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ABORDAGEM HISTÓRICA DAS FORMAÇÕES
EM SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO NO
BRASIL
Fernando Jose Fernandes Goncalves (IFSC )
Angela Regina Poletto (IFSC )
Francisco Soares Masculo (UFPB )
O objetivo do artigo é resgatar os fatos históricos e as reflexões da educação
sobre a Saúde e Segurança no Trabalho (SST), os subsídios para a
compreensão das necessidades e das possibilidades para o desenvolvimento
da cultura da prevenção dos riscos profissionais nos processos educativos
escolares. Os procedimentos metodológicos utilizados foram a análise
documental e análise textual discursiva. Os dados foram obtidos a partir da
análise documental de materiais didáticos de experiências formativas e de
publicações técnicas em SST. As formações de profissionais para SST iniciam
em 1974 e o projeto-piloto no ensino fundamental ocorrem dois anos depois,
no estado do Rio Grande do Sul. Na década de 1980, esse projeto-piloto
abrange mais estados. O estado do Rio de Janeiro, já em meados da década
de 1990, também propõe um outro projeto educativo para tratar da temática
da segurança e saúde dos estudantes.
Palavras-chaves: Saúde e Segurança no Trabalho, história, educação
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Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
As experiências formativas em segurança e saúde do trabalho (SST) estão presentes na
história da educação pública brasileira. Este artigo apresenta alguns desses processos
experimentais no âmbito da educação básica e profissional. As abordagens focam na
formação de profissionais para atuarem na área de SST, e nas formações docente e discente
para a integração da prevenção dos riscos profissionais nos currículos escolares e,
consequentemente, na cultura cidadã laboral.
Este estudo sobre a história das formações em SST está em consonância com a importância do
desenvolvimento da cidadania promovido pela educação, por meio do movimento de
conhecimentos sobre temáticas fulcrais para a conquista de uma vida digna para todos os
brasileiros, como por exemplo, os fatores que causam os acidentes e as doenças profissionais.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para educação no país estabelece como metas educativas a
formação para a cidadania e a preparação para o trabalho (Brasil, 1996). Porém, a explicitação
obrigatória para os processos escolares desenvolverem a prevenção dos riscos profissionais
está ausente. Apesar da inexistência da obrigatoriedade legislativa no sistema educativo,
iniciou-se muitas tentativas para abordagem dessa temática na educação formal nos últimos
40 anos.
O resgate temporal, dessas iniciativas destacam o período ditatorial e o retorno do estado
democrático, período conturbado e doloroso vivido pela maioria dos brasileiros. Nos tempos
de turbulência política, alguns gestores, educadores e profissionais da área da educação e da
SST transpuseram os obstáculos autoritários para tratarem de forma mais profícua a educação
para a prevenção dos riscos profissionais.
O objetivo do artigo é resgatar os fatos históricos e as reflexões da educação sobre a SST, os
subsídios para a compreensão das necessidades e das possibilidades para o desenvolvimento
da cultura da prevenção dos riscos profissionais nos processos educativos escolares.
Os procedimentos metodológicos utilizados no estudo foram a análise documental e análise
textual discursiva. Nessa comunicação os dados foram obtidos a partir da análise documental
de materiais didáticos de experiências formativas e de publicações técnicas em SST.
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2 . Contexto histórico de formações em SST
A industrialização no Brasil intensificou-se a partir das décadas de 1950 e 1960, e fez emergir
um problema para o setor produtivo, a mão-de-obra, ou a formação inexistente ou ineficiente
dos recursos humanos disponíveis para atender à demanda das empresas. A formação escolar
fragilizada e os poucos conhecimentos sobre a SST dos trabalhadores dessa época foram dois
dos fatores que contribuíram fortemente para os quantitativos crescentes de acidentes e
doenças profissionais no país. Essa realidade intensificou-se na década de 1970 com os
índices de acidentes notificados, que atingiram valores preocupantes. Por pressões
internacionais, principalmente da OIT, ações governamentais passaram a ser desenvolvidas
para a prevenção dos riscos profissionais, entre elas a formação acadêmica.
A primeira ação efetiva ocorreu em 1966, com a criação da FUNDACENTRO, um centro de
pesquisas e estudos para a SST. A entidade auxiliou na introdução de currículos profissionais
com o foco na prevenção e, ainda, desenvolveu e continua produzindo material didático,
publicações, cursos e outras ações no campo formativo para SST.
Ainda em 1966, o primeiro periódico específico para a área de prevenção de acidentes e
doenças profissionais, a revista Saúde Ocupacional e Segurança SOS, foi publicado no país
(SOS, 1966). No editorial da revista, volume IV, de janeiro e fevereiro de 1969, foram
encontradas algumas informações que representam o discurso desenvolvido pela imprensa
técnica brasileira referente à SST (SIMONSEN, 1969).
No editorial “Educação Antes de Tudo”, o autor enaltece a educação como elemento
fundamental para a prevenção de acidentes (SIMONSEN, 1969). Entretanto, o texto remete a
um discurso militarizado sobre o acidente de trabalho, característica devido ao Brasil viver
uma ditadura militar, extremamente autoritária e com rígido controle na censura de
publicações.
O editorial invoca “A luta contra o subdesenvolvimento [...]” para tornar o Brasil um país
industrializado. E faz um paralelo com países já industrializados, no sentido de que esse
processo considerado natural encontrasse nesses exemplos o “desenvolvimento normal”. Para
o autor, os países industrializados apresentavam uma evolução da industrialização de forma
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linear e exemplar, enquanto no Brasil houve um salto sem precedentes nas atividades
relacionadas à industrialização (SIMONSEN, 1969).
O editorial afirma que “Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes – Conselho
Regional do Estado de São Paulo declarou guerra sem quartel ao acidente de trabalho”. Mais
de uma vez o termo “guerra” é utilizado no texto e indica que o preparo psicológico de
profissionais de saúde e segurança ocupacionais representa “na realidade a infraestrutura e a
retaguarda da luta”. O texto expõe a faceta do sistema econômico sobre os acidentes do
trabalho por meio do “convencimento de certo número de cúpulas das empresas de que a
prevenção de acidentes é um investimento de alta rentabilidade” (SIMONSEN, 1969).
O autor destaca que na formação de profissionais, a aplicação de métodos modernos para o
treinamento sobre a prevenção de acidentes são ferramentas transformadoras da educação.
Embora essas ferramentas de confronto objetivem preparar “as tropas de combate ao acidente
de trabalho dentro dos próprios núcleos de resistências”, a ponto de “A eficiência desses
elementos já se fizera sentir pelo recuo precipitado do inimigo”, não é o que se verifica, pois o
número de acidentes não recuou como previsto; ao contrário, intensificou-se a partir da
década de 1970 (SIMONSEN, 1969).
A luz do editorial está na afirmação que o encerra: “educar os nossos trabalhadores para a
mentalidade de pensar, conhecer e praticar a segurança do trabalho, antes de tudo”. Considera
a necessidade do cidadão produtivo exercitar a reflexão, a identificação e a práxis sobre os
conhecimentos da SST (SIMONSEN, 1969).
2.1. O início da formação de profissionais para SST no Brasil em 1974
Os primeiros movimentos para formações com o foco na segurança e na saúde do trabalho
iniciaram-se com a criação da Fundacentro. Entretanto, a efetivação da formação de
profissionais técnicos para prevenção laboral ocorreu apenas em 1974, com o II Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND), instituído pela Lei nº 6.151 (BRASIL, 1974). A
necessidade era de ações relevantes para reduzir o expressivo quantitativo de acidentes e
doenças do trabalho. Então, as medidas foram formar profissionais em segurança, higiene e
medicina do trabalho, com o objetivo de contribuir para a redução dos altos índices de
acidentes profissionais.
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Tabela 1 – Formação de profissionais em SST – Período 1974/1978
Especialistas em SST Número de Formados
1974 1975 1976 1977 1978 TOTAL
Médicos do Trabalho 2.643 4.306 1.723 1.196 849 10.717
Engenheiros de Segurança 1.748 5.215 1.613 1.702 1.111 11.389
Supervisores de Segurança 7.779 14.483 2.032 1.695 2.353 28.342
Auxiliares de Enfermagem 1.215 1.689 1.316 1.012 831 6.063
Enfermeiros 38 282 162 138 142 762
TOTAL 13.423 25.975 6.846 5.743 5.286 57.273
Fonte: BRASIL (1979).
Os profissionais, segundo a legislação, eram engenheiros e supervisores de segurança do
trabalho, e médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem do trabalho. O programa de
formação de profissionais para a área de SST foi custeado pelo Ministério do Trabalho, por
meio de convênios da FUNDACENTRO com universidades, escolas técnicas e entidades
especializadas, posteriormente incorporados como processos formativos por essas
instituições. Inicialmente, tal formação tinha caráter emergencial, com cursos de curta
duração, alguns dados podem ser observados na Tabela 1 (BRASIL, 1979).
Um dos profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho que teve os aspectos
formativos modificados ao longo do tempo foi o Supervisor de Segurança do Trabalho.
Inclusive, o nome da função, que passou a ser Técnico de Segurança do Trabalho, infausta
escolha porque todos os profissionais de SST são também técnicos dessa área de
conhecimento.
Entre as instituições que protagonizaram o papel de difundir a educação profissionalizante no
país, estavam as escolas técnicas, transformadas em institutos federais de educação, ciência e
tecnologia. Essas instituições foram as pioneiras em implementar em seus currículos, a
unidade de segurança e higiene do trabalho para os cursos técnicos integrados. Como
exemplo, o estudo destaca fatos da história da SST na Escola Técnica Federal de Santa
Catarina (ETFSC), atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa
Catarina (IFSC).
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2.2. Aspectos históricos das formações em SST no IFSC
O registro da primeira unidade curricular de Segurança e Higiene do Trabalho (SHT) na
ETFSC, atual Campus Florianópolis, do IFSC, ocorreu em 1976, iniciativa do Engenheiro de
Segurança do Trabalho e Professor Lício Mauro da Silveira. Os cursos técnicos de mecânica,
eletrotécnica e construção civil implementaram, em seu currículo, essa unidade, com carga
horária de aproximadamente 30 horas, para abordar a prevenção dos riscos profissionais.
Entre os conhecimentos gerais abordados nessa unidade curricular, estão: aspectos humanos,
sociais, econômicos e ambientais da SST; noções de higiene ocupacional; acidente do
trabalho: conceito, causas, comunicação de acidente do trabalho, estatísticas; sistemas de
proteção: equipamento de proteção individual e coletiva; prevenção e combate a incêndios;
noções de primeiros socorros; e normas regulamentadoras para segurança e saúde do trabalho
(IFSC, 2013).
Hoje, além de ministrar a unidade curricular de SHT na maioria dos cursos técnicos e também
em alguns cursos superiores, o IFSC também oferece cursos para formação de profissionais
na área de SST, entre eles o Curso Técnico de Segurança do Trabalho, desde 1990, e o Curso
Técnico de Enfermagem do Trabalho, que não está sendo ofertado atualmente (IFSC, 2013).
Por outro lado, destaca-se que algumas engenharias dispensam essa unidade em sua matriz
curricular.
As unidades curriculares e os cursos são orientados pelas legislações em vigor, com
fundamento também nos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de
Nível Técnico. Por exemplo, na área profissional Indústria, os estudantes formados em cursos
técnicos devem ter competência para “aplicar normas técnicas de saúde e segurança no
trabalho e de controle de qualidade no processo industrial” (BRASIL, 2000).
Os institutos federais são os estabelecimentos de ensino, que estão entre as instituições que
apresentam uma nucleação epistemológica formativa dos conhecimentos e habilidades para a
prevenção dos riscos profissionais, com uma práxis educativa consistente. A necessidade do
estudante nas atividades de aprendizagem se expor a condições insalubres, perigosas e
penosas contribuem para formar cidadãos sensibilizados da necessidade da prevenção na
rotina laboral.
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Esse movimento de conhecimentos na educação científica e tecnológica apresentaria melhores
resultados se iniciasse no ensino fundamental. Houve tentativas pontuais para implementar
nessa modalidade educativa os conhecimentos sobre a prevenção dos riscos profissionais,
porém sem continuidade. A primeira experiência a ser relatada, concatenava a formação
docente e discente concomitantemente, e esteve na vanguarda das experiências educativas
escolares dos países do ocidente para a SST.
3. Experiência educativa no ensino fundamental de 1976
Em meados da década de 1970, no Estado do Rio Grande do Sul, foi implementado o
primeiro projeto educativo para a rede pública escolar, que contou com as parcerias entre o
Ministério do Trabalho, a Fundação Gaúcha do Trabalho (FGT) e a Secretária de Educação e
Cultura do Estado, para inserir na educação básica, especificamente no ensino fundamental, a
temática da Prevenção de Acidentes do Trabalho (BRASIL, 1979).
Nos documentos do Ministério do Trabalho que se referem ao projeto, a justificativa da
introdução da temática no ensino de 1º grau de maior relevância foi de que “ a infância e a
adolescência formam os conceitos básicos para a vida, portanto, nada mais justificável que
partindo do ensinamento da criança, dotar o homem adulto de uma consciência responsável
pela Prevenção de Acidentes”. Em 1976, início do projeto, foram registradas as seguintes
informações obtidas nas atividades formativas (BRASIL, 1979, p. 89): formação de 363
professores no ensino fundamental/básico; e produção de 263 planos de trabalho e 150
relatórios.
O objetivo da formação docente era qualificar os professores para atuar como multiplicadores
da temática de SST na rede escolar estadual. Os conteúdos abordados na formação eram
referentes à prevenção de acidentes e continham informações de como desenvolvê-la em sala
de aula. O acompanhamento foi realizado pela Secretaria de Educação e Cultura, e o processo
de avaliação foi por meio dos planos de trabalho, relatórios e feedback dos professores. Os
documentos demonstram que os resultados alcançados nessa etapa foram enriquecedores para
a formação docente. Os participantes da formação, a partir dos planos de trabalho elaborados
e dos relatórios, subsidiaram os trabalhos da equipe que ministrou a formação e, diante da
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necessidade de desenvolver materiais didáticos, optou-se pela elaboração de livros de
referência para os professores com temas de SST. (BRASIL, 1979, p. 89).
3.1. Material didático sobre SST
A experiência educativa de 1976 resultou na elaboração de materiais didáticos para os
estudantes e professores, a Tabela 2 apresenta informações desses livros, que foram obtidos
com profissionais da FUNDACENTRO no Rio Grande do Sul e São Paulo.
Tabela 2 – Material didático sobre SST da década de 1970
Quantidade de livros Estrutura escolar para aplicação do material didático
Público
pretendido
Quantidade de
livros
Centro Urbano Zona Rural
4ª e 5ª 6ª, 7ª e 8ª a partir da 4ª série
Estudantes 3 1(1981)* 1(1981)* 1(1981)*
Professores 3 1(1979)* 1(1979)* 1(1980)*
*Ano de publicação.
O material foi publicado a partir de 1979 e reeditado pelo menos nos três anos seguintes. A
Figura 1 são referentes as ilustrações das capas dos livros.
Figura 1 – Capas dos livros do professor e de estudante para as escolas urbanas e rurais
Fonte: Lapa, Iost & Elias (1979a, 1979b, 1981a, 1981b, 1980a, 1980b).
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Os textos e exercícios dos volumes são os mesmos tanto no livro dos estudantes como nos
livros do professor. Neste último acrescentam-se conhecimentos técnico-científicos e
orientações de como utilizar o material didático.
Os livros dos professores contêm uma breve nota textual de justificativa da temática e
considerações sobre a metodologia a ser aplicada, além de informações após os exercícios
sobre as possibilidades de movimentar os conhecimentos para a aprendizagem dos estudantes.
Os textos explorados no material didático referem-se a uma profissão ou sobre as
condicionantes que envolvem as atividades profissionais, seguidas de exercícios.
A abordagem escolhida nesses materiais didáticos afasta-se da proposta da educação cidadã,
de tratar os conhecimentos em sua totalidade. Os livros utilizam-se de relatos textuais
descontextualizados da realidade dos estudantes, da influência socioeconômica e política nas
questões laborais e do cotidiano dos homens. Embora o material estruture-se numa linguagem
adequada ao público-alvo, trata-se de um pacote educativo que muitas vezes não contemplam
as situações-problemas de cada comunidade relativas à prevenção.
Além de fornecer os livros de professor e de estudante, foram planejadas formações para
esclarecimentos, aprofundamento dos professores, na qual os técnicos da FUNDACENTRO e
pedagogos apresentavam o vocabulário da área e informações sobre os materiais didáticos. O
projeto não teve continuidade (MUCCILLO, 2012).
4. Projetos da década de 1980
Para dinamizar o processo educativo da SST, a FUNDACENTRO, a partir de 1980, elaborou
outro projeto, “Formação da Consciência Prevencionista dos Escolares de 1º Grau no País”,
que utilizou o mesmo material didático do projeto anterior. A meta era a transmissão de
conhecimentos elementares de SST a estudantes de 4ª a 8ª série de instituições escolares
públicas, de forma a movimentar a sensibilização e a consciência sobre a prevenção (SANTI:
MOTTI, 1988, p. 4).
Participaram da formação, em 1981 e 1982, cerca de 92 mil estudantes. Inicialmente, o
projeto foi desenvolvido em dez Estados brasileiros, em parceria com as secretarias de
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educação. Segundo Santi & Motti (1988, p. 4), a fundamentação do projeto estruturou-se nas
premissas da formação para a prevenção no cotidiano laboral:
[...] a Educação dos escolares, nos dias atuais, tem por objetivo preparar o
aluno que, em pouco tempo, estará integrando a força de trabalho e
defrontando-se com novas tecnologias de produção, das quais ele tem
completo desconhecimento. Não obstante a necessidade vital de auxiliar a
criança a construir seu meio social, preservando sua integridade física e
psicológica, vamos descobrir que os educandos possuem vaga noção de o
que seja seu futuro mundo de trabalho, com suas variadas profissões e os
riscos a elas inerentes. (SANTI; MOTTI, 1988, p. 4).
A ideia de formar nas séries iniciais os estudantes para a prevenção contribuiria efetivamente
para um futuro mais seguro e saudável para todos os brasileiros. Porém, este projeto não teve
continuidade, e as respectivas práticas educativas foram esquecidas.
Esse segundo projeto foi a base para que a FUNDACENTRO desenvolvesse outras formações
para prevenção. Em 1988, estruturou-se outra formação, “Projeto Saúde, Segurança, Trabalho
e Educação – Preparação para o Trabalho”, este em parceria com a Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de São Paulo, tendo contado, ainda, com a
colaboração de escolas particulares e de outras instituições. Foi direcionado a
cidadãos/estudantes da 7ª e 8ª séries do 1º grau e da 1ª série do 2º grau, e teve como meta
sensibilizá-los diante dos fatores de perigo, de insalubridade e de penosidade dos ambientes
laborais. Os conhecimentos relativos às normas de saúde e segurança também seriam
movimentados nessa formação, mas o projeto não passou da fase piloto (SANTI; MOTTI,
1988, p. 4).
5 . Projetos da década de 1990
Na década de 1990 são registradas novas experiências educativas para a SST. O estudo
levantou informações sobre essas experiências no Estados do Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro.
5.1. Projeto no Estado do Rio Grande do Sul
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O relato a seguir foca experiência do Rio Grande do Sul da década de 1990, proferido pela
pedagoga e especialista em SST, a senhora Maria Muccillo que trabalhou no projeto:
“ A experiência no trabalho educativo em segurança e saúde no ensino de 1º grau ocorreu, na
década de 1990, no interior do Rio Grande do Sul, nos municípios de Encantado e Lageado, e
abrangeu mais de 50 escolas. A subdelegacia de ensino da região apoiou o trabalho, e o foco
foram os orientadores e supervisores educacionais, e principalmente na formação docente de
1º e 2º grau.
A proposta era que cada escola desenvolvesse um projeto de segurança e saúde, com aporte
de recursos disponibilizados pela subdelegacia de ensino. A maioria das modificações
estruturais nas escolas relativas à segurança e saúde foram concluídas, como por exemplo:
adequação as normas de segurança dos locais de armazenamento de materiais inflamáveis;
adequação das entradas e saídas dos ambientes escolares segundo requisitos de segurança para
a mobilidade dos estudantes.
As atividades se concentraram, principalmente, nas escolas de formação de professores de
séries iniciais, na qual os estagiários e futuros professores ao participarem do projeto,
exercitassem e desenvolvessem a sua prática educativa com os princípios preventivos e
salubres em relação aos riscos profissionais. O projeto encerrou com a mudança das
lideranças políticas.”
Alguns dos pontos positivos de êxito do projeto foram o fato de a necessidade emergir da
comunidade, o envolvimento de todos, governo, empresas e comunidade. Enquanto o governo
ofertou recursos materiais e humanos, as empresas abriram suas portas para eventos relativos
aos acidentes e doenças ocupacionais e propuseram-se a divulgar informações acerca da SST.
Entretanto, o projeto não teve continuidade, não conseguiu estabelecer raízes estruturais
independentes. Aliás, a autonomia de uma comunidade em gerir a educação para prevenção,
ou de desenvolver a cultura para prevenção, é uma condição essencial para o tratamento
educativo desse direito e dever para a cidadania. Os estudos da educação para a prevenção
podem contribuir para a instauração de processos educativos autônomos, nos quais as
comunidades e os cidadãos sejam construtores permanentes da cultura da prevenção.
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5.2. Projeto do Estado do Rio de Janeiro
Pesquisadores e profissionais da educação do Estado do Rio de Janeiro estruturaram um
projeto para a formação sobre SST na educação escolar.
Em 1996, foi desenvolvido no Laboratório de Qualidade, Segurança e Produtividade, da
Universidade Federal Fluminense, um projeto intitulado “Criança – Meta Educação em
Segurança e Meio Ambiente”. A justificativa para o projeto era o alto quantitativo de
acidentes com crianças. Escolheu-se uma turma de 30 estudantes, entre 9 e 12 anos, da Escola
Santos Dumont, do município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. O trabalho partiu da
formação de uma equipe composta de engenheiros de segurança e pedagogos. A escola
escolhida foi estratégica para a divulgação do projeto, por atender crianças e jovens de uma
comunidade fragilizada economicamente (favela), sem acesso a direitos e responsabilidades
para a cidadania (QUELHAS, 1996).
A concepção do projeto centrou-se na importância de sensibilizar as crianças para a prevenção
em casa, no estabelecimento escolar, nas atividades laborais, e para os cuidados referentes à
mobilidade; por exemplo, atravessar uma rodovia. A pesquisa evidenciou que os direitos das
crianças não são respeitados, ou seja, seus direitos estão expostos em documentos
internacionais e nacionais, de declaração de boas intenções, mas só “no papel” (QUELHAS,
1996).
Esse projeto também não teve continuidade, e certamente outros projetos foram idealizados e
realizados em Estados e municípios brasileiros. Tanto os avanços quanto os insucessos desses
projetos são informações relevantes para o desenvolvimento da educação cidadã para a
prevenção de riscos profissionais, e consequentemente para a promoção da cultura cidadã
laboral.
6. Considerações finais
As experiências e projetos abordados nesse artigo apresentam características de serem
fragmentadas, pontuais, sem continuidade e remetem a um legado histórico de fragilidade
educativa em nosso país. Demarcadas naqueles tempos pelas ações da ditadura militar para os
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brasileiros, pela imposição de uma pseudocidadania, e depois reproduzidas pelos ditames do
sistema econômico.
O desenvolvimento educativo escolar para a SST, depende de um alinhamento político,
econômico e social para a conquista de mais segurança e saúde nas atividades laborais. Uma
ação importante é tornar obrigatório para a educação em nosso país o desenvolvimento da
cultura da prevenção dos riscos profissionais, e dos demais riscos que continuam distanciando
a maioria dos brasileiros de exercerem a cidadania sustentável produtiva.
REFERÊNCIAS
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Brasília.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.
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http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/introduc.pdf. Acesso;
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