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15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de AnápolisDefesa de Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural Curadoria de Saúde, Fundações e Entidades com Fins Sociais
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL
DA COMARCA DE ANÁPOLIS – GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio da 15ª Promotoria de Justiça e 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de
Anápolis, com fundamento no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo
5º, inciso I, da Lei nº 7.347/1985, artigo 25, IV, “a” da Lei nº 8.625/1993, artigo 50 e
seguintes do Código Civil, no Decreto-Lei nº 41/1966, no Código de Processo Civil e
demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, bem como no incluso Inquérito Civil
Público nº 201500404232, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor
a presente:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DISSOLUÇÃO DE ENTIDADE CIVIL
com pedido liminar
em face de:
PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA, pessoa jurídica
de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 09.290.278/0001-
15, representada atualmente por seu Presidente, WALTER
ALVES BARBOSA, com sede na Rua “L”, Quadra 19, Lote 06,
Bairro São Joaquim, neste Município de Anápolis/GO,
com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.____________________________________________________________________________________________________
Avenida Senador José Lourenço Dias, nº 1.548, 1º Andar, Sala 102, Centro, Anápolis/GO, CEP: 75020-010Telefone: (62) 3329-5826 / E-mail: [email protected]
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I – DOS FATOS
A 15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis, com
atribuição na defesa do meio ambiente, urbanismo e patrimônio cultural, recebeu,
em dezembro de 2015, peças informativas encaminhadas pela 8ª Promotoria de
Justiça de Goiânia noticiando que a Srª. Dina Raquel da Silva Carneiro teria sido
autuada, por agentes do IBAMA, no dia 02.07.15 (fls. 07), pela posse de espécimes
de cobras que eram utilizadas em dança exótica na Boate situada na Rua C-159,
Qd. 279, Lt. 10, Bairro Jardim América, na cidade de Goiânia/GO, onde aquela
prestaria serviços de dançarina, a qual teria apresentado, na ocasião, quatro
“Termos de Depósito de Animal Silvestre”, emitidos pela Associação Civil
denominada “Patrulha Ambiental de Inteligência” (PAI), sediada nesta cidade de
Anápolis, que não constitui Órgão Público competente para a expedição desses
documentos (fls. 13/21 e 34/36).
Apurou-se que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) encaminhou cópia do Processo
Administrativo nº 02010.001289/2015-85 ao Ministério Público do Estado de Goiás
para análise e adoção de providências quanto à suspeita de crime ambiental e
usurpação de função pública1 por parte dos agentes da Associação-ré (fls. 04/41),
em razão da emissão de Termos de Guarda de Animais Silvestres, Nativos e
Exóticos a particular mediante pagamento (fls. 04/41), havendo a 8ª Promotoria de
Justiça de Goiânia determinado o envio dos autos a 15ª Promotoria de Justiça de
Anápolis em virtude da sede da “Patrulha Ambiental de Inteligência” estar localizada
nesta cidade de Anápolis (fls. 48).
1 Código Penal - Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.____________________________________________________________________________________________________
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Consta no Relatório elaborado pelo IBAMA (fls. 38-verso), que a
autuada Dina Raquel pagou à ré a quantia de R$ 700,00 (setecentos reais) pelos
Termos de Guarda dos animais e pela carteira de militante da referida associação,
cujo trecho abaixo se destaca:
A interessada apresentou ainda, uma Carteira de MilitanteFiscal/Defesa Florestal, emitida pela ONG, com Registro nº21.135.265, atribuindo a interessada o cargo de “Promotora deEventos Educativos”, na qual consta o seguinte texto: “Faço saber asautoridades civis e militares que o portador desta é integrante doserviço sigiloso da ONG “Patrulha Ambiental de Inteligência” (EstatutoSocial da Lei do Voluntário de nº 9.608 de 18/02/1998). Através destapedimos todo apoio em defesa da fauna e flora. Sob o Art. 225 daConstituição Federal. A carteira está assinada pelo Sr. José BarbosaFilho, Diretor Administrativo.De acordo com a interessada, ela pagou R$ 700,00 pelos Termosde Guarda e pela carteira de militante, emitidos pela ONG em 17de junho de 2015. A interessada declarou ainda que, de acordocom o representante da ONG, os documentos eram legais eque a mesma não teria nenhum problema com afiscalização ambiental. A equipe orientou a interessada aprocurar a Delegacia de Meio Ambiente-DEMA, e registrar o boletimde ocorrência em desfavor da ONG, pela cobrança e emissão dosdocumentos sem valor legal para os fins propostos. (Grifo nosso)
Então, a 15ª Promotoria de Justiça de Anápolis instaurou o
inquérito civil público incluso para apurar os fatos, notadamente a emissão de
documentos exclusivos da Administração Pública pela Associação Civil-ré, em
flagrante desvirtuamento de suas finalidades estatutárias (fls. 02/03), requisitando,
inicialmente, ao Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas competente a cópia do
Estatuto daquela entidade (fls. 50/51), a qual foi juntada às fls. 53/73.
Da análise do Estatuto da entidade civil, verifica-se que a
Patrulha Ambiental de Inteligência foi constituída na data de 04.01.2008, possuindo
como objetivos de acordo com o seu artigo 4º:
CAPÍTULO TERCEIRO
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Dos objetivosArt. 4º – A “PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” tem porfinalidade apoiar e desenvolver ações para a defesa, elevação emanutenção da qualidade de vida do ser humano e do meioambiente, através das atividades de educação profissional, especial eambiental.Parágrafo Primeiro – Para a consecução de suas finalidades, a“PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” poderá sugerir,promover, colaborar, coordenar ou executar ações e projetos visando:I – preservação, defesa e conservação do meio ambiente e promoçãodo desenvolvimento sustentável;II – promover e incrementar intercâmbios, campanhas, estudos,pesquisas, propostas, programas e mobilização popular pacífica parafins específicos de melhoria das condições ambientais e da qualidadede vida;III – promover educação ambiental e valorização humana;IV – proporcionar, a toda forma de vida, proteção e representaçãolegal junto às autoridades constituídas;V – colaborar com os poderes públicos, dando sugestões,participando de eventos, comissões e auxiliando nas fiscalizações;VI – realizar parcerias com entidades governamentais ou nãogovernamentais visando cumprir os presentes fins;VII – dar publicidade ao trabalho desenvolvido pela entidade,principalmente através de periódico especialmente criado para estefim;VIII – firmar contratos, convênios ou quaisquer outras modalidades deajustes com pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou internacionais,visando cooperação recíproca;IX – o direito de pesquisas ambientais, sociais, tecnológicas eteológicas, e também o direito de exercer o livre pensamento;X – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos,da democracia e de outros valores universais.Parágrafo Segundo – A dedicação às atividades acima previstasconfigura-se mediante a execução direta de projetos, programas,planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos físicos,humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviçosintermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e aórgãos do setor público que atuem em áreas afins.
Denota-se, pois, que a referida entidade não constitui órgão da
Administração Pública, não podendo praticar atos de competência exclusiva ou
privativa desta, como fiscalizações, apreensões e autuações por crimes ambientais,
muito menos emitir documentos “autorizando” particulares a manter sob sua guarda
animais silvestres e protegidos por lei, ainda mais mediante cobrança pela emissão
destes documentos.____________________________________________________________________________________________________
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Entretanto, além do fato que resultou na instauração do inquérito
civil público que instrui a presente ação, cumpre ressaltar que esta 15ª Promotoria
de Justiça já recebeu, anteriormente, algumas representações de cidadãos,
questionando a atuação dessa entidade, uma vez que os seus “militantes” estariam
agindo, neste Município de Anápolis e região, com práticas similares aquelas dos
órgãos fiscalizatórios competentes, causando confusão nas pessoas, principalmente
naquelas residentes na zona rural e com pouco conhecimento, pois utilizam
uniformes semelhantes a militares, o que resultou na instauração de outro
procedimento investigatório nº 201200370255, cujas cópias dos principais atos
foram juntadas às fls. 76/109.
Com efeito, no mês de abril de 2012, a antiga Secretaria
Estadual do Meio Ambiente (SEMARH) encaminhou cópia de Relatório de
Fiscalização, informando que ao proceder a autuação de um cidadão por prática de
infração administrativa (comercialização de material de pesca predatória),
apreendeu com este uma “carteira de militante da Patrulha Ambiental de
Inteligência”, solicitando a abertura de investigação sobre a regularidade desta
entidade (fls. 80/85).
Do mesmo modo, o Juiz titular do 1º Juizado Especial Criminal
desta Comarca de Anápolis encaminhou expediente a esta Promotoria de Justiça
para apuração da existência de associações civis com caráter paramilitar e
nomenclatura de instituições oficiais do Estado (fls. 86), as quais utilizariam,
indevidamente, símbolos nacionais e uniformes idênticos aos dos militares, em clara
afronta à legislação pátria, que restringe a estes últimos o uso de uniformes das
Forças Armadas, bem como de símbolos oficiais, o que ensejou, à época, a
instauração de procedimento próprio para apurar a regularidade dessas associações
(fls. 76/77).
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No curso do mencionado procedimento, apurou-se que
realmente a “PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” utilizaria, indevidamente,
uniformes idênticos aos dos militares, além de nomenclatura semelhante a
instituições estatais, bem como práticas similares aquelas dos órgãos fiscalizatórios
competentes podendo causar confusão nos cidadãos.
As fotografias abaixo, extraídas do próprio sítio da entidade
(www.patrulhaambientaldeinteligencia.com), ilustram bem essas afirmações:
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Diante da vedação legal expressa às organizações civis, inserta
no art. 76 da Lei Federal nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares) e nos arts. 71 e 74 da
Lei Estadual nº 8.033/75 (Estatuto dos Policiais-Militares do Estado de Goiás), o
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Ministério Público notificou o representante legal da Associação ré, o qual celebrou,
em 05.02.13, Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta
– TAC, com esta Promotoria de Justiça, visando a adequação das atividades da
associação à legislação pertinente (fls. 88/92).
No referido TAC assinado pela Patrulha Ambiental de
Inteligência, as obrigações assumidas foram as seguintes:
Cláusula Segunda – A compromissária assume o compromisso e aresponsabilidade na OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente em:
2.1. Modificar o nome da Associação de “Patrulha Ambiental deInteligência”, substituindo por outro que não seja confundido com aatividade policial;2.2. Reformular os símbolos da Associação para outra formageométrica que não seja o emblema oficial;2.3. Retirar dos “Certificados de Bolso” ou carteiras de identificaçãodos Associados o Brasão das Armas e a tarja em verde e amarelo,ficando estabelecido que os documentos antigos serãogradativamente substituídos quando da renovação de sua validade;2.4. Modificar os uniformes e coletes utilizados pelos associados,retirando todos os símbolos nacionais, as designações de “Fiscal” e“Agente”, além de cores similares aquelas utilizadas nos uniformes dePoliciais Militares e do Exército Nacional. 2.5. Substituir as plotagens dos veículos da associação pela novadesignação que será discutida em assembleia.Parágrafo único. A compromissária deverá comprovar até o dia 30 dejunho de 2013, a realização de todas as alterações previstas nascláusulas anteriores, devendo apresentar, antes da confecção dasartes e uniformes remodelados, o novo material perante acompromitente.Fica estabelecido que o compromissário terá o prazo de 12 (doze)meses, a contar da presente data, para comprovar a alteraçãodefinitiva do “nome empresarial” perante o Cadastro Nacional dePessoa Jurídica.
Contudo, a referida entidade não apresentou, perante esta
Promotoria de Justiça, no curso dos 04 (quatro) meses antes do vencimento do
prazo final estipulado no TAC, o novo material para confecção das artes e uniformes
remodelados, conforme estipulado no parágrafo único da cláusula segunda e, ao
término do prazo para o cumprimento do termo, ou seja, 30.06.13, não houve____________________________________________________________________________________________________
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qualquer manifestação por parte da Associação, descumprindo as cláusulas
assumidas e continuando na prática fiscalizatória alheia aos seus objetivos sociais,
reforçado, agora, pela notícia encaminhada pelo IBAMA.
Então, o Ministério Público promoveu a execução do referido
Termo de Ajustamento de Conduta, (Autos nº 201300358711), a qual se encontra em
tramitação perante a Vara da Fazenda Pública Municipal, de Registros Públicos e
Ambiental desta Comarca de Anápolis (fls. 97/109).
Apurou-se, ainda, que recentemente os “militantes” da
Associação Civil ré apreenderam, em 17.11.15, um papagaio na residência da
senhora Neide Pereira de Sousa (fls. 49), neste Município, a qual acreditou se tratar
de órgão de fiscalização ambiental, pois o “militante”, de nome Felício, disse-lhe que
somente poderia recuperar a guarda do animal com ordem judicial.
Ainda, são várias as notícias trazidas, via telefone, que os
“militantes” estariam “fiscalizando” comércios na cidade de Anápolis e se
apresentando como “delegados”, fazendo com que os cidadãos “abordados”
acreditem se tratar de Delegados de Polícia Civil, conforme Atendimento registrado
às fls. 74, cujo cidadão não quis se identificar, o qual narrou o seguinte:
O atendido informou que é empresário e recebeu uma visita de umsenhor se identificando como Delegado e solicitando notas fiscais desuas mercadorias. Ao indagar qual era sua Delegacia, o senhor disseque era Delegado da Patrulha Ambiental de Inteligência, apresentandouma carteirinha da Patrulha Ambiental de Inteligência. O “Delegado”solicitou dinheiro para não adotar as providências cabíveis, masquando o atendido disse que chamaria seu advogado para tratar dasituação, o falso “Delegado” disse que não precisava e saiurapidamente do estabelecimento.
Conclui-se, pois, que a entidade civil ré desvirtuou
completamente as suas atividades, passando a atuar como se fosse órgão
fiscalizatório e, o que é mais grave, emitindo documentos privativos da____________________________________________________________________________________________________
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administração pública, apreendendo animais do interior de residências, exigindo
documentação de particulares, constituindo, atualmente, uma ameaça aos cidadãos
e à ordem pública, ainda mais que vem comercializando coletes, carteiras e
cobrando pela emissão de documentos, obtendo lucro ilegal.
Portanto, não resta alternativa ao Ministério Público senão a
propositura da presente ação visando a extinção da entidade, tendo em vista o
desvirtuamento de suas finalidades estatutárias.
II – DIREITO
II.1 Da Legitimidade Ativa do Ministério Público
De acordo com o disposto no artigo 129, inciso III da
Constituição Federal de 1988, está entre as funções institucionais do Ministério
Público a promoção de ação civil pública para a proteção dos de interesses difusos e
coletivos, in verbis:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:[…]III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteçãodo patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos;
Por seu turno, o art. 25, IV, “a” da Lei Federal nº 8.625 de 1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) assim dispõe:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal eEstadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, aoMinistério Público:[…]IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados aomeio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,
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estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interessesdifusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
A presente ação visa tutelar os interesses difusos e coletivos dos
moradores de Anápolis e região, que não estão sendo devidamente representados
ou beneficiados pela Associação acionada, a qual vem exercendo atividades
incompatíveis com os seus objetivos sociais.
Ademais, a ação em comento objetiva também consolidar
juridicamente – pela extinção da pessoa jurídica – situação já vivenciada de fato,
qual seja, o exercício de atividades exclusivas da Administração Pública, evitando-se
assim o uso da entidade para fins espúrios, com evidente prejuízo a terceiros.
Sobre o tema, colaciona-se o seguinte julgado:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. GESTÃOFRAUDULENTA DE CLUBE DE FUTEBOL (ATLÉTICO MINEIRO).ASSOCIAÇÃO COM PERSONALIDADE DE DIREITO PRIVADO.OFENSA REFLEXA AO SISTEMA BRASILEIRO DO DESPORTO.ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. É entendimentodesta Corte a legitimidade do Ministério Público para proporação civil pública em defesa do patrimônio público, conceito queabrange aspectos material e imaterial, quando há direta lesão aobem jurídico tutelado. 2. Somente de forma reflexa é atingido opatrimônio cultural, quando fraudada organização desportiva privada.3. Inadequação da ação civil pública e ilegitimidade ativa ad causamdo Ministério Público para a defesa do patrimônio ofendido. 4.Recurso Especial não conhecido. (Superior Tribunal de Justiça STJ;REsp 1.041.765; Proc. 2008/0061230-6; MG; Segunda Turma; RelªMinª Eliana Calmon Alves; Julg. 22/09/2009; DJE 06/10/2009) (Grifonosso)
Acresça-se o perigo que uma Associação constituída
juridicamente, mas sem cumprir os seus objetivos sociais pode causar quando
utilizada para usurpar função pública, em prejuízo não somente à comunidade como
também ao patrimônio público, podendo causar, ainda, diversos males a terceiros de
boa-fé.
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Considerando, ainda, que a Associação é entidade de interesse
social sediada neste Município de Anápolis, cabe ao Ministério Público acompanhar
o seu funcionamento e promover a sua extinção nos casos previstos em lei.
Neste aspecto, o Decreto-Lei nº 41/1966, que dispõe sobre a
dissolução de sociedades civis de fins assistenciais, estabelece o seguinte:
Art 2º A sociedade será dissolvida se:
I - Deixar de desempenhar efetivamente as atividades assistenciais aque se destina;
Art 3º Verificada a ocorrência de alguma das hipóteses do artigoanterior, o Ministério Público, de ofício ou por provocação de qualquerinteressado, requererá ao juízo competente a dissolução dasociedade.
Deste modo, afigura-se assaz legítima, a atuação do Ministério
Público para o oferecimento da presente ação civil pública.
II.2 Da Definição e Existência Legal das Associações
O art. 53 do Código Civil Brasileiro traz a definição de
associação nos seguintes termos:
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que seorganizem para fins não econômicos.
Trata-se, portanto, de modelo organizacional pelo qual pessoas
naturais ou jurídicas se unem em busca de objetivos demandados pela coletividade,
não atrelados à lucratividade. Dada a sua índole congressional, o formato
associativo decorre, exclusivamente, de ato inter vivos.
O direito de se reunir associativamente para fins lícitos insere-se
– como não poderia deixar de ser num Estado que se intitule Democrático – entre os
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direitos e garantias fundamentais do cidadão (art. 5º, XVII a XXI, Constituição da
República), restando expressamente vedada qualquer interferência estatal nos atos
de gestão das entidades compostas por pessoas (art. 5º, XVIII).
As relações sociais, mesmo de uma entidade privada, devem ser
analisadas sem se abster de verificar seus impactos sociais; no caso, o
administrador tem o dever não somente com a associação que administra, mas
também com toda coletividade, nos limites de seus atos.
A existência legal de associações, como a de todas as pessoas
jurídicas de direito privado, consolida-se com a inscrição de seus atos constitutivos
no órgão público de registro (art. 45 do Código Civil, arts. 114 e 119, Lei nº 6.015/73
– Lei de Registros Públicos) – no caso específico, Cartório de Registro Civil de
Pessoas Jurídicas.
Em determinadas áreas de atuação, exige-se, além do registro,
autorização estatal para a constituição de tais entidades (arts. 45, in fine e 51, caput
do Código Civil).
II.3 Dos Atos Constitutivos
Como é cediço, a constituição de associação depende de
vontade congregada, orientada à consecução de fins lícitos, determinados e
socialmente relevantes, a qual deve se exprimir com observância das seguintes
regras:
1) a reunião em que definida a criação da entidade haverá de ser transcrita em ata,
da qual constarão: local e data de realização; qualificação, com nome, estado civil e
endereço, bem como as assinaturas de todos os participantes; especificação dos
objetivos da entidade; designação de cargos de administração e fiscalização da
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futura pessoa jurídica e indicação dos responsáveis pelos demais atos necessários à
aquisição de personalidade jurídica;
2) os instituidores deverão estabelecer, em estatuto, as regras para o funcionamento
da entidade. A lei estabelece algumas exigências, sem as quais o ato não será
registrado ou, se o for, será tido como nulo. É o que se extrai dos arts. 54 do Código
Civil e 120 da Lei Federal nº 6.015/1973, sem prejuízo de outros condicionamentos
contidos em atos normativos específicos.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:I - a denominação, os fins e a sede da associação;II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dosassociados;III - os direitos e deveres dos associados;IV - as fontes de recursos para sua manutenção;V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãosdeliberativos;VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e paraa dissolução.VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivascontas.
Art. 120. A existência legal das pessoas jurídicas só começa com oregistro de seus atos constitutivos.Parágrafo único. Quando o funcionamento da sociedade depender deaprovação da autoridade, sem esta não poderá ser feito o registro.
Ainda, por força do art. 1º, § 2º, da Lei Federal nº 8.906/1994, o
documento deverá ser subscrito por advogado devidamente habilitado junto à
Ordem dos Advogados do Brasil;
3) os atos constitutivos (ata, eventuais procurações, estatuto) deverão ser levados a
registro perante o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da comarca em
que terá sede a nova pessoa jurídica;
4) imperioso, por fim, que os instituidores e administradores, se pessoas naturais,
sejam plenamente capazes e, se pessoas jurídicas, possuam representatividade
legitimada na forma do estatuto.
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Sendo a faculdade associativa direito fundamental do cidadão, a
ser exercido sem ingerência estatal, consoante mandamento constitucional (art. 5º,
XVIII), podem os associados, em termos gerais, estabelecer as regras de
funcionamento da entidade que lhes pareçam mais adequadas.
Entretanto, para que se propicie à máquina estatal zelar pela
manutenção da ordem pública e pela convivência harmoniosa das corporações,
resguardando a esfera de liberdade de cada qual, devem constar dos respectivos
estatutos preceitos básicos, especificados no Código Civil (art. 46) e na Lei de
Registros Públicos (art. 120).
São eles: denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o
fundo social, quando houver; nome e qualificação dos fundadores e dos diretores;
modelo administrativo e forma de representação (ativa e passiva, judicial e
extrajudicial); se os membros respondem subsidiariamente pelas obrigações da
entidade; se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração; hipóteses de
extinção e destino do patrimônio remanescente.
Afora os apontamentos legais, reputamos necessária menção
aos direitos dos associados e aos requisitos para a admissão e exclusão dos
mesmos; às fontes de receita da entidade e ao modo de constituição e
funcionamento dos respectivos órgãos.
Verifica-se que os atos constitutivos da Associação ora
impugnada possuem estas informações, porém tem ocorrido, repetidas vezes, o
desvirtuamento de suas finalidades estatutárias, razão pela qual faz-se necessária a
sua dissolução, com a determinação liminar de suspensão de suas atividades.
Com efeito, a despeito de todas as medidas adotadas pela 15ª
Promotoria de Justiça, com o desiderato de promover o realinhamento às finalidades
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estatutárias da entidade de fins sociais, percebe-se que restaram infrutíferas, na
medida em que, seus dirigentes e associados recalcitraram em práticas que para
muito além de não se amoldarem aos fins originariamente propugnados, também se
identificam como flagrantemente, à margem de diversas leis de regência,
começando pelo exercício írrito de atividade específica de proteção ambiental,
conferida ao Poder Público.
Uma das pedras de toque inerentes às atividades sem fins
econômicos é a sua estrita legalidade, para que, quando for o caso de concorrência
ao fortalecimento de políticas públicas, não haja qualquer dúvida quanto à finalidade
propugnada pelos interessados, no desenvolvimento de ações que agreguem
valores ao interesse público.
No caso em testilha, há flagrante ferimento a tais princípios
norteadores que são da existência da associação demandada.
II.4 Do Controle Exercido pelo Ministério Público
Por vocação constitucional, incumbe ao Ministério Público a
defesa dos interesses maiores da coletividade – ordem jurídica, regime democrático
e interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput).
No campo dos direitos sociais, é de destaque a atuação das
instituições do terceiro setor (gênero em que se inserem as associações), com
expressiva repercussão no plexo de interesses de toda a coletividade. Imanente,
pois, a incumbência do parquet de velar por tais entidades, promovendo as medidas
(judiciais e extrajudiciais) necessárias para preservá-los.
A atribuição ministerial, não bastasse escorada em previsão
constitucional, encontra amparo, em seara infraconstitucional, no Decreto-Lei nº
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41/66, que, consoante magistério doutrinário, aplica-se, indistintamente, às
entidades sem fins econômicos, dentre as quais, as associações. A relevância do
mencionado texto legal faz merecer sua integral transcrição:
Art. 1º Toda sociedade civil de fins assistenciais que receba auxílioou subvenção do Poder Público ou que se mantenha, no todo ou emparte, com contribuições periódicas de populares, fica sujeita àdissolução nos casos e forma previstos neste decreto-lei.
Art. 2º A sociedade será dissolvida se:I - Deixar de desempenhar efetivamente as atividadesassistenciais a que se destina;II - Aplicar as importâncias representadas pelos auxílios, subvençõesou contribuições populares em fins diversos dos previstos nos seusatos constitutivos ou nos estatutos sociais;III - Ficar sem efetiva administração, por abandono ou omissãocontinuada dos seus órgãos diretores.
Art. 3º Verificada a ocorrência de alguma das hipóteses do artigoanterior, o Ministério Público, de ofício ou por provocação dequalquer interessado, requererá ao juízo competente adissolução da sociedade.Parágrafo único. O processo da dissolução e da liquidação reger-se-á pelos arts. 655 e seguintes do Código de Processo Civil.
Art. 4º A sanção prevista neste Decreto-lei não exclui a aplicação dequaisquer outras, porventura cabíveis, contra os responsáveis pelasirregularidades ocorridas.
Art. 5º Este Decreto-lei entra em vigor na data de sua publicação,revogadas as disposições em contrário. (Grifou-se)
Ora, se o Ministério Público pode instaurar inquérito civil e
propor a ação civil pública à vista de ilicitudes ou desvios perpetrados em prejuízo
de associações, pode, igualmente, adotar medidas preventivas com o propósito de
evitar que tais males se consumem ou, em outras palavras, exercer o controle social
de tais entidades.
Velar para garantir o cumprimento da lei, dos estatutos e dos
objetivos por parte dos administradores das organizações, jamais interferindo na
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gestão ordinária. Velar para assegurar às pessoas o direito de livre associativismo
para fins lícitos.
II.5 Da Extinção
As associações extinguem-se por deliberação dos associados,
por ação do Ministério Público ou de qualquer interessado, podendo o desfazimento
processar-se administrativa ou judicialmente (arts. 51 e 61 do Código Civil).
Dissolvida a associação, o patrimônio remanescente reverter-se-
á a entidade de fins não-econômicos designada no estatuto ou, omisso este, a
instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, a ser
definida pelos associados (art. 61, caput, Código Civil).
Dúvida pode surgir quanto à validade de cláusula estatutária que
estabeleça, em caso de extinção, a destinação do patrimônio remanescente de
associação à entidade com fins econômicos.
Quer-nos parecer que dispositivo assim formulado padeceria de
nulidade, uma vez que implicaria a disposição de patrimônio vinculado ao
atendimento de demanda social, sendo, por consequência, indisponível. A dotação
patrimonial deve, de toda sorte, reverter-se a entidade de fins igualmente
filantrópicos. Terminada a fase de liquidação, deve ser realizado o cancelamento do
registro para que ocorra a extinção definitiva.
III – DA MEDIDA LIMINAR
Como é cediço, para a concessão de medida liminar é
necessário que fiquem demonstrados os requisitos do fumus boni iuris e do
periculum in mora.
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No presente caso, estão presentes a fumaça do bom direito,
evidenciada pelos documentos juntados ao Inquérito Civil Público incluso e o perigo
da demora, já que os danos ocasionados aos interesses difusos e coletivos podem
assumir caráter irreversível diante das condutas arbitrárias praticadas pelos
membros da Patrulha Ambiental de Inteligência.
Nesse sentido, estabelece o art. 12 da Lei da Ação Civil Pública:
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou semjustificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
A respeito da concessão de medida liminar na ação civil pública,
leciona Hely Lopes Meirelles:
Quanto ao processo dessa ação, é o ordinário, comum, do Código deProcesso Civil, com a peculiaridade de admitir medida liminarsuspensiva da atividade do réu, quando pedida na inicial, desdeque ocorram o fumus boni juris e o periculum in mora . (Mandadode Segurança e Ações Constitucionais, 34ª Edição, Malheiros: SãoPaulo, 2012, p. 233-234) (Grifou-se)
O perigo da demora de uma prestação jurisdicional definitiva é
inquestionável, mormente neste caso em que inúmeros cidadãos estão sendo
coagidos pelos “militantes” da Patrulha Ambiental de Inteligência, os quais atuam
com uniformes semelhantes aos dos militares, induzindo as pessoas “abordadas” a
erro, situação recorrente em Anápolis e região, conforme apurado no incluso
inquérito civil público.
A fumaça do bom direito advém das próprias normas
supracitadas que estão sendo infringidas pela entidade ré, mormente os artigos 2º, I
e 3º do Decreto-Lei nº 41/1966.
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Assim, imprescindível a cessação imediata da atividade nociva
ao patrimônio público e social, inclusive sendo desnecessária a justificação prévia
(arts. 11 e 12 da Lei Federal nº 7.347/85).
Igualmente a plausibilidade deste pedido emerge do conjunto
probante em cotejo com os dispositivos legais e constitucionais já analisados, não
sendo crível qualquer justificativa que a ré possam suscitar.
Por esse motivo deve ser expedida ordem para suspensão
imediata das atividades irregulares da associação civil com o recolhimento de
todas as carteiras dos membros da entidade.
Então, devidamente provados o fumus boni iuris e o periculum in
mora, uma vez que a demora na concessão da liminar (suspensão das atividades)
ocasionará ainda mais prejuízo à sociedade.
Deste modo, o Ministério Público requer seja determinada,
liminarmente, a suspensão imediata das atividades da entidade, fixando-se
multa cominatória, em valor a ser arbitrado por este juízo, por dia de
descumprimento, destinado ao Fundo Municipal de Meio Ambiente: Conta-Corrente
nº 426508-4, Agência nº 324-7, Banco do Brasil.
Requer, ainda, a retirada, em prazo a ser assinalado por este
juízo, de todas as plotagens, sirenes, insígnias e designativos constantes nos
veículos da entidade, mediante comprovação a este juízo.
IV – DOS PEDIDOS
Isto posto, na defesa da ordem jurídica, com base na
fundamentação fática e jurídica deduzida nesta peça inaugural, o Ministério Público
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requer a prestação de uma tutela jurisdicional efetivamente protetiva do patrimônio
público e social e, para tanto, apresenta os seguintes pedidos e requerimentos:
1) seja a presente ação recebida, autuada e processada de acordo com o rito
ordinário, observando-se as regras vertidas no microssistema de proteção coletiva
(inaugurado pela conjugação dos arts. 21 da Lei 7.347/85 e 90 da Lei 8.078/90);
2) a citação da ré, na pessoa de seu Presidente, para, querendo, contestar a
presente ação, no prazo legal, sob os efeitos da revelia e suas consequências
jurídicas;
3) que as diligências oficiais sejam favorecidas pelo disposto no art. 172, § 2º, do
Código de Processo Civil;
4) publicação do edital de que trata o art. 94 do Código de Defesa do Consumidor;
5) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art. 236, § 2º, do
Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625/93;
6) a concessão de medida liminar, consistente na suspensão imediata das atividades
exercidas pela PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA, até o julgamento final
da presente demanda;
7) ao final, requer a confirmação do pedido inicialmente formulado para o fim de
determinar a dissolução da associação acionada com o devido cancelamento do
registro, revertendo eventual patrimônio remanescente encontrado à instituição
congênere, legalmente constituída, para ser aplicada nas mesmas finalidades da
associação dissolvida;
8) a condenação da ré ao pagamento das “despesas processuais”.
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Por fim, protesta provar o alegado por meio de todos os meios
de prova em direito admitidos, em especial, pela oitiva de testemunhas a serem
arroladas posteriormente, bem como posterior juntada de documentos.
Observada a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e
encargos, nos termos do art. 18 da Lei nº 7.347/85 e art. 87 do Código de Defesa do
Consumidor, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).
Termos em que
Pede deferimento.
Anápolis, 17 de março de 2016.
Marcelo Henrique dos SantosPROMOTOR DE JUSTIÇA
Sandra Mara GarbeliniPROMOTORA DE JUSTIÇA
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