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Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorControle editorialManuela OliveiraCapaZeca MartinsRevisãoMariana Oliveira
Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2011, São Paulo, SP
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
C837a
Costa, José Armando da Acasos entre cabrestos e desembestos /José Armando da Costa - São Paulo: Livronovo, 2011.
304 p.ISBN 978-85-8068-027-0Inclui Bibliografia
1. 1. Física. 2. Relatividade. 3. Teoria quântica – acaso I. Título
CDD – 530
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DEDICATÓRIA
Como quem faz uma mágica poética para tentar trazê-la para perto de mim, dedico os possíveis méritos deste livro à minha netinha Laura Costa Galvão, que desde o seu nascedouro respira o ar de viver no sofrido de tanto crescer município de São Paulo. Plagas tão diferentes e longínquas das que plasmaram antropologicamente o seu sobrevivente avô, que ainda hoje traz no inconsciente as cicatrizes das secas que outrora assolaram e humilharam nossa pobre e desvalida gente.
As pequenas viagens de helicóptero feitas pela minha netinha fazem ressurgir em mim as lembranças dos meus primaveris desejos de voar bem alto como um pássaro. Devaneios esses urdidos na minha pueril imaginação quando, ainda em tenra idade, brincava num frondoso pé de cajarana que existia no quintal da casa da minha há muito tempo perdida infância.
Prossiga minha netinha nessas venturas sob os céus paulistanos, pois, mesmo longe dos meus olhos, você chega a realizar o quimérico sonho de voar do seu vovô que lhe ama quase como um enlouquecido, por não poder ver-lhe todos os dias de sua vida terrena que já completa a soma de mais de um ano entre nós.
Sumário
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO I
O COMEÇO E O FIM DE TUDO ...................................................................15
CAPÍTULO II
COMBINAÇÃO DE ACASO E NECESSIDADE .............................................21
CAPÍTULO III
FORÇAS DO ACASO .......................................................................................26
CAPÍTULO IV
O QUERER DAS COISAS EM FACE DO ACASO .........................................33
CAPÍTULO V
APORTES SOBRE O QUERER DAS COISAS ...............................................42
CAPÍTULO VI
ESMAGADORAS ADVERSIDADES ................................................................49
CAPÍTULO VII
VERDADES CONTIDAS NAS COISAS PARADOXAIS .................................54
CAPÍTULO VIII
COERENTES INCOERÊNCIAS ......................................................................59
CAPÍTULO IX
IMPACTO DOS CONTRÁRIOS .....................................................................62
CAPÍTULO X
TROCADILHOS DE OPOSIÇÃO ...................................................................68
CAPÍTULO XI
INSTÂNCIAS DA FATALIDADE ....................................................................77
CAPÍTULO XII
SEMPRE NO RUMO DO OPOSTO ...............................................................82
CAPÍTULO XIII
CONTRARIEDADES FECUNDANTES .........................................................85
CAPÍTULO XIV
IDA E VOLTA ENTRE A FÍSICA E A METAFÍSICA ......................................89
CAPÍTULO XV
REGÊNCIA DE DEUS E O DIABO .................................................................94
CAPÍTULO XVI
CORRUPÇÃO DOS INSTINTOS ...................................................................99
CAPÍTULO XVII
TRUCULÊNCIAS DO PASSAR DO TEMPO ...............................................107
CAPÍTULO XVIII
FUNÇÕES DO NASCER E DO MORRER ...................................................114
CAPÍTULO XIX
PESARES DOS MORTAIS .............................................................................120
CAPÍTULO XX
DESCONFORTOS DERIVADOS DO REMORSO ......................................128
CAPÍTULO XXI
SENTIMENTOS EGOÍSTICOS ....................................................................134
CAPÍTULO XXII
NATURAIS AMARGURAS DO AMOR .........................................................140
CAPÍTULO XXIII
TRIÂNGULO AMOROSO E OUTRAS CORDIAIS MANIFESTAÇÕES ....147
CAPÍTULO XXIV
AMOR SEM LIMITAÇÕES ............................................................................153
CAPÍTULO XXV
ATRAÇÃO SEXUAL NO CASAMENTO .......................................................158
CAPÍTULO XXVI
INDOMÁVEIS INSTINTOS DA SEXUALIDADE .......................................164
CAPÍTULO XXVII
MUTABILIDADE DOS COSTUMES SEXUAIS ...........................................173
CAPÍTULO XXVIII
EROSÃO DOS LAÇOS AFETIVOS ...............................................................178
CAPÍTULO XXIX
DESASSOSSEGOS DO CIÚME .....................................................................183
CAPÍTULO XXX
DESENCANTOS DA TRAIÇÃO ...................................................................188
CAPÍTULO XXXI
SENTIMENTO DE HONRA .........................................................................193
CAPÍTULO XXXII
CONTRARIEDADES NÃO RESISTIDAS .....................................................199
CAPÍTULO XXXIII
REGOZIJOS GERADOS PELA PAZ INTERIOR ..........................................204
BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................210
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APRESENTAÇÃO
Entre outras incumbências, tenta-se fazer aqui a possível junção dialética entre as coisas, o pensamento e os aspectos filosóficos que a vida ordinariamente denuncia ou insinua. Na reflexão desse contexto interativo, pode-se concluir que a melhor maneira para se definir algo material ou imaterial é considerá-lo como a vitória sobre o que lhe é adverso. Daí a coerente dedução de que nada existe como manifestação extática, definitiva e acabada. Posto que, de modo absoluto, nada existe: tudo está passando a existir e, a um só tempo, deixando de existir. O que há são efêmeros lapsos de existência constante em busca do seu oposto. É tal qual a permanente batalha que se trava entre opressor e oprimido.
Tirante a impermanência, parece que tudo marcha para adquirir a expressão do seu contrário. Contentamento e dor se revezam como recíprocas antinomias. Amor e ódio são saídos um do outro. A vida busca a morte, e vice-versa. O tudo persegue o nada que, por sua vez, resulta daquele. Não existe, pois, primado do material sobre o ideal, nem deste sobre aquele. O material gera o ideal e o ideal gera o material. É tal qual o ovo e a galinha: não se sabe o que precedeu ao outro. Se tudo é dinâmico, parece ser mais coerente que no início o verbo se tenha feito carne. Mas a carne voltará necessariamente a ser novamente verbo, e assim sucessivamente.
A transformação do instável em estável negaria a vida e até mesmo o realismo das coisas. Já que tudo não vai além de uma passagem, nada no presente existe: está apenas passando. Paradoxalmente parece que o que existe é o que já passou. Mas o que ficou para trás não existe mais. E o que está passando não guarda nem conserva expressão de existência. Bem como se deduz que tudo o que estar para vir ainda não
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José Armando da Costa
chegou, pois o porvir que chega deixa de ser como tal. O que significa dizer que nada existe em si, pois o que realmente há é apenas o passar das coisas. Isso parece forçar à ilação de que nada veio de um começo nem se preordena a um fim.
No contexto de tudo, vê-se que as forças de contensão e de expansão – recebendo ponderável influência do acaso – são contidas mutuamente entre si. A expansão do uni-verso é controlada e regulada pelas forças centrípetas da gravidade. A lei da gravidade faz a função do cabresto, e a da expansão, a do desembesto. O universo não se implode nem se explode enquanto predominar o equilíbrio equacional entre seu cabresto e seu desem-besto. Daí porque caos e cosmo são verso e anverso da mesma medalha. Um sobrevive pelo controle do outro. O desembesto do caos é contido pelo cabresto do cosmo.
Concebe-se, igualmente, que a consistência harmônica da vida e de tudo o que existe não decorre da supressão do que é desarmônico. Não é o sufoco do racional sobre o instinto que provoca o melhor equilíbrio. A racionalidade que suplanta os instintos fecha os espaços para o desenvolvimento da humanização. Os impulsos combativos não devem ser erradicados, mas sim domesticados. Daí dizer-se que “a cultura define-se a partir dessa tarefa, evitando a barbárie dos instintos e nutrindo-se ao mesmo tempo da inesgotável fecundidade que eles proporcionam”. Os neurologistas de vanguarda sustentam que o cérebro funciona por meio de três sistemas integrados: o reptiliano, o mamífero e o neocórtex. Tais sistemas processam respectivamente os instintos, as emoções e as razões. A harmonia cerebral decorre, portanto, da funcionalidade sistêmica desses fatores de integração e coesão. A parte instintiva do homem – o seu componente neural mais primitivo – não pode ser eliminada de todo pelas emoções nem pelas razões. Daí dizer o cientista Peter A. Levine que “se o impulso instintivo para descarregar a intensa energia de sobrevivência for bloqueado, então o funcionamento dos outros dois sistemas cerebrais será profundamente alterado”.
As adversidades que contaminam as coisas formam em verdade o potencial de sua promissora desenvoltura, o seu devir. Sendo, então, concebível que todo mal traga realmente algum benefício. Embora guarde as suas exceções, pode-se dizer que tudo o que acontece vem para o bem. Os acidentes ecológicos ocorridos nos mares mexicanos, e que tendem a alastrar os seus desastrosos efeitos para o território dos Estados Unidos da América, podem servir como advertência para que a economia global se interesse mais pela alternativa energética a partir da biomassa eletrizada pelo Sol. Já que essa forma de produção de energia, além de não poluir nem ter riscos catastróficos, é quase inesgotável. Com esteio na tese da entropia, compreende-se que o Sol – juntamente com todas as outras estrelas – vai se acabar um dia. Mas isso só será possível daqui a onze bilhões de anos. Bem diferente do petróleo que, além de poluir e envolver o mundo numa guerra intolerante e fratricida, estar prestes a acabar.
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Acasos entre cabrestos e desembestos
Procura-se instilar nas linhas filosóficas deste livro que tudo se agasalha num contexto onde o acaso exerce forte influência ora sobre o cabresto ora sobre o desem-besto. Não se sabe exatamente donde vem a força coerciva que mantém a integridade do universo. O mesmo se diga em relação à entropia, ao apocalipse. Este se rege pelo desembesto. Aquela, pelo cabresto. Essas duas armaduras não devem estar muito frouxas nem muito apertadas. Deve existir nisso um harmônico equilíbrio. Daí haver Buda, para tanto, aconselhado que se devesse espelhar na excelente afinação de um alaúde. Deste somente poderá ser retirado um melodioso som quando suas cordas não estejam frouxas nem esticadas. Assim é o modo como tudo deve acontecer na vida: sem acochar os cabrestos nem afrouxar os desembestos.
E o que vem a ser o acaso que ora interfere no cabresto, ora no desembesto? O acaso parece ser o nome que se dá a uma causa ainda não identificada. É a causa oculta da natureza. Poderá ser Deus ou o Diabo! Sabe-se, contudo, que é uma força misteriosa imaterial que interfere na materialidade e na espiritualidade das coisas. Se acaso não é ausência de causa, pode-se, portanto, inferir que nada acontece por acaso.
Há fortes indícios que levam a crer que Teilhard de Chardin – havendo partido da ideia de que tudo se constrói à custa de uma destruição – haja concebido que a curvatura psíquica do espírito e a esfericidade da terra se harmonizam para contraba-lançar as forças individuais e coletivas de dispersão. Essa é, sem dúvida, a força que se contém em todo cabresto.
Faz-se ver aqui, ainda, que todas as coisas materiais ou espirituais estão conectadas entre si. Em sua visão microscópica todas elas se resumem aos seus simílimos elementos fundamentais (elétrons, prótons, nêutrons etc.) Mas, morfolo-gicamente, todas se distinguem por conta de um querer interno que existe em cada uma delas. O querer de uma substância – que não se sabe de onde vem – faz com que ela seja diferente das outras. As coisas entre si não estão apenas relacionadas como também misturadas. O milagre da separação das coisas parece ser feito pela nossa mente, a qual para tanto lança mão do hemisfério esquerdo do cérebro. Daí o testemunho de uma vítima de AVC hemorrágico sofrido no hemisfério esquerdo do seu cérebro: “Parte de mim queria ser completamente libertada do cativeiro daquela forma física que latejava de dor. Mas, providencialmente, apesar da atração daquela tentação persistente, algo dentro de mim permanecia comprometido com a tarefa de articular meu socorro, e essa parte perseverava para, em última análise, salvar minha vida.”
Ademais, destaque-se que nesta obra são deixados rastros que levam ao enten-dimento de que as criações culturais parecem continuar por outros meios a obra da natureza. O mundo cultural é, pois, o prosseguimento da natureza por meio da criação
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José Armando da Costa
valorativa do homem. De efeito, concebe-se que a natureza criou o homem que passa a criar a natureza. O navio é o peixe cultural, assim como o avião é o seu pássaro.
Aqui se revelam que as coisas mais importantes encontram-se no que há de mais simples na vida. Isso sem negar o relevo das coisas importantes e complexas. Donde se deduz que nada importa tanto nem tampouco. Depois do tudo o mais interessante é o nada. Já que tudo e nada se condicionam mutuamente. O tudo vem do nada, e este volta para aquele. O nada, como já se disse, “é o múltiplo puro que gera o tudo”.
Maldizem-se, com todas as letras, aqueles que – inconformados por haver a física avançada (quântica) desautorado o absolutismo da teoria da causalidade necessária das coisas – buscam um lenitivo falso para o seu consolo: encontrar nos experimentos dos aceleradores de partículas o elemento que substitua o papel do acaso. Nunca vão realizar essa pretensão pelo simples fato de que procuram incursionar numa dimensão (mundo pós-mental) utilizando-se de instrumentos somente adequados para perquirir as realidades materiais. Em outras palavras: buscam por meios toscos atingir realidade demasiado fina. Pretendem com as armas do aquém-espírito atingir o universo do além-matéria. Isso é de todo impossível!
Mesmo que a vôo de pássaro, sustenta-se ainda o ponto de vista de que, no domínio animal, quando se impede que os instintos sexuais sejam manifestados de maneira regular e normal, eles acabam se extravasando por vias travessas e oblíquas. E de modo ainda menos palatável e mais censurável. Isso parece ocorrer com aqueles que, a exemplo dos celibatários, são obrigados a absterem-se de sua natural sexuali-dade. Nessa matéria, a natureza parece ser muito impiedosa: tapa-se um buraco, mas ela fura outro.
Há aqui muitas outras loucuras saudáveis, convincentes e estonteadoras. Parece que vale a pena conferir!
O autor.
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CAPÍTULO I
O COMEÇO E O FIM DE TUDO
Visualizado de qualquer ponto onde se encontre o observador, e por qualquer ângulo de sua crença como ser pensante, o mundo amedronta. Já que, na melhor das hipóteses, parece que vivemos sob o silencioso impacto de duas fundamentais forças que se contêm reciprocamente: a da gravitação e a da expansão. Esta pressiona o universo à explosão, enquanto que aquela poderá levá-lo à implosão. Portanto, a sobrevivência do universo parece depender do equilíbrio harmônico dessas duas incomensuráveis forças. Elas existem pelo que insinuam os seus efeitos, e pela exata noção que se tenha sobre o seu potencial e tamanho. Já existem provas suficientes para se afirmar a existência de atração entre os corpos. Bem como já se não tem dúvida de que o universo, pelo menos até agora, encontra-se em permanente expansão. E a prova disso é que, como dizem os físicos, “a distância entre as diferentes galáxias está aumentando o tempo todo”. 1
A insistência comprobatória disso está no fato de que grandes sistemas estelares estão se afastando da Terra numa velocidade que chega a percorrer 11.750 metros por segundo. Repita-se então que, enquanto essa projeção expansiva estiver se processando, obviamente a existência do universo estará assegurada. Agora, perguntamos: o que temos de certo para fundamentar uma coisa ou outra? O que vai, por fim, predominar:
1 Stephen Hawking. Uma Nova História do Tempo. Rio de Janeiro: Ediouro, p. 66.