eu.A risada de antes se fora, e ela estava caindo na real. Durante quase duas horas, eles ficaram

    sentados debaixo da rvore e conversaram sobre todas as lembranas maravilhosas que tinhampartilhado. Por fim, se levantaram e ficaram com o olhar fixo um no outro, temendo o que viria pelafrente. Ele baixou os olhos para o cho e perguntou:

    O que tem dentro da sua mochila?Ela quase havia esquecido. Peguei algumas coisas do meu quarto. Quando sa. Ellie soltou as mos de Nolan, abriu o

    zper e tirou um coelhinho de pelcia bastante gasto. Lembra disso?A risada dele interrompeu a seriedade da despedida que estava por vir. Eu ganhei e dei pra voc... na quermesse. Ele ficou na minha cama desde o quinto ano. Ela lhe entregou o coelhinho. Quero que

    voc fique com ele.A leveza do momento se dissipou mais uma vez. Ele pegou o brinquedo e o levou junto ao rosto. Tem o seu cheiro.Ela revirou a mochila e pegou uma foto em um porta-retratos, com os dois na formatura do

    oitavo ano. Minha me mandou enquadrar essa foto. Eu tinha esquecido at essa noite.Nolan pegou a foto, mas estava escuro demais para ver. Ele colocou o porta-retratos e o coelho

    de pelcia em cima do tronco da rvore e pegou as mos de Ellie novamente. Eu no tenho nada para te dar. Voc j me deu. Ela sentiu os olhos ficarem midos de novo, as lgrimas transbordando do

    corao que doa. Aquele anel de diamante que voc ganhou para mim na mquina do Petes Pizza.Eu guardei.

  • Guardou? Ele parecia to feliz quanto surpreso. Eu no sabia. Eu guardei tudo que voc j me deu. Humm. Ele deu um passo para ficar mais perto dela. A umidade estava espessa ao redor

    deles, o musgo baixo nas rvores, marcando aquele local mgico que era deles, s deles. Vocprecisa escrever aquele livro. Aquele que voc sempre fala.

    Ela sorriu, ainda que algumas lgrimas escorressem pelo rosto. Vou escrever.Quando eram quase onze horas, Nolan estendeu a mo para ela. Dessa vez, entrelaou os dedos

    nos dela, como namorados costumam fazer. Sabe do que eu tenho medo? Do qu?Ellie apoiou a cabea no ombro dele. Eu jogo melhor quando voc est olhando. Ele olhou para ela, buscando seus olhos.

    Como vou ganhar o campeonato estadual sem voc? Voc tem o seu pai. Ela sorriu, mas seu corao batia rpido novamente. Eles tinham apenas

    alguns minutos. Voc o filho do treinador, Nolan. Sempre vai ser o melhor. Viu? Ele ainda olhava para ela, os dois de mos dadas. Voc diz coisas assim. Perto de

    voc, sinto que nada pode me deter. Sinto como se eu fosse jogar na nba um dia. Voc vai. O sorriso dela se desvaneceu. Eu... eu tenho que ir.Ele ficou de cabea baixa e segurou as mos dela com mais fora, como se estivesse com raiva

    do prprio tempo por se atrever a tir-los dali, daquela noite. Quando ergueu o olhar em direo aodela mais uma vez, parecia arrasado.

    Eu vou ligar para voc. Quando chegar l, me ligue e passe o seu nmero. Tudo bem. Ela sabia o nmero dele de cor. Essa parte seria fcil. Mas... voc vai me

    visitar? No ano que vem vou tirar a carteira de motorista. Ele passou os polegares ao longo das

    mos dela. Vai ser divertido dirigir na estrada.Ela no queria dizer, mas os pais dele nunca permitiriam que ele dirigisse sozinho cruzando o

    pas. No com dezesseis anos. Ento apenas assentiu, querendo acreditar naquilo porque ele disse quefaria. Porque no havia mais nada a fazer.

    Ele fez uma pausa e a observou, como se estivesse tentando memorizar o momento. Ellie... no me esquea.Ela pensou em perguntar se ele estava louco, porque ela nunca seria capaz de esquec-lo, nunca

    desistiria de tentar voltar, de acreditar que ele a encontraria de alguma forma. Mas ela no queriadesmoronar, ento apenas caiu lentamente nos braos dele, apoiando a cabea em seu ombro.

    Eu no quero ir. Vou com voc at sua casa, j que voc est sem a bicicleta.

  • A ideia fez com que eles ganhassem mais alguns minutos juntos. Ele jogou a mochila dela sobre oombro, e os dois foram caminhando at a casa dele primeiro. Quando chegaram, Nolan deixou l ap e a lanterna, o bloco de papel e a caneta. Ento entrelaou os dedos nos dela mais uma vez, e elescaminharam lado a lado durante todo o trajeto at a casa dela, roando os ombros um no outro, compassos lentos e compassados.

    As luzes estavam apagadas, mas isso no queria dizer que o pai de Ellie no a estava esperando.Ele no tolerava que ela chegasse em casa depois da hora combinada. Nem mesmo naquela noite.Eles pararam perto de um grande arbusto, de forma que, se o pai dela estivesse olhando, no pudessev-la se despedindo de Nolan. Mais uma vez, ele a puxou para seus braos.

    Eu odeio isso. Eu tambm. Ela limpou as lgrimas silenciosas. Mas agora preciso entrar.Ele colocou as mos nos ombros dela e, sob a luz do poste, eles puderam se ver melhor. Era a

    primeira vez que ela via os olhos de Nolan cheios de lgrimas. Ele levou as mos ao rosto dela e,sem que nenhum dos dois falasse nada, se inclinou e a beijou. No foi um beijo longo nem nadaparecido, como nos filmes. Ele apenas juntou os lbios nos dela durante tempo suficiente para que elativesse ideia do que ele poderia ter escrito em sua carta. Uma pista de como ela era importante paraele.

    Ento ele ergueu uma das mos e balbuciou: Adeus, Ellie.E a voz dela foi quase um sussurro: Adeus.Como se cada passo doesse fisicamente, Nolan se virou e comeou a descer a rua, para longe

    dela, para fora da vida dela. Ellie caiu de joelhos no gramado e enterrou o rosto nas mos. MeuDeus... Como o Senhor pde deixar que isso acontecesse? A traio de sua me, a mudana de cidade.E aquela ltima noite com Nolan... quando eles no podiam mais fingir ser apenas amigos.

    As lgrimas e os soluos vieram rpido e com fora, como quando ela ficara sabendo sobre suame e sobre a mudana para San Diego. Eles no estudariam mais juntos na Escola de Savannah, e elano o veria mais jogar basquete. Eles no se sentariam um ao lado do outro nas noites de fogueira daescola e no iriam aos bailes juntos. Ellie e Nolan no teriam outra noite de vero debaixo do velhocarvalho. Estava tudo acabado.

    A nica coisa que lhe dava foras para ficar em p, o nico motivo pelo qual ela conseguiarespirar, era a velha caixa de metal enterrada entre as razes da rvore. A caixa com as cartas e apossibilidade que permaneceria l durante os prximos onze anos.

    A nica chance dos dois, e tambm a ltima.

  • 5Quando Ellie no apareceu sua porta no dia seguinte, Nolan soube que havia acontecido. Elahavia se mudado para San Diego, e ele no poderia fazer nada alm de esperar pelo telefonema dela.Mas, quando se passou uma semana, depois outra, e ela ainda no havia lhe telefonado, ele comeou aficar preocupado.

    Ela sabe o nosso nmero.Ele e o pai estavam jogando basquete no ginsio, preparando-se para o incio da temporada. A

    frustrao de Nolan s aumentava. Eu no entendo. Talvez eles no tenham telefone ainda. Provavelmente esto em um alojamento temporrio na

    base. At se ajeitarem. O pai de Nolan lhe passou a bola. Mas ela vai dar notcias. Voc vai ver. Eu odeio que ela tenha ido embora Nolan murmurou baixinho, arremessando a bola, que

    deslizou com facilidade pelo centro da rede.Seu pai a pegou, observando o filho. Eu sei que voc sente falta dela, filho. Sinto muito. Ele hesitou, com preocupao genuna.

    Se voc no tiver notcias dela logo, vou te ajudar a encontr-la. E olhou para o relgio depulso. Agora vamos. Sua me est nos esperando para o jantar.

    Eu preciso de mais uma hora. Ele estendeu as mos para pegar a bola. Por favor, pai.O basquete era sua vlvula de escape. A nica forma de sobreviver falta que sentia de Ellie.Durante poucos segundos, pareceu que seu pai insistiria, mas ento abriu um largo sorriso. Voc o sonho de todo treinador, sabia?Nolan sorriu, porque tinha vencido e porque, a cada minuto em que fazia a bola quicar no cho

    de madeira da quadra, a cada arremesso que fazia, era mais um minuto em que no tinha de pensar nasaudade que sentia de Ellie.

    O primeiro telefonema dela s aconteceu uma semana depois disso. Faltavam poucos minutospara as nove, e ele estava perto do telefone quando o aparelho tocou. Nolan atendeu na esperana deque fosse Ellie, como sempre fazia ultimamente quando o telefone tocava.

    Al? Nolan. Ela soava aliviada e nervosa ao mesmo tempo. Sou eu. Ellie... Ele se sentou na cadeira mais prxima e cobriu os olhos com a mo livre. Por

    que voc demorou tanto para ligar? Meu pai... Ele me proibiu de telefonar. A voz dela diminuiu para um sussurro. Ns no

    temos telefone.A mente de Nolan gritava por respostas. Mas vo ter, certo? No sei. A voz dela se partiu, e ela no disse nada por vrios segundos. Eu ainda no

  • falei com a minha me tambm. Ns nem chegamos a nos despedir. Parece que ela nem se importacomigo.

    Ellie... Isso horrvel. Nolan sentiu os msculos dos braos ficarem tensos e o rosto quente. Talvez o meu pai possa conversar com o seu...

    Eu no sei. A voz dela ficou tomada de lgrimas. Pode ser... Onde voc est? Ele est a? Ns estamos no mercado. Eu disse a ele... que precisava ir ao banheiro. Ela soava

    desesperada, assustada e com o corao partido. Eu... eu peguei umas moedas... no criado-mudodele. Ela respirava depressa. Se ele me pegar...

    Ellie, isso loucura. A voz de Nolan estava mais alta do que antes. Eu vou falar com ele.V atrs dele pra mim.

    Eu no posso. A voz dela foi engolida pelas lgrimas. Eu tenho que ir. Eu s... precisavaouvir a sua voz.

    O pnico apertou o peito de Nolan, atraindo-o na direo da porta, como se ele pudesse, dealguma forma, encontrar um jeito de chegar at ela.

    Ele est... Voc est em perigo? No, no nada disso ela respondeu com rapidez. s que eu... sinto a sua falta.Eles precisavam de um plano. Nolan se apressou em pensar, avaliando as opes. Me d o seu endereo. No temos endereo fixo ainda. Ela soltou um grunhido. Estamos em San Diego, na

    base. O meu pai disse que a gente pode ir para a casa permanente qualquer dia desses. Mesmo assim voc pode me dar o endereo. Eles podem encaminhar a correspondncia depois

    que voc se mudar. Aguenta a. Ele pegou um pedao de papel e uma caneta na gaveta maisprxima. Tudo bem, qual o endereo?

    Ela ficou ofegante. Nolan, eu tenho que ir. Espere! O pnico dele duplicou. Voc sabe o meu endereo, n? claro. Kentucky Avenue, 392, Savannah, 31404. Como eu poderia esquecer?O alvio se abateu sobre Nolan como a luz do sol. Tudo bem, ento voc precisa me escrever, Ellie. Arrume um jeito. Na carta, me passe o seu

    endereo. Ento vou lhe escrever de volta e vamos pensar em uma maneira de nos falar por telefone.Talvez um vizinho tenha um telefone que voc possa usar.

    Nolan! A voz dela se tornou um sussurro desesperado. Eu preciso ir! Estou comsaudades!

    Eu tambm est...A linha ficou muda. Nolan deixou a cabea pender e colocou o telefone de volta no gancho. O pai

    dela devia estar chegando. Pelo menos temos um plano. Ele soltou o ar, tentando ser otimista. Ela

  • sabia o endereo dele. Ela tinha personalidade e no deixaria que os outros lhe dissessem o que fazer.Ela acharia uma maneira de escrever para ele, no importando o que o pai dela quisesse.

    O problema era que ele no tinha como entrar em contato com ela at que ela o fizesse primeiro.Novamente se passou uma semana, depois duas, e nada de notcias. Os dias de Nolan eram solitrios,e ele nunca jogara tanto basquete na vida. Ele ia para casa depois da escola, verificava acorrespondncia, colocava os tnis e a bermuda esportivos e ia jogar. E no voltava para casa atnove ou dez horas da noite. Ento fazia a lio de casa, caa na cama e, no dia seguinte, fazia tudo denovo. Semana aps semana aps semana...

    A temporada estava prestes a comear, e ele ainda no havia recebido notcias de Ellie. Quandono estava na quadra, caminhava sem rumo em um constante estado de preocupao. At mesmo demedo. Ellie no deixaria de escrever, ento o que tinha acontecido? Ele havia tentado ligar para oAcampamento Pendleton algumas vezes, perguntando como poderia entrar em contato com a famliaTucker.

    um assunto confidencial foi o que lhe disseram todas as vezes. No podemos darinformaes pessoais.

    Chegou a poca dos testes, e Nolan treinava com intensidade cega. Ao fim de trs dias, o nomedele estava na lista de jogadores do time principal. Seu pai o puxou de lado.

    Eu estabeleci um padro mais alto para voc do que para os outros caras do time. Abriu umlargo sorriso. E voc simplesmente passou voando. Parabns, filho. Eu no poderia estar maisorgulhoso de voc.

    Era por isso que Nolan vinha se esforando desde o sexto ano, para ter a chance de jogar no timeprincipal quando estivesse no primeiro ano do ensino mdio. Mas a novidade parecia sem graadiante da falta que ele sentia de Ellie.

    Voc acha que ela est bem? Nolan perguntou ao pai naquele fim de semana. Quer dizer,por que ela no me escreve?

    Talvez a carta tenha sido extraviada. O tom de voz do pai de Nolan sempre era bondoso. Elelamentava pela situao, com certeza. Eu realmente acho que ela est bem. Ele colocou a mono ombro do filho. Voc vai receber notcias dela. Mas, se ela no entrar em contato at o fim datemporada, vamos ver se conseguimos encontr-la.

    Nolan assentiu. Talvez seu pai estivesse certo. Eles no podiam fazer muita coisa agora. Almdisso, Ellie adorava quando ele jogava basquete. Se ele jogasse com a alma, sentiria a presena delapor perto, na arquibancada, torcendo por ele, acreditando nele.

    Seria quase como se ela estivesse l.No primeiro jogo da temporada, Nolan iluminou o placar com vinte e dois pontos e sete rebotes.

    O ritmo do jogo, os movimentos, a velocidade do time principal, tudo isso era to natural para Nolanquanto acordar pela manh. A vitria era apenas o comeo. Um jogo veio, depois outro, e ele era odestaque. Mas, quando os aplausos se esvaneciam e a multido ia para casa, ele se sentava no ginsiovazio e sentia a energia de Ellie.

    Simplesmente a sentia ali, no silncio.A maneira como ela se sentava na arquibancada quando ele jogava, torcendo por ele, ou se

    levantava e lanava os braos para cima, com uma intensidade no rosto. Ele podia sentir o brao

  • bronzeado dela roando no dele quando caminhavam na beira do rio, escutar as risadas e ossussurros dela nas noites quentes de vero sob o carvalho.

    Por que ela no me escreve, Senhor? Essa pergunta ecoava na mente dele, mas no havia resposta.No havia cartas de Ellie. No havia nenhum tipo de comunicao.

    Numa noite em meados de dezembro, o pai dele permaneceu sentado mesa do jantar depois quea me e as irms j tinham se levantado.

    Filho... eu estou preocupado com voc. Eu estou bem.