acao penal eleitoral processamento rotina

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AÇÃO PENAL ELEITORAL 1. Definição 1.1. Ação penal eleitoral - é o direito de, configurada a infração penal na análise do caso concreto, requer ao Poder Judiciário a aplicação da sanção penal com o escopo de concretizar o poder punitivo do Estado (Francisco Dirceu de Barros 1) . 1.2. Processo Penal Eleitoral - instrumento através do qual o titular da ação penal pleiteia a aplicação de uma pena ou medida de segurança a determinada pessoa acusada da prática de um ou mais crimes eleitorais (Roberto Moreira de Almeida, em citação de Frederico Franco Alvin 2 ). Anotações relevantes O direito processual penal eleitoral possui linhas centrais bastante delineadas, tangente aos aspectos ritualísticos e vias do caminho procedimental (arts. 283 a 288 e 355 a 364 do Código Eleitoral). O processo penal eleitoral, todavia, carece de disciplina periférica própria nas questões afetas à comunicação dos atos processuais, à prescrição, à execução penal e aos benefícios despenalizadores da Lei nº 9.099/95, fazendo uso, nesse caso, do que lhe oferece a legislação processual penal comum. No processo penal eleitoral, em face do art. 364 do Código Eleitoral, as normas do Código de Processo Penal são aplicáveis em caráter subsidiário e supletivo. 2. Bem jurídico protegido A manutenção das instituições do Estado Democrático de Direito e do Direito Eleitoral e a garantia da normalidade do processo eleitoral. 3. Previsão Legal Ação Penal Eleitoral Pública Incondicionada – art. 355 do Código Eleitoral. Ação Penal Eleitoral Privada Subsidiária da Pública Incondicionada – art. 52, LIX, CF/88, (Ac. TSE nº 21.295/SP (RESPE). Relator Min. Fernando Neves. Publicado no DJ, 17 out. 2003. p. 131). 4. Legitimidade 4.1. Legitimidade ativa (ad causam) - Autor O Ministério Público Eleitoral, titular, por excelência, da ação penal eleitoral (Ação Penal Eleitoral Pública Incondicionada, art. 129, I, da CF/88; art. 100, §1º, do CP; e art. 24 do CPP). O ofendido ou quem tenha legitimidade para representá-lo (Ação Penal Eleitoral Subsidiária da Pública Incondicionada, art. 52, LIX, CF/88, c/c os arts. 29 e 30 do CPP). 4.2. Legitimidade passiva - Réu Com base nas hipóteses de crimes eleitorais comentadas pelo prof. Jaime Barreiros Neto 3 e na relativa à LC nº 64/90, observada por Thales Tácito Cerqueira e Camila Albuquerque Cerqueira 4 , segue, abaixo, rol não exaustivo. Qualquer pessoa 1 Barros, Francisco Dirceu. Curso de processo eleitoral. 2. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 281 e ss. 2 Alvin, Frederico Franco. Manual direito eleitoral, Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 499. 3 Neto, Jaime Barreiros. Código eleitoral para concursos – doutrina, jurisprudência e questões de concursos. 2. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Jus Podivm, 2013. p. 145 e ss. 4 Direito Eleitoral Esquematizado. Thales Tácito Cerqueira, Camila Albuquerque Cerqueira. - 3. ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva, 2013. p. 827 e ss.

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Açao penal Eleitoral

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Page 1: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

AÇÃO PENAL ELEITORAL 1. Definição 1.1. Ação penal eleitoral - é o direito de, configurada a infração penal na análise do caso concreto,

requer ao Poder Judiciário a aplicação da sanção penal com o escopo de concretizar o poder punitivo

do Estado (Francisco Dirceu de Barros1)

.

1.2. Processo Penal Eleitoral - instrumento através do qual o titular da ação penal pleiteia a aplicação

de uma pena ou medida de segurança a determinada pessoa acusada da prática de um ou mais crimes

eleitorais (Roberto Moreira de Almeida, em citação de Frederico Franco Alvin2).

Anotações relevantes

• O direito processual penal eleitoral possui linhas centrais bastante delineadas, tangente aos

aspectos ritualísticos e vias do caminho procedimental (arts. 283 a 288 e 355 a 364 do Código

Eleitoral).

• O processo penal eleitoral, todavia, carece de disciplina periférica própria nas questões afetas

à comunicação dos atos processuais, à prescrição, à execução penal e aos benefícios

despenalizadores da Lei nº 9.099/95, fazendo uso, nesse caso, do que lhe oferece a legislação

processual penal comum.

• No processo penal eleitoral, em face do art. 364 do Código Eleitoral, as normas do Código de

Processo Penal são aplicáveis em caráter subsidiário e supletivo.

2. Bem jurídico protegido

A manutenção das instituições do Estado Democrático de Direito e do Direito Eleitoral e a garantia da

normalidade do processo eleitoral.

3. Previsão Legal

• Ação Penal Eleitoral Pública Incondicionada – art. 355 do Código Eleitoral.

• Ação Penal Eleitoral Privada Subsidiária da Pública Incondicionada – art. 52, LIX, CF/88, (Ac. TSE nº

21.295/SP (RESPE). Relator Min. Fernando Neves. Publicado no DJ, 17 out. 2003. p. 131).

4. Legitimidade

4.1. Legitimidade ativa (ad causam) - Autor

• O Ministério Público Eleitoral, titular, por excelência, da ação penal eleitoral (Ação Penal Eleitoral

Pública Incondicionada, art. 129, I, da CF/88; art. 100, §1º, do CP; e art. 24 do CPP).

• O ofendido ou quem tenha legitimidade para representá-lo (Ação Penal Eleitoral Subsidiária da

Pública Incondicionada, art. 52, LIX, CF/88, c/c os arts. 29 e 30 do CPP).

4.2. Legitimidade passiva - Réu

Com base nas hipóteses de crimes eleitorais comentadas pelo prof. Jaime Barreiros Neto3 e na relativa

à LC nº 64/90, observada por Thales Tácito Cerqueira e Camila Albuquerque Cerqueira4, segue, abaixo, rol

não exaustivo.

• Qualquer pessoa

1 Barros, Francisco Dirceu. Curso de processo eleitoral. 2. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 281 e ss.

2 Alvin, Frederico Franco. Manual direito eleitoral, Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 499.

3 Neto, Jaime Barreiros. Código eleitoral para concursos – doutrina, jurisprudência e questões de concursos. 2. ed. rev., ampl. e atual. –

Salvador: Jus Podivm, 2013. p. 145 e ss. 4 Direito Eleitoral Esquematizado. Thales Tácito Cerqueira, Camila Albuquerque Cerqueira. - 3. ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva, 2013.

p. 827 e ss.

Page 2: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

� CE, art. 289 (o maior de 18 anos pratica crime e o menor de 18 pratica ato infracional).

� CE, arts. 290, 293 a 299, 301, 302, 312, 317, 318, 321, 323 a 326, etc.

� Lei n. 9.504/97, art. 72, incisos I, II e III.

• Pessoa que exerça atividade comercial - CE, arts. 303, 304.

• Pessoa que atue na Justiça Eleitoral, ainda que temporariamente - CE, art. 345.

• Brasileiro que não esteja no gozo dos seus direitos políticos ou o estrangeiro - CE, art. 337.

• Funcionário dos Correios - CE, art. 338.

• Eleitor - CE, arts. 299, 309, 319, 320.

• Servidor Público - CE, arts. 300, 341 (o responsável pela publicação de atos), 345.

• Mesário - CE, arts. 306 a 308, 310, 318.

• Membro de Junta Eleitoral - CE, arts. 313, 316.

• Juiz Eleitoral - CE, arts. 291, 292, 313, 315, 316, 343, 345.

• Promotor de Justiça Eleitoral (MPE) - CE, art. 342.

• Funcionário Público responsável por repartição - Lei n. 6.091/74 art. 11, inciso I.

• Proprietário de veículo ou embarcação - Lei n. 6.091/74 art. 11, inciso II.

• Candidato, MPE, etc. - LC n. 64/90, art. 25.

5. Juízo competente

O estudo da competência no processo penal eleitoral impõe-nos a observá-la sob cinco aspectos:

• em razão do lugar (ratione loci);

• em razão do domicílio ou residência do réu;

• em razão da matéria (ratione materiae);

• em razão da pessoa (ratione personae);

• em razão da continência ou conexão.

• De acordo com o art. 70 do Código de Processo Penal, aplicável de forma subsidiária ao processo

penal eleitoral, a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,

ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

• Segundo Frederico Barros5, o foro do lugar da infração é sem dúvida o mais racional, eis que aí foi

violada a lei, aí foi provocada a ação social, aí devendo ser punido o delinquente eleitoral.

• Nesse lugar, seja ou não o domicílio do acusado, há maior facilidade de serem coligidos os devidos

esclarecimentos e provas necessárias; e, além disso, é o lugar onde o exemplo da repressão se faz mais

imprescindível, seja pela sua impressão moral, seja para satisfação do ofendido, de seus parentes e

amigos.

6. Prazos

6.1. Ação Penal Eleitoral Pública Incondicionada

• A denúncia deverá ser ofertada pelo MPE dentro do prazo de 10 (dez) dias de verificada a infração

penal (art. 357, caput, do Código Eleitoral).

• Em havendo inquérito policial, o prazo de 10 (dez) dias para oferecimento da denúncia pelo MPE

inicia-se do seu recebimento.

6.2. Ação Penal Eleitoral Privada Subsidiária da Pública Incondicionada

• O ofendido, ou seu representante legal, disporá do prazo de seis meses ─ contado do dia em que se

esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia pelo MPE ─ para exercer o direito de queixa, a qual

dará início à referida ação (art. 38 do CPP).

5 Barros, op. cit., p. 322.

Page 3: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

Anotações relevantes

• De referência ao inquérito, pontua Frederico Barros6 que o prazo de 10 (dez) dias do MPE para

a denúncia é único, estando o indiciado preso ou solto, bem como dever ser obedecido de forma

subsidiária o art. 798, § 1º, do CPP, hipótese em que não se computará no prazo o dia do começo

e incluir-se-á o do vencimento.

• Em posição contrária, tangente ao prazo único, Thales Tácito Cerqueira e Camila Albuquerque

Cerqueira7 gizam que o prazo para a denúncia é de 10 (dez) dias para o indiciado solto e 5 (cinco)

dias para o preso (art. 46 do CPP, utilizado subsidiariamente).

7. Efeitos da sentença

Dos estudos de Thales e Camila Cerqueira8

e de Jaime B. Neto9 ─ com base no Código Eleitoral e em leis

extravagantes ─ de ordinário tem-se que:

• Em sendo a sentença pela condenação, ao autor de crime eleitoral será cominada:

� pena pecuniária; e/ou

� pena privativa de liberdade (detenção/reclusão).

• Dessa condenação:

� Advirá suspensão dos direitos políticos ─ art. 15, III, da CF/88.

� Poderá advir inelegibilidade ─ art. 1º, I, e, da LC n. 64/90 (modificada pela LC n. 135/2010).

8. Recurso

• Recurso em sentido estrito (art. 364 do Código Eleitoral / art. 581 do Código de Processo Penal ) 10

Conforme Frederico Barros11

, é recurso horizontal, i. é, direcionado ao órgão prolator da

decisão, e tem efeito misto: possibilidade de retratação e, mantida a decisão, adquire o efeito

devolutivo, com o consequente exame pela instância superior.

� Hipótese: Hipótese de cabimento (em face de decisão, de despacho e de sentença):

� que não receber a denúncia ou queixa subsidiária;

� que concluir pela incompetência do juízo;

� que julgar procedente as exceções, salvo a de suspeição;

� que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de

prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

� que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

� que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

� que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da

punibilidade;

� que conceder ou negar a ordem de habeas corpus na primeira instância;

� que anular o processo de instrução criminal, no todo ou em parte;

� que denegar a apelação ou a julgar deserta;

� que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

� que decidir o incidente de falsidade.

� Prazo: 3 dias, a contar da intimação da sentença. (art. 258, do CE)

6 Barros, op. cit., p. 300.

7 Cerqueira e Cerqueira, op. cit., p. 845.

8 Cerqueira e Cerqueira, op. cit., pp. 831/832.

9 Neto, op. cit., p. 46 e ss.

10 Cerqueira e Cerqueira, op. cit., p. 848.

11 Barros, op. cit., p. 369 e ss.

Page 4: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

• Apelação Eleitoral (art. 362 do Código Eleitoral)

� De acordo com Frederico Barros12,

das decisões condenatórias ou absolutórias emitidas pelos

juízes eleitorais em matéria criminal, cabe recurso de apelação, a qual pode ser interposta por

petição ou termo, no prazo legal de 10 dias, a contar da intimação da sentença.

Giza o referido autor, ainda, que:

� Se o apelante quiser apresentar razões, deverá fazê-lo nesse mesmo prazo,

portanto, a lei não oferece outra oportunidade para tal.

(Incabível a apresentação de razões recursais na instância superior;

inaplicabilidade do CPP, art. 600, § 4º, devendo ser observado os arts. 266 e 268

do CE – TSE, Ac. n. 11.953/1995).

� A apelação é o único recurso eleitoral que tem, em regra, efeito suspensivo. Não o

terá quando a apelação for só do assistente (CPP, art. 598, caput).

� Conforme entendimento jurisprudencial, o assistente não pode apelar quando o

réu for condenado, faltando-lhe para tal legítimo interesse. Não é de se conhecer

de seu apelo, tampouco, quando o objetivo for só a exasperação da pena ou

quando tiver o mesmo já se manifestado pelo recurso do Ministério Público.

9. Rito

• Art. 355 e ss. do Código Eleitoral ─ com observância das modificações previstas na Lei nº

11.719/08 e introduzidas no CPP, mormente do seu art. 400 (que deslocou o interrogatório

para o final da instrução).

Anotações relevantes

� Conquanto adote o rito processual fixado na Lei nº 8.038/90 para o processamento das

ações penais originárias, o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, por expressa disposição

contida no paragrafo único do art. 118 do seu Regimento Interno (Resolução

Administrativa nº 03, de 7 de abril de 1997 alterada pelas Resoluções Administrativas nº

4/01, 5/05, 6/06, 6/08, 8/08, 5/11 e 3/12 do TRE-BA), realiza o interrogatório do acusado ao final da instrução criminal, nos termos do artigo 400 do Código de Processo Penal,

consoante decidido pelo Supremo Tribunal Federal – STF (Medida Cautelar em Habeas

Corpus nº 107.795 – Rel. Celso de Mello – j. 28.10.2011) por ser “mais favorável que a

disciplina procedimental resultante do próprio Código Eleitoral”, eis que revela-se o

interrogatório como meio de defesa.

� Nessa vertente, o TRE-BA, em seus julgados, tem determinado seja observado o rito

comum ordinário previsto no art. 400 do CPP aos réus em processos de Ação Penal, ex vi

dos Acórdãos n.ºs 691/2012 (Recurso Criminal 2-73 / Teixeira de Freitas), 5.094/2012

(Habeas Corpus 375-37 / Cipó), 5.130/2012 (Habeas Corpus 642-09 / Ribeira do Amparo).

10. Processamento (Procedimento Penal Eleitoral Comum de competência do 1º grau de jurisdição)

• Informações Preliminares

� Citação - formas de execução

� Três são formas de citação no âmbito do procedimento penal eleitoral:

12

Barros, op. cit., p. 369 e ss.

Page 5: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

a. Citação direta - é a realizada pelo oficial de justiça através do mandado

judicial.

b. Citação por hora certa (Lei n. 11.719/2008)

b.1. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça

certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa.

• A citação por hora certa será feita da seguinte forma:

i. Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em

seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo

suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua

falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar

a citação, na hora que designar.

ii. No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de

novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a

fim de realizar a diligência.

iii. Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará

informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda

que o citando se tenha ocultado em outra comarca.

iv. Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com

pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso,

declarando-lhe o nome.

v. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta,

telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.

b.2. Completada a citação por hora certa, se o acusado não comparecer, ser-

lhe-á nomeado defensor dativo.

c. Citação por edital - Não sendo encontrado o acusado e não sendo o caso de

citação por hora certa, será, então, o acusado citado por esta forma.

c.1. Nessa espécie de citação, o prazo para a defesa começará a fluir a partir

do comparecimento pessoal do acusado ou de defensor constituído (parágrafo

único do art. 396 do CPP).

c.2. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir

advogado, o juiz eleitoral deve aplicar o art. 366 do Código de Processo Penal,

in verbis:

“Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir

advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,

podendo o juiz eleitoral determinar a produção antecipada das provas

consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos

termos do disposto no art. 312.”

Anotações relevantes

� Frederico Barros13, em comento ao tema citação, aduz:

[1] a citação por hora certa viola o princípio nemo inauditus damnari potest, segundo o

qual "ninguém pode ser condenado sem ser ouvido", a possibilitar, em consequência,

o julgamento e a condenação do réu sem a sua oitiva; vaticinando, que a questão será

analisada pelo STF;

13

Barros, op. cit., pp. 308/309.

Page 6: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

[2] caso não localizado o réu, entende ser a melhor solução dever o juiz eleitoral

determinar a adoção da citação por edital e seguir os procedimentos do art. 366 do

CPP; e

[3] que o entendimento sumulado do STJ (Súmula nº 415) é no sentido de que "o

período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena

cominada".

� Thales e Camila Cerqueira14

, de seu turno, registram:

[1] não existir no Direito Eleitoral a citação por hora certa, mas caber citação por edital; e

[2] em face da nova redação do art. 363, § 4º, do CPP, o prazo para a retomada da

suspensão do processo é até o réu comparecer, ou seja, será decidido pelo STF (RE

460.971/RS, que, consoante voto do Min Sepúlveda Pertence, é no sentido de que a

referida suspensão “não tem prazo previsto em lei para seu término”).

10.1. PROCESSAMENTO

• Protocolo e autuação

� Verificar a autoridade a quem é dirigida.

� Protocolar e registrar no Sistema de Acompanhamento de Documentos e Processos –

SADP.

� Autuar a denúncia ou a queixa na classe processual “Petição”, independentemente de

despacho (conforme dispõe o art. 6º, I do Provimento 2/2012).

� Uma vez apresentada, a denúncia ou a queixa (Ação Penal Eleitoral Privada Subsidiária da

Pública Incondicionada), considerando que a mesma deverá ser levada à apreciação do Juiz

Eleitoral ─ que poderá recebê-la, dando início à ação penal eleitoral, ou rejeitá-la ─, e

excepcionando a regra de autuação imediata da petição inicial na classe processual da

respectiva ação, a referido peça deverá ser protocolizada, registrada e autuada, no SADP,

na classe processual "Petição".

� Recebida a denúncia ou a queixa reautuar, no SADP, na classe processual “Ação Penal”.

� Registre-se, por oportuno, que, no SADP, será utilizada a funcionalidade “reautuar

processo zona”, de modo a alterar a classe processual para “Ação Penal”, mantendo-se a

mesma numeração única do processo.

� A denúncia ou a queixa deve atender ao disposto no art. 41 do Código de Processo Penal e

art. 357, § 2º, do Código Eleitoral.

� Certificar se a peça veio acompanhada de documentos, especificando-os, bem como a

regularidade na representação processual, na hipótese de queixa.

� Segundo Francisco Dirceu Barros, assente na doutrina e na jurisprudência predominantes,

necessário constar do instrumento do mandato outorgado ao procurador, para

oferecimento da queixa-crime, além dos poderes especiais, o nome do querelado, a

menção do fato criminoso ou o artigo da lei violada.

� O fundamento da exigência de poderes especiais na procuração da queixa-crime

subsidiária da pública tem a finalidade de prevenir e evitar o ajuizamento de ações penais

à revelia do mandante, sem estar o procurador munido dos poderes especiais, tornando

possível a responsabilização penal do outorgante da procuração, quando de má-fé agir, e

evitando-se ainda prejuízos ao constituinte, por eventuais excessos do mandatário.

14

Cerqueira e Cerqueira, op. cit., p. 847.

Page 7: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

� Em ocorrendo defeitos na procuração, podem ser a todo tempo sanados, observado,

todavia, o prazo decadencial de seis meses, após o que não poderá ser realizado.

• Fazer a conclusão ao Juiz Eleitoral

*Atualizar o andamento no SADP.

� Intentada a denúncia (art. 357 do CE) ou a queixa subsidiária da pública incondicionada

(art. 52, LIX, CF/88, c/c os arts. 29 e 30 do CPP), o juiz eleitoral tem duas opções:

a. Rejeita a denúncia ou a queixa subsidiária da pública incondicionada

� Rejeitada a denúncia o Promotor de Justiça Eleitoral poderá interpor recurso

em sentido estrito.

b. Recebe a denúncia ou a queixa subsidiaria da publica incondicionada

� Recebida a denúncia ou a queixa subsidiaria, o juiz eleitoral ordenará a citação do acusado (réu) para que tome ciência da acusação e ofereça alegações

escritas no prazo de 10 (dez) dias (art. 396 do Código de Processo Penal / art.

359, parágrafo único, do CE).

� Deverá o acusado, ainda, ser cientificado do dia e hora para a audiência de

instrução, em cujo ato prestará o seu “depoimento pessoal” ─ interrogatório.

(art. 359 do CE).

• Intimar o Ministério Público Eleitoral, pessoalmente.

*Atualizar o andamento no SADP.

• Defesa Inicial do Réu (alegações escritas) -

� O início do prazo para o acusado ou querelado responder a imputação acusatória eleitoral

será contado:

a. A partir do efetivo cumprimento do mandado;

b. Do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, em duas

hipóteses:

� No caso de citação inválida;

� No caso de citação por edital.

� Na resposta, o acusado poderá:

� arguir preliminares;

� alegar tudo o que interesse a sua defesa;

� oferecer documentos e justificações;

� especificar as provas pretendidas;

� sob pena de preclusão, arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua

intimação, quando necessário.

� Na defesa preliminar o réu pode, ainda, alegar (arguir) as exceções de:

� suspeição;

Page 8: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

� incompetência de juízo;

� litispendência;

� ilegitimidade de parte;

� coisa julgada.

� A consequência da falta da defesa inicial do réu

� A falta da defesa inicial do réu acarretará nulidade absoluta com infringência aos

princípios do contraditório e da ampla defesa.

� Para evitar nulidade, se a defesa não for apresentada no prazo legal, o juiz

eleitoral deve intimar o acusado para constituir advogado para fazê-la no prazo

assinado; frustrada esta, deverá o juiz nomear um defensor para oferecê-la em

até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.

� Hoje, a posição majoritária do STF é no sentido de que a ausência de defesa

preliminar (ou inicial) causa nulidade (vide STF: HC 88.836, HC 86.680, HC 94.276

e HC 94.027).

• A Réplica

� Apresentada a defesa, o juiz eleitoral poderá ouvirá o Ministério Público Eleitoral ou o

querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias (art. 409 do CPP).

� A réplica não é obrigatória e só há necessidade de manifestação da acusação

(Ministério Público ou querelante) em duas hipóteses:

a) alegação de preliminares;

b) juntada de documentos.

• Do Saneamento do Processo

� Após a manifestação do Ministério Público Eleitoral, o juiz eleitoral:

Decidirá sobre as diligências requeridas pelas partes.

As diligências devem ser requeridas em três fases:

• pelo Promotor de Justiça Eleitoral, no oferecimento da denúncia;

• pelo querelante no oferecimento da queixa subsidiária da ação penal

eleitoral pública incondicionada;

• pelo defensor na defesa inicial.

• Da instrução e do depoimento pessoal (interrogatório do acusado)

� Audiência de instrução

� Não sendo a hipótese de absolvição sumária (art. 397 do CPP) ou, segundo o STJ, de

reconsiderar o recebimento da denúncia, será realizada audiência de instrução, com oitiva

de testemunhas e, após, o interrogatório do acusado (último ato instrutório).

� Ordem da instrução:

- Oitiva das testemunhas: 1º - acusação e, após,

2º - defesa

Possibilidade de oitiva de testemunhas referidas

- “Depoimento pessoal” (interrogatório)

Page 9: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

Entende Frederico Barros15

, que, no depoimento do réu, o Ministério

Público Eleitoral e depois a defesa podem fazer perguntas, é aplicação

analógica do art. 188 do Código de Processo Penal.

� Diligências (art. 360 CE)

- somente são admitidas em relação a fatos supervenientes ao oferecimento

da denúncia e resposta à acusação.

- deferimento da diligência: necessidade da medida + relevância da medida.

� Das alegações finais:

a) Ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa, e tomado o “depoimento pessoal”

(interrogatório) do acusado, praticadas as diligências requeridas pelo Ministério

Público Eleitoral e deferidas ou ordenadas pelo juiz, abrir-se-á o prazo de 5 (cinco) dias a cada uma das partes (prazo sucessivo) - acusação e defesa - para alegações finais.

Ordem:

1) acusação

2) assistente de acusação

3) defesa

Havendo corréus - prazo comum

b) Decorrido esse prazo, e conclusos os autos ao juiz eleitoral dentro de 48 (quarenta e

oito) horas, terá o mesmo 10 (dez) dias para proferir a sentença.

*Atualizar o andamento no SADP.

• Sentença

Providências após o julgamento:

� Intimar imediatamente as partes, dos termos da sentença, para recorrer.

� A intimação da sentença condenatória será feita:

� ao réu, pessoalmente, mediante mandado; e

� ao advogado constituído, pela publicação do dispositivo da sentença no Diário da

Justiça Eletrônico ou pessoalmente, caso se trate de Defensor Público Federal (mediante entrega dos autos na secretaria do órgão) ou advogado dativo (na

forma determinada pelo Juiz Eleitoral) (arts. 392 e 370, § 1º, do Código de

Processo Penal).

Nesse caso, o prazo para interposição de recurso será contado da data da

última intimação efetuada.

� Abrir vista ao MPE, caso não seja parte.

*Atualizar o andamento no SADP.

• Recurso

• Das decisões finais de condenação ou absolvição cabe recurso (Recurso Eleitoral Criminal, art.

362 do CE) ─ correspondente à apelação do CPP ─, para o Tribunal Regional, a ser interposto

no prazo de 10 (dez).

Recebido o recurso, incumbe ao cartório:

15

Barros, op. cit., p. 313.

Page 10: Acao Penal Eleitoral Processamento Rotina

� Protocolar e registrar a petição no SADP.

*Registrar o recurso no SADP.

� Juntar o recurso fisicamente aos autos.

� Fazer os autos conclusos ao juiz eleitoral para despacho.

� Intimar o recorrido, na pessoa de seu procurador, ou pessoalmente se for o MPE, para

apresentar contrarrazões.

� Juntar as contrarrazões ou certificar o decurso do prazo sem a sua apresentação.

� Abrir vista ao MPE, se atuar como fiscal da lei.

� Lavrar certidão de conferência (quantidade de volumes, folhas, apensos, materiais e objetos

que acompanham o processo, etc.) e de remessa de autos.

*Atualizar os andamentos no SADP, incluindo o envio dos autos pelo Sistema à Seção de Protocolo do TER.

� Enviar os autos fisicamente ao TRE/BA, via sedex, com aviso de recebimento.

• Providências finais

Transitada em julgado a decisão o cartório deverá:

� Certificar nos autos o trânsito em julgado.

� Dar cumprimento às providências determinadas na sentença ou acórdão.

� Se a decisão do Tribunal Regional for condenatória, baixarão imediatamente os autos à

instância inferior para a execução da sentença, que será feita no prazo de 5 (cinco)

dias, contados da data da vista ao Ministério Público Eleitoral.

� Se o órgão do Ministério Público Eleitoral deixar de promover a execução da sentença,

serão aplicadas as normas constantes dos §§ 3º, 4º e 5º do art. 357 do Código

Eleitoral.

� Certificar nos autos as providências adotadas.

*Atualizar o andamento no SADP.

� Arquivar os autos após o cumprimento integral da sentença e realizar este procedimento

também no SADP

11. Fluxograma

O fluxograma pertinente ao processamento da ação (elaborado no programa Bizagi Process

Modeler) encontra-se no endereço http://cre.tre-ba.gov.br/arquivos/manuais/manual-de-pratica-cartoraria-teste/acao-penal.