acórdão permitindo indenização por benfeitorias.pdf
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tribunalde justiçado estado de goíás
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 40927-19.2006.8.09.0051
(200690409273)
COMARCA DE GOIÂNIA
APELANTE : COBRÃO BATERIAS E AUTO ELÉTRICA
LTDA.
APELADO : JORGE BADRA E OUTRO(S)
RELATOR : DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESPEJO POR
FALTA DE PAGAMENTO C/C COBRANÇA DE
ALUGUÉIS. CONTRATO VERBAL. DIREITO DE
RETENÇÃO. ABANDONO DO IMÓVEL. INTERESSE NO
RESSARCIMENTO DE BENFEITORIAS. DESCRIÇÃO
DAS BENFEITORIAS SUFICIENTE. PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO. PROVA ORAL PLEITEADA. JULGA-
MENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE
DEFESA.
I – Não obstante o direito de retenção por benfeitorias
revelar-se incompatível com a desocupação espontânea do
imóvel, subsiste o interesse da locatária quanto ao pleito de
ressarcimento das benfeitorias, mormente quando feito
pedido nesse sentido na contestação.
II – Na aplicação do direito ao caso concreto, o rigor do
formalismo deve ser amenizado pelas singularidades do
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caso posto em apreciação, a fim de alcançar a finalidade
última do processo que é a realização da justiça material.
Nesse sentido, havendo a especificação de que as
benfeitorias se referem às obras de edificação e instalação
elétrica do galpão em que funcionava a empresa no imóvel
locado, não pode tal fato ser comparado a menção genérica
de benfeitorias, devendo ser considerado pelo julgador,
máxime tendo em vista que o direito de ressarcimento de
benfeitorias e acessões insere-se no âmbito do princípio que
veda o enriquecimento sem causa, sob pena de se valorizar
o formalismo em detrimento da vedação ao enriquecimento
ilícito.
III – O art. 35 da Lei 8.245/1991 ao determinar a
indenização pelas benfeitorias úteis realizadas, desde que
autorizadas, não restringe qual espécie de autorização seria
esta, se tácita ou expressa, ou mesmo se verbal ou escrita.
Nesse sentido, tratando-se de uma locação feita através de
acordo verbal, a exigência de que a autorização para
construção de benfeitorias se dê por escrito nos remete a
um formalismo extremo, o qual a própria Lei do Inquilinato
não alberga. Assim, evidencia-se a necessidade de produção
de provas, máxime quando requerido expressamente.
IV – É vedado ao magistrado antecipar o julgamento da lide
não concedendo à parte oportunidade de produzir provas
orais, para, em seguida, considerar insuficientes as provas
por ele produzidas nos autos.
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA.
SENTENÇA CASSADA.
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ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos os presentes
autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 40927-19.2006.8.09.0051
(200690409273), da Comarca de GOIÂNIA, onde figuram como
apelante COBRÃO BATERIAS E AUTO ELÉTRICA LTDA e como
apelado JORGE BADRA E OUTROS.
ACORDAM os integrantes da Quarta Turma
Julgadora da 1ª Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás, por unanimidade, EM CONHECER DA
APELAÇÃO E DAR-LHE PROVIMENTO, CASSANDO A
SENTENÇA, nos termos do voto do Relator, que a este se incorpora.
VOTARAM, além do RELATOR, os ilustres
Des. VITOR BARBOZA LENZA e o Dr. FRANCISCO VILDON
JOSÉ VALENTE, substituto do Des. LEOBINO VALENTE CHAVES.
PRESIDIU o julgamento, o ilustre
Desembargador JOÃO UBALDO FERREIRA.
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PRESENTE à sessão, o ilustre Procurador de
Justiça, Dr. WALDIR LARA CARDOSO.
Custas de lei.
Goiânia, 22 de junho de 2010.
DES. JOÃO UBALDO FERREIRA
PRESIDENTE
DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA
RELATOR
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 40927-19.2006.8.09.0051
(200690409273)
COMARCA DE GOIÂNIA
APELANTE : COBRÃO BATERIAS E AUTO ELÉTRICA
LTDA.
APELADO : JORGE BADRA E OUTRO(S)
RELATOR : DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade,
conheço do recurso interposto.
À vista do pedido de fls. 282/283, deferido à
fl. 302, acresço ao relatório as contrarrazões de fls. 305/340, onde os
apelados alegam, em síntese, a legalidade do julgamento antecipado
da lide, vez que se trata de matéria exclusivamente de direito,
ressaltando que a apelante indicou de forma genérica e imprecisa as
supostas benfeitorias, deixando de apresentar provas ou requerer a
produção destas na contestação, ofendendo o princípio da
eventualidade, encontrando-se preclusa a questão.
Aduzem, ainda, a intenção protelatória das
provas requeridas pela apelante, bem como a impossibilidade de
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ressarcimento pelas benfeitorias alegadas, ante a ausência de
autorização do locador e, por fim, afirmam que houve a renúncia ao
direito de retenção por benfeitorias, em face do abandono do imóvel.
Feito estes acréscimos ao relatório, passo a
análise do recurso de apelação.
Conforme relatado, cuida-se de apelação cível
interposta por Cobrão Baterias e Auto Elétrica Ltda. visando a
reforma da sentença proferida em primeiro grau pelo MM. Juiz de
Direito da 11ª Vara Cível da Comarca de Goiânia, Dr. Carlos Luiz
Damacena, que julgou extinta sem resolução de mérito a ação de
consignação em pagamento ajuizada pelo recorrente em desfavor de
Jorge Badra e Maria Terezinha de Oliveira Badra, bem como
julgou parcialmente procedente a ação de despejo c/c cobrança de
aluguéis proposta por estes em desfavor da apelante.
A apelante sustenta ter firmado verbalmente
contrato de locação de imóvel (lote) com os recorridos, tendo nele
edificado as instalações de seu estabelecimento comercial, que,
conforme contratado, as despesas correram por conta da recorrente,
cuja indenização seria de responsabilidade dos apelados, consoante
contrato verbal.
Na sentença impugnada, notadamente às fls.
246/247, o magistrado a quo, ao analisar a questão tangente às
benfeitorias em comento, aduziu a ausência de provas de que a
edificação teria sido custeada pela recorrente, bem como asseverou
a não comprovação da autorização para realização das mesmas,
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ressaltando que o direito de retenção somente seria possível com
consentimento por escrito dos locadores.
Em suas razões recursais (fls. 258/262), a
apelante pretende a cassação da sentença proferida em primeiro
grau sob o fundamento de ter havido cerceamento de defesa, em
afronta aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório.
Pois bem. A controvérsia cinge-se na
verificação da ocorrência ou não do cerceamento de defesa, tendo de
um lado a apelante defendendo a necessidade de dilação probatória,
e, de outro, os apelados alegando a irregularidade processual na
forma como foram alegadas as benfeitorias, bem como
impossibilidade de ressarcimento destas, independentemente de
produção de outras provas.
Em proêmio, impende salientar que, não
obstante o interesse da locatária/apelante referente à retenção por
benfeitorias revelar-se incompatível com sua desocupação
espontânea do imóvel, subsiste o interesse quanto ao pleito de
ressarcimento das benfeitorias.
Com efeito, ocorrendo o abandono do imóvel,
cabível a decretação da rescisão do contrato de aluguel e as
consequências desta rescisão, como o ressarcimento dos eventuais
melhoramentos no imóvel, não havendo que se falar em perda de
objeto.
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Sobre o tema, discorre SYLVIO CAPANEMA
DE SOUZA:
“Muitos imaginam que, abandonado o imóvel, e imitido o
autor na posse, cessa o objeto da demanda, devendo ser
extinto o processo, sem enfrentamento do mérito. Nada
mais equivocado, porque a recuperação da posse não é
objeto precípuo e imediato da ação de despejo, e sim a
dissolução do contrato, do que decorre, por via oblíqua, a
devolução do imóvel”1
No mesmo sentido, eis precedente
jurisprudencial:
“(...) O Abandono do imóvel no curso do feito subtrai
objeto ao pleito desalijatório e à retenção por benfeitorias,
subsistindo interesse processual no tocante à rescisão do
pacto, à imposição condenatória e à pretensão de
indenização pelo fundo de comércio.(...).” (TJ/SC, 2ª
Câmara de Direito Civil, AC nº 2003.0285822, Rel. Des.
Monteiro Rocha, Julgado em 03/03/2005).
Assim, ainda que tenha havido a desocupação
do imóvel, com o afastamento do direito de retenção, há o interesse
no tocante à indenização das benfeitorias, mormente quando feito
pedido nesse sentido na contestação.
1 Da Ação de Despejo. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 94
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No que tange a alegação de preclusão, tenho
que também não merece respaldo os argumentos dos
apelados/locadores de que a apelante deixou de alegar a existência
de benfeitorias, bem como pugnar pela produção de provas em sua
contestação.
Com efeito, compulsando os autos, verifica-se
que a recorrente, em sua peça de defesa de fls. 124/128, protestou
pela produção de prova testemunhal e, intimada para especificar
provas (despacho de fl. 154), pugnou pela oitiva de testemunhas,
apresentando o respectivo rol, bem como requereu a avaliação do
imóvel em questão.
Assim, afasto a questão relativa à preclusão,
levantada pelos apelados em suas contrarrazões, tendo em vista que
a apelante, oportunamente, alegou a existência de benfeitorias a
serem ressarcidas, bem como pugnou pela produção de provas,
conforme, inclusive, determinado pelo magistrado singular.
Da mesma forma, não há que se falar em
impossibilidade da apreciação do pedido de ressarcimento de
benfeitorias pelo fato da apelante/locatária ter indicado de forma
genérica e imprecisa as supostas benfeitorias.
Depreende-se dos autos que a apelante
afirma ter edificado no imóvel alugado as instalações de seu
estabelecimento comercial, trazendo aos autos fotos que visam
demonstrar tais edificações desde o início da relação locatícia,
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pugnando, ainda, pela produção de demais provas, tais como
testemunhal e pericial, para a comprovação das referidas
benfeitorias.
Desta feita, ainda que não tenha na
contestação a descrição detalhada das obras realizadas pela
apelante, o caso em apreço não pode ser comparado a uma menção
genérica da existência de benfeitorias. Houve a especificação de que
as benfeitorias se referem às obras de edificação e instalação
elétrica do galpão em que funcionava a empresa no imóvel locado.
É bem verdade que não foi utilizada a melhor
técnica, mas o fato é que foi demonstrado que houveram edificações
no imóvel locado, as quais precisam ser levadas em conta, máxime
considerando as especificidades do caso concreto, mormente o fato
de se tratar de um contrato verbal.
Nesse sentido, tenho que as especificidades
do caso, impõe que o magistrado analise a questão de forma mais
ponderada, não se limitando a acolher a alegação de que a falta da
formalidade na contestação (ausência de descrição detalhada da
benfeitoria) sirva para afastar qualquer direito que a parte possa vir
a ter, quando há claramente demonstração de que houve edificações
realizadas pela locatária.
Até porque, não se pode perder de vista que o
direito de ressarcimento de benfeitorias e acessões insere-se no
âmbito do princípio que veda o enriquecimento sem causa. Desta
feita, havendo indícios claros de que houve edificações no imóvel e,
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ainda, não existindo cláusula que afasta indenização por benfeitorias,
já que o contrato é verbal, a forma que se deu a indicação das
benfeitorias não pode ser empecilho para que a parte seja ressarcida
de eventuais gastos que realmente teve, sob pena de se valorizar o
formalismo em detrimento da vedação ao enriquecimento ilícito.
De fato, na aplicação do direito ao caso
concreto, ou seja na conformação da regra geral ao caso concreto, o
rigor do formalismo deve ser amenizado pelas singularidades do caso
posto em apreciação, a fim de alcançar a finalidade última do
processo que é a realização da justiça material.
A propósito, oportuno escólio do douto
processualista Carlos Alberto Álvaro de Oliveira:
“(...) as formas processuais cogentes não devem ser
consideradas “formas eficaciais” (Wirkform), mas “formas
finalística” (Zweckform), subordinadas de modo
instrumental às finalidades processuais, a impedir assim o
entorpecimento do rigor formal processual, materialmente
determinado, por um formalismo de forma sem conteúdo. A
esse ângulo visual, as prescrições formais devem se sempre
apreciadas conforme sua finalidade e sentido razoável,
evitandose todo exagero das exigências de forma. Se a
finalidade da prescrição foi atingida na sua essência, sem
prejuízo a interesses dignos de proteção da contraparte, o
defeito de forma não deve prejudicar a parte. A forma não
pode, assim, ser colocada “além da matéria”, por não
possuir valor próprio, devendo por razões de equidade a
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essência sobrepujar a forma.”2
Desta feita, havendo a alegação de que houve
a edificação de um galpão, com as respectivas instalação elétrica no
imóvel objeto da locação, não pode tal fato ser comparado a menção
genérica de benfeitorias, devendo ser considerado pelo julgador.
Assim, como a apelante em sua contestação
alegou a existência de seu direito à indenização pelas benfeitorias
realizadas no imóvel, certo é que o exame de seu alegado direito de
ressarcimento se faz necessário, pelo que torna-se essencial a
dilação probatória.
Com efeito, ainda que o julgador deva repelir
a produção de provas desnecessárias ao desate da questão, de
natureza meramente protelatórias (art. 130, CPC), mormente quando
se trata apenas de matéria de direito, não parece ser esse o caso dos
autos, vez que alicerçado em fatos pendentes de demonstração.
A faculdade assinalada pelo art. 332, do CPC,
pertinente à produção de provas, não consiste em mero ônus
processual, mas antes se revela como desdobramento da garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa, inerentes ao
devido processo legal, e que conforme inteligência do art. 5º, LV, da
Carta Magna, devem ser assegurados de forma plena, com todos os
meios e recursos que lhe são inerentes.
2 “O formalismo-valorativo no confronto com o formalismo excessivo”. In Leituras Complementares de Processo Civil, Organizador Fredie Didier Jr., Ed. Juspodium, pg. 134/135.
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O direito à ampla defesa em muito ultrapassa
a faculdade de tecer afirmativas em peças, alcançando o direito a
efetivamente demonstrar suas alegações e vê-las consideradas,
mesmo que rebatidas por decisões motivadas. O debate instaurado
pelo contraditório, por sua vez, deve possibilitar aos litigantes se
utilizarem de todos os meios legítimos hábeis a contrapor as
afirmativas sustentadas pela parte adversa.
Nesse vertente é o ensinamento de Luiz
Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arehart, in Manual do Processo
de Conhecimento, São Paulo, RT 2001, p. 310:
“De nada adiante de fato, garantir uma participação que
não possibilite o uso efetivo, por exemplo, dos meios
necessários à demonstração das alegações. O direito à prova
é resultado da necessidade de se garantir ao cidadão a
adequada participação no processo. Como demonstra
Vigorriti, a estreita conexão entre as alegações dos fatos,
com que se exercem os direitos de ação e de defesa, e a
possibilidade de submeter ao juiz os elementos necessários
para demonstrar os fundamentos das próprias alegações
tornou clara a influência das normas em termos de prova
sobre os direitos garantidos pelo due process of law.”
Logo, redobrada cautela se exige do julgador
ao indeferir diligências probatórias, inferindo do cuidadoso exame
das questões litigiosas.
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A par da verdade, costuma-se dizer que os
fatos da causa compõem o objeto da prova. Logo, devem ser
provados apenas os fatos que tenham relação ou conexão com a
causa ajuizada, sejam relevantes, e possuam o condão de influir na
decisão da causa.
Assim, se a matéria deduzida nos autos
requer maiores esclarecimentos, porque são matérias capazes de
influir na decisão da causa, deve o juiz conceder à parte a
oportunidade para realizar a prova naquele sentido, sob pena de
restar violado o princípio constitucional da ampla defesa.
Sobre o tema ensina Rui Portanova, em
Princípios do processo civil, Livraria do Advogado: Porto Alegre,
1999, p. 125:
"A defesa não é uma generosidade, mas um interesse
público. Para além de uma garantia constitucional de
qualquer país, o direito de defenderse é essencial a todo e
qualquer Estado que se pretenda minimamente
democrático. A defesa plena é garantida pela nossa
Constituição Federal (inciso LV do art. 5º). O princípio da
ampla defesa é uma conseqüência do contraditório, mas
tem características próprias. Além do direito de tomar
conhecimento de todos os termos do processo (princípio do
contraditório), a parte também tem o direito de alegar e
provar o que alega e tal como o direito de ação tem o
direito de não se defender. Optando pela defesa, o faz com
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plena liberdade."
É verdade que o juiz é o real destinatário da
prova necessária à formação de sua convicção para julgar, devendo
repelir pedido de provas inúteis.
Não obstante, tenho que as provas
requeridas pela locatária poderá trazer importantes subsídios à
questão, senão vejamos.
Sabe-se que as benfeitorias, nos termos do
artigo 96 do Código Civil, podem ser voluptuárias, úteis ou
necessárias. As voluptuárias são as de mero deleite, que não
aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais
agradável ou sejam de elevado valor; enquanto as úteis aumentam ou
facilitam o uso do bem, e as necessárias são as que têm por fim
conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Nesta senda, nota-se que no caso em deslinde
as benfeitorias que a recorrente afirma ter construído no imóvel dos
recorridos tem natureza útil e não necessária, como pretende fazer
crer, sendo necessária, portanto, a autorização dos locadores para
sua realização.
Todavia, o contrato em deslinde trata-se de
uma locação feita através de acordo verbal, o que denota que, caso
tivesse sido autorizada a construção de benfeitorias, possivelmente
esse consentimento também teria ocorrido de forma verbal, o que
torna temerário o julgamento antecipado da lide sem que tivesse
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havido o esgotamento das possibilidades de produção de provas,
ainda mais quando apresentado atempadamente rol de testemunhas.
A exigência de que a autorização para
construção de benfeitorias se dê por escrito nos remete a um
formalismo extremo, o qual a própria Lei do Inquilinato não alberga.
Neste sentido, oportuna a colação do seguinte
aresto do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
“APELAÇÃO CÍVEL LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL
CONTRATO VERBAL PRETENDIDA INDENIZAÇÃO POR
REALIZAÇÃO DE BENFEITORIAS DECISÃO A QUO QUE
ACOLHEU A PRETENSÃO FORMULADA NA PEÇA
PRELUDIAL AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO ESCRITA PARA
SUAS REALIZAÇÕES SENTENÇA MANTIDA RECURSO
DESPROVIDO. O art. 35 da Lei de Locações, ao determinar
que as benfeitorias úteis deverão ser indenizadas desde que
autorizadas, não restringe qual espécie de autorização seria
esta, se tácita ou expressa. Assim, havendo prova suficiente
de que autorização houve, mesmo que tácita, o direito à
indenização pelas benfeitorias úteis é devido. (omissis)”
(TJSC, Apelação Cível nº 2001.0172208, Órgão Julgador:
Segunda Câmara de Direito Civil, Data: 15/10/2001,
Relator: Sérgio Roberto Baasch Luz). Original sem grifos
Neste mesmo voto, o ilustre Relator,
Desembargador Sérgio Roberto Baasch Luz, citou excerto da
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doutrina de Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon, elucida o tema em
desate, verbis:
“Parecenos extremo formalismo a exigência de
consentimento por escrito, requerida pelos arestos
retrocitados, para legitimação do jus retentionis. Melhor
interpretarse esta condicionante no sentido de que o
consentimento não pode ser tácito, embora não
necessariamente escrito, ou seja, deve ser expresso,
conforme consta do art. 1.199 do CC. Admitir um contrato
verbal (como se admite com a locação) e exigir que
uma de suas cláusulas seja escrita soa, no mínimo,
contraditório. A nova Lei de Locação veio ratificar este
entendimento, passando a exigir apenas autorização, por
qualquer forma (Embargos de retenção por benfeitorias, SP:
RT, 1999, 1° ed., pág. 112) Original sem grifos
Logo, tendo sido requerida, oportunamente,
as provas pericial e testemunhal, não deve ser afastada essa
possibilidade de maior elucidação, já que só tem a favorecer o
deslinde do feito.
Ademais, é vedado ao magistrado antecipar o
julgamento da lide não concedendo à parte oportunidade de produzir
provas orais, para, em seguida, considerar insuficientes as provas
por ele produzidas nos autos.
Nesta esteira posiciona-se o Superior Tribunal
de Justiça:
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“DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROVA
TESTEMUNHAL E DEPOIMENTO PESSOAL.
INDEFERIMENTO. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. PRECEDENTE
DO STJ. AÇÃO DE DESPEJO. PRORROGAÇÃO VERBAL DO
CONTRATO DE LOCAÇÃO. AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO.
INAPLICABILIDADE DO ART. 51, II, DA LEI 8.2145/91, QUE
TRATA EXCLUSIVAMENTE DA AÇÃO RENOVATÓRIA. ART.
401 DO CPC. DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA 284/STF. MATÉRIA FÁTICA. EXAME.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. QUESTÃO A SER
APRECIADA PELO JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA, SOB
PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. É vedado ao Juiz antecipar o
julgamento da lide, indeferindo a produção de
prova testemunhal, para, posteriormente, julgar
improcedente o pedido com fundamento na
ausência de prova cuja produção não foi
autorizada. Precedentes do STJ.” (AgRg no Ag
1175676/MG, Relator Ministro ARNALDO ESTEVES
LIMA, Órgão Julgador 5ª Turma, Data do Julgamento
02/03/2010, Data da Publicação/Fonte DJe
29/03/2010). Original sem grifos
Destarte, a ação não poderia ter sido julgada
no estado em que se encontrava, eis que a matéria envolve questão
de fato, sendo a oitiva de testemunhas imprescindível ao deslinde da
tribunalde justiçado estado de goíás
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contenda.
Reza o art. 330, do CPC:
“Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido,
proferindo sentença:
I quando a questão de mérito for unicamente de direito,
ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de
produzir prova em audiência;
II quando ocorrer a revelia (art. 319)”.
Desta feita, o julgamento antecipado da lide,
nos termos como se deu, acarretou em ofensa ao direito
constitucional de ampla defesa e de contraditório, corolários do
princípio do devido processo legal, insculpido no art. 5º, LIV e LV, da
Carta Magna.
Ensina Theotonio Negrão:
“'Existindo necessidade de dilação probatória para aferição
de aspectos relevantes da causa, o julgamento antecipado
da lide importa em violação do princípio do contraditório,
constitucionalmente assegurado às partes e um dos pilares
do devido processo legal.' (STJ4ª T., REsp 7.004AL, rel.
Min. Sálvio de Figueiredo, j. 21.8.91, deram provimento,
v.u., DJU 30.09.91, p. 13.489)”3
Neste sentido, a jurisprudência deste Tribunal de Justiça:
3 Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 41ª ed., ed. Saraiva, p. 484
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“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DO DIREITO DE
DEFESA. OCORRÊNCIA. A todos os litigantes é assegurado o
contraditório e a ampla defesa, como corolários do devido
processo legal. Evidenciandose a necessidade de dilação
probatória para aferição de aspectos relevantes da causa, no
caso a prova pericial, o julgamento antecipado da lide revela
nítido cerceamento do direito de defesa. Recurso conhecido
e provido. Sentença cassada.” (TJGO, 1ª Câmara Cível,
Apelação Cível nº 1397583/188, acórdão de 04/08/2009,
DJ 401 de 19/08/2009, Relator: Des. Leobino Valente
Chaves).
"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO
DPVAT. ROL DE TESTEMUNHA TEMPESTIVO.
OCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. CASSAÇÃO
DA SENTENÇA. Evidenciandose a necessidade da produção
de prova testemunhal, é incabível o julgamento antecipado
da lide, sob pena de caracterização do cerceamento de
defesa, mormente quando presente rol de testemunhas
apresentado tempestivamente. Assim, impõese a cassação
da sentença para a realização de audiência instrutória e
demais atos que se fizerem necessários. Apelo conhecido e
provido. Sentença cassada.” (TJGO, 2ª Câmara Cível,
Apelação Cível nº 1246517/188, acórdão de 10/06/2008,
DJ 121 de 01/07/2008, Relator: Des. Alan S. de Sena
Conceição).
Assim, na espécie, tenho por relevante que se
esclareça melhor a respeito das alegadas benfeitorias a que o
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recorrente faz alusão, haja vista que, além do interesse da parte que
se encontra em jogo há o interesse estatal na composição do litígio.
Ao teor do exposto, conheço do recurso de
apelação e DOU-LHE PROVIMENTO para cassar a sentença
proferida em primeiro grau, para que seja oportunizada à recorrente
a produção de provas, decidindo-se, após, o magistrado, como de
direito.
É o voto.
Goiânia, 22 de junho de 2010.
DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA
RELATOR