abandono: a doenÇa da terceira idade gilmar delecrode.pdf · ... quando vier a envelhecer, ... a...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
ABANDONO: A DOENÇA DA TERCEIRA IDADE
Luiz Gilmar Delecrode
Orientador:
Prof. Mestre Robson Materko
Rio de JaneiroJaneiro – 2002
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
ABANDONO: A DOENÇA DA TERCEIRA IDADE
Luiz Gilmar Delecrode
Trabalho Monográfico apresentado
como requisito parcial para obtenção
do Grau de Especialista em
Reengenharia e Gestão de Recursos
Humanos.
Rio de JaneiroJaneiro – 2002
3
Agradeço a todos aqueles cuja
colaboração recebida foi de grande
importância pra a elaboração deste
trabalho monográfico.
4
Dedico esta pesquisa a todo Pai
e Mãe que tem como sonho
envelhecer ao lado dos filhos,
parentes e amigos, mas que está
sendo abandonado em nome da
tranqüilidade.
5
“Ouve Teu Pai que te gerou, enão desprezes Tua Mãe, quandovier a envelhecer, pois a glóriados filhos são seus pais”.
Salomão
6
SUMÁRIO
Página
RESUMO ....................................................................................................... 06
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 07
1. O IDOSO É REJEITADO PELA SUA FAMÍLIA .......................................... 08
2. VELHICE E BIOLOGIA ............................................................................... 10
3. O IDOSO NO BRASIL ................................................................................ 11
4. RESPEITAR OS IDOSOS É CONCEITO DE CIDADANIA ........................ 13
5. A VELHICE NA SOCIEDADE DE HOJE .................................................... 15
6. VELHICE E VIDA COTIDIANA ................................................................... 17
7. ISOLAÇÃO ................................................................................................. 19
8. SEUS DIREITOS ....................................................................................... 21
CONCLUSÃO ................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 24
6
RESUMO
Todo mundo sabe: a condição das pessoas idosas é hoje escandalosa.
Chamarei de velhos e idosos aqueles que a sociedade considera como tais. Os
que envelhecem reivindicam um direito novo, não reconhecido ainda pelas leis
sociais do Brasil: o direito de viver, trabalhar, amar e ser feliz enquanto se puder.
Eis o mundo novo que o espera, espere um pouco mais, prepare-se para desfrutar
a nova liberdade que o espera: a liberdade para envelhecer.
Quando não podem mais sustentar-se física e economicamente, o único
recurso dos velhos é o asilo, este é absolutamente desumano: nada mais que um
lugar para esperar a morte. Criar grupos de terceira idade, com uma programação
variada e inseri-los na sociedade é um desafio grandioso.
Este trabalho monográfico teve como instrumento utilizado, as pesquisas
teóricas, a partir de uma documentação bibliográfica existente, abordando o tema
em questão.
O aumento da expectativa de vida traz consigo graves problemas para a
sociedade, que não está preparada para enfrentar problemas como o abandono
familiar, a mendicância e várias doenças ditas próprias da idade. Há pacientes que
são trazidos pelos familiares, mas que nunca retornam, só vieram traze-los. Ao fim
de cada ano, surgem campanhas em favor das crianças, com colaboração de
artistas e empresários. Por que eles não ajudam também os idosos? Talvez
porque o idoso não dê IBOPE, não oferece retorno.
Pode-se resumir esse destino em algumas palavras: abandono,
segregação, decadência, demência e morte.
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho não deverá ser considerado um estudo acabado. A terceira
idade aparece imperando, as imagens de asilos. Daí surgem as casas de
repousos para aqueles que foram deixados a margem pela sociedade e pelas
famílias. É preciso que a sociedade olhe mais para os idosos, para que eles
tenham uma velhice com dignidade.
Assim, como se vê, as pessoas idosas de hoje, de modo estranho, deram
origem a este trabalho monográfico, não há dúvida de que você já conhece todos
eles: veterano, maduro, idoso, velho, pessoa de idade e tantos outros.
A modernidade favoreceu a construção de minúsculos apartamentos,
colaborando para o afastamento do idoso. Não faz muito tempo dizia-se que o
Brasil era um “País Jovem”, a maioria de sua população tinha menos de 30 anos
de idade. Nos últimos anos vem ocorrendo uma rápida mudança, o número de
idosos (pessoas com mais de 65 anos) vem crescendo rapidamente. A terceira
idade aparece desesperançada, imperando, as imagens de asilos. Com este ponto
de vista, muitos idosos crêem não serem mais úteis à sociedade.
E que seja um lembrete de que atingir 65 anos é um privilégio regado a
muitos, e que ainda há muita vida a ser vivida depois dos 65.
8
1. O IDOSO É REJEITADO PELA SUA FAMÍLIA
Vou falar a partir de agora sobre a velhice, tendo como objetivo, mostrar
o que é hoje na nossa sociedade o destino daqueles homens e mulheres que
muito contribuíram para a sociedade e que devido a sua idade avançada tem o
seu lugar e papel isolados em asilos, pelos próprios familiares que os lançam à
própria sorte. Com tamanho desprezo, essas pessoas acabam perdendo o sonho
de uma velhice tranqüila.
Relatos dos tempos de juventude, saudosismo, mágoa dos filhos por
permitirem que estejam ali, lembranças dos tempos em que tinham casas,
maridos, esposas, enfim que eram úteis para a sociedade e para a família. As
lágrimas caem sobre a face enrugada pelo tempo, mãos que tremem ao secá-las,
ao dizer que as famílias raramente vem vê-los, eles ainda se acham importantes,
e são. “Homem algum tendo vivido muito tempo, pode escapar à velhice, é ela um
fenômeno irreversível”.(Beauvior, 1970, p.40)
Suas experiências e relatos de vida nos impulsionam e ajudam a vencer
obstáculos. A sabedoria e humildade facilitam o dia-a-dia de quem convive com o
idoso. A amizade mantida no asilo e as visitas ajudam a superar a solidão e a
ausência dos familiares. Muitos falam do tempo em que moravam com suas
famílias, seu olhar se enche de lágrimas ao falar dos filhos, que gostaria de rever.
Tem sido um verdadeiro tormento para muita gente, a chegada da terceira idade
que passa a ser vista como um estorvo e, por isso, sofre com o abandono e o
desprezo de parentes e amigos.
Muitas sociedades respeitam as pessoas de idade enquanto estas se
mantêm lúcidas e distanciam-se delas quando se tornam caducas. Acreditam que
serão recompensados os que tratarem bem ao pais e derem ouvido a seus
9
conselhos. Envelhecer é transmitir um grande exemplo à posteridade. “... os
velhos se conformam facilmente com a morte.” (Ibid, p. 59)
O destino das pessoas idosas depende em boa parte de suas
capacidades e das riquezas que lhe trouxeram, a velhice pode ser ridicularizada
em particular e receber demonstrações públicas de atenção e respeito. Os velhos
são honrados verbalmente e, na prática deixados ao Deus dará. O destino dos
velhos é decidido pela sociedade e de acordo com as possibilidades e os
interesses da mesma. Este estudo é meramente para demonstrar até que ponto a
condição do velho depende do contexto social, sobre ele exerce um destino
biológico tornando-o improdutivo. “Os cabelos brancos são uma coroa de honra...”
(Id)
10
2. VELHICE E BIOLOGIA
Devemos dar boa acolhida à velhice e estimá-la; traz consigo
abundantes doçuras, quando dela sabemos tirar proveito. A velhice se aproxima
muitas vezes da loucura e pode suceder que nela se conciliem as duas imagens
contraditórias, o veterano sábio e o velho louco. Nesta idade é difícil saber se as
paixões que deixamos de sentir se acham extintas ou domadas.
O que mais triste me parece nesta idade, é verificar que a esperança
está perdida, a esperança, a mais doce das paixões e a que mais contribui para
nos fazer viver de maneira agradável. É um sentimento de que nos podemos
orgulhar mesmo em avançada idade, viver é o maior prazer que resta aos velhos;
e nada os pode persuadir tanto de sua própria vida. É uma conseqüência viva,
animada, pela qual recordamos por vezes ainda jovens. “Quando falam, já não
encontram as palavras.” (Id)
No entanto descendentes desnaturados trazem seus velhos pais e os
despojam até de seu ultimo traje, antes de os abandonar em asilos. Conhecem
assim a desgraça de viver como estrangeiro em seu próprio país.
A gerontologia, que é o estudo do processo de envelhecimento, é uma
ciência ainda pouco desenvolvida entre nós. Estamos criando na juventude um
mundo que, nos rejeitara no tempo da velhice; e, desta forma, parece absurdo se
trabalhar tanto por um futuro no qual não existiria um espaço social para aqueles
que o construíram. “O homem brasileiro nem sempre tem sabido envelhecer.”
(Salgado, 1980, p.101)
Etarismo é o preconceito de idade contra a velhice, é uma espécie de
racismo.
11
3. O IDOSO NO BRASIL
No Brasil ainda preponderam as instituições fechadas, acolhem e
prestam uma assistência a nível das necessidades mais direta da subsistência,
com apoio das instituições religiosas que foram as responsáveis pela sua
implantação. A expansão rápida nem sempre adequada se deve ao grande
número de idosos abandonados sem condições de por si só conservar a sua
força. Nem sempre essas instituições estão preparadas para atender uma nova
clientela, e quase sempre faltam condições de atendê-la em suas necessidades.
“A velhice não é triste porque se acabam nossas alegrias, e sim porque terminam
as nossas esperanças.” (Filizzola, 1972, p.70)
Triste coisa é envelhecer, mas é o único meio de se viver por muito
tempo. Acho interessante lembrar, que um ofício do Ex. Presidente do antigo INPS
ao autor deste livro dizendo que o INPS não pode oferecer Assistência Geriátrica
a seus idosos, e que a assistência específica ao velho é forçoso reconhecer, deve
aguardar melhores dias; e os velhos do Brasil terão tempo para esperar esses
indefinidos “melhores dias”.
Se as crianças são atendidas em clínica pediátrica, por que não os
velhos em clínicas geriátricas. O medo de envelhecer e de perder forças, beleza,
vitalidade, dentes, memória, prestígio e poder compara a velhice a um triste
outono. Pois a umidade ainda não chegou e o calor já se foi ou perdeu sua
energia. Todos querem uma vida longa, mas ninguém quer envelhecer. “e a
sociedade, que recebe o benefício desse trabalho, há de abandona-lo a todos os
horrores da miséria.” (Id)
Tem tanto pavor da velhice que se enganam ao serem chamados
jovens aos 60 ou 80 anos. No fundo o que os apavora não é o cabelo branco, nem
12
a pele enrugada, nem a impotência sexual, aquilo que realmente amedronta a
todos é a idéia de perder, ninguém aceita perder, este sim é olhado com desprezo,
é por isso que a velhice apavora, porque a velhice é a própria imagem da derrota
e os derrotados são abandonados.
Aliás, que é ser velho? É ter vivido um apreciável número de anos. Ser
velho é não mais possuir beleza, nem encanto. O velho sem família é uma
realidade muito mais freqüente do que se pensa. O que poderá fazer por seu
velho pai ou mãe quando inválidos e doentes, Poe melhor que seja esse filho ou
essa filha, não poderá fazer milagres por seu velho pai ou mãe, senão dedicar-
lhes o que possui: - Amor e carinho - e nada mais.
13
4. RESPEITAR OS IDOSOS É CONCEITO DE CIDADANIA
Um movimento a favor da velhice seria uma grande batalha ligada a
própria civilização. O amparo à velhice é fundamental e tão importante quanto o
amparo a infância. Respondeu o mestre Antenor Nascentes: “Ser velho é ter vivido
a eficiência física e mental por efeito da idade.” (Id)
Todas as gerações tem igual direito à vida, ao trabalho e ao bem estar,
e os velhos, da mesma forma que os jovens. Algum dia os direitos dos que
envelhecem serão aceitos e reconhecidos. Há uma necessidade de ocupação
para o idoso numa obra social, para valorizar a pessoa humana dando-lhe a
sensação de continuar sendo útil. Infelizmente o problema vem sendo encarado
estritamente dentro da realidade que existe hoje, aceitando a velhice como um
processo normal da própria vida humana.
Os acidentes, relativamente freqüentes entre os velhos, são resultados
de certos comportamentos: indiferença, abandono, má vontade. Os velhos
também são vítimas do trânsito, porque se deslocam com dificuldade e enxergam
mal, muitos deles não saem de casa. Apesar da longevidade do homem ser
superior à dos outros mamíferos, a velhice desemboca sempre na morte. É pior
ainda quando se trata de um parente afastado. Deixam-nos morrer lentamente
num canto, de frio e de fome, não como homens, mas como bichos. Entretanto, a
maior parte das sociedades não deixa os velhos morrerem como bichos.
Conta Paul-Emile Victor, que um aleijado, incapaz de entrar em seu
caiaque, pedia que o jogassem no mar, já que a morte por imersão seria o
caminho mais curto para passar para o outro mundo. Seus filhos obedeceram,
mas as roupas fizeram com que flutuasse. Uma das filhas, que o amava muito,
disse-lhe, com muita ternura: “Pai, mergulha a cabeça, o caminho será mais
14
curto.” A razão disso é sem dúvida o valor que se dá à seu velho pai, sendo muito
raro o amor recíproco que une filhos e pais. “Acabam o próprio corpo.”(Beauvoir,
1990, p.87)
15
5. A VELHICE NA SOCIEDADE DE HOJE
Quando os velhos perdem sua força e suas capacidades, retiram-se da
vida social; alguns conservam funções religiosas, abençoada por Deus, a velhice
exige obediência e respeito, e a longevidade representa aqui uma vitória contra a
morte; aliás, vitória precária. Uma vez atingido esse tempo, a vida se torna pior
que a morte. Aquele que um dia foi belo ao passar da juventude, hoje faz pena até
a filhos e amigos, uma vez, chegada a dolorosa velhice que torna o homem feio e
inútil, pudera chegar à velhice, sem doença e sem tristeza. Há, velhice que tudo
altera, e que passo a passo, sem ruído, avança. “Tu te levantarás diante dos
cabelos brancos e honrarás a pessoa do velho”. (Ibid, p. 115)
Ao envelhecer, o mundo encolhe, e os próprios homens ficam mirrados.
Apesar das doenças que lhes provocam, a falta de atividade, os impede de
conseguir o que é necessário à sua subsistência. O idoso passa a ser desprezado
e repudiado pelos filhos, rejeitado do lar de cada um deles, mandado da casa de
um para a do outro. Com renda que muitas vezes não lhe é paga. A tentação é
grande de apressar o fim dos velhos pais, que custam caro demais, e que quase
sempre eles são abandonados em asilos. Hoje os adultos interessam-se pelo
velho de outra maneira: é um objeto de exploração, multiplicam-se clínicas, casas
de repouso, residências onde se faz as pessoas idosas que dispõe de meios,
pagarem o mais caro possível, por conforto e por cuidados, que freqüentemente
deixam muito a desejar. “Eu jamais deixei de amar vosso filho”. (Ibid, p. 220)
Os idosos pobres que sobrevivem, porque se alimentam mal e não
dispõe de meios para se cuidarem, o que os obriga a apelar para os serviços
sociais, que freqüentemente os submetem a entrevistas humilhantes.
Envergonhado de sua miséria, eles se trancam em casa e evitam qualquer contato
social e acabam por ficar entrevados. O problema da habitação está ligado ao da
16
solidão e o sentimento de solidão aumenta com a idade. Uma pesquisa feita sobre
a questão apresentou resultados bastante contraditórios e muitas vezes
discutíveis. 10% dos homens interrogados e 13% da mulheres se disseram “muito
sós”; 20% dos homens e 22% das mulheres “as vezes sós”; 57% dos sujeitos
responderam “muito sós”, entre os que não viviam com o cônjuge e 16% entre os
que viviam em dupla.
17
6. A VELHICE E A VIDA COTIDIANA
Uma questão muito discutida hoje, é saber se é bom para as pessoas
idosas conviver unicamente com pessoas de sua faixa etária. E que 74% dos
velhos rejeitam a idéia de entrar num asilo; 15% aceitam, porque são inválidos. “É
demais para morrer, e não basta para viver”. (Ibid, p. 299). Os asilos, são
freqüentemente antigos hospitais, prisões, casas antigas, que não são de modo
algum adequados à nova realidade. Comportam um grande número de escadas e
não há elevador, o que faz com que os velhos não possam sair do seu andar. Os
doentes permanecem deitados durante todo o dia. O refeitório é geralmente
mobiliado com grandes mesas e bancos; esse refeitório funciona como sala de
estar; quando existe, é muito pequena e mal arrumada. O cardápio é o mesmo
para todos; as instalações sanitárias são defeituosas; o abandono médico é
escandaloso.
Nessas condições, compreende-se que, a entrada num asilo seja um
drama para o velho. O choque é violento entre as mulheres, ainda mais
enraizadas que os homens em seu lar. Em geral, as visitas são autorizadas todos
os dias, e a família vem vê-lo de tempos em tempos e em certos casos, nunca há
visitas. “Agora vou me dar conta da minha idade”. (Ibid, p. 327). O que parece
monstruoso é o abandono moral no qual deixam essas pessoas. Esta realidade
está no centro da vida cotidiana; já nos habituamos, e ela não nos choca mais.
O simples fato de dispor de um pouco de espaço, poderia,
aparentemente, transformar essas vidas. O trabalho enche um vazio, quando você
está velho. É portanto, muito importante para as pessoas idosas encontrar
ocupações. Enfraquecido, empobrecido, exilado no seu tempo, o velho
permanece, no entanto, o homem que era a sociedade de hoje, como vimos, só
concede lazeres aos velhos tirando-lhes os meios materiais para aproveita-los. O
18
público não tem consciência de mal que fazemos ao velhos quando os privamos
dessas pequenas satisfações de que é feita a vida.
19
7. ISOLAÇÃO
Ora, justamente, a velhice logo passou a ser vista como uma imagem
piedosa. Antes de mais nada, o idoso representa uma exceção. Com isso chega
ao fim uma época em que os idosos desprezam os olhares do mundo. A velhice, é
uma idade na qual, por felicidade, o cansaço das células nos livra de muitas
atividades bem aborrecidas. Hoje em dia é precisamente a velhice que se
pretende encher de novos desejos. Mas, aí é que está, temos condições de formar
profissionais para cuidados médicos, mas não existe experiência universitária para
o amor.
Antigamente, permitíamos idosos o privilégio de zombar de seus
próprios defeitos, de suas falhas de memória, não devemos zombar das pessoas
idosas, porque o que acontece com elas não é por culpa delas próprias. Para as
pessoas idosas, o tempo não é mais um caminho que se percorre. No cansaço da
idade avançada, não resta outro recurso à pessoa idosa senão ficar sentada e
refletir sobre as coisas que lhe aconteceram. Para elas, a verdadeira questão já
não é mais “quem sou”, mas sim “o que estou fazendo aqui”. É uma pena, ela só
se revela com o tempo. E bem que poderíamos criar novos créditos para melhorar
a qualidade dos cuidados de que os velhos foram privados. A velhice é o momento
de se tratar de convencer disso, mas os idosos não alimentam sonhos a respeito.
A maioria dos homens, quando chega a idade da velhice, faz de si mesmo uma
imagem, e não uma idéia. “Em suma, eu envelheci. Era de se esperar que isso me
acontecesse também”. (Combaz, 1990, p.54).
No fundo, a maioria das pessoas tem sabedoria suficiente para saber
que a velhice não é uma vergonha, o que não impede ninguém de temer o
aparecimento dos primeiros fios de cabelos brancos na cabeça, a ponto de fazer
de tudo para escondê-los. O seu olhar revela uma solidão por meio de uma cena
20
muito simples da vida cotidiana: um menino encontra um homem idoso sentado no
banco do jardim. Aproxima-se e olha para o velho, apanha alguma coisa e estende
na direção do homem. O velho, por sua vez, estende a mão para o menino. A mãe
intervém, pede desculpas e puxa a criança, que volta para o outro lado e procura
resistir. Depois de arrastar o filho por alguns metros, a mãe para no meio da
calçada, sacode o menino e o obriga a olhar para a frente.
21
8. SEUS DIREITOS
Os filhos, vivem exigindo dos pais já idosos que se comportem como
pessoas jovens. Temos o direito de impedir que os velhos se comportem como
velhos? As pessoas idosas necessitam de seis necessidades básicas
fundamentais que são: renda financeira; moradia adequada; saúde; ocupação;
companhia e afeição. Não faz muito tempo dizia-se que o Brasil era um “País
Jovem”, a maioria de sua população tinha menos de trinta anos de idade. Nos
últimos anos vem ocorrendo uma rápida mudança, o número de idosos (pessoas
com mais de 65 anos) vem crescendo rapidamente.
Tabela I - Resultados Censitários
GRUPOS ETÁRIOS
PROJEÇÃO DE Nº DE IDOSOS P/OS PRÓXIMOS ANOS
1990 2000 2025ESPECIFICAÇÕES
Milhões % Milhões % Milhões %
IDADE
IDOSOS 65 ANOS E MAIS 7 4,7 10 5,4 23 9,3
Fonte – IBGE – 1980 – Ferreira, 1990
Talvez muitos não saibam mas o Congresso Nacional proclamou a
Declaração Brasileira dos Direitos do Velho. Visando a faculdade de gozar, em
seu benefício e no da Sociedade, os direitos e liberdades aqui anunciados, e
conclama todos os homens e mulheres do Brasil para que façam a maior
divulgação possível desta declaração. Eis aqui alguns capítulos:
CAPÍTULO II – Todo velho deve ser reconhecido, em qualquer lugar e
situação, como pessoa humana, e, como tal, detentor dos direitos a ela inerentes,
não podendo perde-los, nem pela ancianidade, nem pela doença, nem pela
invalidez.
22
CAPÍTULO VIII – O estado e as Entidades Sociais diligenciarão para
que todo velho possa desfrutar dos seguintes fatores de conforto gerôntico e bem
estar humano: moradia, ambiente, ocupação, renda, companhia, assistência, sol e
afeição.
CAPÍTULO X – A Sociedade e o Estado deverão valorizar o Patrimônio
Cultural transmitido pelas gerações mais velhas às mais novas, não sendo
permissível, em nenhuma forma, hostilizar e depreciar as primeiras diante das
segundas, competindo-lhes promover as condições necessárias para que todos os
habitantes do País possam alcançar a provenciude velhice com saúde, padrão de
glória para a comunidade, honra maior para a raça humana e meta suprema do
homem.
23
CONCLUSÃO
Pode-se definir o velho como um indivíduo que tem uma longa vida por
trás de si, e diante de si uma expectativa de sobrevida muito limitada. A velhice
não é uma conclusão necessária da existência humana. A velhice num certo
tempo acarreta uma redução das atividades do indivíduo. Ao envelhecer são
condenados à miséria, a moradias desconfortáveis e à solidão. A maioria desses
solitários esta nessa situação porque nunca tiveram filhos, e outros por causa da
ingratidão de seus filhos. A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida
em que este rende, aí está o crime de nossa sociedade, quando compreendemos
o que é a condição dos velhos.
O abandono familiar é um dos problemas que tem se tornado cada vez
mais grave nos dias atuais, como resultado da falta de espaço nas casas e
apartamentos e das dificuldades financeiras. A verdade é que os idosos vem
sendo isolados em asilos, pelas famílias. Por isso, ver idosos mendigando e
dormindo na chuva ou no sereno já não é mais novidade.
Estamos certos de que, conhecendo o presente trabalho, os leitores
encontrarão aqui importantes informações que irão contribuir para que melhor
equacionem essa nova questão social. Crescer, amadurecer, envelhecer, morrer:
a passagem do tempo é uma fatalidade.
24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1990.
____________________. A velhice, A realidade Incômoda. Rio de Janeiro:
Pensamentos, 1970.
COMBAZ, Christian. O elogio da idade. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1990.
FERREIRA, Odson Costa. O idoso no Brasil: Novas Propostas. Rio de janeiro:
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, 1990.
FILIZZOLA, Mario. A velhice no Brasil. Rio de janeiro: CBAG, 1972.
SALGADO, Marcelo Antônio. Velhice, uma nova questão social. São Paulo:
SESC-CETI, 1980.