a vida no estado novo (ana mendonça)
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Escola Secundária Peniche
Ano Letivo 2011/2012
Disciplina: História
Professora: Ana Cristina Ferreira
Trabalho realizado por:
Ana Mendonça, nº3 12ºLH1
A VIDA NO ESTADO NOVO Testemunhos sobre a vida em Portugal e nas Colónias
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Índice
Introdução……………………………………………………………………………………………………………….3
A vida em Portugal…………………………………………………………………………………….…………….4
Testemunho de Rosinda Neves.………………………………………………………………………………..5
Avida nas Colónias………………………………………………………………………………………………….10
Testemunho de Augusto Neves……………………………………………………………….……………..11
Conclusão………………………………………………….………………………………………….……………….15
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Introdução No âmbito da disciplina de História foi-nos proposto elaborar um trabalho, cujo
tema teria de estar subordinado ao tema geral que seria “A Vida no Estado Novo”.
Para a elaboração do mesmo teríamos de procurar entrevistar pessoas que tivessem
vivido na época e depois disto retirar algumas conclusões acerca das
diferenças/semelhanças da vida destes tempos com a da atualidade e consolidar os
conteúdos estudados em aula, de modo a aprofundar o nosso conhecimento acerca
desta problemática.
A pesquisa de alguma informação que seja necessária será feita no manual da
disciplina, nos apontamentos da aula e ainda na internet. Para além disto tenho
também como objetivo aplicar o novo acordo ortográfico no trabalho.
Foi-me relativamente fácil encontrar pessoas para inquirir uma vez que moro
numa pequena aldeia cuja população já se encontra um pouco envelhecida e, por esse
motivo, terem vivido uma parte da sua vida sob influência deste regime. Acabei por
entrevistar a minha tia e o meu avô pelo facto de, apesar de serem irmãos, terem tido
experiências de vida diferentes.
O meu trabalho dividir-se-á em dois subtemas: a vida em Portugal, que relatará
diversas experiências da vida de Rosinda Neves e a vida nas colónias, onde Augusto
Neves conta um pouco das suas vivências na guerra colonial.
O Estado Novo foi um período da história portuguesa que ficou marcado
essencialmente pelo nacionalismo, conservadorismo, corporativismo e pela
autoridade, com auxílio da repressão a todos os que se opunham ao mesmo,
repudiando a democracia, o parlamentarismo e a liberdade. Assentava em princípios
inquestionáveis como Deus, Pátria e Família. Governado por Salazar (presidente do
conselho), Portugal fechou as suas fonteiras ao exterior e, apesar da grande crise que
se fez sentir, o nosso líder conseguiu equilibrar as contas do país. Este feito foi possível
graças ao sacrifício dos portugueses que pagavam pesados impostos e trabalhavam
duramente para conseguirem dinheiro para comer. Apesar de tudo, muitos
consideram que António de Oliveira Salazar fora um grande homem para o nosso país,
pois conseguiu tirá-lo da crise e ainda melhorar as suas infraestruturas.
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A vida em Portugal
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Testemunho
Rosinda Neves Data de Nascimento: 26 de Março de 1939
Localidade: Peniche
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Infância
Como era o dia-a-dia na sua infância?
Trabalhar…Assim que comecei a ter agilidade para fazer alguma
coisa, comecei a trabalhar. Havia sempre trabalho para toda a
gente. Trabalhava a tratar dos porcos, das galinhas, a ir buscar
águas às fontes porque não havia água em casa e a ir ao moleiro
buscar a farinha para fazer o pão pois não existiam padarias.
Frequentou a escola?
Andei sim, cada dia que ia à escola levava um ensaio de porrada porque ia às
escondidas do meu pai que não queria que eu lá fosse. Isto acontecia porque quando
veio a lei que nos obrigava a ir à escola, já não apanhava a minha idade.
Quais os jogos que faziam na altura e quais os
seus preferidos?
Jogava-se ao replano, ao quium, às cadeirinhas, ao
eixo rebaldeixo, à roda do lenço e às escondidas.
Os meus preferidos eram o eixo rebaldeixo e as
cadeirinhas.
Juventude
Como eram os relacionamentos entre as pessoas?
Eram bons, muito bons mesmo. Dei-me sempre
bem com toda a gente, divertíamo-nos com as
poucas coisas que tínhamos. Quando era pelo
carnaval era um prato… Os rapazes queriam
mascarrar-me com ferrugem, que era o pó de arroz
daquele tempo, e eu dava-lhes tantas sapatadas
que eles acabavam por fugir à minha frente.
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As raparigas tinham liberdade para sair? E os rapazes?
Nós tínhamos liberdade para sair sim, mas era para
trabalhar, para ir às festas não. Mas os rapazes sim, os
rapazes tinham, quer dizer, nem sempre… Eles também
tinham que trabalhar, só iam para as festas quando não
tinham nada para fazer, mas às raparigas era pior, quando
queríamos ir às festas, juntávamos um grupo e a mãe de
uma ir tomar conta de todas e, na próxima vez, mudava-
se a mãe. Quando chegava à hora em que ela entendia
que tínhamos de vir embora, eramos obrigadas a cumprir
sem reclamar.
Como era o seu vestuário? Vestiam o que queriam ou era muito conservador?
Vestíamos o que tínhamos, que é diferente. Como tínhamos muita variedade, ao
domingo vestíamos o fato mais bonito, que era o mesmo para todos domingos.
Durante a semana, para andarmos limpas e lavadas, lavávamos o fato à noite e tinha
de ficar a secar ao lume para no outro
dia termos a roupa lavada para vestir.
Em termos de roupa havia de tudo,
melhor e pior. Quando havia festa
fazíamos uns modelos jeitosos, mas
durante a semana era conforme
calhava e os nossos sapatos eram a sola
dos nossos pés.
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Trabalho
Com que idade começou a trabalhar?
A trabalhar à jorna comecei com 11 anos.
O que era o seu trabalho? Gostava do
que fazia?
Ceifava trigo, fazia pão, sachava feijão,
juntava batatas, estonava a parceirada
(que era ajudar a lavrar as terras), atava e fazia montanos e ainda apanhava e vendia
pinhas. Eu gostava muito do que fazia, sempre gostei de tudo o que fiz.
Qual era o seu salário?
A primeira vez que fui ceifar, que foi uma tarde,
ganhei 25 tostões.
Como era o seu dia-a-dia no trabalho?
Bom, porque eu sempre fiz para ser bom.
Trabalhávamos de sol a sol… Quando nascia a manhã
já estávamos a trabalhar e quando se fazia noite,
ainda estávamos no trabalho.
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Forte
Sabia o que se passava dentro da
fortaleza?
Mais ou menos, ouvíamos falar qualquer
coisa mas era tudo muito por alto.
Viu a entrada das tropas do 25 de Abril e a
libertação dos presos?
Vi sim, eles entraram lá dentro, abriram as
portas e soltaram todos os que lá estavam presos. As pessoas receberam-nos muito
bem, e festejaram muito.
Lembranças
Tem saudades destes tempos?
Sim, tenho muitas.
Se pudesse voltaria no tempo e voltaria para
vida que tinha?
Para a vida propriamente dita não sei se voltaria,
mas para as amizades e a sinceridade das pessoas
umas com as outras e pelo convívio que as
pessoas tinham, aí sim eu voltava!
(as fotos desta pág. foram retiradas da internet)
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A vida na Colónia
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Testemunho
Augusto Neves Data de Nascimento: 12 de Setembro de 1941
Localidade: Peniche
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Vida Militar
Como foi a sue entrada para o
exército?
Foi no batalhão caçador 5, de
Lisboa. Tive que ir ser
inspecionado e fiquei logo lá, não
tínhamos de fazer provas físicas
nem nada, passávamos à
inspeção e ficávamos logo
alistados.
Quanto tempo estavam alistados no exército?
Eu estive lá no exército 33 meses, ou seja, dois anos e nove meses, mas isso dependia
de cada um.
Ao fim de quanto tempo de estarem alistados é que iam para a guerra?
Isso é conforme, uns vão mais cedo que outros. Eu assim que jurei bandeira fui logo,
passado quatro meses de lá estar… Entrei em Fevereiro e parti em Julho.
Em que colónia é que esteve?
Estive em Moçambique, mais
propriamente em Mueda.
Esteve na frente ou na retaguarda
da guerra?
Sinceramente, eu nunca soube o
que era guerra. Chegámos a passar
onde os outros eram atacados,
víamos o sangue e víamos as valas,
mas a nossa companhia nunca
sofreu nada com a guerra, nunca tivemos um ataque contra nós.
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Que função desempenhava na colónia?
A minha primeira função foi auxiliar os
sargentos mas depois troquei com um colega
por causa de um sargento e fui para os
motores de puxar água para o quartel. Eu
estava lá não só para não haver avarias, para
o quartel estar sempre abastecido de água,
mas também para os motores não serem
atacados. Se o quartel estivesse a ser
atacado, não podia ficar sem água, se não,
ninguém sobrevivia.
Como era a vida na colónia?
Desde o momento que houvesse comer era
como aqui em Portugal, o problema é que
nem sempre havia bom comer. Mas talvez
não tenha sido pior para mim porque nunca
soube o que era guerra.
Quais eram as grandes diferenças e
semelhanças com a vida em Portugal?
As diferenças são que havia mais calor e de
vez em quando vinham aquelas chuvas que
deixavam tudo alagado, inundavam as ruas
todas. De resto era quase a mesma coisa, eu
trabalhei sempre lá numa fazenda, pois
tínhamos uma fazenda para arranjar hortaliça
para o quartel. Eu e os meus colegas
trabalhávamos sempre na fazenda e nos
motores da água.
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Onde é gostava mais de estar, em Portugal ou na colónia?
Naquela altura eu gostava de estar lá na colónia, mas estava sempre a contar o tempo,
desejando que ele passasse mais rápido para vir para Portugal, aqui para junto da
minha família.
Em que altura regressou ao nosso país? Foi um
dos “Retornados”?
Não, não… Eu regressei no dia 24 de Dezembro
de 1964, foi nesse dia que cheguei a Lisboa. Vim
passar o Natal com a minha família e depois já
não voltei para África.
Ainda mantém contacto com os seus velhos companheiros da guerra?
Sim, todos os anos temos um almoço da confraternização. Só este ano é que não
fizeram, fiquei muito triste porque passamos sempre um belo dia juntos. Serve para
rever os velhos amigos que não vemos no resto do ano e para relembrar coisas que
aconteceram enquanto lá estávamos.
Gostava de voltar ao local onde esteve a trabalhar na
colónia?
Gostava muito de lá voltar sim, de ir lá ver como é que
aquilo estava agora. Mas não tenho saudades daquilo,
não, saudades não tenho.
Qual a melhor e a pior memória que tem daqueles
tempos?
De pior não tenho nada a dizer, mas de melhor ainda
tenho umas quantas lembranças… Talvez um dos mais
engraçados foi aquele onde havia uma residencial dos
sargentos e por trás estava uma cobra bem grande, que já estava cheia de musgo e
que por isso eles pensavam que era algum tronco caído daquela mata. Quando eles se
sentaram, a cobra começou a sentir o calor deles e começou a mexer-se. Assim que
eles virem que era uma cobra ao invés de um tronco mandaram um salto e um grito
tão grande com o susto, que ainda hoje estou a ver as caras deles.
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Conclusão
Com este trabalho confirmei que apesar das experiências e da vida ter sido
relativamente diferente, que ambos os inquiridos passaram por dificuldades durante a
sua vida. Naquela época a vida não era fácil, as pessoas tinham de trabalhar de sol a
sol para poderem arranjar dinheiro para sobreviver e, como se não bastasse, ainda
eram censuradas se dissessem algo contra o regime. Apesar de tudo isto, a vida
durante o Estado Novo também tinha coisas boas! Havia amizades verdadeiras e não
por interesse como hoje em dia e as pessoas eram realmente felizes, pois por muito
trabalho que tivessem, tinham sempre tempo para a sua família e para se ajudarem
uns aos outros.
A vida hoje em dia é totalmente diferente, pois nos tempos que decorrem os
jovens não sabem dar valor a tudo o que têm, porque nunca passaram por
dificuldades, como os nossos pais ou avós passaram nesta época. Na verdade, ninguém
os pode criticar por isso porque quando nasceram, o país atravessava um período de
prosperidade e não tinham de se esforçar e ir trabalhar para conseguir o que queriam.
Muitas mais coisas mudaram desde a altura em que Portugal foi governado por
Salazar. Desde a importância dada à educação e à formação dos jovens, ao trabalho,
passando pela melhoria das infraestruturas, tudo se alterou nestes últimos 40 anos. A
melhoria das condições de vida da população, a liberdade que existe hoje em dia e o
facílimo acesso à informação (que melhorou imenso devido ao incrível avanço das
novas tecnologias), tudo contribuiu para a mudança da mentalidade das pessoas.
A realização deste trabalho teve um saldo bastante positivo devido ao facto de
ter conseguido atingir o fim proposto, que seria avaliar as diferenças na vida da
população durante o Estado Novo e os nossos dias e, ao realizar estes inquéritos,
consegui retirar conclusões bastante interessantes, de entre elas, encontra-se uma
que estudámos na aula, em que nas alturas de crise, a população começa a apelar a
um regime forte e, com a crise que atravessa o nosso país atualmente, ouvi vozes que
diziam “Era um Salazar que Portugal precisava agora para sair desta crise”.