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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
26.ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória
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Rua Raulino Gonçalves nº 200, Enseada do Suá, CEP: 29.050-405 - Tel: (27) 3145-5000
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EXCELENTÍSSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DA CAPITAL – JUÍZO DE
VITÓRIA – ES.
Ref.: IC nº 2017.0017.7707-12
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por seu
presentante legal infra-assinado, em pleno exercício de suas atribuições
legais junto à 26.ª Promotoria Cível de Vitória, com base na Constituição
da República, na Constituição do Estado, na Lei Complementar Estadual
n.º 95/97 e nos artigos 3.º e 5.º, caput, da Lei n.º 7.347/85, vem,
respeitosamente, perante V.Exa., promover a presente
AAÇÇÃÃOO CCIIVVIILL PPÚÚBBLLIICCAA cc//cc PPEEDDIIDDOO DDEE LLIIMMIINNAARR
em face do
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Praça João Clímaco, s/n, Palácio Anchieta, Centro, Vitória, ES., podendo as citações e intimações serem realizadas na Procuradoria Geral do Estado, sito na Avenida Nossa
Senhora da Penha, 1590, Ed. Petrovix, Barro Vermelho, Vitória, ES., CEP 29057-550;
o fazendo pelos seguintes motivos de fato e de Direito:
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DDOO SSUUPPOORRTTEE FFÁÁTTIICCOO
O presente inquérito civil foi instaurado a partir de manifestação
protocolizada perante esta Promotoria de Justiça acerca das condições
do Setor de Balística da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo com o
seguinte teor (fls. MPES 01):
A Seção de Balística da Polícia Civil do Estado do Espírito
Santo é um ambiente totalmente insalubre, com riscos
ocupacionais aos seus servidores. Não há medidas de
proteção coletiva, de ordem geral e nem fornecimento de EPI.
Há riscos químicos, com exposição ao chumbo; riscos f ísicos,
como ruído excessivo; riscos biológicos, com a manipulação
sem o devido cuidado de projetis retirados de cadáveres sem
a devida assepsia.
Por requisição deste Órgão de Execução veio aos autos, então, o
RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do Núcleo Especial de Vigilância em Saúde
do Trabalhador da própria Secretaria de Estado da Saúde (fls. MPES
16/24), datado de 12 de dezembro de 2017, o qual traz a seguinte
conclusão técnica:
“Constatada a veracidade das denúncias que motivaram a realização da
inspeção, a saber: condições ambientais insalubres devido à exposição a
riscos ocupacionais: físico (ruído), químico (chumbo e outros produtos
químicos especificados no relatório) e biológico; ausência de medidas
de proteção coletiva (capela de exaustão de gases para manuseio de
produtos químicos; exaustão e proteção acústica da sala de tiros) e
não fornecimento de equipamentos de proteção individual – EPI
adequados”.
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No mesmo relatório de inspeção a Secretaria de Estada da Saúde emitiu
uma série de RECOMENDAÇÕES para que o local pudesse funcionar
dentro da legalidade e sem exposição dos funcionários públicos a
qualquer tipo de risco.
Ainda por requisição desta Promotoria de Justiça, a Gerência de
Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Município de Vitória
apresentou RELATÓRIO DE INSPEÇÃO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO
TRABALHADOR, datado de 29 de dezembro de 2017 (fls. 27/59), no qual
também foram apontadas uma série de gravíssimas irregularidades que
expõem os funcionários públicos a riscos. Por isso, foram indicadas dez
RECOMENDAÇÕES a serem observadas pelo Estado do Espírito Santo
para regularização daquele local de trabalho e preservação da
incolumidade física dos servidores públicos.
Buscando-se a via extrajudicial para correção das irregularidades e a
celebração de termo de ajustamento de conduta, foram expedidos dois
ofícios – os de fls. 65 e, posteriormente, o de fls. 87 – os quais, após o
decurso dos respectivos prazos neles estabelecidos, não mereceram
sequer resposta por parte da autoridade responsável.
DDOOSS FFUUNNDDAAMMEENNTTOOSS JJUURRÍÍDDIICCOOSS
1 – CONSERVAÇÃO DOS PRÉDIOS PÚBLICOS E SALUBRIDADE NO MEIO
AMBIENTE DO TRABALHO
O art. 110 da Lei nº 8.078/90, ao acrescentar mais um inciso ao art. 1º
da Lei nº 7.347/85, alargou consideravelmente o objeto da ação civil
pública, tornando-a instrumento idôneo à apuração de
responsabilidades e reparação de danos causados não apenas ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
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histórico, turístico e paisagístico, mas também, a teor do seu inciso IV, a
“qualquer outro interesse difuso ou coletivo”.
A Constituição da República, por sua vez, conferiu ao Ministério Público
a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis, conforme se verifica no artigo 127 da
CF, atribuindo-lhe diversas funções institucionais, inclusive a promoção
do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos (art. 129, CF).
A legitimação para atuação do Órgão Ministerial, in casu, decorre, assim,
do direito coletivo ao meio ambiente do trabalho seguro e saudável, o
qual encontra-se amparado constitucionalmente pelo artigo 7º, inciso
XXII, e traz consigo, inclusive, o direito à redução dos riscos inerentes
aos trabalhadores urbanos e rurais.
Já o artigo 39, § 3º, da mesma Constituição Federal garante idêntica
garantia aos ocupantes de cargos públicos e, se tal direito for lesado ou
estiver ameaçado de lesão, será impositiva a atuação ministerial.
A esse respeito é importante destacar que o meio ambiente do trabalho
corresponde a um conjunto de fatores que envolve o adequado local de
trabalho, as máquinas e equipamentos, os agentes físicos, químicos e
biológicos, enfim, todos os aspectos que se relacionam às condições de
trabalho.
Essa proteção ao meio ambiente laboral deve ser sempre ampla, de modo
a compreender não apenas a redução e eliminação de agentes insalubres
ou perigosos, mas também a implementação de toda e qualquer medida
que tenha o objetivo imediato ou mediato de garantir a saúde e a
segurança dos trabalhadores.
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A esse respeito o Brasil ratificou diversas Convenções da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) relativas à saúde e segurança do
trabalho, abrangendo as mais variadas temáticas, dentre as quais
destaca-se a Convenção n.º 155, a qual estabelece a obrigatoriedade de
formulação e implementação de uma política nacional coerente em
matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e do meio ambiente de
trabalho, com o intuito de prevenir os acidentes e os danos à saúde que
forem consequência do trabalho, tenham relação com o trabalho ou se
apresentarem durante o trabalho.
Já a Convenção n.º 81 trata da inspeção laboral, incumbindo-lhe, além
de outras funções, a de assegurar a aplicação das disposições legais
relativas às condições de trabalho e à proteção dos trabalhadores no
exercício de sua profissão, tais como as normas referentes à duração do
trabalho e à segurança, higiene e bem estar dos trabalhadores.
Merece destaque, ainda, o art. 200, inc. VIII, da Constituição Federal, in
verbis: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições,
nos termos da lei: colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho”.
Isso significa, em outras palavras, que a Carta Magna confirma o íntimo
liame existente entre a proteção ao meio ambiente de trabalho e o direito
à saúde. A manutenção de um meio ambiente laboral seguro e adequado
é imprescindível à higidez da saúde e da integridade física dos
trabalhadores, inclusive os servidores públicos.
Por isso, a valorização do trabalho humano está intrinsecamente
condicionada ao devido respeito às normas de saúde e segurança do
trabalho, razão pela qual o trabalho seguro, hígido e saudável, mais do
que um princípio, constitui-se em uma obrigação de todo empregador.
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Todas essas normas bem demonstram que a Constituição Federal
instituiu um novo marco da tutela do meio ambiente de trabalho, uma
vez que enfatiza a importância da prevenção, com a redução dos riscos
ambientais. O objetivo das normas referentes à saúde e segurança do
trabalho deixa de ser eminentemente reparatório e passa a ser
preventivo.
Resta óbvio, assim, que as condições do meio ambiente do trabalho estão
diretamente relacionadas ao estado do prédio onde laboram os servidores
públicos.
2 - VIOLAÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS FUNDAMENTAIS E O
CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Dentre os serviços públicos de interesse social por óbvio se enquadra a
segurança pública e a conservação dos prédios públicos, vez que ambos
envolvem prestações absolutamente imprescindíveis aos interesses
imediatos da coletividade, garantidoras que são do direito de ir e vir, de
circulação de pessoas e coisas e, principalmente, do direito à segurança
e ao resguardo da integridade física das pessoas.
Assim, considerando que o objeto da presente ação coletiva diz respeito à
prestação de serviços públicos de natureza essencial (condições do meio
ambiente do trabalho e segurança pública) e de titularidade de um
universo indeterminado de pessoas, patente a legitimidade do Ministério
Público1 para tutelar tais interesses, inclusive pelos seguintes motivos:
1 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SANEAMENTO SANITÁRIO. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. PRECEDENTES DO STJ. PRETENSÃO RECURSAL QUE ENCONTRA ÓBICE NA SÚMULA N. 7 DO STJ. ALEGAÇÃO GENÉRICA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. SÚMULA N. 284 DO STF. 1. O
Ministério Público detém legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública que objetiva a implementação de
políticas públicas ou de repercussão social, como o saneamento básico ou a prestação de serviços públicos. Nesse
sentido: REsp 743.678/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 28/09/2009; REsp
855.181/SC, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 18/09/2009; REsp 137.889/SP, Rel. Ministro Francisco
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[...] o ajuizamento da ação civil pública pelo Ministério Público
proporciona a superação da desigualdade natural existente entre o
indivíduo isolado e o poderoso Estado, quando se enfrentam numa
batalha judicial. A defesa coletiva, por envolver grande número de
pessoas, às vezes até indeterminado, incorpora um componente
psicológico que equilibra a correlação de força entre as partes,
mormente quando presente o Ministério Público como legitimado
ativo, até porque a instituição é estruturada pela legislação de forma que
lhe dá algumas prerrogativas para bem conduzir, sem ônus para os
mandatários, demandas dessa natureza.2
No caso merece atenção o fato de que, nos moldes do artigo 6º da
Constituição Federal3, os direitos difusos tutelados nesta ação estão
amparados por normas de ordem pública e de interesse social. Além
disso, a legislação em vigor exige ainda que os serviços públicos sejam
prestados de “modo adequado”, conforme previsão contida no § 1º do
artigo 6º da Lei Federal n.º 8.987/95, que dispõe sobre o regime de
concessão e permissão da prestação de serviços públicos, in verbis:
Art. 6º, § 1º. Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
Hely Lopes Meirelles, em sua obra4, cuidou de definir as características
do “serviço adequadamente prestado”:
a) continuidade, o que significa dizer que não pode ser interrompido; b) regularidade, que se refere à obediência às regras, normas,
condições de prestação que informam os serviços públicos; c)
uniformidade e igualdade, ou seja, os serviços públicos devem atender aos padrões de uniformidade e igualdade, para que todos sejam
atendidos igualmente; d) generalidade, que consiste em reconhecer-se o
direito que todos têm de utilizar os serviços públicos; e e) obrigatoriedade, pelo qual o prestador de serviço público não pode deixar
de prestá-lo.
Peçanha Martins, Segunda Turma, DJ 29/05/2000. [...] (STJ, AgRg no AREsp 50.151/RJ, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/10/2013, DJe 16/10/2013). 2 GOMES, Luís Roberto. O Ministério Público e o controle da omissão administrativa. Rio de Janeiro : Forense
Universitária, 2003, p. 264/265. 3 São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição – grifos
nossos. 4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 19ª ed. São Paulo : Malheiros Editores, p. 299.
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A toda evidência, diante das provas coletadas, não é o que se verifica no
presente caso.
O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, no inciso X de seu
artigo 6º, prescreve ser direito básico do consumidor a adequada e
eficaz prestação dos serviços públicos. Mais adiante, no caput e no
parágrafo único de seu artigo 22, estabelece que
Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.
É a partir de dispositivos como o que se apresenta que o Superior
Tribunal de Justiça consagra o entendimento no sentido de que os
direitos prestacionais essenciais previstos em lei não se sujeitam à
discricionariedade administrativa e, por isso, não podem ser desprezados
pelo Poder Judiciário:
“[...] a partir da consolidação constitucional dos direitos sociais, a
função estatal foi profundamente modificada, deixando de ser
eminentemente legisladora em pró das liberdades públicas, para se
tornar mais ativa com a missão de transformar a realidade social. Em
decorrência, não só a administração pública recebeu a incumbência de criar e implementar políticas públicas necessárias à satisfação dos
fins constitucionalmente delineados, como também, o Poder Judiciário
teve sua margem de atuação ampliada, como forma de fiscalizar e velar pelo fiel cumprimento dos objetivos constitucionais” (STJ, REsp
1.041.197/MS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
16.9.2009).
Diante dos fatos narrados e do amplo acervo probatório que é parte
integrante do inquérito civil que acompanha a exordial, resta evidente
que, no tocante à adequação, à segurança, às condições de trabalho e à
integridade física das pessoas, o Estado do Espírito Santo, no tocante a
Seção de Balística da Secretaria de Segurança Pública / Polícia Civil,
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vem descumprindo as obrigações referidas no precitado artigo 22 do
CDC.
Deve, por consequência, ser compelido pelo Poder Judiciário a cumpri-
las, conforme autoriza o CDC de forma expressa (parágrafo único do art.
22), com eco na jurisprudência, em caso muito assemelhado ocorrido no
Estado do Rio Grande do Sul, julgado em sede de REPERCUSSÃO
GERAL pelo Supremo Tribunal Federal:
REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO DO MPE CONTRA ACÓRDÃO DO
TJRS. REFORMA DE SENTENÇA QUE DETERMINAVA A EXECUÇÃO
DE OBRAS NA CASA DO ALBERGADO DE URUGUAIANA. ALEGADA
OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E
DESBORDAMENTO DOS LIMITES DA RESERVA DO POSSÍVEL.
INOCORRÊNCIA. DECISÃO QUE CONSIDEROU DIREITOS
CONSTITUCIONAIS DE PRESOS MERAS NORMAS PROGRAMÁTICAS.
INADMISSIBILIDADE. PRECEITOS QUE TÊM EFICÁCIA PLENA E
APLICABIILIDADE IMEDIATA. INTERVENÇÃO JUDICIAL QUE SE
MOSTRA NECESSÁRIA E ADEQUADA PARA PRESERVAR O VALOR
FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA. OBSERVÂNCIA, ADEMAIS, DO
POSTULADO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO PARA MANTER A SENTENÇA CASSADA
PELO TRIBUNAL. I - É lícito ao Judiciário impor à Administração
Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais. II -
Supremacia da dignidade da pessoa humana que legitima a
intervenção judicial. III - Sentença reformada que, de forma correta, buscava assegurar o respeito à integridade física e moral dos
detentos, em observância ao art. 5º, XLIX, da Constituição Federal. IV -
Impossibilidade de opor-se à sentença de primeiro grau o
argumento da reserva do possível ou princípio da separação dos
poderes. V - Recurso conhecido e provido. (STF, RE 592581, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
13/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)
DDAA TTUUTTEELLAA DDEE UURRGGÊÊNNCCIIAA PPRREETTEENNDDIIDDAA
É da própria natureza das demandas coletivas a utilização dos
instrumentos previstos para as denominadas “tutelas de urgência”,
notadamente a concessão da medida prevista nos parágrafos 3.º, 4.º e
5.º do artigo 84 da Lei n.º 8.078/90:
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Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
[...]
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. § 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente
ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. § 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais
como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de
obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.
A medida liminar pretendida está autorizada, ainda, pela própria Lei n.º
7.347/85, a qual, em seus artigos 11 e 12, prevê o seguinte:
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da
atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de
execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do
autor.
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
Todas as normas legais acima transcritas são frutos de evoluções
legislativas que demonstram a clara preocupação do legislador com a
efetividade das decisões judiciais e a consequente observância ao
princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição e do devido
processo legal.
Assim, torna-se possível o deferimento da liminar diante da relevância do
fundamento da demanda e em razão de justificado receio de ineficácia do
provimento final, requisitos estes plenamente demonstrados: o primeiro
está evidenciado pelos elementos constantes do inquérito civil, que bem
demonstram a omissão do Poder Público em relação as condições
precárias e insalubres que expõem a risco os servidores públicos e
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frequentadores da Seção de Balística da Secretaria de Segurança Pública
/ Polícia Civil, em afronta a dispositivos de ordem pública e de interesse
social; o segundo (“periculum in mora”), está comprovado pela
necessidade de se preservar bens maiores – o meio ambiente do trabalho
e a integridade física daqueles que trabalham no prédio público em
questão.
Diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL seja
concedido o prazo de 15 (quinze) dias para que o requerido regularize
completamente o funcionamento da Seção de Balística da Secretaria de
Segurança Pública / Polícia Civil, sob pena de imediata interdição
daquele prédio público, até que sejam cumpridas as recomendações
constantes dos Relatórios de Inspeção carreados aos autos.
DDOOSS PPEEDDIIDDOOSS
Diante de todo o exposto, requer o Ministério Público do Estado do
Espírito Santo:
1. seja dispensado o pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei nº
7.347/85;
2. sejam as intimações do autor feitas pessoalmente, dado o disposto
no artigo 236, § 2º, do CPC e no artigo 14 do Provimento nº 14/99,
de 08/03/99, da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do
Espírito Santo, com a redação que lhe foi dada pelo Provimento nº
15/99, de 14/04/99;
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3. com base no § 3.º do artigo 84 da Lei n.º 8.078/90 c/c artigo 21
da Lei n.º 7.347/85, seja concedida liminarmente a tutela
antecipada pretendida, na forma discriminada no item acima;
4. seja determinada a citação dos requeridos, para, querendo,
contestarem a presente;
5. seja julgado procedente o pedido formulado na presente ação,
transformando-se em definitiva a liminar que, se espera, será
concedida initio litis, condenando-se o requerido em obrigações de
fazer (artigo 84, ‘caput’, da Lei n.º 8.078/90 c/c artigo 21 da Lei n.º
7.347/85), qual seja, de implementar todas as providências
necessárias para regularização do funcionamento da Seção de
Balística da Secretaria de Segurança Pública / Polícia Civil,
nos moldes apresentados nas sugestões constantes dos
Relatórios de Inspeção que acompanham a inicial.
Protesta pela produção de prova documental, pericial e oral.
Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (hum mil reais).
Vitória, ES., 27 de junho de 2018.