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1 Em um mercado de trabalho até pouco tempo dominado por homens, os empregos no setor da construção civil deixaram de ser exclusivida- de masculino. Sendo comum encontrar muitas mulheres trabalhando em diferentes funções nos canteiros de obras (pedreiras, engenheiras, técnicas em segurança do trabalho, instaladoras, funções administra- tivas, ou no comando das empresas) ( O Estado, 2013). São vários fatores que contribuem para o aumento da presença feminina em construções e reformas: a falta de mão de obra mas- culina qualificada, o aumento da demanda na área, a oportunidade de melhorar a renda e a qualidade de execução da mão de obra feminina, como capricho, zelo com os equipamento e nível de aten- ção aos detalhes em atividades de acabamento (Sinduscon SP e Revista Geografia). Sendo assim, as mulheres conquistaram tam- bém boas vagas de emprego nas obras e reformas para que o país receba a Copa do Mundo da FIFA 2014. Esse boletim apresentará informações sobre a presença das mulheres na construção civil, o diferencial feminino, quais são as devidas ade- quações para que possam atuar nos canteiros de obras e os programas de incentivo para aumentar ainda mais sua participação no setor, além de exemplos de operárias que se destacaram nesse mercado. A presença das mulheres na construção 51,5% da população brasileira é do sexo feminino 24,1 milhões delas são chefes de famílias 7,5 anos é o tempo de estudo delas, contra 7,1 anos dos homens. 77,7 anos é a expectativa de vida das mulheres. A dos homens é de 70,6. BOLETIM A VEZ DAS MULHERES NOS CANTEIROS DE OBRAS CONSTRUÇÃO CIVIL

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Em um mercado de trabalho até pouco tempo dominado por homens, os empregos no setor da construção civil deixaram de ser exclusivida-de masculino. Sendo comum encontrar muitas mulheres trabalhando em diferentes funções nos canteiros de obras (pedreiras, engenheiras, técnicas em segurança do trabalho, instaladoras, funções administra-tivas, ou no comando das empresas) (O Estado, 2013).

São vários fatores que contribuem para o aumento da presença feminina em construções e reformas: a falta de mão de obra mas-culina qualificada, o aumento da demanda na área, a oportunidade de melhorar a renda e a qualidade de execução da mão de obra feminina, como capricho, zelo com os equipamento e nível de aten-ção aos detalhes em atividades de acabamento (Sinduscon SP e Revista Geografia). Sendo assim, as mulheres conquistaram tam-bém boas vagas de emprego nas obras e reformas para que o país receba a Copa do Mundo da FIFA 2014.

Esse boletim apresentará informações sobre a presença das mulheres na construção civil, o diferencial feminino, quais são as devidas ade-quações para que possam atuar nos canteiros de obras e os programas de incentivo para aumentar ainda mais sua participação no setor, além de exemplos de operárias que se destacaram nesse mercado.

A presença das mulheres na construção

51,5%da população brasileira é do sexo feminino

24,1 milhões delas são chefes de famílias

7,5 anos é o tempo de estudo delas, contra 7,1 anos dos homens.

77,7 anos é a expectativa de vida das mulheres. A dos homens é de 70,6.

BOLETIMA VEZ DAS MULHERES

NOS CANTEIROS DE OBRAS

CONSTRUÇÃO CIVIL

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Alguns dados no setor da construção civil

De acordo com os últimos nú-meros disponíveis, os cantei-ros de obra empregavam cerca de 250 mil mulheres em 2012.

TOTAL DE MULHERES COM CARTEIRA ASSINADA

/ A evolução

A ascensão do número de mulheres na construção civil iniciou no ano de 2011 e, desde então, vem conquistando cada vez mais profissionais,

com a ampliação dos cargos exercidos, como os de chefia e direção. Até mesmo os salários, que há pouco tempo eram diferenciados, hoje

começam a ser equiparadosCLÁUDIA AFONSO, COORDENADORA DA SUBSECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES EM ENTREVISTA PARA A SECRETARIA DE ESTADO DO TRABALHO DO DISTRITO FEDERAL, 2013.

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

108.229119.538

150.381172.734

207.824

240.905249.703

Com o aquecimento desse segmento, especialmente com as obras de infraestrutura e reformas em estabe-lecimentos comerciais e particulares para a Copa do Mundo da FIFA 2014, as construtoras empregam uma grande força de trabalho. E dada a escassez de pessoal qualificado entre os homens, surge a oportunidade das mulheres enfrentarem novos desafios e aumentarem seu nível salarial.

Homens Homens HomensMulheres Mulheres Mulheres

AnoConstruçãode edifícios

Obras deinfraestrutura

Serviçosespecializados

2006

2007 54.258 718.472 41.980 610.393 23.300 345.618

2008 66.307 852.125 54.362 720.109 29.712 414.897

2009 77.080 957.057 60.727 788.111 34.927 476.086

2010 96.772 1.197.149 67.065 847.985 43.987 588.540

2011 109.491 1.309.243 79.692 920.170 51.722 679.718

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A tendência é que ainda mais mulheres ingressem nesse mercado, graças a crescente valorização de seus atributos profissionais e a criação de várias leis de incentivo para empregar a mão de obra feminina no mercado da construção.

Mas, afinal, o que faz com que elas, há pouco tempo nesse ramo, sejam tão qualificadas quanto seus cole-gas homens? Assim como em outras atividades profissionais, algumas características inerentes ao gênero são apontadas como fatores que tornam as mulheres tão capacitadas quanto os homens para o trabalho em obras (Persona Mulher, 2013). / Vantagens

As mulheres são cuidadosas e meticulosas, possuem grande capacidade de refinamento na execu-ção das tarefas, além de concentração e limpeza.

Tarefas que requerem profissionais atentos a todos os detalhes, e que sejam perfeccionistas e ca-prichosos, como: pinturas, assentamento de peças cerâmicas e diversas instalações encontram nas mulheres o perfil ideal para a melhor realização dessas atividades.

O comprometimento e dedicação também trazem reflexos econômicos positivos. Elas costumam chegar no horário, o alcoolismo aparece em proporção menor entre as trabalhadoras, não abando-nam a obra antes de concluí-la, utilizam corretamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e ferramentas, reduzindo em muito os custos com acidentes de trabalho e desgaste dos materiais.

FONTE: HUGO RODRIGUES, GERENTE DE COMUNICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND (ABCP), EQUIPE DE OBRA E VEJA SP, 2013.

A presença da mulher na construção civil ainda é muito pequena. É óbvio que ela não entra no setor para carregar tijolo, pelo contrário, ela entra mais qualificada e vai trabalhar com pintura, na parte hidráulica

ou operar máquinas e equipamentos.

ANA MARIA CASTELO, COORDENADORA DE ESTUDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV)/ FONTE: LEITURAS FAVRE, 2012

O diferencial das mulheres no setor da construção civil

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Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o valor médio pago a profissionais da cons-trução civil no primeiro trimestre de 2012 ficou em R$ 1.066,36, sendo que as mulheres puxam a média para cima, pois receberam 5,65% a mais que os homens, pois apresentam-se mais quali-ficadas e instruídas.

EMPREENDEDOR, INVISTA EM CAPACITAÇÃO DE MÃO DE OBRA FEMININA

FONTE: CAGED/MTE, 2013

Ana Paula Tavares, presidente do Instituto Construa, uma organização não governamental (ONG) que de-senvolve o programa Mulheres Que Constroem, para auxiliar na qualificação e inserção de centenas de mulheres, chefes de família, em novas profissões no setor, recomenda que “os gestores tenham em mente que a presença feminina em um espaço amplamente dominado por homens requer algumas adequações.”

Sendo assim, devido às diferenças de natureza física entre homens e mulheres, alguns cuidados são neces-sários para aprimorar seu rendimento na profissão:

“Foi preciso identificar as necessidades do público feminino para tomarmos todas as providências, como a locação de alojamento especificamente para mulheres, o uso de cores diferenciadas nos banheiros fe-mininos e outras ações, inclusive programas específicos para a saúde da mulher” salienta Antonio Cardilli, gerente administrativo e financeiro do Consórcio Santo Antônio Civil, idealizador do Programa Acreditar, da Odebrecht Energia (ABCP, 2012).

Salário masculino x salário feminino

Construção civil

INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO

SERVIÇOS IND. DE UTILIDADE

PÚBLICA

CONSTRUÇÃO CIVIL

COMÉRCIO SERVIÇOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

AGRICULTURA MÉDIA GERAL

1.083,49

877,25

1.107,051.164,34 1.123,16

1.063,07912,69

1.130,11

1.486,94

815,36 808,47708,86

950,95

1.247,03

1.045,10904,76

/ Salário

Como preparar o canteiro de obras para receber a mão de obra feminina

Empreendedor, sugere-se a elaboração de uma cartilha com um Manual de etiqueta no

canteiro de obras.

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Além das vantagens apresentadas anteriormente, quanto ao uso da força de trabalho feminina nesse setor, algumas iniciativas vêm sendo desenvolvidas no sentido de aumentar a presença delas nos canteiros de obras, já que, apesar dos avanços da classe, o preconceito ainda é apontado como um fator que dificulta a contratação de mais mulheres.

Mulheres Construindo Autonomia na Construção Civil

Ações como o programa Mulheres Construindo Autonomia na Construção Civil, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), atuam diretamente na qualificação e na formação de mulheres para inserção no mercado da construção civil. Trata-se de uma ação conjunta entre a secretaria e governos estaduais e municipais, por meio das secretarias/coordenadorias da mulher, secre-tarias do trabalho ou correlatas, além de entidades da sociedade civil.

Mulheres na Construção

Outro exemplo é o projeto Mulheres na Construção, desenvolvido pela Superintendência do Desenvolvi-mento do Centro-Oeste (Sudeco), órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional, que proporciona qualificação profissional às beneficiárias dos programas sociais de transferência de renda.

Esse programa já qualificou 322 profissionais formadas pelo Instituto Federal Brasília (IFB), em um inves-timento de cerca de R$ 1,1 milhão. Além disso, a Secretaria de Estado da Mulher é uma das parceiras do projeto e oferece aulas de legislação, gênero, direitos da mulher, cultura patriarcal e condição feminina para as turmas de azulejista e pintoras (Setrab, 2013).

Para Olgamir Amancia Ferreira, secretária de Estado do Distrito Federal da Mulher, a etapa de qualificação foi cumprida e começa agora a segunda, que é a inserção no mercado, por meio de uma parceria com as constru-toras, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) e a Secretaria de Trabalho.

Programas de incentivo para a contratação de mulheres na construção civil

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Mão na Massa

Idealizado pela engenheira civil, Deise Gravina, o Projeto Mão na Massa é uma proposta pioneira para transformar a vida de mulheres em situação de vulnerabilidade social, de 18 a 45 anos, com escolaridade igual ou superior ao 5º ano do Ensino Fundamental. O projeto visa a formação profissional e inserção de pedreiras, carpinteiras, pintoras e eletricistas em canteiro de obras.

A qualificação profissional é gratuita e, além das aulas e do diploma, elas recebem EPIs e um kit de ferra-mentas para iniciar seu trabalho e obter renda após a qualificação.

Contratações públicas

Em Feira de Santana, a segunda maior cidade do estado da Bahia, uma lei municipal determina que 10% das vagas da construção civil sejam reservadas para mulheres. Exemplos como esse estão em estudo em diversos outros municípios.

Além desse, em 4 de julho de 2013, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 323/2012 foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal. A proposta altera a Lei de Licitações (8.666/93) para exigir que obras e serviços contratados pelo governo tenham um percentual mínimo de 12% de mão de obra feminina, servindo até como critério de desempate, em favor da empresa que tiver em seu quadro profissional pelo me-nos 30% de mulheres. O projeto de lei ainda está em análise pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

A pedreira Vanderléia Constatino Dantas é um caso de sucesso do projeto Mão na Massa, em que foi con-tratada pelo Consórcio Manguinhos, responsável pela obra de urbanização do Complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Vanderléia deixou de ser uma vendedora de lanches na Subprefeitura do Méier para trabalhar na construção civil, com um salário médio de R$ 900, e afirmou não sofrer preconceito, já que no canteiro de obras onde trabalhou, os homens ajudavam as mulheres sem discriminação. Assim como ela, nessa época que precede a Copa do Mundo da FIFA 2014, mais mulheres se destacaram nas obras para receber esse megaevento, como a reforma do Maracanã, que contou com a participação de 250 mulheres.

Veja o vídeo

Exemplos de mulheres que se destacam no setor da construção civil

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Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Roberto SimõesDiretor-Presidente: Luiz Barretto | Diretor-Técnico: Carlos Alberto dos SantosDiretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos | Fotos: banco de imagens

UAMSF – Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros UACIN – Unidade de Atendimento Coletivo – IndústriaConteúdo: Maria Cristina A. da SilvaSEBRAE SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

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Não só no estádio carioca elas aparecem em números expressivos. Nas obras de preparação para os jogos do Mundial no Mineirão, em Belo Horizonte, 10% do total de trabalhadores eram mulheres. Jéssica Roberta Fidelis de Souza, de 20 anos, supervisora de tubulação, faz parte desse time feminino. A ex-manicure con-siderou muito importante o fato de ter carteira assinada para aceitar o trabalho.

Outra que faz parte dessa equipe e vem de outra profissão é a apontadora Sirley do Carmo, que era em-pregada doméstica e afirma que “foi uma experiência nova e é bem melhor do que trabalhar em casa de família. O salário é bem melhor e tem oportunidade de crescer dentro da obra”. Com experiência de mais de quatro anos em obras, trabalhou como servente, feitora e armadora, ela conta ainda que quando começou a atuar em obras enfrentou a resistência dos homens, “mas acabamos ficando e mostrando que nós somos capacitadas a trabalhar na obra”.

A mineira Renata dos Santos, 33 anos, outra apontadora, trabalhava como auxiliar administrativa em For-taleza e ficou sabendo da oportunidade pelo irmão. “No começo estranhei, porque usava salto no trabalho. Agora é bota, tudo para mim é novo”. Agora, ela faz planos de seguir na área, estudando engenharia.

FONTE: UOL COPA DO MUNDO 2014.

Embora a presença de mulheres em setores predominantemente masculinos já seja realidade, a meta é ampliar a participação feminina.

ELEONORA MENICUCCI, MINISTRA DA SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (SPM), 2013