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ADRIANA ELIAS DA SILVA A USINA VALE VERDE: A expansão dos capitais, o processo produtivo e sua integração socioeconômica no município de Baía Formosa/ RN Monografia apresentada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como requisito parcial para obtenção do grau em Bacharel em Serviço Social. Professora Orientadora: Anna Flávia da Silva NATAL 2012.1

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ADRIANA ELIAS DA SILVA

A USINA VALE VERDE: A expansão dos capitais, o processo produtivo e sua integração

socioeconômica no município de Baía Formosa/ RN

Monografia apresentada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como requisito parcial para obtenção do grau em Bacharel em Serviço Social. Professora Orientadora: Anna Flávia da Silva

NATAL 2012.1

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ADRIANA ELIAS DA SILVA

A USINA VALE VERDE:

O processo produtivo, a expansão dos capitais e sua integração socioeconômica no município de Baía Formosa/ RN

FOLHA DE APROVAÇÃO

Aprovada em ____ / ____ / ____

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

Anna Flávia da Silva (Orientador)

DESSO∕UFRN

__________________________________________________________

Profª Drª Maria Regina de Ávila Moreira

DESSO∕UFRN

__________________________________________________________

Profª Drª Severina Garcia

PPGSS/UFRN

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Sem dúvida esse é um momento único

na carreira, que é apenas “o começo

do fim”, mas não poderia deixar de

agradecer àqueles que

incondicionalmente me apoiaram nas

minhas escolhas e mesmo com a

distância se mantinham tão presentes,

por isso dedico esse trabalho a minha

mãe, Maria Vicente da Silva e ao meu

Pai, João Elias da Silva.

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AGRADECIMENTOS

Como tempo passa rápido, já faz quase dez anos, quando decidi sair de

casa para tentar uma vida mais digna para mim e meus pais. Desde 2003,

encontrei pessoas que me incentivaram e acreditaram que eu era capaz, estes

foram realmente indispensáveis na minha caminhada.

Durante esse percurso vivi coisas que muita gente nem acredita, coisas

essas que foram bem difíceis, a mais cruel foi ver no olhar do meu pai a tristeza

por não ter condições financeiras de me ajudar, mas também teve aquelas que

foram tristes e engraçadas ao mesmo tempo, dentre elas tomar banho na praça

por falta de pagamento da água pela prefeitura de João Câmara, sem falar nos

dias sem luz, ali não tínhamos condições mínimas de vida, porém sobrevivemos.

Nestes momentos, eu tremia de indignação e, por isso, muitas vezes

paguei um preço caro, por enfrentar aqueles que estavam no poder daquela

cidade, fui perseguida e humilhada tantas vezes, mas o mais difícil foi quando o

secretário de educação da época, que se dizia pedagogo, me chamou de “burra”

pelo fato de ter tentado vestibular três vezes para o curso que termino hoje, isso

perante amigos. Neste dia pensei em desistir de verdade, em ficar no meu seio

familiar, mas minha mãe, tão sábia, me orientou ao contrário.

Além das tristezas obtive muitos momentos que me fortaleceram e não me

fizeram desistir, como o carinho dos amigos nos seus convites para viver com

suas famílias e em ser família para mim enquanto a minha estava longe, mas o

que mais me fortalece e me ajuda continuar é a esperança dos meus pais, que

mesmo castigados pelo tempo, pela vida dura que levam, acreditam que dias

melhores virão e para isso é só não desistir. E, assim, sigo e continuarei sempre,

mas acreditando em uma nova sociabilidade, questionando a desigualdade social

e continuarei tremendo de indignação perante a violação dos direitos humanos

dos meus companheiros e companheiras.

Com isso, não posso deixar de agradecer primeiramente a Deus, pois

desde que decidi sair de casa, deixar meus pais para tentar uma vida menos

castigada por essa sociabilidade. Portanto, considero que Ele me dá forças para

seguir nesta jornada.

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Agradeço aos meus pais, Maria Vicente da Silva e João Elias da Silva, por

acreditarem em mim, por sonharem comigo e crerem que a mudança é possível e

por serem meu alicerce, minha base, meu exemplo de seres humanos lindos. Por

isso que digo, com todo orgulho que essa conquista não é só minha, e sim,

inteiramente deles e é por eles que vou continuar sempre, entre os erros e

acertos.

Agradeço à Pastoral da Juventude do Meio Popular, pois contribuiu na

construção do meu crescimento pessoal, político e social, além de trazer para o

meu convívio amigos e amigas que são como irmãos na minha vida.

Como deixar de agradecer aos meus amigos da chamada “casa do terror”,

meu primeiro e difícil lar, mas foi lá que descobri a importância da amizade e do

companheirismo. Lá conquistei amigos (as) e irmãos (as) que fazem parte da

minha vida até hoje. Muito obrigada!

Agradeço aos amigos e amigas do CEFET/RN (hoje IFRN), grata pela

paciência, amizade, pelas descobertas maravilhosas, pelos porres e momentos

de bem estar que foram ótimos. Muitos deles ainda estão presentes até hoje me

fazendo rir sempre que podem.

Agradeço às minhas companheiras de residência universitária, pelo ombro

amigo, por me aguentar todos os dias com minhas manias e por serem família

também.

E às amigas irmãs e companheiras de profissão, principalmente ao meu

grupo de trabalho de sala de aula, sendo compreensivas e atenciosas comigo em

vários momentos da nossa vida didática.

Agradeço a minha professora Regina, que muitas vezes, além de amiga, foi

mãe, me dando força apenas com aquele abraço que eu estava precisando, me

aconselhando, sempre disposta a me ajudar no que fosse possível.

Agradeço a minha orientadora Anna Flávia, que apesar da carga excessiva

de trabalhos que a docência lhe impõe, fez o possível para que fizéssemos um

bom estudo.

Agradeço aos mestres, principalmente àqueles que se dedicaram e deram

o seu melhor em suas aulas para que nos tornássemos profissionais merecedores

do diploma que iremos receber. Não posso deixar de agradecer àqueles que nos

ensinaram a arte do autodidatismo durante a graduação.

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Sou grata à cidade de Baia Formosa, por me receber de maneira

acolhedora e a própria Usina Vale Verde, em particular a Assistente Social

Lindaselma, que apesar das obrigações diárias me deu atenção durante a visita à

empresa.

Apesar de não estar mais entre nós, agradeço à cantora Amy Winehouse,

pois foi a voz dela que me deu inspiração nos dias em que não conseguia

escrever este trabalho.

Agradeço aos amigos e amigas, que sempre foram como anjos que Deus

me mandou e agora irei citá-los por achar que esta é a melhor forma de

homenageá-los por tudo: Sandra, Vilma, Fátinha, Dorinha, Ozenildo, Zé Maria,

Gilberleno, Genildo, Simone, Carla, Nova, Ednalva, Aroldo, Izabella, Fabiana

Aguiar, Fabiana Alves, Camila, Marcos, Alan Marinho, Ana Beatriz, Camille, Yuri,

Fábio, Joelma, Viviane, Wanessa, Thaís, Ruguilene, Sabrina, Gracinha, Cacau,

Aline, Jailma, Glauce, Marcella, Josely, Érica, Hitaécio, Paulo, Allan Rodrigues,

Dany, Telma, Lílian.

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“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é

violento. Mas ninguém chama violentas às

margens que o comprimem.”

(Bertolt Brecht)

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Mirante ou Baia da cidade 54

Foto 2 - Entrada do centro da cidade de Baia Formosa 55

Foto 3 – Usina Vale Verde 58

Foto 4 – Mata Estrela 59

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Concentração de terras na cidade de Baia Formosa 60

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estruturas de mercado de bens e serviço 23

Quadro 2 - Estruturas de mercado de fatores de produção 23

Quadro 2 - Estruturas de mercado de fatores de produção 61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASPLAN - Associação dos Plantadores de Cana-de-açúcar do Rio Grande do

Norte

BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ITR - Imposto Territorial Rural

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IAA - Instituto do Açúcar e do Alcool

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PJMP - Pastoral da Juventude do Meio Popular

PROÁCOOL - Programa Nacional de Álcool

SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural

SUDAN - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

UNICA - União da Agroindústria Canavieira

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RESUMO

Esse trabalho apresenta um estudo que busca compreender os mecanismos produtivos e de acumulação de riqueza realizados pela Usina Vale Verde, localizada no município de Baía Formosa/ RN, e a sua participação no quadro socioeconômico do município. Particulariza-se essa acumulação de riqueza através do agronegócio da cana de açúcar; identificando os aspectos sócio-históricos da usina Vale Verde. Para o desenvolvimento da pesquisa, o método escolhido foi o dialético, utilizando-se da abordagem quanti-qualitativa. O desenrolar do estudo se efetivou em dois momentos articulados. No primeiro deles, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em relação aos temas: economia de mercado, seu processo produtivo e os seus mecanismos de acumulação de riqueza. Destacamos o conceito da acumulação primitiva, mostrando como ela se configurou e, por último, trabalhamos a economia de mercado na reprodução do capital na agroindústria canavieira, particularizando o Brasil; abordamos a temática da restruturação na produção agrícola no agronegócio da cana de açúcar, buscando caracterizar os novos (re)arranjos socioespaciais para sua multiplicação e, em seguida, falamos das particularidades sócio-históricas do agronegócio da cana de açúcar no município de Baía Formosa/ RN, enfocando os processos vivenciados pela Usina Vale Verde, do Grupo Farias. Na tentativa de alcançar respostas mais precisas para o tema, em um segundo momento, fez-se uma visita à cidade de Baía Formosa/ RN e à usina em questão, utilizando como um dos métodos de coleta de dados a observação direta e o próprio caderno de campo como material empiríco, sendo realizada uma entrevista semi-estruturada na Usina Vale Verde. Portanto, a pesquisa partiu do princípio de mostrar os mecanismos de reprodução de riqueza da Usina Vale Verde e a sua participação no quadro socioeconômico do município de Baía Formosa/ RN, mostrando, ainda, a organização da burguesia rural, na tentativa de articular as contradições particulares da reprodução da desigualdade social, a partir de seus pólos antagônicos.

Palavras chave: acumulação de riqueza, desigualdade social, agroindústria canavieira e Usina Vale Verde.

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RESUMEN

Este trabajo presenta un estudio cuyo objetivo es comprender los mecanismos de producción y acumulación de la riqueza de Usina Vale Verde, ubicada en la ciudad de Baía Formosa/ RN, y su participación en la estructura socioeconómica del municipio. Se particulariza esa acumulación de riqueza a través de la agroindustria de la caña de azúcar, identificándose los aspectos socio-históricos de Usina Vale Verde. Para desarrollar la investigación, el método elegido fue el enfoque dialéctico, con abordaje cuantitativo y cualitativo. La realización del estudio se llevó a cabo en dos momentos interrelacionados. En el primero, una búsqueda bibliográfica se llevó a cabo en los temas: la economía de mercado, su proceso de producción y sus mecanismos de acumulación de riqueza. Destacamos el concepto de la acumulación primitiva, mostrando la manera que se configuró y, por último, demostramos la economía de mercado en la reproducción del capital en la industria de la caña de azúcar, distinguiendo Brasil; abordamos la cuestión de la reestructuración de la producción agrícola en la agroindustria de la caña de azúcar, en busca de caracterizar a los nuevos (re)ajustes socio-espaciales para su multiplicación, y luego hablamos de los pormenores social e histórico de la agroindustria de la caña de azúcar en la ciudad de Baía Formosa/ RN, centrándose en los procesos experimentados por Usina Vale Verde, del Grupo Farias. En un intento de lograr respuestas más precisas al tema, en una segunda etapa, se hizo una visita a la ciudad de Baíia Formosa/ RN y a la planta en cuestión, utilizando como método de recolección de datos la observación directa y el propio cuaderno de apuntes como material empírico, además, se realizó una entrevista semi-estructurada en Usina Vale Verde. Por lo tanto, la investigación partió de la idea de mostrar los mecanismos de reproducción de la riqueza en la Usina Vale Verde y su participación en el contexto socio-económico de la ciudad de Baía Formosa/ RN, mostrando además la organización de la burguesía rural, en un intento de articular las contradicciones propias de la reproducción de la desigualdad social, a partir de sus polos antagónicos. Palabras clave: acumulación de riqueza, desigualdad social, industria de la caña de azúcar e Usina Vale Verde

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................13

2. A ACUMULAÇÃO DE RIQUEZA, O PROCESSO PRODUTIVO, E SUA

INTEGRAÇÃO SOCIOECONÔMICA NO MERCADO DO AGRONEGÓCIO

SUCROALCOOLEIRO. ...................................................................................................18

2.1. A economia de mercado e os mecanismos de reprodução de riqueza ..................18

2.2. Acumulações de riqueza e a acumulação primitiva. ..............................................24

2.3. Acumulação de riqueza e o processo produtivo ...................................................28

2.4 A produção sucroalcooleira e a reprodução do capital da agroindústria canavieira

brasileira ......................................................................................................................33

3. REESTRUTURAÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO DA CANA

DE AÇÚCAR ...................................................................................................................41

3.1A organização da agricultura capitalista brasileira e as implicações para o

trabalhador do campo ..................................................................................................41

3.2 O Processo de Modernização da Agricultura Canavieira Capitalista no Brasil e os

reflexos no Agronegócio ...............................................................................................44

3.3 O Processo de Reestruturação Produtiva do Capital Agroindustrial Canavieiro .....49

3.4 Particularidades sócio-históricas do agronegócio da cana de açúcar da Usina Vale

Verde no município de Baía Formosa/ RN ...................................................................51

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................65

REFERÊNCIAS ...............................................................................................................68

APÊNDICE ......................................................................................................................72

ANEXO ............................................................................................................................74

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INTRODUÇÃO

A economia de mercado está inserida no sistema capitalista. Este, por

sinal, é o modo de produção que, a meu ver, gera desigualdade social, como

também várias formas de opressão, que resultam em uma injusta distribuição da

riqueza socialmente produzida, gerando empobrecimento de grande parcela da

humanidade, desconsiderando as necessidades sociais básicas para a vida do

ser humano, como trabalho bem pago e digno, terra para plantar, liberdade e

autonomia.

Particulariza-se o caso brasileiro, que foi uma colônia agrícola e por isso

construiu um formato de elite através “Famílias oligárquicas” que fazem parte da

constituição das relações políticas, como um padrão de comportamento das elites

brasileiras, sendo este um dos mecanismos de concentração da riqueza, posto

que é o polo determinante da desigualdade social em nosso país, mas não

podemos esquecer que eliminação da miséria passa pela superação do capital.

A desigualdade social em nosso país se origina na má distribuição da terra,

sendo essa uma temática quase esquecida na realidade brasileira, visto que

somos um país que nunca realizou uma reforma agrária propriamente dita. O

acesso à terra continua sendo limitado, sem falar que não conhecemos os ricos

brasileiros, mas conhecemos profundamente a realidade da pobreza brasileira e

mesmo assim as políticas sociais implementadas são em um formato sempre

imediato. A revista Carta Capital (2011) trouxe em uma de suas reportagens a

temática: “ricos e ignorados: o Brasil sabe tudo sobre seus pobres, e quase nada

sobre seus abastados”. Na qual destaca:

E conhecer mais profundamente os ricos não é importante apenas do ponto de vista sociológico, mas para poder formular políticas públicas que vão ao encontro de metas atuais de distribuição de renda... Os especialistas são unânimes em um ponto: para conhecer melhor o perfil da elite é preciso ter acesso ao banco de dados da receita federal. O problema é que nem mesmo o Ipea tem acesso a esses dados. (Carta Capital, 2011, p.30)

Considera-se importante estudar a acumulação de riqueza, em especial a

acumulação a partir da terra, pelo fato desse estudo abrir um novo campo de

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análise sobre as desigualdades sócias, sobre uma nova perspectiva de estudo,

que é analisar a não superação da pobreza a partir do desvendamento da

riqueza, que é o seu polo antagônico.

Não posso deixar de destacar a grande influência da pesquisa

“Desigualdade Social e Acumulação de Riqueza: particularidades Sócio-Históricas

do Rio Grande do Norte” vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisa Trabalho,

Ética e Direitos Humanos, do Departamento de Serviço Social da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, a qual participo até o momento. Posso afirmar

que ela alicerçou a escolha do meu objeto de estudo monográfico.

A aproximação com a Questão Agrária aconteceu aos treze anos através

do contato com a Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, em João

Câmara, onde a minha formação política e social se configurou; foi através da

Pastoral que tive o primeiro contato com o Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra.

Em razão da minha participação no Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra a minha família acabou aderindo à luta pela terra; minha mãe, em

particular, que se integrou ao MST, pois tinha o desejo de viver de sua

subsistência.

Minha mãe, agricultora e analfabeta, desde criança tinha o sonho de viver

da agricultura familiar, por incentivo desse sonho ficou acampada durante sete

anos na “beira de uma estrada”, correndo perigo com meu pai. Em junho de 2010

o INCRA liberou a construção das casas. Hoje, posso ver no sorriso dela o quanto

é feliz com meu pai naquele lugar; ela planta para sua subsistência e só queria

um pedaço de terra para viver com dignidade.

Na tentativa de definir o recorte da pesquisa, dediquei uma atenção para os

ramos da produção econômica do estado. Primeiro levantei informações sobre a

fruticultura irrigada, depois a energia eólica, que vem crescendo em nosso estado,

sem falar na extração de gás natural. Contudo, o que me chamou atenção foi o

agronegócio da cana de açúcar no Rio Grande do Norte.

A produção agrícola, historicamente, é uma das principais bases

econômicas do Brasil, as exportações da cana-de-açúcar, do algodão, depois do

café proporcionaram destaque internacional para o país. Hoje o Brasil é um dos

maiores exportadores de produtos primários do mundo, como frutas, cereais,

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grãos, dentre outros produtos. “O Brasil o ocupa o primeiro lugar no ranking de

exportação de vários produtos agrícolas - açúcar, carne bovina, carne de frango,

café, suco de laranja, tabaco e álcool” (ESTADÃO, 2011).

A pesquisa foi realizada na cidade de Baía Formosa. No levantamento

inicial, dos dados o Instituto Geográfico e Estatística - IBGE informam que a

cidade possui um produto Interno Bruto de 11.428,75, com um índice de pobreza

de 66,98%. Além disso, outro dado importante é que a região que fica entre Baia

Formosa, Canguaretama e Arês possuem duas empresas que dominam a

produção de cana de açúcar, a Usina Vale Verde e a Estivas. Segundo o jornal:

a produção potiguar de álcool aumentou 5,1% na última safra, enquanto a de açúcar caiu 3,3%. Dados fornecidos pela Associação dos Plantadores de Cana-de-açúcar do Rio Grande do Norte (Asplan) mostram ainda que esse incremento do combustível - atual foco das atenções do mercado internacional quando se fala em energias renováveis - veio principalmente da Usina Vale Verde, que funciona em Baía Formosa, Litoral Sul do estado. (Tribuna do Norte, 2007)

Diante do contexto apontado acima, surgem vários questionamentos sobre

a desigualdade no município a partir do crescimento da Usina Vale Verde, já que

a mesma, segundo dados do jornal Tribuna do Norte (2011) “Dos 70,1 milhões de

litros de álcool produzidos na safra 2006/2007 no estado, 66,4% vieram da Vale

Verde.” Em seguida, observa-se o município de Baia Formosa/ RN, com seu

indíce de pobreza, sua extensão territorial. Ou seja, será que os índices sócio-

economicos de Baía Formosa sobem ou diminuiem e até onde a atividade

econômica da empresa potencializa troca de desenvolvimento à cidade?

A Usina Vale Verde Formosa pertence ao Grupo Farias, seu fundador foi

Senador Antônio Farias, falecido em 1988. A empresa tem destaque no segmento

sucroalcooleiro. Há mais de quatro décadas. O Grupo possui oito unidades no

setor, situadas nos Estados brasileiros de Pernambuco, Rio Grande do Norte,

Goiás, São Paulo e Acre. Segundo a página oficial do grupo, a unidade situada no

município de Baía Formosa é considerada a maior unidade industrial de álcool

instalada do Grupo e do Nordeste, sendo que suas instalações no RN têm mais

de trinta anos, e capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas por safra, e

dispõe de uma área agriculturável de 23 mil há (GRUPO FARIAS, 2011).

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Para o desenvolvimento da pesquisa, o método escolhido foi o dialético, o

qual possui uma compreensão histórica dos fenômenos sócias e que articula a

contradição e o conflito.. A pesquisa usou a abordagem quanti-qualitativa.

A pesquisa se efetivou em três momentos articulados. Em um primeiro

momento, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em relação aos temas:

mercado (processo produtivo, a acumulação flexível e a restruturação produtiva

na agroindústria), desigualdade social e questão agrária (distribuição de renda,

quadro socioeconômicos, principalmente na agroindústria canavieira). Além disso,

foi realizado um levantamento de dados estatísticos em bancos de dados do

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística - IBGE, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA,

União da Agroindústria Canavieira (Unica), Associação dos Plantadores de Cana-

de-açúcar do Rio Grande do Norte (Asplan).

Em um segundo momento, foi realizado uma visita à cidade de Baía

Formosa/ RN, utilizando como um dos métodos de coleta de dados a observação

direta e o próprio caderno de campo como material empiríco. Em relação à

observação direta, podemos afirmar que é um importante procedimento

metodológico pois:

A observação direta permite também que o observador chegue mais perto da “perspectiva dos sujeitos”, um importante alvo nas abordagens qualitativas. Na medida que o observador acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações. (LUDKE E ANDRÉ, 1986, P. 26)

A observação direta foi importante tanto no momento da visita à Usina Vale

Verde Baía Formosa, como também nas conversas informais com alguns

moradores da cidade. A visita teve como principal objetivo conhecer a cidade e

sua dinâmica e a empresa, principalmente a produção anual e a quantidade de

funcionários locais que trabalham na usina, todavia, neste momento, foi utilizado

outro instrumento básico para firmar a coleta de dados, a entrevista semi-

estruturada.

Logo, a pesquisa partiu do princípio de mostrar os mecanismos de

reprodução de riqueza da Usina Vale Verde e a sua participação no quadro

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socioeconômico de Baía Formosa/ RN, na tentativa de articular as contradições

particulares da reprodução da desigualdade social, a partir de seus pólos

antagônicos.

Portanto, a temática sobre mercado, desigualdades sociais e a pobreza

tem um importante acúmulo nas Ciências Sociais e consequentemente no Serviço

Social, visto que produz conhecimento. Todavia, sob um viés crítico, igualmente

ao Serviço Social a proposta deste estudo é se mostrar revelador da realidade

social.

O conjunto de leituras realizadas foi iluminada pelas obras de autores e

autoras como: Karl Marx (1968), A Virginia Fontes (2010), O Harvey (2011), O

Stiglitz e O Walsh (2003), Ianni (1981), Garcia (2010), Hobsbawrn (2010), Arruda

(2007), Martins (2002), Monteiro (2002), Graziano (1982), Oliveira (2009), dentre

outros, a investigação empírica e os levantamentos que realizamos junto às

fontes secundárias (jornais, revistas, sites, entre outras) deram o suporte

necessário para a compreensão e reflexão acerca da temática em estudo e

permitiram a composição dessa monografia em dois capítulos, como segue.

No capitulo I, abordamos como tema a economia de mercado, na tentativa

de mostrar como ela se configura na construção da acumulação de riqueza,

trazendo conceitos da economia clássica voltados para crítica em Marx e

conceitos apresentados pela microeconomia. Destacamos o conceito da

acumulação primitiva, mostrando como ela se configurou e, por último,

trabalharemos a economia de mercado e a reprodução do capital na agroindústria

canavieira, particularizando o Brasil.

No capítulo II, abordamos a restruturação da produção agrícola no

agronegócio da cana de açúcar, tentando caracterizar os novos (re)arranjos sócio/

espaciais para sua multiplicação, em seguida, falaremos das particularidades

sócio-históricas do agronegócio da cana de açúcar no município de Baía

Formosa/ RN, enfocando os processos vivenciados pela Usina Vale Verde do

Grupo Farias, a partir da análise dos dados empíricos coletados.

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2. A ACUMULAÇÃO DE RIQUEZA, O PROCESSO PRODUTIVO E SUA INTEGRAÇÃO

SOCIOECONÔMICA NO MERCADO DO AGRONEGÓCIO SUCROALCOOLEIRO.

Neste capítulo, o objetivo é mostrar como a economia de mercado se

configura para construir os mecanismos de acumulação de riqueza.

Em um primeiro momento, descreve-se a economia de mercado a partir

dos conceitos da microeconomia, a partir dos elementos da economia política.

Em um segundo momento, será descrito como se configurou acumulação

primitiva de riquezas, até a forma de acumulação no sistema capitalista, através

da mais valia.

Por último, desenvolve-se uma contextualização sobre a acumulação de

riqueza no Brasil, fazendo uma ligação com o agronegócio sucroalcooleiro na

tentativa de compreender o auge do processo de acumulação da economia de

mercado deste setor, em particular a reprodução do capital da agroindústria

canavieira brasileira.

2.1. A economia de mercado e os mecanismos de reprodução de riqueza

Antes de iniciar a discussão sobre a economia de mercado e os seus

mecanismos de acumulação de riqueza, seria interessante falar sobre a categoria

dinheiro, partilhando das idéias do autor clássico Karl Marx: a “necessidade do

dinheiro constitui, portanto, a verdadeira necessidade criada pelo moderno

sistema econômico. A quantidade do dinheiro torna-se progressivamente a sua

única propriedade importante” (MARX, p. 208, 1963).

Entende-se com isso que o dinheiro é a grande necessidade que o sistema

de economia privada produz, ele é universalizado como uma propriedade

onipotente, “se eu tenho dinheiro, terei tudo”. Ele é o mediador das necessidades

humanas, todavia, foi institucionalizado como força social da sociedade moderna,

ele está presente em todas as relações sociais, sejam estas pessoais ou

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impessoais, como, por exemplo, na lógica do mercado, na relação operário e

burguês.

Marx (1963) afirmará que essa propriedade é “o laço de todos os laços”,

visto que ele une e desune o homem ao mesmo tempo, é ”poder alienado da

humanidade”. Pois, a necessidade do homem é transformada na necessidade do

dinheiro, apesar de ser uma propriedade, têm características quase divinas, ele é

o único meio que fará as necessidades humanas acontecer, como se fosse outra

pessoa e não mais uma propriedade (MARX, 1963).

Existe uma correlação entre o dinheiro e o mercado, visto que é neste

mercado onde existe a troca de mercadorias, e nesta troca existe um mediador,

que é o dinheiro. Na esfera de circulação, acontecem as trocas de mercadorias,

no entanto, para que aconteça compra ou venda é necessário existir a moeda/

dinheiro, pois é ele a primeira forma que o capital se expressa, através do

processo de circulação de mercadorias, seja essa expressão no mercado

industrial, no mercado de trabalho, no mercado de finanças, dentre outros.

Logo, a entrada em cena do capital em forma de dinheiro tem por objetivo a

geração do lucro, o dono do capital compra a mercadoria e, logo, vende mais caro

do que comprou, gerando assim o seu excedente.

A verdade é que a “propriedade dinheiro”, nesta sociabilidade, é o

transformador dos bens e serviços em mercadoria. Sendo assim, na vida social

existe sempre uma guerra cotidiana, onde aqueles que possuem dinheiro têm

medo de perdê-lo e os que não possuem procuram formas de adquiri-lo.

Portanto, o fetichismo do dinheiro ou a “embriaguez” que ele provoca na

vida social do homem através de sua potencialidade em produzir mais e mais

dinheiro, e/ou por via do sistema financeiro dentro da economia de mercado,

acaba por esconder a sua multiplicação que acontece por via da mais valia, sendo

conquistada pela exploração da força de trabalho do proletariado.

A economia de mercado está inserida no sistema capitalista, logo esse

sistema está voltado para fabricação e comercialização de mercadoria, a qual tem

por objetivo a obtenção de lucro, o sistema tem por base a propriedade privada

dos meios de produção, sendo que o elemento central do sistema é o capital,

esse pode ser compreendido como dinheiro, que é investido no processo

produtivo, com o objetivo de gerar lucros.

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Sendo assim, o mercado é uma instituição social sobre a qual se debruçam

a economia política, a sociologia, a filosofia, dentre outros. Com isso, iremos

agora analisar como esse mercado se organiza através da ótica da

microeconomia.

Segundo Stiglitz e Walsh (2003), ao pensar a economia de mercado

destacam-se três categorias de mercados nos quais as pessoas se interagem,

mas antes de aprofundar os conceitos trazidos pelos autores é interessante

conceituar o mercado para microeconomia, ele é o local de trocas diretas, onde

existe um comprador e/ ou consumidor que buscam bens ou serviços de um

vendedor, onde mediante condições econômicas realizam um negócio, entende-

se com isso que na visão mercadológica existe duas forças dependentes, que se

organizam e interagem: a oferta e a procura. Ou seja, a oferta é dada pelo

empresário e a procura acontece pelo consumidor, mas o ponto de equilíbrio por

essas duas categorias acontece através do “preço perfeito” oferecido pela oferta

(STIGLITZ E WALSH 2003).

As categorias de mercado que estes autores trazem são classificadas em:

mercado de produtos, mercado de trabalho e mercado de capitais, eles irão

descrevê-los com o intuito de mostrar como a economia se organiza para a

geração de capitais, através de uma interação entre pessoas e empresas para

alcançar o que a economia chama de equilíbrio geral. Lembra-se ainda que o

objetivo aqui é analisar e compreender a própria visão da microeconomia diante

do processo de acumulação de riqueza na economia de mercado, por isso será

classificado cada categoria dessa a seguir.

O mercado de produtos é aquele em que as empresas vendem seus

produtos às famílias, ou seja, as empresas ofertam um produto ou serviço, que

possui um custo, sendo que o preço/ ou custo irá determinar na economia, que

ela use os recursos de maneira eficiente, o preço é a comunicação entre a

procura e a oferta. Mas esse processo (Procura – Custo - Oferta) ocorre a partir

da necessidade do consumidor, que os economistas classificam como demanda,

é ela que irá descrever, a partir da procura, a quantidade de um bem que alguém

decide comprar a dado valor (STIGLITZ E WALSH 2003).

O mercado de trabalho é aquele em que se precisa da mão de obra

trabalhadora, “a mão de obra é um dos principais insumos usados pelas firmas”

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(Stiglitz e Walsh, p. 146, 2003). A decisão da absorção desta mão de obra é

determinada pelo salário, aplica-se aqui a mesma teoria que Adam Smith utilizou

em relação ao preço, o qual é dado em troca de um bem ou serviço, ou seja,

segundo ele, as coisas que possuem um maior valor de uso, muitas vezes, tem

menor valor de troca e, inversamente, as coisas que têm maior valor de troca, têm

pouco valor de uso. Com isso, no mercado de trabalho, se existe um enorme

contingente de mão de obra para determinada função em uma empresa, o salário

pago a essas pessoas será menor, logo a lei básica da oferta e da demanda é

determinante para decisão do salário no mercado de trabalho (STIGLITZ E

WALSH 2003).

O último mercado é o que levanta fundos para comprar insumos, é o

mercado de capitais. Os autores fazem uma comparação bem simbólica com a

poupança de uma família para comprar uma casa, por exemplo. Mas considera-

se que o mercado de capitais seja aquele concentrado nos bancos e bolsas de

valores, onde, a partir dos empréstimos ou investimentos, se adquirirem lucros

através dos juros implantados nos valores emprestados.

Stiglitz e Walsh (2003) afirmam, ainda, que a formulação por Adam Smith

da ideia que os mercados garantem a eficiência econômica, com a “mão invisível

do mercado”, os economistas estudam um modelo básico de concorrência

perfeita, visto que o mercado está organizado segundo o número de empresas

atuantes e a igualdade entre elas e/ ou os diferentes produtos ofertados por elas.

A microeconomia classifica a estrutura de mercado em mercados perfeitos

e aqui inclui a concorrência perfeita; e os mercados imperfeitos, que se dividem

em monopólio, concorrência monopolista e, por último, existe o oligopólio. Agora,

de maneira mais ampla, essa estrutura será descrita respectivamente.

A concorrência perfeita é tipo de modelo analítico, nesta existe um grande

número de consumidores e um grande número de empresas. É a estrutura,

teoricamente, onde consumidor e cada empresa aceita o valor colocado no

mercado, existindo naturalmente um equilíbrio entre oferta e demanda,

provocando um ganho entre empresa e trabalhadores ao máximo, seria então o

equilíbrio entre os três mercados: mercado de produtos, mercado de trabalho e

mercado de capitais. Mas, esse equilíbrio é impossível, pois estamos falando de

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uma economia competitiva, já que “ninguém pode melhorar sua situação sem

piorar a de outrem” (STIGLITZ E WALSH, 2003).

Monopólio é o inverso da concorrência perfeita, pois quando ele existe no

mercado não existe concorrência com os produtos e com as ofertas. É o tipo de

mercado em que existe apenas uma empresa e vários consumidores/

compradores, e aqui, quando ele decide elevar o preço do seu produto, não

precisará se preocupar com a possível concorrência (STIGLITZ E WALSH, 2003).

Já na concorrência monopolista, este mercado se enquadra em uma

situação considerada intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio,

onde existem muitas empresas vendendo produtos diversificados, mas que são

muito próximos entre si. Na maioria das indústrias, existe uma competição,

todavia limitada, sendo que os produtos existentes fornecidos pelas empresas são

parecidos, mas não substituíveis, o consumidor geralmente sabe a diferença de

um produto para o outro (STIGLITZ E WALSH, 2003).

O oligopólio é aquele mercado onde um pequeno número de empresas

domina o mercado, controlando a oferta de produtos. As empresas se preocupam

com suas rivais, é um tipo de mercado que prevalece na aviação, na fabricação

de automóveis, dentre outras (STIGLITZ E WALSH, 2003).

Ainda podemos destacar os fatores de produção, os quais se caracterizam

com monopsônio e o oligopsônio, o primeiro acontece a partir do momento em

que existe um único comprador do mercado, ou seja, no regime de mercado um

único comprador concentra em suas mãos a total compra dos fatores de

produção. No segundo, é aquele mercado com poucos participantes/

compradores, isso em número de empresa, mas grande na estrutura da mesma,

provocando uma grande independência entre elas. Acredita-se que seja o que

ocorre no agronegócio brasileiro, como por exemplo, a Usina Vale Verde Formosa

e a Estivas que dominam a produção de álcool e açúcar no estado do Rio Grande

do Norte.

Logo abaixo, seguem dois quadros ilustrativos das informações

apresentadas:

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Quadro 1: Estruturas de mercado de bens e serviço

CARACTERÍSTICAS TIPOS DE MERCADO

Competição

Perfeita

Competição

Monopolista

Oligopólio Monopólio

N° de empresas Muito grande Muitas Poucas Uma

Tipo de Produto Padronizado Diferenciado Padronizado e

Diferenciado

Único

Controle sobre preços Nenhum Pequeno Considerável Muito

Fonte: Elaborado pela autora, 2012.

Quadro 2: Estruturas de mercado de fatores de produção

CARACTERÍSTICAS TIPOS DE MERCADO

MONOPSÔNIO OLIGOPSÔNIO

N° de empresas Única Poucas

Tipo de fator de produção Padronizado Padronizado

Fonte: Elaborado pela autora, 2012.

Dessa forma, o que se observa é que a visão da economia clássica em

relação ao mercado é descritiva e “mecânica”, quando se fala mecânica é no

sentido de destacar apenas o lucro, o mercado, a empresa, a matemática, dentre

outros elementos. Como se esses elementos tivessem vida própria, como se isso

tudo não fosse resultado do trabalho humano e, consequentemente, acontecesse

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compra da força de trabalho de pessoas. Sendo assim, parece que a mercadoria

é mais importante que o próprio homem.

Para ir mais profundamente nesta temática, se faz necessário também

compreender a acumulação primitiva, já que faz parte do processo pela

acumulação de riqueza através da mais valia.

2.2. Acumulações de riqueza e a acumulação primitiva.

A acumulação primitiva é assim chamada por ser considerada a pré-

história do modo de produção capitalista, ela é apenas o processo histórico que

separa o trabalho dos meios de produção. Começou com a desestruturação da

sociedade feudal, dando lugar a essa sociabilidade. Todavia, no início da

sociedade pré-capitalista, esta como alavanca à expropriação do homem do

campo, os quais foram tirados violentamente, do seu “universo”, sendo uma

grande massa deslocada para o mercado de trabalho industrial (MARX, 1968).

A expulsão do homem do campo tem início em sua forma clássica na

Inglaterra, porém vale salientar que ela se alastra pela Europa e depois pela

América, sendo que Inglaterra, Portugal, Holanda, França e Espanha serão os

primeiros a construir a acumulação de fortunas através e para o capital industrial,

mas depois segue para os países fora do continente em busca de mais fortunas

através da expansão da indústria. Com a descoberta do ouro e da prata na

América, a mão de obra barata, ou melhor, escravidão de povos indígenas nas

minas, a descoberta da África como ponto comercial de escravos, provocou a

abertura do capitalismo fora da Europa e os fatores fundamentais da acumulação

primitiva (MARX, 1968).

A saída além-mar provoca o crescimento da colonização e a briga entre

as grandes potências, visto que as colônias asseguram a matéria-prima da

manufatura em expansão, provocando uma acumulação acelerada. Outro fato

oportuno à acumulação de riqueza foi o sistema de crédito público que tem

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caráter fictício, que é obtido pela renda dos títulos públicos. Sobre a temática

Marx constata:

A dívida pública converte-se numa das alavancas mais poderosas da acumulação primitiva. Como uma varinha de condão, ela dota o dinheiro de capacidade criadora, transformando-o assim em capital, sem ser necessário que seu dono se exponha aos aborrecimentos e riscos inseparáveis das aplicações industriais e mesmo usurárias. Os credores do Estado nada dão na realidade, pois a soma emprestada converte-se em títulos de dívida pública facilmente transferíveis, que continuam a funcionar em suas mãos como se fossem dinheiro. A dívida pública criou uma classe de capitalistas ociosos, enriqueceu, de improviso, os agentes financeiros que servem de intermediários entre o governo e a nação. As parcelas de sua emissão adquiridas pelos arrematantes de impostos, comerciantes e fabricantes particulares lhes proporcionam o serviço de um capital caído do céu. Mas, além de tudo isso, a dívida pública fez prosperar as sociedades anônimas, o comércio com os títulos negociáveis de toda a espécie, a agiotagem, em suma, o jogo de bolsa e a moderna bancocracia. (MARX, 1968, p. 873.)

.

Todavia, antes que o capital se expandisse para além-mar, o processo

de acumulação primitiva aconteceu de maneira diferente e em tempos históricos

específicos nos diversos países em que essa sociabilidade foi implantada. Com

isso, no final do século XIV o sistema feudal já havia sido praticamente extinguido

na Inglaterra. Logo, o antigo servo agora se tornará homem livre, assalariado da

agricultura (MARX, 1968).

O capitalismo propriamente dito teve seu início nas primeiras décadas do

século XVI, no momento em que um grande número ex-servos/ colonos é lançado

ao mercado de trabalho, porém, todos destituídos de poder econômico. Esse

processo ocorre, pois os ricos compraram os lotes dos pobres de maneira forçada

e a qualquer preço, fazendo com que grandes massas desses se tornassem mão

de obra barata para suas lavouras, outro fator que vale destacar é a espoliação

da propriedade da igreja. Conforme nos diz Marx (1968, p. 850).

O roubo dos bens da igreja, a alienação fraudulenta dos domínios do estado, a ladroeira das terras comuns e a transformação da sociedade feudal e do clã e propriedade privada moderna, levada a cabo com terrorismo implacável, figuram entre os métodos idílicos da acumulação primitiva.

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Gradativamente, a propriedade feudal foi transformada em propriedade

capitalista e, consequentemente, transformada em uma agricultura capitalista,

sendo que essa agricultura só terá sua base sólida com a indústria moderna, suas

máquinas e com a reestruturação produtiva. Todavia, foi construída de maneira

violenta para, futuramente, alimentar a indústria capitalista e, aí então, aquele

“homem livre”, muitos deles, não foram absorvidos pelo mercado industrial

nascente, da mesma maneira que ficaram disponíveis para manufatura. Logo

Marx dirá:

Assim, à expropriação dos camponeses que trabalhavam antes por conta própria e ao divórcio entre eles e seus meios de produção corresponde a ruína da indústria doméstica rural e o processo da dissociação entre manufatura e a agricultura. E só a destruição da indústria doméstica rural pode proporcionar ao mercado interno de um país a extensão e a solidez exigidas pelo modo capitalista de produção. (MARX, p. 865, 1968)

Sendo assim, esse camponês que não foi absorvido pelo mercado de

trabalho da época será estigmatizado de vagabundo. No entanto, a condição de

indigente havia sido imposta desde a expropriação desse homem, que antes era

servo e naquele momento não tinha outra saída a não ser tornar-se proletário, já

que a indústria não abarcava toda a mão de obra barata disponível a vender sua

força de trabalho. Logo, em toda Europa ocidental, foi implantada, durante os

séculos XV e XVI, uma legislação para aqueles que não conseguiam vender sua

força de trabalho, que popularmente ficou conhecida como Lei dos pobres.

Os ancestrais da classe trabalhadora atual foram punidos inicialmente por se transformarem em vagabundos e indigentes, transformação que lhes era imposta. A legislação tratava como pessoas que escolhem propositalmente o caminho do crime, como se dependesse da vontade deles prosseguirem trabalhando nas velhas condições que não mais existiam. (MARX, p.851, 1968)

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No século XV, ocorre também a revolução agrícola, na qual o arrendatário

enriquece com a mesma rapidez que o homem do campo empobreceu, com uma

diferença, os meios de produção se concentraram nas mãos de um pequeno

número de proprietários, em contrapartida é formado um grande contingente de

proletariados desprovidos de bens, sendo que a única riqueza que possui é a sua

força de trabalho.

O capitalista tem como fonte primária do lucro a mais-valia, é ela que gera

acumulação de capital na esfera da circulação, o capitalista gera lucro para gerar

capital, com isso, neste sistema, o consumo e a acumulação são necessários,

mas para isso é preciso existir o excedente. Dessa maneira, para que isso

aconteça, o capital necessita da compra da força de trabalho, desta forma o

capitalismo depende da força de trabalho para sua sobrevivência, ela é a principal

mercadoria desta sociabilidade. Sendo assim, essa mercadoria se diferencia das

demais por ser a única capaz de gerar valor. Com isso, esse processo mercantil

depende da concentração de capital por uma determinada classe, de um lado, e

da despossessão de bens de outra classe, que Marx (1968) irá denominar de

burguesia e proletariado, respectivamente.

Marx irá descrever que a acumulação primitiva possui como fator

fundamental à produção de mais-valia:

Sendo dada a proporção em que a mais-valia se divide em capital e renda, regula-se a magnitude do capital acumulado evidentemente pela magnitude absoluta da mais-valia... todas as circunstâncias que determinam o montante da mais-valia concorrem para determinar a magnitude da acumulação (1968, Livro I, Volume II: 696).

Apesar da acumulação primitiva ser considerada por Marx a pré-história

do capitalismo, ela ainda permanece no processo histórico contemporâneo, a

diferença é que ela se sofistica, fazendo-se presente na reprodução dos capitais,

ela se reitera ao longo do tempo para assim conseguir seus excedentes, seja com

a capacidade produtiva, com a mercadoria, moeda junta-se com outro excedente

que é a força de trabalho provocando a sobreacumulação, conforme interpreta o

geografo Inglês David Harvey (2009, p. 120) irá destacar que:

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Todas as características da acumulação primitiva que Marx menciona permanecem fortemente presentes na geografia histórica do capitalismo até os nossos dias. A expulsão das populações camponesas e a formação de um proletariado sem terra tem se acelerado em países como o México e a Índia nas três últimas décadas; muitos recursos antes partilhados, como a água, têm sido privatizados (com freqüência por insistência do Banco Mundial) e inseridos na lógica capitalista da acumulação; formas alternativas (autóctones e mesmo, no caso dos Estados Unidos, mercadorias de fabricação de caseira) de produção e consumo têm sido suprimidas. Indústrias nacionalizadas têm sido privatizadas. O agronegócio substituiu a agropecuária familiar. E a escravidão não desapareceu (particularmente no comércio sexual) (HARVEY, 2009, p. 120).

Fontes (2010), baseando-se nos escritos de Marx, nos alerta que a

necessidade de mercado sempre crescente para seus produtos impele “a

burguesia a conquista de todo o globo terrestre. Ele precisa estabelecer-se,

explorar e criar vínculo em todos os lugares.” (Marx, 1998, p. 11 APUD Fontes,

2010, p. 23).

Sendo assim, a acumulação primitiva não se limitará ao momento prévio da

acumulação de capitais, já que a dominação e restruturação espacial/ ambiental

nessa sociabilidade é constante, visto que a expropriação encontra-se presente

nas vidas das populações que muita vezes são forçados a deixar suas terras,

lares, espaço de vivência, para construção de hidrelétricas, multinacionais, ou

seja, tudo em nome da acumulação exacerbada de capitais. Portanto, a

acumulação primitiva é um elemento que estar sempre presente no nosso dia a

dia.

2.3. Acumulação de riqueza e o processo produtivo

Os fenômenos históricos como a revolução industrial e a restruturação

produtiva contribuíram para a consolidação da estrutura de mercado, nos

próximos escritos, iremos destacar como esses fenômenos organizaram o capital

de maneira planetária, onde a livre concorrência do mercado promoveu maiores

compras em máquinas, gerando uma maior produção e consequentemente, o

crescimento do lucro, ou seja, a acumulação de riqueza.

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Em a Era das Revoluções, o historiador Eric Hobsbawm (2010) faz uma

reflexão sobre a Revolução Industrial, destacando que esse fenômeno existia na

Inglaterra antes do próprio termo ser criado. O avanço da revolução industrial na

Inglaterra não se deu por ele ser um país com superioridade científica e

tecnológica, tendo em vista que a França tinha destaque neste âmbito, a exemplo

dos avanços no tear e dos navios franceses. O pioneirismo Inglês se deu pelo fato

de que a organização econômica e a geração do lucro privado eram o principal

objetivo do governo na Grã-Bretanha. Já não se valorizava o campesinato, a

agricultura da época estava voltada para o mercado, o comércio da indústria

estava organizado na agricultura do algodão e na expansão colonial

(HOBSBAWM, 2010).

O comercio colonial expandiu-se de maneira rápida, visto que a escravidão

nas colônias e o algodão caminhavam juntos. No século XVIII, a indústria

algodoeira ligada ao comércio colonial foi a alavanca da produtividade inglesa,

sem falar que essa rapidez fez com que o comerciante industrial tivesse coragem

de adotar técnicas revolucionárias da época, sendo assim, a exportação de

tecidos britânicos teve um aumento maior que dez vezes durante o período entre

1750 e 1769 (HOBSBAWM 2010).

Com o tempo a revolução provocou um brusco declínio da produção

agrícola e quase consequentemente um aumento da população urbana, sem falar

no problema em relação à mão de obra, pois conseguir um número significativo

de trabalhadores que soubessem trabalhar de maneira adequada na indústria não

era fácil. Mas, diante disso, foi implantada nas grandes indústrias a disciplina do

operário para assim estabelecer mecanismos de controle, e esse controle era

mais fácil a partir da contratação daqueles que o capitalista caracterizava como

mais dóceis, sem falar que a mão de obra era mais barata, ou seja, as mulheres e

as crianças (HOBSBAWM, 2010).

A revolução industrial trouxe muitas consequências positivas para o

comércio e para a economia, mas é importante dizer que trouxe consequências

negativas, e essas foram consequências sociais, visto que esse novo padrão

econômico trouxe riqueza para poucos e miséria para uma grande parcela da

população, mas esse descontentamento não estava voltado apenas para os

pobres, mas também para os pequenos comerciantes. Todavia, a exploração da

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mão de obra foi o que trouxe maior descontentamento, pois o que o proletariado

ganhava pela venda da sua força de trabalho só dava para sua subsistência e de

outro lado percebiam que os ricos acumulavam riquezas, através dos lucros e

através deste financiava-se a industrialização (HOBSBAWM, 2010).

Portanto, a revolução industrial proporcionou em escala planetária a

organização do capital de maneira planetária, onde a livre concorrência do

mercado promoveu maiores compras em máquinas, gerando uma maior produção

e, consequentemente, o crescimento do lucro. Todavia, somente as grandes

empresas conseguiram se organizar em torno da modernização das máquinas,

acontecendo o monopólio de capitais entre elas. Em função disto, no final do

século XIX e início do séc. XX surgem os primeiros cartéis europeus e os trustes

nos Estados Unidos, com suas práticas monopolistas, promovendo uma maior

produção dentro e fora de seus territórios. E, assim, se transformava o mundo e

nada poderia mais deter essa revolução, visto que ela não se completou, pois ela

ainda prossegue (Hobsbawm 2010).

Anos mais tarde, esse mercado foi se modificando sob a influência da

reestruturação produtiva, a qual se baseia nas técnicas de produção lançadas

pelo taylorismo/ fordismo, que envolve técnicas padronizadas dos meios de

produção e na divisão do trabalho. A restruturação se processou na década de

1970, com o advento da revolução tecnológica e da crise do petróleo, sendo

entendido pela produção em massa e o consumo em massa, estruturado através

da regulação do Estado, já que com a crise do petróleo, a mão invisível do

mercado não podia, sem ajuda, construir as soluções para as crises.

Não poderíamos deixar de destacar a maneira que o capitalismo faz para

superar as crises. As medidas para o enfrentamento são diversificadas, pois elas

têm suas diferenças de acordo com os elementos que as cercam, como o grau de

desenvolvimento do capitalismo, a constituição do Estado no momento histórico e

a organização das classes sociais. Mas as crises possuem as suas expressões

que as caracterizam, como a quebra da bolsa de valores de Nova York que

expressou a crise de 1929, essa foi a primeira crise estrutural após a revolução

industrial, colocou em dúvida o capitalismo concorrencial, priorizado pelo

liberalismo ortodoxo, sendo o capitalismo sustentado pelo livre mercado

(BOSCHETTI, 2010).

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No momento da crise, o liberalismo ortodoxo foi abandonado para

combatê-la, sendo adotadas medidas econômicas e sociais ligadas ao

capitalismo. Três colunas clássicas sustentaram as medidas de combate ou

minimização da crise, a primeira foi o fordismo, a segunda foi o padrão

Keynesiano de regulação social e econômica e a terceira aconteceu com a

ampliação de direitos segundo a teoria Marshall (1967) (BOSCHETTI, 2010).

O fordismo com sua produção em massa promovia o consumo em massa,

nos momentos de crise uma das alternativas foi a superprodução de mercadorias,

em escala abrangente e de baixo custo, desta forma conseguia-se manter a

lógica de produção e reprodução de mercadorias (BOSCHETTI, 2010).

Todavia, com o padrão Keynesiano a capacidade de consumo foi mantida,

visto que, foram instituídas políticas de regulação econômica, mantidas pela ação

ativa do Estado na geração de empregos, não só do setor público, mas no privado

também, contribuindo dessa maneira no enorme consumo em massa

(BOSCHETTI, 2010).

A terceira e última coluna é consequência da anterior, a teoria de

ampliação dos direitos na visão de Marshall estava voltada basicamente na

garantia de direitos mínimos para todos, todavia, esses direitos serviam para

assegurar a produção e reprodução do capital. Vale salientar que a conquista dos

direitos mínimos sociais não foi apenas uma medida de combate à crise posta

pelas elites e sim uma luta da classe trabalhadora, após a década de 1940, pela

universalidade das políticas sociais, aconteceu no enfrentamento entre forças

sociais em disputa para ampliação dos direitos sociais, melhores condições de

trabalho e de vida (BOSCHETTI, 2010).

Do período pós-segunda guerra mundial até final da década de 70, foi

caracterizada nos países centrais a fase de expansão do capitalismo, com os

avanços tecnológicos, ampliação de empregos e a grande intervenção do Estado

nesses países.

Estava configurada a fase caracterizada pelo pacto fordista-keynesiano,

onde a inserção das demandas trabalhistas, o aumento da produção e

consequentemente do consumo operário provocado pela negociação entre

Estado, Capital e Trabalho tinham a função ideológica de compatibilizar a

“impossível” junção entre capitalismo, bem-estar e democracia. Além disso, esse

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período foi marcado pela produção em massa capitalista, onde os países

chamados como subdesenvolvidos foram os campos de absorção de investimento

produtivos dos países centrais (HARVEY, 2011).

Todavia, essa “regulação” e esse “compromisso” do pacto do Estado

Keynesiano mostraram sinais de crise, provocados pela crise de sobreprodução

ou até mesmo arrecadação, ou pelos conflitos entre capital e trabalho devido à

explosão dos movimentos operários da década de 1960 (HARVEY, apud

IAMAMOTO, 2003).

Esse conjunto de crises provocou um novo paradigma de dominação e

acumulação, caracterizado como “capitalismo flexível”, que se caracteriza como

mais uma estratégia do capital; é neste momento que ganha visibilidade o ideário

liberal do mercado e, com isso, propaga-se também as ideologias neoliberais.

Essa ideologia focava-se em novas saídas para a economia que estava em crise

novamente, logo foi investido em uma nova idéia para o mercado, que envolvia e

envolve a diminuição do Estado, através dos cortes nos gastos sociais e das

privatizações dos setores públicos. É importante ressaltar a própria abertura dos

mercados (HARVEY, apud IAMAMOTO, 2003).

Não por acaso, no início da década de 1980 o mundo capitalista passa por

uma nova crise, a de acumulação, logo os países ricos elaboram estratégias para

o enfrentamento da crise que atingia hegemonicamente quase todo o mundo

capitalista. O surgimento de novas estratégias para enfretamento da crise dos

países ricos, os quais provocaram a subordinação dos países “periféricos” em

relação aos países chamados de primeiro mundo, aqui se destaca a

obrigatoriedade do pagamento de dívidas externas, a exportação de capitais para

o pagamento dos empréstimos recebidos (HARVEY, 2011).

O fato é que essa década se configurou como um processo de

restruturação do capital, através da restruturação produtiva e as mudanças no

mundo do trabalho, provocando a expansão de um capitalismo imperialista, onde

estavam unidos o capitalismo financeiro e o industrial, surgindo assim um novo

patamar de concentração de capitais através do estreitamento de relações desses

dois monopólios (FONTES, 2010).

No Brasil, essa restruturação produtiva se desenvolve durante a década de

1980, principalmente nas empresas ligadas à exportação. Sendo um país de

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economia primária, voltado principalmente para exportação, o setor agrário foi

modificado, passou por transformações socioespaciais, contando com a

participação do Estado na medida em que reduziu impostos e promoveu

incentivos fiscais para as empresas multinacionais e nacionais ligadas ao

agronegócio e toda cadeia produtiva para assim alcançar o sonhado mercado

internacional. Para Arruda (2007), esse processo,

Constitui a manifestação da lógica capitalista na busca pela ordenação espaço temporal marcada pela modernização do campo via industrialização da agricultura e a posterior consolidação dos Complexos Agroindustriais. Tal processo passa a ocorrer a partir da efetiva reunificação da agricultura em um patamar que supera o simples consumo produtivo pela agricultura, pelo comando da indústria no processo produtivo como fornecedor de bens de capital e insumos para o setor agrícola (capital industrial e financeiro). Em suma, o setor agrícola moderno se converte em um ramo da produção que compra insumos e vende matérias primas para outros ramos industriais, notadamente para as agroindustriais. Com a intensificação do processo de globalização da economia e o intenso desenvolvimento técnico-científico-informacional, o processo de reestruturação do setor agrário se acentua, no qual a produção agrária e as empresas ligadas ao setor passam a buscar maior modernização e eficiência com o objetivo de diminuir os custos e auferir lucros (ARRUDA, 2007 p.17).

Portanto, a restruturação produtiva agrícola passou por um processo que o

sistema capitalista impõe, com a estratégia do agronegócio, que tiveram

consequências positivas para a economia nacional, porém, muitas consequências

negativas para o trabalhador do campo ou pequeno produtor, pois ele não tem em

mãos os avanços tecnológicos que a economia de mercado exige.

2.4 A produção sucroalcooleira e a reprodução do capital da agroindústria canavieira

brasileira

A expropriação da terra não é a única maneira de acumulação de capitais,

todavia, considera-se uma das principais maneiras de expansão do capitalismo, e

em particular através da aquisição de terras, como expropriação primaria, onde

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muitas famílias foram expulsas, seja por motivos ligados à incapacidade de

manter sua reprodução com atividades tradicionais agrárias ou pela expropriação

através do crescimento do capitalismo imperialista, provocando a dependência

dessas famílias ao sistema mercantil (FONTES, 2010).

Particularizando o Brasil, que é um país que apresenta um elevado número

de concentração de terras, Martins (2002) destaca a construção da “instituição” do

latifúndio1, o autor irá afirmar que “o latifúndio brasileiro não é produto do

latifúndio, o latifúndio brasileiro contemporâneo, é produto da questão agrária”, ou

seja, o latifúndio existe, pois ele tinha o poder da terra, tinha a mão de obra

escrava, o poder estava nas mãos de poucos, enquanto a maioria vivia em

condições subumanas. A terra, portanto era e é produto de reprodução de riqueza

e ao mesmo tempo um instrumento de desigualdade social.

O autor aponta algumas características históricas da formação da questão

agrária no Brasil, a divisão do território, com o regime de capitanias hereditárias,

com divisão do país em 12 (doze) capitanias doadas a famílias de confiança do

rei de Portugal. No regime de sesmaria2, no período colonial houve os

considerados “senhores bons” de origem portuguesa, donos de sesmarias e de

grandes propriedades rurais que, à vista do Império, continuavam como os

homens mais poderosos e ricos. Em relação a essa temática, MONTEIRO (2002)

evidencia que:

O poder político de fato, aquele exercido localmente pelo interior

da capitania, estava nas mãos dos chamados “homens bons”, eles

se autodenominavam desta forma, apenas eles tinham o direito de

eleger e serem eleitos, eles eram os donos de terras e escravos.

(MONTEIRO, 2002, p. 165).

1 Assim predominou segundo (STÉLIDE,1997, P.9), o latifúndio monocultor, típico da sociedade brasileira,

sustentado pela mão de obra escrava, indígena e africana. Acessado em: Matizes da questão social revelado

a partir da questão rural no Brasil- Tatiana Maria Náufel Cavalcante

2 As sesmarias correspondiam a parcelas das Capitanias Hereditárias que os donatários tinham o direito de

repartir e distribuir, àqueles que tivessem interesse e recursos para explorá-las, produzindo gêneros a serem

comercializados, gerando tributos e lucro para Coroa Portuguesa. Acessado em: Matizes da questão social

revelado a partir da questão rural no Brasil- Tatiana Maria Náufel Cavalcante

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O Brasil, mesmo após a independência em 1822, não viabilizou estratégias

que garantissem a minimização da concentração da terra, conforme enfatiza

Martins, quando relata que a partir do cancelamento do regime sesmarial e com a

crise da escravidão, foram criados mecanismos para que a maioria da população

não tivesse o livre acesso a terra; pode-se citar aqui a própria promulgação da Lei

de Terras de 1850, onde basicamente a coroa colocou preços nos lotes de terra,

dificultando o acesso daqueles que eram pequenos produtores, com isso a coroa

firmava seu poder sobre a terra, aliava-se a isso o poder dos grandes

proprietários do campo: “O proprietário para garantir o seu poder, controlava os

cargos públicos locais e mantinha estreitas relações com as autoridades a nível

de província, posteriormente de Estado, a fim de utilizar o poder público contra os

seus dominados” (ANDRADE, 1986, p. 18).

O Estado transforma a terra em mercadoria para proteger a grande lavoura

de exportação e o poder do grande proprietário, é neste momento que nasce a

questão agrária via Lei de Terras de 1950.

Com o início do processo de industrialização no Brasil os produtores

agrícolas se articulam com os industriais, ou seja, a classe capitalista se fundiu

com o latifúndio, fazendo da questão agrária não só um resultado da exploração

do homem negro, imigrante e indígena, mas também uma consequência de

acumulação de riqueza capitalista (MARTINS, 2002). Liga-se a isso a

capitalização do campo, através do processo de penetração do capitalismo em

grandes áreas rurais, provocando uma intensa política de expropriação dos

camponeses, os quais desenvolviam uma cultura de subsistência, foram assim

retirados dos seus pequenos sítios, na tentativa de transformá-los em

assalariados das grandes indústrias de monocultura, sobretudo a canavieira

(ANDRADE, 1986).

O contexto supracitado se desenvolve no período de 1960/1970 em nosso

país, visto que a expansão capitalista no campo beneficiava principalmente a

classe dominante. Sabe-se que nesse período foram criadas várias instituições

que valorizavam a modernização do campo, como a Superintendência de

Desenvolvimento Regional, que valorizava a política de industrialização agrícola.

Todavia, esse estímulo provocou a valorização da terra, avançando a produção

agrícola e consequentemente aumentando o interesse por parte das empresas

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em relação à terra. Diante disso, pode-se afirmar que “as formas de apropriação

de riqueza conjugam numa nova dinâmica a partir da restruturação produtiva. O

resultado da exploração e do empobrecimento de grandes contingentes de

trabalhadores traduz-se no enriquecimento de um número muito restrito de

pessoas.” (CATTANI, 2007).

Essa expansão capitalista também atingiu o setor do agronegócio

sucroalcooleiro, todavia vale destacar que o agronegócio é resultado da

modernização agrícola, diante disso, essa atividade tem como principal

característica a ocupação de fazendas modernas, que possuam uma grande

extensão de terras e que a grande produção é alcançada por meio da

monocultura, o auxílio da tecnologia de ponta e dos agrotóxicos e, por último, o

baixo salário da mão de obra.

Considera-se, com isso, que o que houve no agronegócio brasileiro foi um

mercado com poucos participantes/ compradores, isso em número de empresa,

mas grande na estrutura da mesma, provocando uma grande independência entre

elas, sendo que as agroindústrias ainda contam com o apoio do Estado, no que

diz respeito à redução de impostos, incentivos ficais, e aqui se destaca o

agronegócio canavieiro, que com o Programa Nacional de Álcool - Proácool na

década de 1970 contou com um grande incentivo de crédito fornecido pelo Estado

brasileiro.

O Proácool, que foi um programa elaborado pelo governo, mais

especificamente na década de 70, todavia a experiência de adicionar álcool

anidro na gasolina tenha tido início nos anos de 1930, mas a ideia só teve êxito

com a implementação do programa. Uma das principais razões foi a elevação do

preço do petróleo internacional e outro motivo foi que os segmentos do governo

da época acreditavam que, com o crescimento dessa economia energética, iria

provocar uma autonomia no país garantindo um futuro financeiro positivo do Brasil

perante as potências mundiais (FLEXOR, 2007).

Com isso, o próprio governo implementou grandes incentivos com o

objetivo de elevar a produção de álcool. Dentre essas medidas, elaborou linhas

de créditos para subsidiar e estimular as áreas agrícolas, as capacidades

industriais provocando a expansão desses setores, estimulou também a venda de

carros a álcool através de um controle de preços a favor do biocombustível,

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estabeleceu um controle sobre o sistema de proteção contra as importações e,

por fim, incentivou as pesquisas científicas para melhorar as tecnologias dos

motores e os processos produtivos, além da melhoria dos rendimentos da cana

de açúcar (FLEXOR 2007).

Observa-se ainda, a respeito da monocultura da cana de açúcar, que ela

se realiza e se estabelece em lugares que possuam mão de obra barata, grandes

extensões de terras, além da disponibilidade dos representantes das prefeituras

que estejam dispostos a negociar com as empresas canavieiras; as quais,

provavelmente, chegam com o discurso voltado para o crescimento econômico e

social de cidades pequenas, através da geração de emprego.

A monocultura da cana de açúcar teve suas primeiras produções no

sudeste do Brasil durante o século XVI, mais especificamente na capitania de São

Vicente. Posteriormente, se estendeu para o Nordeste do país com um caráter

meramente mercantil, onde desde o início tinha por objetivo reduzir os riscos nas

viagens marítimas e reduzir o tempo (RAMOS, 1999).

O sentido da colonização do Brasil ter um aspecto meramente mercantil fez

com quer a exploração agrícola viesse a ter características que passaram a fazer

parte da nossa formação econômica. Essas características ou elementos têm

como destaque a formação do latifúndio e, na produção açucareira, esse

latifúndio possui como nome o senhor de engenho. Logo, a idéia básica era que

nos engenhos eram necessários ter grandes extensões de terras que iam

favorecer a uma maior plantação da lavoura e consequentemente um maior

processamento da cana. “Assim o engenho se tornou o símbolo da propriedade,

ou do regime implantado, confundindo-se com a sesmaria ou o latifúndio”

(DIEGUES JR, apud RAMOS, 1999).

Os primeiros engenhos no Brasil se instalaram na região de São Paulo,

durante o século XVI, depois foram para Pernambuco se espalhando em seguida

pelo o Nordeste. O engenho era formado pelo setor agrícola; com o tempo, torna-

se quase autossuficiente, onde era composta pela casa-grande, senzala, fábrica,

casa de moenda, casa de purgar, casa de caldeira, galpões, capela, às próximos

ao rio ou mar, sendo assim ele era uma sociedade, visto que era o lugar da

produção, moradia, religião, ou seja, tinha vida social (RAMOS, 1999).

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Com isso, era na “casa de engenho” que a cana era processada e

transformada em açúcar ou aguardente. Aos arredores da casa de engenho

ficavam as plantações de cana de açúcar, sendo que as terras não eram só

destinadas para a cultura da cana, partes dos terrenos eram destinados à lavoura

que serviam para alimentação dos moradores e eventuais hóspedes; a pesca e

caça também eram praticadas para alimentação diária (HOLLANDA, 1993).

É importante ressaltar que todo esse processo era artesanal, no qual as

moendas eram puxadas por rodas de água do tipo vertical ou por animais, e eram

as principais fontes de energia dos primeiros engenhos. Quando havia os

recursos hídricos a energia motriz das rodas era a madeira, às vezes eram

movimentadas pela mão de obra escrava ou por animais. Sendo que na

produtividade dos engenhos d´àgua era alcançada o dobro se comparada com os

de energia animal (HOLLANDA, 1993).

É importante ressaltar que as sesmarias também eram concedidas para

aqueles que não tinham recursos para montar seu engenho, mas essa terra era

fornecida para explorá-la na produção de cana, com o auxílio da mão de obra

escrava. Os lavradores que não possuíam engenhos eram dependentes dos

senhores de engenho para moagem da cana, com isso, durante muito tempo, no

Brasil-colônia, esses pequenos proprietários fundiários cumpriram um papel

importante na sustentação dessa economia (RAMOS, 1999).

A produção açucareira teve um pequeno aumento com a inserção da

máquina a vapor nos engenhos, ela foi introduzida a partir de 1815,

primeiramente na Bahia. Com a chegada dessa tecnologia, os engenhos saíram

de espaços próximos a águas, contudo exigiam uma mão de obra mais

especializada. O vapor era usado não só para movimentar as moendas, também

proporcionava o cozimento do caldo de cana (HOLLANDA, 1993).

O vapor nos engenhos foi o ponto importante para a transformação dos

engenhos em usinas, visto que ele permitiu a mecanização de quase todos os

instrumentos de transportes dentro da fábrica, ele unificou em uma caldeira

central toda a energia suficiente para movimentar as múltiplas etapas do processo

da transformação da cana. Com isso, surgi uma nova arquitetura do edifício fabril,

existindo novas relações espaciais (HOLLANDA, 1993).

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Apesar da chegada do vapor no processo produtivo industrial, nas lavouras

as técnicas não foram inovadoras. Permanecia a utilização do arado de pau, da

enxada, os transportes ainda continuaram sendo os carros de boi e as

embarcações eram a vela, isso se manteve até meados do século XIX

(HOLLANDA, 1993).

Contudo, mesmo com o processo artesanal da produção de açúcar, no

período de 1580, o Brasil tinha o monopólio de produção, pois os engenhos

compunham o sistema de produção agrícola, mas, no século XVIII, com o

bloqueio continental, o país perdeu essa posição para o Caribe e as Antilhas, as

quais eram colônias dominadas pelos holandeses e espanhóis.

Logo o açúcar brasileiro já havia perdido o monopólio dessa economia ao

final do período colonial, passando a sofrer com a concorrência de novos

produtores mundiais, como Cuba, algumas regiões asiáticas e na própria Europa.

Sem falar na concorrência de um “novo produto” Europeu, o açúcar de beterraba.

Este foi considerado como a novidade mais importante, a produção desta

economia na Europa, que tinha custos maiores, todavia era bastante subsidiado e

protegido pelos governos locais, fez com que o açúcar brasileiro perdesse a

posição hegemônica no mercado externo (RAMOS, 1999).

Esse processo, que levou à perda do monopólio açucareiro brasileiro no

mercado mundial, não estava desvinculado do processo de desenvolvimento dos

países que se beneficiaram dos mecanismos de acumulação primitiva do capital,

que procuravam constantemente áreas para investimentos dos seus capitais,

protegendo seus mercados, construindo e consolidando suas indústrias (RAMOS,

1999).

Com isso, pode-se afirmar que não ocorreram grandes modificações

técnicas na produção açucareira antes de 1870, com isso o fato é que a

dificuldade de modernização era em tão grande escala que os engenhos mais

modernos no Nordeste tinham que ser subsidiados pelo governo no século XIX

(RAMOS, 1999).

Os senhores de engenhos, desde meados de 1880, pressionaram o

governo para que o mesmo financiasse a modernização de suas instalações

fabris, esse financiamento não foi apenas para implantação das fábricas, mas era

também para aquisição de terras, construção de estradas de ferro próximo ao

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processo produtivo, ligando a usina às ferrovias do Estado. Evidenciando assim a

modernização do processo produtivo financiado inteiramente pelo Estado

(RAMOS, 1999).

Mas parece óbvio que esse processo de financiamento do Estado para a

modernização dos engenhos caracterizou a continuação da concentração de

poder e de riqueza no país. Visto que o Estado estava garantindo a modernização

de quem sempre dominou a sociedade de engenho e que, agora, passa a

dominar a sociedade das Usinas açucareiras no país.

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3. REESTRUTURAÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O AGRONEGÓCIO DA CANA DE

AÇÚCAR

Em um primeiro momento, iremos caracterizar a modernização da

agricultura brasileira, a partir dela explicar as etapas que influenciaram na

modernização da própria agricultura canavieira.

No segundo momento, falamos do processo de reestruturação Produtiva do

Capital Agroindustrial Canavieiro, como esse processo influenciou na acumulação

de capitais desse setor.

Por último, faremos a caracterização sócio-histórica do município de Baia

Formosa, depois descreveremos e analisaremos a estrutura da usina Vale Verde

Formosa, como ela nasce na cidade, como ela se configura e acumula capital

através do agronegócio canavieiro na região.

3.1. A organização da agricultura capitalista brasileira e as implicações para o trabalhador do

campo

A renda da terra na economia política é uma das formas particulares de

geração de excedente para o capital. No entanto, antes da década de 1960, a

terra no Brasil era farta, e mais especificamente em 1966, com a criação da

Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, a terra tinha como

principal forma de exploração a extração das “drogas do sertão”, a borracha, o

babaçu, a castanha, a terra nesse momento tinha caráter secundário, ou seja, ela

servia para extração de matéria prima para a indústria internacional. A delimitação

da propriedade tinha o objetivo de proteger os animais, árvores, para produção do

autoconsumo e do comércio (IANNI, 1981).

Após essa década, a terra passa a ter uma nova dimensão histórica, o

Estado, mais intensamente, aparece com o poder da privatização da terra, com as

características da empresa privada. Não existia aqui a ocupação, a roça, a

moradia, a criação que garantiam a propriedade; surge então o documento, o

papel para comprovar a sua propriedade através da chamada escritura, ou seja,

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seguia-se aqui a lógica de acumulação capitalista pelo viés da compra da

propriedade que é a terra, crescendo no país a busca de terras pelas empresas

para pastagem, mineração, lavouras para plantação de cana, dentre outros

(IANNI 1981).

Vale destacar o apoio do governo para essas instituições privadas através

de políticas que foram intermediadas por empresas governamentais, aqui destaco

a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, a

qual criou incentivos fiscais especiais para empresas privadas, sejam elas

nacionais ou internacionais, para investir nas terras de abrangência amazônica e

a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA que foi

implantado no inicio da ditadura militar, mas apesar da criação do INCRA, a

organização cuja missão era implantar uma reforma agrária, o Estado continuou

priorizando a exportação de gêneros alimentícios primários e a mecanização do

sistema produtivo agrário, incentivando com isso a acumulação de capital pelo

latifúndio (IANNI, 1981)

Ocorre a monopolização das terras pelos proprietários dos meios de produção, do capital nacional ou estrangeiro. A terra é transformada em mercadoria, é colocada no circuito da reprodução do capital, como propriedade privada, principalmente da grande empresa estimulada e protegida pelo poder estatal. (IANNI, p. 159, 1981)

O trabalhador do campo não estava preparado para essa mudança de

valores, a posse da terra já era o direito necessário para ele ser proprietário, e

nela trabalhar e morar, não eram necessários para ele ter a legalização jurídica

realizada pelo Estado. Esse formalismo jurídico foi uma maneira de domínio

fundiário brasileiro, dos grupos mais fortes, visto que a propriedade de terra que

não era provada, não seria assim tida. Logo, aquele trabalhador do campo não

tinha argumentações intelectuais e materiais para resistir à expropriação,

sentindo-se em total insegurança (IANNI, 1981)

A forma de organização social do trabalhador rural mudou para dar lugar à

organização da agricultura capitalista, organizando-se em função da reprodução

do capital, diminuindo com isso a produção para autoconsumo. A relação social

não será majoritariamente comunitária e sim a da mercadoria, da produção, do

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lucro, da compra e venda; relação essa ocorrida entre o urbano e rural. Logo, é

nesse contexto que a terra se torna propriedade privada (IANNI 1981).

Com isso, as grandes empresas, agrícolas, agropecuária ou agroindustrial,

tornaram-se a expressão principal da economia agrária nacional. A grande

empresa se desenvolve com o apoio econômico estatal, como dito anteriormente,

com o apoio das entidades públicas como: o Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA,

SUDAM, Banco do Brasil, dentre outras. Todavia, não se pode esquecer que a

burguesia de base agrária se articula com o capital industrial e financeiro, de base

urbana; muitas vezes, esses grupos fazem parte de um mesmo grupo econômico,

fazem aliança com empresas internacionais ou até mesmo o empresário é o único

dono dos meios de produção.

Particularizando a organização da agricultura canavieira, ela cresceu mais

intensamente após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É neste

momento que se restabelece o comércio internacional e também é restabelecido

o comércio interno de matérias primas, gêneros alimentícios e manufaturas, tendo

em vista que são liberadas as forças econômicas de comércio e sociais. É neste

contexto que teve início o desenvolvimento da agroindústria do açúcar no nosso

país (IANNI, 1984).

A economia açucareira brasileira ganhou um novo ramo na exportação a

partir de 1960. Cuba, com sua revolução socialista (em 1959-1960) e sua vitória

perdeu também sua cota no mercado interno estadunidense, visto que, ouve o

rompimento das relações diplomáticas com este governo, admitindo novos

fornecedores de maneira experimental. Logo, o Brasil iniciou a exportação do seu

açúcar para os Estados Unidos, exportações a título de non quota, porém com um

sistema de preferência, mas em 1962 o Brasil foi admitido de maneira definitiva,

com uma participação básica de 6,7%, depois disso, o produto se expandiu cada

vez mais para outros mercados (IANNI, 1984).

A expansão açucareira brasileira teve grande influência provocada pelas

alterações ocorridas no mercado internacional; se junta a isso a expansão da

demanda açucareira, além disso, esse crescimento também teve influência do

desenvolvimento das forças produtivas, que estão ligadas à mecanização do

processo produtivo, à utilização de fertilizantes e ação do Estado (IANNI, 1984).

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Esse processo teve como consequência a redução da compra da força de

trabalho, mas essa diminuição não ocorreu apenas pelo interesse do aumento da

produção e sim também pela influência das obrigações trabalhistas impostas para

os empresários a partir das reinvindicações das organizações dos operários e

agrícolas. Foi sob a influência desse contexto que a indústria da cana de açúcar

aumentou a sua dominação em relação à economia rural, poderemos afirmar que

com a industrialização da usina ela vai ao campo e, com isso, a agricultura é

totalmente subordinada ao capital.

3.2 O Processo de Modernização da Agricultura Canavieira Capitalista no Brasil e os reflexos no Agronegócio.

A relação constituída entre indústria e agricultura, conforme registrado no

capítulo anterior, esteve localizada nos primórdios, principalmente na Inglaterra/

Europa Ocidental, Estados Unidos. Em uma periodização sintética, poderemos

delinear algumas etapas que influenciaram na modernização da agricultura

brasileira e, consequentemente, a concentração de terras pelos latifúndios em

nosso país.

Em seguida, serão destacadas quatro etapas fundamentais para o

acontecimento das modificações no espaço agrário brasileiro, não que elas

tenham acontecido na mesma ordem cronológica que será apresentada aqui, mas

foram momentos históricos que influenciaram nesse processo de modernização

da agricultura. A primeira delas foi marcada pelo fim do tráfico negreiro e da

abolição da escravatura, a segunda refere-se à industrialização trazida no

governo Juscelino Kubitschek, a terceira foi “revolução verde” da agricultura no

século XX e a quarta e última, não menos importante, a ditadura militar e a

interdição da Reforma Agrária. Em seguida, será descrito como essas etapas

influenciaram na mudança desse espaço agrário.

A primeira etapa acontece em 1850, onde o espaço agrário brasileiro

passou por grandes modificações, com o fim da escravidão. Esse fato histórico

marcou o processo de industrialização no país, com o fim do tráfico negreiro e da

abolição da escravatura, marcando o término do período colonial. Esse período

provocou um bloqueio da expansão do capital industrial no país condicionado pela

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economia escravista. Neste momento, a mão de obra escrava passa a ser

substituída pelas máquinas.

Sendo assim, é nesse processo de implantação da indústria que os

engenhos passam a ser modificados para a forma de usinas de açúcar, visto que

passa a existir uma relação entre os agentes sociais de produção como a

utilização de técnicas que vão se desenvolvendo, como a maquinização, a

fertilização e a irrigação, logo esse processo de desenvolvimento do capitalismo

no campo é provocado pela própria industrialização da agricultura. O

desenvolvimento das forças produtivas no campo significou a transformação da

terra em um elemento próprio do capital, intensificando o produto das relações

sociais de produção no campo (GRAZIANO, 1982)

A segunda etapa acontece em especial no governo de Juscelino

Kubitschek de Oliveira (1956-1960), ela se desenvolve na região centro-sul,

principalmente na grande São Paulo, sem perder os vínculos internacionais. Logo,

gêneros como açúcar, café, borracha, arroz, feijão, carnes, dentre outros, eram

destinados, principalmente, para as populações urbanas e indústrias do país e do

exterior. Essas mercadorias são os meios de produção da mais-valia, com isso,

os detentores do capital, em especial a burguesia industrial, adquirem esses

excedentes através da subordinação do campo ao capital (IANNI, 1984).

A “revolução verde” da agricultura no século XX é a terceira etapa desse

processo de modernização. Através das tecnologias dessa revolução sendo

implantadas nos alimentos, para a multiplicação desses, foi creditada como uma

saída para o combate da fome no mundo, todavia, só trouxe consequências

negativas em nível social e ambiental. Visto que aconteceu um aumento

significativo da produção de alimentos no mundo, mas isso não significou a

solução para a fome no planeta. A produção dos alimentos e a mecanização das

indústrias agrícolas nos países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a

vulnerabilidade da monocultura provocou grandes investimentos em fertilizantes e

pesticidas à base de petróleo. Sendo esses alimentos destinados para exportação

e acumulação financeira (HARVEY, 2011).

Sem falar na relação do capital com a gestão de recurso voltada para

irrigação, desencadeou o envolvimento de uma classe rica e a redução da riqueza

para os camponeses sem terras (HARVEY, 2011).

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A modernização agrária com essa revolução provocou o endividamento do

pequeno produtor, pois, além de não conseguir a produtividade suficiente, se

endividavam com os bancos, já que não conseguiam pagar os empréstimos para

a mecanização de suas terras, existindo como saída para o pagamento das

dívidas a venda de suas propriedades para outros produtores (HARVEY, 2011).

A quarta e última etapa desse processo histórico que impediu o acesso do

“homem do campo” tem como destaque a ditadura militar e a interdição da

Reforma Agrária no Brasil. Visto que, no lugar de reforma agrária, o regime militar

assume um projeto de modernização da agricultura sob a lógica da modernização

técnica, processo de transformação na base técnica dos estabelecimentos rurais,

caracterizando-se pela permanência e intensificação da concentração fundiária,

sob diretrizes das políticas assumidas pelos governos militares. A direção social

assumida pelo Estado ditatorial privilegiava a agricultura empresarial moderna,

centrada na grande propriedade, em detrimento da agricultura de base familiar,

excluindo milhões de camponeses (GRAZIANO, 1982).

O Estado passa a implementar um leque de medidas direcionadas a atrair

a entrada de grupos econômicos no campo, nacionais e externos, e a incorporar

também o latifúndio tradicional, forçando-o a modernizar-se. Destacam-se, entre

outros instrumentos: O Estatuto da Terra criado por Castelo Branco no mesmo

ano do golpe; emendas constitucionais, políticas de crédito, subsídios e incentivos

fiscais, Programas e Projetos especiais e mecanismos de regularização fundiária

(GRAZIANO, 1982).

Na indústria açucareira, os papéis do engenho e da usina foram

importantes no processo de acumulação de excedentes através da agricultura

canavieira. Contudo, aconteceram algumas mudanças na transformação da

sociedade de engenho para a usina que foram descritas no capítulo anterior, mas

agora será caracterizado como o processo de consolidação e efetivação da usina

influenciou na concentração de capitais na agricultura canavieira.

Com o tempo, a usina passou a ser a fábrica que se encontra fora da

cidade, localizada no campo, é nela que os capitais agrário e industrial se

encontram ligados, um dependente do outro. Quando se chega ao espaço da

usina, a impressão que se tem é que o canavial “engoliu” a indústria, mas é ao

contrário, visto que é na usina que a cana de açúcar se transforma de maneira

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industrializada em álcool e açúcar. Seguindo a lógica do processo produtivo, é

neste momento que se institui outros insumos: a utilização de fertilizantes, o

trator, a queimagem da folha de cana, a rapidez do corte pelo trabalhador do

campo, intensificando a exploração da força de trabalho e, consequentemente, a

produção do mais valor. Nesse contexto Araújo (2010) dirá:

O uso predatório da força de trabalho, a violação da legislação trabalhista e o trabalho degradante estão presentes em todas as regiões produtoras da cana de açúcar, soja, algodão e setores de ponta, empresas nacionais e internacionais. Ao contrário dos resquícios de modos de produção arcaicos, que sobreviveram temporariamente à introdução do capitalismo, a utilização dessas formas de trabalho constitui um dos instrumentos extra-economicos dos quais o capital lança mão para facilitar a acumulação em seu processo de expansão. (ARAÚJO, 2010, p. 57)

É importante observar que a modernização da usina, ou a modernização

das máquinas e os equipamentos na agroindústria sucroalcooleira, foi e é

incentivada pelas condições de oferta da força de trabalho e, principalmente, para

aumentar a produtividade provocada pela necessidade de acumulação de capital,

provocado também por uma demanda local, regional ou global.

Ianni (1984) destaca que em diversos momentos da história as políticas

governamentais investem no setor, promovendo a acumulação de capital, citando

como exemplo, a Lei nº 4870, de (1º de dezembro de 1965) que dispõe sobre a

produção açucareira, a receita do Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA e sua

aplicação, onde em seu Art 56 disciplina que:

A venda, permuta, cessão ou transferência, a qualquer título, de maquinaria ou de implementos destinados à fabricação de açúcar ou de álcool, novos ou já usados, somente poderá realizar-se

mediante autorização prévia e expressa do I.A.A. (BRASIL 1965).

E o Decreto Lei de nº 1.1986, de 27 de agosto de 1971, o qual “concede os

estímulos à fusão, incorporação e relocalização de unidades industriais

açucareiras e dá outras providências”. Dessa maneira, neste decreto o governo

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passou a estimular as usinas através de incentivos fiscais e financeiros para

assim aumentar o processo de mecanização para intensificar o processo

produtivo, aumentando consequentemente a produtividade, provocando a

concentração do capital na agroindústria canavieira.

O processo produtivo da usina é formado pela fábrica e pelos canaviais, os

quais geralmente ocupam uma grande extensão de terras. Os trabalhadores que

compõem esse processo são caracterizados como operários industriais,

agrícolas, fiscais, técnicos, engenheiros, químicos, empregados em escritórios, a

diretoria, que geralmente são os próprios proprietários. Existem também, na

maioria das vezes, os médicos, dentistas, enfermeiros, assistentes sociais, dentre

outros profissionais. Mas, no geral, a divisão dos trabalhadores se divide de

acordo com as exigências de reprodução do capital agroindustrial, visto que a

colheita da cana acontece de acordo com a safra, onde há aqueles trabalhadores

pré-existentes e aqueles trabalhadores agrícolas, os quais, no geral, só trabalham

na época da safra (IANNI, 1984).

É importante frisar que a força de trabalho concentra-se na indústria e no

campo, mas o cortador de cana é diferente do operário da usina, pois trabalha em

condições sociais e técnicas diferentes, principalmente na organização social da

produção, mas os mesmo estão interligados na continuidade de um mesmo

processo.

O cortador de cana possui um trabalho áspero e longo, geralmente tem

uma jornada de trabalho de 10 a 12 horas de duração, sendo que o ganho é por

tarefa cumprida e o preço é estipulado de acordo com os interesses do

proprietário da usina e o trabalho é temporário, de acordo com as safras. Já o

operário que trabalha na parte industrial da usina, as bases da jornada são de oito

horas e o salário é mínimo; ”são inúmeros os casos de empresas cujos

empregadores utilizam tecnologia de ponta numa área de produção, enquanto,

em outra, recorrem ao trabalho degradante e escravo” (GARCIA, 2010, p. 57).

Mas um segue e se processa através do outro, pois estão ligados através

da continuação do processo produtivo que se caracteriza por um processo social

de produção, enquanto utilização da força de trabalho e, além disso, seguem

ligados por meio do ciclo: corte de cana, da moagem que termina com a produção

do açúcar e/ ou do álcool (IANNI, 1984).

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Portanto, o processo de modernização da agricultura canavieira capitalista

no Brasil continua a se expandir através do crescimento do agronegócio, sob uma

dominação de pequenos grupos de proprietários, que concentram em suas mãos

uma grande extensão de terras. Por outro lado, traz consequências negativas

para uma grande maioria da população, que vive em condições de pauperismo,

onde é efetivado em um cenário de desemprego e subemprego, seja ele no

campo ou na cidade (GARCIA, 2010).

3.3 O Processo de Reestruturação Produtiva do Capital Agroindustrial Canavieiro

Os anos de 1970 e início dos anos 1980 é um período importante para

constituição dos Complexos Agroindustriais, visto que as ligações políticas

estabelecidas entre esse setor e o Estado provocaram as mudanças positivas

para o capital no sentido da concentração de riqueza agrária, visto que o Sistema

Nacional de Crédito Rural – SNCR teve papel extremamente relevante,

principalmente na esfera financeira, em que se observa que o objetivo do SNCR

era fornecer subsídios que embasariam o sistema econômico e de modernização

da agricultura brasileira como um todo. Todavia, essa política foi celetista,

viabilizando o crédito para os grandes proprietários de terras.

Sendo assim, o grande proprietário comprava as terras dos minifúndios,

dando lugar às agroindústrias, aumentando para elas a mão-de-obra barata do

meio rural, intensificando também o poder político da burguesia agrária na

economia agroexportadora, fortalecendo o controle do processo produtivo

(OLIVEIRA, 2009).

O processo de modernização da agricultura brasileira perpassa por dois

pontos, o primeiro é a maneira característica do modo de produzir e o segundo é

como se organiza essa estrutura fundiária, mas particularizaremos a estrutura

fundiária canavieira.

Um fato interessante é que essas mudanças nas últimas décadas

obtiveram alguns progressos tecnológicos, mas esse progresso, de acordo com

Prado Júnior (2007), esse processo provocou a concentração ainda maior da

propriedade fundiária, com a expansão das lavouras de cana de açúcar, com a

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compra de grandes extensões de terras e a compra de máquinas modernas nas

imensas usinas, reduzindo em contraponto os espaços ocupados por aqueles

trabalhadores que lidavam com a cultura de subsistência.

De acordo com o autor, esses trabalhadores das zonas açucareiras do

nordeste, viviam em melhores condições no passado e, agora, com a chegada da

reestruturação produtiva, aparentemente, eles vivem em piores condições, que

podem ter sido provocadas pelo desenvolvimento econômico dessas zonas

(PRADO JÚNIOR, 2007).

O modelo agroindustrial desenvolvido em nosso país tem agravado mais

ainda o problema da desigualdade social, pois esse modelo através da

modernização da agricultura teve como consequência a expulsão dos pequenos

proprietários de suas terras, sendo o agronegócio responsável pelo aumento do

desemprego no campo, provocando o aumento do êxodo rural ou se não, a busca

do homem do campo aos movimentos da luta pela terra, (OLIVEIRA, 2009).

Na verdade, podemos afirmar que a modernização do setor produtivo da

cana de açúcar é uma forma de renovar as maneiras de acumulação do capital,

logo são criados e implementados mecanismo para essa acumulação, é neste

contexto que se insere a mecanização do corte da cana. Essa reestruturação

produtiva do setor sucroalcooleiro se intensificou no início do século XXI, mais

especificamente na década de 90.

Com as novas tecnologias, como a mecanização da colheita e pós-colheita

que foram incentivadas pelas diretrizes políticas econômicas dos governos da

década, logo se destaca os financiamentos com juros baixos propostos pelo

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o câmbio

sobrevalorizado entre o período de 1994-1998, criando um cenário que contribuiu

para aquisição de novos equipamentos pelas indústrias do agronegócio, como

máquinas, colhedoras, implementos como fertilizantes, dentre outros (OLIVEIRA,

2009).

Outro ponto, não menos importante, a reestruturação acirrou o conflito

entre capital-trabalho, logo foram apresentados alguns desafios para a classe

trabalhadora canavieira, visto que provocou redefinições no campo técnico,

gerencial, econômico e político. Provoca-se a substituição da força de trabalho do

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homem do campo pela máquina. Além disso, o homem do campo que não foi

substituído continuava em condições precárias, trabalhando.

Podemos analisar que os avanços alcançados pela reestruturação

produtiva na agricultura do nosso país, em particular a canavieira, a qual

incorporou insumos industriais e máquinas modernas no processo da indústria

agrária, atendeu grandiosamente os interesses dos latifundiários, a prova é a

continuação do crescimento da concentração de terra no país, que aumentou os

seus custos através da produção e se apoderou da mais valia (OLIVEIRA, 2009).

Com isso, mesmo com avanços tecnológicos inseridos no Brasil, não

existiu uma mudança mais ampla na estrutura agrária, no que diz respeito à

diminuição do agravamento da concentração de terras e, no caso particular da

cana de açúcar, os grupos de empresários intensificam a compra das

propriedades para plantação de cana, ocorrendo a diminuição dos pequenos

arrendatários que antes serviam como fornecedores para as usinas (OLIVEIRA,

2009).

3.4 Particularidades sócio-históricas do agronegócio da cana de açúcar da Usina Vale Verde

no município de Baía Formosa/ RN

Em razão da formação histórica do território brasileiro, a agricultura

brasileira não é homogênea, no que diz respeito à divisão e à posse da terra.

Com isso, as condições de construções sócio históricas da formação da região

que cerca a cidade de Baia Formosa hoje não seria diferenciada das demais

regiões brasileiras, principalmente no Nordeste.

Quando o Rio Grande era capitania, a distribuição de terras seguiu a forma

estabelecida pela Coroa, a qual privilegiava os que tinham poder aquisitivo, sendo

que a distribuição de terras era realizada pelo sistema de sesmaria, isso existiu

em terras brasileiras por quase 300 anos, ou seja, até 1820.

No período entre 1600 e 1633, muitas foram as sesmarias concedidas, mas

irá se destacar a concessão feita pelo capitão-mor Jerônimo de Albuquerque a

seus filhos, em 1604, no vale do rio Cunhaú, atual município de Canguaretama (O

munícipio de Baia Formosa era distrito), que deu início ao primeiro engenho da

capitania, o engenho de Cunhaú, e seria a base do poder da família Albuquerque

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Maranhão, poder esse que atravessou gerações e gerações. Enquanto Natal era

o centro administrativo da capitania do Rio Grande, a povoação de Cunhaú

constituiu o centro econômico. Indubitavelmente, é importante destacar que com o

fim da hegemonia dos interesses ligados à produção açucareira, ocorre o fim da

hegemonia da oligarquia Maranhão (MONTEIRO, 2002).

Diante do contexto acima, percebe-se que a “elite agrária” propriamente

dita, como a família dos Albuquerque Maranhão não existe mais, observa-se que

existe uma elite “mesclada”, pois não se concentra apenas no mercado da terra

propriamente dito, encontra-se inserida no ramo imobiliário, na fruticultura

irrigada, na indústria, no próprio petróleo. Com isso, acredita-se que os donos

dessas riquezas não se concentram apenas na área rural e sim também na área

urbana. Destaca-se ainda que os donos dessas riquezas, na maioria das vezes,

nem potiguares são, nem muitos menos brasileiros, mas estrangeiros. Percebe-se

que temos uma elite econômica heterogênea, não mais associada com as antigas

oligarquias, todavia entende-se que o acúmulo de riqueza não está ligado a

apenas uma família e sim a grupos econômicos, sejam eles nacionais ou

estrangeiros.

A produção agrícola, historicamente, é uma das principais bases

econômicas do Brasil, a exportação da cana-de-açúcar, do algodão, depois do

café, proporcionaram destaque internacional para o país, hoje ele é um dos

maiores exportadores de produtos primários do mundo, como frutas, cereais,

grãos, dentre outros. “O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de exportação de

vários produtos agrícolas - açúcar, carne bovina, carne de frango, café, suco de

laranja, tabaco e álcool” (ESTADÃO, 2011).

Todavia, apesar desse crescimento econômico agrícola, considera-se que

a desigualdade social em nosso país se concentra na má distribuição da terra,

mas a questão agrária vai mais além da terra, visto que a “elite brasileira” se

recicla como visto nos escritos supracitados, não só da “terra que o rico vive”. Em

umas das reportagens da revista Carta Capital, de setembro deste ano, trouxe

como temática: “ricos e ignorados: o Brasil sabe tudo sobre seus pobres, e quase

nada sobre seus abastados. Como esta desinformação impede a redução da

desigualdade.” Considera-se esse um ponto culminante para a redução

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desigualdade em nosso país, já que um dos maiores problemas é má distribuição

de renda brasileira.

E conhecer mais profundamente os ricos não é importante apenas do ponto de vista sociológico, mas para poder formular políticas públicas que vão ao encontro ds metas atuais de distribuição de renda... Os especialistas são unânimes em um ponto: para conhecer melhor o perfil da elite é preciso ter acesso ao banco de dados da receita federal. O problema é que nem mesmo o Ipea tem acesso a esses dados. (Carta Capital, p.30, nº 662)

Contudo, é diante do contexto acima que se reflete sobre os impactos que

a expansão da monocultura canavieira pode causar nas regiões pequenas, como,

por exemplo, a própria cidade de Baía Formosa, a qual é o recorte territorial

dessa pesquisa, pois, se a cidade é considerada uma das mais pobres do RN

(possui um índice de pobreza de 66,98% no estado, IBGE, 2010), é contraditório,

porque a Usina Vale Verde emprega cerca de 4 mil pessoas no RN. Com isso,

imagina-se que a pobreza da cidade pode ser consequência do aumento de preço

dos alimentos, da diminuição de gêneros alimentícios, visto que as extensões de

terras podem ser destinadas apenas para o crescimento do setor sucroalcooleiro.

Baia formosa tem algumas características históricas importantes antes de

sua formação em município que tiveram a influência de pessoas dos Albuquerque

Maranhão.

Em um movimento localizado no porto de embarcações, onde hoje existe

um dos principais pontos turístico da cidade, deu-se origem a um núcleo

organizado de pescadores localizado na única baia do Rio Grande do Norte. Essa

região servia também como ponto de veraneio, durante parte do século XVIII,

para a família Albuquerque Maranhão (Donos do engenho de Cunhaú) e

fazendeiros das redondezas. Contudo, em 1877, aconteceu um ato de barbárie

com os pescadores da região, onde o movimento ficou conhecido como matança

de agosto (MORAIS, 2007).

A barbárie aconteceu, porque o poderoso latifundiário e dono do engenho

Estrela, o senhor João Albuquerque Maranhão Cunhaú, dizia-se dono da área de

trabalho dos pescadores, partiu para o novo vilarejo, onde hoje é a cidade de Baia

Formosa, acompanhado de seus jagunços armados dispostos a expulsar os

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moradores daquela localidade. Foi então que quatorze pescadores armados com

pedaços de madeiras e algumas facas, através da liderança do corajoso

Francisco Magalhães, decidiram resistir ao poderoso latifundiário da região, tendo

como resultado seis homens mortos. Todavia, o mandante da chacina foi preso e

julgado em 1878, em Canguaretama, onde foi absolvido (MORAIS, 2007).

Depois desse movimento, a população ribeirinha tornou-se distrito da cidade de

Canguaretama em novembro de 1892. O distrito continuou crescendo, tendo

como principais fontes econômicas a agricultura e a pesca. Quando estava com o

porte de cidade, o povoado foi desmembrado de Canguaretama e tornou-se

município em 31 de dezembro de 1958, através da Lei nº 2.338, sancionada pelo

então governador do estado, Dinarte de Medeiros Maris, recebendo o nome de

Baia Formosa (MORAIS, 2007).

Foto 1 – Mirante ou Baia da cidade

Fonte: Arquivo da autora, 2012.

Conforme os dados coletados na pesquisa de campo, o primeiro prefeito da

cidade Frederico Soares de Melo, administrou o município durante dois mandatos,

entre 1959 a 1960 e 1965 a 1968, ele é pernambucano e seu filho Thomas

Soares de Melo foi prefeito no mandato de 1973 a 1976. A família possuía terras

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no município e uma grande extensão destas foi vendida a um grupo de poloneses

e outras grandes extensões de terras foram vendidas para o grupo Farias.

Hoje, a cidade encontra-se a noventa quilômetros de distância da capital,

localizada na Região litoral Agreste do Estado, tendo uma área total 245, 510 km²,

com uma população de 8.573 habitantes, a cidade tem um dos maiores índices de

pobreza do estado (66,93%), visto que o maior índice gira em torno de 77,22%

(IBGE, 2010).

Foto 2 - Entrada do centro da cidade de Baia Formosa

Fonte: Arquivo da autora, 2012.

A contribuição do Imposto Territorial Rural – ITR arrecadado pelo município

é de R$ 6.418,07 reais, esse imposto é pago por pessoa física ou jurídica, que

seja dona de propriedade rural no município, mas esse pagamento é feito pelo

próprio contribuinte de acordo com a sua declaração anual do imposto de renda.

Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano (BRASIL, 1996)

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A competência da administração do ITR é da União e do município, onde

tem direito a 50% do produto de arrecadação. Teoricamente, esses recursos

obtidos com o imposto deveriam ser empregados em planos de reforma agrária,

plano de construção de habitação popular, crédito rural para expansão da

agricultura familiar e saneamento básico. (BRASIL, 1996)

A cana-de-açúcar sempre concentrou sua produção nas mãos de

famílias/grupos, temos o exemplo do nosso estado, a própria família Albuquerque

Maranhão que durante décadas dominou a produção do açúcar na região.

Destaca-se também o Grupo Farias, donos da Usina Vale Verde, o qual também

é um grupo familiar, porém capitalista.

Conforme dados levantados na entrevista realizada na Usina Vale Verde,

essa empresa foi criada pelo Antônio Farias. O mesmo foi prefeito de Recife,

deputado estadual e deputado federal do Estado de Pernambuco, sendo que a

gestão de empresas não se limitou à Usina Vale Verde, pois seu pai, Severino

Farias, possuía uma usina de beneficiamento de algodão em Surubim.

Contudo, na década de 1960, junto com outros sócios, geriu a Usina

Pedroza em Cortês, Mata Sul de Pernambuco. Todavia, anos mais tarde, tornou-

se sócio marjoritário desta usina em Pernambuco. Em 1975, montou a Destilaria

Pedrosa, no município de Baia Formosa, no estado do Rio Grande do Norte,

passando a chamá-la de Vale Verde em novembro de 2001, sendo que começou

a produzir açúcar na safra de 2003/ 2004 (Usina Vale Verde, 2012).

Como dito anteriormente, Antônio Farias se tornou o único proprietário,

com isso substituiu a maquinaria, construiu a usina de álcool. Na época, eles

produziam cerca de 25.00 litros por dia e com passar do tempo foi comprando

mais propriedades, segundo dados oficiais da empresa. Todavia, em 1982,

Antônio Farias tinha que administrar a destilaria no RN, a usina Pedrosa/ PE e

estava em um mandato como deputado federal, com isso, passou a

responsabilidade para seu filho Eduardo Farias, hoje ele é o presidente e diretor

do grupo e seu tio Arlindo Farias é o vice-presidente.

O Grupo Farias é o único dono da Usina, sendo que além desse

empreendimento eles possuem outras unidades pelo país, nos Estados

brasileiros de Pernambuco, Goiás, São Paulo e Acre; além de dominarem o

mercado sucoalcooleiro no estado eles possuem duas revendedoras autorizadas

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de automóveis, que é a Salinas Automóveis LTDA e a Ponta Negra Automóveis

LTDA (Usina Vale Verde, 2012). Em relação a essa temática ARAÚJO (2010)

evidencia que:

É inerente ao processo de mundialização operar nos diversos espaços e territórios, sob o domínio do capital financeiro. Entretanto, este não constitui uma via de mão única. O capital financeiro comparece nas figuras de grupos industriais transnacionais no centro do processo de acumulação. (2010, p. 50)

Sobre o interesse do grupo em outras áreas, além do ramo sucroalcooleiro,

o visse presidente da usina em entrevista ao jornal tribuna do norte (2007), afirma

que:

Ecoturismo, construção civil, ramo automotivo, energia eólica. O grupo tem um enorme potencial adormecido. Estamos nos preparando para o momento certo. O Grupo tem acompanhado o crescimento do RN. Mas não quer perder o foco no seu negócio, que é a produção de açúcar e etanol. Queremos aumentá-la. Dentro do ramo automotivo, estamos pensando em ampliar nossa estrutura no RN ou quem sabe trazer uma marca nova. (TRIBUNA DO NORTE, 2007).

Essa característica do Grupo Faria é uma amostra que o agronegócio não

se encontra isolado, visto que a figura do capitalismo financeiro estar presente

hegemonicamente na figura de grandes investimentos sejam eles na agricultura

de exportação, no mercado terras, no turismo, ou seja, o capital é urbano e rural

ao mesmo tempo, a acumulação é diversificada (ARAÚJO, 2010).

Arlindo Farias, revela que a usina atingiu o recorde na safra do ano de

2007, alcançando 1,4 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, isso tinha sido

provocado pelas novas parcerias com novos fornecedores, pela mecanização do

setor produtivo, na indústria e no campo, ampliando a capacidade de

moagem. No mesmo ano (2007), a indústria tinha uma capacidade de moagem de

400 mil toneladas por ano, hoje (2012) a empresa tem uma capacidade instalada

para processar 1.150.000 toneladas de cana, e de produzir 1.200.000 sacos de

açúcar e de 60.000.000 milhões de ácool Anidro e Hidratado.

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A usina tem investido na mecanização massiva do seu processo produtivo,

existe um sistema de irrigação por gotejamento, uma parte desse processo é

realizado através da colheita mecanizada, ela é importante, pois não existe a

necessidade da queimagem da cana. Todavia, cerca de 90% do processo

produtivo é voltado para a queimagem da cana. No entanto, segundo a empresa,

o IDEMA estabeleceu um prazo até em 2014 para que toda a queimagem da cana

seja mecanizada (Usina Vale Verde, 2012).

Foto 3 – Usina Vale Verde

Fonte: Usina Vale Verde, 2010

Outro ponto interessante é que cada colheitadeira substitui até 80

cortadores de cana. Todavia, para a empresa a mecanização é importante por

causa da diminuição dos gastos e, consequentemente, o aumento dos lucros,

visto que, além da colheita mecanizada garantir a qualidade da cana, poupa

palha, essa palha misturada ao bagaço alimenta a termoelétrica erguida dentro da

usina.

A usina Vale Verde Baía Formosa já possui seis colheitadeiras - cada uma substitui até 80 cortadores de cana. Até outubro, deve receber mais seis. Arnaldo de Andrade acredita que, se continuar neste ritmo, a usina conseguirá mecanizar até 80% de sua

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colheita nos próximos quatro anos. "É uma tendência mundial". Em todo o mundo, patrões perceberam que "queimar a cana é queimar dinheiro. (TRIBUNA DO NORTE, 2011)

A mecanização é boa para a produção, mas consequentemente afeta os

trabalhadores, que em um futuro próximo ficarão sem emprego, enquanto isso a

força de trabalho permanece em condições precárias “esperando” ser substituída

por máquinas.

Conforme os dados coletados na pesquisa de campo, a contratação é por

safra, é sazonal, mas existem os funcionários fixos, onde 721 são os que

trabalham na indústria e, no campo o número de trabalhadores contratados é de

1204, esse valor é na entressafra e no período de safra pode chegar a 3.000

trabalhadores.

A empresa realiza um trabalho na cidade junto com a secretaria de ação

social, recrutando pessoas da cidade treinando-os para a função de operador e

manutenção de tratores e operador de carregadeiras. Segundo a usina, ela é a

única empresa que contribui com a arrecadação, a própria gerencia a mata

Estrela, que é uma reserva particular pertencente ao grupo; quem a visita paga

uma taxa de acesso (Usina Vale Verde, 2012).

Foto 4 – Mata Estrela

Fonte: Turismo no RN, 2012

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De maneira geral, a concentração de terras no Brasil é evidenciada através

de estratégias econômicas e políticas da burguesia rural que estão aliadas com o

Estado, onde essas políticas valorizam o agronegócio e a concentração fundiária

no país. No entanto, não são efetivadas políticas sociais que minimizem a

concentração de terras e de capital.

Sendo assim, de acordo com os dados do Instituto de Colonização e

Reforma Agrária – INCRA, o quadro abaixo revela que no período entre 1998 a

2008 a concentração de terras em nosso país continua sendo o fato crescente.

Quadro 3 – Concentração de terras no Brasil.

CARACTERISTICAS ANO 1998 ANO 2008

Número de imóveis rurais

pertencentes a empresas

nacionais e estrangeiras

67 mil 131 mil

Número de terras

controladas por

empresas

80 milhões de hectares 177 milhões de hectares

Fonte: Elaborado pela autora, 2012.

Nesse contexto, particularizando o latifúndio existente no município de Baia

Formosa/ RN, apresentaremos a análise dos elementos que foram construídos

conforme os dados coletados na pesquisa de campo.

A Usina possui cerca de 82% das terras do município, ou seja, a Usina é a

proprietária de grande parte do território do município, provando a grande

concentração de terras nas mãos de um único dono (grupo familiar). Logo, o

gráfico abaixo poderá mostrar a grande concentração de terras do grupo Farias,

sendo essa uma realidade que acompanha todo um processo de concentração de

terra vivenciado no país.

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Gráfico 1 - Concentração de terras na cidade de Baia Formosa

Gráfico 1 – Estrutura da concentração de terras da Usina Vale Verde na cidade de Baia Formosa. Fonte: Eleborado pela autora, 2012.

Analisando os dados do gráfico 1, verifica-se que 81,46% das terras do

município pertence ao Grupo Farias, sendo que essa porcentagem corresponde

aos 20.000 hectares de plantação de cana, na verdade a Usina ocupa 23,000

hectares na cidade, os três mil corresponde à ala administrativa de produção.

Portanto, podemos concluir que a estrutura fundiária do município é desigual,

visto que existe uma concentração de terra gritante, onde é beneficiado um grupo

familiar em detrimento da grande maioria de trabalhadores daquele município.

A realidade da questão agrária da cidade de Baia Formosa não é diferente

da realidade brasileira, pois ela é classificada e dividida em dois setores

completamente apartados, onde de um lado encontra-se uma pequena minoria,

representada pelo grupo Farias ou latifúndios e, de outro, a grande maioria da

população, que vive submissa à grande empresa, vivendo parte dela em

condições precárias. Ou seja, a estrutura é caracterizada por um pequeno número

de proprietários, donos das terras, e um grande número de trabalhadores rurais

sem terras.

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Afirma-se que as condições sociais do município são precárias, pois a

cidade de Baia Formosa é muito pequena, observa-se que os moradores

dependem da usina, da pesca e do comércio, mas esse último é de pequeno

porte, sem falar que os moradores nativos não são donos dos principais

estabelecimentos, a maioria dos proprietários é de outros estados, que vieram

para trabalhar na usina e, após saírem, decidiram se estabelecer. (Dados da

pesquisa em loco, 2012)

Segundo a Secretária de Administração da cidade, Vera Lúcia Lopes da

Costa Leitão, a empresa é “o coração da cidade”, por causa do imposto que ela

repassa para prefeitura. Segundo o IBGE, a contribuição com o Imposto Territorial

Rural – ITR da cidade é de 6.418,07 reais, imagina-se que boa parte deste, se

não todo o imposto, venha da Usina, mas considera-se pouco, visto que a usina,

através do seu latifúndio, é praticamente dona da cidade, tendo ela o domínio

comercial e da população da região.

Poderemos analisar que o crescimento da usina pode ser característico da

abertura de capitais e do próprio incentivo do Proálcool que, segundo o governo,

o programa tinha como objetivo atender às necessidades do mercado interno e

externo em relação às necessidades dos combustíveis automotivos, provocado

pela crise do petróleo na década de 70. Vale salientar que esses grupos familiares

se organizam juntando-se a outros grupos, formando corporações,

provavelmente, para uma maior produção. Essas empresas investem na

aquisição de faixas de terras próprias, ou seja, a figura do fornecedor vai se

esvaindo, já que os grupos passam a cada dia produzir sua própria matéria prima,

sendo essa uma maneira de controlar o capital sob o próprio território, assim ele

garante o lucro em cima da plantação da cana-de-açúcar. Oliveira destaca:

Apesar de em alguns locais o poder público apresentar como uma das condições para instalação das novas unidades processadoras, que os grupos que estão empreendendo o negócio dêem prioridade aos fornecedores, alegando ser esta uma forma de distribuir renda, a participação dos fornecedores é cada vez menor, pois a cana própria mesmo em terras arrendadas caracteriza uma forma de controle do capital agroindustrial canavieiro sobre o território, visando à garantia, em termos de produtividade, qualidade, lucratividade da matéria-prima. Além do que, ele detém as técnicas agrícolas, os maquinários e as

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tecnologias empregadas na lavoura de cana. (OLIVEIRA, 2009, p.287)

Sendo assim, pode-se concluir que a usina se enquadra no contexto acima,

visto que, trabalha com fornecedores de cana de açúcar, porém é uma pequena

quantidade, pois a empresa planta sua própria cana, sendo 20.000 hectares a

área plantada, cana própria. Os fornecedores são solicitados durante as safras,

pois o número produzido de cana própria na maioria das vezes não é suficiente

para a safra (Dados da usina, 2012).

A partir da reprodução do capital pelo agronegócio canavieiro, e mais

especificamente da Usina Vale Verde instalada no município de Baia Formosa

RN, não fica difícil caracterizar quem domina e influencia nesse processo, seja ele

sob a estratégia de produção e reprodução do próprio capital ou pela maneira

como o Estado subsidia, dando apoio social, através do controle social ou das

políticas sociais voltadas para o crescimento econômico do capital.

O que acontece é uma dominação das forças econômicas e produtivas, e

aí se encaixam as “novas roupagens” que o próprio capital se utiliza para se

reproduzir, como atualização do discurso do crescimento social de cidades de

pequeno porte, como a própria Baia Formosa, todavia o que nota-se é o

empobrecimento da população do campo, provavelmente pelo fato de não

conseguir se manter em suas terras, pois a mecanização das máquinas, por meio

do seu custeio fica difícil para o agricultor de pequeno porte sobreviver do campo,

provocando a sua saída do meio rural para o urbano, desencadeando sérios

problemas, os quais a autora Fontes (2010) nos relata a seguir:

O aprofundamento contemporâneo das expropriações que incidem sobre os trabalhadores da terra, com a continuidade do êxodo rural em direção às cidades. Os dados da urbanização da população mundial não expressam se ocorreu acesso ou não ao mercado regular de trabalho, ou alteração (melhoria ou piora) de condições de vida; indicam apenas que massas crescentes da população mundial encontram-se a cada dia mais direta e quase completamente subordinadas à dinâmica mercantil, precisando, pois, vender, em parte ou totalmente, sua força de trabalho e, em muitos casos, sob quaisquer condições. (FONTES p. 48)

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Vimos no primeiro capítulo a maneira como se estrutura a economia de

mercado, e que é através das “novas roupagens” que o capital utiliza, como por

exemplo a reestruturação produtiva e a modernização da própria agricultura, que

o mesmo irá influenciar na reestruturação produtiva do agronegócio da cana de

açúcar.

Acredita-se que essa influência tenha perpassado pela organização técnica

operacional industrial, através da implementação de novas máquinas,

principalmente no momento do corte da cana de açúcar.

Dentre outros pontos importantes, vale destacar a própria organização

territorial das empresas no momento da sua instalação em cidades de pequeno

porte, e lá implantam suas relações de trabalho, a qual tem uma importância

ontológica no processo produtivo, visto que, como exposto no capítulo anterior, o

controle da força de trabalho é também a garantia da reprodução do capital,

sendo esse ponto chave da luta entre capital e trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de pesquisa foram surgindo muitas perguntas sobre a

temática da acumulação de riqueza, em particular, no agronegócio da cana de

açúcar na cidade de Baia Formosa. Os questionamentos surgiram em maior

extensão no momento da visita em campo à Usina Vale Verde e a observação

das condições sociais dos moradores do município. Surgiram perguntas como:

Como existe tanta desigualdade em uma cidade que tem tanta riqueza natural?

Até onde a atividade econômica da empresa potencializa troca de

desenvolvimento à cidade?

O estudo detalhado do referencial teórico e as obsevações constantes

durante o processo de investigação impirica foram fundamentais para

compreender como se processa esse fenômeno.

Foi possível compreender mais rigorosamente o sistema capitalista e suas

estratégias de acumulação, através da acumulação primitiva com a expropriação

do homem do campo, a qual gera exploração e, consequentemente, gera mais

valia para quem detém o capital.

A consequência disso é uma repartição injusta da distribuição da riqueza

socialmente produzida, gerando assim as desigualdades entre as classes sociais.

Observa-se que a reprodução da desigualdade se explica através da elevada

concentração de riqueza, e aqui se destaca a própria concentração de riqueza

advinda do latifundio em nosso país. Com isso, não se pode afirmar que a

pobreza é um fenomeno advindo apenas da insuficiência de renda propriamente

dita. Logo, Moreira e Oliveira (2010) afirmam:

Distribuir renda não é sinônimo de distribuir riqueza. E aqui se encontra uma das maiores limitações das políticas sociais desvinculadas de instrumentos econômicos que incidam estruturalmente sobre a concentração de renda e por consequência na desigualdade social. (MOREIRA e OLIVEIRA, 2010, p. 245)

Diante das leituras realizadas, também se observa que o Brasil não

conseguiu pôr fim ao latifúndio e ao monopólio organizado da terra. O que se vê a

reafirmação do poder dos grandes proprietários rurais, que estão expressos na

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garantia da manutenção da concentração fundiária, sem falar na redefinição de

seus poderes políticos e sociais.

A terra, que é um bem natural, continua sendo a grande mercadoria, é ela

que dá a seu detentor a força econômica, que domina e explora a classe dos

trabalhadores do campo, mas isso ocorre de maneira diferente e em tempos

diferentes, todavia, a terra é um bem limitado, pois ela não é fabricada e seu

monopólio se dá através da concentração fundiária. Ela não deixou de ser o

instrumento de acumulação da riqueza, apenas suas aquisições foram renovadas

com o passar dos tempos.

Observa-se que a burguesia rural não é exclusivamente rural ou apenas

industrial, ela se alia a outros grupos econômicos, industriais, comerciais e

agrícolas. Geralmente, os governantes são donos de terras, os banqueiros são

donos de terras, os donos dos meios de comunicação são donos de terras. E

assim se acumula capital e o poder através da propriedade fundiária, visto que

quanto mais a terra é concentrada, maior é o poder de um grupo econômico.

Destacamos a própria organização social da Usina Vale Verde, que se alia

a outros grupos econômicos, ou cria outros elementos econômicos que ampliem o

seu capital, seja ele no setor turístico, automobilístico e/ou na própria

agroindústria para, assim, manter-se no mercado.

Ou seja, a reestruturação produtiva da empresa, que incorpora insumos

industriais e máquinas modernas no processo da indústria agrária com o objetivo

de ampliar o seu mercado, provoca consequências negativas à cidade de Baia

Formosa/ RN; onde acontece uma dominação de um único grupo familiar, que

concentram em suas “mãos” uma grande extensão de terras. Por outro lado, a

grande maioria das pessoas deste município vive em condições de pauperismo,

que é efetivado em um cenário de desemprego e subemprego.

Se observarmos a acumulação de capitais através do agronegócio

canavieiro, e aqui particularizamos a própria Usina Vale Verde, acontece sobre a

influência das próprias políticas governamentais, e aqui destacamos o papel do

Proálcool e dos impostos cobrados pelas políticas tributárias do nosso país, que

facilitam muitas vezes a vida do latifúndio. Por outro lado, a própria modernização

da agricultura teve sua grande influência para acumulação de capitais através das

mudanças em seu processo produtivo.

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Portanto, essa reestruturação da Usina, a sua adaptação para ampliar o

seu mercado e a relação que ela estabelece com a cidade de Baia Formosa/RN

está inserida no processo mais geral vivenciado pela agroindústria brasileira. Ou

seja, pela estrutura fundiária de concentração de terras que é construída com as

cidades brasileira de pequeno porte que tem seus recursos econômicos e sua

mão de obra explorada pelo latifúndio local e nacional.

E aqui enfatizamos a importância de se estabelecer políticas sociais que,

de certa maneira, barrem esse acelerado crescimento do grande proprietário

rural, visto que o que se observa é o abandono da utilização da força de trabalho

do homem do campo, sendo ela substituída pelas máquinas, e a continuação da

expropriação das terras do pequeno proprietário que não consegue se manter,

pois não conseguem acompanhar os avanços tecnológicos.

Com isso, continua a necessidade da reorganização das políticas sociais

que vêm para a agricultura e para a organização fundiária, e aqui destaca-se a

importância de uma estrutura fundiária que seja capaz de transformar as relações

sócias no campo, ou seja, uma reforma agrária que nunca existiu em nosso país.

Ainda há muito a ser pesquisado na área de acumulação de riqueza, em

especial no agronegócio brasileiro, mas partindo da perspectiva de estudo ligada

aos mecanismos de concentração da riqueza que a burguesia se atribui para

manter-se no poder econômico, social e político. É necessário aprofundar os

estudos sobre um viés ligado à reprodução da desigualdade social a partir da

realidade nacional e internacional no arcabouço da riqueza da burguesia rural,

trazendo suas relações de maneira mais aprofundada no que diz respeito às

relações estruturais sócio históricas, econômicas e políticas, para dessa forma

desvendar as possibilidades de exploração que reproduzem políticas sociais

desiguais. Isso é importante para indicar possibilidades de transformação dessa

realidade.

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http://tribunadonorte.com.br/noticia/queremos-crescer-na-area-de-energia-sem-

perder-o-foco/197134 acessado em 29/09/11

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APÊNDICE – Instrumentos de coleta de dados

INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS

Quanto aos instrumentos de coleta de dados teremos a observação direta

e o próprio caderno de campo como material empiríco. Ela será imporatnte tanto

na visita a Usina Vale Verde Baía Formosa, como também para compreender o

movimento, o dia-dia da própria cidade de Baía Formosa.

Outro instrumento utilizado será entrevista semi-estruturada:

A entrevista será realizada com algum gestor, bem como com

funcionários da Usina, dentre as perguntas teremos:

1. Há quanto tempo à usina existe na região?

2. Qual a importância do maquinário para a produção?

3. Quantos funcionários existem na usina? Dentre esses funcionários,

quantos são da cidade de Baía formosa?

4. Qual a produção anual da empresa?

5. Fora a produção de açúcar e alcool, vocês trabalham com outro tipo

de economia no estado do RN?

6. A usina está estruturada em quantos setores?

7. Como é o processo de trabalho organizado pela empresa?

8. Como funciona o setor de RH?

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ANEXO – Manual do funcionário

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